Rose e Paulo, ao lerem o telegrama, ficaram imensamente felizes. Finalmente Marilu ía voltar para casa.
Depois de mais de um ano longe de sua família, finalmente a garota voltaria para casa.
Mas, ao contrário de Rose e Paulo, que estavam felizes com o retorno de Maria Lúcia, Laura, por sua vez, não estava nem um pouco satisfeita com a notícia.
Sentindo-se ameaçada pelo retorno da irmã, Laura passou a mais uma vez, se afastar dos pais. Adotando um comportamento mais agressivo, mais e mais vezes discutia com eles.
Inconformada com o retorno da irmã, Laura passou a cada vez mais, agredir seus pais com palavras duras e um comportamento rebelde.
Isso por que, em razão de suas freqüentes escapadas noturnas, Paulo, certa vez, ao perceber que Laura não estava em seu quarto, saiu para procurá-la. Ao perceber que a garota não estava em nenhum lugar da casa, retornou para seu quarto, trocou-se e partir em seu encalço.
Em meio as ruas de São Paulo, ficou durante toda a madrugada procurando-a. De carro, vasculhou todas as avenidas, as principais ruas da cidade, os lugares mais remotos, e nada. Nada de encontrá-la.
Ao ver que de nada adiantaria procurá-la em meio a uma multidão de praças, ruas e avenidas, Paulo retornou para casa e telefonou para a polícia.
Contudo, enquanto as horas se seguiam intermináveis, Paulo ía ficando cada vez mais angustiado. Tudo por que Laura havia sumido.
Preocupado com a possibilidade da menina ter fugido de casa, Paulo, entrou mais uma vez em seu quarto. Ao entrar, reparou que tudo estava no mesmo lugar. Ao abrir o armário, reparou que ela não levara nenhuma de suas roupas consigo.
Percebendo isso, Paulo tranqüilizou-se. Tudo indicava que era mais uma traquinagem.
Mas, a despeito de tudo isso, Rose ficou muito preocupada.
Como Laura havia sumido de casa e ela não viu? Como pôde ser tão relapsa?
Paulo, ao perceber a intranqüilidade da esposa, procurou acalmá-la. Afinal, que culpa tinha ela, se Laura estava cada vez mais difícil de se lidar? Como ela poderia imaginar que a filha, estava saindo de casa?
Ao ouvir isso, Rose então, perguntou ao marido:
-- Então você acha que Laura já vem fazendo isso há muito tempo?
No que ele respondeu:
-- Eu acredito que sim. Esta não é a primeira vez que ela saí de casa a noite, e na surdina. Eu acho que ela já vem fazendo isso há algum tempo.
Ao conjecturarem sobre isso, passaram a se dar conta que Laura, desde há muito tempo, já vinha dando sinais de que algo estava errado.
Constantemente acordava tarde, e além disso, passava horas trancada em seu quarto.
Estranhamente, sempre se recolhia para seu quarto, depois do jantar, e de lá só saía para almoçar.
Realmente, nos últimos meses, Laura estava muito estranha.
Mas Rose e Paulo, por trabalharem muito, estavam muito ocupados para perceberem o comportamento estranho da filha.
Somente agora, quando a situação ganhou contornos de gravidade, é que os dois se deram conta de que algo ía muito mal com a criação de Laura. Esta, ao contrário de Maria Lúcia, nasceu para dar trabalho, nas palavras de Paulo.
Constantes vezes, ele se referia a filha caçula, comparando-a a Maria Lúcia. Sempre que alguma coisa dava errada, ele dizia para Laura:
-- Por que você não se comporta da mesma forma que sua irmã? Maria Lúcia é tão mais dócil que você. Por que você não aprende com ela, a ser gentil com as pessoas?
Mas é claro que ao ouvir isso, Laura ficava ainda mais irada com seu pai. Por isso, sempre que ouvia esse tipo de comentário, respondia:
-- Ah, é? Pois saiba o senhor, que estou cansada destas comparações. Além disso, por que o senhor, não é um bom pai comigo? Por que o senhor só trata bem a Maria Lúcia? Por que o senhor não gosta de mim? – perguntava, já quase gritando.
Paulo, ao notar a agressividade da filha, logo ía lhe dizendo:
-- Mocinha. Abaixe seu tom de voz. Você não tem o direito de falar assim comigo. Está ouvindo?
-- O senhor é que não tem o direito de exigir de mim, que eu me comporte da mesma maneira que sua filhinha querida. Vá, fique com sua queridinha, e me deixe em paz.
E assim, se encerravam as brigas. Laura era quem, quase sempre, dava a última palavra.
Rose, entrementes, nunca concordou com esse clima de guerra em casa. Ao contrário do marido, que sempre comparava as duas meninas, ela sempre fez questão de salientar que gostava muito de ambas. Além disso, ela sempre criticou o comportamento do marido, no que tocava a mania que ele tinha de compará-las.
Cautelosa no trato com as filhas, Rose sempre alertou o marido, que agir dessa maneira, não ajudava em nada os dois. Só piorava as coisas.
Mas Paulo, teimoso que era, nunca dava ouvidos ao que a esposa dizia. Para ele, era ela que estava equivocada.
E assim, as coisas nunca se resolviam.
Para ela, a causa de tantas brigas e discussões se dava ao fato de que ambos – pai e filha –, eram parecidos demais. Tão parecidos, que nenhum dos dois podia admitir que estava errado.
Mas voltemos, ao sumiço de Laura.
Nervosa, Rose, chegou a culpar o marido pelo desaparecimento da filha. Disse a ele, que as constantes brigas que tinham, estimulava ela a sumir de casa.
Ao ouvir isso, Paulo ficou furioso com a esposa, e só não lhe disse palavras atravessadas, por que, no momento em que ía fazê-lo, foi interrompido pelos policiais. Estes, ao trazerem Laura pelo braço, encerraram qualquer discussão que pudesse ocorrer.
Assim, Paulo e Rose, ao verem a filha sã e salva, esqueceram-se das brigas e foram conversar com a garota.
Os dois então, agradeceram os policiais e os dispensaram.
Em casa, Laura foi diretamente para seu quarto.
Paulo ao perceber isso, subiu as escadas e foi até o quarto da moça. Porém, ao tocar na maçaneta, percebeu que Laura havia se trancado dentro do quarto.
Diante disso, o homem ficou furioso. Ameaçando por a porta abaixo, só não o fez, por que a esposa o impediu.
Ela, procurando acalmá-lo foi logo lhe dizendo que:
-- Paulo. Paulo. Não adianta. Agora não é o melhor momento para isso. Vamos deixar para amanhã. Até por que, mais cedo ou mais tarde, ela vai ter que sair do quarto. Não se preocupe, o que ela fez não vai ficar por isso mesmo. Eu mesma vou cuidar para que isso não se repita mais. Está bem?
Ao notar que o semblante da esposa havia mudado, Paulo, acalmou-se. Afinal, se a própria esposa ficou aborrecida com o comportamento da filha, fatalmente a garota sofreria as conseqüências de seu ato impensado.
Isso era coisa certa.
Por isso, Paulo, ao perceber que ela estava furiosa com a filha, comentou:
-- Rose. Eu nunca imaginei que algum dia, Laura, fosse conseguir te tirar do sério. Eu nem acredito.
-- Pois pode acreditar. – respondeu decidida. – Isso não vai ficar assim.
Nisso, ao entrarem em seu quarto e se prepararem novamente para dormir, Rose, aproximou-se do marido e pediu-lhe desculpas pelo que havia dito a ele.
Mas ele, surpreendido com o comportamento da esposa, respondeu compreensivo:
-- Não tem problema. Eu sei que você estava nervosa.
E pelo menos, momentaneamente, encerrou-se o assunto.
Contudo, no dia seguinte, ao contrário do que fizera nos dias anteriores, Rose não foi trabalhar. Avisando ao encarregado do salão, disse-lhe que só iria para lá, no final da tarde.
Já Paulo, foi para o escritório. A própria Rose pediu-lhe para que o fizesse. Isso por que, queria cuidar pessoalmente da filha.
Assim, Rose esperou calmamente a garota sair do quarto.
Esta, surpreendida com a presença da mãe, tentou fazer de tudo para se esquivar de suas perguntas incisivas. O que de nada adiantou.
Rose, cansada de ser benevolente com a filha, resolveu, que dali por diante, adotaria um comportamento mais severo com Laura. Afinal, a garota havia ultrapassado todos os limites ao abusar da confiança dela.
Por isso, ao ver que a garota só lhe respondia com evasivas, Rose tratou logo de puxá-la pelo braço e lhe advertir que, se fizesse aquilo de novo, ela não pensaria duas vezes em lhe dar uma surra.
Laura, por sua vez, ao ser advertida pela mãe, passou a se fazer de vítima. Chorando, disse que ela não podia fazer isso com ela.
Mas nem a choradeira adiantou. Rose, enfurecida, continuou a apertar o braço da filha, e a levou de volta para o quarto, em meio a empurrões, puxões e tapas.
Lá, ao entrar no quarto da garota, jogou-a no chão e deixou-a.
Ao sair, percebendo que a chave estava na porta disse:
-- Vou confiscar essa chave. – disse isso e pegou a chave para si.
Além disso, ao tomar posse da chave, encostou a porta e trancou-a.
Laura, ao ouvir o barulho da chave, foi correndo até porta, na tentativa vã de impedir que a mãe a trancasse no quarto.
Inutilmente. Rose estava decidida.
De dentro do quarto, Laura gritou, pedindo para que a mãe não a trancasse ali. Mas isso, de nada adiantou.
Rose estava insensível aos apelos da filha.
Por isso, a garota, ao perceber que a mãe não mudaria de idéia, parou de se debater. Desolada, sentou-se num canto do quarto e ficou chorando. Para ela, não havia mais nada para se fazer, senão sentar-se e ficar esperando.
Resoluta, Rose, recomendou as empregadas, que não levassem nada para a garota, e muito menos a deixassem sair do quarto. Por precaução, pediu a um dos empregados da casa, para que, de vez em quando olhassem pela janela, para ver se estava tudo bem. Em caso de qualquer coisa errada, deveriam ligar imediatamente para ela.
Nesse ponto aliás, Rose fez questão de frisar, que de forma alguma seu marido devia ser incomodado. Em caso de qualquer problema com Laura, somente ela deveria ser avisada.
Mas, para sua tranqüilidade, nada de errado aconteceu.
Assim, quando Paulo e ela retornaram de mais um dia de trabalho, tudo havia estado na mais perfeita ordem.
Por ter ficado durante todo o dia trancafiada em seu quarto, quando então foi liberada por Rose, Laura comportou-se como uma dama.
Sem brigas, o jantar foi perfeito.
Contudo, após a refeição, Rose novamente intimou a filha para voltar para o quarto.
Quando Laura tentou questionar as ordens da mãe, esta lhe perguntou:
-- Por acaso estaria você interessada em levar uns bons tabefes?
Ao ouvir isso, Laura ficou silente.
Paulo, admirou-se.
Vendo a obediência da filha, quando Rose retornou para a sala de jantar, perguntou-lhe então:
-- Querida! Nunca te vi tão dura com Laura. O que foi que aconteceu?
Nisso, Rose explicou-lhe, que havia posto Laura de castigo, e que para se garantir, tivera o cuidado de trancar a porta de seu quarto.
Contudo, para ela, isso não resolvia tudo. Rose precisava ainda, de alguém para tomar conta da garota, quando ela mesma não estivesse por perto. Assim, com a aquiescência do marido, incumbiu um de seus empregados com a tarefa de vigiá-la.
Dessa forma, os dois poderiam ficar mais tranqüilos.
Com isso, conforme os dias se passavam, mais certa se tornava, a volta de Marilu para casa.
Isso por que, encerrando-se a viagem, terminava a sua temporada na Europa. Assim, Maria Lúcia precisava retornar para seu país.
Por isso mesmo, em meados de março, Marilu retornou ao Brasil.
No aeroporto, ansiosos, estavam seus pais, aguardando sua chegada.
Para eles, as horas que antecederam sua chegada, foram uma eternidade.
Mas estes, ao vê-la bem, logo se aquietaram. Felizes com sua chegada, mal podiam esperar pelas novidades.
Depois de mais de um ano, morando na Europa, Marilu realmente, tinha muito o que contar para os pais sobre sua viagem, sua adaptação, e por tudo o que passou durante o tempo em que ficou por lá.
Detalhe: nesse aspecto, tanto seu pai quanto sua mãe, faziam questão de que ela contasse tudo. Orgulhosos da filha, queriam que ela não lhes sonegasse nenhum detalhe.
O mesmo se deu na escola.
Quando Marilu chegou, todos pararam para vê-la. Realmente, a moça estava magnífica. Usando algumas das roupas que comprara na Inglaterra, nem parecia a mesma pessoa.
Muito mais bem vestida que a maioria de suas colegas, Marilu chegou até a usar luvas quando foi até a escola.
Contudo, por estar calor, a moça resolveu tirá-las e guardá-las. Mas, distraída que estava com as garotas que vieram lhe cumprimentar, ao guardar as luvas em meio aos seus pertences, acabou deixando uma delas cair.
Ao cair, um dos rapazes, – que nesta época freqüentavam a escola, já que ela passou a ser mista – ao ver a cena, pegou a delicada luva de renda que caíra no chão e guardou.
O rapaz até tentou devolver a luva a garota, mas, diante do assédio de que a moça foi alvo, ficou impossível qualquer aproximação.
Assim o moço deixou para mais tarde entregar a luva a jovem que vira no colégio.
Contudo, a despeito do que imaginava, os dias que se seguiram, não foram nada propícios para isso. Então, mais uma vez, o rapaz teve que aguardar pacientemente a hora adequada.
E durante dias, portanto, ficou de posse da luva que a moça pertencia.
Enquanto ele esperava a hora apropriada para se aproximar e devolver a luva, Maria Lúcia, ainda encantada com a viagem que fizera, não se cansava de comentar sobre sua estada na Inglaterra, as incursões que empreendera pelo país, e as duas viagens pela Europa, que realizara. Enfim, sempre que lhe perguntavam sobre sua viagem, ela sempre tinha alguma coisa nova para contar. Realmente, aqueles quinze meses, foram meses de sonho.
E como havia muito o que ser falado sobre a viagem, Marilu se viu, durante semanas, cercadas pelas amigas e colegas, que tudo queriam saber sobre a viagem que realizara.
Luciana Celestino dos Santos
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