Poesias

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

VERDES CAMPOS - CAPÍTULO 2

Dessa forma, diante da insistência da mãe, só restou aos três, concordarem com a idéia dela.
Contudo, Elena, Carlos e Érica não estavam muito entusiasmados com a idéia. Por isso, sempre que surgia uma oportunidade de saírem de casa, os três não se faziam de rogados.
Diante disso, Carla começou a ficar irritada com os filhos. Afinal de contas, os três não haviam se comprometido em ajudá-la a vigiar Anne?
Com isso, diversas vezes, Érica, Elena e Carlos perderam boas oportunidades de seguir Anne.
Carla, ao perceber que os filhos não estavam nem um pouco interessados em ajudá-la, ficou irritadíssima.
Acostumada a lhes dar ordens, Carla não havia se dado conta ainda, de que os mesmos haviam crescido e que dentro em breve, estariam cuidando de suas vidas em outro lugar.
Para ela, eles ainda tinham a obrigação de lhe obedecer.
Contudo, eles não estavam nem um pouco preocupados com a ira dela.
E assim, Érica e Elena, sempre que podiam, aproveitavam para sair e curtir a noite. Adultas, já possuíam até companhia para suas saídas noturnas.
Já Carlos, menos interessado em compromissos sérios, aproveitava para ficar cada vez que saía, com uma pessoa diferente.
E assim, Carla, aborrecida, percebeu então que não podia contar com os filhos. Diante disso, decidiu que ela mesma iria ficar de olho em Anne e vigiar seus passos.
No entanto, nos últimos tempos, a garota parecia não estar interessada em sair de casa.
Isso por que, Anne, percebendo que era vigiada por Carla, resolveu se acalmar um pouco e esperar o momento certo de voltar para a cabana.
Com isso já sem o gesso, que já havia sido tirado, Anne precisava fazer fisioterapia para fortalecer o braço esquerdo. E assim, teria que esperar mais um pouco para voltar para sua cabana.
Foi assim que Anne procedeu.
De tão calma, Carla até se espantou.
Ademais, cansada de esperar que a moça saísse de casa, a mulher acabou desistindo de segui-la.
E assim, mesmo depois de flagrá-la pegando comida escondida. Como já fazia muito tempo que isto havia ocorrido, Carla se esqueceu do assunto. Isso por que provavelmente Anne desistira da idéia de voltar para a cabana. Ressabiada, a moça demoraria para voltar a agir.
Nisso, certa vez, ao voltar do trabalho, um de seus filhos perguntou:
-- E como é que estão indo as coisas? Está dando tudo certo?
-- Não. Essa infeliz não se mexe. Parece que faz isso de propósito. – respondeu Carla, aborrecida.
E com isso, os dias foram se passando. Até que chegou a notícia de que haveria uma festa na escola.
Anne, discreta, nem chegou a comentar o assunto em casa. Mas Érica e Elena, ao saberem da novidade, trataram logo de contar a mãe.
Essa ao ouvir a novidade, percebendo a aproximação de Anne, perguntou:
-- E você, mocinha, por acaso pretende ir a esta festa? – perguntou Carla, diretamente a Anne.
-- Não. É claro que não. Por que eu iria?
-- Talvez por que quisesse encontrar seus colegas de escola. – respondeu Elena com ironia.
-- Não, não pretendo. – respondeu ela.
E assim, os dias foram se passando.
Érica, Elena e Carlos, estavam muito interessados na festa. Tanto que, em sendo convidados, não se fizeram de rogados. E assim, no dia da festa, momentos antes de irem até lá, já estavam devidamente trajados.
Anne por sua vez, fez de tudo para convencê-los de que não iria até a festa.
Porém, quando Carla comentou se ela iria ficar em casa, a moça decidiu repentinamente, dar uma passada na escola.
E assim o fez.
Carla porém, ao ver Anne sair, percebendo que a moça estava por demasiado simples, desconfiou. Afinal, quem em sã consciência iria a uma festa de gala, usando um jeans surrado, camiseta e um sapato velho?
Não, algo estava errado. Por isso, logo que a moça saiu de casa, Carla partiu em seu encalço. A mulher, estava deveras interessada em descobrir onde a moça ía quando sumia de casa. E assim, apesar de sua desistência inicial, Carla, notando o comportamento estranho de Anne, resolveu partir em seu encalço.
Mas, qual não foi sua surpresa ao descobrir que a moça caminhava em direção a escola e lá entrou, não se sabe por que.
Mas sim, Anne entrou na escola e foi até o salão.
Ao lá entrar, devido os trajes em desacordo com o clima da festa, Anne foi alvo de muitos comentários irônicos.
Mas ela não se incomodou com isso. Acostumada a ser esnobada pelos filhinhos de papai que freqüentavam a escola, Anne já estava até acostumada a ouvir esse tipo de comentário maldoso. Sim, por que as pessoas que diziam isso, não se preocupavam nem um pouco em disfarçar suas palavras, quando ela se aproximava.
Mas enfim, Anne estava escolada quanto a isso. E assim, não se intimidou com os comentários e continuou andando pelo salão.
Nisso, em dado momento, a moça acabou encontrando com alguns de seus colegas de classe. Estavam todos reunidos em uma mesa, estrategicamente posicionada em frente a pista de dança.
Mas Anne não estava nem um pouco interessada em dançar. Por isso, foi logo dizendo aos colegas que só estava lá para lhes cumprimentar e ver um pouco da festa. Portanto, não daria ficar muito tempo ali.
Mas, Rafael, Enrique e Otávio, insistiram para que ela ficasse mais um pouco por lá. Insistiram tanto, que não restou a Anne, senão concordar e ficar mais um pouco por ali.
E assim ficou.
Em dado momento da festa, Anne pediu licença e foi até ao banheiro. Ao retornar, foi surpreendida por um sujeito estranho.
Sem esperar por isso, Anne resolveu se defender do jeito que podia e assim, começou a bater no estranho.
Contudo, este não intimidou com sua reação e continuou a investir contra ela.
Nisso, as horas se passaram e os três garotos começaram a se preocupar com o sumiço de Anne. Tanto que ao término da festa, eles resolveram passar na casa dela para saber o que havia acontecido.
Ao lá chegarem, descobriram que a moça, não havia voltado para casa.
Carla estava furiosa. Ao sair para tentar descobrir o esconderijo de Anne, acabou se perdendo da moça, quando ela resolveu entrar na escola e participar da festa. Ainda, na vã tentativa de descobrir alguma coisa, resolveu ficar por algum tempo escondida, próxima a entrada da escola, aguardando que Anne saísse de lá.
Mas as horas se passaram e nada da moça aparecer por ali.
Carla então, começou a se irritar com o comportamento de Anne.
Como a garota havia sumido, não restou outra alternativa a ela senão voltar para a casa e esperar Anne por lá.
Contudo, conforme as horas foram se passando e nada da moça aparecer, Carla então descobriu que Anne havia sumido de casa.
Com isso, quando os três rapazes ouviram de Carla que Anne não havia voltado da festa, ficaram preocupados.
Carla, porém, conhecendo o comportamento habitual da moça, respondeu-lhes que não precisavam ficar preocupados, pois Anne sempre fazia isso.
Diante disso, só restou a eles pedirem, para que se ela aparecesse, avisá-los. Assim, eles se despediram e voltaram para casa.
Nisso, os dias se passaram.
Anne continuava sumida.
Porém, ao contrário do que havia acontecido nas outras vezes, Anne não apareceu na escola. Sim por que, mesmo quando sumia de casa, a moça nunca se ausentava da escola.
Contudo, dessa vez, Anne não estava procedendo dessa forma.
Tal fato fez seus colegas ficarem preocupados. Afinal de contas, um sumiço de tantos dias, não era normal.
Cismados, Enrique, Rafael e Otávio resolveram voltar a casa de Anne, na tentativa de descobrirem juntos o que estava acontecendo.
Assim, ao término da aula, os três foram logo para a casa da moça. Lá, foram novamente recebidos por Carla, que sem paciência, foi lhes dizendo que tinha muito o que fazer, e não tinha tempo para conversas.
Foi então que Rafael e Enrique, comentaram que Anne não costumava faltar na escola.
Carla intrigada perguntou:
-- Ela nunca faltou na escola?
-- Nunca.
-- Nem quando ela sumia de casa? Nem assim?
-- Sumia? Como assim? – perguntou Otávio, espantado.
Meio sem jeito, Carla respondeu:
-- É que às vezes ela some.
Nisso Otávio respondeu:
-- Olha Dona Carla. Nós não sabemos quando foi que ela sumiu de casa. Mas uma coisa podemos dizer. Anne nunca faltou na escola.
-- Porém, desde o sumiço dela na festa ... até agora ela não apareceu na escola. – comentou Enrique.
-- Então, é sério? – perguntou Carla espantada.
-- Pelo jeito, é sim. Talvez ela esteja em apuros e não tenha tido coragem de nos contar. – disse Rafael.
-- E o que nós fazemos? – perguntaram os três.
-- Por enquanto nada. – respondeu Carla. – Mas se ela não aparecer nos próximos dias, devemos chamar a polícia.
Nisso, os quatro concordaram.
Com isso, conforme os dias foram se seguindo, Anne não deu nenhuma notícia.
Diante isso, insistindo com a idéia de chamar a polícia, os três garotos, acabaram convencendo Carla a assim proceder.
Nesse meio tempo, até mesmo Antônio, já manifestava preocupação pelo sumiço de Anne.
Por conta disso, reiteradas vezes, Antônio insistiu com a esposa, para que eles chamassem a polícia. Até por que, mesmo quando ela sumia, não ficava afastada de casa por tanto tempo.
Ademais, dada as circunstâncias em que se deu o seu sumiço, seria bom que eles verificassem o que poderia ter acontecido a ela.
E assim, de tanto Antônio e os amigos de Anne, insistirem com ela para que tomasse providências a respeito do assunto, Carla acabou por se convencer de que chamando a polícia, agiria da melhor forma.
Antônio seu marido, já tinha lhe dito inclusive, que se ela não fosse logo a polícia, ele mesmo iria.
E nisso, Carla viu-se sem saída. Dessa forma, acabou por contatar a polícia e relatar a eles que Anne, uma garota que fora criada por ela, havia sumido de casa.
Os policiais então, ao tomarem conhecimento do sumiço de Anne, passaram a lhe procurar em todos os lugares.
Em casas de conhecidos, logradouros públicos, estradas, construções abandonadas e nada. Anne com certeza, não estava nas proximidades do município.
Ao descobrir isso, Carla exclamou intrigada:
-- Mas então, onde raios se menina foi se meter?
No entanto a despeito disso, a polícia continuou procurando-a.
Foi então, que depois de algum tempo, Anne finalmente resolveu aparecer. Cansada e abatida, os que a viram, mal puderam acreditar que fosse ela que estivesse voltando depois de quase três semanas sumida.
Carla então, vendo o estado de Anne, ainda assim, insistiu com ela, para que contasse onde havia estado e o que teria acontecido.
Mas Anne, mesmo em sendo pressionada por Carla, nada comentou sobre o assunto.
Isso fez com que Carla ficasse ainda mais furiosa com ela. Contudo, por um momento, lembrou-se de avisar a polícia de que Anne havia voltado para casa sã e salva.
Porém, os policiais, ciosos do cumprimento de seus deveres, resolveram continuar a cuidar do caso, já que não parecia ter havido rapto. Todavia, para eles, havia ainda, muita coisa para ser descoberta.
E assim, para desespero de Carla, reiteradas vezes os policiais apareceram em sua porta, fazendo-lhe perguntas e procurando saber o teria acontecido. Insistentes, faziam questão de conversar com Anne, que procurava se esconder a todo custo deles. Em vão.
Isso por que, Anne fora intimada para comparecer a delegacia. Mas, por ser menor de idade, deveria ser acompanhada de um responsável.
Antônio então, penalizado com a situação, ofereceu-se para acompanhar Anne até lá. Carla, já aborrecida com a história, fez questão de deixar bem claro que não iria acompanhá-la.
Érica, Elena e Carlos, ocupados com seus respectivos trabalhos, alegaram que não teriam tempo de levá-la até a delegacia.
No entanto, a despeito disso, Antônio já havia se prontificado a acompanhá-la até a delegacia.
E assim o fez.
Ao lá chegar, Anne foi imediatamente inquirida pelo delegado. Mas, ao contrário do que se poderia imaginar, nada de novo foi descoberto por ele. Anne, ressabiada, não explicou claramente os motivos de seu sumiço.
Contudo, o delegado, ciente de que eram constantes os seus sumiços, perguntou então a Antônio, o por que de tanta preocupação, já que a moça sempre fazia isso.
No que ele respondeu:
-- Estranhamente, ao contrário das outras vezes, Anne demorou muito para voltar para casa. Além disso, como eu mesmo já expliquei ao senhor, Anne sumiu de uma festa. Sem se despedir de seus amigos, ela simplesmente desapareceu. E isso não é de seu feitio. Ademais, em meio a tanta gente, como ela faria para sair desapercebida?
O delegado teve então que concordar.
Mas, por hora, resolveu dispensar Anne. Ciente de que a moça nada lhe falaria no momento, o delegado achou por bem deixá-la ir. Mais tarde voltaria a chamá-la.
E assim, Anne e Antônio voltaram para casa.
Ao retornar, Anne voltou ao borralho. Acostumada a cuidar da casa desde de cedo, para evitar mais comentários, a moça resolveu continuar sua rotina de trabalho.
Carla, satisfeita com a novidade, comentou irônica:
-- Até que enfim. Pensei que eu fosse ter que cuidar de tudo sozinha daqui por diante. Depois de tantos dias sumida, nem esperava mais que voltasse. Mas já que voltou, não faz mais do que sua obrigação retomar os serviços domésticos.
Anne ouviu tudo sem nada dizer. Aborrecida com o interrogatório do delegado, Anne não estava nem um pouco interessada em conversar, com quem quer que fosse.
Assim, mais do que depressa, a moça foi cuidar dos serviços domésticos. Primeiramente, vendo a quantidade de panelas e pratos sujos, Anne resolveu lavar e guardar toda a louça. Depois, passou um pano no piso da cozinha e foi cuidar das roupas.
Nem parecia que Carla havia cuidado de alguma coisa em sua ausência.
Isso por que, todos pareciam estar insatisfeitos com seus serviços domésticos.
Seus filhos, principalmente Érica e Elena, não gostaram nada de sua comida. Mas eles não podiam fazer nada, já que  não ajudavam em casa.
Quando Anne retornou porém, todos ficaram satisfeitos. Finalmente teriam uma comida decente para comer.
Mas Anne estava estranha. Mantendo uma postura de distanciamento da família, Anne parecia cada vez mais indiferente a todos eles.
E assim, freqüentemente, ficava fechada em seu quarto. Triste e amuada.
Com isso, apesar de não ser de muito falar, Anne parecia muda agora. Isso por que passou a raramente falar com eles. Para dizer um simples oi ou bom dia, era um custo.
Anne realmente estava demudada.
Nunca fora um exemplo de alegria e entusiasmo, mas agora, as coisas estavam indo longe demais.
Para complicar ainda mais a situação, ultimamente a moça vinha perdendo o apetite.
Freqüentemente indisposta, Antonio já estava começando a se preocupar com Anne. Só ele, por que o restante da família, nem sequer havia reparado na mudança de comportamento da garota.
Sempre preocupados demais consigo mesmos, eles mal tinham tempo de olhar em volta e perceber o quanto de mal já haviam impingido a pobre garota. Isso por que, nos últimos anos, os filhos de Carla, mal perguntavam por ela. Apesar de terem sido eles os responsáveis por ela permanecer com eles, agora não queriam mais saber dela.
No início, animados com a presença de um bebê em casa, mal podiam esperar para terminarem o serviço, e poderem brincar com ela.
Agora, a total e completa indiferença.
Isso quando não tentavam prejudicá-la, criando atritos com ela.
Carla quando via as discussões dos filhos com ela, sempre tomava partido dos filhos. Mesmo quando eles estavam errados, ainda assim, ela fazia questão de defendê-los de Anne. Como se realmente qualquer um dos três precisasse de algum tipo de ajuda para se defender.
Mesmo assim, Carla não se cansava de protegê-los e encobrir seus erros.
Quantas vezes eles não quebraram objetos dentro de casa e puseram a culpa em Anne?
Quantas vezes Anne apanhou de Carla e Antonio por algo que não havia feito?
Em sua infância, incontáveis vezes, Anne foi surrada pelos dois.
Com o passar dos anos, Érica, Elena e Carlos, outrora gentis e atenciosos com ela, passaram a lhe ser hostis e cruéis.
Sim, com Carla constantemente tentando os convencer de que não havia sido uma boa idéia deixá-la ficar, estimulou-os a desprezarem Anne.
Com isso, Anne foi pouco a pouco sendo abandonada por todos da família.
Sem apoio e sem poder contar com o carinho de ninguém, ela teve que passar a cuidar da casa da família.
E assim, os anos foram se passando. E Anne foi ficando cada vez mais só.
Com isso, os únicos momentos em que podia se divertir um pouco era quando em companhia dos colegas da escola, Anne podia esquecer um pouco a sua vida.
Mas eram apenas instantes. Quando ela voltava para casa, o martírio continuava.
Tanto que quando se via a sós dentro de casa, achava até bom. Pelo menos assim, ninguém a incomodaria.
Contudo, mesmo a escola nos últimos tempos, não lhe causava interesse.
Antônio percebendo isso, resolveu conversar com Anne para saber o que estava acontecendo. Assim, no fim do dia, bateu na porta de seu quarto e perguntou-lhe:
-- Está tudo bem?
-- Sim. Está. – respondeu ela laconicamente.
-- Tem certeza de que não está precisando de nada?
-- Tenho. – respondeu.
-- Pois não parece. Está tão abatida! Tem certeza de que não quer me contar o que foi que aconteceu?
-- Não aconteceu nada. – disse ela, impaciente. – Estou bem. Não precisa se preocupar comigo. Só estou com um pouco de dor de cabeça. Já vai melhorar.
-- Olhe Anne. Eu não estou querendo invadir sua vida. A única coisa que eu quero saber é o que está acontecendo. Por acaso Carla tem implicado com você? O que está acontecendo? Você está muito estranha.
-- Não estou não. – insistiu em dizer.
-- Me desculpe, mas está sim. Nunca tinha te visto tão amuada.
Mas de nada adiantou sua insistência. Não seria desta vez que a moça iria lhe contar o que estava acontecendo.
Contudo, Antônio, desde o incidente com o braço quebrado, sabia que o relacionamento de Anne com Carla não era dos melhores. Porém, por não conviver com a moça, não sabia exatamente em que pé estavam as coisas. Por isso, resolvera ser cauteloso ao abordar Anne, pois não queria espantá-la.
Sim, Antônio estava muito preocupado com Anne. Muito mais do que jamais esteve. Até mesmo Carla, sua esposa, admirou-se do inesperado interesse dele por Anne.
Afinal de contas, por que tanta preocupação? Não estava tudo bem com ela?
Mas, Antônio sabia que não. Observando-a melhor, percebeu que a moça não era benquista na família.
Pior! Constatou que ele próprio a vinha negligenciando dia após dia. Logo ele, que criticou o comportamento da esposa, quando esta derrubou Anne e a fez quebrar o braço.
Sim, por que ele, com sua omissão, estava agindo igual ou pior do que ela.
Triste e desapontado, Antônio descobriu que mesmo seus filhos, que no início insistiram muito para que ele e Carla ficassem com Anne, agora mal olhavam para ela.
Surpreso chegou a perguntar a esposa:
-- Quando foi que eles começaram a ignorar a Anne?
-- Do que é que você está falando? Não sabe como são as crianças? Logo que elas conseguem alguma coisa, elas se desinteressam. Além do mais, por cinco anos, elas cuidaram muito bem de Anne. Mesmo reclamando que ela dava trabalho.
-- Quer dizer ... faz tanto tempo assim? Quando foi que passamos a ser tão cruéis com ela?
-- Cruéis? Desde quando? E quando foi que você passou a se preocupar com esta moça? Nunca demonstrou o menor interesse! As únicas pessoas que cuidaram dela fomos nós! Você nunca se importou com ela. Por que está tão penalizado agora?
-- Não é verdade. Posso não ter sido muito presente, mas sempre me preocupei com ela.
-- Realmente! Se preocupou tanto, que deixou a criação dela na mão de todos nós. E nunca se preocupou em trocar uma fralda dela. – respondeu irônica.
-- Mas isso não me torna menos interessado... Será que eu fui tão cruel assim também? – perguntou espantado.
-- Sim. Foi omisso sim, e muito. – respondeu ela.
Desapontado, depois da dura conversa com a esposa, Antônio passou a pensar nos anos de convivência com Anne.
Ao se lembrar do início e perceber como tudo estava no presente, não tinha como negar. Indubitavelmente, as coisas haviam mudado muito. E para sua tristeza, não haviam mudado para melhor. Ao contrário, a convivência da família Pereira com Anne, era a pior possível. Nem parecia que a garota fazia parte daquela família!
Tanto que mesmo depois de anos, a garota continuava a tratar ele e Carla como dois estranhos. Em todos esses anos de convivência, Antônio nunca a ouvira chamá-los de pai e de mãe.
Isso era deveras estranho.
Foi então que ele chegou a seguinte conclusão:
-- Oh, céus! O que foi que fizemos a ela?
Mas já era tarde para arrependimentos. O mal já havia sido feito. A única coisa a ser feita agora, era tentar ajudá-la.
Sim, ajudá-la. Por que algo de muito sério havia acontecido.
Culpado, Antônio percebeu que descobrir o que havia acontecido e ajudá-la, era a única coisa digna a ser feita. Uma verdadeira questão de honra.
Para ele, essa era a única forma de se redimir por todo o mal que eles fizeram a ela.
Mas por mais que estivesse disposto a ajudar a moça, Antônio sabia que não seria fácil convencê-la a se abrir com ele. Afinal de contas, a moça, em razão do tratamento que lhe era dispensado, passou durante anos, a ficar na defensiva.
Por isso, seria preciso muita paciência para remover a resistência da moça em se abrir com ele.
E assim, somente dois meses depois do ocorrido, foi que Antonio finalmente pôde ajudar a moça.
Isso por que, depois de passar o dia todo fazendo serviços pesados, e estando indisposta, Anne acabou passando mal.
Antônio que a essa hora já estava em casa, vendo a moça desfalecer, logo acorreu ao seu encontro para ampará-la. Atencioso, depois de acudir e impedir que ela batesse com a cabeça, ele tratou levá-la para seu quarto e ajudou-a a se deitar.
Preocupado, Antônio, perguntou-lhe se poderia levar o jantar até seu quarto, mas Anne respondeu que não estava com fome. Alegando que estava enjoada, disse que o simples cheiro de comida lhe embrulhava o estômago.
Foi então que Antônio, surpreso com as palavras de Anne perguntou a moça se ela estava com algum problema.
Ao ouvir isso, Anne disse prontamente que não.
Mas depois de muitas horas, quando todos já haviam se recolhido, Anne, percebendo que Antônio a observava, pediu para que ele entrasse em seu quarto.
Aflita, Anne então disse que algo de muito errado estava acontecendo com ela, já que fazia muito tempo que vinha se sentindo mal.
Desconfiado do que pudesse ser, Antônio disse-lhe que no dia seguinte a levaria até o hospital, para que ela fizesse exames e descobrisse o que era.
Dito e feito.
No dia seguinte, antes de todos acordarem, os dois foram até o hospital.
Lá, Anne fez todos os exames que lhe foram pedidos.
Depois, os dois voltaram para casa.
Isso por que, a moça precisaria ainda, esperar alguns dias pelo resultado dos exames.
Este fato, foi o bastante para deixar Antônio ainda mais ansioso. Mas fazer o que? Tinha que esperar.
E assim, aguardando ansiosamente, ao final de alguns dias, os dois voltaram ao hospital para saber o resultado do exame.
Nisso, ao abrir o envelope, Anne, procurando entender o que estava escrito no papel, ficou confusa. Afinal, o que significava aquela profusão de palavras técnicas e complicadas?
Por esta razão, para que lhe fosse explicado o resultado do exame, Antônio resolveu levar Anne para conversar com o médico.
E assim, enquanto o médico lhes explicava o resultado do exame, Anne e Antônio ficaram deveras apreensivos.
Anne, assim que entendeu do que se tratava, ficou desesperada. De tão nervosa, chegou até a chorar.
Pobre menina. Não conseguia entender por que isto tudo tinha acontecido justamente com ela. Decepcionada, durante todo o trajeto de volta para casa, chorou.
Com isso, ao ver estado da moça, Antônio, igualmente desapontado, mesmo assim, fez de tudo para consolá-la. Afinal, se isso tinha acontecido, a culpa não era somente dela.
Mas isso não diminuía a tristeza de Anne.
Nisso, temendo que Antônio contasse para o restante da família o que estava acontecendo, Anne resolveu novamente, sumir de casa.
Voltando para sua cabana, Anne resolveu que não voltaria tão cedo para casa. Talvez, não voltasse nunca mais.
Porém, com o passar dos dias, as coisas foram se complicando.
Isso por que, um dia, ao retornar para sua cabana, depois da ida a escola, Anne acabou se encontrando com dois garotos.
Eles, ansiando por arrumar confusão, começaram a provocá-la.
Anne então, enfurecida com a provocação dos dois, começou a bater em um deles.
Foi então que o outro avançou contra ela. Tentando segurar seu braço, só não a agrediu por que um rapaz que passava ali no momento o impediu, e ameaçando lhe dar uma surra, colocou-o pra correr.
O outro já esbofeteado por ela, também correu.
Com isso, agradecida com o gesto de gentileza, Anne disse-lhe um obrigada e continuou caminhando. Porém, alguns passos depois, começou a passar mal.
O rapaz, vendo que Anne não estava bem, resolveu levá-la até o hospital.
Lá, visto que foi prontamente socorrida, Anne foi instada a permanecer no hospital por alguns dias.
Antônio preocupado, logo que soube do ocorrido, tratou logo de ir até o hospital.

Nisso, um senhor, procurando por uma pessoa, perguntava em toda a cidade, onde a mesma morava. Fazia tempos que ele a procurava.
Contudo, encontrá-la seria um desafio.
Isso por que, apesar de toda sua dedicação e interesse em encontrá-la toda vez que perguntava a alguém sobre esta, ninguém sabia responder.
Com isso, cansado de procurar em vão, ele resolveu contratar os serviços de um profissional para encontrar a pessoa que tanto procurava.
E assim, apesar de ser extremamente caro os serviços de um detetive, Claudionor não media esforços para que a tal pessoa fosse localizada.
Tamanho interesse, no entanto, poderia significar muita coisa. Porém, não era da conta de ninguém.
E assim, o detetive passou a fazer seu trabalho.
 
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

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