Poesias

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

TEMPOS DE OUTRORA - CAPÍTULO 23

Instalados na região serrana próxima da Povíncia do Rio de Janeiro, uma ilustre família habitou uma esplendorosa casa de campo, conhecida como Solar dos Viajantes, anteriormente ocupada pela igualmente importante família Bastos. 
Situada às margens de uma estrada precária, a imponente construção já chamava a atenção de quem por ali passava, mesmo estando a uma certa distância. Belíssima mansão em estilo neoclássico, trazia muitas referências dos templos greco-romanos. Era uma construção ampla, com muitos quartos, avarandada, uma bela cozinha e salas. 
Para o Doutor Otávio poder trabalhar em casa, havia um imenso escritório com biblioteca. Tudo ricamente decorado com móveis coloniais. Os outros ambientes da casa, também possuíam móveis coloniais, esculturas, e muitos objetos trazidos de viagens da família pela a Europa, principalmente da França. 
Realmente era uma construção interessante, mas o que a tornava ainda mais atraente, era o fato de ser uma das poucas naquela região. A casa era uma edificação solitária no meio dos arvoredos e das matas que circundavam o lugar.
Não obstante a distância considerável de qualquer presença humana nas cercanias, tratava-se de um belíssimo lugar. Lugar calmo, tranqüilo, onde as crianças podiam brincar alegres em meio a uma extensa área verde repleta de árvores, flores e frutos. Naquele imenso jardim estavam as melhores recordações daquela família tão unida. 
Assim, a conhecida família Carvalho, que freqüentava os melhores bailes do império, resolveu se mudar para aquela bela região. Senão para ali morarem definitivamente, ao menos para fugirem do calor causticante da Capital. 
Para o Doutor Otávio, aquele era um bom lugar para sua família, constituída por sua mulher e seus dois filhos. 
Ademais, quando ele precisasse trabalhar, poderia viajar e permanecer alguns dias na Província. Isso porque, tencionava mudar-se definitivamente para lá, muito embora sua esposa e filhos não soubessem disso. Otávio temia contar-lhes, pois achava que encontraria resistência por parte de sua esposa, que preocupada com a educação dos filhos, não queria vê-los longe de seus preceptores. 
Por esta razão, a mestra de Rafael e Letícia, seguiu viagem, algum tempo após a partida da família, para que ambos não ficassem sem as aulas, necessárias para uma boa formação cultural. Para os Carvalho, a educação era algo extremamente importante. Por isso a grande preocupação em educá-los e torná-los preparados para a vida cultural que se impunha a eles. E assim, Mariana – a mãe das crianças – não teria do que reclamar.
E assim, diante de educação tão esmerada, mesmo a menina, sabia ler, e era grande conhecedora da literatura brasileira da época. Gostava tanto de ler que já se aventurava a conhecer autores estrangeiros complexos e muitas vezes obscuros quanto a sua literatura. Além disso, sabia falar francês, espanhol e inglês. Seu pai insistia para que também aprendesse italiano, e ultimamente, era o que vinha fazendo.
Seu irmão Rafael, também era educado com o mesmo esmero. Mas seu grande fascínio não era pelos estudos. O que ele gostava mesmo é de correr por entre as árvores, brincando de se esconder com sua irmã. 
Nessas brincadeiras, algumas vezes a família inteira se reunia para participar, preparando até convescotes. E em meio as algazarras, permaneciam a tarde inteira unidos. Admiravam o pôr-do-sol, a beleza do lugar, e se divertiam correndo por entre as árvores.
Aliás, estas, eram as melhores recordações de Letícia, sobre aquele tempo tão feliz em sua vida. Feliz, passava as manhãs tendo aulas com sua preceptora Regina, estudando e conhecendo coisas novas a cada dia. Às vezes se aborrecendo com algumas disciplinas, mas gostando de estudar. 
Depois do almoço, a menina passava algumas horas lendo, imaginando outros mundos muito além das fronteiras de seu jardim, sonhando ... e vivendo. Ao final da tarde, saía para passear pelo jardim, onde apreciava as esculturas trazidas por seu pai para adornar o jardim. Também apreciava a beleza natural do lugar, o campo dos pássaros nativos, as belas e imponentes árvores. E, apesar de uma certa brisa que caía ao final da tarde e que abaixava a temperatura do lugar, Letícia sentia-se feliz por estar passando uma temporada em um lugar tão aprazível.
Naquele lugar, sentia-se profundamente acolhida. Gostava das tardes em que em toda a família permanecia unida correndo pelo jardim, por entre as árvores, sentindo o perfume das flores, tocando os pés na terra sem se importar se sujava os pés. Algumas vezes chegavam até a rolarem na grama. E ao final da tarde, todos exaustos, apreciavam o belo pôr-do-sol.
Ah, como tudo já foi tão bom.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria. 

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