Poesias

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

TEMPOS DE OUTRORA - CAPÍTULO 16

Mas, a despeito de suas constantes reclamações, nada era feito. Contudo, com a iminente visita de algumas das mais importante figuras da Corte, os militares não podiam fazer feio. Tinham que escoltá-los até a cidade para que não houvesse problemas. 
Apesar dos nobres possuírem uma escolta pessoal, sob a alegação de que eles não podiam correr riscos, as autoridades locais, intimaram o exército para que os acompanhasse.
E assim procederam. Sob as ordens do superior hierárquico, os soldados cavalarianos seguiram até a Capital e de lá, acompanharam os nobres até a cidade.
Nisso, tudo transcorria muito bem. 
No entanto, ao se aproximarem da cidade, alguns homens devidamente encapuzados e  municiados tentaram pilhar os viajantes. Apesar de toda a escolta, os ladrões não se intimidaram, passando a ameaçar a todos com as armas.
Espantosamente, os ladrões eram em grande número. Tal fato causou espécie a todos os que ali estavam. Mesmo os militares não esperavam por isso. 
Mas, mesmo diante de tal adversidade, os soldados resolveram reagir.
Sem grandes alternativas, os cavalarianos passaram a se dividir em grupos. 
Um dos grupos, encarregados de levarem os nobres até um lugar seguro, eram protegidos pelos homens que permaneceram no local, resistindo ao assalto. 
Estes homens lutaram bravamente, e apesar das circunstâncias, conseguiram fazer os ladrões recuarem.
Contudo, alguns dos ladrões, no ápice da confusão, embrenharam-se no mato e foram atrás da escolta que partiu com os ilustres viajantes.
Com isso, aproveitando o elemento surpresa, os bandidos avançaram em direção aos militares. 
Surpreendidos, os militares tentaram recuar. No entanto, não havia com escapar, pois os assaltantes já haviam impedido a passagem dos viajantes pelo vale.
Assim, os militares tiveram que enfrentar a situação. Enfrentaram e puseram os ladrões para correr.
Nisso Ticiano, e mais alguns colegas, percebendo que as carruagens abandonadas eram alvo fácil da ação dos bandidos, passaram a ficar próximos destas. Assim, ao menor sinal de presença dos ladrões, logo os poriam para correr.
Dito e feito, assim que alguns dos assaltantes se aproximaram, Ticiano, pulando de seu cavalo na direção em que alguns deles estavam, acabou por derrubar um deles no chão. Contudo, ao ver que os ladrões mantinham suas armas, Josué – um dos seus companheiros de farda –, desferiu três tiros em direção a eles. Como possuía fama de ter boa pontaria, atingiu um deles em cheio. 
Os demais ladrões, ao perceberem que estavam em menor número, fugiram em disparada, se embrenhando no mato.
Aparentemente, todos os ladrões sumiram. No entanto, como os cavalarianos perceberam que os mesmos gostavam de atacar a traição, resolveram se dividir em grupos, tendo o cuidado de não deixar a comitiva desprotegida.
Como também, estavam próximos da cidade, os soldados não tinham muito com o que se preocupar. Assim caminharam mais algumas léguas e finalmente chegaram ao lugar.
Como era de se esperar, foram saudados com um cortejo militar.
Tradição na cidade, toda a cidade em peso compareceu para ver os nobres e a festividade.
Depois, sabendo que os nobres haviam sido alvo de uma tentativa de assalto, o capitão do Primeiro Batalhão tratando logo de redigir a ocorrência, disse a eles, que se encarregaria pessoalmente do caso. Afinal de contas, não poderia deixar que um grupo de bandoleiros tomassem conta da situação. 
E assim, conforme o prometido, o capitão passou a tomar medidas enérgicas.
Durante o tempo em que os nobres permaneceram na cidade, o militar  teve o cuidado de cercar a cidade com todo o exército. Diante dos últimos acontecimentos, passou a temer que a cidade fosse invadida por pistoleiros. Daí o cuidado extremo.
Além do mais, quando os nobres se retirassem da cidade, estes, seriam novamente escoltados. Contudo, teriam mais militares para lhes acompanhar, garantindo-lhes a segurança. Por esta razão, o capitão planejou uma rota alternativa para que a comitiva partisse em paz. 
Assim, os militares teriam que passar por diversas cidades até chegarem ao destino, a Corte do Rio de Janeiro.  
E desta forma procederam. Cautelosos, os soldados não poderiam admitir que parte da nobreza do país, fosse alvo novamente da ação de bandidos. Por isso o cuidado para que ao menos ao retornar, estivessem em segurança.
Como se pode imaginar, o caminho ficou mais longo, mas muito embora isto tenha sido inconveniente, ao menos os nobres puderam chegar em segurança até a Capital da Corte.
Nisso ao lá chegarem, os nobres não se cansaram de elogiar a atitude corajosa de todos os soldados. Agradecidos, quiseram homenagear dois dos militares que ali estavam, por sua bravura em defendê-los, mesmo diante de algumas dificuldades. Isso por que, mesmo surpreendidos, os dois tiveram presença de espírito o suficiente para revidarem o ataque e os protegerem.
Agradecidos, os nobres não puderam deixar de cumprimentá-los pelo excelente resultado da escolta. Disseram ainda, que soldados como eles deveriam fazer parte da guarda imperial, visto que seriam primordiais para a mantença da segurança régia.
Por esta razão, os nobres prometeram que se encarregariam pessoalmente de indicá-los ao imperador. Atenciosos insistiram em dizer, que era o mínimo que poderiam fazer por aqueles que os protegeram tanto e por tão longo tempo.
Com isso, depois das devidas homenagens, os valorosos soldados partiram, em direção a cidadezinha onde serviam.
Cautelosos, diferente do caminho que fizeram ao retornar, planejaram um trajeto ainda menos convencional. Isso porque, não pretendiam serem abordados em seu regresso.
E assim, ao retornarem, inúmeros soldados foram destacados para fazer a segurança da cidade. Nas estradas que davam acesso ao município, alguns soldados, à paisana, ficavam de campana, visando a captura dos bandidos que assaltavam naquelas paragens. Por esta razão, ficavam escondidos. Embrenhados nos matos ou em morros. Precisavam encontrar os ladrões.
E assim, a cidade de Serra Azul, empenhou-se de todas as maneiras possíveis em solucionar o caso. Afinal, não seus moradores não poderiam ficar à mercê de bandidos.
Suspeitando que os assaltos ocorriam devido o fato daquela ser a rota de alguns garimpeiros, os militares passaram a fiscalizar a entrada e saída de todos os garimpeiros que trabalhavam na região. Preocupados com a onda de assaltos que assolava a região, os militares e as demais autoridades locais, procuraram fazer de tudo para que aquela questão se resolvesse. 
Por esta razão, os soldados passaram a escoltar todos os visitantes ilustres que atravessavam a cidade. Ciosos, chegaram até a visitarem as cidades vizinhas em busca de pistas sobre os bandoleiros. O capitão do Batalhão, encarregou sua infantaria, de vigiar diuturnamente a entrada da cidade.
Ademais, a título de reforço, os cavalariços foram convocados para atuarem em caso de extrema necessidade.
Em campana, com se fora uma guerra, ficaram os soldados, alertas. Não poderiam deixar que o inimigo os surpreendesse.
E foi por isso, que depois de alguns meses, finalmente os bandoleiros foram pegos. 
Além da pesada vigilância da Cidade de Serra Azul, os municípios e povoados vizinhos, estavam todos unidos com o intuito de destruírem o bando. Por isso, passaram a agir conjuntamente. Com isso, quando havia alguma notícia reveladora, logo alguém avisava os municípios limítrofes.
E assim unidos, logo que souberam através de mensagens, que os bandoleiros estavam indo em direção a cidade de Serra Azul, os municípios começaram a se preparar para o revide. 
Além disso, as autoridades das outras localidades avisaram o capitão do Batalhão da cidade de Serra Azul, sobre o ataque, e este se preparando para o combate o destacou mais soldados para o local. 
Tal pedido, foi atendido de pronto. Além disso, para que a cidade não ficasse desprotegida, o capitão convocou todos os soldados que estavam de folga, bem como mandou recado, para que as cidades mais afastadas se preparassem, caso o inimigo ameaçasse avançar para lá. 
Foi uma luta deveras desigual. 
Apesar de ser um exército contra um bando de marginais, por se tratar de um simples exército de uma pequena cidade, o mesmo não fazia jus a quantidade de bandidos que ali estavam.  
Espantosamente, desde que os bravos soldados enfrentaram o bando, o mesmo possuía agora mais integrantes.
O que causou espécie. Isto porque, apesar de não serem um grande exército como o da Capital, sempre puderam resolver seus problemas sem a intervenção de outras cidades. Mesmo quando da tentativa de assalto da comitiva dos nobres, os militares, auxiliados pela escolta particular dos nobres, mesmo sendo surpreendidos pelo ataque, puderam se defender, embora com certa dificuldade.
Mas agora, os bandoleiros pareciam um exército.
Como os vários comerciantes da cidade diziam, foi um erro deixar que este grupo se fortalecesse. As autoridades não podiam ter deixado isso começar.
Contudo, agora já era tarde, e a única solução era enfrentar a situação. 
Valorosos, os soldados não poderiam permitir que os bandoleiros invadissem a cidade. 
E assim, lutaram bravamente. 
Diante da situação adversa, tiveram que criar algumas táticas para confundir o inimigo. Criativos trataram logo de causar a impressão de serem muitos, bem como só atiraram quando necessário. Habilidosos os militares chegaram a improvisar armas, e as lançaram contra os bandidos.
Os cavalariços, chegaram a perseguir alguns homens, mata adentro, visando a captura dos mesmos.
Muito embora isso fosse arriscado, não poderiam deixar os ladrões fugir. E assim, tiveram um longo trabalho para capturar e trazer consigo, alguns dos membros do bando.
E assim, conseguiram capturar alguns deles.
Entre socos, tiros, pontapés e arriscando-se, muitos deles conseguiram alcançar o objetivo.
Dispersos, os bandidos não seguiam acompanhados, o que de fato facilitou a perseguição, pois percebendo isso, os militares constataram que não se tratava de uma armadilha. Em assim sendo, os soldados lançaram-se ao desafio.
Resultado da luta, muitos bandidos fugiram, mas muitos deles, também foram pegos.
Soldados foram feridos na luta, mas bandidos também. 
Além do mais, os militares conseguiram livrar a região, dos ataques constantes de bandoleiros.
Isso porque, em pouco tempo, todos os demais bandidos foram pegos. A quadrilha foi desmontada, e mesmo não tendo todos sido enforcados, seus líderes o foram. Tal fato, tornaria menos viável a outro bando atacar a região.
Além do que, se isso tornasse a ocorrer, tal abordagem seria menos freqüente, e logo as autoridades locais tomariam providências para coibir tais práticas.
Como a cidade dava acesso a inúmeros municípios, e a diversos povoados, que traziam pessoas, e estas, dinheiro para a cidade, as autoridades de Serra Azul não poderiam perder dinheiro, deixando que a canalha tomasse conta do lugar. Daí por diante todos passariam a agir, para que tais bandidos, não tomassem conta da cidade.    
E assim, depois do problema resolvido, os bravos soldados, bem como os cavalariços, todos eles foram homenageados.
Ticiano e Josué, pela coragem que tiveram em enfrentar os bandidos que ameaçaram os visitantes, foram condecorados e promovidos. Por esta razão, passariam a integrar a guarda real na Cidade do Rio de Janeiro.
Com eles, pela brilhante participação na luta, seguiriam também para a Corte, mais outros dez soldados e oficiais, bem como alguns cadetes – jovens que, filhos dos comerciantes locais, entraram para o exército –, rumariam para outra cidade.
Ticiano no entanto, ao saber disso, ficou desapontado. Isso por que, gostava do lugar, das pessoas, do seu posto, bem como nunca demonstrara interesse em sair dali. Por isso, ao saber da promoção e da convocação, argumentou que não poderia ir. Sentia-se bem em permanecer no local.
O capital ao ouvir isso, não ficou nada satisfeito. Afirmando de Ticiano era integrante dos quadros do exército, o militar respondeu que não era de sua alçada discutir as ordens de um seu superior hierárquico. 
Assim, sem alternativa, mais uma vez, Ticiano teve que concordar com os propósitos alheios e seguir viagem para a Corte.  
Contrariado, o rapaz seguiu juntamente com os colegas de farda, rumo a Capital da Corte.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria. 

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