Poesias

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 58

Foi nessa época que Paulina, pesarosa com a morte do marido Antenor, passou a fazer um balanço de sua vida. 
Corroída pelo remorso, por ter abandonado sua primeira filha, a mulher passou a empreender uma verdadeira peregrinação para encontrá-la. 
Para tanto, contratou um detetive.
Nessa busca, aguardou por meses a descoberta do paradeiro da própria filha. 
Paciente, esperou. 
Não tinha outra alternativa. 
Afinal de contas, se não pôde ver a filha por tantos anos, não seria difícil esperar mais um pouco.
Foi quando, enchendo-se de coragem, revelou aos filhos que tivera um relacionamento amoroso antes de se casar com o pai deles.
Jorge e Cristina – seus filhos –, ao tomarem conhecimento deste fato, ficaram inconformados.
Contudo, o pior seria saber mais tarde, que não bastasse este detalhe, Paulina tivera uma filha, fruto dessa relação.
Jorge ao ouvir a tal história, ficou revoltadíssimo.
Cristina por sua vez, informou que jamais consideraria uma bastarda com sua irmã.
Furiosa, deixou a mãe falando sozinha.
Paulina, no entanto, mesmo diante da resistência dos filhos, insistia na idéia de trazer
a menina para sua casa.
Jorge ao ouvir isso ficou inconformado. Dizendo que a casa também era dele e de Cristina, comentou que ela não tinha o direito de levar uma estranha para morar com eles.
Paulina, porém, insiste na idéia. 
Dizendo que a filha não tinha culpa por toda aquela confusão, tentou de todas as maneiras possíveis, convencer os filhos aceitarem a irmã.
Por isso, sempre que podia, por meio dos meios mais variados expedientes, Paulina tocava no assunto. 
Seja no café da manhã, durante à tarde ou mesmo a noite, Paulina sempre que podia, comentava sobre a filha que só tivera por um instante nos braços.
Jorge e Cristina já não agüentavam mais ouvir sempre a mesma história.
Paulina, porém, não desistia.
Esperava ansiosamente por esse reencontro. 
Nervosa, sempre que pensava nisso, Paulina fantasiava de mil formas este momento. 
Todavia, somente vivendo essa experiência que ela saberia realmente como as coisas se dariam.
Nessa época tinha por companheira somente as dúvidas, as incertezas e a angústia:
‘Como devia estar esta menina? Como devia ser sua vida? Será que era feliz? Será que era bem tratada por sua família adotiva? Como poderei falar com ela?’ 
Eram as perguntas que se fazia.
Sem contar as dificuldades que ela tinha em lidar com Jorge e Cristina, que não aceitavam a idéia da mãe ter uma filha ilegítima.
Com isso, Jorge e Cristina ao notarem que a tal garota nunca aparecia, chegaram a duvidar que Paulina conseguiria encontrar esta tal filha.
Paulina, porém, nunca deixou de acreditar.
Desde que tivera Jorge e Cristina; Paulina, ao poder finalmente, exercitar seu lado materno, finalmente se deu conta do quão era importante esta experiência. 
Experiência que ela abandonara ao não cuidar de sua filha mais velha, em razão das dificuldades financeiras por que vinha passando. 
Contudo, ao analisar a história a fundo, teve que admitir: Foi covarde!
Nisso ao se ver casada com Antenor, feliz com seus dois filhos, pela primeira vez na vida, sentiu-se culpada.
Vendo Jorge e Cristina com suas bóias, brincando na piscina, Paulina deu-se conta pela primeira vez, que sua filha poderia não ter tido a mesma sorte.
Ao ter esse pensamento, uma grande angustia invadiu o seu peito. 
Mas agora era tarde, o que ela poderia fazer? 
Casada, Paulina não poderia contar ao marido que tivera uma filha fora do casamento. 
Se fizesse isso, certamente ele a abandonaria.
Temerosa, era o que Paulina pensava.
Por isso, nunca contou ao esposo o que se passava.
E assim, Antenor viveu na ignorância de que Paulina tivera uma outra filha. 
Feliz com a família que criara, Antenor morreu acreditando que se casara com uma mulher impecável.
Ledo engano. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

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