Poesias

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 45

No dia seguinte, caminhando pelos corredores da instituição, Andressa inopinadamente é abordada por Carla, que a estava seguindo.
Aproveitando-se da distração da garota, Carla interrompe seu passeio. 
Dizendo que precisa conversar com ela, comenta que ninguém nunca a havia enfrentado antes. 
Afirmando que ela era muito corajosa para enfrentá-la daquela maneira, perguntou seu no nome.
Desconfiada, Andressa respondeu com outra pergunta:
-- E por que você quer saber meu nome?
-- Por que eu mando no pedaço. Não te falaram nada sobre mim? – perguntou Carla.
-- Alguma coisa. – respondeu Andressa, com desdém.
Carla não gostou do tom da garota. 
Mas, controlando sua irritação, disse:
-- Garota! Você se acha a rainha da cocada branca, não é mesmo?
-- Não me acho não. Só não gosto que falem comigo como se eu fosse qualquer coisa. Se você me respeitar, vai ser respeitada por mim.
A moça ao ouvir isso, começou a rir. 
Acostumada a destratar as pessoas, Carla comentou a perceber que não conseguiria dobrar facilmente Andressa. 
Mas, tentando demonstrar tranqüilidade, decidiu tentar mais uma vez, se entender com a garota.
Por esta razão, se apresentou:
-- Pois bem! Eu me chamo Carla. Estou aqui há quase um ano. E você?
Andressa respondeu:
-- Meu nome é Andressa.
-- E o que você fez para parar aqui? – perguntou Carla.
Andressa respondeu esta pergunta com outra pergunta:
-- E você? O que fez para parar aqui?
-- Não te falaram? Eu matei uns caras. – respondeu convencida.
Curiosa, Andressa perguntou por que ela nunca tinha tentado fugir dali.
Carla respondeu então:
-- Quem te disse que eu nunca tentei fugir? Tentar eu tentei, mas as fugas sempre deram errado... Por que, você está pensando em fugir?
-- Não. No momento não. – respondeu Andressa, dando a entender que gostaria de continuar caminhando.
-- Vai. Vai em paz, majestade. – desdenhou Carla.
Nisso, Andressa ficou passeando pelo lugar, conheceu os pátios, os cursos que eram ministrados, as aulas. 
Observou o comportamento das demais internas, e reencontrou Taís e Renata, que ao perceberem que não haviam se apresentado, trataram logo de o fazerem.
Andressa fez o mesmo.
E assim, devidamente apresentadas, as duas garotas comentaram como era o dia-adia na instituição.
Alegando que haviam sido presas por engano naquele lugar, insistiam em dizer que não haviam feito nada.
Ao ouvir tais palavras, Andressa não acreditou.
Mesmo assim, as duas colegas continuaram a dizer que eram inocentes.
Foi nesse momento que, ouvindo a conversa das duas, Regina comentou:
-- Todos nós somos inocentes. Eu mesma, pratiquei muitos furtos. Mas mesmo assim, eu sou inocente. Como dizem, sou uma vítima do sistema.
Andressa que estava conhecendo as pessoas, esperou a garota se apresentar.
Foi que ela fez.
Andressa também se apresentou. 
Dizendo que preferia evitar problemas, respondeu que dali por diante, cumprimentaria todos os que se apresentassem a ela.
Regina, que já sabia do enfrentamento dela com Carla, comentou que ela estava encrencada.
Andressa respondeu:
-- Eu sei! Eu estou encrencada praticamente desde o dia em que nasci. Toda a minha vida é uma confusão. Um problema a mais, um a menos, não faz a menor diferença.
Curiosa, Regina pergunta sobre sua vida.
Incomodada com a curiosidade, Andressa muda de assunto. 
Ao observar alguns funcionários andando de lá para cá, resolve perguntar o que eles fazem.
Regina responde então, que eles são monitores.
Interessada, Andressa pergunta se são eles que cuidam dos menores.
Regina responde afirmativamente. 
Curiosa, pergunta o porquê de tanto interesse.
Tentando despistar, Andressa responde:
-- Nada não.
E nisso, as quatro internas continuam conversando.
No refeitório, Carla e Andressa se encontram novamente.
Aflitas, Renata e Taís, comentam entre si, que isso não vai dar certo.
É quando Carla começa a puxar papo com Andressa, que mesmo um pouco desinteressada, se esforça para ser simpática.
Quando Renata e Taís constatam que não haverá brigas, ficam surpresas.
Outras pessoas no refeitório também ficam.
Quando os murmúrios começam a alcançar um volume muito elevado, Carla começa a gritar:
-- Vocês querem fazer o favor de fecharem as matracas?
Ao ouvirem os berros da garotas, todas se calam.
É quando ela comenta com Andressa:
-- Está vendo só? É só pedir com jeitinho que todo mundo atende. Se você não me criar problemas, poderá ter uma vida bem tranqüila aqui dentro.
Andressa preferiu ignorar o comentário.
Nisso, ao término da refeição, Carla saiu do refeitório. 
Seguida de suas fiéis sequazes.
Novamente o burburinho começou.
É quando uma das internas afirmando querer aconselhar Andressa, comenta:
-- Hoje ela estava de bom humor. Mas se eu fosse você, não brincava com a sorte não. A Carla é perigosa.
Andressa ao ouvir isso, resolveu sair do refeitório.
Foi assim que começaram as provocações.
Embora algumas garotas dissessem que Carla estava amarelando, outras viviam debochando de Andressa. 
Dizendo que ela estava brincando com fogo, afirmavam que ela ainda iria se dar muito mal.
Andressa que no começo, ao ouvir as provocações, fingiu ignorá-las, mas com o passar do tempo, passou a retrucar. 
Dizendo que estava cansada de ouvir tantas bobagens, comentou que se algum as duas tivessem que acertar suas diferenças, não seria por determinação delas nem de ninguém. Dessarte, não havia nascido ninguém ainda que pudesse lhe impôr alguma coisa.
Quem não gostou nada nada dessa conversa foi a própria Carla, que assim que pôde, foi tomar satisfações com Andressa.
Ameaçando-a, Carla diz que ela está passando dos limites. 
Alegando que quem manda ali é ela, comenta que se ela não colaborar, as coisas podem ficar muito difíceis para o seu lado.
Andressa porém, despreza o conselho. 
Dizendo que sabe cuidar de si mesma, afirma que não está incomodando. 
Pelo contrário, toda vez que tenciona ficar sozinha em seu canto, aparece uma infeliz para irritá-la. 
Diante disso, responde como qualquer pessoa faria.
Audaciosa, avisa Carla, que se ela não quer mais ter atritos com ela, é bom deixar suas sequazes longe dela.
Carla fica injuriada com a atitude de Andressa.
-- Eu não estou acreditando! Quem você pensa que é para me dar ordens?
-- Eu não estou dando nenhuma ordem. Eu, ao contrário de certas pessoas, não tento mandar nos outros. Só quero que respeitem o meu espaço.
Aborrecida, Carla agarra Andressa pela manga da blusa.
-- Me solta! Solta a minha blusa. – exigiu Andressa.
-- Pois você está avisada! – respondeu, empurrando a garota.
Taís, ao ver cena comentou:
-- Tá ferrada! Eu bem que avisei.
Irritada, Andressa caminhou para outra ala.
Sozinha, caminhando por entre as alas do lugar, começou a refletir.
Ao se recordar dos tempos em que vivera num orfanato, Andressa percebeu que lá as coisas eram difíceis, contudo ali era bem pior. 
As meninas mais agressivas, a todo o momento lhe criavam problemas. 
Provocando-a e ameaçando-a, estava cada vez mais difícil se acostumar com aquele lugar.
Certa vez, em uma de suas caminhadas constantes, chegou a ver Carla e mais uma amiga, ameaçando uma funcionária.
Observando o dia-a-dia do lugar, começou a perceber que ela não era a única a fazer isso. 
Atrevidas, algumas outras garotas também ameaçam as funcionárias. 
Dizendo que elas iriam se arrepender por não colaborarem com as internas, algumas destas funcionárias frustraram alguns planos de fuga. 
Por conta disso, eram constantemente ameaçadas.
Com isso, o que chamou a atenção num primeiro momento, passou a ser rotineiro e banal. 
Andressa se acostumou com o tratamento hostil das internas.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

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