Poesias

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

QUIMERAS DO PASSADO CONTO 3 Ó LÁGRIMAS DE PORTUGAL!

Descendente dos primeiros navegadores portugueses, – os homens que primeiro desbravaram a terra Brasil – Amanda caminhava distraidamente pelos jardins.
Impressionada com a beleza do lugar a moça mal podia acreditar que finalmente pisava a terra que seus ancestrais descobriram. 
Uma terra cheia de belezas e encantos. 
As flores, as matas, o verde, os pássaros, tudo inebriava. 
Para a alma, apreciar toda essa exuberância era um bálsamo. 
Um deleite para o espírito, que Amanda apreciava com sofreguidão. 
Distraída, por não acompanhar o vai-e-vem das horas, nunca por não apreciar o encanto de tão bela paisagem.
Ao término do passeio pelo imenso jardim do casarão, a moça ao chegar em casa comentou:
-- Magnífico! Um esplendor!
Admirada com cada novo detalhe que percebia no jardim, a moça não se cansava de comentar que apesar de provinciana, a região era um verdadeiro colírio para olhos marejados
de paisagens urbanas. 
Lá ao menos ela poderia apreciar a natureza convidativa e acolhedora a todos os estrangeiros que por ali passavam ou mesmo permaneciam.
Porém, com o passar do tempo, a terra que inicialmente a encantou, pouco a pouco foi se tornando parte de seu presente. 
Por nunca mais ter voltado para Portugal, Amanda deveras saudosa, deixou de olhar com o mesmo carinho para as paisagens que tão acostumada estava.
Rica fidalga, de família abastada, a moça ao aportar por cá, em pouco tempo, arrumou casamento com o filho de uma figura ilustre da região. 
Como não cabia a ela escolher seu pretendente, casar com Petrônio, foi apenas uma questão de tempo.
Sim, nos tempos do Brasil império, a união de famílias abastadas e tradicionais, era a forma encontrada pelos fidalgos de permanecerem íntegros. 
Segundo eles, em assim procedendo, mantinham a pureza do sangue, da linhagem. 
Contudo, o que já se sabe é que muitos deles tiveram filhos espúrios. 
Filhos fora do matrimônio, com negras e índias. 
Foi assim que se formou o Brasil. 
De uma mistura de raças e culturas diferentes, que aprendendo a conviver com a diversidade, construíram este país plural. 
Um colosso!
Mas voltemos a narrativa.
Amanda, sem ter outra alternativa, casou-se. 
Casou-se e com Petrônio teve duas filhas. Fernanda e Ana Lúcia.
Fernanda a mais velha, casou-se a quase seis anos com um militar, era um exemplo de mulher bem casada. 
Com dois filhos pequenos, a moça parecia muito feliz com sua sorte.
Ana Lúcia por sua vez, por ser ainda muito jovem, não fora desposada por ninguém.
Tranqüila, subindo em árvores e passeando pelo belo quintal de uma terra que um dia encantara sua mãe portuguesa, a moça nem imagina que seu pai já firmara compromisso com
um rico político da região.
Isso por que, Petrônio, vendo a filha adentrando os quinze anos, conversando com o ilustre amigo, disse-lhe que Ana Lúcia dentro em breve, teria idade suficiente para se casar.
Lupicínio, indagando se ainda não era muito cedo para ele pensar nisso, perguntou a Petrônio se seu filho Francisco poderia conhecê-la.
Sem entender direito o teor da pergunta, Petrônio foi logo perguntando o por quê de tanto interesse.
Sem delongas, Lupicínio respondeu que aquela era apenas uma curiosidade natural.
Tentando compreender o interesse de Lupicínio no encontro, Petrônio aquiesceu.
Combinando que pai e filho visitariam sua casa, Petrônio convidou-os para jantar. 
Assim, aproveitando o ensejo, ele apresentaria Francisco a toda sua família já que Fernanda e seu esposo também iriam jantar por lá.
Lupicínio aprovou a idéia. 
Comentando com o amigo que conversaria com o filho sobre o encontro, Lupicínio prometeu que na hora marcada eles estariam em sua casa, para cearem.
Satisfeito, Petrônio, alegando que tinha alguns assuntos para resolver, despediu-se do amigo.
Lupicínio então, agradeceu o convite e igualmente se despediu de Petrônio.
Nisso Petrônio caminhando pelas ruas da cidade, resolveu saber as horas. 
Ao olhar o relógio de bolso, percebeu que precisava se apressar. 
Por isso apertou o passo. 
Ao chegar numa casa bancária entrou. 
Por lá ficou cerca de uma hora. 
Depois, se dirigindo para casa, Petrônio passou por lojas, estabelecimentos comerciais, confeitarias.
Feliz com a novidade, mal via a hora de contar a esposa, que Francisco finalmente iria conhecer Ana Lúcia. 
Animado, ao chegar em sua bela casa, Petrônio quis logo saber onde estava a esposa.
Amanda que bordava delicados desenhos num tecido preso em um bastidor, nem se deu conta da aproximação do marido. 
Absorta em seu trabalho, mal podia imaginar a novidade que Petrônio trazia para a família.
Porém, não seria novidade por muito tempo.
Isso por que, assim que adentrou a sala, o homem, percebendo a concentração da esposa, chamou-a:
-- Amanda! Amanda! ... Senhora minha esposa, poderia largar esse bordado por um instante? Tenho que participar-lhe uma grande notícia.
Concentrada, Amanda demorou para perceber que Petrônio a chamava. Surpresa com a interrupção a mulher foi logo perguntando:
-- E que grande novidade é essa?
-- Querida, finalmente Francisco virá aqui conhecer nossa filha. – respondeu ele contentíssimo.
-- Virá aqui quando? – perguntou ela já imaginando que esse encontro ocorreria em breve.
-- Lupicínio e seu filho Francisco, virão aqui a noite, cear conosco. Que tal?
Ao ouvir isso Amanda levantou-se de súbito. 
Surpresa com a novidade, a mulher comentou que não tinha como preparar tudo. 
Nervosa, Amanda perguntou ao marido, por que não havia marcado o encontro para outra data.
Petrônio, dizendo que foi a melhor solução que encontrou, comentou que Lupicínio era de casa e que por isso não havia necessidade de se fazer cerimônia. 
Além disso, não era pelo jantar que os dois iriam até lá. 
Explicando a esposa que a intenção dele era apresentar Francisco à Ana Lúcia, Petrônio deixou Amanda mais preocupada com o jantar.
Dizendo que teria muito o que fazer até a hora do jantar, a mulher recriminou o marido. 
Ao dizer que ele deveria ter marcado o jantar para dali há alguns dias, Amanda comentou que teria um trabalhão para conseguir preparar uma ceia à altura da ocasião.
Petrônio ao ouvir as palavras de reclamação da esposa bem que tentou convencê-la de que um jantar simples seria o suficiente.
Mas Amanda, caprichosa em suas recepções não podia admitir que um convidado seu fosse tratado com um agregado da família. 
Dizendo que mesmo os amigos mereciam uma atenção especial, a mulher chamou suas duas empregadas e dizendo que elas tinham um jantar especial para preparar, incumbiu uma delas de buscar os ingredientes necessários para a ceia.
E assim, enquanto ela e Anastácia se incumbiam de preparar a sobremesa, Theodora foi até um dos armazéns da cidade comprar alguns vinhos. 
Em seguida passou na granja e comprando uma ave, levou-a para casa.
Quando Amanda viu a empregada chegando em casa toda atrapalhada com as compras, sugeriu ao marido que a ajudasse a levar os mantimentos para a cozinha.
Petrônio que naquele momento se preparava para ler o jornal, não gostou nem um pouco de ser interrompido. 
Porém, acatando a ordem da esposa, ele auxiliou Theodora levando parte das compras para a cozinha.
Em seguida, voltou para a sala e começou a ler seu jornal.
Nisso Amanda e as criadas se esfalfando na cozinha, preparavam um regalado repasto para o jantar. 
Detalhista, a mulher, ao ver que faltavam flores na mesa de jantar, pediu ao marido que saísse para comprar algumas dúzias de flores para enfeitar o ambiente.
Petrônio, que a essa altura, já tinha acabado de ler o jornal, mais do que depressa se dirigiu até a rua. 
Colocando seu casaco, o homem saiu pela cidade em busca dos mais belos arranjos de flores que podia encontrar. 
Cuidadoso, procurou escolher muito bem o que comprava, para depois não ouvir reclamações de sua exigente esposa.
Quando chegou em casa, Amanda que o aguardava aflita, comentou:
-- Finalmente!
Petrônio, colocando os buquês sobre a mesa, perguntou:
-- Mais alguma coisa, senhora?
-- Não está ótimo! Estas flores vão ficar perfeitas na sala e aqui no centro da mesa. Agora vai. Vá se arrumar que daqui a pouco serei eu que irei cuidar da minha aparência. –
respondeu ela.
Petrônio ao ouvir as recomendações da esposa, subiu as escadas e foi até seu quarto.
Enquanto isso Amanda, cuidando das flores, dispôs os arranjos pela casa.
Na sala, deixou um lindo buquê repousando sobre um vaso de cristal numa mesinha.
Na entrada da casa, colocou um arranjo de flores mais simples.
Já na sala de jantar, depositou um exuberante arranjo num vaso adrede colocado no centro da mesa. 
No aparador, um arranjo mais modesto enfeitava o móvel. 
Lá seriam colocados os pratos do saboroso jantar.
Sim por que, Amanda, era mestra em preparar grandes e pequenas recepções. 
Exímia anfitriã, não deixava nenhum conviva insatisfeito.
Quanto a isso, Petrônio não tinha nenhuma queixa. 
Sua única ressalva com relação a isso, era a dedicação exaustiva que Amanda dedicava as festas, muitas vezes deixando de lado até a família. 
No mais, Amanda era uma dona-de-casa exemplar.
Com isso, vendo que tudo estava perfeito e que o jantar já estava quase pronto, Amanda, percebendo que ainda tinha que se arrumar, pediu a uma das criadas para que preparassem um banho tépido para ela. Cansada a mulher argumentou que precisava de um
banho demorado para se recompor para a ceia.
Theodora, então, foi aquecer um pouco de água no fogão à lenha.
Com isso, quando a água estava aquecida, lá ia ela subir as escadas para levar o recipiente e despejar seu conteúdo em uma tina. 
Theodora fazia esse percurso várias vezes.
Isso por que, encher a tina com água, era um trabalho que requeria muita paciência e tempo.
E pacientemente Amanda esperou. 
Quando finalmente pôde tomar seu banho, a mulher aproveitou para sentir ao máximo aquela água morna, agradável, tocando sua pele.
Depois de algum tempo, percebendo que se demorara no banho, já havendo escolhido sua roupa, Amanda vestiu-se, e usando sua melhor jóia, desceu triunfante, as escadas de seu lar.
Radiante, logo que desceu, viu seu marido e a filha a esperando. 
Fernanda, acompanhada de seu esposo Rubens estava encantadora.
Seu pai, ao vê-la tão disposta, comentou elogiando-a, que ela estava mais bonita do que nunca.
Feliz, ao ver a cena Amanda abraçou a filha e perguntando como estavam os meninos, ouviu como resposta que eles estavam bem. 
Joaquim e Ataúfo, estavam sob os cuidados de uma babá, que prestimosa, resolveu adiar sua folga.
Nisso, quando Lupicínio e Francisco chegaram, Ana Lúcia, que já havia sido avisada do jantar por sua mãe, e se arrumando para a ocasião, ainda não havia saído do quarto. 
Ao ouvir de sua mãe, que precisava estar bem arrumada para o jantar, Ana Lúcia não sabia o que vestir. 
Muito embora tivesse roupas ótimas para usar, como não estava acostumada com ocasiões de cerimônia, a moça não sabia o que usar para ficar melhor.
Fernanda, talvez pressentindo que a irmã estivesse precisando de ajuda para se vestir, resolveu ir até seu quarto para auxiliá-la. 
Assim, pediu licença aos pais e convidados, e dirigiu-se ao quarto da irmã.
Lá como era de se imaginar, Fernanda encontrou Ana Lúcia toda atrapalhada. 
Sem saber o que vestir, a moça revelou que já havia revirado o armário, mas a dúvida permanecia.
Sem entender a razão de um jantar tão formal, Ana Lúcia comentou com a irmã que não sabia por que sua presença era tão importante, já que nunca fora convidada antes para participar desses jantares.
Fernanda ao perceber a dificuldade da irmã em se inserir nesse mundo, comentou que aquele jantar era apenas uma reunião entre amigos.
Ana Lúcia não acreditou muito nisso, mas sem querer estender a conversa, perguntou a irmã o que deveria usar.
Paciente, Fernanda ajudou Ana Lúcia a escolher sua roupa.
Escolhendo um vestido pérola, Fernanda, ajudou a garota a se vestir.
Ana Lúcia então, confiando no bom gosto de Fernanda não discutiu.
Com isso, Fernanda, percebendo que Ana Lúcia também precisava de um bonito penteado, ajudou a irmã. 
Prendendo parte do cabelo de Ana Lúcia, Fernanda comentou que ela era ainda muito nova para ficar com o cabelo todo preso.
Ana Lúcia não discutiu. 
Por fim, escolhendo uma bela jóia, a moça fez Ana Lúcia usar brincos pela primeira vez.
Assim, devidamente arrumada, Fernanda, conduzindo-a até a escada, pediu para que ela descesse sozinha.
Ana Lúcia bem que tentou convencer a irmã a acompanhá-la, mas Fernanda resoluta, respondeu que era ela quem tinha que descer. 
Em seguida ela também desceria.
Ciente da importância do jantar Fernanda estava de uma forma discreta tentando fazer com que tudo desse certo.
Isso por que, desacostumada com tanto requinte, Ana Lúcia precisava ser orientada, ou acabaria por cometer alguma gafe.
Por isso, ao chegar em casa dos pais, logo que adentrou a casa, percebendo a arrumação do ambiente, foi logo perguntando o por quê tanto cuidado.
Petrônio, comentando que finalmente apresentaria sua filha mais nova para o filho de seu amigo, pediu a Fernanda que o auxiliasse nessa empreitada.
Fernanda, percebendo que não seria nada fácil fazer Ana Lúcia integrar a mesa, ao notar que os convidados já haviam chegado, tratou logo de apressar a moça, que devia estar
perdida em meio a tantos vestidos.
Estava certíssima.
Com isso, Ana Lúcia ao descer as escadas, foi logo reconhecida por Lupicínio, que a vendo tão bem arrumada comentou:
-- Então esta é sua filha mais nova! Muito bonita!
Sem jeito, Ana Lúcia agradeceu o elogio e terminando de descer as escadas, a moça, a pedido de seu pai, permaneceu na sala.
Petrônio então, apresentando a filha, comentou que sua demora para descer, se devia ao fato dela estar se preparando à altura da importância da ocasião. 
Dizendo que Ana Lúcia era uma pessoa muito simples, Petrônio comentou que ela era uma ótima companhia.
Ana Lúcia não estava entendendo nada.
Lupicínio então, dizendo que não tinha problema nenhum no fato dela ter se demorado, comentou que sua falecida esposa também era muito vaidosa.
Nisso Francisco, se apresentou:
-- Bom, eu me chamo Francisco.
Ana Lúcia, percebendo que deveria responder, comentou:
-- Muito prazer, eu me chamo Ana Lúcia.
Procurando dar início a um colóquio, o mancebo perguntou-lhe:
-- Como vai a senhorita?
Petrônio, Rubens, Amanda e Lupicínio percebendo que precisavam deixar os dois a sós, alegando que tinham que pegar as taças de vinho na cozinha, saíram da sala.
Fernanda que ouvia a conversa perto da escada, continuou por ali.
Enquanto isso Ana Lúcia, sem saber direito o que dizer, respondeu:
-- Vou bem, e o senhor?
-- Vou muito bem. Obrigado... Estou muito satisfeito de ver uma família tão unida e ser tão bem recebido. Vejo que sua mãe é muito cuidadosa. Você também ajudou nos
preparativos?
Ana Lúcia respondeu titubeante:
-- Não. Nem um pouco.
-- Mas por quê? Acaso sua mãe não precisou de ajuda para organizar este jantar?
-- Precisar ela precisou, mas como ela nunca gostou que eu e minha irmã nos intrometessemos na organização destes eventos, então eu nem me ofereci para ajudá-la.
-- Por que? Ela não gosta de ajuda?
-- Gostar ela até gosta, só que não a nossa. Ela acha que nós somos desastradas.
-- Que pena! Está tudo tão bem arrumado por aqui. Pensei que você tivesse ajudado sua mãe.
-- Não. Quem sempre teve muito jeito com prendas domésticas é Fernanda. Ela sim, é uma ótima bordadeira. Faz cada desenho!
-- E você não faz nada?
Meio sem jeito, Ana Lúcia respondeu:
-- Algumas coisas.
-- Como o que por exemplo?
-- O quê? Como assim?
-- Qualquer coisa. Por exemplo, saber costurar, saber ler... Pode responder, não precisa ficar acanhada.
Ana Lúcia pensando um pouco respondeu:
-- Sei subir em árvores.
Surpreso, Francisco perguntou:
-- Subir... em árvores? Mas isso não requer nenhuma grande habilidade.
Contrariada Ana Lúcia respondeu:
-- Requer sim. Requer tanta habilidade que muitos garotos não conseguem fazê-lo. Além do mais, é assim que eu apanho frutas que estão nas pontas das árvores e que por isso
ninguém consegue alcançar.
-- Está bem. – respondeu ele se recompondo. – Mas além disso, a senhorita não tem mais nenhuma habilidade?
-- Não sei. O senhor acha que manter um ambiente sempre limpo é uma habilidade?
-- Sim. É uma ótima habilidade. Quando você se casar vai saber manter sua casa impecável.
Ao ouvir isso Ana Lúcia ficou surpresa:
-- Casar? Mas por que?
Francisco riu.
-- Ora por que! – respondeu ele. – Por todo mundo precisa se casar um dia. A senhorita não pensa em constituir família?
-- Não sei. – respondeu ela.
-- Não pensa em se casar? – insistiu ele.
-- Não sei. Eu não sei por que o senhor está me perguntando isso. Acaso pensa em se casar?
Surpreso com a pergunta, o moço respondeu:
-- Sim e dentro em breve.
-- Entendo. Por isso a pergunta. Mas se o senhor quer saber, eu não pretendo casar. Não quero ficar a vida inteira me preocupando com roupas e futilidades.
Ao ouvir isso, Francisco espantou-se. 
Surpreso com com a postura de Ana Lúcia, o rapaz lhe perguntou apreensivo:
-- Mas se a senhorita não deseja se casar, deseja ser freira?
-- Embora seja uma carreira muito bonita a ser seguida, eu não tenho a menor vocação para ela.
Francisco, ao ouvir a resposta, ficou aliviado. Satisfeito, o rapaz lhe perguntou em tom de desafio:
-- E o que pretende fazer? Enfrentar seu pai quanto ele lhe trouxer um pretendente?
Ao ouvir a pergunta Ana Lúcia ficou sem ação.
O rapaz percebendo a surpresa, prosseguiu:
-- Então. Não vai responder?
Ana Lúcia permaneceu em silêncio.
Pensativa, a moça demorou algum tempo para conceder uma resposta. 
Mas, confiante, Ana Lúcia alegou que seu pai jamais faria isso com ela.
Francisco ao ouvir estas palavras, riu. 
Dizendo que os pais não precisavam da autorização dos filhos para os prometerem a alguém, comentou que provavelmente ela já estava prometida há muito tempo para alguém.
Irritada com o comentário, Ana Lúcia perguntou:
-- E como é que o senhor pode saber disso?
-- Simples. – respondeu. – Por que foi assim comigo.
Surpresa, ela perguntou novamente:
-- Mas o senhor não brigou, não protestou?
-- Não. – respondeu ele placidamente. – Não briguei nem vou brigar.
-- Por que não? – respondeu ela.
-- Por que eu estou adorando minha pretendente.
-- Então o senhor está feliz com a escolha de seu pai?
-- Sim. E a senhorita também ficaria feliz, tenho toda a certeza, se também a conhecesse.
-- Ficaria? Ela é tão agradável assim? – respondeu ela intrigada.
-- Sim. Mas ao contrário do que eu pensei, ela não agiu como todas as mulheres em sua situação costumam fazer. Absolutamente. Ela simplesmente mostrou a mim, como ela
era. Altiva como nenhuma outra.
-- É mesmo? – perguntou ela interessada. – E quem é essa pessoa tão fantástica? Acaso ela é pobre?
-- De forma alguma. Meu pai jamais firmaria um compromisso para mim, com uma pessoa sem posses. Mas apesar disso mostrou ser uma pessoa firme. Não gosta muito de luxos.
Ana Lúcia calou-se. 
Espantada, cada vez entendia menos o sentido daquela conversa.
Francisco, percebendo a perplexidade da moça, perguntou:
-- Não percebeste ainda de quem eu estou falando?... É de Vossa Senhoria.
Ana Lúcia finalmente compreendeu o sentido daquela visita.
Foi nesse instante que seu pai e Lupicínio retornando a sala depois de um longo tempo, chamaram os dois para jantar.
Amanda, atarantada com o jantar, mal teve tempo de ficar na sala e conversar com os convidados. 
Contudo, na hora da ceia lá estava ela.
Fernanda, aproveitando o ensejo desceu as escadas. 
Ao chegar na sala de jantar, sua mãe comentou:
-- Finalmente apareceu. Onde você estava?
-- Eu estava no quarto, ajeitando meu cabelo. – respondeu ela tentando disfarçar.
Amanda percebendo que ela não podia contar exatamente o que estava fazendo, resolveu mudar de assunto.
Nisso, com Fernanda sentada à mesa, Anastácia começou a servir os convidados.
Conversando sobre amenidades, os convivas se regalaram com o saboroso repasto.
Encantados com a qualidade do jantar, Lupicínio e Francisco só faziam elogiar a habilidade de Amanda em bem receber seus convidados.
Envaidecida, a mulher agradeceu.
Satisfeita Amanda pediu a Anastácia que trouxesse o vinho, para eles comemorarem a linda data que se afigurava.
Anastácia mais do que depressa, foi até a cozinha pegar o vinho.
Ao voltar com a garrafa nas mãos, Amanda mandou Anastácia servir a todos os convivas.
Aproveitando o ensejo, Petrônio começou a dizer:
-- Em agradecimento a visita que nos fizeram Lupicínio e Franscisco, aproveito para homenagear meus convidados com um brinde. Um brinde que selará para sempre a união de
nossas famílias.
Ana Lúcia ao ouvir isso, percebendo o por quê da necessidade de sua presença no jantar, não gostou nada nada do brinde. 
Por isso mesmo, enquanto todos brindavam, a moça com seu copo com água, permaneceu inerte, sentada em sua cadeira.
Muito embora sua mãe a tenha instado para que também brindasse, a moça, voluntariosamente, se recusou. 
Inerte, Ana Lúcia só ficou a assistir o brinde.
Entusiasmado, Petrônio não percebeu a resistência da filha em aceitar o compromisso firmado por ele tantos anos antes. 
Isso por que, contente Petrônio só fazia dizer que dentro em breve duas novas pessoas entrariam para sua família.
Irritada, Ana Lúcia tentou diversas vezes sair dali, mas sempre que ameaçava se levantar, Amanda a intimava com os olhos, a permanecer sentada.
Com isso se denota, o quão longo foi aquele jantar para Ana Lúcia. 
Desacostumada de acompanhar eventos sociais, ao voltar para seu quarto, foi advertida por sua mãe, que dali por diante, muitas coisas mudariam em sua vida.
Perplexa, a moça mal podia acreditar no que estava acontecendo.
‘Por que isso tinha que acontecer comigo?’. 
Era a pergunta que se fazia. 
Revoltada, Ana Lúcia prometeu a si mesma que se seu pai continuasse com aquela história, ela fugiria para bem longe dali.
Contudo, não havia como fugir da realidade inexorável. 
Cedo ou tarde, Ana Lúcia acabaria por ser desposada por Francisco, que apesar de também estar sendo compelido para o enlace, encarava tudo com um certo prazer.
Isso por que, ao conhecer a moça, o rapaz percebeu que não se tratava de uma mulher frágil e dependente. 
Pelo contrário, voluntariosa, não seria nada fácil convencê-la a se casar com ele.
Francisco ao notar isso, sentiu-se desafiado. 
E acostumado com conquistas amorosas, acreditou que seria apenas questão de tempo para convencer a moça de que o melhor que tinha a fazer, era casar-se com ele. 
Convencido de seu poder de sedução, Francisco comentou com seu pai, diversas vezes, que fazer Ana Lúcia se apaixonar por ele seria apenas uma questão de tempo.
Lupicínio, relutante, comentou que não seria nada fácil fazer Ana Lúcia se encantar por ele. 
Alegando que a moça era muito diferente dele, o homem respondeu que seria um grande desafio convencê-la a se casar, ou mesmo aceitar o compromisso.
Francisco porém, estava convencido de seu poder de sedução. 
Dizendo que nenhuma mulher resistira a ele, comentou que não seria muito difícil fazê-la se enamorar.
Lupicínio descrente comentou:
-- A sorte está lançada.
Francisco concordou.
Com isso o rapaz, pedindo auxílio do pai, sugeriu ao mesmo que conversasse com Petrônio e marcasse um novo encontro para eles. 
Sob a desculpa de que tinha muito o que conversar com Ana Lúcia, o rapaz pediu para que seu pai o auxiliasse em seu intento.
Lupicínio desejando que os dois se acertassem, se empenhou ao máximo para lograr êxito em sua empreitada.
E assim encontrando o amigo em passeio pela cidade, Lupicínio comentou que Francisco ficara deveras encantado com Ana Lúcia.
Petrônio ao ouvir suas palavras ficou muito contente. 
Dizendo que sua filha era muito espirituosa, procurou desculpar-se pelo temperamento voluntarioso da moça.
Lupicínio, depois de ouvir as desculpas do amigo comentou:
-- Ora Petrônio. Meu caro amigo. Você não tem que se desculpar. Pois se foi isso mesmo que encantou meu filho!
Surpreso, Petrônio perguntou:
-- É mesmo? Nunca poderia imaginar.
-- Sim. – respondeu placidamente Lupicínio. – E te digo mais. De tão fascinado com Ana Lúcia, meu filho me pediu para marcar um novo encontro com sua filha.
Satisfeito com a novidade, Petrônio comentou:
-- Bom. Não é comum esse tipo de pedido vindo do próprio noivo, mas em se tratando de Francisco, eu vou abrir uma exceção. Está bem, diga a ele para vir até nossa casa amanhã
pela manhã, que os deixarei conversar por alguns minutos. Está certo?
-- Ótimo! Então direi ao meu filho para visitá-la amanhã. Muito obrigado, meu amigo. – finalizou ele cumprimentando Petrônio.
Assim, Petrônio igualmente se despediu dele e seguindo em direção a sua casa, sumiu de suas vistas. 
Seguindo para o banco, Petrônio permaneceu lá por algumas horas.
Enquanto isso Lupicínio, satisfeito com o consentimento do amigo, ao final da tarde comentou com o filho, que no dia seguinte durante a parte da manhã, ele poderia visitar a
noiva.
Francisco, ao saber da novidade, comentou satisfeito, que aquele seria o primeiro passo a ser dado na conquista da moça.
Com isso conforme o combinado – no dia seguinte –, Francisco, todo janota, foi ver Ana Lúcia, que avisava da visita, começou a pensar em um plano para pôr Francisco à prova.
Decidida a não desposá-lo, Ana Lúcia faria de tudo para intimidá-lo.
Contudo mesmo que lograsse êxito em seu intento, ainda assim, ela teria que passar algum tempo com ele, e ouvir suas conversas.
Para Ana Lúcia, saber que iria passar por isso, lhe era extremamente penoso.
No entanto quanto a isso não havia escapatória.
Assim, auxiliada por sua mãe, – que um dia também já passara por isso – a moça vestiu seu espartilho, o qual fora devidamente apertado. 
Depois, vestiu por cima do espartilho, um belo vestido rendado.
Amanda ao ver a filha tão bem vestida, exclamou satisfeita:
-- Mas como você está linda!
Para Ana Lúcia no entanto, não era nem um pouco agradável ouvir aquelas palavras.
Muito embora a moça tenha tentado fazer o pai desmarcar o encontro, Ana Lúcia acabou tendo que acatar as ordens de Petrônio. 
Isso por que ele, dizendo que não iria aceitar ser desafiado, comentou que da próxima vez que ela questionasse suas ordens, ficaria de castigo, para aprender a respeitá-lo.
E assim, sem alternativa, só restou a Ana Lúcia aceitar o encontro imposto por seu pai.
Por isso mesmo a moça estava tão bem arrumada.
Embora a moça nunca tenha estado mal composta, a ocasião exigiu um maior apuro e alinho no trajar. 
E isso para ela era deveras aborrecido.
Mas criada para ser uma boa esposa e mãe, não lhe cabia discutir sobre isso.
Percebendo isso, Ana Lúcia constatou rapidamente que não seria com discussões que conseguiria seu desiderato. 
Por isso mesmo, pensando em uma melhor forma de alcançar seus objetivos, a moça tinha que encontrar Francisco.
Assim, lá se foi ela.
Tentando evitar uma maior aproximação, a moça bem que tentou esperá-lo no jardim, longe dos ouvidos curiosos de seus pais.
Contudo, Petrônio, dizendo que precisava conversar com o moço, respondeu que ela teria que esperá-lo na sala.
Com isso, Ana Lúcia, dizendo que havia esquecido um livro em seu quarto, pediu licença a seu pai e correu para buscá-lo.
Petrônio, ao ver os modos da filha, pediu para que ela não corresse ou poderia cair da escada. 
Ao dizer isso porém, percebeu que a moça já devia estar em seu quarto e portanto não o ouvira.
Nisso, ao adentrar seu quarto, a moça procurando um livro, demorou-se tempo bastante para que tivesse de ser chamada por sua mãe para descer e encontrar seu noivo.
Ana Lúcia, percebendo que estava há muito tempo no quarto, ao ouvir o chamado da mãe, finalmente encontrou o livro que procurava, em meio às roupas guardadas em seu
armário.
Ao subir, Amanda, vendo a bagunça que estava seu armário comentou:
-- Mas que bagunça!
No que Ana Lúcia, respondeu:
-- É que desde aquela festa eu não me lembrei de arrumar minhas roupas. Mas se a senhora quiser, eu posso arrumá-las agora.
Amanda, percebendo a estratégia da filha, respondeu que ela poderia deixar a arrumação para depois. 
Apressando-a Amanda comentou que Francisco já havia chegado e que a esperava.
Sem ter como evitar o encontro, Ana Lúcia desceu as escadas.
Qual não foi sua surpresa ao ver Francisco esperando-a ao pé da escada.
Decidido a conquistá-la o rapaz começou a utilizar a estratégia da gentileza.
Ana Lúcia ao notar o gesto de Francisco, ficou desapontada.
Francisco percebendo o desapontamento da moça, vendo que a mesma descia os últimos degraus da escada, ofereceu sua mão para ela.
Ana Lúcia relutante, aceitou a gentileza. 
Depois deixou o livro na sala e saiu com ele, da residência.
Petrônio, atendendo um pedido do rapaz, deixou-o sozinho na sala esperando por ela.
Atento porém, pediu a esposa que os olhassem enquanto estivessem dentro de casa.
Amanda, ao perceber o estratagema do mancebo, decidiu olhá-los do alto da escada, como fizera Fernanda dias antes.
Cauteloso, Francisco, conduzindo a moça até a porta, perguntou-lhe se poderiam fazer um passeio pelo jardim da casa.
Ana Lúcia, titubeante, concordou. 
Perguntando o que ele gostaria de conhecer, Francisco comentou que gostaria de conhecer as árvores nas quais ela costumava subir.
Surpresa com o pedido, a moça riu.
Francisco, percebendo que estava começando a adentrar seu mundo, resolveu pedir para que ela lhe mostrasse todas as belezas e encantos daquele jardim.
Ana Lúcia pediu então para que ele a acompanhasse.
Francisco, perguntando a ela se podiam andar de mãos dadas, deixou a moça constrangida.
O jovem mancebo percebendo o ar vacilante da moça, mais do que depressa, segurou o braço dela e pedindo para que eles caminhassem, arrastou-a para o passeio.
Enquanto caminhavam pelo jardim, o rapaz ouviu cantos de pássaros, viu árvores frondosas, belas flores, alguns bancos – como os de uma praça. 
Ao vê-los o rapaz pediu para sentar-se.
Ana Lúcia concordou.
O mancebo, aproveitando a oportunidade, comentando que estava adorando o passeio, ao ouvir um belo canto de passarinho, perguntou a moça:
-- De onde vem esse lindo canto de pássaro?
-- Daquela árvore. – respondeu ela apontando para uma macieira.
-- É sublime. – respondeu ele encantado.
Ana Lúcia nada respondeu. 
Visivelmente incomodada com sua presença a moça evitava olhá-lo.
Francisco percebendo o desinteresse da moça, resolveu fazer-lhe uma nova pergunta:
-- Por que a senhorita olha tanto para os lados?
Ana Lúcia sem saber o dizer, respondeu apenas:
-- Nada.
-- Nada. Pois me parece que a senhorita está aflita. Posso ajudar? – perguntou o rapaz, solícito.
-- Não. Nada. – respondeu ela secamente.
-- Pois se não é nada, pode me dizer então o que tanto olhas? – perguntou o rapaz, indulgente.
-- É que eu prefiro continuar andando. Tem muita coisa para ser vista.
-- Então é isso? Mas eu não tenho pressa. Posso ficar aqui o dia inteiro se precisar. Além disso, esse gramado é tão lindo. Vendo esse enorme tapete verde eu tenho vontade de ficar contemplando toda essa beleza. A senhorita não tem essa mesma sensação?
-- Eu?
-- Sim. Soube por sua mãe ... aliás, que senhora simpaticíssima é a sua mãe. Dona Amanda. Mas então, voltando ao que eu estava falando, sua mãe comentou que a senhorita
adora passear por aqui. Dona Amanda chegou a me confidenciar que este é seu refúgio. Não é mesmo?
-- Eu gosto daqui sim. – respondeu Ana Lúcia lacônica.
-- Além disso, você mesma me disse que adora subir nas árvores... A propósito, como a senhorita faz isso usando roupas tão delicadas? – perguntou o rapaz curioso.
-- Quando eu subo nas árvores eu não uso estas roupas. Além disso eu já sei como subir sem me sujar.
-- Então não tem problema se a senhorita fizer uma demonstração para mim, tem?
Sem jeito, Ana Lúcia respondeu:
-- Não posso.
-- Por quê?
-- Eu tenho que voltar para casa. – respondeu ela se levantando do banco.
Francisco, percebendo que seu plano não estava dando certo, segurou-a pelo braço e se desculpando, respondeu:
-- Não vá embora não. Não sei onde eu estava com a cabeça para te pedir uma coisa dessas. Me desculpe.
Ana Lúcia, percebendo a mudança de expressão no rosto do rapaz, comentou que precisava voltar.
Francisco então, dizendo que não havia nem começado direito o passeio, pediu para que ela continuasse caminhando com ele. 
Prometendo a ela, que se o acompanhasse ele depois iria embora, Francisco conseguiu ficar mais algum tempo sozinho com ela.
Caminhando pelo jardim, Francisco comentou diversas vezes que aquele era um ótimo lugar para passear. 
Dizendo a moça o quanto sua companhia era agradável, o moço conseguiu depois de muito insistir, que ela lhe mostrasse onde estavam as árvores em que costumava subir.
Ao ver as belas e exuberantes árvores frondosas, Francisco prometeu que também aprenderia a subir nelas só para mostrar-lhe.
Ana Lúcia debochou.
Francisco sentindo-se desafiado, respondeu sorrindo:
-- Pois então duvidas? Pois pode deixar que eu vou te provar. Deixar só eu aprender que eu vou te mostrar.
Nisso o rapaz olhando para seu relógio de bolso, percebendo o adiantado das horas, comentou que precisava voltar.
Ana Lúcia que durante algum tempo, andou livre, teve que novamente aceitar andar de braços dados com o mancebo. 
Contrariada com toda aquela história de noivado, a moça parecia estar mais tranqüila agora que estava voltando para casa.
Caminhando por entre o imenso jardim verde, Francisco conduziu satisfeito a moça até a residência. 
Ao deixá-la em casa, encontrou Petrônio que esperando-os foi logo perguntando se haviam gostado do passeio.
Ana Lúcia, aproveitando a oportunidade, pediu licença para o pai, e pegando o livro havia deixado na sala, subiu para seu quarto.
Francisco, lembrando-se do livro que a moça trazia nas mãos quando desceu as escadas, perguntou a Petrônio qual era o título da obra.
Surpreso, Petrônio perguntou:
-- Acaso não sabes que Ana Lúcia sabe ler?
-- Não. – respondeu Francisco surpreso.
-- Pois sabe e lê muito. Lê tanto que chego a ficar preocupado se estes livros não estão colocando bobagens demais na cabeça dela.
-- Imagina! Os livros são ótimas formas para se instruir uma pessoa. E se ela gosta de ler, não lhe tire este prazer. É bom saber disso. E que tipo de livros ela costuma ler?
-- Os clássicos, poesias, romances. Essas coisas.
-- Folgo em saber. E que livro ela levava quando subiu as escadas?
-- Não sei ao certo, mas acredito que seja um romance que ela esteja lendo.
-- Ótimo! – respondeu o mancebo.
-- Que bom que o senhor pensa assim. Sinceramente, isso era algo que me preocupava.
-- Não se preocupe, por que agora nós teremos muito o que conversar. – respondeu o rapaz.
Depois de proferir estas palavras, Francisco, dizendo que tinha que voltar para casa recusou almoçar na casa de Petrônio. 
Comentando que tinha mesmo que regressar, o rapaz respondeu que agradecia a gentileza, mas tinha que declinar do convite.
Ademais, dizendo que estava começando a se entender com Ana Lúcia, Francisco respondeu que era melhor não impingir sua presença para ela, ou o pequeno progresso que fizera, seria interrompido.
Ao ouvir as explicações de Francisco, Petrônio percebeu que o rapaz estava se empenhando em ganhar a aceitação de Ana Lúcia. 
Entendendo a estratégia do mancebo, o homem não mais insistiu para que ele ficasse. 
Deixando o ir, acabou por levar uma bronca de Amanda que sem saber da intenção do rapaz, censurou a atitude do marido.
Petrônio então, explicando a situação, acalmou os ânimos de Amanda, que queria a todo custo impor a presença de Francisco a filha.
Contudo, Amanda, ao saber da estratégia do rapaz para conquistar a moça, ficou deveras satisfeita. 
Comentando com o marido, que Francisco podia estar gostando de Ana Lúcia, a mulher respondeu que se o rapaz precisasse da ajuda dela, ela estava pronta para auxiliá-lo.
Petrônio agradeceu o empenho da esposa em ver Ana Lúcia casada. 
Mas, dizendo que esta era uma tarefa para Francisco, recomendou que ela não interferisse em suas estratégias.
Amanda prometeu não interferir.
Nisso Ana Lúcia, de posse de um livro de contos, sentada em sua cama, passou a ler.
...
Petrônio, chamando Ana Lúcia para almoçar, gritou:
-- Ana Lúcia, vem almoçar! Já está tarde!
A moça não se fazendo de rogada respondeu no mesmo tom:
-- Já estou descendo!
Nisso Ana Lúcia, deixando o livro sobre a cama, tratou de descer rapidamente as escadas.
Como de costume, Amanda e Petrônio a aguardavam na sala de jantar.
Assim como seus pais, Fernanda e Rubens, esperavam Joaquim e Ataúfo para almoçar. 
Pequenos ainda, os dois faziam muita confusão ao comerem, o que deixava Fernanda um pouco irritada.
Rubens porém, percebendo que os dois precisavam aprender a usar os talheres sozinhos, dizia a esposa para que tivesse paciência com os meninos.
Em razão disso Fernanda acabava deixando de lado sua impaciência. 
Porém, era só um deles aprontar alguma coisa, para que ela perdesse novamente com a calma com os dois.
Não fossem os cuidados de Domitila, certamente os meninos ficariam o tempo inteiro de castigo.
Mas não pensem vocês que Fernanda era má pessoa. 
Pelo contrário. 
Apesar de não ter muita paciência com as travessuras dos filhos, a moça era uma ótima mãe. 
Quando estava calma é até capaz de passar algumas horas do dia brincando com eles. 
De quando em vez, chegou até a levá-los para a casa da avó para que se divirtissem um pouco, brincando no imenso quintal da casa de seus pais.
É uma grande alegria para as crianças quando podem aproveitar a casa dos avós.
Joaquim e Ataúfo gostam tanto de lá que chegam até a incomodá-la com tantos pedidos para ir até lá brincar.
Certa vez, cansada de ouvir tantas vezes a mesma coisa, Fernanda comentou que só os levaria até lá se eles se comportassem direito a partir de então.
Joaquim e Ataúfo, surpresos com a exigência da mãe, temendo que ela não os levassem mais até lá, prometeram se comportar.
Porém, qual o quê! Foi só se passarem alguns dias, para os dois se esquecerem do que haviam prometido e tudo voltar a ser como era antes.
Enquanto isso Rubens aconselhava a esposa a ter paciência.
Fernanda bem que tentava. Mas ter paciência não era fácil.
Arteiros, os dois meninos eram dois espoletinhas.
A única pessoa que os fazia se acalmarem um pouco era Ana Lúcia. 
No entanto, com essa história de casamento, certamente a moça estaria cuidando de seu enxoval, bem como de conhecer seu noivo, melhor. 
Assim, ela não teria tempo para olhar os meninos.
Em virtude disso, Fernanda achou por bem, esperar um pouco para fazer uma visita a sua mãe.
Lembrando-se de quando passou a noivar com Rubens, Fernanda constatou que casamento dava mais trabalho para a esposa do que para o marido. 
Primeiro, as mulheres tinham que preparar o enxoval, depois, procurar uma casa, arrumar móveis, decorar tudo, ajudar nos preparativos da festa de casamento, no vestido, nos detalhes. 
Enfim! 
Uma enorme canseira.
Pensando nisso, Fernanda sorriu. 
Comentando consigo que a despeito disso o maior trabalho vem depois, com a convivência, a moça chegou a conclusão de que cuidar da casa e dos filhos, dá bem mais trabalho do que os preparativos de um casamento.
Achando graça da situação que Ana Lúcia estava vivendo, pensou, que a pior fase ainda estava por chegar.
O que ela não sabia era que sua irmã não estava nem um pouco interessada em se casar.
Com isso, quando finalmente Fernanda soube do desânimo de Ana Lúcia, ela bem que tentou convencê-la de que o casamento não era algo tão ruim assim. 
Dizendo que era muito feliz com Rubens comentou que Francisco era uma ótima pessoa.
Ana Lúcia porém, não estava nem um pouco interessada em ouvir esta conversa.
Dizendo que arrumaria um jeito para não se casar, só conseguiu fazer com que Fernanda risse.
Ao ver o ar de deboche de Fernanda, Ana Lúcia não gostou nem um pouco do pouco caso da irmã. 
Tanto que irritada, foi logo perguntando:
-- Do que é que você está rindo?
Mas Fernanda nada respondia.
Acreditando que se tratava apenas de pirraça, Fernanda acreditava que com o passar do tempo, Ana Lúcia acabaria se acostumando com a idéia. 
Até por que, segundo ela, casamento era a única possibilidade das mulheres terem vez na sociedade.
Atenciosa, Fernanda tentou convencer a irmã de que todos queriam o melhor para ela.
Ana Lúcia teimosa porém, não aceitava os argumentos da irmã. 
Furiosa, a moça insistia em dizer que não estava interessada em casamentos. 
Dizendo que poderia cuidar de si mesma sozinha, Ana Lúcia acabou atraindo a fúria de Fernanda para si.
Isso por que, Fernanda, dizendo que o mundo não era generoso com as mulheres, comentou que o fato de ter uma vida estabelecida se devia ao fato dela ser casada.
Ana Lúcia, ao ouvir isso, lembrou-se que no início, ela não ficara nem um pouco satisfeita com o noivado.
Fernanda percebendo que Ana Lúcia não estava muito convencida de seus argumentos, resolveu relembrar sua história. 
Dizendo que realmente não ficara muito entusiasmada no início, acabou por se acostumar com a idéia ao perceber que não teria outra alternativa. 
Ademais, dizendo que Rubens era um ótimo marido, comentou que não tinha queixas a fazer com relação ao seu matrimônio.
Ana Lúcia, porém, era muito teimosa. 
Por ser ainda muito nova, acreditava que ainda não era hora de pensar nisso.
Diante disso, Amanda preocupada, pediu inúmeras vezes para que Fernanda a ajudasse a convencer Ana Lúcia, de que o casamento era um passo necessário para que a mesma se encaminhasse para a vida adulta.
Assim, Ana Lúcia, com o passar do tempo, percebendo a artimanha da mãe, sempre que notava presença de Fernanda, evitava permanecer na casa. 
Dizendo que não agüentava
ficar encerrada dentro daquelas paredes, Ana Lúcia, aproveitava todas as oportunidades que tinha para dar suas escapadelas.
Ao ganhar o mundo do belo jardim que havia no quintal de sua casa, a moça esquecia-se de tudo. 
Livre de todos os aborrecimentos, Ana Lúcia aproveitava para subir em árvores, observar o canto dos pássaros, a beleza das flores novas que desabrochavam, etc. 
Fascinada com toda aquela beleza, a moça era capaz de passar horas observando a natureza exuberante do lugar, bem como conversar com as flores e os pássaros.
Esperta, já sabia até imitar o som de alguns pássaros que toda a manhã visitavam o jardim. 
Acostumada com aquele ambiente, Ana Lúcia já sabia a hora em que cada pássaro aparecia por lá.
Seus pais, que viviam naquele lugar há muito mais tempo que ela, ficavam impressionados com o apego que Ana Lúcia tinha por tudo aquilo. 
Petrônio, ao ver o entrosamento da filha, com toda aquela natureza, comentava que ele nunca se encantara tanto com aquele espaço – o jardim –, como ela. 
Amanda, comentando que conhecera o marido caminhando por entre aquelas árvores, respondeu que fazia muito tempo que não passeava por aqueles caminhos.
Fernanda surpresa com este fato, comentou:
-- Nossa! Não te traz saudade, ver de longe toda essa beleza e nunca aproveitar para admirá-la?
Amanda, dizendo que já estava acostumada com tudo aquilo, comentou que houve um tempo em que toda aquela natureza, toda aquela exuberância a encantaram sobremaneira.
Fernanda, numa das inúmeras vezes em que a foi visitar depois de um longo tempo distante dos pais, ao ouvir isso, ficou intrigada. 
Curiosa, foi logo perguntando:
-- Mas por que não encanta mais? O que aconteceu para que a senhora perdesse o interesse em rever essas paisagens?
Amanda, ao ser inquirida neste sentido, tratou logo de admoestar a filha. 
Dizendo que não cabia a ela fazer perguntas sobre algo tão pessoal, tratou logo de ir até a sala da casa e aproximar-se da escada. 
Aos pés da escada começou a chamar por Ana Lúcia.
Porém, por mais que chamasse, nada da moça responder.
Amanda irritada, sem saber que Ana Lúcia, havia saído sorrateiramente de seu quarto, subiu as escadas e entrou em seu quarto, tencionando encontrá-la entretida com alguma
leitura.
Mas, qual o quê!
Ana Lúcia havia ganho o mundo.
Amanda ciente de que a filha devia estar se esbaldando naquele imenso jardim, foi ao encontro de Fernanda e relatou-lhe que Ana Lúcia havia ido para o jardim, sem que ela
percebesse.
Irritada, a mulher ameaçou aplicar um corretivo na moça.
Fernanda porém, percebendo a estratégia de Ana Lúcia, pediu a mãe para que não batesse nela. 
Dizendo que poderia perfeitamente esperar a moça voltar de seu passeio, comentou que Domitila estava cuidando de seus filhos, com o maior desvelo do mundo. 
E assim, elogiando a criada, Fernanda comentou com a mãe que seus filhos apreciavam muito a companhia dela, posto que era muito mais paciente do que ela.
Amanda ao ouvir isso, recomendou a filha que não deixasse toda a responsabilidade da criação de seus filhos nas mãos de um estranho. 
Ressaltando que por mais que Domitila fosse competente, os filhos ainda eram dela, Amanda alertou a filha para que não deixasse os meninos se apegarem demais a empregada.
Fernanda ao ouvir isso, entendeu a preocupação da mãe. 
Porém dizendo que nunca fora omissa, alegou que acompanhava de perto o trabalho da criada. 
Contudo, algumas vezes, quando precisava sair, tinha que confiar nos préstimos da empregada.
Quanto a isso, Amanda, concordou. 
Ademais, aproveitando o ensejo, elogiou Theodora e Anastácia, que eram seus braços direito e esquerdo dentro daquela casa, segundo suas próprias palavras.
Fernanda riu do comentário.
Amanda, percebendo isso, comentou:
-- Não ria não. É verdade. As duas são indispensáveis. Sem elas eu não saberia como organizar aquele jantar de noivado.
Fernanda então concordou. 
Elogiando o cuidado com que Theodora e Anastácia organizaram tudo, a moça comentou que ainda iria aprender a receber tão bem quanto a mãe.
Com isso, Amanda e Fernanda, passaram demoradas horas conversando. 
Animadas, tinham muito o que dizer.
Percebendo isso, Amanda aproveitou para fazer uma reclamação a filha. 
Dizendo que ela estivera muito tempo afastada, fê-la prometer que nunca mais ficaria tanto tempo sem visitá-la.
Fernanda então, comentou que já havia algum tempo que ela lhe fazia visitas freqüentes. 
Contudo, ainda assim, prometeu que não ficaria tanto tempo ausente. 
Além disso, aproveitando a oportunidade, Fernanda comentou que finalmente levaria seus filhos até lá.
Dizendo que já não sabia mais o que fazer para demovê-los da idéia de ir até lá, chegou a prometer que dentro em breve eles visitariam a avó.
Amanda ao ouvir isso, alegrou-se. 
Dizendo que fazia muito tempo que ela não levava os meninos até lá, a mulher pediu para Fernanda o fizesse.
Com isso, Fernanda, percebendo que sua irmã estava evitando falar-lhe, comentou com sua mãe que levaria Joaquim e Ataúfo até lá, para fazer com que Ana Lúcia não tivesse
desculpas para sair de casa. 
Acreditando que os meninos a faria ficar na residência, prometeu que dentro em breve os levaria até lá.
Amanda ficou contente ao ouvir isso.
Dito e feito. 
Nos dias que se seguiram, Fernanda tratou de levar os filhos para a casa de sua mãe.
Joaquim e Ataúfo, exultantes com a novidade, não cabiam em si de tão contentes com o passeio.
Fernanda cautelosa, dispensou a companhia da empregada. 
Dizendo que ela estava liberada, respondeu que levaria os meninos sozinha para a casa de sua mãe. 
Isso por que, planejando um encontro da irmã com os meninos, Fernanda tratou de ir sozinha com eles.
Dito e feito.
Ao contrário do que havia feito antes, Ana Lúcia ao saber da visita dos meninos, teve que permanecer em casa. 
Mesmo contrariada não podia deixar os meninos sozinhos.
Percebendo porém que Fernanda estava fazendo tudo aquilo de propósito, Ana Lúcia ficou irritadíssima ao saber que estava tentando manipulá-la.
No entanto, o que poderia fazer?
E assim quando as crianças chegaram, Ana Lúcia aproveitou para distraí-las. 
Brincou com elas, leu-lhes algumas histórias, levou-as para passear, etc.
Ao final de tantas peripécias, Fernanda, percebendo que os meninos estavam cansados, tratou logo de colocá-los para dormir. 
E assim, aproveitando o oferecimento de sua mãe, colocou os dois no quarto de hóspedes.
Em seguida, dizendo que precisava conversar com Ana Lúcia, pediu para que ela a aguardasse.
A moça percebendo qual seria o tema da conversa bem que tentou sair da casa.
Contudo sua mãe, mancomunada com Fernanda não a deixou sair.
Alegando que estava muito tarde para ficar de passeio no jardim, Amanda proibiu-a de sair da sala, sob pena de levar um bom corretivo.
Ana Lúcia, sem ter outra alternativa, teve que aceitar a imposição. 
Mesmo sabendo de antemão qual seria o teor da conversa, e que ouvi-la não seria nada agradável, acabou tendo que ouvir as repetitivas palavras de sua irmã.
Aborrecida, chegou a comentar:
-- Não bastassem as visitas insistentes daquele senhor, eu ainda sou obrigada a ouvir novamente essa cantilena.
Amanda, ao ouvir a resposta atravessada da moça, repreendeu a filha. 
Dizendo que ela não tinha o direito de se dirigir daquela maneira desrespeitosa a irmã, comentou que Fernanda só estava querendo ajudá-la. 
Isso por que, mesmo não tendo a menor obrigação de ficar ali lhe dando conselhos, Fernanda estava lá, deixando de lado sua casa, só para auxiliá-la.
Ana Lúcia ao ouvir isso, percebeu que de nada adiantaria discutir com a mãe.
Percebendo que aquela era uma guerra perdida, silenciou.
Porém, pensando em todos os encontros que tivera com Francisco, Ana Lúcia tinha a mais absoluta certeza de que não nutria nenhum sentimento de afeto por ele. 
Muito embora o mancebo não fosse desprovido de atrativos, Ana Lúcia não estava nem um pouco interessada em namoricos e casamentos – nas suas próprias palavras.
Assim para ela, os constantes encontros com Francisco lhe eram extremamente enfadonhos. 
Muito embora Lupicínio e seus pais fizessem gosto neste namoro, Ana Lúcia não gostava nem um pouco do jeito convencido e intrometido do mancebo. 
Isso por que, toda vez que Francisco ia ter com ela, arrumava um jeito de tentar descobrir um pouco mais sobre sua vida, sobre o que gostava, etc. 
Vaidoso, para chamar-lhe a atenção, chegava até a contar vantagem.
Ana Lúcia porém, não estava nem um pouco interessada nos comentários do rapaz.
Assim, sempre que podia inventava uma desculpa para deixá-lo sozinho.
Francisco contudo, determinado a conquistá-la, não aceitava seu desdém. 
A certa altura no entanto, cansado de ser rejeitado por ela, o rapaz comentou que ficaria algum tempo sem visitá-la. 
Alegando que precisava se ausentar por alguns dias da cidade, Francisco comentou que precisava viajar.
Ana Lúcia ao ouvir isso, ficou felicíssima. 
Irônica, chegou até a comentar que contaria os dias de sua viagem.
Francisco percebendo que ela ficara satisfeita, comentou igualmente irônico, que ele não tardaria a voltar para ela.
Ana Lúcia ao ouvir isso, não gostou nem um pouco. 
Porém, satisfeita com a ausência, ainda que momentânea de Francisco, não se fez de rogada. 
Aproveitando a oportunidade, todas as manhãs, visitou o jardim que sempre lhe fazia companhia.
No entanto, sua alegria durou pouco.
Isso por que, foi só o rapaz retornar para que a data do casamento fosse marcada.
Amanda e Petrônio, ao saberem do interesse de Francisco em marcar a data do casamento, ficaram muito contentes.
Lupicínio no entanto, ao ver o interesse de seu filho em se casar, ficou um tanto quanto preocupado. 
Isso por que, sabendo do jeito namorador de Francisco, fez questão de deixar bem claro que a moça não era mais uma de suas conquistas. 
Dizendo que Ana Lúcia era filha de um grande amigo seu, Lupicínio fez questão de salientar que com ela, seu filho não poderia brincar.
Francisco percebendo na conversa um leve tom de repreensão, tratou de tranqüilizar o pai. 
Dizendo que estava determinado a ter uma verdadeira vida de casado, o rapaz comentou que Ana Lúcia seria uma ótima esposa.
Lupicínio percebendo que o filho tinha um certo interesse na moça, perguntou-lhe se ele estava gostando de Ana Lúcia.
Francisco, ao ouvir a pergunta, ficou surpreso. 
Tentando desconversar, o rapaz respondeu que apenas queria se entender com ela, daí seu interesse em já marcar a data.
Lupicínio, porém, não ficou nem um pouco convencido com as palavras do rapaz.
Com isso, Francisco, tentando ganhar tempo, comentou que Ana Lúcia tinha um temperamento desafiador.
O homem, percebendo o efeito que moça causara no filho, perguntou:
-- Então o namoro de vocês está indo bem? Ela já demonstra algum afeto por você?
O mancebo ao ser inquirido a este respeito, comentou que era apenas uma questão de tempo para que a moça passasse a se interessar por ele.
Lupicínio percebendo então, que o filho não havia logrado êxito em seu intento, começou a perceber que não era apenas uma questão pessoal. 
Isso por que, quando Francisco fez o aludido comentário, estava um tanto quanto decepcionado.
Porém, não estava irritado como se poderia imaginar.
Sim, por que como bem o sabia Lupicínio, sempre que o filho não se saía bem em alguma de suas conquistas amorosas, ele ficava deveras irritado. 
Porém, era só arrumar um novo interesse que se esquecia de tudo. 
Agora no entanto, fazia tempos que Francisco investia nesse relacionamento.
Lupicínio percebendo isso, começava a notar um ponto favorável em Ana Lúcia.
Como ela não era como as outras garotas com as quais o rapaz estava acostumado, de alguma forma a moça atraiu sua atenção.
Feliz, Lupicínio pensou consigo: 
‘Finalmente uma boa semente foi plantada!’
Com isso, no dia seguinte conversando com a família de sua noiva, Francisco e seu pai, resolveram ir até a igreja marcar a data.
Sem que a moça soubesse, Petrônio e Amanda auxiliaram o rapaz na escolha da data.
Quanto a isso, quando Ana Lúcia soube da novidade, ficou arrasada. 
Percebendo que
a cada dia que se passava mais enredada ficava, a moça chorou, esperneou, esbravejou e prometeu fazer de tudo para não se casar.
Amanda irritada, colocou a filha de castigo.
Diante dessa nova situação, a relutância de Ana Lúcia em aceitar se casar só fez aumentar. 
Mesmo com as constantes conversas com Fernanda, nada a convencia que o melhor a fazer era a aceitar a situação.
Contudo, como não tinha alternativas, Ana Lúcia, ouvia a irmã e todo o rosário de conselhos que ela desfiava. 
Depois, perguntando se aquela conversa já havia acabado, pedia licença e ia para seu quarto.
Nos dias que antecederam o casamento, bem que a moça tentou fugir de seus encontros com Francisco, mas Petrônio cansado de lidar com a rebeldia da filha, ameaçou lhe dar uma surra se ela o desafiasse.
Diante das ameaças, Ana Lúcia capitulou. 
E mesmo fingindo aceitar o que seus pais lhe impunham, a moça tentou ainda assim, fugir das provas do vestido de noiva.
Não bastasse isso, Ana Lúcia não ajudou nem um pouco nos preparativos do enxoval e da festa, muito menos acompanhou sua mãe na escolha dos móveis para a casa onde iria morar com seu futuro marido.
Quando Francisco foi buscá-la em sua casa para acompanhá-lo na escolha da casa em que iriam morar, Ana Lúcia, só lhe fez companhia, por que Petrônio e Amanda a compeliram
a aceitar o convite. 
Além disso, acompanhados por Fernanda, Petrônio percebeu que não haveria problema nenhum em deixá-los a sós.
Contudo, por mais que Francisco fosse atencioso com ela, mostrando-lhe inúmeros imóveis e dizendo que eles só iriam morar naquele que ela escolhesse, Ana Lúcia, visivelmente triste, não demonstrava nenhum interesse em escolher um lar.
Francisco, percebendo a tristeza sincera de Ana Lúcia, tentou convencer-lhe de que o compromisso que ela estava assumindo com ele, não era uma prisão. 
Dizendo que ela seria livre para fazer o que quisesse, Francisco prometeu lhe que ela teria o maior quintal do mundo para passear. 
Alegando que eles seriam felizes em suas novas vidas, o mancebo comentou que não a privaria de nada do que lhe dava prazer.
Ao ouvir isso, Fernanda ficou um tanto comovida com a sensibilidade do rapaz.
A seguir, comentando que ela poderia ler quanto livros de literatura quisesse, Francisco lhe perguntou se ela gostaria de montar uma biblioteca em casa.
Desanimada, Ana Lúcia respondeu que para ela tanto fazia.
Francisco, percebendo o desinteresse da moça, comentou animado:
-- Pois bem. A senhorita não se importa com isso, mas eu me importo. Assim, nossa casa terá que ter um belo quintal e uma vasta biblioteca. Também vou contratar algumas
criadas para cuidar de tudo, por que sei que a senhorita não é muito afeita aos trabalhos domésticos.
Carinhoso, Francisco segurou a mão da moça, e dizendo que ela não teria que fazer serviços pesados, prometeu que as serviçais se encarregariam de cuidar da casa.
Ana Lúcia, percebendo que o rapaz se desdobrava para agradá-la, tentou ser gentil.
Agradecendo a preocupação, respondeu-lhe que ele não tinha com o que se preocupar.
Diante disso, mais tarde, depois de olharem inúmeras casas, finalmente o rapaz escolheu um delas.
Fernanda, vendo a escolha de Francisco, concordou.
Ao admirar a belíssima construção, Fernanda respondeu-lhe que ele não poderia ter feito melhor escolha.
...
Com isso, Ana Lúcia ao ver que a data do casamento se aproximava, mais preocupada ficava. 
Percebendo que por mais que pensasse não conseguia encontrar uma forma de fugir do seu compromisso, Ana Lúcia não sabia o que fazer.
Triste, a moça não se interessava por nada. 
Nem mesmo pelos passeios que tanto gostava de fazer pelos jardins da casa.
Desinteressada, não ajudava a mãe em nada.
Amanda, decepcionada com a filha, disse-lhe diversas vezes que ela precisava voltar a costurar e bordar. 
Sim, por que, se não voltasse a executar esses trabalhos manuais, ela não conseguiria ser uma boa dona-de-casa.
Ana Lúcia porém, não estava nem um pouco preocupada com isso. 
Dizendo que queria voltar a estudar para ser preceptora, comentou que não precisava se casar e sim estudar para ser dona de sua casa e de sua vida.
Amanda ao ouvir isso, criticou sua filha. 
Dizendo que a única forma da mulher se realizar era pelo casamento, respondeu que as poucas mulheres que trabalhavam fora, ou eram pobres, ou então mulheres de má-fama.
Ana Lúcia ao ouvir isso, ficou perplexa.
Tencionando retrucar o comentário, foi interrompida por Amanda, que percebendo sua intenção, mandou que ela se calasse. 
A seguir, mandando Ana Lúcia se arrumar para receber o noivo, Amanda exigiu que a filha fosse até o quarto.
A moça ouvindo as ordens da mãe, bem que tentou resistir.
Contudo, Amanda, ameaçando pô-la de castigo, acabou por convencê-la a ir até seu quarto, trocar de roupa. 
No entanto, temendo que Ana Lúcia aprontasse alguma coisa, Amanda acompanhou a filha até o quarto, e escolheu a roupa que ela iria usar.
Contrariada a moça desceu as escadas.
Para sua surpresa, Francisco já a aguardava.
Animado, o rapaz sorriu para ela, que por sua vez não demonstrava nem um pouco de alegria em vê-lo.
Isso porém, não incomodava nem um pouco Francisco.
Ainda acreditando que poderia fazê-la apaixonar-se por ele, o rapaz pediu para fazer um passeio com a moça pelo jardim.
Petrônio, que nesta oportunidade estava em casa, relutou em deixá-los a sós no jardim.
Amanda porém, comentando que não havia problema nenhum nisso, pediu ao marido para não se opor.
Petrônio, então concordou.
E assim, pela última vez, lá se foi Ana Lúcia apreciar as belezas daquele jardim de miríades de maravilhas.
Triste, Ana Lúcia, ao constatar que aquela poderia ser a última vez que olhava para aquele jardim, começou a chorar.
Foi ali que inúmeras vezes, Francisco, tentando conversar com a moça, perguntou-lhe o que a atraía tanto em meio a tantas belezas. 
Interessado em conhecê-la, melhor o rapaz perguntou-lhe até o que gostava de ler.
Ana Lúcia porém, nem um pouco expansiva, respondia laconicamente a todas as perguntas.
Desta vez porém, Francisco, percebendo que a moça chorava, ofereceu seu lenço para ela. 
Temendo perguntar o motivo de sua tristeza, o rapaz chamou-lhe a atenção para um canto de pássaro. 
Tentando desanuviar o ambiente, o mancebo perguntou a Ana Lúcia, o nome da ave que entoava tão linda canção.
Procurando conter o choro, a moça enchendo-se de coragem, perguntou:
-- Posso pedir-te um favor?
Francisco, animado com a iniciativa, respondeu:
-- Claro. Peça.
Procurando conter o choro, Ana Lúcia, buscando um pouco mais de coragem para falar o que ia em sua mente, perguntou:
-- Se eu te pedir para desistir de se casar comigo, o senhor, desistiria?
Perplexo, Francisco não sabia o que responder.
Ana Lúcia, tentando se livrar do matrimônio, estava fazendo uso de um último recurso. 
Acreditando que o rapaz não iria querer forçá-la a um casamento de conveniências, Ana Lúcia apelou para seu bom senso.
Francisco então, percebendo que a moça aguardava uma resposta, procurando se recompor, tentando demonstrar firmeza, respondeu, decidido:
-- Nem pensar.
Ana Lúcia ao ouvir isso, tentou retrucar, mas Francisco aborrecido, não a deixou falar.
Irritado, só dizia:
-- A senhorita está querendo brincar comigo? Está me achando com cara de palhaço? Por acaso pensas que durante todo esse tempo que passei aqui te fazendo a corte, deixando
de lado uma série de afazeres, foi uma brincadeira? Julga que eu sou um idiota?
Ana Lúcia percebendo que produzira o efeito reverso com suas palavras, bem que tentou consertar a situação. 
Contudo, sempre que tentava se desculpar, o rapaz a interrompia com perguntas agressivas.
Francisco, dizendo que não estava brincando quando resolvera marcar a data do casamento, comentou que iria se casar com ela, nem que para isso fosse preciso, levá-la
amarrada diante do padre.
Extremamente irritado, o rapaz, percebendo que ela poderia tentar fugir, tratou logo de alertar os pais da moça, para que a vigiassem.
E assim, mesmo diante dos rogos de Ana Lúcia, que suplicou, e pediu para que ele não comentasse sobre a conversa que tiveram, com seus pais, Francisco não se comoveu nem
um pouco.
Petrônio ao saber do pedido da filha, ameaçou lhe dar uma surra. 
Não fossem os pedidos de Amanda para que não batesse na moça, Ana Lúcia apanharia.
Fernanda, que a esta altura, já estava cansada de tentar convencer irmã de que o casamento poderia ser algo bom em sua vida, se entretinha cuidando de sua casa, do marido
e de seus dois filhos.
Nem de longe imaginava o que estava se passando na casa dos pais.
...
Com isso, Ana Lúcia, desesperada, não sabia mais o que fazer para se livrar do compromisso firmado por seu pai.
Todavia, por mais que tudo parecesse certo, Ana Lúcia ainda tentaria uma última alternativa. 
Pensando em convencer os pais que estava conformada, a moça fez de tudo para demonstrar interesse no casamento, nos dias seguintes.
Petrônio, porém, desconfiado da repentina mudança de comportamento da filha, passou a observá-la com bastante atenção.
Mesmo assim, Ana Lúcia, em dado momento, aproveitando que todos estavam atarefados com os preparativos de seu casamento, pegou algumas peças de roupa que estavam em seu armário e colocou numa pequena mala. 
Em seguida, aproveitando a proximidade de uma árvore – da janela de seu quarto –, Ana Lúcia, preparou uma corda com lençóis, e descendo cuidadosamente a mala, deixou-a no solo. A seguir, descendo pelos galhos da árvore, também alcançou o chão.
Com isso, ao se ver livre, Ana Lúcia rapidamente pegou a mala e aproveitando que o portão estava aberto, aproveitou para sorrateiramente, sair da casa.
Livre, Ana Lúcia, correu o mais rápido que conseguia. 
Ágil e veloz, a cada passo que dava, mais sentia que se distanciava de todas as suas obrigações.
Precavida, Ana Lúcia teve o cuidado de pegar algum dinheiro antes de fugir. 
Assim, quando finalmente encontrou um coche livre, a moça dizendo que precisava encontrar sua família, pediu para que o condutor a levasse até os limites da cidade.
O homem concordou.
Nisso, ao chegar no ponto esperado, a moça pagou o cocheiro, e seguiu a pé.
Tencionando chegar à cidade mais próxima, Ana Lúcia não parava. 
Acreditando que se continuasse caminhando chegaria rapidamente a cidade vizinha, a moça continuou andando.
A certa altura porém, exausta, decidiu sentar-se a sombra de uma árvore.
...
A essa altura, seus pais, desesperados, a procuravam por toda a cidade.
Fernanda, foi a primeira pessoa que eles procuraram.
Acreditando que Ana Lúcia pudesse ter pedido guarida a ela, foi o primeiro lugar que pensaram em procurá-la. 
Contudo, para espanto de Petrônio e Amanda, Ana Lúcia não estava lá. 
Percebendo isso, o casal ficou bastante preocupado.
A certa altura, sem poder esconder da família de Francisco, o ocorrido, Petrônio pediu para que Theodora fosse até a casa de Lupicínio, avisá-los que Ana Lúcia havia desaparecido.
Qual não foi o espanto de Francisco ao saber que apesar de suas recomendações, a moça havia conseguido fugir. 
Aborrecido, logo que soube, quis tomar satisfações com a empregada. 
Lupicínio no entanto, apelando para o bom senso, disse ao filho que a única pessoa que lhes devia explicações era Petrônio.
Com isso, os dois, indignados com a situação, foram até a casa deste, pedir explicações.
Irritado, Francisco perguntou:
-- Mas como isso pôde acontecer?
Petrônio, visivelmente constrangido com a situação, explicou que não sabia o que dizer. 
Alegando que aquela situação era nova para ele, respondeu que provavelmente ela aproveitou uma distração de todos para se evadir da casa em que morava.
Lupicínio ao perceber que o filho sabia que Ana Lúcia tencionava fugir, ficou espantado.
Isso por que, nunca vira seu filho ser tão complacente com uma mulher.
Assim, ao perceber que Francisco estava realmente gostando da moça, Lupicínio, ficou deveras preocupado. 
Em razão da atitude da moça, percebera que talvez não tivesse sido uma boa idéia aceitar esse enlace. 
Assim, constatando que o compromisso que firmara com o amigo estava lhe causando problemas, Lupicínio pediu para conversar a sós com o filho.
Petrônio, ciente da gravidade da situação, deixou os dois conversando a sós na sala.
Com isso, Lupicínio, surpreso com os últimos acontecimentos, perguntou ao filho, se ele ainda estava disposto a se casar com a moça, se a encontrasse.
-- Mas é claro que estou. – respondeu o rapaz.
-- Mesmo depois de tudo o que esta moça aprontou? Você não acha que esta é uma boa oportunidade para desfazer este compromisso?
-- Desfazer o compromisso?
-- Sim. Eu posso garantir, que se nós desfizermos esse compromisso, Petrônio não ficará aborrecido conosco. – respondeu Lupicínio.
-- Ah não?
-- Não. E também se ficar, não podemos fazer nada. Quem errou foi a moça, não nós. E você não é obrigado a aceitar uma desfeita dessas.
-- Que desfeita? – perguntou o rapaz visivelmente desapontado.
Lupicínio, irritado, respondeu:
-- Como que desfeita? O senhor sabe muito bem. Pensa que eu não percebi que o senhor está tentando ganhar tempo? O que você está pensando? Que ela vai voltar?
-- Não me interessa o que o senhor pensa. Eu vou me casar com Ana Lúcia nem que seja por uma questão de honra. Nenhuma mulher me fez de palhaço e não vai ser ela quem
vai conseguir fazê-lo. Eu não vou aceitar isso. E ela vai se casar comigo, nem que seja amarrada. – respondeu ele, indo agora de encontro a Petrônio.
Lupicínio percebendo que o filho estava determinado a se casar com Ana Lúcia, foi atrás dele na vã tentativa de fazê-lo desistir da idéia.
Apreensivo com a atitude do filho, Lupicínio chegou a dizer ao amigo que estava desistindo do compromisso firmado. 
Com isso seu filho estava desobrigado a se casar com Ana Lúcia.
Francisco, ao perceber que seu pai estava interferindo em sua decisão, discutiu com ele. 
Sem se importar com a presença de Petrônio, Amanda, Fernanda e Rubens, o rapaz disse ao pai, que ele não tinha o direito de naquele momento responder por ele. 
Ademais, cansado de esperar notícias por meio da polícia – que a esta altura já estava a procurar da moça –, ele mesmo decidiu procurá-la.
Isso por que segundo suas próprias palavras, se demorassem muito para achá-la, talvez eles nunca mais a encontrassem.
Petrônio ao ouvir isso, ficou preocupado.
Amanda por sua vez, ficou desesperada.
Francisco, percebendo isso, prometeu ao casal que traria Ana Lúcia de volta para casa, antes da data do casamento.
Determinado a encontrá-la, o rapaz incumbiu inúmeros empregados de seu pai desta tarefa.
Os mesmos, vasculhando a cidade, acabaram descobrindo que um cocheiro havia levado uma garota até os limites da cidade, numa área em que havia poucas moradias.
De posse dessa informação, mais a descrição física da moça, foi questão de tempo para que Francisco a encontrasse.
Ana Lúcia, exausta, ao se ver cercada pelos homens de Francisco, não pôde fazer nada. 
Isso por que, cansada que estava com a caminhada, não tinha mais forças para correr.
Mesmo assim, a moça tentou resistir e lutou para não ser levada de volta para casa.
Em vão. 
Mesmo lutando e se debatendo, foi inútil resistir.
Com isso, Francisco satisfeito por tê-la encontrado em tempo, por um momento pensou em levá-la para sua casa. 
Depois pensando melhor, resolveu que o melhor lugar para deixá-la seria perto de si, sob os olhares vigilantes de seus empregados, que não a deixariam
fugir.
Assim, quando finalmente conseguiu pôr as mãos na moça, o rapaz, tomando o cuidado de avisar a família que a havia encontrado, tratou logo de informar que ela estava
em segurança e que dentro em breve eles poderiam falar com ela.
Amanda e Fernanda ao ouvirem as palavras do rapaz, ficaram indignadas. 
Dizendo que Ana Lúcia ainda não era sua esposa para que ele exercesse seu poder sobre ela, exigiram que ele levasse a moça de volta para casa.
Amanda, dizendo que ele poderia pôr homens para vigiar a casa, comentou que não se oporia a isso.
Francisco então, dizendo que Ana Lúcia conhecia muito bem a casa e que não seria nada fácil segurá-la ali, comentou que eles falharam quando se comprometeram a olhá-la.
Alegando que sob seus cuidados a moça não fugiria, o rapaz pediu para que Amanda o acompanhasse até o lugar onde a moça estava.
Com isso, a mulher dizendo ao marido que faria uma pequena mala, prometeu que assim que pudesse voltaria.
Foi então que Petrônio perguntou ao mancebo onde sua filha estava.
Francisco respondeu:
-- Não se preocupe. Sua filha está perto daqui. Em uma das propriedades de meu pai. Sua esposa vai ficar com ela. Portanto não se preocupe. Nada de mal vai lhe acontecer.
Petrônio ao ouvir as palavras de Francisco tranqüilizou-se. 
Contudo, continuou a insistir para que o rapaz dissesse onde a moça estava.
Francisco respondeu-lhe então.
Petrônio ao saber do paradeiro da filha, tranqüilizou-se um pouco mais.
O rapaz então, prometeu que os dois se veriam dentro em breve.
Enquanto isso, Amanda estava preparando suas malas. 
Quando finalmente estava tudo pronto, a mulher desceu as escadas e despedindo-se do marido, do genro – Rubens –, e da filha – Fernanda –, acompanhou Francisco.
Caminhando até a rua, Francisco auxiliou-a a entrar no tílburi. 
Gentil, Amanda agradeceu o gesto.
Em seguida, igualmente adentrando a carruagem, Francisco e Amanda, seguiram em direção ao lugar onde Ana Lúcia estava.
Ao chegarem lá, Amanda fez menção de querer ver a filha.
Francisco, percebendo a ansiedade no semblante da mulher, deu logo ordem para que um de seus empregados fosse até um canto da casa e verificasse como andavam as coisas.
O homem, acatando a ordem foi até o quarto onde a moça estava, e percebendo que ela dormia, retornou para a sala onde estava Francisco e informou que Ana Lúcia, adormecera.
Ao ouvir isso, Francisco recomendou a mulher que aguardasse, o dia seguinte, para que pudesse conversar com a filha.
Amanda, ao ouvir isso, não ficou nem um pouco satisfeita. 
Querendo tomar satisfações foi logo desfechando uma pergunta:
-- Mas o que está acontecendo?
Francisco, percebendo a indignação de Amanda, explicou que seus empregados tiveram muito trabalho para conduzi-la até lá. 
Não bastasse isso, Ana Lúcia gritou e esperneou por um longo tempo. 
Porém, com o passar das horas, o barulho e a gritaria cessaram. 
Assim, se ela estava dormindo, não seria nada bom acordá-la, para novamente, criar confusão e balbúrdia.
Ao ouvir isso, Amanda acalmou-se. 
Percebendo o quanto a situação era delicada, a mulher achou por bem, aceitar a imposição do futuro genro. 
Confiante de que sua filha estava em boas mãos, a mulher resolveu deixar sua indignação de lado e esperar.
Francisco então, visando acomodar confortavelmente Amanda, ordenou a um de seus criados, para que a levassem até um dos quartos da casa.
Com isso, antes de ir até o quarto, Amanda despediu-se do rapaz.
Dizendo até logo, Francisco respondeu que também ficaria por ali.
Amanda desconfiada, ao saber disso, foi logo perguntando:
-- Mas qual a razão disso?
Francisco explicou então que não queria correr o risco de perder Ana Lúcia de vista.
Quando ouviu isto, Amanda tentou convencê-lo de que ela estava ali justamente para vigiar melhor a filha e que não havia necessidade dele permanecer na casa.
Francisco porém, não quis saber de sair dali. 
Teimoso, comentou que ficaria ali até o dia de seu casamento.
Vendo que nada o demoveria da idéia de permanecer por lá, Amanda se resignou e finalmente foi para seu quarto.
No dia seguinte, Ana Lúcia, percebendo que tudo o que se sucedera era a mais cruel realidade, sentou-se no chão e começou a chorar. 
Ao constatar que não havia mais escapatória, a moça se desesperou. 
Chorando, pensava que estava tudo perdido para ela.
Foi nesse momento que sua mãe entrou no quarto.
Surpresa, ao ver a filha sentada no chão, tratou logo de abraçá-la e tentar consolá-la de todas as formas possíveis. 
Dizendo que o casamento não era a pior coisa do mundo, contou a ela que também relutou muito para aceitar Petrônio, mas no fim acabou percebendo que ele era uma ótima pessoa. Além disso ter sua própria casa, sua própria vida, era uma das boas coisas que o casamento poderia proporcionar.
Ana Lúcia porém, não estava nem um pouco interessada nessas histórias. 
Emotiva, a moça não retrucava nenhuma das frases da mãe. 
A certa altura, mais calma, passou a olhar distraidamente para uma janela enquanto sua mãe falava.
Pesarosa com o casamento inexorável, em dado momento a moça pediu para ficar sozinha.
Amanda surpresa com o pedido, quis logo saber por que ela não estava feliz com sua presença.
Ana Lúcia, respondeu simplesmente que precisava pensar um pouco. 
Pedindo delicadamente desculpas a mãe, insistiu em ficar sozinha no quarto.
Amanda, um pouco decepcionada com o pedido da filha, relutou, mas acabou acatando-o.
Ao sair do quarto, ficou a reclamar com Francisco, do comportamento da filha.
Enquanto isso, Ana Lúcia, vasculhando novamente o quarto, tentava em vão, encontrar uma saída. 
Quem sabe um acesso para a parte externa da casa?
Contudo, como já dito, debalde.
Francisco, aventando a possibilidade da moça fugir, tomou todas as cautelas necessárias para se prevenir.
Com isso, os dias foram se passando.
Três dias antes do casamento, finalmente o vestido de noiva estava pronto.
Cuidando para que nada faltasse para Ana Lúcia, Francisco pediu a Amanda que providenciasse roupas e todo o mais necessário para que ela passasse bem os dias que antecediam o casamento.
Amanda, atendendo o pedido do futuro genro, recomendou a Anastácia e Theodora que fizessem as malas de Ana Lúcia.
As criadas, guardaram então, tudo o que pertencia a moça em baús e malas. 
E, assim que terminaram o trabalho, pediram para que um cocheiro levasse as malas para a casa nova da moça. 
Algumas coisas porém, foram levadas para a casa onde Ana Lúcia passou seus últimos dias de solteira.
Nessa pequena mala que permaneceu com a moça, estavam algumas roupas e livros.
Os livros. 
Não fossem estes seus companheiros inseparáveis, certamente, teriam sido ainda mais penosos os dias em que ela ficou esperando pela data fatídica. 
Isso por que, não
bastasse ter que ficar trancada quase que o tempo inteiro no quarto, Ana Lúcia ainda tinha que aturar a presença de Francisco que queria sempre conversar com ela.
Certa vez, Amanda ao perceber a indelicadeza de sua filha, tratou logo de admoestá-la.
Francisco, ao se ver a sós com Amanda, ao saber da repreensão, pediu-lhe educadamente para que não mais o fizesse. 
Dizendo que não queria que Ana Lúcia tivesse raiva dele, o rapaz recomendou a mulher que deixasse a moça à vontade.
Amanda, porém, dizendo que se ele não se impusesse agora, depois de casado não conseguiria segurá-la, ouviu do mancebo:
-- Não se preocupe. Eu sei o que estou fazendo.
Após isso, Amanda passou a não mais intervir quando via a filha o destratando.
...
No dia do casamento, decepcionada, compelida por sua mãe, Ana Lúcia colocou o vestido de noiva.
Fernanda, auxiliando a moça, ajudou a arrumar os cabelos de Ana Lúcia, bem como a fazer a maquiagem.
Nisso, quando Amanda e Fernanda a viram pronta, exclamaram admiradas:
-- Mas como está linda!
Ana Lúcia entretanto, não achava nada disso. 
Sentindo-se usada comentou que estava mais parecendo uma piada.
Amanda e Fernanda ignoraram o comentário.
Com isso, como última alternativa antes de ir para a igreja, bem que Ana Lúcia tentou sair escondida da casa. 
No entanto, não havia escapatória para ela.
Francisco, nervoso com o casamento, precisou da ajuda de seu pai para fazer o nó da gravata. 
Dizendo que não conseguia se arrumar, não fosse a ajuda de Lupicínio, ele teria levado horas para ajeitar a gravata.
Curioso, o rapaz bem que tentou ver Ana Lúcia usando o vestido de noiva.
Não fosse a intervenção de Amanda e Fernanda, e o mancebo teria entrado no quarto da moça para vê-la.
No entanto, com a interferência das duas mulheres, Francisco não logrou êxito em seu intento. 
Por esta razão, tratou logo de ir para a igreja.
E assim, ao entrar na igreja toda ornamentada e repleta de convidados, o rapaz ficou a esperar a noiva. 
Cada minuto que passava, parecia um século.
Nisso, Fernanda e Amanda, colocando o véu em Ana Lúcia, davam os últimos retoques na arrumação do vestido.
Quando perceberam que estava tudo perfeito, as duas levaram Ana Lúcia até o coche, e Amanda, no intuito de lhe fazer companhia, seguiu com ela até a igreja.
Fernanda, em outra carruagem, foi a primeira a deixar a casa.
Em seguida seguiu o coche onde estava Ana Lúcia.
Com isso, quando as duas carruagens chegaram no pátio da igreja, Amanda e Fernanda, foram as primeiras a descerem. 
Por fim, Ana Lúcia, auxiliada por sua mãe e Fernanda, também desceu da carruagem.
Petrônio ansioso, a aguardava na porta da igreja.
Ana Lúcia chorando, segurou o braço do pai e caminhando juntos, os dois foram em direção ao altar.
Com isso os convidados, acreditando que Ana Lúcia estava emocionada com o matrimônio, não se espantaram ao vê-la chorando.
Francisco também pareceu não se importar com isso.
Nisso, deu-se início a cerimônia de casamento.
Dizendo as palavras de praxe, o sacerdote relatou que todos estavam ali para acompanhar o casamento dos jovens Francisco e Ana Lúcia, e também como testemunhas de mais uma união indissolúvel.
Com isso, perguntando a Francisco se ele aceitava Ana Lúcia como esposa, o rapaz respondeu que sim.
A seguir, colocando a aliança no dedo da moça, Francisco, aguardou a próxima etapa da cerimônia.
E assim, proferindo novamente as palavras sacramentais, o padre finalmente perguntou se Ana Lúcia aceitava Francisco como marido.
A moça titubeou para responder.
Foi um triz que Petrônio não perdeu a paciência com a filha. 
Amanda, percebendo o constrangimento de todos, balançou a cabeça, como que para dizer a filha que dissesse sim.
Francisco apreensivo, só se tranqüilizou quando a moça respondeu afirmativamente.
A seguir a moça colocou a aliança no dedo do rapaz.
Por fim o sacerdote, encerrou a cerimônia fazendo algumas recomendações ao casal.
Antes, perguntou se havia alguém ali que se opunha ao casamento.
Como ninguém se manifestou, a cerimônia prosseguiu.
Nisso, quando a celebração se encerrou, todos os convidados, aguardaram os noivos na saída da igreja. 
Lá os cumprimentaram e desejaram felicidades.
Quando a família de Ana Lúcia finalmente pôde falar com ela, a moça plangeu novamente ao constatar que não poderia mais conviver com eles.
Lupicínio, um tanto quanto insatisfeito como o casamento, esquecendo-se de sua reserva com relação a este, tratou de cumprimentar a moça e o filho. 
Dizendo a Ana Lúcia que tudo daria certo, desejou sorte ao casal.
A seguir, o casal e os convivas seguiram para a casa de Petrônio, onde a festa de casamento aconteceria.
Lá Amanda e Petrônio dançaram.
Francisco e Ana Lúcia também. 
O rapaz feliz, não perdia a oportunidade de lhe chamar para dançar.
Mesmo quando a moça dizia que não, o mancebo insistindo em dizer que não aceitaria negativas, a arrastava pelo salão. 
Dessa forma, Ana Lúcia dançava.
Felizes em ver a filha casada, Amanda e Petrônio, encheram-se de orgulho.
Fernanda e Rubens, também aproveitando a festa, dançaram um pouco. 
E Joaquim e Ataúfo, sob os cuidados de Domitila aproveitavam para correr pelo jardim.
Mais tarde, quando todos os convidados já haviam partido, Francisco, percebendo que o dia se findava, convidou Ana Lúcia para fazer um passeio com ele pelo jardim.
A moça, exausta, relutou em aceitar o convite, mas Amanda ao insistir para que ela o acompanhasse no passeio, não lhe deixou alternativas.
Com isso, Francisco, ainda animado com o casamento, não parava de andar e admirar aquele belo jardim.
Comentando que entendia por que ela gostava tanto daquele lugar, Francisco alegou que sua nova casa também tinha um belo jardim. 
Dizendo a moça que se ela quisesse poderia ter um jardim ainda mais bonito que aquele, em sua casa, o rapaz comentou que faria todo o possível para isso.
Ana Lúcia cansada, acompanhava vagarosamente seus passos.
Entusiasmado o jovem mancebo não se dera conta do quão Ana Lúcia estava cansada.
Francisco só foi perceber o esgotamento da esposa, quando ao mirar seus olhos nela, notou a expressão abatida de seu rosto.
Ao notar o cansaço de Ana Lúcia, o rapaz levou-a logo para casa.
Ao voltarem para casa da família da moça, qual não foi a surpresa do rapaz ao ver que Amanda auxiliava as criadas a arrumarem a residência.
Francisco, notando que estava sendo inoportuno, desculpou-se com a senhora e dizendo que iria para sua casa, comentou que assim que pudessem os dois fariam uma visita
para ela.
Amanda percebendo o cansaço da filha, ofereceu o quarto da moça para os dois, mas Francisco, dizendo que queria ir para sua nova casa, comentou que já havia incomodado
demais.
Assim, despedindo-se de Amanda, lá-se foram os dois para a nova casa.
Ao chegarem na casa, antes de entrarem, Francisco, dizendo que precisava cumprir o ritual, comentou que precisava carregá-la.
Ana Lúcia, bem que tentou recusar a oferta, mas Francisco foi mais rápido.
Segurando-a no colo, o rapaz, levou-a até seu quarto.
Quando entrou na sala, ao ver uma das criadas o aguardando, Francisco pediu a mesma para fechar a porta de entrada e dispensou-a. 
A seguir, subindo as escadas, o rapaz, levou-a até o quarto. 
Dizendo que mais tarde poderia conhecer a casa, comentou que agora queria ficar a sós com ela.
Ana Lúcia, ao ser colocada na cama, cansada que estava, acabou adormecendo.
Quando Francisco percebeu isso, não gostou nem um pouco.
Porém, o que podia fazer?
Aborrecido trocou de roupa e deitou-se na cama. 
Depois de algum tempo, acabou dormindo também.
Quando finalmente acordou, depois de longas horas de sono, percebendo que Ana Lúcia ainda dormia, resolveu se trocar e desceu as escadas. 
Ao chegar na cozinha pediu para a empregada preparar algo para ele comer.
Em seguida, dirigiu-se para a sala.
Nisso, Ana Lúcia ao levantar-se, levou um grande susto ao ver o adiantado da hora.
Nervosa, foi logo procurando uma roupa para vestir. 
Qual não foi sua surpresa ao abrir o armário e perceber que o mesmo estava cheio de vestidos. 
Os seus vestidos.
Ao perceber isso, tratou logo de escolher uma roupa para usar.
Em seguida, tentou tirar o vestido de noiva.
Foi nesse momento que Francisco entrou no quarto.
Ao perceber que a moça estava acordada, o rapaz se desculpou por ter entrado sem bater.
Ana Lúcia, sem jeito, pediu licença e segurando a roupa que havia escolhido para vestir, comentou que iria se trocar em outro lugar.
Francisco então, percebendo que a moça não conseguiria tirar o vestido de noiva sem ajuda, sem qualquer cerimônia, ofereceu-se para ajudá-la.
A moça espantada, respondeu que não havia necessidade. 
Em seguida, fazendo menção de sair do quarto, foi interrompida por Francisco. 
Este dizendo que ela poderia perfeitamente se trocar ali, comentou que sairia do quarto para que ela se sentisse mais à vontade.
Nisso o jovem saiu do quarto.
Ana Lúcia, então, procurando se certificar de que ele não estava por ali rondando, ao ouvir os passos de Francisco em direção a escada, resolveu abrir a porta do quarto, e verificar
como estavam as coisas em volta.
Ao perceber que estava tudo bem, a moça com muito custo, começou a se despir.
Cuidadosa, Ana Lúcia levou um bom tempo para se arrumar. 
Ao descer, percebeu que o jantar estava pronto.
Francisco ao vê-la diante de si, gentilmente puxou a cadeira para que ela pudesse se sentar.
Ana Lúcia agradeceu.
Nisso a criada passou a servi-los.
Assim, o casal jantou.
Ana Lúcia passou o tempo todo calada.
Ao término da refeição, Francisco perguntou-lhe se ela não gostaria de fazer um passeio com ele pela cidade.
Ana Lúcia então respondeu que não.
Francisco ofereceu para ela um livro.
A moça, ao ver a mão do jovem estendida em sua direção, segurou o livro.
O rapaz então respondeu:
-- Este livro, eu tenho certeza absoluta que a senhora ainda não leu.
Ana Lúcia então, olhou o livro.
Francisco disse-lhe então, para que o lesse e depois comentasse a história.
Ana Lúcia, pediu licença e se retirou.
Francisco então, pediu a criada que preparasse um banho para ele e outro para ela.
Estér foi aquecer a água para o banho de ambos. 
Quando tudo estava pronto, Francisco dizendo que pretendia tomar um banho, avisou a moça que logo em seguida seria sua vez.
Ana Lúcia, ao ouvir isso, respondeu que iria para a sala.
Francisco aproveitou para tomar então um demorado banho. 
A seguir, colocando novamente seu pijama, foi até a sala chamar Ana Lúcia para banhar-se.
Ana Lúcia subiu até o quarto e pedindo licença para ele, também tomou seu banho.
Prendendo as longas madeixas, a moça aproveitou para relaxar na banheira. 
Após, colocando uma camisola, resolveu se deitar.
Quando Francisco finalmente entrou no quarto, mais uma vez Ana Lúcia estava dormindo.
Ao notar isto, o rapaz não ficou nem um pouco satisfeito. 
Contudo, isso não o impediu de prosseguir em seu intento. 
E assim, mesmo ao ver que a moça aparentemente dormia, Francisco passou a chamá-la.
Inutilmente, posto que Ana Lúcia não respondia. 
Irritado, Francisco pensou consigo que aquela seria a última vez que ela conseguiria adiar o inevitável. 
Assim aborrecido, depois de muito tempo se mexendo na cama, o rapaz acabou dormindo.
Na manhã seguinte, Francisco, decidido a conquistar a esposa, tratou logo de providenciar um café da manhã caprichado para ela.
Estér, seguindo as instruções do patrão, se encarregou de levar a bandeja até o quarto.
Ana Lúcia ao ver a bandeja repleta de comida, quis logo saber por que a criada havia levado aquilo tudo para ela.
Estér, explicou então que eram ordens de seu patrão.
Ao ouvir a explicação, Ana Lúcia pediu para que ela colocasse a bandeja no móvel que estava ao lado da cama.
Foi o que a criada fez.
Ana Lúcia perguntou então:
-- Qual é o seu nome?
-- Estér, senhora.
-- Está bem, Estér. Muito obrigada. Agora pode ir.
-- Com licença. – respondeu a criada já se retirando do quarto.
A seguir, a moça começou a saborear o café da manhã.
Francisco, depois de sair para comprar seus periódicos, adentrando o quarto e vendo que ela ainda tomava o café da manhã, perguntou-lhe se havia dormido bem.
Ana Lúcia respondeu que sim.
Francisco comentou então, que ela devia se arrumar por que os dois iriam sair.
Curiosa, a moça quis logo saber para onde. 
O rapaz porém, respondeu que era segredo.
Com isso comentando que a estaria esperando na sala, Francisco, pediu para que ela se apressasse. 
Com isso, dirigindo-se a sala, ao chegar neste ambiente passou a ler seu jornal.
Quando finalmente Ana Lúcia estava pronta, ela foi até a sala.
Francisco ao vê-la pronta, exclamou:
-- A senhora está linda!
Oferecendo seu braço para ela, os dois saíram de casa de mãos dadas.
Caminhando pelas ruas da cidade, o jovem Francisco exibiu orgulhoso a esposa.
Ana Lúcia tentava não demonstrar seu desalento, mas obviamente era visível que não tinha o mesmo entusiasmo que o marido.
Por esta razão, a moça pediu ao marido para passar algum tempo na casa dos pais.
Francisco no entanto, comentando que ela só iria visitar a família quando se acostumasse com a vida de casada, pediu para que não insistisse no assunto.
Nisso, os dois voltaram para casa.
Ao passarem pelo centro da cidade, puderam avistar o comércio. 
As belas lojas de roupas, chapéus, a confeitaria, o banco, as mercearias, etc.
Apesar de pequena era uma cidade bem cuidada.
Com isso, ao chegarem em casa, Francisco prometeu que assim que fosse possível, os dois viajariam para algum lugar.
A moça, ao ouvir isso, nada respondeu. 
Pedindo licença foi até o quarto.
Mais tarde os dois almoçaram.
Ana Lúcia, tentando se esquivar dele, evitava grandes aproximações.
Por conta disso, Francisco foi perdendo a paciência.
Irritado, certa vez, mandou Estér preparar um demorado banho para Ana Lúcia.
A moça, percebendo a estratégia do marido, bem que tentou recusar a oferta. 
No entanto, a empregada, dizendo que se ela se recusasse a fazer o que fora pedido, o próprio Francisco a faria tomar o banho, acabou por convencê-la. 
Sem alternativa, Ana Lúcia tomou o banho.
Nisso Estér, seguindo as recomendações de Francisco, escolheu uma bela camisola para Ana Lúcia usar.
Ana Lúcia, sem entender o que se passava, perguntou a empregada, o que ela estava fazendo.
A mulher explicando que estava cumprindo ordens, aconselhou-a a usar a roupa que ela estava colocando em cima da cama.
Com isso, a moça terminou seu banho.
...
Nessa época, Francisco, cansado das estratégias de Ana Lúcia, passou a freqüentar o lupanar da cidade. 
O rapaz, usando os serviços de uma cortesã cada vez mais amiúde, passou a ser visto por esta como um seu protetor. 
Isso por que, desde que Constantine, passara a atendê-lo, tornou-se seu único cliente.
Ana Lúcia, ao ouvir os comentários das empregadas a esse respeito, deu de ombros.
Dizendo que era melhor assim, sentiu até um certo alívio ao saber das suspeitas.
E assim foi, durante um longo tempo. 
Francisco, passou então, a se utilizar dos serviços dessa mulher.
Constantine, satisfeita com sua nova condição, comentava com suas amigas que certamente ele largaria a esposa para ficar com ela. 
Isso por que, todas as vezes que ia até lá se encontrar com ela, Francisco comentava o quão infeliz estava com seu casamento. 
Dizendo que sua esposa não agia como tal, o rapaz chegou a cometer a inconfidência de relatar que nunca tivera nenhum tipo de intimidade com ela.
Constantine, sempre que ouvia isso, ficava deveras satisfeita. 
Triunfante, chegava até a pensar que decerto, Francisco acabaria se cansando da esposa e passaria a viver com ela.
Feliz com essa possibilidade, Constantine chegava a dizer as outras cortesãs, que tirara a sorte grande em encontrar um homem como Francisco.
Madame Francine, porém, ao ouvir os comentários de sua cortesã mais famosa, recomendou que a mesma tivesse cuidado. 
Isso por que, dificilmente um homem da elite como Francisco, abandonaria a mulher para ficar com uma moça de vida airada como ela.
Ao ouvir isso, Constantine ficou deveras aborrecida com a dona do rendevouz.
Dizendo que não era uma qualquer, comentou que com tempo e paciência acabaria por convencê-lo de que ela era a melhor opção para ele.
Madame Francine todavia, temendo que Constantine fosse longe demais, recomendou que a mesma tivesse cautela. 
Isso por que, se o interpelasse daquela maneira, acabaria por afugentá-lo, ao invés de convencê-lo a ficar com ela. 
Dizendo que não seria com cobranças que conseguiria lograr êxito em seu desiderato, comentou que ela deveria ter muito cuidado ao abordar a questão.
Constantine, prometeu que o faria.
Contudo, com o passar do tempo, cada vez que Francisco passava por lá, ao invés de ser bem recebido pela amante, ouvia cada vez mais reclamações. 
Isso por que, Constantine, dizia que ele vinha cada vez menos e que passava cada vez menos tempo com ela. 
Irritada, a cortesã alegava que ele estava se distanciando dela.
Francisco ao ouvir isso, bem que tentou desconversar. 
Dizendo que sua esposa já estava desconfiando de suas saídas noturnas, pediu a Constantine, para que tivesse paciência.
Todavia, com o passar do tempo, ao invés das cobranças cessarem ou mesmo diminuírem, mais e mais Constantine exigia sua presença.
Madame Francine, bem que tentou reverter o processo, mas não havia muito o que se fazer.
Assim, com o passar do tempo, Francisco, cansado das exigências da amante, passou a vê-la cada vez menos.
...
Mas voltando a Ana Lúcia. 
A moça terminou seu banho, colocou a camisola e deitou-se. 
Acreditando que conseguiria evitá-lo mais uma vez, Ana Lúcia fingiu dormir.
Francisco porém, não aceitaria mais desculpas.
Cansado de ser sempre deixado de lado, não aceitaria mais escusas. 
Aborrecido com a indiferença de Ana Lúcia, diversas vezes o rapaz foi se queixar ao pai, que lembrando-lhe que o havia liberado do compromisso, recomendou-lhe que tivesse paciência, já que o estrago já havia sido feito.
Francisco, dizendo que acabaria tomando medidas drásticas, deixou Lupicínio preocupado. 
Todavia, não havia mais nada que ele pudesse fazer. 
Assim, só restava rezar e esperar que o filho usasse o bom senso. 
Foi exatamente o que ele fez.
...
Com isso, quando o rapaz adentrou o quarto, percebeu que Ana Lúcia dormia. 
Ao ver a cena, Francisco resolveu acordá-la.
Ana Lúcia, porém, fingindo dormir pesadamente, não acordou.
Francisco irritado, começou a chacoalhá-la. 
Dizendo que se ela não acordasse nunca mais visitaria sua família, conseguiu arrancar lágrimas da moça.
Ana Lúcia, percebendo que não adiantava mais fingir, sentou-se na cama.
Francisco então, observando seu jeito acuado resolveu perguntar por que ela tinha tanto medo dele.
A moça respondeu então que não tinha medo.
Intrigado, Francisco então perguntou:
-- Se não é medo, o que é então?
-- Nada.
Mas o rapaz não se convenceu da resposta. 
Lembrando-se então do pedido que a moça fizera, Francisco, enchendo-se de coragem, resolveu perguntar:
-- A senhora, não me aceita, por que a forcei a se casar comigo, não é isso?
Ao ouvir a pergunta, bem que Ana Lúcia tentou fugir da conversa, mas Francisco, exigindo uma explicação para seu comportamento, acabou por obrigá-la a dizer o que estava
se passando.
Ana Lúcia então, respondeu que não queria continuar casada. 
Dizendo que se ele quisesse deixá-la para ficar com a amante, não se importaria, a moça só conseguiu atrair para si a fúria de Francisco.
Isso por que ele, dizendo que não havia se casado para no dia seguinte abandonar a esposa, comentou que o casamento era indissolúvel. 
Alegando que ele só a deixaria no dia em que estivesse morto, Francisco conseguiu deixar Ana Lúcia assustada.
A moça, percebendo a irritação do marido, comentou que passaria a dormir em outro quarto.
Francisco então, dizendo que ela estava proibida de fazer isso, ameaçou-a.
Comentando que se ela assim agisse o deixaria muito irritado, Francisco só conseguiu deixar Ana Lúcia ainda mais assustada.
Percebendo isso, o jovem mancebo resolveu se acalmar.
Isso por que se permanecesse irritado acabaria com qualquer possibilidade de entendimento com a moça. 
Empenhado em se entender com Ana Lúcia, Francisco estava disposto até a ter um pouco mais de paciência com ela. 
Por isso, ao perceber a expressão de espanto da moça, o rapaz resolveu se desculpar por seu jeito agressivo. 
Dizendo que não queria assustá-la, que só queria conversar, Francisco tentou deixar as coisas num bom termo.
Ao notar no entanto, que não seria fácil convencer a moça de suas boas intenções, Francisco prometeu no dia seguinte levá-la até o Teatro Municipal. 
Comentando que seria apresentada uma ópera no local, Francisco pediu a ela que usasse sua melhor roupa.
Ana Lúcia sem jeito, comentou em tom baixo, que não possuía nenhum traje de gala para comparecer a uma ópera.
Francisco, ao tomar conhecimento deste detalhe, comentou que no dia seguinte, os dois iriam fazer um passeio pelo centro da cidade. 
Caminhando por entre ruas e logradouros públicos, os dois certamente acabariam por encontrar um belo vestido para a moça usar durante a apresentação. 
Animado com a possibilidade de finalmente apresentar a moça aos amigos, Francisco beijou-lhe a fronte e mandando-a dormir, alegou que eles tinham muito o
que fazer no dia seguinte.
Ana Lúcia, surpresa com a atitude de Francisco, resolveu dormir.
No dia seguinte, conforme o combinado, Ana Lúcia, vestiu um lindo vestido salmão, repleto de botões. 
Não bastasse o espartilho que já lhe dava bastante trabalho para usar, ainda tinha que se preocupar com os botões da roupa. 
Por conta disso, viu-se compelida a chamar uma das criadas para ajudá-la a se vestir.
Enquanto isso, Francisco lia seu jornal aguardando a moça descer as escadas do grande casarão.
Quando Ana Lúcia então desceu, Francisco mais uma vez elogiou os trajes da moça.
Comentando que ela tinha muito bom gosto em se vestir, Francisco sorriu. 
Estendendo seu braço para Ana Lúcia, os dois foram de braços dados até a entrada da casa.
Nisso, Francisco auxiliou-a a subir no coche. 
Depois, também sentou-se. 
Em seguida, os dois foram até o centro da cidade.
E andando juntos pelas ruas da cidade, Francisco mostrou-lhe o Teatro Municipal.
Dizendo que seria ali que horas mais tarde os dois entrariam juntos, Francisco recomendou a ela que escolhesse muito bem a roupa que iria comprar para tão grandiosa ocasião.
Em seguida, o casal entrou em algumas lojas em busca de um belo vestido para a apresentação.
Francisco ao ver o acanhamento da moça, respondeu-lhe que ela poderia escolher o quanto quisesse. 
Dizendo que tinha todo o tempo do mundo para esperar, comentou que ela poderia demorar o tempo que fosse necessário.
Assim seguiu-se uma sucessão de troca de roupas.
Infindáveis roupas, tecidos lhe foram apresentadas. 
Enfim, tudo o que fosse necessário para uma entrada triunfal no Teatro Municipal da cidade.
Pacientemente Francisco esperou a esposa escolher a roupa que usaria. 
Contudo, percebendo a dificuldade de Ana Lúcia em escolher um vestido, chegou até a dar alguns palpites.
Com isso ao final da manhã finalmente haviam feito a escolha. 
Francisco, então, tentando agradar a esposa, perguntou-lhe se desejava mais alguma coisa.
Ana Lúcia respondeu que não.
Francisco porém, vendo que ela havia gostado de dois outros vestidos, pediu a vendedora que também os embrulhasse.
Encantada com a gentileza de Francisco, a vendedora chegou até a elogiar o fato de Ana Lúcia ter um marido tão educado e gentil. 
Alegando que não era comum as esposas serem acompanhadas de seus maridos no momento em que faziam compras, a funcionária comentou que ela era uma mulher de muita sorte.
Ao saírem daquela loja, o casal ainda passou por mais algumas outras lojas. 
Isso por que, eles precisavam comprar sapatos e outros acessórios para combinar com os belos vestidos que compraram.
Mais tarde, os dois preparando-se para irem ao Teatro Municipal, tomaram um belo banho.
Ana Lúcia, ao ver o vestido verde colocado sobre sua cama, ficou a admirar a beleza da roupa. 
Antes de vesti-lo ficou a contemplá-lo durante algum tempo.
Nisso, quando Francisco viu Ana Lúcia toda arrumada, ficou encantado. 
Comentando que parecia estar vendo-a entrando na igreja vestida de noiva, o rapaz acabou fazendo-a se lembrar do que ela mais desejava esquecer.
Mas, de tão entusiasmado, Francisco nem sequer percebera o desapontamento da esposa.
Com isso, o casal se dirigiu até o Teatro Municipal.
Ana Lúcia, muito bem arrumada, acabou por chamar bastante a atenção.
Durante o espetáculo, um rapaz sentado num camarote à sua frente, começou a observá-la insistentemente.
Francisco ao perceber os olhares em direção a esposa, não gostou nem um pouco.
Porém, procurando disfarçar sua irritação, a certa altura, no auge do espetáculo, pediu para a esposa trocar de lugar com ele.
Ana Lúcia não discutiu. 
Trocou de lugar. 
Contudo, o rapaz continuou a observá-la com seu binóculo.
Entusiasmada com a apresentação, Ana Lúcia nem chegou a perceber os olhares do jovem, tampouco a irritação de seu marido. 
Feliz por estar freqüentando um lugar tão magnífico como aquele, a moça procurou registrar em sua memória todos os detalhes de sua arquitetura. 
Interessada procurou também, não perder nenhum detalhe da ópera.
Quando no final, depois de serem aplaudidos entusiasticamente pela platéia, os atores se despediram do palco, Ana Lúcia e Francisco, saindo do teatro, acabaram por encontrar-se
com o rapaz que a observava. Francisco, precisando deixá-la um momento a sós, para chamar
o cocheiro, acabou por facilitar a aproximação do jovem.
Com isso o mancebo, ao vê-la desacompanhada, ofereceu-se para levá-la de volta para sua casa.
Ana Lúcia porém, respondeu que já tinha companhia.
Nesse instante eis que surge Francisco. 
Este ao vê-la conversando com o estranho, não ficou nem um pouco satisfeito. 
Acreditando que Ana Lúcia estava desrespeitando-o, assim que se aproximou dela puxou-a pelo braço, e sem dar chances para que ela se explicasse, pediu para que o rapaz se afastasse.
O mancebo, percebendo a confusão que criara, bem que tentou se explicar, mas Francisco, transtornado, não lhe deu nenhuma chance.
O moço porém, nem um pouco intimidado com a atitude irascível de Francisco, insistiu para se explicar. 
Não bastasse isso, tentou diversas vezes pedir para que ele parasse de puxar a moça pelo braço, posto que a estava machucando.
Francisco, irritado com a petulância do rapaz, soltou por um instante o braço da esposa, e empurrando o rapaz com força, lançou-o ao chão.
Ana Lúcia bem que tentou ajudar o rapaz a se levantar, mas Francisco, segurando-a pelo braço, mandou-a ela seguir com ele. 
Empurrando-a para dentro da carruagem, Francisco comentou ao entrar no tílburi, que dali por diante ela nunca mais sairia de casa.
Chateada com a situação, Ana Lúcia começou a chorar.
Francisco, irritado, comentou que em casa os dois conversariam.
Mas qual o quê! 
Ao chegar em casa, o que se viu foi uma discussão muito séria.
Porém, só Francisco falava.
Quando a moça tentava dizer alguma, Francisco puxava seu braço.
A certa altura, sem poder agüentar a dor, Ana Lúcia, tornou a chorar.
Francisco, percebendo que excedera, perguntou-lhe se ela estava bem.
A moça, porém, só chorava.
Preocupado, Francisco pediu para ver o braço.
Ana Lúcia, porém, não atendeu o pedido.
Francisco, irritado com a recusa, puxou novamente o braço da moça, que com a dor, chorou novamente.
O moço ao ver os hematomas, exclamou espantado:
-- Meu Deus! Fui eu que ocasionei tudo isso?
Ana Lúcia, tentando se desvencilhar de Francisco, respondeu que queria ir para seu quarto.
Francisco preocupado, chamou Estér e pediu para que esta arrumasse um pouco de água fria para Ana Lúcia.
Ao entrar no quarto, Francisco, percebendo que a moça estava tendo dificuldades para tirar o vestido, tencionou chamar a criada. 
Estér porém, já estava entrando.
Francisco então, sentindo-se desnecessário, resolveu ir para o outro quarto.
Nisso, Estér auxiliando a moça a trocar de roupa, percebeu que o machucado estava bem pior do que parecia. 
Com o braço dolorido, foi bastante penoso para ela, retirar o vestido e o espartilho.
Ao ajudar Ana Lúcia a vestir camisola, Estér comentou que talvez fosse preciso imobilizar o braço.
Nesse instante, Francisco bateu a porta. 
Perguntando se podia entrar, esperou a empregada o autorizar.
Foi ao entrar, que Estér lhe contou que seria bom imobilizar o braço dela.
Ao ouvir isso, Francisco ficou penalizado. 
Pedindo para Estér providenciar uma tipóia, permaneceu no quarto, com Ana Lúcia. 
Sentindo-se culpado, diversas vezes pediu desculpas a moça, que temendo ser novamente agredida, nada respondia.
Somente quando Estér retornou é que ela se sentiu um pouco mais sossegada.
A empregada então, pedindo licença a Francisco, comentou que precisava imobilizar o braço da moça.
Francisco atendendo o pedido, retirou-se.
Estér então, procedeu a imobilização.
Quando o rapaz retornou ao quarto, Ana Lúcia já dormia pesadamente. 
Tanto que nem percebeu quando o mesmo entrou novamente no quarto.
Nos dias que se seguiram a moça permaneceu em seu quarto.
Francisco preocupado, no dia seguinte chamou um médico.
O mesmo ao ver as talas e a tipóia improvisada elogiou o trabalho de Estér. 
Surpreso porém, com a atitude de Francisco, recomendou ao mesmo que não mais procedesse daquela maneira ou ele teria que relatar o ocorrido aos pais da moça.
Francisco, pesaroso com o ocorrido, prometeu que não mais agiria daquela maneira.
Sentindo-se culpado com a situação da esposa, Francisco, não media esforços para tornar o menos penosa possível sua convalescença. 
Prestimoso, sempre a auxiliava a se ajeitar no leito, bem como arrumava os travesseiros para ela ficar um pouco mais confortável. 
Gentil, a todo momento perguntava se ela não estava precisando de algo.
Receosa com a mudança de comportamento de Francisco Ana Lúcia sempre respondia que não.
Francisco, percebendo isso, sempre que percebia que Ana Lúcia precisava de alguma coisa, chamava uma das criadas. 
O rapaz então, constatando que não seria nada fácil, conquistar a moça, resolveu depois de vê-la recuperada, retornar ao trabalho.
Lupicínio, ao ver o filho retornando ao escritório, perguntou-lhe espantado o que ele estava fazendo ali.
Francisco então, explicando que seu casamento ia de mal a pior, revelou a seu pai, que ao tentar se entender com a esposa, acabou se excedendo.
Lupicínio preocupado, quis logo saber o que ele tinha feito.
O rapaz respondeu então, que ao levá-la para uma ópera, um sujeitinho muito impertinente começou a observá-la. 
Conforme o tempo passava e o sujeito não tirava os olhos dela, ele se sentiu no direito de tomar uma atitude. 
Ao ver que na saída do Teatro Municipal o estranho cercara Ana Lúcia, e ele furibundo, passou a agredir o rapaz.
Ana Lúcia, espantada com sua reação, tentou intervir. 
Foi aí que o pior aconteceu.
Segundo ele, no auge de sua fúria, acabou descontando toda sua raiva em cima de Ana Lúcia, que acabou sofrendo uma luxação.
Lupicínio, que ouvia atentamente o relato, ao saber que Francisco ferira a esposa, repreendeu-o seriamente. 
Dizendo que ele não tinha o direito de maltratar a moça, Lupicínio exigiu que ele nunca mais procedesse daquela maneira.
Francisco, pesaroso, prometeu a seu pai, que nunca mais agrediria a esposa.
Nesse momento Lupicínio, perguntou ao rapaz, qual tinha sido a reação do pai da moça.
O mancebo, enchendo-se de coragem, revelou a seu pai, que Petrônio não sabia do ocorrido. 
Dizendo que agora Ana Lúcia estava bem, comentou que não havia necessidade em preocupá-lo.
Ao ouvir isso, Lupicínio, criticou o filho.
Percebendo porém, que não era mais o momento de tocarem no assunto com o pai da moça, os dois acabaram concluindo que não era necessário, colocarem-no a par disso.
Lupicínio, porém, percebendo que Ana Lúcia poderia comentar com a família sobre o acontecido, recomendou ao filho que conversasse com ela, e a aconselhasse a não mais
tocar no assunto.
Francisco respondeu ao pai que assim procederia.
Lupicínio, dizendo que com paciência ele acabaria por se entender com a esposa, pediu para que o rapaz agisse com cautela.
Francisco prometeu ao pai que o faria.
Nisso, os dois notando que tinham muito o que fazer, começaram a organizar os papéis no escritório.
Mais tarde, caminhando pela cidade, Lupicínio comentou com o filho que havia muito a ser feito pelo lugar.
Francisco, comentando que a cidade estava crescendo, sugeriu ao pai, que fizesse algumas obras de embelezamento na região.
Lupicínio, concordou.
Nisso, Ana Lúcia, que permanecera boa parte do dia sozinha em casa, respirava aliviada. 
Isso por que, sem a presença incômoda do marido, podia fazer o que bem entendesse.
Assim, cautelosa, nos primeiros dias em que finalmente seu marido se ausentou de casa, depois de meses de casamento, Ana Lúcia finalmente pôde retomar sua vida. 
Passando os dias a ler e a cuidar do jardim que Francisco mandara fazer especialmente para ela, a moça tentava encontrar uma maneira de fugir dali.
Percebendo que Francisco era uma pessoa agressiva, Ana Lúcia, temia-lhe.
Além disso, não estava suportando sua nova condição de casada.
Porém, não podia levantar suspeitas. 
Por isso, permanecia na casa se ocupando, para não levantar suspeitas de Francisco.
Com isso, Francisco, percebendo que Ana Lúcia estava finalmente se inteirando dos afazeres domésticos, por algum tempo chegou a acreditar que ela estava se conformando com
sua nova condição.
Contudo, o tempo provou que ele estava enganado.
Certa vez, Ana Lúcia, percebendo a distração dos criados, resolveu sorrateiramente, sair pelos fundos da casa. 
Notando que nenhum criado ficava por ali, a moça resolveu abrir o portão e sair.
Francisco, a certa altura, notando a ausência de Ana Lúcia, resolveu procurá-la pela casa.
Ao perceber que a esposa não estava em nenhum dos cômodos da residência, Francisco resolveu procurá-la pelo quintal.
 Angustiado, palmilhou vorazmente cada canto do imenso jardim. 
Ao notar que ela também não estava lá, chamou os criados e ordenando-os que eles o auxiliassem em sua procura, exigiu que estes deixassem de lado os afazeres domésticos, e fossem procurá-la pelas ruas da cidade.
Francisco, irritado com a atitude de Ana Lúcia, também partiu em seu encalço.
Com isso, não demorou uma hora para que a moça fosse encontrada.
Acuada, Ana Lúcia foi encontrada nas proximidades de uma confeitaria. 
Francisco, caminhando pelas ruas da cidade, finalmente a encontrou numa loja.
Nisso, a jovem, percebendo que havia sido vista pelo marido, bem que tentou escapar, mas Francisco, obstruindo a entrada da loja, impediu que ela fugisse.
Assim, ao segurar seu braço, Francisco recomendou-lhe que não fizesse nenhum escândalo, ou ele teria usar a força.
Ana Lúcia, percebendo que não adiantava resistir, voltou com ele para casa.
Com isso, ao adentrarem a sala, Francisco empurrou a moça, que por sorte, caiu sentada no sofá. 
Irritado, o rapaz comentou que nunca mais ela o faria de palhaço.
Ana Lúcia amendrontada, só ouvia as palavras irritadas de Francisco.
Ameaçando-a, Francisco disse que da próxima vez que tentasse fugir, não viveria para tentar mais uma vez.
Ana Lúcia, ao ouvir isso, ficou apavorada.
Francisco, percebendo o pavor da esposa, comentou que ela iria lhe pagar caro por ter novamente tentado fugir. 
Decepcionado, Francisco respondeu que ela nunca mais sairia daquela casa sem autorização.
Não bastasse isso, o rapaz, mandou a moça subir e deixando-a num dos quartos da casa, trancou a porta.
Ana Lúcia, percebendo que estava sendo trancada, começou a berrar.
Francisco então, respondeu:
-- Quer berrar? Pois berre bastante. Eu não importo. Por que a senhora só vai sair daí quando eu autorizar.
Nisso, Francisco chamou Estér e mandando-a preparar um banho para a moça, recomendou a mesma que preparasse tudo no quarto do casal.
Estér, sem questionar as ordens, preparou tudo conforme o esperado. 
Depois voltou para a cozinha.
Francisco então, foi até o outro quarto buscar Ana Lúcia.
A moça sem nada entender, acompanhou-o.
Ao chegar em seu quarto, ao ver que Estér havia preparado um banho, a moça comentou que queria voltar para o outro quarto.
Francisco no entanto, ao invés de a levar de volta para o outro quarto, mandou que a mesma se despisse para se banhar.
Ana Lúcia revoltada com a ordem, respondeu que não.
Francisco ao ouvir isso, irritado com o comportamento, berrou:
-- Dispa-se e tome logo este banho.
Ana Lúcia, assustou-se com o berro, mas firme, reiterou a negativa.
O rapaz, cansado de tanto ouvir nãos, respondeu que se ela não tomasse logo aquele banho, ele a faria tomar.
Ao ouvir isso, as lágrimas começaram a cair dos olhos da moça. 
Mas decidida Ana Lúcia não se curvou aos caprichos de Francisco.
Assim, ao ver que não seria obedecido, Francisco, tomado de um profundo sentimento de irritação, avançou sobre a esposa e abriu ele próprio o vestido que ela usava. 
Antes porém, trancou a porta do quarto e guardando a chave em seu bolso, comentou que dali ela não sairia sem tomar seu banho.
Ana Lúcia, percebendo que o mesmo estava desabotoando seu vestido, finalmente resolveu concordar em tomar o banho. Porém, dizendo que queria ficar a sós no quarto, pediu
que o mesmo saísse.
Francisco porém, dizendo que já estava cansado de ser passado para trás, comentou que não sairia dali da maneira alguma.
Ana Lúcia, ao ouvir isso, bem que tentou convencê-lo a mudar de idéia, mas Francisco resoluto, comentou que gostaria de observá-la tomando seu banho.
Assim, novamente se aproximou da esposa e continuou a desabotoar seu vestido.
Ana Lúcia, bem que tentou afastá-lo, mas Francisco, dizendo que nada atrapalharia seus planos, ameaçou agredi-la se ela tentasse atrapalhá-lo de novo. 
Contudo, dizendo que não queria bater-lhe, Francisco, comentou que ela devia aceitar o fato de ser uma mulher casada. 
E enquanto tirava o vestido de seu corpo, Francisco dizia que eles precisavam ter filhos para que a família tivesse continuidade.
Ana Lúcia de espartilho, tentou mais uma vez afastá-lo, mas Francisco, teimoso, a puxou de volta para si, e enervado comentou que estava perdendo a paciência.
Ansioso por sua noite de núpcias, Francisco quase arrancou o espartilho do corpo da moça.
Ao vê-la nua, o rapaz mandou que a mesma entrasse na tina e se banhasse.
Impaciente, ao ver que Ana Lúcia demorava em seu banho, sem nenhuma explicação, Francisco começou a tirar a roupa e dizendo que a mesma estava mais do que limpa, mandou-
a se deitar na cama.
Ana Lúcia, tentando resistir, resolveu teimar, mas Francisco, bastante impaciente, jogou-a na cama e puxando a tolha que cobria o corpo, deitou-se sobre ela.
A moça chorando, tentou pela última vez afastá-lo, mas em vão.
Neste dia, mesmo contra sua vontade, finalmente Francisco consumou seu casamento com Ana Lúcia.
Ele que aguardara por longos meses esse momento, estava tão afoito que mal se importou com a resistência da esposa.
Ana Lúcia, arrasada, ao término da relação, enrolando-se no cobertor e sentando-se no chão, tornou a planger. 
Humilhada, só pensava em morrer.
Envergonhada com o que tinha acontecido, Ana Lúcia, depois de se acalmar um pouco, enquanto o marido dormia, foi até o armário, pegou uma roupa, vestiu-se, e procurando
a chave do quarto, no bolso do paletó do marido, postou-se diante da porta.
Nervosa, quando finalmente encontrou a chave abriu com as mãos tremulas, cuidadosamente a porta, e, cuidando para se evadir dali, desceu lentamente as escadas.
Angustiada só queria saber de sair dali. 
Entretanto ao tentar abrir a porta da sala, percebeu que a mesma estava trancada.
Aflita, ainda assim, tentou abri-la. 
Em vão.
Com isso, constatando que a porta da sala estava trancada, a moça dirigiu-se então a cozinha. 
Caminhando pé-ante-pé a moça seguiu em direção a porta do cômodo.
Ao perceber que a porta estava encostada, Ana Lúcia, abriu-a e saiu correndo pelo quintal.
Nesse momento uma das criadas, percebendo que havia deixado a porta aberta, resolveu trancá-la.
Ana Lúcia que a essa altura, procurava a saída para a rua, ao ver que os dois portões estavam trancados, tentou subir em uma árvore para sair dali. 
Debalde.
Desapontada, a moça prometeu a si mesma que não voltaria para aquela casa. 
E assim o fez.
Contudo, conforme a temperatura caía, o corpo de Ana Lúcia, passou a se resfriar.
Mesmo assim, a moça, não voltou para casa. 
Simplesmente, deitou-se no chão e dormiu.
Quando Francisco acordou, já de madrugada, logo percebeu que Ana Lúcia havia fugido.
Aflito, tratou de vestir-se e procurando pela casa inteira, percebeu que a moça tinha conseguido mais uma vez, fugir.
Os criados da casa porém, dizendo que todos os portões que davam acesso a rua estavam trancados, tentaram acalmá-lo.
Intranqüilo porém, Francisco resolveu procurar a moça no jardim. 
Com isso, depois de algum tempo procurando, finalmente ele a encontrou deitada no chão, dormindo.
Francisco ao vê-la dormindo, aproximou-se e percebendo que ela estava com o corpo resfriado e as roupas úmidas da garoa da madrugada, resolveu carregá-la e levá-la até seu
quarto.
Lá ele trocou suas roupas e mantendo-a aquecida colocou sobre ela duas colchas.
Nisso, quando Ana Lúcia acordou e se viu tão acolhida, pensou até que havia sonhado com a fuga. 
Contudo, ao perceber o corpo dolorido, notou que não estava nada bem.
Estér, percebendo que a moça tinha febre, recomendou que ela não saísse de sua cama.
Nesse momento Francisco, voltando da sala, foi até o quarto ver como ela estava.
Estér que ainda estava no quarto do casal, contou então ao rapaz, que Ana Lúcia estava com um pouco de febre.
Preocupado, Francisco perguntou Ana Lúcia, se ela estava sentindo alguma dor.
A moça aborrecida com ele, nada respondeu.
Estér porém, dizendo que ela não podia esconder nenhum sintoma, respondeu que estava tudo bem.
Contudo, Ana Lúcia ao tentar se ajeitar na cama, por conta das dores do no corpo, acabou por se trair.
Estér e o rapaz, percebendo que a moça não estava nada bem, resolveram chamar um médico.
Com isso, o médico ao ver que novamente Ana Lúcia precisava de seus préstimos, não ficou nem um pouco satisfeito.
Por esta razão, mesmo depois de ouvir a história criada por Francisco de que moça pegara um pouco de friagem, o doutor disse ao rapaz que contaria o ocorrido aos pais dela.
Francisco ao ouvir o aviso do médico bem que tentou convencê-lo a não proceder desta maneira, mas o médico, dizendo ser aquela a sua obrigação, comentou que nada o faria
mudar de idéia.
Assim fez o médico.
...
Petrônio ao saber do ocorrido, não ficou nem um pouco satisfeito. 
Ainda mais ao ver a filha tão abatida.
Amanda também não gostou nem um pouco de saber que Francisco omitiu deles o fato da moça haver sofrido uma luxação, por conta de uma briga que tiveram.
Contudo, quem ficou irritada de verdade foi Fernanda ao saber que a irmã estava doente. 
Aborrecida, logo que soube do acontecido pelos pais, foi até a casa do cunhado visitar a irmã e tomar satisfações com Francisco.
Petrônio e Amanda depois de ouvirem as explicações do rapaz, apesar de inicialmente irritados, acabaram por se acalmar. 
Porém, advertindo o rapaz de que se algo parecido ocorresse novamente, não aceitariam desculpas, exigiram que ele prometesse não mais maltratar Ana Lúcia.
Francisco concordou.
Fernanda porém, aborrecida com a atitude do cunhado, não aceitou suas desculpas.
Dizendo que a partir daí ficaria de olho nele, prometeu fazer um escândalo se ele ousasse novamente agredir Ana Lúcia.
Francisco, percebendo a irritação de Fernanda, bem que tentou contemporizar.
Mas a moça não estava nem um pouco interessada em fazer concessões, e por isso, Francisco nada conseguiu dela.
Advertindo-o de que ele já estava avisado, a moça deixou a casa.
Por esta razão, Fernanda deixou Francisco bastante irritado.
Nisso, conforme os dias se seguiram, Ana Lúcia convalescendo, acabou por se recuperar da gripe que tivera.
Francisco, então, desdobrando-se para ser gentil com ela, vivia a convidando para sair.
A moça porém, decepcionada com ele, sempre declinava os convites.
O rapaz já não sabia mais o que fazer. 
Porém persistente, com o passar do tempo, começando a conhecer melhor a esposa, Francisco passou a lhe trazer quase todos os dias um agrado.
Ciente de que a mesma gostava de livros, o rapaz passou a freqüentemente lhe presentear com o exemplar de alguma obra. 
Também, sempre que terminava de ler seu periódico, sabendo que alguns autores escreviam folhetins para os jornais, deixava-o guardado para sua esposa ler mais tarde.
Lupicínio ao vê-lo tão dedicado a esposa, comentou espantado que há muito tempo não o via tão animado.
Isso por que dias depois da tumultuada noite que os dois tiveram juntos, o rapaz, muito amuado, comentou com seu pai que havia feito algo de que se arrependera.
Lupicínio, espantado, chegou a perguntar o que era, mas o rapaz, receoso, achou por bem não contar exatamente o que se sucedera.
Mesmo assim, o comentário foi o bastante, para deixar Lupicínio deveras preocupado.
Francisco, percebendo isso, pediu a seu pai que não se incomodasse mais com ele.
Mas Lupicínio, vendo a expressão de pesar do filho, não conseguia parar de pensar no assunto.
Contudo, nos últimos dias, vendo o filho empenhado em conquistar a esposa, Lupicínio passou a acreditar que o casamento do filho poderia dar certo. 
Dessa maneira, acabou por abandonar suas preocupações.
Francisco, por sua vez, vendo que precisava demonstrar que tinha interesse em conhecer melhor Ana Lúcia, passou a observá-la cada vez mais amiúde.
Sempre que a via distraída, ficava a olhar seus gestos, donaires, atrativos. 
Atento folheava os livros que a moça lia, observava seu modo de trajar, de andar, de dormir.
Dizendo-lhe sempre que aquela era sua casa, o rapaz finalmente deixou-a visitar sua família.
Ana Lúcia, feliz com isso, chegou até a agradecer.
Com isso, mais do que depressa, a moça tratou de visitar os pais. 
Finalmente depois de meses Ana Lúcia finalmente revia o lar onde vivera tão bons momentos.
Feliz Petrônio nem percebera o quanto Ana Lúcia estava triste com seu casamento.
Amanda porém, mais atenta, logo percebeu que apesar do tempo, Ana Lúcia não havia ainda se conformado com o matrimônio. 
Preocupada, chegou até a perguntar se Francisco a estava maltratando.
Ana Lúcia, ao ser inquirida quanto a isso, respondeu que não.
Surpresa com a resposta, sua mãe quis saber:
-- Pois então, se não é esse o problema, por que vocês dois não se entendem?
A moça dizendo então, que não gostava dele, comentou que nunca quis se casar.
Amanda irritada com o comportamento da filha, comentou:
-- Acaso querias ser uma solteirona?
-- Pois eu preferiria mil vezes ter ficado solteira... – respondeu a moça, sem concluir seu pensamento.
Ao ouvir a resposta inconclusiva, Amanda ficou intrigada.
Ana Lúcia, então, tentando desconversar, pediu para que a mãe ignorasse o comentário.
No que Amanda atendeu prontamente o pedido.
Constrangidas que estavam com a situação, as duas se calaram.
Mais tarde, depois de haver passado o constrangimento, Ana Lúcia, após, algum tempo conversando com sua mãe, foi até o jardim para dar um passeio.
Caminhando por entre as árvores, a moça se recordou de bons momentos de sua infância. 
Melancólica Ana Lúcia, se lembrou dos tempo em que ficava o dia inteiro naquele imenso jardim subindo em árvores e apreciando a bela vista de suas copas. 
Lembranças ternas de belos momentos!
Logo após, despedindo-se de sua família, moça foi levada de coche até a casa de sua irmã.
Fernanda, preocupada com Ana Lúcia, crivou-a de perguntas. 
Curiosa, queria saber se estava tudo bem com ela.
Como a moça lhe respondeu que Francisco estava muito dócil com ela, Fernanda se acalmou.
Contudo, conforme Fernanda lhe perguntava sobre seu casamento, Ana Lúcia, respondia com evasivas.
Tal fato deixou-a bastante preocupada. 
Isso por que percebendo que Ana Lúcia não era feliz, Fernanda passou a se perguntar se havia feito bem em ter auxiliado os pais a convencerem-na a se casar com Francisco.
Agora no entanto, já era tarde para se arrepender.
Nisso, Ana Lúcia, dizendo que tinha que voltar para casa, despediu-se da irmã, e adentrando o coche, retornou rapidamente para casa.
Quando retornou, a noite já havia aparecido.
Francisco preocupado, quis logo saber por que ela havia demorado tanto.
Ana Lúcia, respondendo que tinha muita coisa para conversar com a família comentou que acabou perdendo a hora.
O rapaz, percebendo que o atraso não fora intencional, comentou que estivera esperando-a durante um bom tempo.
Ana Lúcia, ao ouvir as palavras do esposo, pediu desculpas.
Constatando que aquela era boa oportunidade para passearem juntos, Francisco, dizendo que os dois jantariam fora, pediu para que ela colocasse sua melhor roupa.
Foi o que ela fez.
Ao chegar no armário, lembrando-se das roupas que o próprio Francisco comprara para ela, Ana Lúcia resolveu vestir o vestido amarelo, mais apropriado para a ocasião.
A seguir penteando os cabelos, a moça se lembrou do dia que Fernanda a ajudou a se arrumar. 
O dia em tudo começou a mudar em sua vida.
A lembrança do jantar em que foi apresentada a Francisco, lhe era extremamente penosa. 
Contudo, como não tinha a quem recorrer, só lhe restava aceitar os fatos. 
Estava casada e quanto a isso, nada mais poderia ser feito.
Desta forma, Ana Lúcia, ao terminar de se arrumar desceu as escadas e foi direto para a sala.
Como das outras vezes, Francisco a aguardava ansioso. 
Ao vê-la se aproximar, num sorriso respondeu que eles precisavam se apressar ou acabariam por encontrar o restaurante fechado.
A moça, ao ouvir o comentário, tratou logo de se aproximar.
Francisco então a acompanhou até a rua. 
A seguir, adentrando a carruagem que já estava na rua, os dois seguiram para o restaurante.
O rapaz animado com o passeio, não se cansava de mostrar à moça a cidade. 
Mais calmo do que costume, Francisco não parava de fazer planos para os dois. 
Dizendo que faria o possível para que eles fizessem uma viagem juntos, Francisco comentou que precisam aproveitar muito bem os primeiros tempos, já que depois, viriam os filhos.
Ana Lúcia ao ouvir isso, ficou bastante incomodada. 
Contudo, para evitar discussões, resolveu ignorar o comentário.
Francisco entusiasmado, só fazia dizer que aquele era um bom lugar para se viver, e que não tinha nenhum interesse em sair dali.
Ana Lúcia, que também gostava da cidade, continuou a apreciar a paisagem pela janela do coche.
Nisso, ao entrarem no restaurante, o garçon gentilmente afastou a cadeira para que Ana Lúcia, pudesse sentar-se.
Gentil Ana Lúcia agradeceu o gesto.
Nisso, o garçon, deixou-os a sós, para que, observando o cardápio, pudessem escolher o que melhor lhes aprouvesse.
Percebendo a indecisão de Ana Lúcia, Francisco sugeriu o mesmo prato para os dois.
Nisso, chamando o garçon, fez logo o pedido.
Depois de feito o pedido, servindo-se de um bom vinho, o rapaz pediu para que providenciassem um suco de laranja para Ana Lúcia.
Assim, enquanto ela bebericava o suco e ele se deliciava com o vinho, Francisco aproveitava para falar sobre o trabalho e sobre os projetos que seu pai tinha para a cidade.
Dizendo que o município iria ficar muito melhor do que já estava, o rapaz comentou que desta forma aquele seria um ótimo lugar para criar seus filhos.
Ao ouvir o comentário, Ana Lúcia não gostou nem um pouco de saber disso.
Porém, procurando disfarçar seu descontentamento, ao chegar a refeição, a moça se concentrou em unicamente apreciar o precioso repasto. 
Como fazia horas que almoçara, Ana Lúcia se regalou com os camarões, e demais iguarias servidas.
Estava tudo muito bom, segundo suas próprias palavras.
Francisco, ao notar que ela apreciara a comida, pediu ao garçon que providenciasse mais uma porção, da deliciosa iguaria para eles.
Assim, depois de se deliciarem com o jantar, e com a caprichada mouse que lhes serviram de sobremesa, o casal, a pedido de Francisco, passou a caminhar pelas ruas
iluminadas a lampião de gás da cidade.
Admirado com a visão noturna da cidade, Francisco comentou que os dois precisavam fazer aquele passeio mais vezes.
Ana Lúcia, adorando a idéia de se afastar de sua casa, também estava apreciando a caminhada. 
Isso por que, cansada de passar o tempo inteiro enfurnada naquela casa, a moça nem se importava que, para ter esse privilégio, tivesse que estar acompanhada de Francisco.
Com isso, os dois continuaram caminhando. 
Caminhando apreciaram a lua e as estrelas, num época em que o firmamento, livre de poluição, permitia que se pudesse observá-lo sem pudor.
Era um esplendor!
O céu todo estrelado, as ruas e as construções bem cuidadas. 
Tudo era muito belo.
Contudo, com o passar do tempo, Francisco percebendo que a noite já era alta, comentou com Ana Lúcia, que os dois precisavam voltar para casa.
Ao ouvir isso, a moça a contra-gosto, concordou.
E assim, retornando às proximidades do restaurante, o casal entrou no tílburi e retornaram para casa.
No dia seguinte, ao passar pelo escritório de seu pai, Francisco não cabia em si de contente.
Lupicínio, percebendo isso, foi logo perguntando:
-- Nossa! Mas o que foi isso? Acaso presenciou um milagre? Parece que está em estado de graça!
Francisco ao ouvir o comentário sorriu. 
A seguir dizendo que não era nada, acabou deixando escapar que seu relacionamento com Ana Lúcia estava caminhando.
Lupicínio ao ouvir isso, ficou deveras feliz. 
Isso por que, já estava um tanto quanto cansado de ouvir os lamentos do filho a respeito de sua difícil convivência com Ana Lúcia.
Assim, ao ouvir que a situação parecia estar se encaminhando, Lupicínio, acreditou que aos poucos, com muita calma e paciência, tudo se ajeitaria.
E assim foi.
Calmamente Francisco foi se aproximando de Ana Lúcia.
Com o passar do tempo, aparentemente conformada com seu casamento, Ana Lúcia passou a aceitar melhor a presença de Francisco em sua vida.
Contudo, sentido falta da vida que levava na casa dos pais, a moça passou a ficar cada vez menos tempo dentro de casa. 
Acostumando-se com a casa, sempre que podia aproveitava para ir ao jardim, que a esta altura estava quase tão bonito quanto o da casa dos pais, para ler e caminhar. 
Ela que sempre gostara do contato com a natureza, não se cansava de admirar o canto dos pássaros.
Certa vez conversando com Estér, Ana Lúcia disse que os pássaros que gorjeavam naquele jardim não eram os mesmos que visitavam o jardim da casa de seus pais.
A criada ao ouvir isso, ficou espantada.
Isso por que como as casas não ficavam muito distantes, era um tanto quanto estranho que houvesse tanta diversidade em tão pequeno pedaço de área.
Para Ana Lúcia também causava espécie este fato.
Mas assim o era.
Com isso Francisco, ocupando-se de auxiliar seu pai, político influente na região, passava cada vez menos tempo em casa.
Todavia, diferente dos primeiros tempos do casamento, o rapaz não ocupava suas horas em algum leito de cortesã. 
Agora realmente estava trabalhando com o pai.
De tão empenhado com seu trabalho, Lupicínio sugeriu-lhe diversas vezes para que se candidatasse a algum cargo público, mas Francisco dizendo que estava aos serviços do
melhor político da cidade, respondeu que não precisava disso.
Lupicínio porém, não desistiria da idéia de fazê-lo concorrer a algum cargo eletivo.
Contudo, por mais que ele se empenhasse na tarefa de convencer o filho do prestígio que um cargo político ocasionava, mais Francisco dizia que tinha algo mais importante com
que se ocupar.
Desta forma, depois de algum tempo insistindo, vendo que não conseguia tirar nenhum proveito de sua insistência, Lupicínio ao poucos, foi deixando de tocar no assunto.
Nisso Francisco, dedicando-se cada vez mais a esposa, tentava mostrar a ela o quanto estava empenhado em fazer daquele casamento uma união feliz.
Ana Lúcia, por sua vez, cansada de lutar contra o inevitável, também empenhou-se em mostrar-se mais simpática.
Francisco feliz com a mudança de comportamento da esposa, não se cansava de criar idéias para agradá-la. 
Cada vez mais animado com seu casamento, Francisco sugeria mais e mais passeios para Ana Lúcia.
Atencioso, quando soube que a moça estava grávida, Francisco tratou de passar numa floricultura e pedindo a vendedora para lhe fazer um belo arranjo de flores, pagou um garoto
para entregá-lo em sua casa. 
Antes porém, escrevendo um bilhete, o rapaz felicitou a esposa pelo acontecimento.
Qual não foi a admiração da criadagem ao vê-la com tão bonito arranjo nos braços!
Estér, comentando que Francisco era um perfeito cavalheiro, disse a Ana Lúcia que ela tivera sorte de encontrar alguém que gostasse tanto dela assim.
Nisso, quando finalmente leu o bilhete, Ana Lúcia pôde perceber o quanto ele gostara da novidade.
Com isso, animado com a boa nova, assim que teve oportunidade, Francisco revelou ao pai a novidade.
-- Meu pai, Aninha está grávida!
Aninha sim. 
Depois de um longo período de desentendimentos, ao finalmente se acertar com a esposa, Francisco, tomado de um sentimento de ternura, passara a chamar Ana Lúcia desta forma.
Lupicínio, ao ouvir a notícia, também ficou feliz. 
Isso por que, ao saber da novidade, percebeu que não havia mais nada que os pudesse separar. 
Curioso, quis logo saber se os sogros do rapaz já sabiam da novidade.
Francisco, ao dizer que não, causou espanto em Lupicínio. 
Tanto, que ele recomendou que ao filho que contasse logo aos pais da moça, a alvissareira novidade.
Francisco dizendo que no momento oportuno contaria, acabou por aquietar seu pai, que parecia mais efusivo que ele.
Assim, depois de algum tempo, pedindo a esposa que preparasse um jantar para a família, Francisco revelou que nesta oportunidade os dois contariam a novidade.
Desta forma, Ana Lúcia, percebendo que precisava de auxílio, logo pediu permissão ao marido para chamar Fernanda para ajudá-la.
Francisco que vinha atravessando uma fase de tranqüilidade e extrema felicidade, não se importou nem um pouco com este fato. 
Com isso, mais do que depressa autorizou a ida de Fernanda até sua casa.
E assim foi.
Francisco, ao encontrar os pais de Ana Lúcia andando juntos pela cidade, foi logo avisando-os que ambos estavam convidados para um jantar.
Ao chegar no escritório, igualmente convidou o pai para o jantar.
Nisso, Ana Lúcia e Fernanda, atarefadas com o jantar, passaram o dia inteiro se ocupando dele.
Com a desculpa de que precisava apresentar oficialmente a casa aos pais, Ana Lúcia acabou por convencer Fernanda de que aquela era a verdadeira razão para toda aquela
agitação.
Fernanda então, pediu para Estér comprar flores para enfeitar a casa.
A criada atendeu prontamente o pedido.
As outras duas empregadas, auxiliando na arrumação da casa, limparam a sala e a copa. 
Depois, planejando o que seria servido à noite, Fernanda sugeriu a irmã, que preparasse uma boa sobremesa, algumas entradas, providenciasse alguns vinhos, bem como preparasse
um apetitoso prato principal.
Ana Lúcia, perguntando a irmã que tipo de vinho poderiam servir, ouviu como resposta que um bom vinho francês seria ótimo.
Ao saber disso, mais do que depressa a moça pediu a uma das criadas que fosse até a adega buscar um vinho. 
Como não sabia o que preparar como prato principal, a moça fez questão de pedir uma sugestão da irmã sobre o que servir.
Fernanda sugeriu então que ela servisse uma boa carne, já que Amanda e Petrônio adoravam comidas suculentas.
Ao ouvir a sugestão da irmã, com a qual acabou concordando, Ana Lúcia pediu para   a criada servir um bom vinho tinto. 
Além disso, como precisava de um aperitivo, Ana Lúcia recomendou a criada, que providenciasse um bom licor também.
Fernanda, ao saber que Francisco possuía uma adega em casa, comentou que quando acompanhara os dois na escolha do imóvel, não tinha reparado neste detalhe.
Foi então que Ana Lúcia respondeu, que não era propriamente uma adega mas sim um porão abandonado que fora transformado por Francisco.
-- Entendo. – respondeu Fernanda.
Nisso, dizendo que as duas precisavam se apressar se queriam preparar um bom jantar, Ana Lúcia tratou de encaminhar Fernanda até a cozinha.
Com a ajuda das criadas, Ana Lúcia começou a preparar o jantar.
Primeiramente, uma das criadas foi até o centro da cidade para comprar a carne.
Foi então, que Estér, auxiliada pelo cocheiro, trouxe inúmeras flores para casa.
Fernanda, encantada com o bom gosto da criada, comentou que a sala de visitas e a sala de jantar ficariam muito bonitas com todas aquelas flores.
Estér, ao ouvir o comentário elogioso, logo agradeceu. 
Em seguida, percebendo que havia muito ainda a ser feito na casa, foi logo auxiliar a irmã.
Fernanda então, ao ver a quantidade numerosa de flores, foi logo colocando o arranjo mais bonito sobre a mesa. 
No aparador, colocou um arranjo um pouco mais modesto.
As demais flores colocou na sala.
Encantada com o capricho na arrumação, Fernanda comentou que Ana Lúcia estava se saindo uma verdadeira Amanda.
Nisso, a moça respondeu que não queria decepcionar.
Fernanda comentou então que sua mãe ficaria surpresa com tudo aquilo.
Com isso as duas continuaram a cuidar da comida. 
Mais tarde, quando viram que estava tudo pronto, trataram de se despedir.
Ana Lúcia dizendo que ela também estava convidada, falou para que levasse Joaquim e Ataúfo para cear.
Surpresa com o convite extensivo, Fernanda respondeu que não era aconselhável os dois a acompanharem.
Ana Lúcia porém, dizendo que fazia questão da presença deles no jantar, falou para a irmã levar Domitila com eles.
Ao ouvir isso, Fernanda acabou concordando em levar os filhos para a casa da irmã.
E assim, as duas se despediram.
Enquanto voltava para casa, Fernanda, intrigada com o pedido da irmã começava a imaginar o que a mesma tinha a dizer-lhe. 
Começando a desconfiar de que aquele não era um simples jantar, começou a conjecturar sobre a verdadeira razão de tudo aquilo.
...
Mais tarde Francisco retornando de um longo dia de trabalho, comentando que precisava se arrumar, foi logo pedindo para Estér providenciar um banho para ele.
Logo em seguida quem iria se arrumar seria Ana Lúcia.
E assim foi feito.
Quando Ana Lúcia resolveu se arrumar, a moça ficou bastante indecisa sobre que roupa usar. 
Por conta disso, quando finalmente desceu as escadas, seus pais, seu sogro e a família da irmã já haviam chegado a sua casa.
Porém ao vê-la tão bem disposta, os convivas não se importaram em ter de esperar por ela.
Petrônio elogiando a elegância da filha, comentou que ela estava se saindo uma ótima dona de casa.
Ana Lúcia sorrindo, comentou que Fernanda a havia auxiliado em tudo.
Petrônio, orgulhoso das filhas, comentou que tanto ela quanto Fernanda, estavam de parabéns. 
Dizendo que tudo estava magnífico, comentou que nem Amanda conseguiria encontrar um mínimo defeito.
Amanda ao ouvir seu nome, respondeu que realmente não havia o que ser criticado.
Dizendo que estava tudo magnífico, a mulher respondeu que as duas tiveram em quem se espelhar.
Ana Lúcia e Fernanda ao ouvirem isso, sorriram.
Francisco que recebera o casal, comentou também, que nunca vira Ana Lúcia tão radiosa.
Nisso, Estér, dizendo que o jantar estava pronto, comentou com Ana Lúcia que se ela quisesse, eles poderiam ir cear.
A moça percebendo que já era hora, convidou a todos para irem até a sala de jantar se deliciarem com um regalado repasto.
Primeiramente foram servidas as entradas, depois, veio o prato principal e por fim uma bela e saborosa sobremesa.
Após o jantar, todos elogiaram os dotes culinários de Ana Lúcia, que gentilmente atribuiu todos os créditos do sucesso do evento à Fernanda e às criadas da casa que cozinharam divinamente.
Amanda, aproveitando o ensejo, comentou que Ana Lúcia estava então aprendendo a cuidar de sua casa.
Francisco respondeu educadamente que não tinha queixas a fazer no tocante a isso.
Nisso o rapaz, aproveitando para fazer um brinde comentou, que o pretexto que ele e Aninha usaram para aquele jantar não era o verdadeiro motivo para aquela reunião.
Curiosos ao ouvirem isso, Petrônio e Amanda foram logo perguntando se Fernanda sabia do que eles estavam falando.
Fernanda então, ao balançar a cabeça negativamente, deixou os pais intrigados.
Afinal de contas, o que poderia ser? 
Pensavam Petrônio e Amanda. 
Temendo que fosse alguma má notícia Petrônio tentou atrapalhar o discurso.
Francisco, percebendo a apreensão da família, constatando que não o deixariam falar, resolveu sem mais delongas, relatar o que estava acontecendo. 
Enchendo-se de coragem, disse então:
-- É com muita satisfação que eu venho participar aos senhores que Aninha está esperando um filho meu. Dentro em breve a família vai aumentar.
A família de Ana Lúcia ao saber da novidade ficou extremamente feliz.
Petrônio, satisfeito com a novidade, comentou que a vida seguia seu curso natural.
...
Mais tarde antes de retornar para casa Fernanda agradeceu o convite da irmã.
Joaquim e Ataúfo, despedindo-se da tia, atendendo o pedido da mãe, agradeceram o jantar.
Rubens também agradecendo o convite, elogiou o jantar e se despediu.
A seguir Lupicínio, Amanda e Petrônio, elogiando o jantar, também se despediram.
Com isso, Ana Lúcia e Francisco ficaram sozinhos na sala.
O rapaz percebendo que já era tarde da noite, tratou logo de chamar a esposa para acompanhá-lo até o quarto.
Ana Lúcia, porém, dizendo que precisava dar uma arrumada na cozinha, respondeu que mais tarde ela iria para o quarto.
Francisco ao ouvir a resposta da esposa, bem que tentou argumentar, dizendo que ela podia deixar o trabalho com as criadas, mas Ana Lúcia, dizendo que precisava aprender a
cuidar de sua casa, insistiu em lavar e guardar as louças, e tudo o mais que fosse necessário antes de dormir.
Ao ouvir isso só coube a Francisco aceitar a posição da esposa.
Nisso mais tarde, depois de auxiliar as criadas na arrumação da cozinha, finalmente Ana Lúcia foi para o quarto.
No dia seguinte, em razão de ter se recolhido de madrugada, Ana Lúcia acabou acordando tarde. 
E assim, ao se levantar percebeu que já devia ser bem tarde. 
Apressada tratou de chamar Estér e pedir para que esta providenciasse um banho.
A criada atendeu prontamente o pedido.
Assim, depois de tomar seu banho, Ana Lúcia vestiu-se e aproveitando a oportunidade, resolveu fazer um passeio pelo jardim da casa.
Nisso as horas foram se passando.
Quando finalmente o relógio de parede marcou meio-dia, Francisco depois de uma manhã repleta de trabalho, dirigiu-se à sua casa. 
Dispensado por seu pai do trabalho, Francisco queria aproveitar o dia para permanecer na companhia da esposa.
Com isso, ao chegar e perceber que Ana Lúcia não estava em casa, Francisco tratou logo de ir atrás dela no jardim.
Estér no entanto, dizendo que o almoço estava pronto, recomendou que ele não se demorasse no jardim com Ana Lúcia ou acabaria comendo comida fria.
Francisco respondeu então, que só iria até o jardim para buscar Aninha. 
E assim saiu.
Caminhando por entre flores e plantas, Francisco pôde ouvir o canto de alguns pássaros.
Quando finalmente se aproximou de Aninha, o rapaz comentou brincando:
-- Que pena que a senhora não pode mais subir em árvores.
Ana Lúcia, distraída em pensamentos não percebera a aproximação. 
Por isso, ao ouvir o comentário do marido acabou se assustando.
Francisco percebendo o péssimo efeito que causara, tratou de pedir desculpas a esposa.
A moça então, respondendo que não tinha sido nada, acabou atendendo o pedido de Francisco e retornou com ele para casa. 
Muito embora não estivesse com fome, Ana Lúcia acabou aceitando almoçar e assim fazer um pouco de companhia a ele.
Feliz, Francisco comentou que se ela quisesse, os dois poderiam fazer um passeio pela cidade.
Ana Lúcia ao ouvir a proposta, comentou que preferia conhecer um lugar diferente.
Francisco então, percebendo que prometera fazer uma viagem com ela, comentou que estava em falta. 
Mas, dizendo que ainda tinha muito o que fazer na cidade, Francisco pediu para que ela tivesse um pouco mais de calma. 
Isso por que, assim que pudessem, os dois
fariam uma longa viagem.
A moça, ao ouvir as palavras do rapaz, comentando que não estava preocupada com isso, respondeu que preferia caminhar pelo lindo jardim que ele havia providenciado para
ela. 
Dizendo que mesmo morando ali há algum tempo, não tivera oportunidade de conhecer tudo em detalhes, Ana Lúcia tratou de convidá-lo para fazer-lhe companhia em sua
caminhada.
Francisco ao perceber a intenção da esposa, preocupado com seu estado, perguntou-lhe se não era menor fazer um passeio mais curto, pela cidade mesmo.
Ana Lúcia dizendo que estava bem, insistiu em fazer um passeio pelo jardim. 
A moça, comentando que estava acostumada a fazer longas caminhadas, alegou que andar um pouquinho não faria mal a ninguém.
E assim, embora preocupado com a esposa, Francisco atendeu prontamente seu pedido.
Andando de braços dados com o marido pelo jardim, Ana Lúcia mostrou-lhe o quão bonito era o lugar. 
Dizendo que aquele ambiente seria ainda mais lindo que o jardim da casa de seus pais, a moça comentou que sentia muita saudade daquela época.
Francisco ao ouvir o comentário, ficou visivelmente incomodado com a colocação da esposa. 
Por esta razão, temendo que ela pretendesse novamente fugir, o rapaz resolveu sondá-la. 
Como quem não queria nada, ele foi logo perguntando:
-- A senhora sente saudades da liberdade em que vivias, não é isso?
No que a moça respondeu:
-- Não é bem isso. Eu sinto saudades de uma época de minha vida que já acabou. De um tempo em que ao invés de cuidar eu era cuidada. Que eu não tinha que me preocupar com
nada além de mim. Sinto um pouco de falta daquele tempo em que podia viver egoisticamente.
Francisco, chateado com a resposta, finalmente perguntou:
-- Eu sei o que a senhora quer dizer. Está arrependida! Se pudesses voltar atrás, não teria se casado comigo. Entendo.
Ana Lúcia ao perceber que fora mal interpretada, fez questão de esclarecer a situação.
Dizendo que ela não tivera intenção de ofendê-lo, comentou que quando dissera sentir saudades daquele tempo, não estava alegando que o tempo atual era ruim. 
Ao contrário.
Apenas tudo estava muito diferente.
Francisco ao ouvir isso, comentou que também estranhara um pouco a vida de casado.
Ana Lúcia ao ouvir o comentário do marido, concordou com ele.
O mancebo percebendo que estivera equivocado, resolveu continuar o passeio, porém falando de coisas amenas. 
E assim fez. 
Apreciando flores, plantas, pássaros e outros pequenos animais que iam até lá, o rapaz comentou animado que aquele jardim era muito bem freqüentado.
Ana Lúcia sorriu.
Neste clima de tranqüilidade, Francisco aproveitando a oportunidade, começou a brincar com a esposa. 
Dizendo que já aprendera a subir em árvores, o rapaz comentou que já estava pronto para lhe fazer uma demonstração.
Ana Lúcia, em clima de brincadeira, duvidou de suas palavras.
Francisco, sentindo-se desafiado, resolveu subir uma das árvores.
A moça ao vê-lo subir com tanta facilidade, ficou surpresa. 
Admirada chegou até a comentar:
-- Mas não é que o senhor aprendeu mesmo?
Francisco ao perceber a admiração da moça, sorriu para ela. 
Distraído, o rapaz esqueceu-se de se equilibrar em cima do tronco. 
Por conta disso, inadvertidamente, acabou por ir ao chão.
Ana Lúcia, ao perceber que o rapaz se desequilibrara, ao vê-lo estatelado no chão, assustou-se. 
Preocupada, ao vê-lo estirado no chão, acorreu em seu encontro e procurando reanimá-lo, perguntou-lhe se estava bem.
Francisco, com o corpo todo dolorido, respondeu que sim, estava bem.
Ao dizer isso, o rapaz, amparado pela esposa, tentou levantar-se. 
Contudo, foi com muita dificuldade que Francisco conseguiu ficar em pé.
Exausto com a peripécia, o rapaz, ao lembrar-se do estado da esposa, recusou sua ajuda em conduzi-lo até a casa.
Ana Lúcia, porém, dizendo que ele não tinha condições de ir sozinho para casa, resolveu mesmo sob seus protestos, desobedecê-lo e auxiliá-lo na caminhada.
Ao chegar em casa, qual não foi o espanto de Estér, ao vê-lo ser amparado pela esposa.
A criada percebendo a gravidade da situação, chamou o cocheiro e as outras duas criadas para ajudarem Francisco a ir até seu quarto.
Nisso Ana Lúcia, preocupada com a situação do marido, tratou logo de pedir ao cocheiro que buscasse o médico.
Quando o doutor chegou na casa, espantou-se ao ver que quem realmente estava precisando de seus cuidados era ele e não ela. 
Contudo, a despeito de seu espanto, o médico procedendo a um exame, logo constatou que o mesmo não havia fraturado nenhum osso.
Ao ouvir isso, Ana Lúcia ficou aliviada. 
Dizendo que não fosse sua pilhéria, ele jamais teria subido na árvore, comentou que nunca mais o deixaria fazer uma loucura dessas.
O médico ao ouvir o comentário da moça, ficou deveras satisfeito em saber que o relacionamento deles havia progredido. 
Satisfeito com a novidade, assim que teve a oportunidade de conversar com Petrônio e Amanda, comentou que Ana Lúcia estava vivendo muito bem com seu marido.
O casal ao saber que o casamento da filha mais nova, estava se desenrolando da melhor maneira possível, ficou deveras contente com a novidade.
Isso por que Petrônio preocupado com a falta de notícias sobre a filha, chegou até em pensar em certa época, em visitar o genro.
Isso por que, ele só pôde conhecer a casa da filha, após o lamentável incidente que abalara inclusive sua saúde. 
Mas, ao saber da gravidez de Ana Lúcia e agora, da notícia alvissareira, Petrônio ficou bastante satisfeito.
Quando em visita a casa dos pais, Fernanda ficou sabendo que Ana Lúcia estava se entendendo com o marido, também se alegrou.
Rubens, ao saber da novidade também ficou satisfeito.
Sim, por que, estando tudo bem com Ana Lúcia, Fernanda não teria motivos para se indispor com Francisco. 
Isso era ótimo.
Nisso, Ana Lúcia, penalizada com a situação do marido, passou a cuidar dele com todo o desvelo e atenção.
Francisco aproveitando a oportunidade, pedia a todo o momento para que ela fizesse às suas vontades.
Nisso, quando Lupicínio soube do ocorrido, foi imediatamente a casa do filho.
Preocupado com sua situação, o homem estava muito tenso.
Ana Lúcia então, procurando dissipar suas preocupações, logo o levou até seu quarto para que ele pudesse ver Francisco.
Lupicínio ao ver o filho dormindo, crivou a moça de perguntas. 
Querendo saber como havia ocorrido aquele acidente, se ele realmente não havia fraturado nenhum osso, se estava tudo bem... Inquieto, chegou até a cometer a indelicadeza de perguntar-lhe se ela estava cuidando bem dele.
Ana Lúcia, sorrindo, respondeu que sim, mas percebendo que nada o tranqüilizava, convidou-o para permanecer na casa enquanto o filho estivesse convalescente. 
Assim, se achasse necessário, ele poderia perfeitamente chamar alguém para auxiliá-la.
Lupicínio, agradecido, comentou que esperaria ele acordar para decidir o que faria.
Assim, quando Francisco finalmente acordou, Lupicínio finalmente foi conversar com ele. 
Preocupado o homem fez ao filho as mesmas perguntas que fizera a nora.
Francisco, respondendo que ele não tinha com o que se preocupar, comentou que dentro em breve estaria pronto para outra.
Isso porém, não foi o suficiente para convencer Lupicínio de que estava tudo bem.
Não fosse ele observar o cuidado com que Ana Lúcia cuidava dele, certamente aceitaria a oferta da moça. 
No entanto, percebendo que Francisco estava em boas mãos, Lupicínio achou por bem deixar os dois a sós. 
Outra pessoa vivendo naquela casa naquele momento, só iria atrapalhar o entendimento dos dois.
Nisso, conforme os dois passaram, foi a vez dos pais da moça, visitarem-no. 
Petrônio e Amanda desejando-lhe melhoras, comentaram que ficaram deveras preocupados ao saberem do acidente.
Francisco ao ouvir isso, respondeu que não havia com o que se preocupar.
Diante disso, Fernanda que havia discutido com o rapaz, pediu para o marido fazer as honras da casa.
Rubens então, ao visitar o enfermo, dizendo que Fernanda estava em casa cuidando dos filhos, encontrou a desculpa perfeita para justificar a ausência dela.
Francisco, também não fazia questão de sua visita. 
Contudo, agradeceu Rubens pela atenção dispensada.
Com isso, conforme Francisco se recuperava do acidente que sofrera, percebendo que estava em falta com a família da esposa e com a sua própria, resolveu combinar com Ana
Lúcia, as visitas que fariam às duas casas nos próximos dias.
E assim, sentindo-se cada vez melhor, Francisco decidiu visitar primeiramente a família de Ana Lúcia.
Ao visitar os sogros, Francisco foi muito bem recebido.
Como era de se esperar, Amanda se esmerou na recepção.
E assim Ana Lúcia e Francisco passaram um dia inteiro na casa dos sogros.
Dias depois, visitando o pai, Francisco fez questão de deixar Ana Lúcia à vontade.
Lupicínio percebendo que a moça estava disposta a ter uma boa convivência com seu filho, a tratou muito bem durante a visita. 
Muito embora não soubesse organizar uma recepção, com a ajuda de seus empregados, Lupicínio conseguiu fazer com que a moça se sentisse em casa.
Com isso, antes de retornar para casa, Lupicínio fez questão de que o casal levasse um pouco de comida.
Ana Lúcia, percebendo a gentileza do sogro agradeceu o gesto, e sem pestanejar, aceitou levar uma cumbuca repleta de comida para casa.
Foi exatamente o que ela e o marido jantaram no dia seguinte.
Semanas depois, Ana Lúcia insistiu para que eles também visitassem a irmã. 
Dizendo que não gostaria de deixar de vê-la, a moça acabou o convencendo a fazer a visita.
Isso por que, muito embora ele não simpatizasse com Fernanda, ao saber que vê-la era importante para Ana Lúcia, Francisco acabou acompanhando-a quando fizera a visita.
E assim, conforme os dois se entendiam, mais Ana Lúcia impunha sua vontade.
Francisco, feliz com a boa convivência com a moça, nem sequer percebia que era isso o que vinha acontecendo. 
Feliz por poder ter uma vida de casado de verdade, há muito tempo deixara de visitar Constantine, que irritada com sua ausência, prometeu se vingar.
A cortesã, comentando com Madame Francine que nunca antes fora rejeitada, alegou que encontraria uma forma de acertar suas contas com Francisco – o grande canalha.
Madame Francine, ao perceber a gravidade da situação, bem que tentou convencer a cortesã a desistir da idéia.
Mas qual o quê! 
Cada vez mais irritada, Constantine só pensava em encontrar uma forma de se vingar de Francisco.
De nada adiantava Madame Francine argumentar dizendo que ele não prometera nada a ela.
Constantine estava resolvida a vingar-se do rapaz. 
E assim, pensando em uma estratégia, passou um longo tempo, amadurecendo a idéia.
Nisso Francisco, que já havia até se esquecido de seus encontros com a ex-amante, aproveitava todos os momentos livres que tinha para ficar com a esposa.
E estando a sós com Ana Lúcia, Francisco aproveitava para fazer com ela longos passeios. 
Apaixonado pela mulher, aproveitava também para ficar a sós com ela em sua alcova.
Com isso se nota que o relacionamento dos dois estava indo muito bem.
Contudo, essa aparentemente inabalável felicidade não perduraria.
Isso por que, Francisco, apesar de extremamente apaixonado pela esposa, era igualmente muito ciumento.
Por isso mesmo, certa vez, ao passearem novamente pelas ruas da cidade, como faziam com certa freqüência, Francisco, ao perceber que alguém os observava, pensando se
tratar de algum admirador de Ana Lúcia, pediu para que a mesma apressasse o passo.
A moça porém, dizendo que não podia correr, usando as roupas que estava usando, acabou por aborrecê-lo.
Francisco então, segurando-a pelo braço, passou a correr e a arrastá-la.
Ana Lúcia que não compreendia o que estava acontecendo, bem que tentou obter uma explicação, mas Francisco, gritando com ela, pediu para que a mesma corresse.
Sem ter alternativa a moça começou a correr. 
A certa altura porém, sem ter como acompanhar o marido, Ana Lúcia pediu para que ele parasse a carreira. 
Dizendo que estava cansada, a moça desvencilhou-se dele e sentou-se num banco da praça.
Irritado, ao ver que a mulher parou para descansar, Francisco tornou a segurar seu braço. 
Dizendo que eles precisavam voltar para casa, o rapaz exigiu que ela se levantasse.
Ana Lúcia, dizendo que estava cansada, bem que tentou resistir a ordem, mas Francisco levantando-a abruptamente, acabou por lhe ocasionar uma vertigem.
Um estranho, ao ver a cena, aproximou-se para auxiliá-los.
Francisco irritado porém, interpretando mal o gesto, rechaçou o rapaz, que mesmo diante da atitude hirsuta do mesmo, continuou a oferecer seus préstimos.
Antônio, preocupado com o estado de Ana Lúcia, ofereceu-se para levá-los em sua charrete de volta para casa.
Nesse instante, Francisco, lembrando-se do incidente ocorrido no Teatro Municipal, começou a dizer:
-- Então é o senhor!
Antônio, percebendo que o rapaz o reconhecera, comentou que a moça estava precisando de ajuda.
Francisco, percebendo que Ana Lúcia mal se agüentava em pé, resolveu aceitar a oferta.
Assim, Francisco voltou para casa. 
Contrariado, Francisco, ao ver que Antônio se oferecia para levar Ana Lúcia para dentro da casa, fez questão de deixar bem claro que não gostou da maneira como ele se intrometera na conversa dos dois.
Antônio, desculpando-se então, acabou cometendo uma indiscrição. 
Dizendo que
mulher nenhuma merecia ser tratada daquela maneira, recomendou que Francisco tivesse cuidado ao conversar com a moça, já que ela não tinha culpa de nada.
Francisco irritado, respondeu:
-- Pois bem! Pode ir embora! E não volte nunca mais aqui, por que aqui quem manda sou eu. Cuide de sua vida!
Antônio, percebendo que não adiantava discutir, acabou saindo dali.
Com isso, entrando em casa, Francisco pediu para que Estér acompanhasse Ana Lúcia até seu quarto.
Em seguida, chamou o médico.
Quando o doutor chegou à casa de Francisco, ao saber que Ana Lúcia tivera que correr pelas ruas da cidade, repreendeu o rapaz. Dizendo que isso não era modo de se tratar uma
pessoa, o médico comentou que ela não podia ficar por aí correndo, ainda mais em seu estado.
Francisco, tentando então explicar por que procedera desta forma, só conseguiu obter mais reprovação pelo seu gesto.
No entanto, pedindo ao doutor para que não contasse ao nem seu pai nem ao pai da moça o que havia ocorrido, Francisco acabou convencendo-o a assim proceder.
Todavia, o médico, dizendo que o rapaz devia desculpas a moça, recomendou que o ele passasse a se controlar mais.
Francisco mais uma vez prometeu cumprir com o prometido.
...
Mais tarde, Antônio, procurando saber como Ana Lúcia estava, chamou Estér e perguntou a ela se a mesma trabalhava há muito tempo na casa.
Desconfiada a mulher respondeu que sim.
Em seguida, perguntando sobre Ana Lúcia, Antônio acabou ouvindo uma bronca. 
Isso por que Estér, dizendo que isso não era problema dele, comentou que se ele realmente queria o bem da moça, que nunca mais voltasse ali.
Antônio porém, insistindo em saber algo mais sobre o estado de Ana Lúcia, acabou descobrindo que ela não passara bem por conta de sua gravidez.
Ao ouvir isso, o rapaz agradeceu a informação e partindo, sumiu do campo de visão de Estér. 
Decepcionado por saber que a moça esperava um filho de Francisco, Antônio, surpreso com a novidade, fez de tudo para deixar aquela história de lado.
Isso por que, encantado com a moça, Antônio tentou de todas as formas possíveis reencontrá-la. 
Mesmo sabendo que ela era casada, já que só este fato justificava a reação de Francisco na saída do Teatro Municipal, Antônio já havia se encantado pela moça.
Seu pai, ao saber da novidade, não ficou nem pouco satisfeito. 
Isso por que, a história da discussão que seu filho tivera com Francisco, logo chegou ao seu conhecimento. 
Muito ele embora não soubesse o nome do rapaz que agredira o filho, Antunes, sabia perfeitamente, que se ele continuasse a insistir naquela história, as coisas não acabariam bem para ele.
Antônio porém, sem levar em consideração as palavras do pai, só fazia pensar na moça.
Para desespero de seu pai, que passou a chamá-lo de desavergonhado.
Antônio, contudo, bem que tentou se explicar. 
Dizendo que as pessoas não escolhiam a quem amar, o mancebo tentou justificar o fato de ter se interessado por uma mulher casada.
Contudo, por mais que tentasse explicar isso ao pai, nada o convencia de que ele poderia estar certo.
Por isso, mesmo Antunes chegou até a cogitar que o filho, passasse algum tempo longe da cidade.
O rapaz ao ouvir isso, porém, rebelou-se. 
Dizendo que não seria compelido a deixar a cidade, Antônio desafiou o pai. 
Alegando que tinha trabalho e que podia manter-se sozinho, deixou Antunes sem ação.
Desesperado, Antunes não sabia mais o que fazer. 
Isso por que, cada dia mais, Antônio ficava obcecado com a idéia de reencontrar a moça.
Em razão disso, nos últimos dias, o rapaz passou a chegar cada vez mais tarde no trabalho.
Isso por que, Antônio preocupado com a situação de Ana Lúcia, apesar dos pedidos de Estér, diversas vezes retornou ao lugar. 
Tentando entrar na casa, ficava sempre esperando Francisco sair. 
Insistente, vivia pedindo para as empregadas o deixarem entrar na casa para conversar com a moça.
Mas Estér, ao ver Antônio rondando a casa, recomendou as criadas, para que não o deixassem falar com Ana Lúcia.
As empregadas então, acatando as ordens de Estér, não o deixavam se aproximar da moça. 
Sempre dizendo que a moça não estava em casa, as criadas tentaram de tudo para afastá-lo.
Mas Antônio era teimoso o suficiente para insistir. 
Foi assim que ele descobriu que a moça estava sim na residência.
Certa vez, voltando do centro da cidade, depois de fazer algumas compras, Ana Lúcia foi interpelada pelo rapaz.
A moça porém, sabendo que aquele encontro poderia lhe causar problemas, preferiu evitá-lo. 
Dizendo que tinha pressa, tentou entrar em casa, mas este, segurando seu braço, comentou que precisava conversar com ela.
Estér, percebendo a complicada situação de Ana Lúcia, resolveu intervir. 
E assim, auxiliando-a a entrar na casa, despachou Antônio que contrariado, prometeu voltar.
O rapaz sequioso de entabular um colóquio com a moça, a qual nem sabia o nome, perdera o bom senso. 
Sem se dar conta do quão estava sendo inconveniente, o jovem mancebo, agora fazia de tudo para se aproximar de Ana Lúcia.
Assim, sempre que Francisco saía para trabalhar, Antônio, atento, aproveitava para rondar a casa e bisbilhotar seu interior. 
Certo dia, andando pelos arredores percebeu a moça caminhando em direção ao jardim. 
Ao vê-la Antônio tentou chamá-la.
Ana Lúcia porém, distraída que estava, nem percebeu que estava sendo observada pelo estranho. 
Confiante de que o rapaz não mais apareceria, mais tarde, a moça acabou tomando conhecimento de que o mesmo certa vez perguntara por ela.
Ana Lúcia, ao saber disso, quis logo saber o que ele queria. 
As criadas porém,
percebendo que haviam falado demais, comentaram então que ele só queria saber se ela estava bem.
Estér, ao saber que a história chegara aos ouvidos de Ana Lúcia, repreendeu severamente as duas empregadas. 
Comentando que isto poderia causar problemas para a moça, Estér avisou-as para que não mais tocassem neste assunto com ela, e muito menos com Francisco.
As criadas, ao perceberem a gravidade da situação, prometeram não tocar mais no assunto.
...
Antônio porém, continuava a insistir. 
Por isso, todo dia batia na porta da casa da moça para tentar falar-lhe.
As criadas, orientadas por Estér, todavia, sempre falavam que a moça não estava.
Antônio porém, não acreditava em suas palavras. 
Irritado, a certa altura, cansado de ouvir nãos, chegou até a ameaçar entrar à força na casa.
Estér ao ficar sabendo disso, comentou com as empregadas, que se ele fizesse o que estava prometendo acabaria sendo preso.
Por esta razão, recomendando que as duas criadas a chamassem quando ele aparecesse novamente, as mulheres concordaram.
Com isso, quando Antônio mais uma vez apareceu por lá, Estér, ao vê-lo, avisou-o:
-- Se o senhor não sumir daqui, eu não vou ter outra alternativa senão chamar a polícia.
Antônio, percebendo a seriedade do tom de Estér, acabou se afastando por algum tempo. 
Depois porém, abusadamente, continuou a rondar a casa de Ana Lúcia.
Sempre inconveniente, Antônio continuou a procurar pela moça. 
Dizendo que o que tinha a dizer-lhe era muito importante, certa vez, acabou aparecendo na pior hora.
Isso por que Francisco, retornando do trabalho mais cedo, acabou vendo Antônio.
Furioso, ao perceber que o rapaz, continuava a cercar sua mulher, Francisco foi até a rua tomar satisfações.
Estér, percebendo que aquela história não terminaria bem, tentou convencer Francisco a não ir até lá. 
Dizendo que chamaria a polícia, tentou demover, em vão, o rapaz da idéia de se acertar com Antônio.
Francisco no entanto, estava determinado a acertar suas contas com o mancebo.
Alegando estar cansado da insistência do rapaz, Francisco comentou que ele estava precisando de uma lição.
Estér ao ouvir isso, ficou apavorada. 
Todavia, o que podia fazer?
Assim, Francisco foi até a rua.
Antônio, ao contrário do que se poderia imaginar, permanecia próximo a residência.
Francisco, ao perceber a petulância do rapaz, foi logo perguntando, em um tom extremamente agressivo:
-- O que o senhor pensa que está fazendo?
Antônio, calmamente respondeu:
-- Estou esperando para conversar com a moça.
-- Ah! A minha esposa? Posso saber por quê?
-- Claro! Eu vim aqui para saber se ela está bem. Se não está precisando de ajuda. – respondeu Antônio.
-- Ajuda? Pra quê? – perguntou Francisco intrigado.
-- E o senhor ainda pergunta? O senhor acha que agindo com brutalidade está tratando bem sua mulher?
Francisco ao ouvir isso, irascível, respondeu:
-- O senhor está passando dos limites.
Antônio, no entanto, sem medir as conseqüências de sua atitude, continuava a insistir:
-- Não. Não estou não. O senhor bem o sabe. Também não estou aqui para desrespeitá-lo, ou passar por cima de sua autoridade. Eu só quero saber se está tudo bem com ela. Soube
que ela está grávida, e em assim sendo não é bom que o senhor a trate desse jeito.
Francisco irritado, respondeu:
-- O senhor cuide de sua vida.
Antônio irritado, acabou respondeu que se importava com a situação da moça. 
Por isso insistia em vê-la.
Francisco todavia, aborrecido com a impertinência do rapaz, passou a empurrá-lo.
Desafiando-o para um duelo, Francisco, passara a agredi-lo. 
Acreditando que assim, conseguiria forçá-lo a um duelo, Francisco cansou-se de esmurrá-lo.
Antônio, dizendo que não estava ali para brigar, comentou que não seria com brutalidade que ele o convenceria a não voltar ali.
Francisco então, percebendo que mesmo agredindo-lhe nada o faria desistir da idéia de permanecer ali, perguntou-lhe se gostaria de passar alguns dias na cadeia.
Antônio, ao ouvir isso, respondeu então:
-- No estado em que me encontro, é mais fácil eu mandar o senhor passar alguns dias na cadeia do que o contrário. Sim por que, os policiais, ao me verem nesta situação, logo me
perguntarão o que foi que me aconteceu. Se assim o for, o que eu poderei responder, não é mesmo?
Francisco percebendo que Antônio não era um simplório cidadão, recuou. 
No entanto, sequioso de que ele sumisse dali, exigiu que fosse embora em paz.
Antônio ao ouvir as palavras de desprezo de Francisco, respondeu visivelmente irritado que não iria sair dali sem antes vê-la.
Ao ouvir as palavras do rapaz, Francisco intrigado, passou a perguntar:
-- O que o senhor tem com minha mulher?
Antônio, percebendo que Francisco ficara desconfiado, tentou esclarecer a situação.
Dizendo que estava preocupado com ela, Antônio respondeu que se a moça não podia recebê-lo agora, poderia perfeitamente voltar outro dia.
Ao ouvir isso Francisco, ficou ainda mais desconfiado. 
Acreditando que a esposa recebia-o quando ele não estava em casa, Francisco segurou Antônio pelos colarinhos e jogou-o no chão. 
Em seguida, procurando pela esposa, entrou em casa. 
Seus berros davam para ser ouvidos da rua.
Antônio percebendo que provocara uma confusão, tentava encontrar uma forma de entrar na casa.
Estér, ao ver o ar de irritação de Francisco, fez questão de deixar bem claro que o rapaz nunca trocara sequer uma palavra com Ana Lúcia.
Francisco contudo, não acreditou nas palavras da criada. 
Antônio percebendo que provocara uma confusão, tentava encontrar uma forma de
entrar na casa.
Francisco contudo, não acreditou nas palavras da criada. 
Dizendo que todos naquela casa o estavam enganando, ao perceber que a moça não estava em casa, passou a procurá-la pelo jardim.
Estér, tentou segui-lo, mas este, dizendo que se entenderia depois com a criadagem, comentou que agora precisava encontrá-la.
Estér temendo que o mesmo agredisse Ana Lúcia, tentou uma última vez convencê-lo a agir com calma, já que a moça não tinha culpa de nada.
Francisco porém, tomado de ódio, não aceitou o conselho da criada. 
Assim, ao encontrá-la distraída, observando uma flor que havia aberto recentemente, o rapaz mandou a mesma se levantar.
Ana Lúcia, distraída, se assustou. 
Todavia, percebendo o ar de gravidade do marido, não discutiu suas ordens. E assim, assustada, levantou-se.
Nisso Francisco, irritado, comentou a gritar. 
Dizendo que já sabia de tudo, perguntou-lhe há quanto tempo ela vinha se encontrando com o sujeitinho.
Ana Lúcia sem entender o que estava acontecendo, nada respondeu.
Para quê? 
Sua inércia só serviu para deixar Francisco ainda mais irritado.
De tão furioso, o rapaz segurou a moça pelo braço. 
Dizendo que eles tinham muito o que conversar, Francisco arrastou Ana Lúcia até a casa.
A moça, assustada, bem que tentou se desvencilhar de Francisco, debalde.
Ao entrar em casa, Francisco empurrou-a. 
Com isso, Ana Lúcia acabou indo ao chão.
Francisco furibundo, passou então a perguntar-lhe se aquele filho que ela estava esperando era dele.
Ana Lúcia sem entender o que estava acontecendo, perguntou por que ele estava lhe fazendo aquela pergunta.
Francisco, irritado, respondeu:
-- Aqui quem faz as perguntas sou eu. Então, responda o que eu te perguntei.
-- Mas é claro que é. – respondeu ela.
Francisco porém, duvidando da sinceridade da esposa, começou a gritar:
-- Mentira! Como a senhora pode ser tão pérfida!
Ana Lúcia ao ouvir as palavras de descrédito de Francisco, bem que tentou se explicar, mas este furioso e cego de ódio, não queria saber de explicações. 
Crente de que havia sido traído pela esposa, mesmo sem ter provas disso, Francisco arrastou-a até o quarto.
Ao chegar lá, o rapaz comentou que ela pagaria pelo mal que lhe fizera.
Ana Lúcia, chorando, bem que tentou se explicar. 
Dizendo que ela nunca vira antes aquele rapaz, comentou que os dois nunca conversaram.
Francisco porém, dizendo que o sujeito era insistente demais para ele acreditar que ela não lhe dera esperanças, comentou que eles estavam se encontrando escondidos. 
Quem sabe até com a conivência dos empregados.
A moça ao ouvir isso, percebeu que de nada adiantava se explicar. 
Constatando que Francisco estava convencido de sua desonestidade, Ana Lúcia calou-se.
Com isso, o rapaz, dizendo que não queria vê-la em sua frente, resolveu trancá-la no quarto.
Furibundo, precisava pensar.
Nisso, chamou a criadagem. 
Dizendo que estavam dispensados, Francisco comentou que eles tinham uma semana para saírem da casa.
Estér, e o cocheiro tentaram questionar a ordem, mas Francisco estava decidido.
O rapaz, dizendo que havia perdido a confiança neles, afirmou que nada o faria mudar de idéia.
Assim, os criados perceberam que não podiam fazer mais nada. 
Por isso, passaram a fazer as malas.
Francisco então percebendo que Antônio permanecia diante da casa, enervado, foi até a rua e dizendo para ele sair dali, comentou que se ele não o fizesse, acabaria com sua vida.
Antônio, teimoso, respondeu que não sairia dali.
Francisco furioso, investiu contra o rapaz e pronto para lhe agredir novamente, não fossem os apelos de Estér para que o deixasse ir, Antônio teria apanhado ainda mais.
Mesmo assim, Antônio ainda tentou enfrentar Francisco.
Estér porém, dizendo que ele só estava complicando a situação de Ana Lúcia, acabou por convencê-lo a partir. 
Depois, procurando convencer Francisco a entrar na casa, tentou de todas as maneiras possíveis, explicar que aquele rapaz era um louco e que Ana Lúcia nunca o vira antes.
Mas Francisco sentindo-se atraiçoado, respondeu a criada, que tudo o que ela lhe dizia era mentira. 
Comentando que já o vira quando ele e Ana Lúcia freqüentaram o Teatro Municipal, Francisco alegou que os dois já vinham se encontrando há muito tempo. 
Tanto tempo, que já perderam até a vergonha. 
Tanto tempo, que o amante dela vivia rondando a casa.
Desolado, Francisco passou a dormir em outro quarto da casa, deixando Ana Lúcia sozinha.
Pensando em uma maneira de se vingar da moça, Francisco passou a cada vez mais torturá-la com suas desconfianças.
Tentado obter uma confissão de Ana Lúcia, Francisco acabou conseguindo deixá-la doente.
Desesperada e cansada de sofrer tanta desconfiança, Ana Lúcia tentou novamente fugir dali.
Certa vez, ao ver Francisco tentando abrir a porta do quarto, Ana Lúcia, munida de um vaso, escondeu-se atrás da porta. 
Assim, quando Francisco entrou no quarto, ela acertou o vaso em sua cabeça. 
Em seguida correndo, alcançou as escadas.
Uma das criadas percebendo que Ana Lúcia tencionava fugir, tentando impedi-la, subiu as escadas.
Ana Lúcia porém, desejando sair daquele lugar, lutou contra a criada. 
Em dado momento, perdendo o equilíbrio, acabou por cair da escada.
...
Quando Francisco, devidamente atendido, acordou, logo tomou conhecimento do ocorrido. 
Sua esposa, ao descer as escadas, acabou por perder o equilíbrio. 
Em razão disso, a moça foi hospitalizada.
O rapaz ao saber disso, apesar de toda sua mágoa, logo perguntou como ela estava.
O médico dizendo que Ana Lúcia abortara, deixou Francisco transtornado. 
Mesmo tendo dúvidas a respeito da paternidade da criança, o rapaz, analisando a situação, começou a perceber que seria pouco provável que ela tivesse um amante.
O doutor, já ciente do que se sucedera na mansão onde vivia o casal, censurou a conduta do mancebo. 
Dizendo que ele havia ultrapassado todos os limites, o médico comentou que dificilmente a moça o desculparia pelo que aconteceu.
Francisco então, percebendo que se excedera, quis logo visitar a esposa no hospital.
O médico no entanto, dizendo que ainda não era hora para visitas pediu para que o mesmo tivesse paciência.
Nisso os vizinhos, ao saberem da briga que Francisco tivera com um estranho que rondava a casa, lhe deram razão por ter agido daquela maneira. 
Maldosos, chegavam até a se perguntar, se ele não fora ele mesmo quem derrubara a mulher da escada, desconfiado de que o filho que ela esperava não fosse dele.
Sim por que, os vizinhos, ao notarem aquele rapaz tentando se aproximar da moça, chegaram a desconfiar de que havia algo entre os dois. 
Estava instalada a maledicência.
Nisso Antônio, ao saber que a moça estava hospitalizada, percebeu que aquela era uma boa oportunidade para livrá-la daquela vida tormentosa que estava vivendo. 
Ciente do temperamento violento do rapaz, Antônio, planejou tirá-la do hospital.
Subornando funcionários do lugar, Antônio acabou logrando êxito em seu desiderato.
Com o auxílio destes, foi apenas uma questão de tempo, para conseguir tirar a moça dali.
Cuidadoso, Antônio planejou todos os detalhes do sequestro.
Procurando descobrir o nome da moça, do marido, e tudo o mais que interessava, o rapaz acabou se utilizando do serviço de terceiros. 
Com isso, de posse das informações necessárias, Antônio organizou um plano de fuga. 
Detalhista, chegou até a pensar no caminho que faria para tirar a moça dali. 
Cuidadoso, Antônio preparou com todo cuidado as malas para esta viagem.
Antunes, seu pai, percebendo que ele tencionava partir, perguntou logo para onde estava pensando em ir.
Antônio respondendo que pretendia ficar algum tempo em São Paulo, causou espanto em seu pai, que já cansado de lhe sugerir viagens, ficou surpreso com a notícia.
Assim, inicialmente satisfeito com a novidade, Antunes, ao perceber que Antônio estava planejando algo, ficou bastante preocupado. 
Todavia, sempre que tentava descobrir algo sobre os planos do filho, Antônio logo desconversava.
Mas de nada adiantava.
Isso por que Antunes, vivido que era, sabia muito bem que a referida moça casada provavelmente estava envolvida naquela confusão. 
Assim acreditando se tratar de um plano para que os dois fugissem, Antunes fez de tudo para demover o filho da tresloucada idéia.
Inutilmente porém.
Antônio, dizendo estar cansado de tanto bom senso, comentou que a moça precisava de sua ajuda.
Antunes, censurando o filho comentou desapontado:
-- E você meu filho vai atrás de uma sujeita, uma mulher que você nem sabe o nome!
O mancebo ao ouvir isso, respondeu que isso não importava. 
Comentando que cedo ou tarde descobriria o nome da moça, Antônio achou por bem não revelar o que sabia.
E assim, os dias se passaram.
Na primeira oportunidade que teve, Antônio aproveitou para executar o plano.
Com isso, quando finalmente arrebatou a moça do hospital, meteu-se numa carruagem e rumando em direção a outra cidade, se evadiu.
Nisso, desacordada, a moça só foi perceber o que havia se sucedido longe dali. 
Ainda convalescente, Ana Lúcia bem que tentou voltar para o hospital, mas sem forças, acabou tendo que aceitar o auxílio de Antônio. 
Tristonha a moça respondeu que se aceitasse sua ajuda, abandonaria qualquer possibilidade de vir a se encontrar novamente com a família.
Antônio ao ouvir isso, respondeu que se eles realmente se importavam com ela, jamais deveriam tê-la se casado com um homem tão irascível quanto Francisco.
Ana Lúcia ao ouvir isso, não gostou nem um pouco do comentário. 
Dizendo que sua família se importava sim com ela, comentou que eles viviam preocupados com vida.
Antônio contudo não acreditava nas boas intenções dos pais dela. 
Por isso mesmo resolveu tirá-la dali. 
Dizendo que ela merecia uma vida melhor, pouco a pouco, foi mostrando-lhe o quanto tudo poderia ser bom. 
Atencioso, depois de sequestrá-la, percebendo que a mesma precisava de cuidados médicos, fez questão de que a ela ficasse hospitalizada por mais alguns dias.
Ana Lúcia, ao se ver em meio a tão confusa situação, exigiu explicações.
Antônio explicou-lhe então. 
Dizendo que desde que a vira no Teatro Municipal da cidade se encantara por ela, Antônio explicou que ao saber que era maltratada pelo marido, quis logo ajudá-la. 
Porém, toda que vez que tentava se aproximar era mal interpretado. 
Diante disso, não lhe restou outra alternativa a não ser o sequestro.
Ademais, Antônio comentou, que se o marido dela ainda tinha alguma dúvida sobre um provável relacionamento dos dois, agora não tinha mais nenhuma. 
Explicando-lhe que se ela retornasse ele também teria que ir junto, Antônio revelou que se assim procedessem os dois certamente seriam mortos. 
Por fim, dizendo-lhe que eles não poderiam continuar no Brasil, Antônio insistiu para que ambos fossem para outro lugar. 
Um ambiente mais seguro para eles.
Sem alternativas, Ana Lúcia acabou aceitando. 
Não sem antes criticar sua conduta e muitas vezes considerá-lo um louco.
Mesmo assim, depois da recuperação de Ana Lúcia, os dois tomaram um vapor para a Europa.
Nisso, Francisco revoltado com a fuga, passou a procurá-la por todos os lugares.
Contudo, quando ele descobriu que a mesma fora sequestrada pelo sujeitinho que causara a grande confusão que se tornara sua vida, Francisco ficou tomando de um profundo ódio.
Dizendo que quando o encontrasse o reduziria a nada, comentou que viveria para se vingar.
Seu pai, ao ouvir as palavras do filho, ficou muito preocupado. 
De tão preocupado, chegou até a desejar que Francisco nunca se encontrasse com o tal sujeitinho.
Diante disso, envergonhados com ocorrido, Petrônio chegou a dizer a Lupicínio que agora só tinha uma filha.
Amanda também, não se conformava com o fato de Ana Lúcia ter fugido.
Fernanda ao saber de toda história, chegou a comentar que Ana Lúcia estava se adaptando a vida de casada. 
Assim, não fazia o menor sentido aquela história de sequestro.
Confiante na inocência da irmã, Fernanda insistia em dizer que Ana Lúcia nunca traíra Francisco.
Petrônio ao ouvir isso, censurou a filha. 
Dizendo que eles não tinham motivos para duvidar da palavra de Francisco, Petrônio exigiu que Fernanda parasse de criticar o cunhado.
Contrariada Fernanda acabou concordando. 
Dizendo que se a irmã não se estava ali para se defender, era por que de nada adiantaria mesmo, comentou que Ana Lúcia devia estar melhor com o estranho. 
Tanto, que ela chegou a desejar que a irmã se acertasse com o sujeitinho. 
Alegando que o tal sujeito devia gostar muito dela para fazer o que fez, Fernanda comentou que estava feliz pelo fato de a irmã ter-se livrado de Francisco.
Petrônio ao ouvir as palavras da filha, repreendeu-a, mas Fernanda comentou que ninguém a faria pensar de maneira oposta.
Assim, seu pai desistiu de tentar convencê-la do contrário.
Persistente Fernanda jamais aceitaria o fato de Francisco ter acusado a irmã de algo que ela tinha a certeza que não fizera. 
De tão inconformada com a atitude do cunhado, Fernanda chegou até a enfrentá-lo certa vez, quando ele lhe disse que Ana Lúcia além de desonesta era ingrata. 
Isso por que, descontente com o comentário, a moça passou a dizer claramente que a única pessoa que agira mal em toda aquela história fora ele. 
Alegando que desde o início ele se portara muito mal com Ana Lúcia, Fernanda respondeu que ele não era homem para ela.
Ao ouvir isso Francisco irritado quase agrediu a moça. 
Não fosse a intervenção de Petrônio e certamente o pior ocorreria.
Quem não ficou nem um pouco contente com toda essa história foi Rubens que foi logo tomar satisfações.
Nisso, Francisco aborrecido com o que sucedera, por pouco não brigou com o rapaz, que furioso com ele, estava disposto a chegar as vias de fato.
Lupicínio foi quem aparteou os dois e impediu a briga.
Contudo, muito embora uma grande briga tivesse sido evitada, o maior estrago já fora feito. 
Isso por que, depois deste desentendimento, nunca mais um visitou a casa do outro.
Com isso, conforme as coisas foram se precipitando, Rubens, cansado de ver o nome de sua família ser enxovalhado, pediu transferência no exército e despedindo-se dos sogros,
mudou-se com sua mulher e filhos para outra cidade.
Tristes com a situação, Petrônio e Amanda entenderam a posição do genro, que queria preservar a ele e sua família de todo aquele escândalo.
Sim, por que em razão do sumiço de Ana Lúcia, e do nome de Francisco estar envolvido, todos na cidade já sabiam da falsa história. 
Muito embora Francisco tenha posado como vítima, ser apontado por todos como um homem traído, era para ele e seu pai uma grande vergonha. 
Em razão disso, Francisco tomado de ódio só queria saber de vingança.
Tomado de ódio, passava todo o tempo fora da cidade, procurando Ana Lúcia e o estranho. 
De tão obcecado com sua vingança, Francisco, acabou por descobrir o nome do sujeito. Antônio. 
Ao saber seu nome, Francisco quis logo tomar satisfações com a família do rapaz.
Antunes, ao ver Francisco à sua frente, quis logo saber o que ele queria. 
Quando o rapaz respondeu ser Antônio o responsável por toda a confusão que se abatera sobre sua vida, foi logo perguntando onde ele estava.
Antunes ao se ver em tão embaraçosa situação, pensou um pouco para responder.
Assim, chegou a conclusão de que aquela situação esdrúxula, não cabia a ele resolver. 
Por esta razão, notando que o rapaz estava sendo inconveniente, Antunes tratou logo de mandar-lhe embora dizendo:
-- Se o senhor não sabe onde sua esposa está, como é que eu vou saber?
Dito isto, entrou em sua casa e fechou a porta.
Francisco irritado com a atitude de Antunes, bem que tentou tomar satisfação, mas depois de algum tempo batendo na porta, ao cair em si, percebeu que ele também não sabia do paradeiro do rapaz.
Assim, sem outra escolha Francisco voltou para sua casa.
...
Nisso, Ana Lúcia e Antônio rumando para a Europa, apreciavam todo o conforto de uma viagem de transatlântico na primeira classe. 
Instalados com todo o luxo e requinte numa das melhores cabines do navio, o rapaz não se cansava de tentar agradar Ana Lúcia.
Apesar do atropelo do início, Antônio vivia a dizer que ele não era igual a seu marido.
Ana Lúcia sempre que ouvia isso ficava tristonha. 
Isso por que tais palavras, a faziam lembrar-se do filho que havia perdido em razão do ciúme excessivo de Francisco. 
Magoada, ao ouvir pela enésima vez o mesmo assunto, Ana Lúcia pediu para que ele não tocasse mais nesse tema. 
Dizendo que seu marido estava morto para ela, Ana Lúcia pela primeira vez demonstrou que gostaria de mudar de vida.
Muito embora no início estivesse relutante em aceitar a companhia de Antônio, com o passar do tempo, depois da longa viagem de navio que fizera ao seu lado, de todas as vezes
que eles andaram juntos pelo Porto, por Coimbra, Paris, e outras tantas cidades da Europa, Ana Lúcia acabou por perceber que o rapaz diferia e muito de seu marido.
Sempre gentil e atencioso, Antônio estava disposto a acompanhá-la em todos os lugares que ia. 
Além disso, não era ciumento como Francisco.
Ana Lúcia, descobriu isso, quando certa vez, passeando nos Champs Elysées, um homem que vinha a observando há um certo tempo, e ao vê-la a sós, foi logo lhe elogiando.
Antônio ao ver a cena, tratou logo de se aproximar dela. 
Porém, ao invés de esbravejar e colocar o homem para correr, simplesmente comentou em um bom francês, que ela era sua esposa, e que apesar de ficar muito lisonjeada com o elogio, ela gostava muito dele.
Ana Lúcia que conhecia um pouco do idioma francês, achou graça nas palavras de Antônio, dizendo ao homem que ela era casada e estava apaixonada por ele.
Antônio, brincalhão logo perguntou:
-- E não está?
Ana Lúcia riu da brincadeira.
Assim foi durante toda a viagem. 
Sempre agradável, mesmo quando tinha ciúmes, Antônio conseguia ser gentil. 
Atencioso, não poupava esforços para agradar Ana Lúcia.
Por isso Antônio passou um longo tempo viajando com a moça.
Quando finalmente se instalaram em Portugal, Antônio, procurando proteger Ana Lúcia, sugeriu a eles que mudassem seus nomes. 
Assim, ficaria praticamente impossível para alguém os encontrar.
Ana Lúcia concordou. 
Assim, Ana Lúcia passou a chamar-se Lúcia Helena e Antônio, Valério.
Com isso, dizendo a todos que era casado com Lucinha, – a forma carinhosa pela qual a chamava – Antônio conseguiu convencer a todos.
E assim, durante longo tempo, os dois viveram tranqüilos.
Com a aceitação da moça em relação a sua pessoa, foi uma questão de tempo para que ela aceitasse viver com ele.
E assim, vivendo maritalmente com o agora Valério, a moça percebeu o quanto ele era diferente de seu marido, e o quanto um casamento poderia ser feliz.
Assim, em setembro de 1845, nasceu o filho do casal.
Muito embora não fossem legitimamente casados, para todos os efeitos, os dois contraíram núpcias.
Com isso, quando a criança nasceu, foi uma verdadeira alegria para ele. 
Desde o momento que soubera, que a agora, Lúcia Helena estava grávida, Valério (Antônio) encheu-se de alegria. 
Prometendo a ela que nada de ruim iria acontecer, inadvertidamente o rapaz fê-la lembrar-se de momentos que ela gostaria de esquecer. 
Ao perceber a gafe, o mancebo quis logo se desculpar.
Por isso mesmo, ao saber que a moça ainda se perguntava por que ele havia olhado para ela no Teatro Municipal, o moço respondeu:
-- Por que desde o começo, eu vi em você algo que ninguém mais viu. Algo que talvez nem você mesma tenha visto.
Lúcia Helena ao ouvir isso, sorriu.
Valério (Antônio), ao ver a reação de sua querida mulher, comentou:
-- Por isso minha querida, se algum dia alguém te disse que você não merecia ser feliz, esse alguém não conhecia você de verdade.
Curiosa, Lúcia Helena quis saber o que ela tinha de tão especial.
Valério, dizendo que palavras nunca seriam suficientes para exprimir o que o encantara, comentou que ele ainda permanecia encantado, e que se isso era um feitiço, gostaria de ficar nesse estado de magia o resto de sua vida.
Lúcia Helena sem mais insistir, compreendeu então, que se aquele sentimento tinha um nome certamente era amor. 
E sendo amor, não podia ter nome mais terno.
Com isso, conforme os meses se passaram, percebendo a preocupação da moça, Valério se desdobrava entre seu trabalho e seus cuidados com ela. 
Como havia prometido cuidar dela, sempre que podia fazia-lhe companhia.
E assim, os dias passavam. 
Quando não estava em companhia de Valério, a moça aproveitava para ler.
Com isso, quando o filho do casal nasceu foi logo batizado de Alfredo. 
Na cerimônia da igreja, o menino recebeu o primeiro sacramento.
Feliz o casal fez questão de preparar uma pequena festa para apresentar o menino aos seus amigos.
Alguns anos depois, com Alfredo um pouco crescido, finalmente Valério (Antônio) encheu-se de coragem e escreveu para o pai. 
Na missiva o rapaz comentava que estava muito feliz com uma mulher muito especial e que já fazia alguns anos que ela lhe dera um menino.
Uma criança muito vivaz que o fazia lembrar-se dele (Antunes).
Decidido a manter contato com seu pai, o agora Valério, enviou a carta para o Brasil.
Ansioso, o rapaz aguardou por uma resposta.
Mal sabia ele o quanto de confusão, esta missiva provocaria.
Chegando ao endereço indicado, um criado de Antunes recebeu a carta.
Mais tarde, ao chegar em casa, depois de um longo dia de trabalho, finalmente Antunes recebeu a correspondência. 
Ao ler o remetente, qual não foi sua surpresa ao constatar que finalmente, depois de muitos anos, Antônio resolvera escrever para ele.
Emocionado, Antunes mal podia acreditar que era seu filho o autor da mensagem.
Trêmulo mal conseguia abrir a carta.
Por esta razão, nervoso que estava, pediu a um criado para que a abrisse.
Com isso o empregado abrir a epístola e em seguida devolveu-a às mãos de Antunes.
Ansioso, Antunes começou a ler carta.
Qual não foi sua surpresa ao saber que o filho lhe tinha dado um neto. 
Contudo, uma pergunta continuava sem resposta. 
O que teria sido feito da moça com quem ele fugira? 
Seria ela a mãe de seu neto?
Nervoso, Antunes achou melhor não pensar na última possibilidade. 
Feliz porém, com a novidade, saudoso, o mesmo guardou a carta do filho entre seus pertences.
Pensando no teor da missiva, Antunes só ficava sonhando em se encontrar com o filho. 
Por esta razão, depois de um longo tempo recluso em sua casa, finalmente Antunes resolveu viajar. 
Alegando ter negócios para cuidar, o homem viajou até Santos. 
Lá esperaria o vapor e embarcaria para a Europa.
Francisco, que apesar dos anos, não desistira de encontrar a esposa, vivia com a amante francesa, Constantine, na casa que fora de Ana Lúcia.
Desmoralizado perante toda a sociedade, Francisco não se importava mais com a reprovação das pessoas. 
Além disso, como a moça se comportava dignamente, Francisco vivia a dizer para todos, que tinha o direito de retomar sua vida.
Quando soube que Antunes viajara para Santos, ficou intrigado.
Isso por que, sabendo que o homem raramente se ausentava de seu lar, Francisco, chegou a pensar que algo muito importante devia estar acontecendo. 
Com isso, na tentativa de saber algo mais sobre a viagem, Francisco descobriu através de um dos empregados, que Antunes tinha ido resolver uns assuntos na Europa.
Ao ouvir isso, Francisco, mais do que depressa arrumou suas malas e partiu para Santos. 
Ao lá chegar, descobriu que o vapor no qual Antunes viajaria já havia partido.
Aborrecido, Francisco prometeu que descobriria onde vivia o desgraçado.
Contudo, ao perceber de que nada adiantava permanecer em Santos, retornou para casa. 
Ali, foi questão de tempo para que descobrisse, onde vivia Antônio.
Isso por que, por meio de um dos criados de Antunes, Francisco acabou descobrindo que o mesmo vivia em Portugal. 
Assim, de posse dessa informação, o rapaz, voltou a Santos.
Constantine, percebendo que o mesmo partira no encalço de Ana Lúcia, não ficou nem um pouco satisfeita. 
Aborrecida, ameaçou fazer um escândalo se ele a deixasse sozinha mais uma vez. 
Comentando que ela não gostava de sua obsessão, Constantine, obrigou-o a fazer uma opção.
Francisco sem paciência para discussões, partiu sem nem ao menos dar-lhe uma resposta.
Nisso, depois de algum tempo, o rapaz finalmente colocava os pés em terra firme.
Palmilhando todos os recantos de Portugal, Francisco só foi encontrar a esposa depois de meses de procura. 
Com isso, ao vê-la segurando uma criança pelas mãos espantou-se.
Chamando-a de Ana Lúcia, fez com que a mesma corresse dali.
Percebendo que a moça não falaria com ele, Francisco passou a correr em sua direção.
Desesperada a moça acabou se escondendo em um edifício próximo dali.
Francisco, percebendo que a moça estava encurralada, entrou na construção e passou a procurá-la.
Enquanto isso, a moça pedia para o filho não fazer nenhum barulho. 
Dizendo-lhe que em breve estariam a salvo, Lúcia Helena (Ana Lúcia) pedia-lhe silêncio.
Porém, Alfredo à certa altura, sentindo fome, cansado de ficar naquele lugar escuro, começou a chorar. 
Dizendo que queria voltar para casa, acabou por atrair Francisco que ao ver os dois escondidos, ameaçou a moça com uma arma.
Lúcia Helena (Ana Lúcia), sem ter outra alternativa, foi ao encontro de Francisco.
Porém, preocupada com o filho, pediu ao rapaz que não fizesse nada contra Alfredo.
Francisco ao ouvir o apelo da moça respondeu:
-- Curioso a senhora me pedir isso. Quando fugiste com aquele desclassificado, pensaste em como eu iria ficar?
Ao ouvir isso, bem que ela tentou se explicar, mas Francisco, irritado, comentou que não estava interessado em conversas tolas.
Levando ela e o filho para longe dali, Francisco passou a ameaçá-la.
Percebendo que Alfredo era sua moeda de troca, Francisco revelou que tencionava
levá-la consigo de volta para o Brasil.
À certa altura, Valério percebendo a demora de Lúcia Helena (Ana Lúcia) em voltar para casa, chamou alguns amigos para que estes o auxiliassem em sua busca.
...
No entanto, somente ao final de alguns dias é que o rapaz soube onde estava Lúcia Helena (Ana Lúcia).
Francisco, desejando vingar-se finalmente se apresentou ao moço.
Valério (Antônio) surpreso com a presença de Francisco, perguntou logo onde a esposa estava.
Antunes ao ver a cena ficou apavorado. 
Sabendo que Francisco estava ali para se vingar, tratou logo de intervir na questão.
Francisco, percebendo que Antunes defenderia o filho qualquer custo, mandou-o afastar-se.
Antunes entrementes, insistiu em dizer que não deixaria o filho sozinho com ele.
Francisco ao perceber a obstinação deste, comentou irônico:
-- Está certo! Se é assim que o senhor quer... Pode começar a encomendar sua alma.
Antônio (Valério) tentando acalmar Francisco, tentou de todas as maneiras possíveis manter a conversa em um bom tom, mas ele dizendo que não estava ali a passeio, comentou
que levaria sua esposa de volta para o Brasil.
Aflito Antônio (Valério) gritou:
-- Não!
Nesse momento Francisco atirou em um objeto.
Antônio, agora Valério, percebendo que o sujeito não estava de brincadeira, tentou mais de uma vez convencê-lo a desistir da idéia. 
Dizendo que ela não o amava e que eles tinham Alfredo, fez de tudo para provar ao rapaz que Ana Lúcia, agora Lúcia Helena, não sentia a menor falta dele.
Francisco no entanto, irritado com Antônio (Valério), mandou que o mesmo se calasse. 
Insistindo em dizer que levaria a mulher e o bastardinho para o Brasil, Francisco começou a rir ao notar o desespero nos olhos de Antônio (Valério). 
Triunfante, comentou:
-- Então agora te desesperas ao saber que Ana Lúcia vai te deixar, não é mesmo? Pois saiba que eu sei muito bem o que é sentir isso. O senhor me fez sentir isso.
Nisso, com o auxílio de alguns homens, Francisco levou Antônio (Valério) e Antunes para um local afastado dali. 
Ao lá chegar, dizendo que ali acertaria suas contas, mandou Antônio (Valério) caminhar em sua direção.
Antunes, ao ver o filho caminhando para a morte, num gesto de desespero, começou a correr na direção de Francisco.
O rapaz ao ver Antunes correndo em sua direção, pensando se tratar de uma estratégia para despistá-lo, atirou contra o mesmo.
Antunes ao ser alvejado por Francisco caiu ao chão.
Antônio (Valério), percebendo que o pai fora baleado, investiu contra Francisco, e tentando tomar-lhe o revolver, acabou por fazer a arma disparar.
Por sorte quem levou o tiro foi Francisco, que ao perceber-se baleado, respondeu:
-- Desgraçado! Se eu morrer, acabo com sua vida!
Em seguida morreu.
Aflito Antônio (Valério) correu em direção ao pai. 
Tentando auxiliá-lo, o rapaz respondeu que chamaria um médico.
Antunes apesar de ferido, agradeceu o filho.
Nisso Ana Lúcia (Lúcia Helena) e Alfredo ao ouvirem os tiros, percebendo que os asceclas de Francisco fugiam, trataram logo de sair daquele estranho lugar.
Assustado, Alfredo só fazia chorar. 
Dizendo que queria voltar para casa, a criança não conseguia entender o que estava acontecendo.
Com isso, ao encontrarem Antônio (Valério) debruçado sobre o corpo do pai, os dois se espantaram com a cena. 
Isso por que, logo adiante estava o corpo de Francisco, inerte.
Não fosse a ajuda dos amigos do casal e Antunes, Antônio (Valério) poderiam não ter sobrevivo ao ocorrido.
...
Com isso como o casal era conhecido por todos como Valério e Lúcia Helena e não por Antônio e Ana Lúcia, os mesmos acharam por bem continuarem a ser tratados desta
mesma maneira.
Além disso o rapaz, percebendo que a polícia mais cedo ou mais tarde partiria em seu encalço, resolvendo levar a esposa para a França, nunca mais voltou a Portugal.
E assim, Lúcia Helena e Valério, despedindo-se dos amigos que fizeram no país, rumaram em outra direção.
Antunes, também. 
Não sem antes vender todas as propriedades que tinha no Brasil.
Desta forma, longe de olhares de curiosos, Antônio e Ana Lúcia, ou melhor, Valério e Lúcia Helena, casaram-se.
E assim, o casal, celebrando a cerimônia, finalmente realizaram a vontade de Antônio, ou melhor, Valério, que era a de se casar.
Realizando todos os passos de um casamento, Ana Lúcia, ou melhor, Lúcia Helena, foi conduzida vestida de branco até a igreja pelo pai do agora, Valério.
Para a cerimônia, a agora, Lúcia Helena vestiu-se de branco e Valério (não mais Antônio), colocou o fraque. 
Feliz, ao fazer os votos afirmou que jamais se separaria dela.
Lúcia Helena também prometeu fidelidade.
Após, a celebração da cerimônia, seguiu-se a festa.
Desta forma. 
Valério finalmente pôde sentir como era estar se casando.

É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 
Luciana Celestino dos Santos

 

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