Poesias

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 57

Todavia, novamente depois de algum tempo, Cléber, voltando para casa, tornou a persegui-la.
Certa vez, Cléber quase conseguiu ficar com Andressa a sós no quartinho dos fundos.
Nessa época, Genival, cansado de receber quase nada pelo papelão que coletava durante o dia nas ruas de São Paulo, desistiu de seu mais recente bico. 
Isso por que, trabalhando como um escravo, só conseguiria migalhas. 
Com seus golpes, chegou a conclusão de que conseguia mais dinheiro.
Desta forma, Andressa voltou a dormir no quartinho.
Foi assim que Cléber quase conseguiu ficar a sós com Andressa.
Não fosse a intervenção de Lucrécia, que sem querer o viu empurrando a garota para dentro do quarto, e Cléber teria conseguido o que tanto almejava.
Porém ao perceber que era visto por Lucrécia, Cléber saiu rapidamente dali.
Em seguida, Lucrécia sem saber o que fazer, dirigiu-se ao seu quarto.
Cléber seguiu-a.
Quando notou que ela estava sozinha, Cléber tratou logo de adverti-la de que não deveria contar o que viu a ninguém.
Assustada, Lucrécia prometeu que jamais contaria a quem quer que fosse, o que tinha acontecido. 
Dizendo que não vira nada, comentou que não poderia falar do que não viu:
-- Ótimo! – comentou Cléber.
Andressa então, assustada, tratou logo de planejar sua fuga. 
Isso por que, ao perceber que o rapaz voltara ao cortiço, constatou que não seria mais possível, continuar vivendo naquele lugar. 
Ciente, porém de que não seria fácil sumir dali – já que desde que Cléber descobrira que ela vivia no lugar, Andréia vivia controlando seus passos – Andressa começou
a arquitetar um plano.
Sim, viver naquele lugar estava se tornando impossível. 
Isso por que, até esconder suas roupas Andréia escondia, só para que Andressa não pudesse sair de casa. 
E mesmo quando saía, era acompanhada de Lucrécia ou de alguma conhecida que não desgrudava o olho dela. – Assim, desta feita, era praticamente impossível sair dali.
Mas Andressa não se deu por vencida. 
Ao perceber que não seria pela força que conseguiria sumir daquela casa, a garota começou a fingir que aceitava viver naquela situação. 
Aos poucos, mesmo diante da desconfiança de Andréia, Andressa passou lentamente a derrubar suas defesas.
Certa vez, ao perder Lucrécia de vista, Andressa voltou para casa.
Para espanto de Andréia que até brigara com a mulher.
Assim, foi questão de tempo, para que Andressa ganhasse a confiança de quase todos.
Enquanto isso, sempre que podia, Andressa ficava na companhia de Gervásio e Clodoaldo. 
Este simples ato, evitava qualquer aproximação de Cléber. 
Quando não podia contar com a companhia dos amigos, Andressa se trancava no quartinho dos fundos. 
Não abria a porta para ninguém.
Cléber ficava revoltado com isso, mas nada podia fazer.
Certo dia, porém, aproveitando um descuido da moça, Cléber voltou a abordá-la.
Surpreendida novamente pelo rapaz, Andressa se viu numa difícil situação.
Cléber que a essa altura, não se importava que os demais moradores percebessem o assédio, e ao vê-la sozinha à noite, andando pelos corredores do cortiço, passou a segui-la.
Aguardando Andressa voltar ao quarto, Cléber esperou por um longo tempo.
Quando percebeu que Andressa procurava algo, Cléber resolveu aparecer.
Andressa ao vê-lo à sua frente, levou um tremendo susto. 
Contudo, disposta a enfrentá-lo, comentou que ele estava sendo muito inconveniente. 
Dizendo que não tinha medo dele, tentou enfrentá-lo.
Cléber, contudo, não se intimidou com a assertividade inédita de Andressa. 
Pelo contrário, disposto a tudo, disse que ela poderia gritar, espernear, enfim, fazer o que quisesse.
Mas que daquela noite não passava.
Andressa ficou perplexa.
Nesse instante, Cléber segurando a moça pelos braços, começou a arrastá-la.
Desesperada, Andressa começou a pedir para que ele a soltasse.
Cléber, porém, parecia não ouvi-la.
Todavia, como os demais moradores do cortiço ouviram os apelos, foram logo ver o que estava acontecendo.
Qual não foi a surpresa de Clodoaldo, Genival, Andréia e Sérgio, com o comportamento de Cléber?
Quem não se surpreendeu foi Lucrécia, que já o tinha visto assediando a garota.
Andréia, ao ver Cléber arrastando a filha adotiva, ficou perplexa.
Sérgio por sua vez, bêbado que estava, xingou a todos pelo barulho. 
Dizendo que precisava dormir, voltou para sua cama.
Contudo, mesmo sendo pego no pulo, Cléber continuava arrastando Andressa.
Andressa, por sua vez, continuava lutando contra Cléber. 
Ao chegar na cozinha, percebendo um objeto sobre a mesa, aproveitando-se de um momento de distração do sujeito,
pegou a travessa e a acertou em sua cabeça.
Andréia ao ver Cléber desmaiado, censurou Andressa. 
Dizendo que não podia ter feito aquilo, tratou logo de colocá-la para fora de casa.
Genival e Clodoaldo, ao verem a mulher arrastando a filha para fora de casa, tentaram impedi-la.
Mas Andréia era inflexível.
Desta forma, nada puderam fazer por Andressa.
E assim, sem alternativas, Andressa saiu da casa de Andréia, voltando a viver na rua.
Cléber, por sua vez, não desistiu. 
Mesmo depois de ter sido ferido por ela, o rapaz continuou procurando-a. 
Após ser medicado, Cléber prometeu a si mesmo que a atitude de
Andressa teria volta. 
Desta forma, certo dia, ao encontrá-la na rua, pedindo esmolas, Cléber resolveu segui-la. 
Obcecado, acompanhou seus passos durante um longo tempo.
A certa altura, Andressa então, se deu conta de que estava sendo seguida. 
Foi quando, percebendo que Cléber acompanhava seus passos, começou a correr desesperada.
Em pânico, atravessou ruas e avenidas sem sequer olhar os carros. 
Sendo que, por várias vezes, quase foi atropelada.
Cléber por sua vez, mesmo percebendo o desespero da moça, não desistiu. 
Continuou a segui-la.
Até que num momento, Andressa, entrando em uma rua estreita, onde ficou sem ter para onde fugir.
Cléber então se aproximou, e, apontando uma arma branca para ela, a ameaçou.
-- Pensou que ia conseguir escapar? Ninguém escapa de mim não, garota. Agora você vai fazer tudo o que eu mandar, não vai?
Andressa, acuada, sem ter o que dizer, ficou muda.
Cléber, ao perceber a reação da garota, começou a se aproximar. 
Segurando seus cabelos, colocou a faca junto a seu pescoço. 
Dizendo que não queria feri-la, aconselhou-a a fazer tudo o que ele pedisse.
Andressa, fria como uma estátua, só pensava em como fazer para se livrar daquela faca. 
Silenciosa, observou atenta todos os gestos de Cléber.
Quando percebeu que o rapaz se distraíra, Andressa então chutou-lhe e saiu em disparada. 
Estava decidida a se livrar dele de qualquer forma.
Cléber, enfurecido, assim que se recuperou, continuou a correr atrás dela.
Foi quando, desesperada, Andressa, pulou um muro.
Cléber, que viu a cena de longe, partiu no encalço da moça.
Novamente acuada, Andressa tentou fugir. 
Contudo, não havia mais para onde correr.
Foi quando num momento de distração, sem ver onde pisava, caiu.
Cléber ao ver Andressa estirada no chão, ficou desesperado. 
Temendo o pior, tratou de sair dali. 
Todavia, mesmo fugindo do local, teve o cuidado de chamar o socorro médico, que atendeu rapidamente Andressa.
E assim, muito embora não tivesse tido nenhuma complicação de ordem física, Andressa, devido o trauma sofrido, perdeu a fala.
Muito embora os médicos dissessem se tratar de um trauma psicológico, Andressa não conseguia mais falar.
Cléber, ao saber por seus informantes que Andressa não conseguia falar, ficou aliviado.
Sim, para tranqüilidade de Cléber, Andressa não teria como denunciá-lo. 
Sem contar que agora as coisas se tornavam mais fáceis para ele, já que Andressa não poderia mais, gritar por socorro. 
Estando muda, as coisas se complicavam para ela. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

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