Poesias

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 59

Mesmo assim, Paulina conseguiu manter, durante todo o tempo em que esteve casada, uma postura correta. 
Sempre preocupada em fazer Antenor feliz, Paulina aprendeu a respeitar o casamento. 
Tanto que nunca o traiu.
Se nunca contou a verdade sobre seu passado, Paulina também nunca o enganou no presente.
Contudo, após sua morte, precisando acertar contas com seu passado, Paulina resolveu procurar sua filha.
E mesmo ansiosa, soube pacientemente esperar.
E assim, após dois anos de buscas, finalmente encontrou sua filha.
Andressa, nessa época, depois do acidente que sofrera, tornou a viver nas ruas.
Muito embora tivesse passado longos meses se recuperando em um hospital, após receber alta, Andressa, passou uma temporada na casa de Andréia, e mais tarde voltou as
ruas.
Isso por que, Cléber, insistiu para que Andréia deixasse a garota voltar para o cortiço.
Andréia, que fazia tudo o que o enteado pedia, e mesmo contrariada, concordou.
E assim, mesmo contra a vontade, Andressa se viu obrigada a voltar para o lugar onde tivera um grande trabalho para sair. 
Levada para o cortiço, Andressa passou a ser cuidada por Andréia.
Entrementes, apesar dos cuidados de Andréia, Andressa sofria em suas mãos. 
Isso por que, a mulher somente a auxiliava quando era forçada a tanto. 
Sempre de má vontade, era penoso para a garota, ser cuidada por ela.
Podendo apenas gesticular, já que não conseguia articular os sons a ponto de formar uma palavra, Andressa estava completamente à mercê de sua mãe. Em razão disso, por várias
vezes foi esquecida por Andréia.
Esta, por achar conveniente, nunca se lembrava de lhe dar os remédios receitados pelo médico, e conseguidos de graça em um posto de saúde.
Com isso, Andressa tinha que sair mancando do quartinho, para ir até a cozinha tomar os remédios. 
Para quem ainda sentia um pouco de dor em decorrência do tombo que levara, era penosa esta tarefa. 
Mas se ela mesma não fosse até a cozinha, ficaria sem tomar os remédios.
Não bastasse isso, sempre que podia, Andréia jogava-lhe na cara que era sustentada por ela. 
Constantemente, Andréia lhe dizia que estava fazendo um favor. 
Certa vez, por maldade, Andréia, cansada de ver Andressa deitada no quartinho, resolveu pegar o que sobrara dos remédios e escondê-los. 
Dizendo que havia jogado tudo fora, deixou a garota se sentindo mal por longas horas.
Não fosse a intervenção de Genival, e Andressa teria que interromper o tratamento, podendo ficar até com seqüelas do acidente que sofrera.
Genival, porém, agiu rápido. 
Ao perceber a maldade de Andréia, Genival passou a procurar os remédios pela casa inteira. 
Só descansou quando finalmente os encontrou no fundo de um armário. 
Rapidamente, levou a medicação até o quarto onde Andressa estava e ministrou-lhe os mesmos.
Andressa, depois de tomá-los, ao se sentir um pouco melhor, agradeceu.
Foi quando ele advertiu-a de que deveria guardar os remédios bem guardados, para que Andréia não os jogasse fora.
A garota quando ouviu isso, ficou espantada. 
Decepcionada, meneou a cabeça indicando que entendera o recado e que iria tomar cuidado. 
Assim o fez.
Quem não ficou nada feliz com isso foi Andréia, que brigou com Genival.
Ele, porém, nem ligou.
No que tange o senhorio, Genival, Clodoaldo, Lucrécia e Cléber, acabaram por arrumar dinheiro para pagar o aluguel atrasado. 
Assim, as ameaças cessaram.
Conforme voltaram a pagar o aluguel em dia, nunca mais Gervásio apareceu para incomodá-los. 
Enfim todos respiravam aliviados.
Nesse ínterim, a convivência entre Andréia e Andressa, continuava difícil. 
Tanto que a certa altura, a garota voltou a viver na rua.
Depois de tudo o que ocorrera, ficou impossível ficar morando no cortiço com Sérgio e sua mãe. 
Isso por que, além do fato dele bater em Andréia, a moça já não agüentava mais o assédio de Cléber, que depois de saber que ela emudecera, ficou ainda mais ousado.
Contudo, mesmo com dificuldades, Andressa conseguia se safar. 
Mas, por quanto tempo ainda?
Pensando nisso, assim que se sentiu um pouco melhor, Andressa voltou a viver na rua.
Quando Clau, Mateus e Robson descobriram que ela ficara muda, ficaram perplexos.
Sim, por que sem poder falar, como faria para se comunicar? 
Assustados, não sabiam o que dizer a Andressa.
No entanto, o que parecia um grande pesadelo, com o passar do tempo ficou menor.
Sim por que, aprendendo a conviver com a nova limitação da amiga, os três pouco a pouco foram a aprendendo uma forma de se comunicarem com ela.
Andressa também se esforçava ao máximo para se fazer entender.
Com isso os quatro amigos, acabaram por superar esta barreira.
Contudo, para Andressa não foi fácil. 
Para pedir esmolas, por exemplo, tinha que escrever numa grande folha de papel, que era muda. 
Com isso, o agradecimento era sempre em letras garrafais em um pedaço de cartolina.
Por várias vezes seus amigos a auxiliaram. 
Sim por que sem ter como falar, por uma vez quase se perdeu na cidade.
Mateus então, nunca mais a deixou ficar sozinha. 
Pensando em uma forma melhor de pedir dinheiro Robson aconselhou-a a explorar sua deficiência para conseguir esmolas. 
Ardiloso, foi logo sugerindo a ela que fosse pedir esmolas perto de estações de ônibus.
Mateus a acompanhava sempre.
E lá ia Andressa com suas plaquinhas. 
Uma contando sua história e outra para agradecer o dinheiro que havia ganho.
Foi lá que Paulina a encontrou.
Andressa, estava suja, maltrapilha e fedendo.
Embora tenha sentindo repulsa num primeiro momento, ao perceber o mal que fizera a ela, Paulina se comoveu. 
Perplexa, percebeu que sua filha tivera uma vida muito complicada.
Ao ouvir do detetive, toda a história de vida da garota, Paulina ficou penalizada. 
Por conta disso, sua primeira reação foi a de querer se aproximar da filha.
Relutante, o detetive concordou somente depois de muita insistência, em levá-la até o local onde Andressa dormia.
Nisso, quando Paulina viu em detalhes, o estado de miséria em que vivia a filha, ficou chocada. 
Atordoada, ao chegar em casa, pensou logo em uma estratégia para se aproximar da garota.
Andressa, porém, não queria saber de conversa.
Na primeira vez em que tentou conversar com Andressa, Paulina foi logo rechaçada por ela.
Contudo, insistente, Paulina tornou a tentar abordá-la.
Andressa, desconfiada, gesticulava a todo instante, como se perguntasse: 
‘O que você quer?’
Quando Paulina tentava responder, era logo interrompida pelo gestual da garota que insistia em espernear, pois não queria saber de ouvir nenhuma história.
Paulina insistia, porém. 
Ansiava por tirar Andressa daquela vida, tudo o que conseguia, no entanto, era fazer com que a moça se afastasse cada vez mais dela.
Clau certa vez, irritado com tanta insistência, resolveu tomar as dores da amiga.
Dizendo a mulher que Andressa não queria saber de conversa, pediu para que ela fosse embora.
Paulina ao ouvir as palavras do garoto, relutou, mas o detetive que a acompanhava a aconselhou a sair dali.
E a mulher mesmo não querendo, foi embora.
Andressa agradeceu gesticulando. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

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