Poesias

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 19


No dia seguinte, a moça, enchendo-se de coragem, finalmente contou o porquê de sua expulsão.
-- Estou grávida. – disse ela.
Atônito, Clóvis, pergunta:
-- Tem certeza?
-- É claro que tenho. – responde Paulina, perplexa com a pergunta feita.
Apavorado, Clóvis recusa-se a acreditar que aquela história seja verdade.
Com os pensamentos embaralhados, o rapaz pensa em muitas coisas.
Ao se lembrar que a moça era namorada de Ricardo, chega a insinuar que esse filho pode ser dele.
Paulina porém revela que nunca teve qualquer intimidade com Ricardo.
Clóvis, incrédulo comenta:
-- Faz-me rir. Quer dizer você e Ricardo ficaram só se olhando?
Paulina, ao ouvir o comentário desairoso, ficou bastante irritada.
Clóvis, porém, insiste na idéia de que ela também se envolveu com Ricardo, e que o filho que ela espera pode perfeitamente ser de seu amigo, ou de qualquer outro homem.
Paulina ao ouvir tais palavras, furiosa, ameaça desferir um tapa no rosto de Clóvis, mas o rapaz segura sua mão.
Em seguida, dizendo-lhe poucas e boas, pede para que ela saía de sua casa.
Desesperada, Paulina pede:
-- Clóvis, por favor, seja razoável. Eu não tenho para onde ir. Me deixe passar pelo menos alguns dias em sua casa. Quem sabe até lá meus pais não me aceitam de volta. Por
favor. Eu estou te pedindo.
O rapaz contudo, percebendo que isso poderia dar em confusão, comentou:
-- Infelizmente eu não posso. Sabe como é! Se eu te deixar ficar mais algum tempo aqui, as pessoas vão comentar. E eu não posso correr o risco de ser apontado na rua.
Paulina, ao ouvir tais palavras, insistiu no pedido.
Clóvis porém, nem ligou.
E assim, Paulina teve que ir para a rua.
Sem ter para onde ir, vagou a noite inteira pelas ruas de São Paulo.
Sentiu frio e desconforto.
Ao raiar do dia, encontrou um lugar que aceitava abrigar moças em suas condições.
Sem alternativas, aceitou se internar no local.
Envergonhada, abandonou seu emprego e nunca mais pisou os pés no bairro em seus pais residiam.
Fez bem, pois se retornasse para lá, seria apontada na rua, e humilhada por todos.
Ricardo, profundamente magoado com a traição, nunca mais foi o mesmo.
Descrente da honestidade das mulheres, passou a tratá-las levianamente.
Amargo, passou a evitar os amigos.
Perdeu a confiança nas pessoas.
Cleide, penalizada com o triste estado de seu irmão, tentou fazer de tudo para consolá-lo.
Em vão.
Arrependido, ele dizia:
-- Cleide, você tinha toda a razão! Eu devia ter te escutado! Fui um idiota.
A moça, ao ouvir estas palavras tão duras, tratava logo de dizer que ele estava iludido, por isso se enganou tanto.
Isso porém, não consolava o rapaz, que se sentia um trouxa, um derrotado.
Mas esse estado de letargia não duraria muito.
Um belo dia, Ricardo desencantou e resolveu retomar sua vida.
Foi aí que começou sua vida desregrada.
A cada dia, com uma mulher diferente, também passou a beber e a fumar.
Cleide sempre que o via nessas condições, ficava inconformada.
Eugênia, sua mãe, também.
Contudo, não havia o que fazer.
Ricardo era maior de idade e dono de sua vida.
Desta forma, só restava a Cleide aceitar os fatos, continuar sua faculdade, e manter sua amizade com Marina.
Mas não só isso.
Como a vida não se resume a livros e estudos, Marina e Cleide começaram a namorar.
De tão amigas que eram, Marina começou a namorar Antônio, colega de faculdade de Cleide, também cursava a faculdade de letras.
Foi assim.
Em razão de sua amizade com Cleide, Antônio acabou fazendo parte do grupo de amigos que saía para passear com elas.
Assim, para engatarem um namoro, foi apenas questão de tempo.
Isso por que, Cleide estava se empenhando e muito para ver os dois juntos.
Como simpatizara com o rapaz, vivia contando a ele, as qualidades de Marina.
Todavia, seu esforço teria sido em vão se o rapaz não tivesse se encantado com a beleza da moça.
Na primeira vez que a vira, comentou com Cleide que a achara interessante.
Contudo, intimidado pelo fato das duas serem amigas de longa data, resolveu deixar de lado seu interesse.
Cleide, por sua vez, ao notar um certo constrangimento por parte do rapaz, tentou de todas as maneiras possíveis, convencê-lo de que a moça era um ótimo partido.
Dizendo que não se intrometia na vida amorosa de Marina, comentou que ele não perderia nada se ao menos tentasse.
Antônio no entanto, estava temeroso.
Isso por que, no seu entender, se o namoro não desse certo, arrumaria problemas com Cleide.
Cleide contudo, tratou logo de dissipar as inseguranças do rapaz.
Insistindo em dizer que não se intrometia na vida da amiga, comentou que ele devia se arriscar um pouco.
Antônio, diante do incentivo da amiga, acabou, depois de um certo tempo, em investir em Marina.
E, muito embora a moça tenha relutado um pouco em começar um namoro com um colega de faculdade de Cleide, depois de um certo tempo, percebendo que o rapaz possuía
inúmeras qualidades que a atraía, acabou se aproximando.
Nisso, os dois acabaram se acertando.
E assim, Marina e Antônio, começaram a namorar.
Cleide, por sua vez, sempre que os via juntos, comentava que eles faziam um belo par.
Marina achava graça das palavras da amiga.
Já Claudionor – amigo de Ricardo –, começou a nutrir uma simpatia pela garota afeita aos livros e que tentava a todo custo ajudar o irmão enganado.
Foi num dia que Ricardo o destratou e Cleide tomou suas dores, que ele se encantou por ela.
Nesse momento foi que tudo começou.
Marina, ao saber que Cleide estava namorando um colega de Ricardo, ficou surpresa.
Isso por que, Ricardo raramente apresentava seus amigos a família.
Cleide ao perceber o espanto de Marina, comentou em que circunstâncias, os dois se conheceram.
Dizendo que fora apresentada a ele alguns anos atrás, comentou que nunca prestara muita atenção no rapaz.
Aliás, segundo ela, fora o próprio que tomou a iniciativa, tempos depois de vir falar com ela, logo depois que ela o defendera das agressões de Ricardo.
Marina ao ouvir isso, respondeu:
-- A há! Eu sei como isso começa!
Cleide ao ouvir o comentário malicioso da amiga, retrucou:
-- Deixe de deboche. Eu estou falando sério.
Nisso, as duas amigas começaram a rir juntas.
E assim, mesmo namorando, sempre que podiam as duas amigas saíam juntas.
Iam ao cinema, caminhavam juntas etc.
Contudo, como o namoro, o trabalho e os estudos consumiam tempo, os encontros passaram a ser esporádicos.
Todavia, as duas amigas, mesmo numa época de muitos afazeres, nunca se afastaram completamente.
E como sempre as duas faziam tudo o que podiam juntas.
No Banco, durante o horário de almoço, aproveitavam para jogar conversa fora, e contarem as novidades do curso.
Ricardo por sua vez, quando estava em casa, sempre que as via juntas falando do curso, comentava:
-- Não sei como vocês agüentam falar nisso, mesmo depois de meses.
Cleide e Marina por sua vez, acostumadas com o mal humor de Ricardo, nem ligavam mais para seus comentários.
Quem ainda se incomodava com eles era Eugênia.
Mas até mesmo ela, após um certo tempo, desistiu de repreender Ricardo.
O rapaz era um caso perdido.

Luciana Celestino dos Santos
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