Poesias

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

QUIMERAS DO PASSADO - CONTO 4 - QUIMERAS DO PASSADO

Manhã de janeiro de 1954.
Neste momento, muitos estudantes, com suas malas prontas, se preparam para viajar.
Viajar para o lugar onde viverão nos próximos anos. 
Filhos de famílias abastadas que são, esses jovens se preparam para viverem em internatos e estudarem muito.
Sem distinção de sexos, rapazes e moças e estudarão no mesmo colégio interno. 
A única coisa que os separará, serão os muros entre os diferentes prédios da escola. 
Enquanto em alguns deles viverão as moças, em outros estudarão os rapazes.
O colégio, situado em lugar deslumbrante, dista centenas de quilômetros das cidades de origem dos jovens. 
Tão distante que ao chegarem, o lugar lhes parecerá outro país.
A despeito disso tudo, o lugar, imponente e altaneiro, ostenta uma rica e exuberante paisagem. 
A natureza, generosa, ira presentear a todos com lindas imagens. 
A arquitetura das construções, imensas, também não fica atrás. 
Rivalizando com a beleza do local, as construções são imponentes. 
E assim, os jovens viverão muito bem por ali, nos próximos anos que se seguirão.
Lá farão amigos e conhecerão muitas coisas. 
Lá apreciarão novos cenários e muita vida.
Em razão disso, os alunos, ansiosos pela viagem, mal podem esperar pelo avião que os levará para uma nova realidade. 
Nervosos, aguardam no aeroporto de suas respectivas cidades, pelas aeronaves que os conduzirão. 
Acompanhados de seus pais, os jovens conhecerão o colégio e depois, passarão a viver sozinhos.
Igualmente ansiosos estão os pais dos moços, que por lá também já estiveram tempos antes, a viver a mesma experiência. 
Aguardando a chegada no lugar, os pais apresentarão aos filhos os prédios e os ambientes por onde já passaram. 
Orgulhosos contarão aos filhos as experiências que por lá viveram e o quanto suas vidas estão impregnadas naquelas paredes.
Curiosos, pais e filhos, ao aterrissar o avião, ouvindo a chamada, trataram logo de se dirigir ao portão de embarque. 
Com as passagens na mãos, os jovens e seus pais rumaram em direção ao futuro. 
Futuro dos filhos, mas passado deles. 
Rumaram em direção a pequena cidade onde estava localizado o colégio interno.
Com isso, ao adentrarem a aeronave, muitos dos estudantes quiseram conhecer seu funcionamento. 
O comandante então explicou-lhes que no momento seria impossível atender a todos, pois haviam muitos interessados em conhecer a cabine.
Os moços aos ouvirem isso, ficaram um tanto quanto desapontados, mas o comandante, explicando que outra vez, adoraria dar-lhes a oportunidade de conhecer a cabine, deixou-lhes um lampejo de esperança.
Nisso, estando todos sentados, o piloto e o comandante, passando as coordenadas para a torre do aeroporto, anunciou que a nave decolaria em breves minutos.
Ao alçar vôo, os estudantes, conforme a aeronave se distava do solo, puderam contemplar as nuvens que pareciam tão próximas deles. Num breve momento, puderam também, apreciar a vista das cidades. 
Porém, conforme o avião ganhava altitude, menos nítida ficava a paisagem.
Assim, depois de longas horas de vôo, os jovens finalmente chegaram à cidade.
Pousando o avião na pequena cidade, alguns estudantes se espantaram com o diminuto tamanho da localidade. 
Admirados por um lugar tão pequeno possuir um aeroporto, os jovens ouviram como explicação que isso se dava em razão do colégio interno que lá havia, o qual trazia jovens de todos os lugares do país.
Com efeito, sendo um imenso colégio, os seus futuros alunos podiam avistá-lo à grande distância.
Nesse ínterim, mais aviões pousaram. 
Neles estavam estudantes de várias localidades.
E assim, não bastasse o grande movimento no aeroporto, durante os minutos em que permaneceram por lá, os jovens souberam que nos próximos dias, mais estudantes chegariam.
Ademais, outros estudantes já estavam lá há algum tempo.
Era sim, um colégio de muito prestígio. 
Tanto que mesmo distante dos grandes centros, a instituição era conhecida de muitas famílias abastadas.
Isso por que, estudar em lugar assim, era realmente um privilégio. 
Quem tivera a oportunidade de freqüentar aqueles ambientes, não se cansava de elogiar o ensino, a calma e as amizades feitas em tão profícuo lugar.
Com isso, as freiras, bem como os frades, sabedores que mais estudantes rumariam para lá, trataram logo de providenciar as lotações para que todos pudessem, ao sair do
aeroporto, seguir viagem em direção ao colégio.
Desta forma, ao lá chegarem, logo os estudantes foram recepcionados pelos condutores que os levariam até o colégio. 
Durante a viagem por terra, os alunos apreciaram a paisagem e ficaram conhecendo um pouco mais do lugar.
Isso por que, os motoristas, ao conduzirem os internos e seus pais, não perdiam a oportunidade de dizer que aquele colégio antes fora um convento e um monastério. 
Com dimensões menores que as atuais, fora edificado em tão inóspita região, em razão de ser um lugar afastado. 
Contudo, com o passar dos anos, formando-se uma vila nas proximidades, acabou por gerar riqueza para alguns poucos moradores, que sem ter onde deixar os filhos quando em idade escolar, aproveitaram a generosidade dos frades e das freiras, e passaram a deixar os mesmos aos cuidados dos religiosos, que visando dar-lhes um verniz de cultura, educaram os jovens. 
E nesse trabalho cuidadoso e generoso, os religiosos acabaram por encontrar uma vocação e assim, com o passar dos anos, e com a ajuda dos ricos moradores da agora pequena cidade, o lugar acabou por se tornar além de um centro de meditação, um ambiente acolhedor da cultura e do conhecimento.
Nisso, ao chegarem perto do monastério, os motoristas desligaram os motores das lotações, e dizendo que eles já haviam chegado ao destino, auxiliaram os pais e alunos com
a bagagem. 
Depois, indicado-lhes para onde tinham que ir, diziam:
-- Vão com Deus!
E assim os jovens e suas famílias rumaram em direção a entrada do colégio.
Lá, como já era de se esperar, a madre superiora os aguardava.
A religiosa ao ver a multidão que se aproximava, acostumada com todo aquele movimento, simplesmente desejou boas vindas. 
Apresentando-se em seguida, respondeu que se chamava Catarina.
Nisso os presentes, responderam todos em uníssono:
-- Prazer Irmã Catarina. 
A seguir, apresentando o Frei Bartolomeu, a madre superiora comentou que os rapazes seguiriam com ele para saberem onde ficariam instalados. 
Dizendo que aquele colégio seria a morada de todos aqueles jovens nos próximos anos, Irmã Catarina pediu a todos que ficassem à vontade.
A seguir, comentando que precisava levar as moças para o prédio em que passariam a morar, a madre, pediu mais uma vez ao frei, para que acompanhasse os rapazes e lhes
mostrasse onde os mesmos se alojariam.
Frei Bartolomeu então, tratou logo de levar os rapazes para o prédio onde passariam a residir.
Nisso, os jovens aproveitaram para abrir suas malas e guardar as roupas. 
Em seguida, com a ajuda dos religiosos, definiram o lugar onde cada um deles dormiria. 
Isso por que nos vários prédios ocupados pelos jovens, havia uma infinidade de dormitórios. 
Tantos que o lugar mais parecia uma cidade.
...
Mais tarde a madre, mostrando os principais ambientes do colégio, encaminhou-os aos refeitórios, os toaletes, etc. 
Neste ínterim, igualmente conheceram o convento e o monastério. 
As amplas construções góticas, deixaram os jovens admirados.
Isso por que, além de ser imponente e majestoso, o lugar, extremamente organizado, recebia visitas de moradores da cidade que iam até lá para rezar e encontrar paz.
Quando a madre comentou que o lugar era bastante procurado por romeiros, chamou ainda mais a atenção dos jovens.
Irmã Catarina, ao perceber isso comentou:
-- Mas o que é que os senhores estão pensando? Este é um belíssimo lugar para descansar. Um centro de reflexão e meditação. Os senhores perceberão logo logo.
A seguir, a madre encaminhou os jovens para o colégio. 
Os moços, ao verem a imponência da construção ficaram encantados.
Nesse momento um frei apareceu para levar os rapazes para onde os mesmos iriam estudar.
À essa altura, percebendo que moças e rapazes estudavam em classes separadas, os jovens ficaram um tanto desapontados. 
Contudo, como não cabia a eles discutir, os rapazes foram para um lado e as garotas seguiram em direção oposta. 
Com isso, moças e rapazes só se encontrariam no momento da entrada, no colégio.
Seus pais, ao verem que no lugar foram construídos novos alojamentos, logo perceberam que mesmo ali, naquele remanso de tranqüilidade, as coisas estavam mudando.
Surpresos, ao constatarem que o colégio sofrera ampliações, quiseram logo saber como as aulas eram ministradas.
A madre superiora auxiliada pelas freiras, logo explicou que nada em relação a qualidade das aulas havia mudado. 
Apenas, em razão da grande procura por aquela instituição, eles acharam por bem, ampliar as instalações.
Os pais, ao ouvirem isso, tranqüilizaram-se.
Nisso o passeio prosseguiu. 
Agora conhecendo os jardins, os jovens perceberam que teriam muito o que ver no lugar.
A religiosa, percebendo o interesse de todos pelo lugar, comentou que uma vez por semana eles teriam o dia inteiro para passearem por aqueles belos jardins. 
Além disso teriam um amplo espaço para fazerem ginástica e exercícios.
Os rapazes ao ouvirem isso, logo quiseram saber onde ficavam essas maravilhas.
A religiosa prometeu que dentro em breve levaria a todos para conhecerem as instalações desportivas.
Enquanto isso, os jovens continuaram a passear pelos jardins.
Mais tarde as moças e os rapazes finalmente puderam conhecer o Centro Desportivo.
Qual não foi o espanto dos jovens ao ver a grandiosidade do lugar. 
Impressionados alguns rapazes chegaram a comentar que aquele centro mais parecia uma cidade em época de Olimpíadas.
A freira ao ouvir isso, sorriu.
Nos dias que se seguiram os jovens, aconselhados por seus pais, passaram a freqüentar as missas, bem como a passear pelos jardins. 
Acompanhados de seus pais, os jovens almoçavam e jantavam no refeitório.
Mais tarde eles se despediram dos filhos, pois perceberam que já era chegada a hora de voltar para casa.
Com isso, enquanto eles voltavam para suas casas, mais jovens e suas famílias chegavam na pequena cidade para conhecer o colégio. 
E assim, novamente se procedeu a visita para que estes pudessem conhecer os prédios e as construções que compunham a região.
Diante isso os jovens que lá estavam, longe dos olhares dos pais, passaram a ficar cada vez mais à vontade. 
Assim, antes mesmo de começarem as aulas, muitos alunos já estavam suficientemente enturmados.
Mesmo assim, visando uma maior integração entre os jovens, a madre superiora, realizando um baile de carnaval – tradicional na instituição –, contribuiu ainda mais para a
aproximação dos jovens.
Estes, já prevenidos quanto a realização de festividades, alertados por seus pais, trataram de providenciar fantasias e trajes de gala para usarem durante a estada no colégio.
Nisso, com a supervisão dos frades e das freiras, ainda assim, alguns excessos foram cometidos. 
Um deles foi a guerra de confete e serpentina que os jovens travaram entre si.
Outro incidente se deu com o famoso lança-perfume.
Assim, mesmo com a terminante proibição do uso do produto, alguns jovens burlaram a regra.
Diante desse quadro, como era moda na época, os jovens, nos bailes de carnaval, acostumados a fazerem uso do lança-perfume, ao adentrarem a instituição religiosa eram logo
advertidos, a não fazerem uso do mesmo.
Quanto a este aspecto, Irmã Catarina era exigente. 
Quem fosse pego usando o tal lança-perfume, ou portando algo suspeito, seria irremediavelmente expulso do colégio.
Alertando a todos quanto a isso, a madre, tratava logo de avisar que a decisão era inapelável.
Com isso, como os religiosos nunca tiveram problemas no tocante a esta questão, a madre superiora, estava tranqüila. 
Porém, qual não foi sua surpresa, quando no decorrer do baile, ao som das famosas marchinhas de carnaval, dois jovens, aproveitando-se do fato de estarem mascarados, começaram a lançar sprays sobre as moças que freqüentavam o salão.
Ao saber do ocorrido por meio de dois frades que presenciaram a cena, a religiosa tratou de logo de tomar uma providência.
E assim, com assim com a ajuda dos religiosos, passou a procurar pelos dois mascarados. 
Foi desta forma, que a madre superiora descobriu, no final da festa, que os mesmos, moradores da cidade, não eram alunos do colégio. 
Tal fato se devia em razão de que nestas festas, alguns moradores da cidade eram convidados a participar.
Com disso, ao tomar conhecimento deste fato Irmã Catarina tratou logo de chamar os pais dos dois rapazes para conversar.
Quando eles souberam da confusão que seus filhos causaram, trataram de puni-los.
Desta forma, a questão relativa a este incidente se encerrou.
...
Quando finalmente começaram as aulas, os jovens já sabendo que iriam se separar, aproveitavam os raros momentos em que podiam ficar juntos, para conversar.
Nisso, quando soava o sinal avisando que já era hora de entrar na sala de aula, as moças seguiam para um lado e os rapazes para o outro. 
Em turmas separadas por faixa etária, moças e rapazes estudavam cada qual em um prédio.
Isso porém, não foi o suficiente para evitar alguns flertes e namoricos.
Quanto a isso os rapazes eram terríveis. 
Aproveitando a oportunidade que tiveram de estudar em um colégio misto, sempre que podiam se encontrar com as garotas, eles não perdiam a oportunidade de puxar assunto com as elas.
Assim, quando finalmente chegava o dia em que podia passear à vontade pelos jardins da instituição, os rapazes se arrumavam um pouco, e lá se iam eles prontos para paquerar.
Era uma festa. 
Muito embora não houvesse nada de mais nesses namoricos, muitos religiosos não viam com bons olhos essa proximidade. 
Tanto que diversas vezes a madre superiora foi aconselhada a separar os alunos.
Irmã Catarina, porém, sabendo que não havia maldade naqueles encontros, não levava a sério as prevenções. 
Recomendando apenas que os religiosos os observassem de longe, a madre superiora fazia questão de deixar bem claro que não queria saber de ninguém se intrometendo na vida dos moços. 
Dizendo que só interferiria se algum deles se excedesse, vivia a dizer que não havia nada de mais, nessa convivência heterogênea.
As freiras e os frades então, sem terem outra alternativa, acabavam por acatar os conselhos da religiosa.
E assim prosseguia a vida naquele remanso de paz e tranqüilidade.
Os jovens estudando, aprendendo coisas novas, e também praticando atividades físicas e agradáveis passeios pelos inúmeros jardins do lugar.
Foi assim, que Helena, encantada com a beleza daqueles jardins, não se cansava de caminhar e admirá-los. 
A jovem, sempre que podia, aproveitava para fazer um passeio por eles. 
Distraída certa vez acabou se aproximando dos dormitórios dos rapazes.
Mário, ao perceber que ela estava muito distante dos dormitórios das moças, perguntou se ela estava perdida.
Helena, distraída, ao ouvir a pergunta, assustou-se. 
Ao perceber que não devia estar ali, desculpou-se e dando meia-volta, continuou a andar.
Mário, curioso, logo quis saber seu nome.
Apressada, a moça respondeu que se chamava Helena.
Intrigado Mário insistiu em saber a razão de tanta pressa.
Helena quase aos berros respondeu que as freiras poderiam dar por sua falta. 
Dito isso, sumiu.
Com isso, ao chegar próxima dos dormitórios femininos, uma freira, percebendo que a moça se ausentara, interpelando-a, quis logo saber onde ela havia estado.
Helena surpresa com a abordagem, gaguejando, comentou que havia se perdido. 
Por conta disso, até encontrar o caminho de volta acabou levando mais tempo do que esperava.
A freira desconfiada, comentou que precisava relatar o ocorrido a madre superiora.
Helena temerosa, pediu insistentemente para que a freira não comentasse nada para a madre superiora. 
Dizendo que aquele incidente nunca mais se repetiria, Helena prometeu tomar mais cuidado.
A religiosa porém, não aceitou imediatamente, o pleito da moça.
No entanto, depois de algum tempo, dizendo que ficaria de olho nela, a freira comentou que dali por diante mesmo que quisesse, não conseguiria mais ficar sozinha. 
E assim a religiosa, desistiu de contar o ocorrido a madre superiora.
Helena, desconcertada com a situação, sem ter outra alternativa, acabou tendo que aceitar a presença quase que constante da freira.
Quanto a isso deve-se salientar que foi até oportuno. 
Pois não fosse assim, e Mário não a teria mais visto. 
Isso por que, durante vários dias a freira passou o tempo todo atrás dela, vigiando seus passos.
O rapaz ao ver a moça, sem perceber a presença da freira, chamou-a para conversar.
Helena, tentando explicar que não podia falar com ele, acabou por deixar a religiosa desconfiada. 
Tanto que ao ver a moça gesticulando para o rapaz, a freira, pensando tratar-se de uma estratégia usada por ela para os dois se encontrarem, puxou-a pelo braço e levando-a até a diretoria, exigiu falar com a madre superiora.
Todos na escola perceberam o modo como a freira arrastou a moça.
Sem entender o que se passava, ficaram espantados. 
Tão espantados que aquele foi um assunto comentado por dias.
Mas, voltemos a diretoria.
Irmã Catarina, ao ser cientificada do ocorrido, tratou logo de pedir explicações a moça.
Helena, sem entender direito o que estava acontecendo, explicou então, tudo o que sucedera.
A madre, percebendo que a moça estava mais assustada do que mal intencionada, pediu a ela para que ficasse alguns minutos na sala de espera. 
Em seguida, chamou a freira que havia dado causa a toda a confusão.
Ao entrar na sala, a madre, pedindo a mesma que fechasse a porta, a mandou sentar-se. 
Em seguida, comentando que estava muito envergonhada de sua atitude, repreendeu a irmã. 
A madre superiora, dizendo que aquele tipo de atitude era inadmissível, comentou que com a freira, que ela estava proibida de fazê-lo novamente. 
Advertindo-a, comentou que por ser a primeira vez, deixaria de lado a repreensão. 
Todavia, se um evento semelhante àquele tornasse a ocorrer, não haveria desculpas. 
Seria punida com rigor.
A religiosa, tentando se explicar, começou a dizer que a moça tinha um modo de agir muito suspeito.
Diante disso a madre superiora, percebendo a estratégia, interrompeu a freira e exigiu que ela passasse a proceder daquela maneira, ou então, teria que tomar medidas enérgicas.
Ao ouvir isso, a freira, calando-se, esperou a última palavra da madre para retirar-se.
Quando finalmente foi dispensada, voltou para o convento.
Nisso, Helena chamada novamente, adentrou a sala e sentando-se, ouviu o que a madre superiora tinha a lhe dizer.
A religiosa comentando então que estava muito envergonhada com que se sucedera a ela, pediu-lhe mil desculpas e prometendo acompanhá-la até a escola, pediu que ela esperasse um pouco.
Com isso, ao término da primeira aula, Helena, entronizada pela própria Irmã Catarina na classe, causou admiração a todos. 
A religiosa, então, pedindo para interromper a aula, comentou que um evento muito desagradável havia ocorrido nas dependências daquela escola. 
Dizendo que estava muito envergonhada com o sucedido, Irmã Catarina, ressaltou que as próximas pessoas que fizessem algo que expusesse os alunos ao ridículo, seria seriamente punido.
As moças ao ouvirem isso, aplaudiram o discurso.
Nisso, a madre, interrompendo os aplausos, emendou. 
Dizendo que ninguém tinha o direito de humilhar quem quer que fosse, a religiosa comentou que mesmo os alunos, estavam proibidos de assim proceder. 
Comentando que se eles se excedessem nas brincadeiras, também seriam punidos, acabou deixando todos atentos.
E assim, para Helena, a despeito da constrangedora situação, a religiosa se tornou, uma figura ímpar no colégio.
Mais tarde, suas colegas de quarto, comentando o incidente, alegaram que ela estava em alta com a diretora do colégio.
Helena modesta como sempre, disse apenas que Irmã Catarina era uma pessoa justa e vendo que ela não estava fazendo nada de mais, resolveu ouvi-la.
Com isso, estando as coisas mais calmas, assim, que Mário teve uma oportunidade, aproximou-se e comentando que a madre superiora falara sobre o caso em todas as classes,
perguntou a ela se estava tudo bem.
A moça calma, respondeu que sim. 
Comentando porém, que talvez não fosse uma boa idéia os dois ficarem conversando, Helena tentou despedir-se.
O rapaz, porém, dizendo que só queria trocar algumas palavras, insistiu para que ela não fosse embora.
Helena porém, ressabiada com o episódio recém sucedido, desculpou-se e despedindo-se, ao término da aula voltou para seu dormitório. 
Dizendo que tinha muito o que estudar, Helena partiu acompanhada de suas amigas e colegas.
Mário deixou-a ir.
A seguir, deixando também o colégio, Mário foi até o refeitório.
A vida no colégio era assim. 
Dias longos e dedicados ao estudo. 
Sábado, o único dia livre que possuíam, os jovens aproveitavam para se divertirem. 
Ainda que durante a semana tivessem atividades físicas nas aulas de educação física, muitos deles aproveitavam o sábado para se exercitarem um pouco mais.
As próprias moças, aproveitando o ensejo, apareciam no Centro Desportivo.
Interessadas em estabelecerem contato com o sexo oposto, as moças a pretexto de aprenderem alguns exercícios, sempre apareciam por lá. 
Se não todas, ao menos algumas.
As freiras, ao perceberem isso, acorreram até a direção do colégio para relatar a madre superiora o que acontecia. 
As irmãs, revoltadas com o comportamento dos jovens, não se cansavam de censurá-los. 
Os frades também, incomodados com o comportamento dos moços, iam amiúde até seu gabinete para reclamar sobre isso.
Irmã Catarina, como sempre, ouvia pacientemente os relatos. 
Depois, com a calma que lhe era costumeira, pedia a todos para que tivessem paciência, pois, por se tratarem de jovens, os mesmos ainda não tinham aprendido o valor de uma vida tranqüila e serena.
Os religiosos no entanto, ao ouvirem as palavras da irmã, quase sempre diziam que aqueles moços precisavam de um corretivo, o quanto antes.
Irmã Catarina porém, dizendo que isso era normal da idade, pedia sempre paciência a todos. 
Os religiosos então, em respeito a Irmã Catarina, acatavam suas recomendações. 
Quanto a isso, no tocante a atuação dos religiosos no colégio, os pais desses jovens não tinham do que reclamar. 
Isso por que, sempre atentos, no menor deslize, já chamavam a atenção dos jovens.
É!, não era fácil se livrar da vigilância de freis e freiras. 
Na menor distração, lá estava um deles a vigiar os passos daqueles jovens sempre rebeldes. 
Isso tranqüilizava deveras os pais daqueles moços e moças.
Quem não gostavam nada disso eram os alunos.
Isso por que, não bastasse a vigilância dos religiosos, os jovens também ainda tinham que acompanhar, as missas celebradas todos os dias antes do início das aulas.
A rotina era essa, os jovens, levantavam-se cedo, tomavam banho, colocavam o uniforme do colégio. 
As moças, saia longa, meia comprida, sapatos pretos, camisa branca e cabelos semi-presos. 
Os rapazes, usavam calça social preta, camisa branca, sapatos igualmente pretos, e um blusão com o símbolo da escola. 
Depois, todos se reuniam em seus respectivos refeitórios e tomavam um reforçado café da manhã. 
Em seguida, todos iam a missa.
De vez em quando alguns rapazes, bem que tentavam fugir da obrigação de participar da missa, mas os freis, vigilantes, sempre que percebiam algo errado, logo destruíam os
planos destes jovens de se furtarem a tão importante obrigação. 
E assim, quase sempre os fujões eram descobertos. 
Diante disso, todos, ou quase todos, impreterivelmente, participavam da celebração diária.
A seguir, caminhando para a escola, os jovens e as moças tinham a rara oportunidade de trocarem algumas palavras antes de irem para suas classes.
Com isso, Mário, interessado em conversar com Helena, sempre que podia, aproveitava para se aproximar. 
Sempre que a via conversando com suas colegas e amigas, o rapaz e seus amigos, aproveitando a oportunidade, sempre procuravam assuntos para conversar com as garotas.
Assim, mesmo diante da vigilância constante das freiras e dos frades, moças e rapazes conversavam animadamente durante alguns minutos antes de começarem as aulas.
Foi assim, que pouco a pouco todos foram se enturmando, e Helena sem ter que se preocupar com a presença incomoda da freira que a perseguia, passou a conversar cada vez
mais amiúde com seu novo amigo.
Algumas garotas aproveitando a oportunidade também se aproximavam dos rapazes para conversar.
Uma das freiras certa vez, ao ver a cena, indignada com a atitude de algumas dessas moças, tratou logo de as repreender. 
Dizendo que moças de respeito não se comportavam de maneira escandalosa, a religiosa prometeu que no caso daquele tipo de comportamento se repetir, levaria o caso até a direção.
As moças então, desculpando-se, comentaram que não haviam feito nada de mais, mas a freira, atenta, tratou logo de adverti-las que mulheres que assim procedem, não são bem vistas.
As garotas então, percebendo que não era possível o diálogo, desculparam-se novamente e dirigiram-se para suas classes.
E assim, seguiam-se os dias.
Com isso, durante a missa diária, alguns jovens, aproveitando a proximidade de algumas garotas, passaram a enviar bilhetes para elas. 
Utilizando-se de pequenos pedaços de papel que eram dobrados na forma de avião, os garotos lançavam os bilhetes na direção das moças. 
O padre certa vez, percebendo a estratégia dos rapazes, interrompeu a missa.
Estes, ao perceberem que era para eles que o sacerdote olhava, trataram logo de disfarçar.
Mesmo assim, ao término da missa, o sacerdote, mandou-os chamar.
Acompanhando-os até a sacristia, quis logo saber o por que de tanta agitação.
Os rapazes, tentando desconversar, comentaram que havia nada de mais.
O religioso insistindo, acabou descobrindo que os mesmos estavam mandando bilhetinhos para as moças que estavam ao lado.
Padre Oswaldo, percebendo ser isso natural da idade, mesmo assim, passou-lhes uma admoestação. 
Constando que precisava manter sua autoridade, não quis autorizar o proceder.
Pelo contrário, dizendo que eles podiam perfeitamente conversar com as moças antes das aulas, advertiu-os de que aquele não era o melhor lugar para namoros.
Os rapazes então, desculpando-se, pediram ao sacerdote para que os deixassem ir até a escola para que pudessem assistir as aulas.
O religioso, comentando que não estava ali para atrapalhar, liberou-os imediatamente.
Assim, quando eles chegaram no colégio, perceberam que ainda não havia soado o sinal indicando que já era hora de adentrarem as classes.
Helena e Mário então, aproveitaram para conversar um pouco mais, antes entrarem em suas classes.
Nisso, no momento em que soou o sinal, os dois, caminhando até certa parte do percurso juntos, despediram-se e seguindo, cada para um lado, juntaram-se a seus pares, e
entraram em suas respectivas salas de aula.
A educação era a preocupação principal naquele ambiente. 
Os frades e freiras, preocupados em ministrarem a melhor educação a todos aqueles jovens, não mediam esforços. 
Dedicados, ensinavam latim, grego, francês, história, geografia, português, matemática, literatura, química, biologia, física, entre outras disciplinas. 
Tudo visando o aprimoramento intelectual de todos aqueles jovens.
Além disso, preocupados com o bem estar físico dos moços, havia até mesmo aulas de educação física para que cada um deles pudesse exercer a contento suas habilidades.
Assim, quem tinha aptidão para esportes coletivos, escolhia uma de suas modalidades.
Outros, mais interessados em esportes aquáticos, escolhiam natação, entre outras modalidades.
As moças geralmente escolhiam ginástica e natação. 
Os moços por sua vez, geralmente preferiam os esportes coletivos.
Mas haviam exceções. 
Algumas moças também praticavam tênis e esportes coletivos.
Alguns rapazes, preferiam os esportes individuais.
Com isso, sempre que essas aulas eram realizadas, além de serem levadas em consideração as aptidões de cada aluno, eram os mesmos separados por sexo. 
Assim, homens realizavam as aulas em um dia e as mulheres em outro.
Em razão disso, da despeito da separação dos jovens também nesse momento, a grande maioria deles adorava passar algumas horas ali, praticando atividades físicas.
Irmã Catarina, sabendo disso, foi quem cuidou pessoalmente para que aquele Centro Desportivo fosse construído nos moldes de um clube de esportes. 
Isso por que, desde que passara a dirigir o famoso colégio, diversas vezes ouviu reclamações dos alunos em razão de não terem nenhuma ocupação a não ser os estudos, enquanto permaneciam por lá. 
Por esta razão, democrática e generosa, a madre superiora sempre preocupada com as reivindicações dos alunos, assim que pôde, autorizou a construção daquele espaço.
Como mulher empreendedora que era, agora a madre estava empenhada em erigir um Centro Cultural. 
Preocupada em oferecer-lhes o que de melhor que havia em matéria de educação, a religiosa em conversas com as freiras e os frades, confidenciou que intencionava construir um museu sacro naquele lugar, bem como um teatro e um pequeno cinema.
Preocupada com os jovens, a madre superiora, chegou a comentar que eles tinham muito poucas fontes de lazer.
Os frades e freiras, ao perceberem a intenção da religiosa, ficaram um pouco incomodados com esses projetos, mas ela, hábil e perspicaz, percebendo que sua proposta não agradara plenamente aos religiosos, comentou que possuindo estas instalações naquele local, certamente eles poderiam escolher o que seria exibido ou encenado.
Com isso a religiosa deixou bem claro que jamais aceitaria libertinagem, ou desrespeito naquele lugar.
Os religiosos ao ouvirem isso, acalmaram-se um pouco.
Irmã Catarina então, empenhada em convencê-los dos benefícios de um Centro Cultural por lá, vivia a dizer que eles iriam auxiliá-la e muito na escolha do que seria exibido
e apresentado. 
Ademais, dizendo que não tencionava se afastar da atmosfera religiosa que envolvia aquele lugar, a madre superiora, acabou por convencê-los a aceitar a idéia.
Nisso, os alunos, ao tomarem conhecimento da idéia, ficaram entusiasmados.
Assim, contando com o apoio de todos, a madre superiora começou logo a colocar em prática os seus planos.
Isso por que, além de dividirem espaço com o convento e o monastério, o colégio, os vários dormitórios femininos e masculinos, os refeitórios, a igreja, o Centro Desportivo, e os
belos jardins que circundavam todas aquelas construções, agora os frades, as freiras, e os alunos, também conviviam com pedreiros e material de construção.
A madre superiora, entusiasmada, acompanhava diariamente os progressos na feitura da obra. 
Animada, Irmã Catarina comentava com as freiras que não queria deixar de ver nenhum detalhe.
Enquanto isso, as aulas prosseguiram.
Helena e Mário, muito amigos, aproveitavam os sábados para conversar. 
Contudo, com a vigilância atenta dos religiosos, raramente ficavam sozinhos.
Com isso, Mário e Helena, depois de um curto passeio pelas cercanias aproveitando algumas mesas vazias, escolheram uma delas e sentaram-se em suas cadeiras. 
Diante disso, aproveitando a proximidade das férias, o rapaz comentou que ele e parte de algumas turmas, autorizados pelos pais, passariam as férias em companhia destes.
Helena, ao ouvir comentário revelou que dentre esses nomes, figurava o seu.
Mário satisfeito com a novidade, foi logo lhe perguntando onde morava. 
A moça então, contou onde vivia.
Para surpresa dele viviam os dois na mesma cidade.
Animados com a feliz coincidência, os dois começaram a fazer planos.
Como eles, vários outros jovens animados com a possibilidade de voltarem para casa, combinavam com os amigos, os passeios que fariam pela cidade. 
Muito embora as férias durassem apenas um mês, todos eles diziam que iriam aproveitar aqueles momentos como se fossem muitos anos, tamanha a quantidade de passeios que planejavam.
Mário e Helena não fugiam a regra. 
Os dois estavam tão entusiasmados com os planos de viagens que seus respectivos amigos, ao se verem excluídos da programação, ficaram enciumados. 
Comentando que os amigos também eram importantes, eles acabaram por convencer o casal de amigos, de que eles também queriam aproveitar suas companhias. 
Assim, a tarde foi passando.
Os jovens, admirando a beleza da região, observaram encantados o cair da tarde.
Comentando que ali, nenhum pôr-do-sol era igual ao outro, muitos deles paravam o que estavam fazendo para apreciar o espetáculo.
Nisso quando voltavam as aulas, os alunos, já estavam descansados.
Mário e Helena aproveitando os breves instantes que tinham para conversar, driblando a vigilância dos frades e das freiras, caminharam de mãos dadas até o momento de mais uma vez se despedirem e entrarem na classe.
Nos dias que se seguiram Irmã Catarina, empenhada com a construção do Centro Cultural, cismou em criar uma disputa esportiva entre as classes do colégio.
Os religiosos ao saberem da proposta, não se opuseram. 
Pelo contrário, para espanto dela, comentando que aquele espaço precisava ser muito bem aproveitado, os mesmos chegaram até a comentar que valera a pena o investimento.
Satisfeita, assim que pôde Irmã Catarina foi até as classes informar sobre a realização do evento desportivo.
A animação foi total. 
Isso por que, todos os jovens gostaram da idéia.
Com isso, preparando o evento, a religiosa providenciou a confecção das fichas de inscrição e a organização do espaço.
Mário empolgado com a possibilidade de participar de uma disputa, tratou logo de se inscrever.
Assim, aproveitando o pouco tempo que tinham para organizar tudo, frades e freiras, montaram mesinhas na entrada do pátio e assim, antes dos jovens irem para suas classes, os
mesmos apunham seus nomes e dados pessoais nas fichas de inscrição.
Separados por sexo, de um lado fichavam as fichas para inscrição em modalidades femininas, e do outro as masculinas.
Era interessante ver a organização dos religiosos e o burburinho causado pela realização do evento. 
A entrada do colégio parecia um formigueiro lotado de candidatos.
Ao término do prazo para inscrição, ao saber que havia sido grande a procura dos alunos, a madre superiora teve a certeza de estar fazendo a coisa certa.
Nos dias seguintes, o que se viu foram os preparativos para o evento.
As freiras, empenhadas em realizar um evento digno de nota, sugeriram que nas aulas de música os alunos fossem ensaiados para cantarem o hino da escola, bem como o hino
nacional e outras canções de praxe.
Assim, os dias que antecederam a realização do evento desportivo, foram dias de dedicação, suor e esforço. 
Também foram dias de encantamento.
Com isso, nos dias da realização do evento, dedicados, os alunos ofereceram o melhor espetáculo que podiam, nas diversas modalidade em que competiram. 
Futebol, handebol, volei, natação, ginástica, tênis, etc. 
Foi fantástico!
Algumas garotas, atuando como animadoras de torcida, fizeram com que todo o Centro Esportivo torcesse pelos competidores.
Em razão da competição, alguns alunos mais exaltados, chegaram a se desentender.
Não fosse a intervenção dos religiosos e da própria madre superiora, e poderiam ter surgido algumas brigas. 
Contudo, contornada a rivalidade, tudo transcorreu na mais absoluta paz.
Diante disso, animada com os resultados do evento, a religiosa, tratou logo de afixar nos principais prédios dali, as fotos e as realizações dos competidores.
Irmã Magda, ao ver a profusão de fotos e de matérias que poderiam ser escritas, sugeriu:
-- Madre. Eu estive vendo essa enorme quantidade de fotos e registros sobre o evento e pensei em uma coisa... Por que a senhora não sugere aos alunos criarem um jornal de
circulação mensal relatando os principais eventos do colégio?
A madre superiora ao ser indagada a este respeito, depois de algum tempo pensando, respondeu:
-- É uma coisa para se pensar. Muito interessante a sua idéia. Pensando bem...pensando bem, não seria bom também se fosse criada uma rádio, noticiando os principais eventos do colégio?
Irmã Magda ao ouvir a contra-proposta concordou. 
Seria muito bom se as duas idéias pudessem ser colocadas em prática.
Madre Catarina então, com a mente fervilhante de idéias, conversando com os alunos, obteve mais do que depressa a aprovação dos mesmos.
Nisso, com a ajuda dos religiosos, Irmã Catarina providenciou prensa, papel e tudo o mais necessário para a confecção do jornal. 
Além disso, empenhada em instalar uma rádio no colégio, também pôde contar com o auxílio dos frades e das freiras para colocar também esta idéia em prática.
Entusiasmada, Irmã Catarina pôde contar ainda com o financiamento dos pais dos alunos na implementação de suas idéias, já que boa parte do dinheiro destinado a esses
projetos estava sendo investida no Centro Cultural.
Com isso, pensando em lançar o jornal e autorizar a rádio fazer sua primeira transmissão no dia de um grande evento, a religiosa, aproveitando que os jovens começavam
a se organizar para tornar possível estas idéias, sugeriu a realização de um baile para encerrar o semestre.
Quando os alunos souberam como a madre tencionava encerrar as aulas, todos concordaram animados.
Não bastassem a festa junina, que já era tradicional no colégio, os alunos podiam contar com mais esta novidade.
Passemos então, a festa.
Na festa junina, todos se fartaram comendo milho cozinho, pipoca, pé-de-moleque, entre outras iguarias servidas na festa. 
Como era uma festa junina, estavam liberados refrigerantes e algumas brincadeiras.
A quadrilha, dançada por alunos do último ano, foi um espetáculo. 
De tão bem realizada. a festa teve até a tradicional cena do casamento na roça.
Na festa teve ainda, bandeirolas coloridas – típicas de festa junina –, o mastro com a bandeira do santo do dia, as fogueiras, os fogos, as canções. 
Tudo fora muito bem planejado e executado.
Até mesmo o tradicional correio elegante fora realizado. 
Aproveitando esta oportunidade, muitos alunos colocaram os assuntos em dia. 
Como o conteúdo dos bilhetes não podia ser lido pelos religiosos, os jovens aproveitaram muito bem a ocasião.
Animados, os moços, ao se depararem com tão belo espetáculo, comentaram que certamente o baile organizado pelo colégio seria ainda melhor.
E foi. 
Quando finalmente o baile foi realizado, os estudantes, usando trajes de gala, valsaram a noite inteira. 
Animados com tão belo espetáculo, todos se divertiram muito.
Até os irmãos e irmãs, sempre tão reservados, aproveitaram para se divertirem um pouco.
Para tocar os sucessos do momento, uma orquestra foi especialmente contratada. 
O salão do colégio, ricamente adornado com flores estava primoroso. 
E exatamente nesse lugar, o jornal da instituição foi distribuído pela primeira vez. 
Isso por que, nos dias que se seguiram, alguns estudantes, adrede sentados em mesas, distribuíram os exemplares do jornal aos alunos interessados em adquiri-lo.
Com isso, conforme o planejado, na mesma noite do baile, logo após seu encerramento, a rádio entrou no ar. 
Como a festa acabou às seis da manhã, logo a seguir a rádio começou a funcionar.
Chamada Rádio Estudante, os alunos depois de uma longa noite de festa, se prepararam para colocar a estação no ar. 
Como se tratava de um serviço local, somente os moradores da cidade conseguiam sintonizá-la.
Para os alunos porém, independente do curto alcance da mesma, era um privilégio possuir uma rádio exclusiva.
Diante disso, preparando para a viagem de retorno a suas casas, alguns jovens começaram a arrumar suas malas.
Assim, conforme o momento da viagem se aproximava os jovens aproveitavam para andar mais uma vez pelos jardins, se exercitarem no Centro Desportivo e acompanhar a edificação do Centro Cultural.
Como já fazia algum tempo que havia sido iniciada a construção, notava-se nas fundações a conformação que o espaço teria.
Projeto que há anos Irmã Catarina sonhava implantar, e há igual tempo, se empenhava em amealhar dinheiro para transformar o projeto em realidade.
Com isso, ao saberem do esforço da madre superiora, alguns alunos, admirados com tanta dedicação, chegavam a comentar:
-- Mas que mulher extraordinária esta nossa irmã!
E assim, aguardando os últimos dias antes da viagem, os alunos aproveitaram para passear pelo colégio.
...
Quando finalmente chegou o dia da viagem os alunos, foram conduzidos de lotação até o aeroporto.
Como o tempo estava fechado, ao chegarem no aeroporto, os jovens tiveram que aguardar para iniciarem a viagem. 
Assim, somente depois de cerca de quarenta minutos é que eles puderam dar início a viagem.
Nisso, adentrando o avião, ansiosos, os estudantes acomodaram-se nas poltronas, e, aguardando a decolagem, ficaram entretidos conversando entre si. 
Saudosos, mal podiam esperar para rever a família e a casa onde viviam.
Com isso, foi só tempo se abrir um pouco, e o céu se mostrar claro que o comandante, seguindo as instruções da torre de controle, alçou vôo e rumando para outras paragens, iniciou a viagem.
Durante algum tempo, o céu claro e brilhante, com poucas nuvens, parecia convidativo. 
Porém, sem mais nem menos o céu aberto, fechou-se e tudo ficou escuro. 
Assim, foi apenas uma questão de tempo para que uma forte chuva começasse a cair. 
O avião que até então vinha fazendo um trajeto tranqüilo, inesperadamente começou a estremecer.
Os alunos, ao sentirem a trepidação, começaram a se alarmar.
As aeromoças, percebendo a tenção, pediram para que todos tivessem calma. 
Em seguida uma delas dirigindo-se a cabine do avião, foi tentar descobrir o que estava acontecendo. 
Foi assim, que ela ficou sabendo pelo comandante, que eles estavam atravessando uma turbulência por causa da tempestade, e que precisavam contatar a torre de comando para
saber onde poderiam pousar. 
Diante do quadro relatado, o comandante respondeu ainda, que provavelmente eles teriam que interromper o vôo.
Assim, a aeromoça, alertada sobre o fato de que não poderia alarmar os passageiros, ao sair da cabine, indagada pelas outras comissárias de bordo, comentou que precisava dar um aviso.
Foi assim que ela falou que, em decorrência das condições climáticas, eles fariam um pouso de emergência nos arredores.
Os alunos ao ouvirem isso, ficaram um tanto quanto preocupados. 
Sabendo que não era comum interromper uma viagem, Mário, um dos passageiros quis logo saber o que estava acontecendo.
A aeromoça, orientada a não alarmar os passageiros respondeu que estava tudo bem.
Mesmo ao ser inquirida sobe a excepcionalidade de um pouso em meio a uma viagem, ela continuou a insistir que estava tudo bem.
Helena que estava no mesmo vôo, ao ver Mário tentando descobrir o que estava havendo, foi até ele. 
Aflita só conseguia dizer que queria sair dali. 
O rapaz percebendo o nervosismo da moça, começou a dizer que estava tudo bem. 
Comentando que seria apenas um pouso de emergência e que depois de alguns minutos tudo estaria bem, Mário conseguiu fazer com que Helena se acalmasse um pouco.
Nisso, ao sentirem novos solavancos, os passageiros passaram a preocupar.
Percebendo a gravidade da situação, o comandante, recomendando que todos se acalmassem, comentou que eles iriam fazer um pouso de emergência.
Mário e Helena percebendo a gravidade da situação, ao notar o desespero dos passageiros, se abraçaram e desejando sorte um ao outro, esperaram que tudo acabasse bem.
Com isso a tripulação da aeronave, bem como os passageiros, percebendo o perigo, ao verem as condições do tempo no entorno, começaram a gritar apavorados.
Nisso o avião, fazendo um movimento brusco, deixou o piloto e comandante, sem saber ao certo onde estavam. 
Mesmo assim, os dois tentaram fazer um pouso seguro. 
Porém, tudo o que conseguiram foi bater contra um morro próximo dali.
...
Quando finalmente a tempestade cessou, o que se pôde ver foram os destroços de avião espalhados por toda a parte.
O cenário, desolador, denunciava que nenhuma viva alma restara daquele horrível acidente.
Nisso, os controladores da torre do aeroporto, ao notarem que fazia muito tempo que os tripulantes não se comunicavam, com o passar das horas, sabendo que algo de muito sério
havia ocorrido, tomaram todas as medidas necessárias para tentarem localizar o avião.
Temendo pelo pior, os funcionários do aeroporto, procuraram em toda a cidade, pessoas dispostas a vasculhar a região de difícil acesso, onde pela última vez tiveram contato
com a aeronave.
Com isso, por dias a fio, com o auxílio de bombeiros chamados para ajudar no resgate dos sobreviventes, os homens que se incumbiram da difícil tarefa se depararam com
destroços, fuselagem e mortos.
Nada indicava que alguém pudesse ter sobrevivido. 
Irmã Catarina ao saber do ocorrido, se incumbiu de avisar as famílias dos desaparecidos sobre o acidente. 
Além disso, prometeu rezar para que os mesmos fossem encontrados vivos.
Quando tomou ciência do ocorrido, a madre superiora, não imaginava nem de longe a gravidade do acidente. 
Acreditando que tudo não passara de um susto, a irmã, prometeu rezar para que tudo corresse bem.
Contudo, com o passar dos dias ao saber dos mortos, Irmã Catarina, foi lamentavelmente informar os pais dos jovens sobre o óbito dos mesmos.
Comentando com Irmã Magda que aquela tinha sido a coisa mais difícil que já havia feito na vida, a madre superiora respondeu, que nunca em tantos anos de vida religiosa e de
direção daquele colégio, imaginara que um dia passaria por uma situação tão funesta quanto aquela.
Percebendo o abalo da religiosa, Irmã Magda passou a telefonar ela mesma, para os pais dos estudantes desaparecidos e mortos, e dizendo-lhes palavras de conforto, tentou consolá-los diante do inconsolável.
Nos dias que se seguiram o colégio foi o cenário mais triste que já se viu. 
Lá os pais velaram seus filhos mortos.
A quantidade de corpos era tão grande que os mesmos tiveram que ser velados no colégio.
Contudo, conforme as buscas prosseguiam, muitos jovens continuavam desaparecidos. 
Como a região onde ocorrera o desastre era inóspita, havia muitos corpos espalhados pela mata.
Madalena e Cícero, ao saberem do acidente, aterrados com a possibilidade do pior, acorreram imediatamente em direção a região do colégio. 
Lá, foram informados que muitos jovens haviam morrido no acidente. 
Desesperados, ao ouvirem a funesta notícia, quiseram logo saber da filha. 
Quando descobriram que a mesma continuava desaparecida, Madalena recolhendo-se numa capela passou o tempo inteiro a rezar.
Irmã Catarina, ao saber por quem ela rezava, pediu que também rezasse pelos mortos.
Madalena aceitou o pedido.
Nisso a madre superiora, empenhando-se em confortar as inúmeras famílias pela perda de pessoas tão jovens, pediu a Padre Oswaldo que celebrasse uma missa
encomendando todas aquelas almas.
Com isso, todos participaram da missa. 
Os pais dos estudantes mortos, os alunos que ficaram no colégio, os pais aflitos que ao saberem do ocorrido foram até lá para saber se seus filhos estavam bem, etc. 
Os moradores da cidade em solidariedade também participaram da missa.
Diante de tanta gente, o templo ficou pequeno, tamanho era o interesse de todos de participarem da missa.
Nos dias que se seguiram, a pedido da madre superiora e também do Frei Bartolomeu, o sacerdote continuou a celebrar missas. 
Rezando durante a manhã, e a tarde, Padre Oswaldo prometeu que só cessaria de celebrar duas missas diárias quando todos os alunos desaparecidos fosse encontrados.
E assim, nos dias que se seguiram, a participação nas missas, foi maciça e expressiva.
Contudo, conforme os meses se passaram, cada dia mais, minguava o número de participantes. 
Padre Oswaldo, determinado porém, não desistiria de sua promessa.
Nisso Madalena e Cícero, bem como inúmeros outros pais, como os pais de Mário, por exemplo, ainda se afligiam com a falta de notícias. 
Sem saberem o que pensar, só conseguiam imaginar que o pior havia ocorrido.
Mortos, pois ninguém conseguiria sobreviver por tanto tempo sozinho, num lugar tão inóspito.
Triste. 
Porém, o mais triste não era sabê-los mortos. 
O triste era não poder ter tido nem a oportunidade de sepultá-los.
...
Em razão disso, alguns pais, como o de Mário, cansados por esperar por notícias que nunca vinham – visto que as buscas já haviam se encerrado há vários meses – resolveram
com a ajuda das autoridades, fazer um enterro simbólico de seus mortos.
Madalena porém, mesmo aconselhada por Cícero a acabar de vez com aquela angústia, não aceitava a idéia. 
Dizendo que jamais sepultaria uma pessoa que poderia estar viva, a mulher insistia em dizer ao marido que Helena estava viva. 
Vivendo sozinha rodando por aí, talvez estivesse tentando encontrar o caminho de volta para casa, teimava em dizer.
Esperançosa, sempre que era desafiada a deixar de lado essa idéia, Madalena respondia chorando, que só desistiria de reencontrar sua filha, quando tivesse a certeza que
ela estava morta. 
Caso contrário, continuaria esperando por ela. 
Esperaria até o dia de sua morte.
Cícero ao perceber a obstinação da mulher, ele que já estava cansado de sofrer com falsas esperanças, resolveu retomar sua vida. 
Procurando esquecer do duro golpe que sofrera, o pobre homem investiu em seu trabalho. 
Dedicado, muitas vezes chegava a fazer serão para colocar tudo em ordem.
Madalena porém, desejosa de reencontrar a filha, todos os dias rezava para que tal milagre acontecesse. 
Contudo, por mais que desejasse esse reencontro, tudo levava a crer que Helena realmente havia desaparecido do mundo dos vivos.
Embora no começo todos se empenhassem em sua procura, bem como na procura dos demais desaparecidos, com o passar das semanas, cansados de procurar, os homens
diminuíram gradativamente as buscas. 
Com o passar dos meses, pararam completamente de procurá-los.
Madalena ao saber disso, tentou a tudo custo impor sua vontade. 
Ao chegar na cidade, nas proximidades do local da tragédia, a mulher, dizendo que não agüentava ficar naquela incerteza, respondeu que faria qualquer coisa para encontrar a filha. Dizendo que Helena devia estar perdida naquela mata, Madalena ameaçou ir pessoalmente procurá-la em meio àqueles caminhos.
Irmã Catarina, ao saber da indignação da mulher, comentou desolada que não havia mais nada a ser feito.
Madalena ao ouvir isso, começou a planger.
A religiosa, percebendo o desespero da mulher, comentou que Padre Oswaldo todos os dias celebrava uma missa à tarde, na esperança de que sejam encontrados os desaparecidos. Além disso, visando acalmar a mãe desconsolada, Irmã Catarina, comentou que Frei Bartolomeu, em suas orações diárias no monastério, sempre incluía as jovens vítimas do desastre, em suas preces. 
Tentando consolar Madalena, a madre superiora disse ainda, que ela também rezava todos os dias por eles, pedindo para que todos ficassem em paz.
Madalena ao ouvir isso, agradeceu a atenção que todos dedicavam aos jovens. 
Mas dizendo que sua filha não estava morta, respondeu que ficaria a esperá-la por toda a vida se preciso fosse.
Emocionada, a religiosa respondeu que gostaria muito que as preces dela fossem atendidas. 
Dizendo a Madalena que ela poderia voltar ali, sempre que quisesse, a madre superiora comentou que naquele lugar, as portas estariam sempre abertas para ela, e para todos os pais que quisessem visitar o colégio.
Com isso, no dia seguinte, percebendo que de nada adiantava ficar por ali, Madalena tentando encontrar sua filha, saiu e caminhando em direção ao local do acidente, começou a
ficar cada vez mais longe do colégio.
Nisso, quando alguns homens, passeando pelo local, a viram, trataram logo de levá-la ao colégio. 
Percebendo que se tratava da mãe de um dos jovens mortos, os homens, insistiram para que ela voltasse ao colégio.
Madalena bem que tentou resistir, mas percebendo que os homens a levariam novamente para o colégio mesmo contra sua vontade, acabou aceitando a carona deles.
Com isso, assim, que chegou ao colégio, Irmã Catarina, ao saber do incidente, censurou Madalena. 
Dizendo que tudo que podia ser feito já havia sido realizado, comentou que agora só restava rezar. 
Ademais, alegando que dificilmente uma pessoa sobreviveria naquelas condições, e por tanto tempo, a religiosa, só conseguiu atrair a fúria de Madalena, que revoltada gritou dizendo que sua filha estava viva.
Preocupada a religiosa, que não sabia mais o que fazer, chamou Cícero.
O homem ao ser intimado pela religiosa, ficou bastante preocupado. 
Indagando sobre o que estava acontecendo, descobriu que sua mulher não estava nada bem.
A religiosa, dizendo que só poderia entrar em detalhes quando pudessem conversar reservadamente, pediu urgência.
Cícero, preocupado, atendeu prontamente o pedido. 
Ausentando-se do trabalho, viajou de avião até a região. 
Ao lá chegar, dirigiu-se ao colégio e perguntando pela esposa foi logo falar com ela.
Ao ver Madalena tão apática, Cícero quis logo saber o que estava acontecendo.
Irmã Magda, dizendo que a madre superiora desejava conversar com ele, levou-o até o gabinete da religiosa.
Lá ele descobriu que Madalena, tentou se embrenhar no mato em busca da filha desaparecida. 
Surpreso com a atitude da esposa, Cícero comentou desolado que não sabia mais o que fazer.
A religiosa, compadecida com o sofrimento de ambos, recomendou que Madalena fizesse um longo repouso. 
Dizendo que ela não estava nada bem, comentou com Cícero, se não seria o caso dela fazer uma terapia, ou ter algum acompanhamento clínico.
Cícero, ao ouvir os conselhos da madre superiora, prometeu que a faria fazer um tratamento.
A religiosa, então, dizendo que gostaria de ter notícias sobre o estado dela, alegou que desejava ser informada sobre suas melhoras.
Cícero agradecendo a gentileza de Irmã Catarina, prometeu que sempre que pudesse, a informaria sobre o que estava acontecendo.
Em seguida, ao ver novamente a mulher, Cícero tentou o máximo que pôde fazê-la conversar, mas apática, Madalena parecia não se interessar por nada do que acontecia ao seu
redor. 
Triste e abatida, até para comer era um sacrifício convencê-la.
Cícero, cheio de paciência, fazia o possível para lhe dar atenção.
No entanto, ele também estava triste com o que estava acontecendo. 
As freiras, percebendo que ele também precisava de ajuda, comentaram, se não seria melhor levá-la para uma clínica de repouso. 
Assim, ele também poderia descansar.
Cícero no entanto, dizendo que estava bem, comentou que agora que ela estava se sentido só, a última coisa que ele poderia fazer é abandoná-la. 
Pelo contrário, dizendo que ela precisava se sentir querida, Cícero comentou que sua tarefa agora era fazê-la interessarse novamente pela vida.
Assim, no dia seguinte, voltando para casa com a esposa, Cícero aproveitou para passar todo o dia com ela. 
Dedicado cercou-a de atenção.
Em seguida, dizendo a havia deixado muito sozinha, prometeu que não ficaria mais tanto tempo entretido em seu trabalho. 
Prometendo levá-la para passear, Cícero alegou que do jeito que estava, ela não poderia mais ficar.
Madalena, distraída, só pensava em sua filha.
Com isso, Cícero, percebendo que seu empenho não estava resolvendo nada, resolveu finalmente ouvir os conselhos da Irmã Catarina.
Preocupado com o agravamento do estado de saúde da mulher, Cícero levou a esposa a todos os médicos. 
Em busca de um tratamento para sua melancolia, o homem fez uma longa peregrinação em hospitais e consultórios. 
Dizendo a todos os médicos que consultavam a esposa, que queria a Madalena de antes, ouvia sempre a mesma resposta. 
Os médicos, sem saberem ao certo o que se passava com ela, diziam que a mesma precisava passar algum tempo em uma clínica de repouso.
Cícero, irritado com a resposta, certa vez comentou que não jogaria sua mulher em uma casa de saúde.
E assim, sua busca prosseguiu. 
Sua procura só cessou no entanto, quando finalmente um médico se propôs a ajudá-la em casa. 
Contudo, o doutor, dizendo que precisava contar com a ajuda de Madalena, comentou que só se ela se empenhasse, o tratamento traria algum resultado.
Cícero resolveu investir no tratamento.
E assim foi.
Embora o tratamento fosse caro, e Madalena resistisse muito a idéia de que estava doente, com muita persistência, e com o passar dos meses, finalmente se pôde perceber os
primeiros resultados.
Desta forma, depois de quase dois anos após o acidente que vitimou a filha, finalmente Madalena dava mostras de que gostaria de retomar sua vida.
Muito desse empenho era devido a Cícero que determinado, jamais aceitaria que ela se entregasse a tristeza.
Como havia prometido, Cícero sempre que podia, escrevia para Irmã Catarina relatando os progressos da esposa. 
Na última carta, por exemplo, dizendo que ela havia recebido alta, comentou que agora a vida transcorreria normalmente.
A madre superiora ao ler o teor da missiva, ficou muito feliz em saber que as coisas pareciam estar mudando na vida daquela família.
Ciente porém, de que as coisas nunca mais voltariam a ser como eram antes, Irmã Catarina sabia que eles nunca mais se esqueceriam daquele triste dia de julho, onde a saudade
de momentânea, passou a ser eterna. Isso por que, nunca mais os pais daqueles jovens veriam
seus filhos ficaria eternamente.
Além disso, depois do acidente, muitos pais, temerosos de novos desastres, ameaçaram tirar seus filhos do colégio. 
Não fosse o empenho da madre superiora, do Frei Bartolomeu, do Padre Oswaldo, de Irmã Magda e de todos os demais religiosos, certamente, muitos alunos abandonariam o colégio.
Mesmo assim, no entanto, nos anos que se seguiram, muita gente, lembrada do terrível acidente, – que foi exaustivamente noticiado nas rádios e televisões do país –, receosa de que
o evento se repetisse, deixou de considerar o colégio como uma boa opção. 
Isso abalou profundamente as finanças do colégio, que com os custos do Centro Cultural, só podia contar com o dinheiro dos alunos que estudavam lá. 
Todavia, como todos os anos um grupo de alunos se formava, cada menos gente freqüentava o colégio.
Irmã Catarina percebendo isso, empenhou-se pessoalmente em atrair novos alunos.
Auxiliada pelos comerciantes da cidade, a religiosa, com o auxílio dos pais e dos alunos que permaneceram no colégio, passou a divulgar o lugar. 
Com isso, sem deixar de lado os vestígios do acidente, que abalou o prestígio do colégio, Irmã Catarina, procurava mostrar o que aquele lugar tinha de bom.
Nisso o tempo foi passando...
Com o Centro Cultural construído, e com as maciças inscrições de alunos – que voltaram a se matricular ao colégio –, a madre superiora inaugurou o local com toda a pompa e circunstância. 
A rádio criada por ela, e o jornal do colégio, anunciavam com todo o destaque a inauguração do Centro Cultural.
E como não poderia deixar de ser, a festa de inauguração foi um verdadeiro sucesso.
Nos dias que se seguiram, inúmeras récitas foram realizadas no Teatro. 
No Museu Sacro, os alunos puderam admirar imagens e belas esculturas sacras feitas por escultores brasileiros. 
Encantados, observaram oratórios, presépios, e objetos religiosos. 
Explicando o significado de cada daqueles objetos, estava Frei Bartolomeu, que encantado com o espaço, chegou até a sugerir a madre superiora, que realizassem exposições itinerantes no lugar.
A religiosa, ao ouvir a sugestão, comentou empolgada que aquela era uma ótima idéia.
E assim, a vida prosseguiu normalmente. 
Com a recuperação do prestígio do colégio, quase tudo passou a ser como era antes.
Nessa época, Madalena, restabelecida, apesar da imensa saudade que sentia da filha, acostumou-se com sua ausência. 
Contudo, como ainda sofria muito com tudo o que acontecera, Madalena evitava lembrar-se do que havia sucedido.
...
Enquanto isso Raquel, uma estudante do colegial, ao passar em frente a um prédio de apartamentos, quase foi acertada por um sorvete. 
A moça, ao notar o objeto caindo, olhou para cima e revoltada percebeu que provavelmente fora o rapaz que estava na varanda que derrubara o sorvete em sua direção.
Furiosa, a moça começou a dizer uma série de imprecações. 
Chamando-o de irresponsável e de sem-caráter, Raquel exigiu que o mesmo descesse.
Guilherme, porém, dizendo que não iria perder seu tempo discutindo com uma pessoa ignorante, recusou-se a descer.
Irritada com a recusa Raquel, chamando-o de covarde, ameaçou-o dizendo que se o mesmo atravessasse seu caminho ele iria se arrepender.
Guilherme dando de ombros, entrou no apartamento e Raquel, percebendo que de nada adiantava ficar xingando-o, retomou seu caminho.
Aborrecido, Guilherme, quando foi encontrar-se com um amigo, comentou que uma garota muito mal-educada o irritara.
O amigo ao ouvir a história do sorvete, recomendou a Guilherme que não levasse aquilo tudo a sério.
Guilherme, então deixando a história de lado, resolveu aproveitar para jogar um pouco de tênis.
Nisso Raquel, ao chegar em casa, depois de passar a manhã na escola, estudando em seu quarto, ao ouvir alguém abrindo a porta, percebeu que Magali chegava. 
A moça, prevenida, ao perceber a aproximação da senhoria, tratou logo de trancar a porta.
Isso por que a mulher sempre que voltava da rua, depois de passar longas horas por aí, andando, sempre tinha assunto para conversar. 
Raquel, contudo, aproveitando a folga do trabalho, preferia ficar estudando a ouvir a conversa vazia de Dona Magali. 
Isso por que raros eram os dias que ela podia ficar ali sossegada, estudando. 
Como era sozinha, desde que a mãe falecera, passara a tomar conta de sua vida.
Assim, além de estudar, tinha que trabalhar para pagar o quartinho que dormia na pensão. 
Como não tinha a quem recorrer, só lhe restava o trabalho numa boutique. 
A dona da
loja, sabendo do sonho da moça de estudar, em um ajuste feito entre elas, deixou-a começar seu turno à tarde. 
Desta forma, começando o trabalho à uma hora da tarde, Raquel, permanecia no estabelecimento até as oito horas da noite.
Contudo, a moça hoje não precisava trabalhar. 
Assim, aproveitando o dia livre, Raquel resolveu estudar. 
Mais tarde com os estudos em dia, poderia até ouvir um pouco da conversa fiada de Dona Magali.
Assim o fez.
Mais tarde, ao sair do quarto, Magali espantada por vê-la ali na pensão àquela hora, perguntou o que ela estava fazendo.
Raquel, explicando que estava de folga, comentou que estivera estudando todo aquele tempo.
A senhoria percebendo a dedicação da moça, elogiou seu empenho com relação aos estudos. 
Magali, admirada com a dedicação da moça, chegou até a comentar que se o seu filho fosse um pouco mais esforçado, certamente teria um futuro melhor.
Raquel sorriu.
No dia seguinte, Guilherme, conduzindo seu carro, ao ver a moça, provocou-a e aproximando-se e buzinando, chamou-a de encrenqueira.
Raquel, no mesmo instante, percebendo a provocação, retrucou que não era ela que ficava mexendo com os outros no meio da rua. 
Portanto, ele é que era um reles encrenqueiro.
Frederico ao ouvir as palavras de Raquel, caiu na gargalhada.
Guilherme porém, irritado, respondeu que não via a menor graça em tudo o que a moça dissera. 
Com isso, à certa altura, cansado que estava de ser ridicularizado, aborrecido mandou o amigo calar-se.
Frederico, percebendo que o rapaz estava mesmo irritado, deixou de lado a gozação.
Com isso, ao chegarem na casa de Madalena, a mulher ao ver o filho no portão, pediu para que ele chamasse o amigo para entrar.
Frederico, tratou logo de convidá-lo a entrar.
Guilherme então, foi com o amigo até a sala.
Lá estava uma fotografia de Helena, desaparecida há quase quatro anos.
Irritado, ao entrar na sala, Guilherme comentou que aquela garota era muito atrevida.
Frederico, sem entender o que o amigo dizia, perguntou então:
-- De quem você está falando? É daquela moça da rua?
-- Criatura, de quem você acha que eu estou falando? Quem pode ser? – retrucou Guilherme impaciente.
Frederico, desculpando-se por não entender o que o amigo dizia, comentou que não podia adivinhar.
Guilherme, percebendo que se excedera, pediu-lhe desculpas.
Frederico então, curioso, disparou a seguinte pergunta:
-- Aquela moça que te respondeu rispidamente, é a mesma que te xingou quando você derrubou o sorvete do terraço de seu apartamento. Não é?
Guilherme, incomodado com a pergunta, questionou a razão de tanta curiosidade.
Frederico, percebendo que o amigo não queria falar sobre o tema, respondeu que ele não precisava dizer nada se não quisesse.
Guilherme porém, cansado de fazer mistério, confessou:
-- Sim, é sim.
Frederico, respondeu sorrindo:
-- Essa é boa. Muito boa!
Guilherme, irritado com o comentário do amigo, tentando conversar sobre outro assunto passou a olhar em volta. 
Ao se deparar com o retrato de Helena, surpreso comentou:
-- Estranho! A gente se conhece há tanto tempo e eu nunca vi sua irmã.
Frederico, chateado com o comentário, respondeu que não viu, nem poderia ver. 
Em seguida, segurando o retrato, perguntou a Guilherme se ele queria beber alguma coisa.
O rapaz, respondendo que não, tratou de perguntar se havia dito alguma coisa errada.
Frederico, dizendo que não havia sido nada, depois de acariciar o retrato, colocou-o de volta no lugar onde estava.
Guilherme então, se lembrou que Helena estava desaparecida há muito tempo. 
Por isso, batendo a mão na fronte, comentou envergonhado:
-- Que maçada! Eu me esqueci completamente... Desculpe Frederico, eu não quis retrucar quando eu comentei sobre sua irmã. Que vergonha! Me desculpe. Prometo que este
lapso não vai mais se repetir.
Frederico dizendo que não fora nada de mais, perguntou mais uma vez se ele não queria beber alguma coisa.
Guilherme recusou mais uma vez o oferecimento. 
A seguir, dizendo que precisava ir, comentou que tinha muito o que estudar.
Aluno do curso de direito, Guilherme utilizou-se da desculpa dos estudos, para poder sair daquela casa. 
Visivelmente embaraçado com o que dissera, o rapaz só queria sair dali.
Pensando que assim, minoraria o efeito de suas palavras, despediu-se do amigo e saindo dali, voltou para casa.
Nos dias que se seguiram, Guilherme não avistou nem a sombra de Raquel, que ocupadíssima, ia da pensão para a escola, da escola para o trabalho, do trabalho para a pensão.
Somente nos fins-de-semana, quando não era convocada para trabalhar, a moça tinha algum tempo livre para si.
Foi assim, num dia de domingo, passeando num dos parques da cidade que Guilherme, acompanhado de uma garota, avistou Raquel. 
A moça acompanhada do filho de Magali, nem notou sua presença.
O rapaz porém, ao ver a moça no parque, sem notar que ela estava acompanhada, não perdeu a oportunidade de lhe fazer uma provocação. 
Perguntando-lhe se estava sozinha, Guilherme, ao perceber que a assustara caiu na gargalhada.
Nisso Marciano, ao ver o rapaz fazendo troça com a moça, foi logo perguntando:
-- Algum problema, Raquel?
Guilherme, ao ver que a moça não estava sozinha, parou a gozação. 
Surpreso, perguntou-lhe:
-- Então, seu nome é Raquel?
Marciano, puxando a moça pelo braço, sugeriu que ambos saíssem dali.
Guilherme então, tentando saber mais sobre ela, perguntou:
-- Hei! Esperem, vocês não vão falar nada?
Raquel e Marciano porém, não estavam nem um pouco interessados em conversar com um estranho.
Com isso, Guilherme, irritado com a reação dos dois, ao vê-los caminhando à sua frente, aborrecido, começou a chamar a moça de metida e arrogante.
Mas, Raquel e Marciano, já longe dali, não chegaram a ouvir a provocação.
Nisso, irritado com o desdém de Raquel, Guilherme encheu os ouvidos da namorada.
Aborrecido com o ocorrido, ele comentou com a namorada que não valia a pena perder sua tarde falando nos dois.
Assim, saindo do parque, Guilherme e sua namorada, entrando no carro, rumaram em direção a residência dele.
Mais tarde Raquel, voltando para a pensão, foi logo submetida a um interrogatório, por Magali. 
A senhoria, querendo saber como havia sido o passeio, não poupou nem ao filho das perguntas. 
De tanto perguntar, Magali acabou descobrindo que um estranho se aproximara dela.
Ao saber disso, a mulher repreendeu o filho. Irritada, perguntou:
-- Eu não pedi a você para não deixá-la sozinha? Como é que você me faz uma dessas? Será possível que não posso contar com você pra nada, imprestável?
Marciano, respondeu então que fora apenas uma ausência momentânea e que o moço não queria nada de mais.
Magali então, percebendo que o incidente não tivera importância, acalmou-me.
Dizendo porém que ele não podia deixá-la sozinha nem por um minuto, comentou que a cidade estava cheia de aproveitadores e que todo o cuidado era pouco.
Marciano querendo encurtar o sermão, concordou com tudo o que a mãe disse.
Depois, dizendo que tinha trabalho a fazer, tratou logo de sair da pensão.
Raquel, por sua vez, dizendo que eles não precisavam se preocupar com ela, comentou que Marciano não tivera culpa do ocorrido. 
Afirmando que podia perfeitamente se cuidar sozinha, Raquel liberou Marciano da incumbência de acompanhá-la em seus passeios.
Magali porém, dizendo que ela não podia ficar sozinha, insistiu para que ela não saísse desacompanhada para passear.
Contrariada, Raquel acabou concordando em continuar passeando em companhia de Marciano.
Certa vez andando distraída pela rua, Raquel acabou trombando em Frederico. 
A moça percebendo o que fizera, foi logo pedir-lhe desculpas.
Nisso, o rapaz, dizendo que não havia sido nada de mais, observando-a melhor, espantou-se.
Raquel porém, apressada, depois de se desculpar, continuou a caminhada.
Frederico intrigado, bem que tentou segui-la, mas esta desapareceu como que por encanto.
Intrigado, quando o rapaz se encontrou novamente com Guilherme, logo comentou a semelhança daquela moça com sua irmã.
Guilherme ao ouvir a história do amigo, rapidamente respondeu que aquela fora apenas uma coincidência. 
Dizendo ao amigo que ele ainda devia gostar muito da irmã para fazer essa confusão, Guilherme alegou que Raquel nem era tão parecida assim com Helena.
Frederico no entanto, insistindo em dizer que ela era realmente muito parecida com sua irmã, perguntou ao amigo se a moça, não poderia realmente ser Helena.
Guilherme ao ouvir isso, tentando convencê-lo do contrário, perguntou:
-- Frederico. Caro amigo. Você acha que se fosse ela, não teria vindo procurá-los? Pense bem, o que ela estaria fazendo, vivendo por aí? Sem família, sem amigos, sozinha.
Frederico respondeu então:
-- É verdade. Mas... e se ela perdeu a memória e ficou por aí vagando, até que encontrou alguém que a ajudasse?
Guilherme, percebendo que Frederico não desistiria fácil da idéia de reencontrar a moça, capitulou e prometendo localizá-la, empenhou-se na tarefa.
Com isso, Guilherme, passando várias vezes pelos lugares onde a vira, procurou-a durante vários dias. 
Dias, semanas, tudo para ajudar Frederico. 
Tudo para que ele constatasse que a moça não era sua irmã.
Isso por que, percebendo o desassossego do amigo, Guilherme se solidarizando com ele, incumbiu-se da tarefa. 
Com isso, em questão de semanas finalmente encontrou a moça.
Observando as ruas onde encontrara Raquel semanas antes, Guilherme, depois de muito procurar, acabou encontrando-a.
Assim, depois de um longo tempo observando-a pelo espelho do seu carro, Guilherme finalmente tomou coragem e se aproximou.
Raquel, perplexa com a abordagem, ao ver Guilherme diante de si, perguntou aborrecida:
-- Você estava me seguindo?
Guilherme, respondeu então que não. 
Tentando retê-la por alguns minutos, comentou que um amigo dele gostaria muito de conhecê-la.
Raquel, desconfiada do tom da conversa, comentou que tinha pressa e que não podia ficar ali conversando.
Guilherme, aflito, pediu-lhe diversas vezes para que não fosse embora. 
Dizendo que tinha algo muito importante para lhe falar, o rapaz acabou convencendo a moça a ouvi-lo.
Contudo, ao ser convidada para entrar em seu carro, Raquel foi veemente.
Afirmando que não aceitava carona de estranhos, comentou que eles podiam perfeitamente conversar por ali mesmo.
Guilherme, ao perceber que nada a convenceria a sair dali, convidou-a para tomar um refrigerante em uma lanchonete que havia por perto.
Os dois ao chegarem no estabelecimento, entraram e Guilherme gentilmente, ofereceu uma cadeira para ela sentar-se. 
Raquel, agradeceu e sentou-se. 
Em seguida o rapaz escolhendo uma bebida para os dois, perguntou se ela gostava de coca-cola. 
Ao ver a moça balançar a cabeça, Guilherme pediu então ao garçon, para que lhes trouxesse dois refrigerantes.
Com isso, bastou algum tempo para que a bebida fosse levada até eles.
Guilherme então, aproveitando-se do clima amistoso daquele encontro, perguntou a moça, se ela sabia quem era Helena.
Surpresa com a pergunta, Raquel respondeu com outra pergunta:
-- Mas por que você quer saber isso?
Guilherme então, explicando que há muito tempo conhecera uma moça de nome Helena, comentou que desde há muito não a via.
Raquel curiosa, perguntou então, qual era o interesse dele na moça.
O rapaz respondeu então, que tinha saudades dela e que em razão da drástica forma como se perderam, ainda tinha muito o que explicar a ela.
Raquel, desconfiada do tom da conversa, pediu para que ele lhe dissesse qual era a verdadeira razão para tudo aquilo.
Guilherme, ao ouvir a pergunta de moça, perguntou seu nome.
A moça, desconfiada, respondeu que se chamava Raquel.
Guilherme respondeu:
-- Sabe o que é Raquel? É que eu precisava muito falar com você... Por mais incrível que isso possa parecer, você se assemelha muito a uma irmã de um amigo.
Raquel ao ouvir isso, ameaçou levantar-se.
O rapaz, percebendo que a moça não acreditara em suas palavras, emendou:
-- Olha Raquel. Eu sei que tudo o que estou dizendo parece um absurdo, mas o fato é que tudo o que eu disse corresponde a mais absoluta verdade. Frederico, ao passar por você,
ao vê-la por um relance, viu em você a irmã sumida há tantos anos. E tem mais, olhando bem para você agora, realmente... Você é a imagem dela.
Raquel atônita com as palavras de Guilherme, respondeu que não estava nem um pouco interessada em ser alvo de brincadeiras. 
Comentando que aquilo não tinha a menor graça, levantou-se e ameaçando sair dali, foi retida por Guilherme, que finalmente se apresentou.
Dizendo que havia começado a conversa da forma errada, o rapaz pediu-lhe desculpas. 
Em seguida, perguntando a moça se ela tinha fome, ofereceu-se para pagar um lanche.
Raquel, dizendo que precisava voltar logo para casa, despediu-se, e mesmo diante dos protestos de Guilherme saiu dali imediatamente.
Ao chegar na pensão, Raquel não cumprimentou a senhoria. 
Rápida, alcançou as escadas e trancou-se no quarto.
Magali, bem que tentou chamá-la para jantar, mas Raquel, aturdida, nem sequer respondeu aos chamados.
Nos dias que se seguiram, sempre que ela saía de casa para ir a escola, olhava para todos os lados, na vã tentativa de não ser seguida.
Inutilmente.
Isso por que, a despeito do encontro que tiveram, Guilherme, percebendo que não seria fácil conquistar sua confiança, acabou encontrando um jeito de segui-la.
Auxiliado por seus amigos, Guilherme, ao mostrar de longe a moça, fez que eles passassem a segui-la.
Assim foi questão de tempo, para que Guilherme descobrisse que a mesma morava numa pensão.
Contudo, apesar da descoberta, Guilherme e Frederico não eram as únicas pessoas a saberem da história. 
Como a história do acidente foi noticiada durante um longo tempo, muitos dos amigos de Guilherme, conheciam muito bem estes fatos. 
E assim, estes, ao saberem que a moça era o retrato exato de Helena, ficaram muito interessados na história.
Alguns deles, interessados em tirar proveito da situação, ao perceberem que Raquel era alvo fácil, trataram logo de elaborar uma estratégia para convencê-la a se passar por
Helena.
Guilherme, ao saber disso, proibiu veementemente os amigos de constrangerem a moça a se passar por outra pessoa. 
Dizendo que fora atrás dela apenas para apresentá-la ao amigo e convencê-lo de que ela não era a pessoa que ele imaginava, Guilherme comentou que estava agindo assim para o bem de Frederico.
E assim, Bruno e Ricardo, tentando dissimular seus planos, concordaram com o amigo. 
Concordaram aparentemente, por que foi só o mesmo virar as costas, para que eles passassem a criar idéias para convencer a moça, a se passar por Helena. 
Com isso, dias após, os rapazes, fingindo displicência, passaram a mostrar a Raquel, que estavam em seu encalço.
Nisso, quando ela percebeu que estava sendo seguida por um carro, ficou aflita.
Contudo, tentando encontrar uma forma de se livrar da perseguição, Raquel começou a correr. 
No entanto, conforme corria, o carro aumentava a velocidade. 
Quando cansada, parava de correr, a velocidade do carro diminuía. 
Preocupada, Raquel, percebendo isso, tentou disfarçadamente se misturar a um grupo de pessoas que circulava pela região.
Foi assim que ela conseguiu se livrar dos perseguidores.
Contudo, nos dias seguintes, novamente os rapazes a seguiram. 
No entanto, não era sempre que a deixavam perceber que isso acontecia.
Todavia, nos últimos dias, os rapazes não fizeram questão nenhuma de se esconder da moça.
Raquel aflita, ao perceber isso, chegou certa vez a chamar a polícia.
Ricardo e Bruno, percebendo isso, trataram logo de sair dali, e durante algum tempo, a deixaram em paz.
Contudo, foi só o tempo passar, para os mesmos voltarem a agir. 
De tão abusados, certa vez seguiram-na até as proximidades de sua casa.
Raquel apavorada, ao chegar na pensão, comentou com sua senhoria que em breve, teria que se mudar dali. 
Dizendo que dois estranhos a seguiram quase até a pensão, a moça comentou que seria apenas uma questão de tempo, para que eles descobrissem onde ela estava.
Magali ao ouvir isso, respondeu que chamaria a polícia.
Preocupada com a moça, a mulher acompanhou-a até a delegacia da região. 
Lá o delegado, ao ver Raquel novamente falando de dois estranhos, comentou que não havia nada de mais em ver duas pessoas andando de carro.
Tentando acalmá-la, o delegado respondeu que não podia fazer nada. 
Alegando que poucas pessoas naquela cidade tinham carro, ele comentou que ela poderia estar impressionada com alguma história que tivesse visto na televisão.
Magali irritada, comentou que não era nada disso.
O delegado então, mandou-a se acalmar. 
Dizendo que se ela se excedesse ele poderia prendê-la, Raquel pediu para que Magali se acalmasse.
Ao saírem da delegacia, Magali, comentou desolada:
-- Eu não pude fazer nada por você.
-- Não tem problema. – respondeu Raquel – Eu me mudo.
Nisso as duas voltaram para casa.
Com isso, conforme o tempo passava, Frederico ficava cada vez mais impaciente.
Perguntando a Guilherme onde estava a moça, finalmente descobriu que ela se chamava Raquel e que ele havia descoberto onde estava.
Ao saber que a mesma vivia sozinha em uma pensão, Frederico quis logo encontrá-la. 
Guilherme porém, comentando que ainda não era hora desse encontro acontecer, respondeu que precisava primeiro, ganhar a confiança da moça.
Frederico, porém, dizendo que estava cansado de esperar a hora certa, comentou que no dia seguinte, iria até lá para falar com ela.
Guilherme, sem ter como convencer o amigo a esperar mais um pouco, acabou concordando em levá-lo até lá. 
No dia seguinte, porém, antes que chegassem na pensão, Raquel, mais uma vez se dirigindo a escola, levantou-se mais cedo do que costume. 
Na vã tentativa de driblar os suspeitos que a seguiam, Raquel foi mais cedo para a escola.
Caminhando apressada, a moça olhava para todos os lados.
Nisso, os dois rapazes, seguiam-na de longe. 
Como naquele horário, já havia alguns carros na rua, Raquel mesmo aflita, não sabia dizer se algum deles era o carro de seus perseguidores. 
E assim, mesmo preocupada continuou andando.
Os rapazes então, à certa altura, percebendo que não havia mais nenhum outro carro andando com eles, ao notarem que Raquel havia os visto, trataram logo de parar o carro diante dela.
Raquel percebendo isso, tentou correr de volta para a pensão, mas Bruno, apontando uma arma em sua direção, exigiu que ela se quedasse inerte.
A moça, dizendo que não tinha dinheiro nem nada de valor, pediu insistentemente para que os mesmos a deixassem ir. 
Prometendo não contar a ninguém o que havia ocorrido, Raquel pediu insistentemente para que eles a deixassem ir.
Ricardo então, dizendo que não lhe faria nenhum mal, prometeu levá-la a um lugar seguro.
Raquel sem ter como reagir, entrou no carro dos rapazes e desapareceu das vidas de Magali e de seu filho Marciano.
Nisso, depois de horas, a mulher, preocupada com a demora de Raquel em voltar para casa, mais uma vez foi até a polícia.
Nisso, o delegado, dizendo que tinha que esperar para considerá-la desaparecida, pediu a Magali que voltasse para casa. 
Se Raquel não voltasse, o delegado recomendou, que ela viesse novamente até a delegacia.
Desolada, Magali voltou para casa.
Nisso, Ricardo e Bruno, ao levarem Raquel para o cativeiro, amarram seus braços e pernas com cordas, e colocando um lenço em sua boca, impediram que ela gritasse.
Assustada, a moça só fazia chorar. 
Sem saber o que estava acontecendo, sempre que os dois a soltavam, Raquel pedia a eles para que a deixassem ir. 
Dizendo que jamais contaria o que ocorrera, a moça prometeu colaborar com eles.
Ricardo e Bruno, ao ouvirem as palavras da moça, finalmente mencionaram a razão de sua captura. 
Os rapazes então, explicando que ela era muito parecida com uma moça que havia sumido há muitos anos, comentaram que tudo poderia acabar muito bem, se ela aceitasse ajudá-los em uma tarefa.
Raquel, atônita, temerosa do que poderia acontecer, enchendo-se de coragem, perguntou:
-- O que vocês querem?
Bruno explicou então:
-- Nada de mais. Apenas queremos que você se faça passar por Helena.
Ao ouvir o nome Helena de novo, Raquel começou a entender o que estava acontecendo. 
Temendo que outras pessoas estivessem envolvidas naquela história, a moça perguntou por Guilherme.
Bruno e Ricardo, responderam então, que não podiam falar os nomes dos outros envolvidos.
Com isso, Raquel, suspeitando da participação de Guilherme calou-se. 
Decepcionada, não conseguia entender por que tinham tanto interesse nela. 
Desta forma, mesmo temendo pelo pior, Raquel resistiu o quanto pôde a idéia de se fazer passar por outra pessoa. 
Acossada porém, a certa altura, cansada de tanto sofrer ameaças, ao se ver novamente diante de uma arma, a moça temendo que Bruno puxasse o gatilho, acabou concordando em se fazer passar por Helena.
Com isso, nos dias que se seguiram, Raquel passou a conhecer um pouco a vida da moça.
Isso por que, Ricardo e Bruno, empenhados em fazê-la se tornar uma perfeita Helena, revelaram a ela, tudo o que sabiam sobre a moça. 
Obcecados com a idéia de fazê-la integrar a família de Frederico; Bruno e Ricardo chegaram até a se fazerem amigos do rapaz.
Com isso, Guilherme e Frederico, ao chegarem na pensão – dias atrás –, descobriram que Raquel já havia saído. 
Desapontados, ao ouvirem da senhoria que a moça já havia ido para a escola, prometeram retornar mais tarde.
Nos dias que se seguiram, Guilherme e Frederico, ao saberem que Raquel havia desaparecido, ficaram deveras preocupados. 
Mas, acreditando no trabalho da polícia, eles achavam que cedo ou tarde Raquel seria encontrada, e assim, tudo acabaria bem.
Com isso, Madalena e Cícero, preocupados com Frederico, ao perceberem-no tão inquieto, tentaram de todas as formas possíveis convencê-lo a contar o que estava acontecendo.
Frederico porém, dizendo que estava tudo bem, desconversava.
Nisso, Bruno e Ricardo percebendo a desolação de Frederico, fingindo-se amigos do rapaz, ofereceram-se para ajudá-lo. 
Foi assim que conquistando a confiança de Frederico, os dois descobriram que a polícia estava procurando a moça.
Conversando com Frederico e deixando que ele revelasse tudo o que o incomodava com relação ao desaparecimento de Helena; Ricardo e Bruno descobriram muitas coisas sobre a moça. 
Coisas que nem mesmo Guilherme sabia.
Contudo, por mais que descobrissem coisas novas sobre Helena, o tempo em que a moça passara no colégio interno e o acidente que a vitimara, continuava sendo um assunto
nebuloso. 
Mesmo com tudo eles o que reuniram sobre o assunto, não havia como saber detalhes da tragédia. 
Como não havia nenhum sobrevivente da tragédia, só se podia imaginar, o que ocorrera com todas aquelas pessoas.
Infelizmente era assim.
Em razão disso, Ricardo, pensando em que história inventar para justificar a ausência de informações sobre a época, orientou a moça a dizer que em razão da violência do acidente,
ela não conseguia se lembrar do que se sucedera. 
Recomendando a Raquel, ter cuidado, Ricardo a orientou para que dissesse, que só se lembrava de ver o avião caindo.
Prevenido por Bruno, ao constatar que também teriam que explicar por que ela vivera todos esses anos longe da família, Ricardo prometeu então pensar em alguma coisa.
Pensando nisso, enquanto eles ensinavam a moça a agir como Helena, Ricardo finalmente descobriu uma solução.
Ricardo então, comentou com a moça, que ela poderia dizer que em razão do choque do acidente, durante muito tempo, perdida na região, aturdida, sem se lembrar de nada, acabou sendo ajudada por alguns estranhos, que vendo-a em um estado lastimável acolheraram-na. 
Nesse período, ficou algum tempo hospitalizada. 
Perdida, não sabia de onde era e por isso, ficou muito tempo naquele lugar. 
Até se lembrar que possuía uma família no Sudeste, foram longos três anos. 
Com isso, ansiosa por encontrar a família, ela começou a acreditar que se voltasse para a cidade que vivera, recuperaria as lembranças perdidas. 
E assim, despedindo-se dos amigos que fizera no lugar, voltou. 
Quando voltou a cidade onde já vivera, vendo-se sozinha, passou a estudar e trabalhar.
Como ainda não havia recuperado toda a memória, passou a chamar-se Raquel e com esse nome ficou conhecida. 
Com isso, mais um ano se passou. 
Como não sabia sua idade ao certo, começou a dizer que tinha dezoito anos. 
Afinal, só sendo adulta poderia viver sozinha. 
E assim, foi vivendo. 
Muito embora se lembrasse de ter família na cidade, ela só conseguiu se lembrar que se chamava Helena, depois de muito tempo. 
Ao se lembrar, aturdida, perdida, ficou sem saber o que fazer. 
Desesperada, ficou na casa de uma amiga. 
Foi assim, que aos poucos foi criando coragem. 
E desta forma, sentindo-se confiante, resolveu bater na porta da casa de sua família.
Com isso, depois de contar a moça a história que criara para explicar seu sumiço por tantos anos, Ricardo chegou até a ouvir elogios de Bruno. 
Este dizendo que ele não deixara escapar nenhum detalhe, respondeu que estava de parabéns.
Lisongeado, Ricardo agradeceu.
Em seguida, perguntando a moça se ela havia entendido tudo, Ricardo ouviu em resposta que mais ou menos.
Intimidada, Raquel respondeu que levaria algum tempo para assimilar toda a história e poder contá-la de forma convincente.
Ricardo paciente, respondeu que poderia repetir a história quantas vezes fossem necessárias.
E assim o fez. 
Disposto a vê-la contando com naturalidade a história, Ricardo ensaioua até ficar convincente.
Raquel incomodada com toda aquela situação, sem ter como reagir, fazia tudo o que eles lhe pediam.
E assim preparando-se para o encontro inevitável, e tentando evitar surpresas, Raquel e Ricardo ensaiaram todos os detalhes do momento do encontro, e as histórias que ela
contaria, seus gestos, a roupa que usaria, etc.
Foram semanas se preparando para isso.
Até que finalmente, Raquel, pronta para viver como Helena, saiu do cativeiro.
E assim, auxiliados por alguns rapazes, Bruno e Ricardo, preparando um encontro entre Frederico e ela, advertiram-na de que não os desafiassem por que eles tinham olhos em
todos os lugares.
Raquel, aflita, sem ter outra alternativa, dirigiu-se até o local do encontro marcado.
Fingindo não saber o que iria acontecer dali a pouco, a moça, passeando pelos arredores, usava um bonito vestido.
Frederico, que fora levado até o lugar do encontro por Bruno, dizendo ser o local ótimo para paquerar os brotos, o atraiu para uma armadilha. 
Isso por que o rapaz, ao lá passar, e ao ver Raquel, caminhando aparentemente distraída pelos arredores, acorreu em sua direção. 
Ansioso não pôde esconder o espanto ao vê-la diante de si.
Raquel era realmente muito parecida com sua irmã Helena.
Frederico, ao vê-la, ficou emocionado. 
Sem se dar conta de que aquela moça podia não ser a irmã desaparecida, ele respondeu chorando:
-- Helena. Helena.
Bruno, percebendo que o logro estando dando certo, fez um sinal para a moça.
Frederico, emocionado com o encontro, não deixou a moça falar. 
Dizendo que tinha que levá-la para casa, o rapaz puxou-a pelo braço.
Raquel tentando resistir, comentou que eles precisavam conversar antes. 
Frederico porém ansioso, mal via a hora de seus pais colocarem os olhos nela.
Dizendo que apesar do novo nome ela continuava sendo sua irmã Helena, o rapaz não a deixou dizer nenhuma palavra.
Assim, ao chegar em casa com a moça, Frederico foi logo chamando os pais, para verem-na.
Cícero ao ver a moça, intrigado, perguntou:
-- O que está acontecendo aqui?
Madalena porém, ao ver a moça, percebendo nela os traços de sua filha, mal conseguia falar. 
Em estado de choque, a mulher desmaiou.
Cícero ao ver o estado em que a mulher ficara, mandou Frederico levar a moça dali.
O rapaz, sem entender a reação de seu pai, pela primeira vez enfrentou-o, dizendo que ela não iria sair dali. 
Ademais, salientou que depois de tantos anos, ele não podia fazer essa desfeita.
Cícero porém, não acreditava que aquela moça pudesse ser sua filha.
Percebendo porém, que aquele não era o momento para discutir, Cícero tratou primeiro de ver como sua mulher estava. 
E assim, pedindo a uma das empregadas para que trouxesse um copo com água, ao ter o conteúdo em mãos, aspergiu algumas gotas no rosto da mulher.
Ao sentir o rosto molhado, Madalena recobrou os sentidos.
No que, abrindo os olhos, ao ver a moça diante de si, Madalena respondeu:
-- Helena! Helena! Você voltou Helena! Quanto tempo eu esperei você voltar.
Levantando-se a mulher se aproximou da suposta filha, e ganhando coragem, finalmente a abraçou. 
Chorando, respondeu que havia sentido muita saudade.
Cícero desconfiado, não conseguia acreditar que aquela cena pudesse estar acontecendo. 
Tanto que foi o primeiro a perguntar por que ela só havia aparecido agora, depois de longos anos.
Raquel, já preparada para responder a pergunta, contou que durante muito tempo ela esteve desmemoriada. 
Comentando que demorou muitos anos para se recuperar da amnésia, revelou que não foi nada fácil para ela chegar até ali.
Cícero então, começou a fazer perguntas sobre como haviam sido os anos em que esteve distante da família.
Diante disso, a moça contou em detalhes, a história que Ricardo lhe orientara a falar.
Cícero no entanto, continuava a duvidar. 
Incomodado com aquela aparição, passou a perguntar detalhes sobre o acidente.
Raquel, dizendo que bloqueara aquele acontecimento de sua vida, comentou que não se lembrava de quase nada referente ao acidente, que quase a matara.
Cícero irônico, comentou ser bastante oportuno ela se esquecer de tudo o que acontecera naquele sinistro.
Madalena, percebendo que aquela conversa estava se tornando penosa para Raquel, pediu ao marido para que parasse de importunar Helena com aquelas lembranças tristes.
Dizendo que eles ainda teriam muito tempo para conversar, a mulher, já refeita do susto, mandou as empregadas prepararem um lauto jantar.
Cícero contrariado, tentou questionar as ordens da esposa, mas Madalena dizendo que não havia o que discutir, deixou sua opinião de lado e levando a moça para o quarto de Helena, disse a ela para que se sentisse em casa, já que estava entre seus familiares.
Madalena ao ver Raquel, acreditava sinceramente ser ela sua filha. 
Ao vê-la olhando com tanto carinho para cada um dos objetos que enfeitavam o quarto, Madalena investiu-se da certeza de que era Helena a moça que ali estava.
À certa altura, percebendo que a moça precisava ficar sozinha, Madalena pediu licença e retirou-se do quarto.
Cícero ao saber que a moça passaria a viver com eles, ficou indignado. 
Perguntando se ela não estava vivendo bem sem eles, comentou com a esposa, por ela não a deixava voltar para sua casa.
Madalena ao ouvir isso, comentou que nunca mais deixaria sua filha sumir. 
Dizendo que a partir de então eles voltariam a ser a família unida e feliz que sempre foram, Madalena proibiu o marido de tentar impedi-la.
Com isso, na hora do jantar, Madalena observando a roupa que a moça usava, comentou que ela tinha um vestido muito parecido com aquele quando ela era mais nova.
Raquel, concordou. 
Dizendo que se lembrava do vestido, comentou que adorava aquela roupa, daí ter um modelo tão parecido.
Madalena sorriu.
Frederico feliz com o encontro, passou a fazer perguntas a moça. 
Curioso por saber como ela vinha vivendo todos aqueles anos longe da família, o rapaz crivou a moça de perguntas.
Cícero curioso com as respostas da moça, ao vê-la tão confiante respondendo os questionamentos de Frederico, perguntou-lhe onde ela estava morando até então.
Raquel, surpresa com a pergunta, comentou que nas últimas semanas passara a viver com uma amiga.
Cícero intrigado quis saber seu nome.
Raquel, respondeu então. 
Além disso passando o nome e o endereço da moça, Raquel pediu a ele que quando fosse vê-la mandasse um recado para ela. 
Gentil, pediu para que ele agradecesse por ela a hospedagem.
Cícero, impressionado com a segurança com que Raquel proferira aquelas palavras, parou de implicar com ela. 
Assim, quando a viu falar com tanta segurança sobre detalhes de sua vida, Cícero chegou por um instante a acreditar que aquela era Helena.
Nisso eles, ao ver o modo com que a moça manuseava os talheres, seus modos educados e polidos, e o apetite com que apreciou cada um dos pratos que lhe foram servidos.
Tudo fazia crer que era Helena que estava diante deles.
Assim, durante o jantar, Madalena ao perceber que a suposta Helena não trazia nenhuma roupa consigo, sugeriu a ela comprar algumas roupas novas para usar.
Raquel, dizendo que eles não precisavam se preocupar com isso, comentou que ela poderia perfeitamente buscar seus pertences na casa da amiga.
Bruno e Ricardo, planejando a vigarice em todos os seus detalhes, chegaram até a comprar roupas para a moça. 
Desejando que Raquel se parecesse o máximo possível com Helena, os dois procuraram comprar roupas que fizessem a família se lembrar da filha quando tinha quatorze anos – idade com a qual sofrera o trágico acidente.
Mas voltemos ao jantar.
Madalena, ao ouvir a resposta da moça, dizendo que para viver naquela casa, seria preciso que ela se vestisse de forma mais adequada, prometeu levá-la no dia seguinte às compras.
Raquel, sem poder declinar do convite aceitou a oferta.
Assim, no dia seguinte, acompanhando Madalena, Raquel o dia inteiro caminhando pelas ruas do centro da cidade. 
Isso por que, Madalena, preocupada em adquirir roupas novas para sua Helena, entrou em todas as boas lojas do lugar. 
Disposta a vesti-la de acordo com sua idade, Madalena sugeriu a moça a aquisição de várias peças. 
Peças essas, bem diferentes das roupas que a moça usava há quatro anos.
Ao chegarem em casa, cheias de sacolas, Cícero, nem um pouco satisfeito, passou a perguntar a esposa, se ela não estava sendo generosa demais.
Aproveitando que Raquel subira para o quarto com as sacolas, Cícero começou a advertir a esposa sobre seu comportamento. 
Dizendo que ainda era muito cedo para eles passarem a tratar a moça como se fora da família, Cícero alegava que eles precisavam ter certeza de que não se tratava de uma impostora.
Assim, temendo essa possibilidade, Cícero fez de tudo para alertar a esposa.
Madalena porém, entusiasmada com a idéia de ter Helena de volta, não estava se importando nem um pouco com a prevenção do marido. 
Pelo contrário, dizendo que ele estava sendo implicante com Helena, a todo o momento pedia para ele parar com sua cisma.
Cícero no entanto, continuava desconfiado.
Entrementes, observando o modo da moça falar, andar e se comportar, aos poucos, Cícero, foi dissipando suas dúvidas. 
Isso por que em se tratando de uma impostora, a moça conhecia demais Helena.
Assim, com o passar do tempo, o homem concluiu que seria impossível alguém saber tanto sobre a vida de outra pessoa.
Com isso, Raquel tão dedicada quanto Helena, não perdia a oportunidade de ler algum livro, ou mesmo revistas.
Cícero ao perceber que a moça gostava de ler, começou a perguntar quais eram seus livros favoritos.
O homem, ao ouvir algumas das preferências da moça, comentou que muitos livros novos foram acrescentados por ela, ao seus favoritos.
Raquel, argumentando que muito tempo se passara, ouviu de Cícero que realmente muita coisa mudara naqueles anos.
Nesse instante, Madalena surgiu na porta do quarto dela. 
Perguntando se ela estava precisando de alguma coisa, Raquel respondeu que não.
Cícero então, dizendo que não queria atrapalhar sua leitura, retirou-se do quarto.
Nisso, Madalena, ao perceber que o marido começava a acreditar na história da moça, ficou muito satisfeita. 
Tanto que o passar das semanas, ao perceber que Raquel cada dia mais entrosada com a família, a mulher passou a fazer planos.
Dizendo que precisava comemorar a volta de Helena para casa, Madalena contou ao marido que precisavam organizar uma festa.
Cícero ao ouvir a idéia da esposa, perguntou-lhe se seria adequado oferecer uma recepção para ela. 
Dizendo que a moça estava se readaptando a convivência família, ele respondeu que às vezes percebia uma certa resistência de ‘Helena’, em relação a eles.
Madalena porém, animada com a idéia, nem levou em consideração a preocupação de Cícero. 
Dizendo que talvez fosse isso o que faltasse para eles finalmente se aproximarem, ela deixou bem claro que não desistiria da idéia.
Assim foi.
Muito embora, Raquel tivesse pedido para que ela não se preocupasse com isso, Madalena parecia cada dia mais empenhada em organizar a festa.
Com isso, ao final de mais algumas semanas, Madalena, animada com os preparativos da festa, deixou tudo pronto. 
Nessa época, sentindo-se mais segura, Raquel, dizendo que precisava passear um pouco, pediu licença a Madalena, e saiu sozinha.
Quando Cícero ficou sabendo disso, não gostou nem um pouco. 
Tanto que ao vê-la retornando para casa, comentou que quando ela quisesse sair, deveria avisá-lo.
Raquel, desculpando-se comentou que havia sido autorizada, por isso saiu.
Cícero dizendo então, que ela poderia sair, conseguiu tirar um sorriso dos lábios da moça. 
Contudo, o homem ressaltou que ela não deveria sair desacompanhada.
Ao ouvir isso, a expressão no rosto de Raquel modificou-se.
Cícero, percebendo isso, comentou que não adiantava ela ficar aborrecida, por que em sua casa, as pessoas tinham que obedecer às suas regras.
Raquel, ao ouvir as palavras deste, concordou. 
Após, dirigindo-se ao quarto de Helena, passou toda tarde por lá.
Com isso, dias após, Bruno e Ricardo, ao notarem que não conseguiam falar com Raquel, comentaram entre si que o plano não estava saindo conforme o esperado.
Ricardo dizendo que não poderiam levantar suspeitas, pediu ao amigo que tivesse calma.
Bruno, impaciente porém, não queria saber de conversa. 
Dizendo que não havia gasto tempo e dinheiro à toa, argumentou que eles precisavam ficar de olho nela, ou correriam o risco de serem passados para trás.
Ricardo, ao ouvir o comentário, perguntou a Bruno, se ele tinha alguma suspeita em relação a moça.
Bruno dizendo que não colocava a mão no fogo por ninguém, comentou que eles não podiam arriscar.
Nisso, Guilherme, ao ver a moça convivendo com a família de Frederico, espantou-se. 
Todavia, evitando chamar a atenção, ao ver Raquel na casa do amigo vivendo como se fora da família, chamou Frederico a um canto e perguntando o que estava acontecendo, ouviu
como resposta, que ele havia encontrado Helena.
Guilherme ao ouvir a resposta do amigo perguntou-lhe se ele tinha certeza do que estava dizendo. 
Comentando que ele podia estar se enganando, ouviu como resposta, que ela era realmente Raquel, e que ele não tinha o direito de julgá-la.
Guilherme porém, desconfiado da súbita mudança de comportamento de Raquel, tentou alertar o amigo. 
Dizendo que poderia se tratar de uma vigarice promovida por ela, Guilherme fez questão de deixar bem claro que não acreditava muito naquela história.
Frederico ao ver que o amigo não acreditava na história de que Raquel, era Helena, irritado com a desconfiança deste, brigou com ele. 
Dizendo que quem não acreditava em sua família não era digno de freqüentar sua casa, Frederico deixou bem claro que Guilherme não era mais bem vindo.
O rapaz ao perceber isso, tratou logo de se retirar. 
Aborrecido com a atitude do amigo, Guilherme não voltou à sua casa.
Todavia, certa vez, ao vê-la passar toda produzida, Guilherme comentou que ela estava parecendo uma diva de cinema americano com aquelas roupas.
Raquel estava realmente impecável. 
De tão bem composta, todos os que a viam, paravam para olhá-la. 
Até mesmo algumas mulheres, que admiradas com o bom gosto do seu guarda-roupa, não gostaram nem um pouco disso.
Raquel então tirando os óculos de sol, ao ver Guilherme novamente diante de si, perguntou calmamente:
-- Como vai você?
Guilherme, ao ouvir a pergunta, respondeu rude:
-- Muito bem, até você aparecer para tumultuar a vida do meu amigo.
Raquel percebendo que Guilherme desconfiava de sua história, comentou que também não acreditava no que estava acontecendo. 
Alegando que sua vida sofrera uma grande mudança, fez questão de deixar bem claro que quem a encontrara na rua fora seu irmão Frederico.
Guilherme ao ouvir as palavras de Raquel, perguntou a ela se aquele encontro não fora urdido, para que pudesse se livrar da vida de sacrifícios que levava.
Raquel aturdida respondeu que não era nada disso.
Guilherme ao ver a apreensão no rosto de Raquel, perguntou-lhe por que ela havia mentido. 
Dizendo que descobriu que ela era órfã, revelou que sabia que ela vivia com a família antes de aparecer por ali.
Raquel, sem saber o que dizer, despediu-se e caminhando apressadamente, pegou um ônibus e voltou para casa. 
Ao lá chegar, percebendo que não havia ninguém, ficou aliviada.
Isso por que, como saíra sozinha, acreditava ser certa a bronca que levaria de Cícero.
Contudo, a casa estava vazia. 
E assim, a moça aproveitou para passear pelos cômodos.
Aflita com a conversa que tivera com Guilherme, Raquel temia que ele revelasse o que sabia a Frederico.
O que ela não imaginava era que o pior estava por acontecer.
Isso por que, quando finalmente a festa ocorreu, Raquel, auxiliada por Madalena, colocou um exuberante vestido azul. 
E assim, vestida de forma impecável, surgiu triunfante descendo as escadas.
Os convidados que até então conversavam, pararam só para ver sua entrada na festa.
Com isso, ao se aproximar dos convidados, a moça ao ver que todos se admiravam com sua presença se viu a responder inúmeras perguntas. 
Curiosos, todos ali queriam saber por que somente depois de quatro anos ela resolvera aparecer.
Raquel constrangida com a situação, relatou a história que Bruno e Ricardo a orientaram a contar.
Nisso, Guilherme, invadindo a festa, presenciou a cena. 
Atento, observou a entrada triunfal de Raquel, bem como as pessoas interpelando-a.
Ao ver a moça ser o centro das atenções o rapaz chegou a achar graça.
Quem não riu nem um pouco foi Frederico, que ao vê-lo na festa, chamou-o para um canto e dizendo que ele teria que se retirar, ouviu como resposta que se ele (Frederico)
quisesse fazê-lo sair, teria que arrastá-lo (Guilherme) até a rua.
Frederico então, ao perceber que Guilherme queria um escândalo, deixou-o sozinho.
No entanto, atento às suas atitudes, não parava de vigiá-lo.
Contudo, muito embora Guilherme estivesse disposto a desmascarar a moça, como não possuía provas do que dizia, sabia perfeitamente que aquele não seria o lugar para isso.
Ricardo e Bruno, também aparecendo na festa, foram animadamente recepcionados por Frederico, que percebendo o interesse destes em participarem da comemoração, não
relutou em convidá-los.
Nisso, os dois ao se aproximarem da moça, comentaram que precisavam conversar com ela.
Raquel ao ouvir isso, ficou apreensiva.
Guilherme ao perceber isso, resolveu ficar mais atento. 
E foi assim que depois de algumas danças, Raquel, dizendo que precisava tomar um pouco de ar, foi se encontrar com Bruno e Ricardo.
Os dois, impacientes com sua demora, comentaram que desde que ela passara a viver na mansão, só puderam conversar uma vez.
Raquel dizendo que Cícero não a deixava sair sozinha, comentou que as pessoas passariam a desconfiar se passassem a vê-la junto com dois estranhos.
Bruno ao ouvir a resposta concordou. 
Após, dizendo que ela era esperta, comentou que a única coisa que ela não podia, seria bancar a espertinha com eles.
Nisso, Ricardo ansioso, ao perceber que o amigo perdia seu tempo com ameaças tolas, perguntou a moça, o que ela conhecia da casa.
Raquel dizendo que conhecia parte da casa, deixou os dois furiosos.
Bruno desconfiado da resposta, perguntou furibundo se ela não estava querendo cooperar.
Guilherme que seguira a moça, observava a cena de longe.
Nisso Raquel, dizendo que não havia muitas coisas de valor na casa, sugeriu aos dois para não fazerem o que estavam pensando em fazer.
Bruno contudo, ao perceber o temor nos olhos da moça, respondeu que ou ela colaborava com eles, ou então iria se arrepender.
Depois de proferir a ameaça, os dois, temendo serem vistos, voltaram para a sala.
Raquel então, sentando-se num banco, colocou a mão no rosto. 
Ao perceber que estava trilhando um caminho sem volta, começou a chorar.
Guilherme que vira tudo de longe, ao ver a moça chorando, aproximou-se e disse que sabia de tudo.
Raquel então, dizendo que se ele quisesse podia contar tudo o que sabia, levantou-se e foi sentar-se em outro banco.
Guilherme percebendo o abatimento da moça, deixando de lado sua implicância com ela, perguntou-lhe o que estava acontecendo.
Raquel respondeu com outra pergunta:
-- Mas como? Não é você que sabe de tudo?
Guilherme, percebendo que a situação era mais complexa do que imaginara, resolveu perguntar novamente sobre o que estava acontecendo.
A moça tentando negar tudo, respondeu que não estava acontecendo nada. 
Alegando que estava emocionada, tentou desviar o assunto.
Guilherme, no entanto, percebendo que havia algo de errado em toda aquela história, insistiu em saber de toda a verdade. 
Perguntou então se ela estava precisando de ajuda.
Percebendo que Raquel não estava acorde com o que estava acontecendo, perguntou se ela estava sendo forçada a usurpar o lugar de outra pessoa.
Raquel sentindo-se acuada, pediu licença para retornar a festa. 
Guilherme contudo, ao notar a relutância dela em tocar no assunto, constatou que os maiores vilões daquela história eram seus amigos. 
Por esta razão, percebendo o nervosismo da moça, constatando que não adiantaria pressioná-la, liberou-a.
Raquel então, vendo-se livre, voltou para a festa. 
Lá dançou algumas valsas, bem como algumas baladas românticas. 
Como o rock and roll começava a dar seus primeiros passos em terras tupiniquins, Raquel também dançou ao som de Celly e Tony Campelo.
Guilherme, aproveitando a festa, tirou-a para dançar. 
Raquel bem que tentou declinar o convite, mas ele hábil, não lhe deu tempo de recusar. 
Conduzindo-a até o centro da sala, Guilherme dançou com ela quatro músicas. 
Isso por que, assim que teve oportunidade, Raquel saiu da sala.
Guilherme bem tentou conversar, mais uma vez com ela.
Raquel porém, sem querer saber de mais conversas não ousava se aproximar. 
Assim durante o transcorrer do baile, tentou de todas as formas se esquivar dele.
Quando a festa acabou, já de madrugada, Raquel sentiu-se aliviada. 
Exausta, assim que saiu o último convidado, despedindo-se de Cícero e Madalena, foi para o quarto dormir.
No dia seguinte, Raquel, lembrando-se das ameaças de Bruno e Ricardo, ficou a pensar no assunto. 
Tentando encontrar uma alternativa para se livrar de toda aquela confusão, a moça chegou até a arrumar as malas e tentou sair dali.
Raquel só não conseguiu lograr êxito em seu intento, por que Guilherme ao vê-la saindo de casa carregando uma mala, tratou de impedi-la.
A moça, bem que tentou se esquivar, mas Guilherme, segurando-a pelo braço, exigiu que a mesma entrasse em casa.
Sem alternativas Raquel voltou para a casa.
Lá, Guilherme, exigindo uma explicação para aquela atitude, acabou descobrindo que ela, acossada por Bruno e Ricardo, tinha que ajudá-los a entrar na casa e a furtar objetos de
valor.
Guilherme ao descobrir toda a história, percebendo o quanto a moça se sentia mal por estar enganando ao pobre casal, insistiu para que ela não revelasse a verdade.
Raquel, surpresa com o pedido contou que não podia continuar a mentir. 
Dizendo que estava enganando pessoas boas, comentou que aquela família não merecia ser enganada.
Guilherme, ao ouvir as palavras da moça, comentou que a despeito da maneira torta como ela entrara na família, agora era tarde demais para se arrepender. 
Dizendo que ela não tinha o direito de magoá-los pela segunda vez com a mesma história, Guilherme alegou que os três ainda sofriam muito com isso. 
Ademais, o rapaz salientou, que ela não podia destruir a ilusão deles.
Raquel ao perceber que o mal estava feito, resolveu aceitar os conselhos de Guilherme.
E assim a farsa continuou.
Enquanto isso, Guilherme, desejando acabar com toda aquela história, foi ao encontro dos dois farsantes.
Quanto então, Bruno e Ricardo, ao viram Guilherme se aproximar, fingiram amizade.
Guilherme no entanto, não estava nem um pouco interessado em lisuras e mesuras.
Tanto que assim que pôde falar com eles, perguntou aos mesmos o que eles queriam com Raquel.
Bruno, então tentando disfarçar, comentou que não estava entendendo o porquê da pergunta, já que não conhecia Raquel direito.
Guilherme ao ouvir a resposta, afirmou que ele estava mentindo.
Ricardo irritado, respondeu que também não conhecia Raquel. 
Alegando que só a vira na festa, disse que precisou de algumas sugestões para saber o que comprar de presente para ela.
Guilherme ao ouvir as explicações, caiu na gargalhada. 
Bruno e Ricardo irritados com a reação do rapaz, perguntaram por que ele estava rindo. 
Guilherme ao perceber que os dois não estavam entendendo nada, comentou que poucas pessoas sabiam que a moça passara a se chamar Raquel.
Bruno ao perceber que cometera uma falha, tentou consertar a situação. 
Dizendo que fora Frederico quem lhe dissera que moça por algum tempo adotou esse nome, acabou deixando Guilherme ainda mais desconfiado.
Com isso, percebendo que aquela história fora longe demais, Guilherme perguntou por que razão eles se tornaram amigos de Frederico.
Ricardo e Bruno sem saber o que dizer, finalmente admitiram que tencionavam furtar a casa do rapaz.
Irritado Guilherme exigiu que eles revelassem todos os detalhes do plano.
Bruno e Ricardo no entanto, dizendo que não havia provas contra eles, se recusaram a lhe dar explicações.
Guilherme então, dizendo que se eles não contassem o que sabiam, chamaria a polícia, acabou compelindo-os a falar.
E embora no início Bruno e Ricardo não tivessem dado crédito às suas palavras, ao descobrirem que Raquel havia relatado a ele toda a história, constataram que ele sabia que ela fora seqüestrada.
E foi assim, que os dois perceberam que não tinham mais como negar o que tencionavam. 
De formas que, confessaram seus planos.
Guilherme ao conhecer toda a história, ficou horrorizado. 
Muito embora soubesse que ambos não possuíam muitos escrúpulos, jamais passou por sua cabeça que os dois fossem capaz de praticar tamanha maldade.
Por esta razão, indignado, perguntou-lhes:
-- Pois vocês não sabem o quanto, até hoje, a família sofre com esta história? Será que nem por um momento os dois pensaram no mal que estavam fazendo a eles? Que direito
vocês têm de impor essa mentira a eles?
A certa altura porém, percebendo que eles não estavam preocupados com isso, posto que pretendiam subtrair o patrimônio de terceiros, Guilherme interrompeu o discurso e
rompendo a amizade com os dois, avisou-os que caso os visse se aproximar de alguns dos moradores da casa, ele resolveria a seu modo aquela questão.
Bruno e Ricardo ao ouvirem o aviso, ameaçaram-no.
Guilherme, então dizendo que estava disposto a correr o risco, deixou-os sozinhos.
Mais tarde, ciente de que eles não ouviriam seus conselhos, Guilherme denunciando-os para a polícia revelou todos os detalhes do plano.
Assim, foi só uma questão de tempo para que os dois fossem pegos.
Bruno e Ricardo ao saberem que Guilherme os denunciara, ameaçaram-no. 
Dizendo que eles acertariam suas contas com ele, avisaram para que tivesse cuidado. 
Revoltados, Bruno e Ricardo, disseram que isso valia também para Raquel.
Todavia, ainda que os dois tencionassem se vingar de ambos, presos, jamais conseguiriam lograr êxito em seu intento.
Com isso, Madalena e Cícero ao saberem que a suposta filha fora chantageada ficaram indignados.
Raquel então, pedindo para conversar em particular com Cícero, entrou em seu escritório, e começou a confessar que não era Helena. 
O homem porém, percebendo o teor da conversa, a todo o momento a interrompia.
Raquel percebendo que não seria nada fácil contar a verdade, revelou que ela passara a privar da convivência deles por conta de um plano armado por Bruno e Ricardo. 
Dizendo que ela não tivera outra alternativa senão aceitar, posto que sofrera ameaças, comentou que adorou conhecer os três. 
Alegando que foram os melhores momentos de sua vida, afirmou que adorou viver naquela casa com aquela querida família.
Cícero respondeu então:
-- Você nunca teve a oportunidade viver assim antes, não é?
 Espantada, Raquel perguntou a ele, como sabia de tudo isso.
Cícero então, respondeu calmamente, que desde que ela pusera os pés naquela casa, passou a investigar sua vida. 
Dizendo que desde o começo sabia que ela não era sua filha, comentou que a despeito disso, ao ver sua esposa feliz com a filha postiça, não se achava no direito de destruir suas ilusões. 
Alegando que sua filha certamente estava morta, – muito embora nunca tivessem encontrado seu corpo – Cícero respondeu que ela era a pessoa que mais se aproximava de sua Helena.
Emocionada, ao ouvir isso, a moça chorou.
A seguir, dizendo não ser digna de viver entre eles, Raquel respondeu que sairia dali assim que conversasse com Madalena.
Quando Cícero ouviu isso, respondeu imediatamente:
-- E quem disse que eu quero que você vá embora?
Espantada a moça perguntou:
-- E o senhor não quer?
-- Mas é claro que não. Agora que eu encontrei a minha adorada filha. Como eu posso querer que vá embora?
Raquel ao ouvir estas palavras não entendeu nada.
Cícero percebendo o ar de perplexidade da moça, emendou:
-- Quer saber por que eu estou dizendo isso? ... Não, eu não enlouqueci, muito embora muitas vezes, eu pensei que a dor pela perda de minha filha faria isso acontecer. Não
enlouqueci e lúcido que estou eu poderia até repetir o que disse. Contudo o que interessa agora, é que a senhorita saiba que eu não estou brincando... Assim, em agradecimento as
alegrias que nos destes, queremos que fique. Muito embora você não seja a nossa Helena, e não tem ninguém no mundo que possa ocupar seu lugar, você pode perfeitamente ser a nossa segunda filha. Tão querida quanto Helena e tão amada quanto ela. Por que você nos trouxe de volta a luz. Você nos deu a oportunidade de lembrarmos de todos os bons momentos que passamos com ela. E mais, você nos deu uma segunda chance de privarmos da convivência de alguém tão especial quanto. Isso é um presente. Um presente que eu me recuso a devolver a quem quer que seja. Não mesmo.
Em seguida, visivelmente emocionado, Cícero abraçou Raquel, e chamando-a de filha, ficou um longo tempo com ela.
Após, levando-a até a Madalena, deixou-as a sós.
A moça então dizendo que precisava contar uma coisa, ouviu como resposta que não precisava falar nada.
Madalena, dizendo que já sabia de tudo, insistiu em dizer que ela não precisava dizer nada. 
Comentando que desde que pusera os olhos nela se viu diante de uma nova chance, alegou que não seriam pequenos detalhes que a fariam desistir daquela convivência.
Raquel percebendo isso, abraçou-a. 
Em seguida, ao chamá-la de mãe, conseguiu arrancar-lhe lágrimas.
Isso porque, ao ouvir aquela sublime palavra, Madalena emocionada, comentou que fazia anos que não ouvia sua filha chamá-la de mãe. 
Frederico ao saber de toda a história, inicialmente ficou aborrecido com a moça, mas depois, ao ver os pais felizes com a presença de Raquel naquela casa, acabou pouco a pouco,
perdoando.
E assim, o casal feliz com o suposto retorno da filha, tencionando comemorar aquele encontro, preparou um churrasco.
Nesse churrasco estavam os amigos de Frederico, as pessoas que conheceram Helena, – inclusive os pais de Mário –, bem como outros convidados. 
Aqueles, ainda desconsolados com o desaparecimento do filho (Mário), comentaram que também gostariam que um milagre desses acontecesse com eles.
Madalena então, respondendo que era uma mulher de muita sorte, comentou que Mário, deveria estar bem, no lugar onde estivesse.
O casal ao ouvir as palavras de conforto, da mulher, concordaram.
Com isso, Guilherme, ao chegar, chamou a atenção de todos. 
Isso por que, atrasado, foi a última pessoa a chegar na casa. 
Desculpando-se pelo atraso, comentou que ele se demorara, por que estava procurando algo de muito especial para presentear a namorada.
Os convidados ao ouvirem isso, ficaram encantados.
Nisso o rapaz tirando uma caixa de um dos bolsos, ao abri-la, ofereceu a jóia a Raquel, que desconcertada com a surpresa, demorou para aceitar o presente. 
Porém quando aceitou, o rapaz, colocando a aliança em seu dedo, pediu-a em casamento.
Os presentes ao ouvirem o pedido, aconselharam ela a aceitar.
Guilherme então, desculpando-se pela falta de modos, explicou que pediu diretamente a moça em casamento, por que sabia que certamente Cícero e Madalena concordariam.
O casal assentiu com a cabeça.
E assim, a moça depois de um breve momento de silêncio, aceitou o pedido.
Os convidados ao ouvirem o sim, aplaudiram os dois.
...
Mais tarde sozinhos, os dois passaram a se lembrar de toda a confusão que ocorrera na vida da moça até que chegasse aquele momento.
Foi nessa oportunidade que pela primeira vez Raquel perguntou sobre Helena.
Curiosa, queria saber o que ele pensava que se sucedera a ela.
Guilherme então, pensou um pouco e depois respondeu que achava que ela devia estar bem, onde quer que estivesse.
Intrigada com a resposta, Raquel indagou se ele achava que ela estava morta.
Guilherme respondeu então que a morte não existe.
Raquel continuou intrigada. 
Contudo, percebendo que ele assim agia movido por um sentimento de piedade, respondeu:
-- Você está certo. A morte é apenas uma passagem. Afinal sempre existe o momento do reencontro.
Guilherme concordou.
Assim, voltando para o meio dos amigos da família, os dois aproveitaram para comer mais um pouco de carne. 
Era outubro de 1959.
Madalena, depois de anos angustiada pela desoladora ausência de Helena, finalmente sonhou com ela.
Vendo-a de braços dados com Mário, Madalena pôde perceber que os dois estavam felizes. 
Helena usando um vestido branco, parecia calma. 
Sua expressão serena transmitia um profundo sentimento de paz. 
À certa altura, beijando o rosto do rapaz, fez Mário sorrir para ela.
Contente, o rapaz colheu flores para lhe ofertar mais tarde. 
Igualmente vestido de branco, percebia-se muita vivacidade em seus gestos.
A luminosidade que os cercava não permitia identificar aquele lugar com clareza.
Contudo, em dado momento, vendo uma imensidão verdejante, Madalena, percebendo que os dois adentravam a mata, encheu-se de aflição. 
Preocupada com Helena e com Mário, a mulher tentou impedir que eles se embrenhassem na mata.
Em vão. 
E assim, vendo os dois desaparecerem no meio da mata, Madalena gritou para que eles não entrassem. 
Ao gritar, Helena, que não percebera sua presença, virou-se por um instante e sorriu para ela. 
Mário ao perceber o gesto da moça, fez o mesmo. 
Em seguida, os dois sumiram em meio aquela imensidão verde.
Era o adeus final.
Depois desse belo sonho, nunca mais Madalena voltou a sonhar com a filha.
...
E assim termina ...
Quem sabe o sonho, lembrança de quem sempre vive...
Quem sabe a tristeza, lembrança de quem sempre vai...
Quem sabe a morte é apenas uma passagem...

É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 
Luciana Celestino dos Santos