Poesias

terça-feira, 23 de junho de 2020

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 44

CAPÍTULO 44

Com isso, em outras paragens, os moradores de um antigo e pequeno vilarejo, vivem uma vida simples e pacata.
Vivendo também da pesca e do artesanato, conseguem o necessário para o sustento.
Vivem frugalmente.
Não tem luxos, mas tem suas festas e suas lendas para celebrarem.
Entre as ricas lendas do lugarejo, estava uma que ecoava por entre as construções coloridas do modesto lugar.
A lenda era essa.
Há muito tempo atrás, viveu por estas paragens, uma linda moça amazonense que chamava a atenção de todos os homens do lugar.
Encantadora, não havia homem no lugar que não se admirasse com sua beleza.
Nenhum deles era indiferente a tanta maravilha.
Nem mesmo um misterioso homem que aportou no lugar.
Homem elegante, de maneiras refinadas, logo que viu a moça andando pelas ruas do vilarejo, se encantou por sua beleza.
Seus longos cabelos negros e lisos, bem como sua beleza nativa, o fascinaram.
Não poderia ir embora, sem antes conhecer a moça.
E assim, permaneceu por semanas na pequena vila.
Queria conhecer a moça, se aproximar dela e quem sabe, conseguir convencê-la a dançar consigo numa festa que seria realizada, dali a poucos dias.
Dito e feito.
De tanto cercar a jovem, e convencê-la com mimos e amavios, acabou por conseguir seu intento.
No dia da festa, a moça dançaria com ele.
E assim se deu.
No dia da festa, a vila que amanheceu toda enfeitada com bandeirinhas e cores, acompanhou uma história trágica.
A linda jovem que se comprometeu com o misterioso homem, dançou com ele.
Seu pai porém, furioso ao vê-la junto a um estranho, mais que depressa, puxou-a para si e mandou que não saísse de perto dele.
Mas, o misterioso homem, que há dias tentava uma aproximação, insistiu com o pai da moça, para que não ralhasse com ela, afinal ele fora o culpado por tal confusão.
E assim, fez de tudo para ganhar a confiança do pai da moça.
No entanto, não logrou êxito.
Não conseguiu convencer o pai da moça.
Em razão disso, num momento de distração, puxou a jovem pelo braço, e, encantando-a com sua dança, levou-a até um igarapé.
Em chegando lá, levou as últimas conseqüências, seus estratagemas de sedução.
Ali, em meio as águas, conseguiu realizar seu desejo de ter a jovem consigo.
No entanto, o pai da moça, ao dar-se conta de sua ausência, partiu em seu encalço.
Ao dar-se conta de que fora desafiado, passou a dizer terríveis imprecações.
Tamanha era a sua raiva que chegou até, a ameaçar a filha de morte.
Rigoroso que era, jamais poderia admitir esta mácula.
Jamais aceitaria que conspurcassem o nome de sua família.
Enfurecido, Theodoro, não aceitaria tamanha afronta.
E assim, saiu da festa, atravessou a vila, e foi atrás do homem.
Nessa perseguição, atravessou matas, até chegar em um igarapé onde percebeu, ainda à distância, que havia um casal deitado próximo a suas águas.
Foi então, que sua raiva só fez aumentar.
A cada passo que dava, sentia-se mais e mais ultrajado.
Como pode?
Como sua filha pôde fazer isso com ele?
Ciente da beleza da filha, sabia que precisava casá-la, ou algo terrível poderia acontecer.
Diversas vezes, fora alertado sobre isso.
Cecília, bonita como era, freqüentemente ouvia galanteios e gracejos.
Certa vez, um homem até ofereceu dinheiro a Theodoro para levá-la consigo.
Mas o homem, não vendeu a filha.
Aborrecido colocou o homem para correr.
E assim, muito embora fosse severo, adorava a filha, e apesar da dura vida que tinham, jamais pensara em se livrar dela.
Até porque Cecília, era a única coisa que tinha.
Sua esposa já havia deixado-os há muito tempo.
Portanto, Cecília, era sua única família.
E agora, desgraçadamente, estava perdendo-a para um aventureiro.
Um homem que, aproveitando-se da situação, arruinaria sua vida.
Com isso, cada vez mais próximo, verificava com mais clareza, o casal adormecido, próximo as águas.
Quando finalmente se aproximou, ao vê-los nus e adormecidos, não pode se conter.
Começou a gritar desesperadamente.
Queria que acordassem.
Afinal, precisava acertar as contas com os dois.
E assim o fez.
Os dois, ao despertarem atônitos, surpreenderam-se com a presença do homem naquele lugar.
Surpresos, não contavam com isso.
Ao verem-se ao lado de Teodoro, não puderam esboçar qualquer reação.
Com isso, ao perceberem que estavam nus, trataram de compor-se.
Decepcionado, Seu Teodoro, só os observava.
Ao perceber que os dois estavam compostos, aproximou-se de Cecília e começou a puxá-la pelos cabelos.
Enfurecido, começou a dizer-lhe uma série de imprecações.
Disse-lhe que não era mais digna de ser chamada de filha, e que estava morta para ele.
Por conta do que havia feito, não deveria voltar nunca mais para a vila.
No que Cecília, ao ouvir estas duras palavras, ficou desesperada.
Abalada que estava, não podia acreditar que seu pai a estava expulsando de casa.
Arrependida, começou a chorar e a pedir que a desculpasse.
Prometeu nunca mais iria enfrentá-lo daquela maneira.
Como forma de se desculpar, alegou que não sabia o que estava fazendo.
Mas, duro que era, seu pai não aceitou as desculpas.
Mandou-a, aos berros, sair dali.
E decidido, desferiu dois tiros em direção ao homem com quem sua filha, momentos antes, havia dormido.
No entanto, ao contrário do que se esperava, o misterioso homem, mais do que depressa, retirou novamente suas roupas e atirou-se nas águas.
Depois de alguns minutos, desapareceu.
Estranhamente, veio a tona um Boto, muito afável e brincalhão, que começou a emitir sons.
Isto deixou Teodoro, deveras desconcertado.
Afinal, do que se tratava o estranho homem?
Afinal era o Boto?
Curioso que ficara, ao olhar para trás, nem sinal da filha.
Cecília havia sumido como que por encanto.
Contudo, o Boto permanecia no igarapé.
Parecia que queria ser visto.
No entanto, depois de algumas brincadeiras, finalmente desapareceu nas águas.
Depois disso, nunca mais se viu um boto na região.50
E Seu Teodoro, passou então a viver triste, por ter perdido o pouco que restara de sua família.
Ademais, sem alternativas, pouco tempo depois, sumiu do vilarejo, vindo a morar em outros lugares.
Muito embora sempre fosse sozinho, algumas pessoas afirmam que este fora alvo de outras criaturas misteriosas.

50 Variação, criada pela autora, sobre a lenda do boto, na Amazônia.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

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