CAPÍTULO 46
No entanto, muitos turistas que passavam pela região, ao ouvirem tão incrível história, incrédulos que eram, fizeram troça da conversa dos humildes habitantes do lugar.
Com isso, ao perceberem, os moradores do vilarejo, que eram alvo de gozação por parte dos turistas que visitavam o lugar, foram logo os advertindo:
-- Cuidado senhores, muito cuidado. Por que hoje, vocês riem de tudo isso. Amanhã, vocês podem estar sendo alvo dos encantos de Iara.
Mas os turistas continuaram a rir da história.
Um deles, interessado em saber o final da história, perguntou a Túlio, um dos moradores do lugar, como tudo terminou.
No que Túlio respondeu:
-- Morreu conforme já foi dito. Como a cada dia que passava ficava mais e mais encantado
com Iara, chegou um momento em que tentou se aproximar mais da Mãe d’água. Neste instante,
quando tentou tocá-la, caiu do barco, vindo mergulhar nas águas do rio. Quem estava perto, disse
que o viu que se afastar cada vez mais da superfície e ir afundando lentamente. Desesperados, os
pescadores, entre eles Seu Theodoro, tentaram tirá-lo das águas, mas não conseguiram. Já era
muito tarde. O moço já estava enfeitiçado.
Ao ouvir isso, o turista então perguntou:-- E os senhores realmente, acreditam em tudo isso. Não é mesmo?
No que ouviu uma resposta afirmativa.
Ao perceber que os moradores do vilarejo acreditavam em tudo isso, mais do que depressa, perguntou por Seu Theodoro, e decepcionado, descobriu que ele não morava mais lá há muito tempo.
Desiludido com tudo que acontecera, acabou por sair de lá.
Prestativos, alguns moradores disseram a Felipe – que estava interessado nas histórias – que Theodoro havia sido visto há muitos anos atrás, em uma vila de pescadores, lá pelo Nordeste.
Curioso, o turista disse então a Túlio, um dos mais antigos moradores da Vila de Itamaracá, que havia estado no Nordeste, cerca de dois anos atrás, e havia conversado com alguns pescadores da região, sobre as lendas do lugar.
Interessado, Seu Túlio então lhe perguntou, quais eram as descrições físicas dos pescadores, e se entre eles havia algum ou alguns com mais de sessenta anos de idade.
Foi então que Felipe, o turista curioso, lhe contou que vários pescadores com quem conversou, pareciam ter essa idade, por isso, ficaria difícil descrevê-los todos.
Mas, conforme a conversa ía se estendendo, chegou a falar que entre eles, havia um grande respeito pelo o mar, e que também temiam uma entidade fantástica, só que lá, diferente do que ocorria por cá, eles temiam as sereias.
Ao ouvir isso, Seu Túlio quis logo saber o que eram sereias, e assim Felipe lhes descreveu, as incríveis criaturas.
Depois disso, despediu-se de Seu Túlio, e foi para a casa de um dos tapuios se recolher, pois lá estavam seus companheiros de viagem.
Ao lá chegar, comentou com os colegas sobre a conversa que tivera com Seu Túlio.
Intrigado, comentou ainda com os outros colegas, turistas que também o acompanhavam, que talvez tivesse se encontrado com o Seu Teodoro das narrativas de Túlio, e dos demais moradores do vilarejo.
Mas seus colegas, ao contrário dele, não se interessaram pela história.
Todos eles achavam que tudo aquilo não passava de invenção dos moradores do lugar.
Alegavam eles, que pelo que contavam, há muitos anos, aquele lugar não conhecia nada de novo.
Eram sempre as mesmas pessoas, os mesmos lugares para ir.
Não havia novidades.
Assim, para passarem o tempo, precisavam inventar histórias para se distraírem.
E assim, deixaram de lado a questão.
Como estavam ali a passeio, só queriam saber de aproveitar, a beleza selvagem da região.
Diante disso, os turistas resolveram aproveitar a bela manhã de sol que se anunciava para o dia seguinte, e combinados com um dos moradores da vila, iriam fazer um passeio pelos lagos e rios, e conhecer a natureza do lugar.
Daí, necessitavam dormir cedo.
Para terem disposição durante o dia, e poderem observar atentos, toda a beleza do lugar.
E assim aconteceu, todos eles madrugaram e se preparam para permanecer algumas horas em um barco.
Educados, ofereceram ajuda ao pescador que iria acompanhá-los, para que ajeitasse o barco para a travessia, mas ele gentilmente recusou a ajuda.
Acostumado que estava, preferia arrumar tudo sozinho, e assim o fez.
Depois, com tudo pronto, os cinco turistas entraram no barco, com câmeras fotográficas, de vídeo, e muita vontade de conhecer os detalhes do lugar.
Durante o passeio viram muita água, como era de se esperar, mas também observaram, filmaram e fotografaram vários pássaros com belas cores e tons, assim como as mais variadas formas de vôo.
Viram flamingos, araras, e diversos tipos de aves que não conheciam.
Por isso, constantemente perguntavam a Seu Nô, o condutor do barco, os nomes das espécies.
E assim, conforme o barco ía deslizando nas águas, passaram a perceber que haviam algumas árvores cobertas pelas águas.
Ao longe também podiam ver animais correndo em amplos campos verdejantes.
A visão era um deleite.
Maravilhados, passaram a entender por que os pescadores acreditavam tanto nas crenças que contavam.
Realmente, algo de mítico devia existir naquele lugar maravilhoso e tão cheio de natureza, de verde e de cores.
Deus realmente devia existir, pensavam eles, para ter criado algo tão maravilhoso quanto aquele lugar.
Avistaram palafitas – construções primitivas feitas em grandes alturas, para que as casas não fossem tragadas pelas águas na época das cheias –, típicas da região Norte.
Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
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