CAPÍTULO 49
Em seguida o barqueiro contou a ‘Lenda de Amao’:
Personagem divina que ensinou aos indígenas camanaos,47 o processo de fazer beiju, farinha de mandioca, farinha de tapioca e várias outras coisas.
Depois desapareceu para sempre.
“No princípio do mundo, contam, apareceu entre outras criaturas, uma moça bonita.
Não sabia de homem, seu nome era Amao.
Uma tarde Amao foi para a beira do rio, aí sentou-se.
No mesmo momento, passou por junto dela porção de peixe, e a pele deles, contam, brilhava de verdade.
Ela então, meteu a mão no rio, pegou um peixe.
O peixe fez-se forte na mão dela, pulou direto na sua concha, furou-a, depois tornou a saltar para o rio.
Desde aí sua barriga foi crescendo, quando chegou madureza de sua lua, ela teve um menino.
A criança já tinha duas luas, quando a mãe dele foi pescar de puçá, peixinho na cabeça da correnteza. O menino ela deixou deitado em cima da pedra.
Já era meio-dia.
Amao saiu, foi ver o menino, encontrou-o já morto.
Carregou seu corpo que foi, chorou durante a noite.
Quando o sol apareceu, o menino falou deste modo:
-- Minha mãe, repara como os animais e pássaros estão rindo de nós. Eles mesmos me espantaram para eu morrer. Agora, para eles não escarnecerem de ti, defuma-os com resina para virarem pedra.
Assim somente ele falou.
Já com a tarde, Amao enterrou seu filho, e à meia-noite viraram pedra todos os animais.
De manhã, contam, cururu, cujubim, pássaro-pajé, lontra, estavam já de pedra.
Cobragrande, raia, taiaçu, tapir somente não viraram de pedra, porque foram comer para a cabeceira.
Amao voou logo para a cabeceira, passou em cima duma pedra grande, aí encontrou taiaçu e tapir dormindo.
Amao surrou primeiro no tapir, depois surrou no taiaçu, morreram ambos.
Depois retalhou o tapir, o taiaçu, jogou a carne deles no rio, e deixou somente uma coxa de tapir, e outra do taiaçu em cima da pedra.
Aí as virou pedra.
Como cobra-grande e raia ainda estavam comendo no fundo d’água, ela fez um laço na beira do rio para agarrá-las.
Já era noite grande, ouviu uma coisa batendo no laço, foi ver, encontrou a cobra-grande com a raia. Jogou nelas com resina, viraram de pedra imediatamente.
Depois voltou para ensinar todos os trabalhos à gente da terra dela.
Sentou um forno, mostrou como a gente faz beiju, farinha, farinha de tapioca, porção de coisas. Depois de ensinar tudo, Amao sumiu-se desta terra, ninguém sabe para onde!”48
47 Lenda do rio Negro, Amazonas.
48 Brandão de Amorim (Lendas em Nheengatu e Português, 289) ouviu a lenda em Nheengatu.
DICIONÁRIO:
Puçá
Significado de Puçá
substantivo masculino
[Brasil] Fruto do puçazeiro.
Borlas de algodão com que se enfeitam as redes, no Ceará.
[Brasil: Norte] Peneira de malhas para apanhar peixes, camarões, siris etc.
[Brasil: São Paulo] Tipo de renda de guarnição para vestidos.
Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
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