CAPÍTULO 9
Dessa forma, passou a contar sobre a ‘Lenda de Mani’.
Começa assim:
Em tempos idos, apareceu grávida a filha dum chefe selvagem.5
O chefe quis punir no autor da desonra de sua filha, a ofensa que sofrera seu orgulho e, para saber quem ele era, empregou debalde, rogos, ameaças e por fim castigos severos.
Tanto diante dos rogos, como diante dos castigos, a moça permaneceu inflexível, dizendo que nunca tinha tido relação com homem algum.
O chefe tinha deliberado matá-la, quando lhe apareceu em sonho um homem branco, que lhe disse que não matasse a moça, porque ela efetivamente era inocente, e não tinha tido relação com homem.
Passados os nove meses, ela deu à luz uma menina lindíssima e branca, causando este último fato a surpresa não só da tribo, como das nações vizinhas, que vieram visitar a criança, para ver aquela nova e desconhecida raça.
A criança, que teve o nome de Mani e que andava e falava precocemente, morreu ao cabo de um ano, sem ter adoecido e sem dar mostras de dor.
Foi ela enterrada dentro da própria casa, descobrindo-se e regando-se diariamente a sepultura, segundo o costume do povo.
Ao cabo de algum tempo, brotou da cova uma planta que, por ser inteiramente desconhecida, deixaram de arrancar.
Cresceu, floresceu e deu frutos.
Os pássaros que comeram os frutos se embriagaram, e este fenômeno, desconhecido dos índios, aumentou-lhes a superstição pela planta.
A terra afinal fendeu-se, cavaram-na e julgaram reconhecer, no fruto que encontraram, o corpo de Mani.
Comeram-no e assim aprenderam a usar a mandioca.6
Um dos índios, ao ouvir a história, comentou:
-- Quer dizer que foi assim que surgiu a mandioca?
O pajé assentiu com a cabeça.
5 Lenda originária da região do Pará.
6
(O Selvagem, p.134-135).
Mani - Menina de cujo corpo nasceu a mandioca, Manihot utilíssima Pohl., euforbiácea, base da alimentação
brasileira. O nome mandioca proviria de Mani-óca, casa de Mani. É lenda da raça tupi.
A lenda de Mani foi registrada por Couto de Magalhães em 1876.
Dicionário do Folclore Brasileiro / Câmara Cascudo. - Rio de Janeiro: Ediouro Publicações. S.A. sem data.
Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário