CAPÍTULO 73
Ao visitarem a região praiana do estado, os turistas se deslumbraram com os exuberantes cenários que se abriram diante de seus olhos.
Neste cenário de encantamento e beleza, a jangada parte e começa a deslizar para ver do mar a beleza dos quinhentos e setenta e seis quilômetros do litoral cearense, do Rio Grande do Norte ao Piauí.
Vai deixando a barrinha do Timbau, em Icapuí, com suas areias brancas, alguns coqueiros e barracas à beira-mar.
Alcança Manibu, uma praia calma com dunas e coqueiros, e logo está em Peixe Gordo, de dunas magras e vegetação rasteira.
Seu núcleo de pescadores vai ficando para trás, à medida que se avança para a primitiva Tremembés.
Neste local escandalosamente verde por causa dos coqueirais, as atividades são bem definidas: os homens pescam, especialmente lagostas, as mulheres rendem, quase todas ao bilro.
Olê mulher rendeira, que o mar às vezes fica danado de bravo na Quitéria e na Requenguela – e todo o cuidado é pouco.
A vegetação rasteira da Quitéria é bem diferente da Requenguela, que tem mangues, areias escuras e salinas.
Em Mutamba, a seguir, as areias são escuras e há outro povoadinho, desses que o mapa mal registra – ao qual, por terra, só se chega por uma trilha.
E olha a base da Serra dos Cajuais, na Praia de Barreiras, desfiando um rosário de coqueiros.
Vez por outra uma carnaúba para enfeitar de vez esta enseada onde jovens se aprumam nas pranchas ,como bêbados equilibristas.
Em seguida a Peroba, que só se alcança pela Praia, tem dois quilômetros de areia escura seguindo até Redondas, com suas falésias, pedras coloridas, dunas coqueirais e cactos – afinal, se está no Ceará.
Aí, é só fazer uma meia-lua e continuar costeando até a Praia da Ponta Grossa, onde mergulhadores experientes fuçam o submerso.
Ao longe, no vilarejo, artesãos desenham a paisagem local dentro de garrafinhas, enchendo-as com areia colorida: o sol iluminando coqueiros e palmeiras plantadas nas dunas diante do verde-azul do mar.
O Retiro Grande e o Retirinho, indicam que já está em outro município, Aracati.
Retiro Grande fica na base de uma duna vermelha.
Aqui, a maré forma braços de mar ao pé das dunas e faz florescer densa vegetação de mangue.
O Retirinho, na foz de um riacho, tem águas paradas, mas não poluídas.
E lá vem outro povoadinho, na Fontainha, onde é possível almoçar nos casebres rústicos e conseguir uma pousada.
A próxima passagem é selvagem.
É a Praia da Lagoa do Mato, isolada entre falésias, ao pé do costão da duna por onde passa o sangradouro desta e – ufa! – um ancoradouro de jangadas no núcleo dos pescadores.
Seguindo, é a vez de Quixaba apresentar-se sobre uma falésia branca, cujas depressões das nascentes proporcionam um belo banho.
Depois, a cento e cinqüenta e quatro quilômetros de Fortaleza, se apresenta, em meio a denso coqueiral, Marjolândia, a praia mais habitada de Aracati.
A próxima é ela, a cantada, a famosa Canoa Quebrada e suas ‘edificações’ de palha, suas ruas de terra tomada por burricos, e assaltada por burrões travestidos de pichadores.
Oh, Tupã: nem a falésia apaixonada pela noite, onde a natureza esculpiu uma lua e uma estrela, escapou das mãos dos animais.
Mas não se quebre, canoa, que Fortim se avizinha, junto à foz do rio Jaguaribe, que enche no inverno para a pesca de camarão e seca no verão, oferecendo praias e ilhas fluviais.
Como estamos no mar, superamos as Praias da Barra e do Canto, às margens do rio até o Pontal do Maceió, onde o Rio Jaguaribe desaparece no oceano.
Adiante, corais enfeitam a orla, e o mar tanto bate, que até fura paredões de rocha, formando verdadeiras cavernas.
E as ondas fortes seguem até a Praia de Parajuru, onde carro só chega até um quilômetro dela.
O mar só fica calminho de novo na Sucatinga, onde um anel de dunas amarelas forma a lagoa de mesmo nome.
As barraquinhas que surgem são de campistas que não resistem a Uruau, onde o mar é esverdeado que dói.
Caranguejo e cerveja é a dupla servida nas Fontes, que honra o nome com suas bicas de água cristalina.
Bugues e ultraleves cruzam às dunas e o ar do Morro Branco, uma praia extensa, cheia de cavernas e nascentes de água doce que jorram de suas falésias.
Adiante, lá vem a Barra Velha, servida por uma balsa, na foz do Rio Choró, e a Barra Nova, onde o povo caiçara vive em um mar de recifes.
A Praia de Águas Belas, tem uma harmoniosa combinação de cores: verde do mangue,
azul do céu e branco das areias.
Tanto aqui como a seguir, em Caponga, vêem-se casas de
veranistas na periferia dos vilarejos, um ou outro hotel ou pousada e alguns bares e barracas nas
praias.
A pele clara dos banhistas, avermelhada pelo sol, denuncia a presença de estrangeiros de
primeira viagem, sorvendo água de coco no canudinho.
Quanto a Praia do Barro Preto, esta já faz
parte do município de Aquiraz.
Fica ao longo da restinga, entre o mar e o Córrego do Batoque,
região rica em artesanato de rendas de bilro e labirintos.
Fortaleza se aproxima.
Estará Iracema no cais do porto esperando seu amor?
Terá o guerreiro branco visto a
enseada do Iguape, suas dunas cobertas de densa vegetação que escondem bicas de água doce?
Ou
terá desaparecido na Presídio, onde em 1654 os portugueses aprisionaram os invasores holandeses
no mesmo cenário enfeitado de coqueiros, cajueiros e goiabeiras?
A Prainha está a vinte quilômetros da estátua da Virgem.
Vive lotada.
Tem hotéis,
restaurantes, pousadas.
Surfe e bodyboarding navegam em suas ondas fortes.
É hora de botar a jangada debaixo do braço e reaparecer lá adiante, a caminho do Piauí.
Pronto: lá vamos nós
avançando para a Praia de Cumbuco e seu imenso coqueiral.
Foi aqui que os turistas aproveitaram
para andar de jegue, de bugue e, depois, cair nas águas doces das Lagoas de Banana e Parnamirim,
escondidas nas dunas.
Depois, toca a jangada para não amolar os pescadores, nem atrapalhar o surfe da molecada
nas ondas fortes da Pecém, em São Gonçalo do Amarante, e chegar logo a Taíba, de ondas fracas
e banhos suaves.
Sua larga faixa de areia é pista de corrida de bugues, e ouvem-se gritos – nunca
sussurros – de turistas encantados.
Que vão ficando para trás, por que o vento é forte, a correnteza
é boa e Paracuru já se denuncia nos currais de peixes armados à moda indígena.
E na animação
das areias, das regatas, das lanchas e – cuidado! – dos jte-skis, que espirram água nos jangadeiros
e somem nas próprias trilhas.
Sai pra lá!
Mas é no balanço do mar também que se vai à Lagoinha, em Paraipaba, com seus dois
morros que formam uma meia-lua e um morrão no meio, do Cascudo, que, dizem, esconde tesouros
piratas.
Tesouro mesmo, quase inédito, é a Praia de Flexeiras, em Trairi, onde fica a oficina de
jangadas do Chico Pires.
Êta lugarzinho pacato, na paisagem centenária dos coqueiros, no
primitivismo do vilarejo.
Aqui e na vizinha Imboaca, as dunas são como as nuvens do céu.
Ao
sabor do vento formam rostos, bichos – o que a imaginação alcançar.
No farol é Mundaú, isolada
do mundo boa parte do ano por causa das dunas móveis, verdadeiras barreiras terrestres.
Vistas
assim do mar, Marinheiros, Inferno e Moitas parecem a mesma, na sucessão de dunas, coqueiros
e casas de taipa.
Torrões e Almofala, não: os núcleos dos pescadores são maiores, e além de
coqueiros, há caju à vontade.
As praias são mais enfezadas – e as dunas também.
A coitada da
Capela de Nossa Senhora da Conceição, em Almofala, viveu anos soterrada até que o vento
desfizesse a heresia e empurrasse as areias para outro lugar, descobrindo-a novamente.
Mas vamos
turbinar a jangada que a ansiedade é a mãe da pressa.
Por que Jericoacoara, que significa refúgio
das tartarugas, é a preferida dos holandeses, italianos, franceses e americanos?
E eis a resposta: o
mar é morno e verde.
A vegetação é de caatinga, com cactos e coqueiros à beira-mar.
As dunas
gigantescas, de até trinta metros, emolduram a praia com lagos doces e salgados.
O vento forte, é
o artesão das pedras.
Por sobre tudo, bandos de gaviões, gaivotas e anus brancos.
Um paraíso.
Depois, encerrada a incursão pelas praias, os turistas foram conhecer Ubajara.
Pequeno
parque nacional, reserva grandes surpresas naturais.
Encravado em uma encosta de serra de
Ibiapaba, o caminho é complicado: são quatro quilômetros de caminhada numa trilha íngreme na
mata fechada, entre cânions, precipícios e cascatas.
As mais bonitas são a do Rio das Minas e a
Bica do Cafundó, com duzentos metros de queda.
Se mesmo diante do clima ameno e da beleza
do relevo todo recortado da serra que se descortina no horizonte, for demasiado, o teleférico
transporta a todos num rápido passeio de três minutos.
Os viajantes então, optaram pelo passeio de teleférico.
Dessarte, ao explorar a região, com seus mil e cem metros de caminhos sinuosos do interior
da gruta, passaram antes pela entrada principal e repararam na Pedra do Sino.
Porém, não é mais
possível ouvir o sino dobrando.
A farra está proibida há mais de dois anos e o local interditado.
Por isso mesmo, depois de conhecerem a tal pedra, respiraram fundo e começaram a palmilhar
cada uma das nove salas da rocha abobada da gruta, iluminadas por luz artificial.
A da Pedra do
Sino fica na entrada.
O teto da sala do Cavalo, tem a forma do animal.
A da Rosa, uma flor
vermelha desenha em alto relevo no teto.
Já a sala dos Retratos mostra figuras de uma moça e de
Dom Pedro I.
Por todos os cantos, impressionantes formações de estalactites e estalagmites,
resultado de um paciente trabalho da natureza feito com calcário, água e muito tempo – cada
centímetro de respingo cristalizado leva três anos para se formar.
Depois de escarafunchar a antiga moradia ‘do senhor da canoa’ (diz a lenda que o primeiro morador da gruta foi um velho cacique
indígena, dono de uma canoa – ubajara, em tupi).
A seguir, os turistas foram a Cachoeira do Boi Morto, a treze quilômetros de Ubajara.
Suas
águas caem com estrondo por quatro patamares de pedra, e vão se estreitando até formar um
córrego, envolvido por densa vegetação.
E mais, os turistas foram até a Bica do Ipu, que esbanja
beleza.
Situada no município de Ipu, suas águas desabam de noventa metros de altura e se
transformam num verdadeiro véu de noiva antes de tocar o chão.
Seus encantos são tão irresistíveis
que até Iracema, a virgem dos lábios de mel – personagem de José de Alencar – costumava se
banhar aqui.
Pelo menos é o que diz a lenda.
Mais tarde, em Juazeiro do Norte, os turistas foram conhecer a Estátua do Padre Cícero, na
Serra do Horto.
Esculpida pelo artista nordestino Armando Lacerda em 1969, é a terceira maior
obra de concreto do mundo (a primeira é a estátua da Liberdade, em Nova York, e a segunda, o
Cristo Redentor, no Rio de Janeiro).
Com vinte e sete metros de altura, foi erguida no local em
que o ‘padim’ costumava rezar seus retiros espirituais.
No Museu do Padre Cícero, a última casa do religioso, foi transformada em museu pelos
salesianos.
Lá tem uma exposição permanente de objetos pessoais do sacerdote, como oratórios,
imagens sacras, batinas, chapéus, óculos, louças, livros e quadros.
A cama do reverendo está
protegida por uma cerca, por que os fiéis não hesitavam em deitar-se nela em busca de bençãos.
Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
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