CAPÍTULO 25
Ao falar do Matuiú, o pajé comentou que:
São indígenas fabulosos que tinham os pés invertidos, com os calcanhares para frente.
Trata-se de uma nação de “gente onde todos têm os pés para trás, de modo que quem não os conhecendo, quisesse seguir as suas pegadas, caminharia sempre em direção contrária à deles.
Chamam-se mutayús e são tributários destes Tupinambás”.29
“Outra é de casta de gente que nasce com os pés às avessas, de maneira que quem houver de seguir seu caminho, há de andar ao revés do que vão mostrando as pisadas, chamam-se matuiús.”30
Se fala também, nos homens que andam com velocidade extrema e tendo os pés ao contrário.31
Ambrosetti para os Caingangues e Urbino Viana para os Xerentes descrevem um calçado de tecido de palha, deixando um rastro de mentira, ocultando a direção exata dos indígenas.32
29 O primeiro a registrá-los foi o Jesuíta Cristóbal de Acuña em 1639, descendo o rio
Amazonas, citando-os. (Descobrimentos do Rio das Amazonas, 263, S. Paulo, 1941).
30 O padre Simão de Vasconcelos, divulgou-os em: Crônica da Companhia de Jesus no estado do Brasil e do que
Obraram seus filhos nesta Parte do Novo Mundo, lib. I, cap. 31, 20, Rio de Janeiro, 1864.
Essa pegada inversa determinou ferraduras ao contrário para os animais enganarem os perseguidores. Nos romances
do séc. XV e XVI espanhóis e franceses (do Sul), encontraram-se os cavalos ferrados como os matuiús tinham os
calcâneos. No séc. XVIII o contrabandista francês Louis Mandrin possuía, para suas cavalgaduras, les fers à rebours.
31 Aulo Gélio (Noites Áticas, IX, IV). “Alius item esse homines apud eamdem caeli plagam, singulariae velocitatis,
vestigia pedum habentes retro porrecta, non, ut caeteorum hominum, prospectantia.” Santo Agostinho se refere a esses monstros no De Civitate Dei, Ib. XVI, cap. VII... “quibusdam plantas versas esse
post crura.” A Crônica de Nuremberg, 1492, chama-os de Opistópodos.
32 (“Los Índios Kaingángue”, 322, Revista del Jardin Zoológico, II, Buenos Aires, 1894; Urbino Viana, “Akuen ou
Xerentes”, 39, Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 100, vol. 155).
Luís da Câmara Cascudo, Dante Alighieri e a Tradição Popular no Brasil, “Os Matuiús
Dantescos”, 80-82, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1963. É o castigo dos
adivinhos e mágicos, a marcha invertida, Inferno, XX, 12-13-15.
Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
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