Poesias

terça-feira, 23 de junho de 2020

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 51

CAPÍTULO 51 

Assim, ao falarem da ‘Gorjala’, Túlio salientou:
-- É um gigante preto e feio, que habita as serras penhascosas. A sua ferocidade é imensa. E feroz anda com as suas passadas imensas pelas ravinas, escarpas e grotões.
-- Quando encontra um indivíduo qualquer, mete-o debaixo do braço e vai comendo-o às dentadas! – emendou um dos pescadores. – Eu falo isso por que um dos meus companheiros de pescarias já viu esse monstro em ação. Escapou por um triz.
-- Outrora, muita vez, quando um explorador desaparecia nos lugares ínvios, desconhecidos, por ter tombado num despenhadeiro profundo ou por ter sido devorado por índios, os seus companheiros afirmavam que o Polifemo Gorjala o devorara às dentadas... Alguns seringueiros conhecem o Gorjala sob a forma do gigante batalhador, encouraçado de casco de tartaruga, chamado Mapinguari. – respondeu Túlio, encerrando a narrativa. 

DICIONÁRIO:
Ínvio - adjetivo 1. falto de vias, de caminhos. "í. florestas"
2. em que não se pode transitar; intransitável.

Polifemo, na mitologia grega, era um ciclope, filho de Posídon e da ninfa Teosa, vivia uma existência solitária em uma caverna próxima à Sicília (junto ao Etna), cuidando de ovelhas.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 50

CAPÍTULO 50 

No entanto, houve um momento em que o assunto retornou para a lenda do Boto.
Felipe ficara impressionado com a história que lhe contaram.
Curioso, queria saber mais sobre a lenda do Boto.
Foi então que seu Túlio começou a dizer que muitas vezes, ocorreram casos de gravidez suspeita no povoado.
Diversas vezes, as moças alegaram terem sido seduzidas pelo Boto.
Em alguns dos casos, uma das moças estava adormecida quando o Boto adentrou seu quarto, pulando pela janela.
Ao ouvir isso, Felipe perguntou:
-- E o que vocês fizeram, ao saber disso?
-- Procuramos algumas benzedeiras e um pajé, que mora numa aldeia indígena, afastada.
-- E isso resolveu o problema? – perguntou novamente Felipe, curioso.
-- Resolveu. Essa história aconteceu, numa época em que o Boto estava assediando muito, as mulheres jovens da vila. Certa vez, o bicho teve o desplante de ameaçar virar a embarcação em que estavam algumas moças, entre elas, uma mulher grávida. Por isso, tivemos o cuidado de procurar proteção para ver se nos livramos de tal criatura. Realmente, nossos jovens estiveram em grande perigo. Isso por que, nem só as mulheres são alvo do Boto, os homens também. Quando algum rapaz se interessa por uma moça que poderia ser a presa do monstro, ele pode vir a atacar para se vingar do desfeito. 
-- E quanto isso acontece, como os senhores fazem? – perguntou Fábio. 
-- Nós recomendamos ao rapaz que quando sair sozinho, seja para uma pescaria, ou qualquer outra coisa, que leve uma cabeça de alho como proteção. Isso afasta qualquer possibilidade de ataque. 
-- Curioso. Isso me faz lembrar dos vampiros. Tem uma certa semelhança. – comentou Agemiro. 
Ao ouvirem isso, os tapuios se interessaram pela história dos tais vampiros. 
Queriam saber o que havia de semelhante. 
E assim, os turistas tiveram que explicar que os vampiros também são repelidos com alho. 
Daí a semelhança entre as histórias. 
E nisso passaram-se as horas da animada noite. 
Em suas conversas com os moradores da vila, os turistas mencionaram que continuariam viajando por mais alguns meses. 
Comentaram ainda, que Felipe era um mitólogo, ou mitologista. 
Ao ouvirem isso, os moradores ficaram curiosos. 
Do que se tratava? 
Com isso, diante de tantas curiosidades, os turistas tiveram que explicar, que um mitólogo era um estudioso das tradições folclóricas, em especial da cultura popular brasileira. 
Enfim, das crendices do povo daqui. 
Disseram ainda, que Fábio era um botânico. 
Um estudioso da flora, das plantas. 
Agemiro era um biólogo, ou seja, um estudioso da vida, das formas de vida, dos seres vivos, e que por isso, vivia constantemente viajando e pesquisando os bichos. 
Já no que tange a Lúcio e Flávio, os dois eram, respectivamente, historiador e o outro químico.
Contudo, apesar de suas profissões, não estavam a trabalho. 
Mas dedicados que eram, não achariam nada mal descobrir algo que lhes ajudassem em suas respectivas carreiras. 
E assim, aproveitaram a viagem e o passeio, para documentarem tudo o que acontecia. 
E também, aproveitaram, para conquistar a confiança dos moradores do lugarejo, e conseguir que contassem suas histórias. 
Por esta razão, ao perceberem que os forasteiros estavam interessados em suas histórias, passaram a contar outras lendas.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 49

CAPÍTULO 49

Animados, passaram a falar, de Boiúna, ou Cobra Grande.
Para os pescadores, Boiúna é uma cobra gigantesca que vive no fundo dos rios, lagos e igarapés.
Segundo eles, possuí um corpo tão brilhante que é até capaz de refletir o luar.
Fato este deveras encantador.
Afinal de contas, uma criatura, capaz de reproduzir em suas formas, o esplendor do luar, é realmente,  um ser encantado.
Contudo, voltemos a lenda.
Seus olhos irradiam uma poderosa luz, que atraí os pescadores, que encantados, se aproximam pensando se tratar de um imenso barco.
No entanto, ao se aproximarem, percebem que se trata de uma armadilha, mas aí é tarde para retornarem, e acabam por virar alimento da Boiúna.
Para outros todavia, Boiúna, é uma descomunal serpente que habita lugares aquáticos, num ambiente denominado ‘Boiaçuquara’ ou ‘Morada da Cobra Grande’.
Mas, independente da visão que tenham sobre esta estranha criatura, todos dizem que, quando esta cobra grande fica velha, ela vem para a terra.
Porém, como é muito grande e desajeitada, necessita da ajuda de intermediários, para conseguir alimento fora d’água.
E neste caso, uma centopéia gigante, a auxilia em sua busca por alimentos.
Segundo os moradores do lugar, quando esta centopéia caminha, produz um som que mais parece o barulho, o tamborilar da chuva caindo.
Dizem ainda, que esta centopéia, mede mais de cinco metros.
Por isso, cautelosos, procuram não se aproximar, quando vêem algo suspeito.
Temerosos de que seja um artifício da Boiúna para os ludibriar, mais do que depressa, mudam seu caminho.
Nunca passam perto de algo suspeito.
E assim, entre histórias folclóricas e casos pitorescos, transcorreu a animada noite com os moradores da região.
Entusiasmados que estavam com a possibilidade de contar suas histórias para os turistas, passaram horas contando-lhes a crendices do lugar.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 48

CAPÍTULO 48

Agora no barco de Seu Nô apreciando as belas paisagens dos lugares próximo a vila de pescadores onde estavam hospedados, os turistas tinham que aproveitar todos os espetáculos que estavam sendo exibidos diante de seus olhos, e filmá-los e fotografá-los com o todo o cuidado para que ficassem para sempre registrados.
Como algumas várzeas estavam inundadas, os turistas puderam avistar algumas palafitas quase que pairando sobre as águas, lado a lado com o barco onde estavam.
Era uma imagem impressionante.
Com isso, algumas embarcações, como a montaria, apareceram no meio do percurso.
Rudimentares, traziam três pescadores dentro.
Também passearam por alguns iguarapés – pequenos braços do rio, entremeados por vegetação.
Como forma de celebrar a vida, alguns cetáceos, como o famoso boto cor-de-rosa, e alguns golfinhos, apareceram na região para se apresentar aos turistas.
E durante cerca de quinze minutos, fizeram uma exibição magnífica, para todos os que passavam de barco.
Extasiados com tanta beleza, os cinco turistas mal podiam acreditar que havia ainda algo a ser conhecido por eles.
Nisso, inesperadamente, surgiu, a uma certa distância, uma inacreditável figura de mulher, que entoava uma linda canção.
Curiosamente, a moça, parecia ter nascido nas águas, tamanha a destreza com que mergulhou, depois de algum tempo.
Horrorizado, Seu Nô, pescador de profissão, e morador da Vila de Itamaracá, assim que viu a misteriosa aparição, tratou de imediatamente, mudar a rota do barco.
Os turistas, ao perceberem que o pescador fugia da estranha mulher, foram logo o interrogando.
Afinal de contas, do que se tratava a estranha figura?
E assim, desnorteado, sem saber o que responder, acabou dizendo:
-- Eu não sei ... acho que era a Iara.
Ao ouvirem isso, ficaram todos estupefatos.
Afinal de contas, diante de tudo o que puderam ver, não poderiam mais dizer que não acreditavam de todo nessas crendices.
Até porque, poderia não ser a Iara de que tanto falavam, mas, o que justificaria a presença de uma bela mulher nadando naquela profundidade e ... sozinha?
Realmente, só poderia ser uma figura mítica.
Nenhum ser humano seria capaz de nadar naquela profundidade com tanta destreza e segurança, mesmo em meio a uma fraca correnteza, como todos viram.
Tal proeza, não era um ato humano.
Diante disso, não restou outra alternativa aos cinco turistas, senão acreditarem que se tratava da Iara, uma figura lendária que habitava as águas da região do amazonas.
E assim, voltaram para o povoado e comentaram admirados, que tiveram a impressão de terem visto algo parecido com a Iara, Mãe d’água.
Impressionados, os habitantes do vilarejo então lhes disseram:
-- Então agora vocês acreditam, que tudo o que nós contamos, não são somente lendas. São acontecimentos verdadeiros.
-- Sim, acreditamos. Talvez não seja de todo equivocada, a idéia que vocês fazem sobre certas tradições. – comentou Fábio, um dos turistas. -
- Vocês estavam certos. Realmente algo muito estranho aconteceu em nossa travessia de barco pelos rios da região. E o que aconteceu, não era humano. – emendo Felipe, impressionado.
-- Desculpem-nos. Não tínhamos o direito de fazer troça com suas crenças. – continuou Agemiro. Com isso, diante dos formais pedidos de desculpas, os moradores da Vila de Itamaracá, mais que depressa concordaram com estas, e passaram a contar outros ‘causos’, para os visitantes.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 47

CAPÍTULO 47

Em contraste com a bela visão da cidade de Manaus, as palafitas davam a exata dimensão da diversidade do Brasil.
Sim por que em passeio pela cidade, visitaram belas construções, entre elas o Teatro Amazonas, construída com materiais europeus – entre eles marfim e jacarandá –, cartão de visitas do lugar.
Avistá-lo defronte ao imponente chafariz, feito com grandiosas esculturas, o famoso teatro, era a síntese do ciclo da borracha no início do século XX.
Além disso, a famosa cidade, é internacionalmente conhecida como um entreposto comercial, sobretudo em virtude da criação da Zona Franca de Manaus, onde muitos equipamentos eletrônicos são produzidos.
A cidade também conta ainda, com outras belíssimas edificações, como a Matriz de São Sebastião – uma belíssima igreja – e o Monumento à Abertura dos Portos ao Comércio Mundial, defronte a construção.
Envolto em escadas, o monumento embeleza ainda mais a igreja, que rústica, contrasta com a imponência do mesmo.
Ao longe, avistaram a Refinaria de Petróleo da Amazônia, um importante posto de trabalho na região.
Já no setor comercial da cidade, conheceram também, a Catedral de Nossa Senhora da Conceição, uma igualmente bela construção da cidade.
Visitaram também o Mercado Municipal, o Museu Indígena Salesiano, entre outros pontos turísticos para depois se aventurarem em outras regiões deste magnífico estado.
No tocante a isso, cumpre salientar, que antes de aportarem por cá, os cincos turistas haviam passado antes pelo Porto Fluvial de Manaus e embarcado num dos famosos barcos – as Gaiolas –, da região, repletos de rede e turistas, tudo para poderem chegar naquela pequena vila.
Encantados com o magnetismo do lugar, ficaram admirados com o festival de cores que as redes promoviam para seus olhos, bem como a criatividade dos manauaras para se acomodarem em pequenos espaços.
Era realmente incrível.
No entanto, a viagem ainda não havia acabado.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 46

CAPÍTULO 46 

No entanto, muitos turistas que passavam pela região, ao ouvirem tão incrível história, incrédulos que eram, fizeram troça da conversa dos humildes habitantes do lugar.
Com isso, ao perceberem, os moradores do vilarejo, que eram alvo de gozação por parte dos turistas que visitavam o lugar, foram logo os advertindo:
-- Cuidado senhores, muito cuidado. Por que hoje, vocês riem de tudo isso. Amanhã, vocês podem estar sendo alvo dos encantos de Iara.
Mas os turistas continuaram a rir da história.
Um deles, interessado em saber o final da história, perguntou a Túlio, um dos moradores do lugar, como tudo terminou.
No que Túlio respondeu:
-- Morreu conforme já foi dito. Como a cada dia que passava ficava mais e mais encantado com Iara, chegou um momento em que tentou se aproximar mais da Mãe d’água. Neste instante, quando tentou tocá-la, caiu do barco, vindo mergulhar nas águas do rio. Quem estava perto, disse que o viu que se afastar cada vez mais da superfície e ir afundando lentamente. Desesperados, os pescadores, entre eles Seu Theodoro, tentaram tirá-lo das águas, mas não conseguiram. Já era muito tarde. O moço já estava enfeitiçado. 
Ao ouvir isso, o turista então perguntou:
-- E os senhores realmente, acreditam em tudo isso. Não é mesmo?
No que ouviu uma resposta afirmativa.
Ao perceber que os moradores do vilarejo acreditavam em tudo isso, mais do que depressa, perguntou por Seu Theodoro, e decepcionado, descobriu que ele não morava mais lá há muito tempo.
Desiludido com tudo que acontecera, acabou por sair de lá.
Prestativos, alguns moradores disseram a Felipe – que estava interessado nas histórias – que Theodoro havia sido visto há muitos anos atrás, em uma vila de pescadores, lá pelo Nordeste.
Curioso, o turista disse então a Túlio, um dos mais antigos moradores da Vila de Itamaracá, que havia estado no Nordeste, cerca de dois anos atrás, e havia conversado com alguns pescadores da região, sobre as lendas do lugar.
Interessado, Seu Túlio então lhe perguntou, quais eram as descrições físicas dos pescadores, e se entre eles havia algum ou alguns com mais de sessenta anos de idade.
Foi então que Felipe, o turista curioso, lhe contou que vários pescadores com quem conversou, pareciam ter essa idade, por isso, ficaria difícil descrevê-los todos.
Mas, conforme a conversa ía se estendendo, chegou a falar que entre eles, havia um grande respeito pelo o mar, e que também temiam uma entidade fantástica, só que lá, diferente do que ocorria por cá, eles temiam as sereias.
Ao ouvir isso, Seu Túlio quis logo saber o que eram sereias, e assim Felipe lhes descreveu, as incríveis criaturas.
Depois disso, despediu-se de Seu Túlio, e foi para a casa de um dos tapuios se recolher, pois lá estavam seus companheiros de viagem.
Ao lá chegar, comentou com os colegas sobre a conversa que tivera com Seu Túlio.
Intrigado, comentou ainda com os outros colegas, turistas que também o acompanhavam, que talvez tivesse se encontrado com o Seu Teodoro das narrativas de Túlio, e dos demais moradores do vilarejo.
Mas seus colegas, ao contrário dele, não se interessaram pela história.
Todos eles achavam que tudo aquilo não passava de invenção dos moradores do lugar.
Alegavam eles, que pelo que contavam, há muitos anos, aquele lugar não conhecia nada de novo.
Eram sempre as mesmas pessoas, os mesmos lugares para ir.
Não havia novidades.
Assim, para passarem o tempo, precisavam inventar histórias para se distraírem.
E assim, deixaram de lado a questão.
Como estavam ali a passeio, só queriam saber de aproveitar, a beleza selvagem da região.
Diante disso, os turistas resolveram aproveitar a bela manhã de sol que se anunciava para o dia seguinte, e combinados com um dos moradores da vila, iriam fazer um passeio pelos lagos e rios, e conhecer a natureza do lugar.
Daí, necessitavam dormir cedo.
Para terem disposição durante o dia, e poderem observar atentos, toda a beleza do lugar.
E assim aconteceu, todos eles madrugaram e se preparam para permanecer algumas horas em um barco.
Educados, ofereceram ajuda ao pescador que iria acompanhá-los, para que ajeitasse o barco para a travessia, mas ele gentilmente recusou a ajuda.
Acostumado que estava, preferia arrumar tudo sozinho, e assim o fez.
Depois, com tudo pronto, os cinco turistas entraram no barco, com câmeras fotográficas, de vídeo, e muita vontade de conhecer os detalhes do lugar.
Durante o passeio viram muita água, como era de se esperar, mas também observaram, filmaram e fotografaram vários pássaros com belas cores e tons, assim como as mais variadas formas de vôo.
Viram flamingos, araras, e diversos tipos de aves que não conheciam.
Por isso, constantemente perguntavam a Seu Nô, o condutor do barco, os nomes das espécies.
E assim, conforme o barco ía deslizando nas águas, passaram a perceber que haviam algumas árvores cobertas pelas águas.
Ao longe também podiam ver animais correndo em amplos campos verdejantes.
A visão era um deleite.
Maravilhados, passaram a entender por que os pescadores acreditavam tanto nas crenças que contavam.
Realmente, algo de mítico devia existir naquele lugar maravilhoso e tão cheio de natureza, de verde e de cores.
Deus realmente devia existir, pensavam eles, para ter criado algo tão maravilhoso quanto aquele lugar.
Avistaram palafitas – construções primitivas feitas em grandes alturas, para que as casas não fossem tragadas pelas águas na época das cheias –, típicas da região Norte.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 45

CAPÍTULO 45

 Ainda quando vivia por aquelas paragens, dizem que acabou se encontrando com Iara, a Mãe d’água.
Assim, muito embora muitos não acreditem em sua existência, os moradores do vilarejo, afirmavam insistentemente que Seu Teodoro, teve um encontro com Iara.
Como já era de se imaginar, a estranha figura mítica, banhava-se nos igarapés da região, enquanto entoava lindas canções.
Insinuante, fez de tudo para conquistar o sério homem.
Contudo não logrou êxito.
Ressabiado com a história que sucedera a sua filha, não se arriscou a ter um envolvimento com a rainha das águas.
Simplesmente tapou os ouvidos e fechou seus olhos.
Mas Iara, enraivecida com o desprezo, resolveu se vingar.
E assim, como sempre acontece nessas histórias fantásticas, jogou todo os seus encantos em cima de jovem que ultimamente o acompanhava em pescarias pelos rios.
Era um jovem alto, robusto e esperto.
Entretanto, não esperto o bastante, para não se envolver com Iara, que aliás, era irresistível.
Com isso, o jovem não teve como fugir.
Conforme se passavam os dias, mais e mais encantado ficava com Iara.
Iara, era realmente bela, mas também era cruel.
De acordo com a lenda contada no local, Iara, encantava os homens com sua voz e sua beleza, para depois levá-los, para o fundo dos rios.
Por isso, todo cuidado é pouco, até porque, os alvos prediletos de Iara eram os moços, os jovens, que na flor da idade, eram arrastados até o fundo dos lagos, e por isso, nunca mais eram vistos.
Diante disso, todos os homens do lugar, temiam um encontro com a terrível Mãe d’água.
Sabiam que se encontrassem com ela, não teriam como escapar de seus encantamentos, e fatalmente seriam aprisionados no fundo das águas.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 44

CAPÍTULO 44

Com isso, em outras paragens, os moradores de um antigo e pequeno vilarejo, vivem uma vida simples e pacata.
Vivendo também da pesca e do artesanato, conseguem o necessário para o sustento.
Vivem frugalmente.
Não tem luxos, mas tem suas festas e suas lendas para celebrarem.
Entre as ricas lendas do lugarejo, estava uma que ecoava por entre as construções coloridas do modesto lugar.
A lenda era essa.
Há muito tempo atrás, viveu por estas paragens, uma linda moça amazonense que chamava a atenção de todos os homens do lugar.
Encantadora, não havia homem no lugar que não se admirasse com sua beleza.
Nenhum deles era indiferente a tanta maravilha.
Nem mesmo um misterioso homem que aportou no lugar.
Homem elegante, de maneiras refinadas, logo que viu a moça andando pelas ruas do vilarejo, se encantou por sua beleza.
Seus longos cabelos negros e lisos, bem como sua beleza nativa, o fascinaram.
Não poderia ir embora, sem antes conhecer a moça.
E assim, permaneceu por semanas na pequena vila.
Queria conhecer a moça, se aproximar dela e quem sabe, conseguir convencê-la a dançar consigo numa festa que seria realizada, dali a poucos dias.
Dito e feito.
De tanto cercar a jovem, e convencê-la com mimos e amavios, acabou por conseguir seu intento.
No dia da festa, a moça dançaria com ele.
E assim se deu.
No dia da festa, a vila que amanheceu toda enfeitada com bandeirinhas e cores, acompanhou uma história trágica.
A linda jovem que se comprometeu com o misterioso homem, dançou com ele.
Seu pai porém, furioso ao vê-la junto a um estranho, mais que depressa, puxou-a para si e mandou que não saísse de perto dele.
Mas, o misterioso homem, que há dias tentava uma aproximação, insistiu com o pai da moça, para que não ralhasse com ela, afinal ele fora o culpado por tal confusão.
E assim, fez de tudo para ganhar a confiança do pai da moça.
No entanto, não logrou êxito.
Não conseguiu convencer o pai da moça.
Em razão disso, num momento de distração, puxou a jovem pelo braço, e, encantando-a com sua dança, levou-a até um igarapé.
Em chegando lá, levou as últimas conseqüências, seus estratagemas de sedução.
Ali, em meio as águas, conseguiu realizar seu desejo de ter a jovem consigo.
No entanto, o pai da moça, ao dar-se conta de sua ausência, partiu em seu encalço.
Ao dar-se conta de que fora desafiado, passou a dizer terríveis imprecações.
Tamanha era a sua raiva que chegou até, a ameaçar a filha de morte.
Rigoroso que era, jamais poderia admitir esta mácula.
Jamais aceitaria que conspurcassem o nome de sua família.
Enfurecido, Theodoro, não aceitaria tamanha afronta.
E assim, saiu da festa, atravessou a vila, e foi atrás do homem.
Nessa perseguição, atravessou matas, até chegar em um igarapé onde percebeu, ainda à distância, que havia um casal deitado próximo a suas águas.
Foi então, que sua raiva só fez aumentar.
A cada passo que dava, sentia-se mais e mais ultrajado.
Como pode?
Como sua filha pôde fazer isso com ele?
Ciente da beleza da filha, sabia que precisava casá-la, ou algo terrível poderia acontecer.
Diversas vezes, fora alertado sobre isso.
Cecília, bonita como era, freqüentemente ouvia galanteios e gracejos.
Certa vez, um homem até ofereceu dinheiro a Theodoro para levá-la consigo.
Mas o homem, não vendeu a filha.
Aborrecido colocou o homem para correr.
E assim, muito embora fosse severo, adorava a filha, e apesar da dura vida que tinham, jamais pensara em se livrar dela.
Até porque Cecília, era a única coisa que tinha.
Sua esposa já havia deixado-os há muito tempo.
Portanto, Cecília, era sua única família.
E agora, desgraçadamente, estava perdendo-a para um aventureiro.
Um homem que, aproveitando-se da situação, arruinaria sua vida.
Com isso, cada vez mais próximo, verificava com mais clareza, o casal adormecido, próximo as águas.
Quando finalmente se aproximou, ao vê-los nus e adormecidos, não pode se conter.
Começou a gritar desesperadamente.
Queria que acordassem.
Afinal, precisava acertar as contas com os dois.
E assim o fez.
Os dois, ao despertarem atônitos, surpreenderam-se com a presença do homem naquele lugar.
Surpresos, não contavam com isso.
Ao verem-se ao lado de Teodoro, não puderam esboçar qualquer reação.
Com isso, ao perceberem que estavam nus, trataram de compor-se.
Decepcionado, Seu Teodoro, só os observava.
Ao perceber que os dois estavam compostos, aproximou-se de Cecília e começou a puxá-la pelos cabelos.
Enfurecido, começou a dizer-lhe uma série de imprecações.
Disse-lhe que não era mais digna de ser chamada de filha, e que estava morta para ele.
Por conta do que havia feito, não deveria voltar nunca mais para a vila.
No que Cecília, ao ouvir estas duras palavras, ficou desesperada.
Abalada que estava, não podia acreditar que seu pai a estava expulsando de casa.
Arrependida, começou a chorar e a pedir que a desculpasse.
Prometeu nunca mais iria enfrentá-lo daquela maneira.
Como forma de se desculpar, alegou que não sabia o que estava fazendo.
Mas, duro que era, seu pai não aceitou as desculpas.
Mandou-a, aos berros, sair dali.
E decidido, desferiu dois tiros em direção ao homem com quem sua filha, momentos antes, havia dormido.
No entanto, ao contrário do que se esperava, o misterioso homem, mais do que depressa, retirou novamente suas roupas e atirou-se nas águas.
Depois de alguns minutos, desapareceu.
Estranhamente, veio a tona um Boto, muito afável e brincalhão, que começou a emitir sons.
Isto deixou Teodoro, deveras desconcertado.
Afinal, do que se tratava o estranho homem?
Afinal era o Boto?
Curioso que ficara, ao olhar para trás, nem sinal da filha.
Cecília havia sumido como que por encanto.
Contudo, o Boto permanecia no igarapé.
Parecia que queria ser visto.
No entanto, depois de algumas brincadeiras, finalmente desapareceu nas águas.
Depois disso, nunca mais se viu um boto na região.50
E Seu Teodoro, passou então a viver triste, por ter perdido o pouco que restara de sua família.
Ademais, sem alternativas, pouco tempo depois, sumiu do vilarejo, vindo a morar em outros lugares.
Muito embora sempre fosse sozinho, algumas pessoas afirmam que este fora alvo de outras criaturas misteriosas.

50 Variação, criada pela autora, sobre a lenda do boto, na Amazônia.

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Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 43


CAPÍTULO 43

Por fim, o pajé mencionou a Porca dos Sete Leitões.
É uma superstição do Brasil meridional e central, de origem portuguesa.
“A Porca dos Sete Leitões.
Essa gosta mais de vivê rondando igreja na vila e as cruis da estrada, c’oa leitoada chorando atrais. -- É má? - Cumo quê... - Inté que não... interrompeu a Cristina.
Essa sombração é muito boa; só pressegue os home casado que vem fora de hora pra casa...”46 Precisa-se a cidade de Itú como zona de conforto para a visagem:
“Contava-se naquela época a aparição de uma porca com sete leitões”47
“Aparição noturna, semelhante às mulas-sem-cabeça, e que se observa em ruas solitárias, é a porca com leitões.
Trata-se, então, sempre da alma duma mulher que pecou contra o filho nascituro.
Quantos forem os abortos, tantos serão os leitões”48
“Às trindades, que é a hora aberta, é quase de fé que nas encruzilhadas se vê coisa ruim, na forma de uma porca com bácoros”, “O diabo aparece pelos corgos (ribeiros), em figura de uma porca com sete leitões (Mondim da Feira).”49
Em Resende dizia-se que no sítio do Boqueirão do Paço aparecia uma porca ruça com uma manada de sete leitões ruços, e que esta porca era o diabo.
A porca, símbolo clássico dos baixos apetites carnais, sexualidade, gula, imundice, surge inopinadamente diante dos freqüentadores dos bailes noturnos e lugares de prazer.

46 Cornélio Pires. Conversas ao Pé do Fogo, 156, São Paulo, 1927.
47 O Saci Pererê, “Resultado de um Inquérito”, 88, São Paulo, 1917.
48 Karl von den Steinen encontrou-a em Cuiabá (Antologia do Folclore Brasileiro, 111-112).
49 J. Leite de Vasconcelos registrou no Tradições Populares de Portugal, Porto, 1822: (pág. 298) nota das Superstições Populares do Minho, de Dona Maria Peregrina da Silva, (idem, 313-314). Dicionário do Folclore Brasileiro - Câmara Cascudo, Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A. sem data.

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Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 42

CAPÍTULO 42

Onça Cabocla.
Monstro encantado, que se metamorfoseia em gente, ou melhor, em velha tapuia.
Alimenta-se de pessoas, tendo preferência pelo fígado e pelo sangue das vítimas.
Folclore norte-mineiro do vale do São Francisco.

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Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 41

CAPÍTULO 41

 Ao falar sobre a Onça Borges, disse:
Onça fantástica de uma zona mineira do rio São Francisco, alargando a área de presença até a região das fazendas de criar.
Conta-se ter sido uma transformação do misterioso vaqueiro Ventura, não mais voltando a forma anterior, pela covardia do companheiro, que não teve coragem de colocar na boca da onça um molho de folhas verdes, indispensável para o retorno ao humano.
A onça Borges se tornou a mais violenta e afoita das onças, e deu trabalho heróico para matá-la. Reaparece, às vezes, continuando as estrepolias contra o gado miúdo e graúdo.45

45 Geografia dos Mitos Brasileiros, 411-415; Manuel Ambrósio, Brasil Interior, 30-50.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 40

CAPÍTULO 40

Em seguida o pajé falou sobre a Mulher de Duas Cores:
É uma assombração, visagem, fantasma, que aparece de dia, na luz do sol, nas estradas de Minas Gerais, fronteira com São Paulo, ou dentro das pequenas matas.
Veste roupa de duas cores, branco-preto, azul-encarnado, azul-amarelo, etc., e não fala, não canta, não resmunga.
Limita-se a atravessar caminho, com passo surdo e leve, pisando sem usar o calcanhar, silenciosa, sem olhar para os lados nem para ninguém.
Corresponde ao medo, miêdo português, nas raias de Espanha, espalhando pavor pela simples presença.
“Quando senão quando, passou rente comigo uma mulher estrambótica, muito magra, vestido de duas cor; pro lado direito era azul inteirinha, inté o rumo do nariz; pro lado esquerdo, amarela só; se o azul fosse mais tapado um quêzinho, a mulher tava do jeito de uma águia imperial.
Carregava trouxinha de roupa debaixo do braço direito, e caminhava depressa, quaji de carreira, mas porém só inté no meio dos pés, sem botá os carcanhar no chão”.44

44 Valdomiro Silveira, Mixuangos, 207, Rio de Janeiro, 1937.

DICIONÁRIO:
Estrambótica é o feminino de estrambótico. O mesmo que: excêntrica, estrambólica, extraordinária, ridícula.

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Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 39


CAPÍTULO 39 

Quanto a Mula-Sem-Cabeça, esta é a forma que toma a concubina do sacerdote. 
Na noite de quinta para a sexta-feira, transforma-se num forte animal, de identificação controvertida na tradição oral, e galopa, assombrando quem encontra. 
Lança chispas de fogo pelas narinas e pela boca. 
Suas patas são como que calçadas de ferro. 
A violência do galope e a estridência do relincho, são ouvidas longamente. 
Vezes soluça como uma criatura humana. 
O encanto desaparecerá, quando alguém tiver a coragem de arrancar-lhe da cabeça, o freio de ferro que leva. 
Dizem-na sem cabeça, mas os relinchos são inevitáveis. 
Quando o freio for retirado, reaparecerá despida, chorando arrependida, e não retomará a forma encantada, enquanto o descobridor residir na mesma freguesia. 
A tradição comum é que este castigo acompanha a manceba do padre, durante o trato amoroso ou punição depois de morta. 
A mula corre sete freguesias em cada noite, e o processo para seu encantamento é idêntico ao do lobisomem, assim como, em certos Estados do Brasil, para quebrar-lhe o encanto, bastará fazer-lhe sangue, mesmo que seja com a ponta de um alfinete.
Para evitar o bruxedo, deverá o amásio amaldiçoar a companheira, sete vezes, antes de celebrar a missa.43
Chamam-na também “Burrinha-de-Padre” ou simplesmente “Burrinha”.
A frase comum é anda correndo uma burrinha.
E todos os sertanejos sabem do que se trata.

43 Manuel Ambrósio cita o número de vezes indispensável, muitíssimo maior (Brasil Interior, 53).

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 38

CAPÍTULO 38 

Foi então que o pajé contou a ‘Lenda do Mão de Cabelo’:
Entidade fantástica, de forma humana e esguia, tendo as mãos constituídas de fachos de cabelos.
Anda envolto em roupagem branca.
É o espantalho das crianças no sul da Província de Minas Gerais.
(Da época em que Minas Gerais era uma Província).
Aos meninos que costumam mijar na cama era muito empregada esta frase caipira:
“Óia, si neném mijá na cama, Mão-de-Cabelo vem te pegá e cortá minhoquinha de neném.”40
Já o Mãozinha-Preta, é uma assombração em São Paulo e que alcança a fronteira de Minas Gerais e o Estado do Rio de Janeiro.
É uma pequenina mão negra, solta no ar, fazendo todos os trabalhos de casa, com uma rapidez, resistência e força miraculosa.
Também, conforme ordens, castiga, bate, surra e termina a tarefa, quando lhe dizem:
Chega, Mãozinha de Justiça!
Como a mão é negra, não castigava nem atormentava os escravos.
Daí sua popularidade entre eles.41
Mãos errantes que castigam e acariciam, ajudam o serviço caseiro, e são conhecidas pela Europa e América.42

40 (Vale Cabral, in Antologia de Folclore Brasileiro, 274).
41 (Cornélio Pires, Conversas ao Pé do Fogo, 146-148, 3.ª Ed., São Paulo, 1927; Folclore Nacional, Centro de Pesquisas Mário de Andrade, sep. da Revista do Arquivo Municipal, CXVII, 22, São Paulo, 1948).
42 (J. Leite de Vasconcelos, Tradições Populares de Portugal, 290-292, Porto, 1882).

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sexta-feira, 19 de junho de 2020

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 37

CAPÍTULO 37

Cresce-Míngua.
É o fantasma mais popular, porque existe em todos os países conhecidos, e não há relação ou pesquisa folclórica que deixe de registrar sua amável presença assombradora.
Em Caracas havia uma variante, o Enano de la Torre, que aparecia pequenino e sereno, e bruscamente ficava da altura da torre da catedral, fazendo perder os sentidos às raras testemunhas dessa elástica e sobre-humana personalidade.
Entre os africanos que vivam no Brasil do séc. XIX e princípios do XX falava-se em Gunucô, que tinha a mania de aparecer num bamburral, estirando-se como um coqueiro e minguando como um pé de coentro.
Na capital de São Paulo o Cresce-Míngua é duplo.
“São dois homens pequeninos que ficam nas estradas junto às porteiras.
Quando alguém deles se aproxima, eles aumentam de tamanho, chegando a atingir oito metros de altura, e desaparecendo nas curvas.
Consta que as pessoas que o vêem terão má sorte.”39

39 Em Teresina (Piauí), na Praça Conselheiro Saraiva (antiga “das Dores”), há ou havia um Cresce-Míngua, chamado Não se pode.

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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 36

CAPÍTULO 36 

Cramondongue.
É uma assombração de Minas Gerais.
“... e o Cramondongue, que é um carro de bois que roda à disparada, sem precisar de boi nenhum para puxar.”38

38 (J. Guimarães Rosa, Sagarana, 174, Rio de Janeiro, 1946).

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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 35

CAPÍTULO 35

 Ao falar sobre o ‘Cavalo do Rio’, o pajé disse:
É um cavalo encantado que domina o rio São Francisco.
Tem um poder quase igual ao Caboclo do Rio, perseguindo embarcações, virando-as, alagando a carga, empobrecendo aqueles a quem dedica sua antipatia.
Ouvem-lhe os relinchos atordoadores e a bulha rítmica das patadas nas margens.
O melhor amuleto afugentador do Cavalo do Rio, é sua própria representação na proa da embarcação.
Falando nisso, na “embarcação, pesadíssima muitas vezes, com a guarnição, o toldo, a cordoalha, a carga e a cabeça de cavalo, recurva e grotesca, a desafiar, guiadora, os maus-olhados da viagem.”37

DICIONÁRIO:
cordoalha - substantivo feminino
1. reunião de cordas de vários tipos; cordame, cordoada.
2. comércio de cordas; cordoaria.

37 Noraldino Lima alude a essa crendice (No Vale das Maravilhas, 127, Belo Horizonte, 1925).

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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 34

CAPÍTULO 34

 Ao falar do Cavalo Fantasma, comentou:
-- Ninguém o vê, mas o sente pelas passadas firmes. Uma luz clara, que dele emana, desenha na rua o seu vulto... As pisadas tornam-se mais fortes, assim como também a luz, à proporção que o cavalo se aproxima do observador (ou vidente). Diminui o clarão e o ruído dos passos, à medida que dele se afasta o animal. Passeia em certas, sempre a horas caladas de certas noites.

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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 33

CAPÍTULO 33


 Quando foi falar no Cavalo de Três Pés, o pajé contou, que é um animal assombroso que apavora nas estradas desertas.
“É um cavalo sem cabeça, com asas e três pés, que aparece à noite nas encruzilhadas, correndo, dando coices e voando...
É um cavalo sem a pata dianteira, que imprime no barro três pegadas fundas, ataca os viajantes pelas estradas; e aquele que pisar em seu rastro será imensamente infeliz.
É uma das transformações do Saci, em forma de cavalo de três pés, que corre pelas estradas assustando todos os que encontra.”36

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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 32

CAPÍTULO 32 

A seguir, veio a baila a ‘Lenda do Canhoto’:
Canhoto, nome do diabo, um dos mais populares e ligado, na maioria dos casos, aos acontecimentos amorosos, seduções, bastardia.
Apesar do nome, canhoto, esquerdo, desastrado, é um demônio hábil na sua especialidade conquistadora.
“O Canhoto!
Monstro com o dom de transformar-se em cavalheiro capaz de seduzir a melhor dama, mas sem poder dissimular dois pés de pato, amplos e feios, duende explosivo que arrebentava, em cacos, diante de qualquer cruz, deixando, com o estampido muito grande, uma nuvem azulada e um cheirinho de enxofre.”35

35 Luís Edmundo (O Rio de Janeiro no Tempo dos Vice-Reis, 340, Rio de Janeiro, 1932).

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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 31

CAPÍTULO 31 

A seguir, passou a falar do Bradador: Berrador, Barrulheiro, Bicho Barulhento.34
Que ninguém ainda viu, porém, cuja voz se ouve à noite, e que é tão perverso que mata aquele que o vir.
O Bradador no Brasil ainda não tomou forma especial, ou não se decidiu pelas que lhe apontam, os assombrados ouvintes de seus berros horrendos.

34 Bradador. Mito do interior de São Paulo e de Santa Catarina.

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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 30

CAPÍTULO 30

Com isso, passou a falar do Arranca-Língua.33
Nas cidades chamam-no de King-Kong.
Outro nome com o qual é chamado, é o de Bicho-Homem.
Seria um tipo humano, peludo, escuro, que se alimentava das línguas das vacas.
Este é, pois, seu malefício, pois dizima rebanhos inteiros para comer somente a língua.
Ataca desferindo urros paralizantes.
Deixa pegadas nítidas, de aproximadamente quarenta e oito centímetros.

33 O Arranca-Língua, é um monstro dos sertões do Estado de Goiás.

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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 29

CAPÍTULO 29

 Ao comentar sobre o Anhangá, e disse:
-- O Anhangá, é um mito dos índios brasileiros, a alma errante (tupi ang), que tomava o aspecto de fantasma ou de duende, vagando pelos campos e florestas:
Há vários tipos, como mira-anhanga, tatu-anhanga, suaçu-anhanga, tapira-anhanga e até pirarucu-anhanga - isto é, aparição de gente, de tatu, de veado, de boi e de pirarucu.
Em geral, não era benfazejo.
Sua simples lembrança trazia pavor ao silvícola e ao homem simples do campo.
Era a própria corporificação do medo informe, do pavor do desconhecido e do mistério da noite.
É um dos mitos mais antigos do Brasil.
O Anhanga, segundo a tradição, metamorfoseava-se mais em veado.

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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 28

CAPÍTULO 28

O pajé também falou de Añá, que é o deus do puro mal.
É o espírito mau por excelência.
Molesta os homens e arrasta as crianças que brincam junto das fontes.

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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 27

CAPÍTULO 27

Depois, o pajé passou a falar sobre o Ahó Ahó.
Ahó Ahó, era um grande animal de pêlo farto e veludoso.
Algumas vezes parecia-se como uma ovelha, outras como um urso.
Perseguia e devorava os indivíduos que se perdiam nas florestas.
Escapavam apenas os que subiam a uma palmeira, por ser esta a árvore sagrada do Calvário.
Se, entretanto, subisse em qualquer outra árvore, o Ahó Ahó cavava junto às raízes, até derrubar o vegetal.
Quando esta batia ao chão, ele devorava a vítima.

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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 26

CAPÍTULO 26 

Após, o pajé passou a contar a ‘Lenda do Acutipupu’:
Acutipupu, era uma mulher-homem que habitava entre a gente da Serra do Japó.
"Acutipuru paria crianças fêmeas, bonitas como as estrelas do céu.
Quando emprenhava as mulheres - na sua função de homem -, estas pariam crianças machos bonitos como o sol.
Teve uma filha, Erem, gerada por Uaiú, que então andava na Serra do Japó impondo a lei de Jurupari.
Um dia Uaiú quis fazer amor com a filha Erem.
Ela recusou-se, fugiu.
Casou-se com um chefe, Cancelri, que originou uma guerra que terminou com o extermínio de sua gente".

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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 25

CAPÍTULO 25

 Ao falar do Matuiú, o pajé comentou que:
São indígenas fabulosos que tinham os pés invertidos, com os calcanhares para frente.
Trata-se de uma nação de “gente onde todos têm os pés para trás, de modo que quem não os conhecendo, quisesse seguir as suas pegadas, caminharia sempre em direção contrária à deles.
Chamam-se mutayús e são tributários destes Tupinambás”.29
“Outra é de casta de gente que nasce com os pés às avessas, de maneira que quem houver de seguir seu caminho, há de andar ao revés do que vão mostrando as pisadas, chamam-se matuiús.”30
Se fala também, nos homens que andam com velocidade extrema e tendo os pés ao contrário.31
Ambrosetti para os Caingangues e Urbino Viana para os Xerentes descrevem um calçado de tecido de palha, deixando um rastro de mentira, ocultando a direção exata dos indígenas.32

29 O primeiro a registrá-los foi o Jesuíta Cristóbal de Acuña em 1639, descendo o rio Amazonas, citando-os. (Descobrimentos do Rio das Amazonas, 263, S. Paulo, 1941). 
30 O padre Simão de Vasconcelos, divulgou-os em: Crônica da Companhia de Jesus no estado do Brasil e do que Obraram seus filhos nesta Parte do Novo Mundo, lib. I, cap. 31, 20, Rio de Janeiro, 1864. Essa pegada inversa determinou ferraduras ao contrário para os animais enganarem os perseguidores. Nos romances do séc. XV e XVI espanhóis e franceses (do Sul), encontraram-se os cavalos ferrados como os matuiús tinham os calcâneos. No séc. XVIII o contrabandista francês Louis Mandrin possuía, para suas cavalgaduras, les fers à rebours. 
31 Aulo Gélio (Noites Áticas, IX, IV). “Alius item esse homines apud eamdem caeli plagam, singulariae velocitatis, vestigia pedum habentes retro porrecta, non, ut caeteorum hominum, prospectantia.” Santo Agostinho se refere a esses monstros no De Civitate Dei, Ib. XVI, cap. VII... “quibusdam plantas versas esse post crura.” A Crônica de Nuremberg, 1492, chama-os de Opistópodos. 
32 (“Los Índios Kaingángue”, 322, Revista del Jardin Zoológico, II, Buenos Aires, 1894; Urbino Viana, “Akuen ou Xerentes”, 39, Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 100, vol. 155). Luís da Câmara Cascudo, Dante Alighieri e a Tradição Popular no Brasil, “Os Matuiús Dantescos”, 80-82, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1963. É o castigo dos adivinhos e mágicos, a marcha invertida, Inferno, XX, 12-13-15.

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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 24

CAPÍTULO 24 

No que se refere ao Motucu:
Este é uma entidade misteriosa e malévola dos indígenas Manaus, Aruacos do Rio Negro, Amazonas.
O Motucu vive nas florestas e tem os pés virados como o Curupira ou o Matuiú.
Uma das principais fábulas provindas dos Manaus é a do Motucu, ou demônio dos pés virados, cujas perenes jornadas faziam-se por intermináveis atalhos, incendiando florestas e deixando após somente rochas estéreis.28

28 (Pelo Rio-mar, Missões Salesianas do Amazonas, 24, Rio de Janeiro, 1933).

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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 23

CAPÍTULO 23

Já em relação ao Matintapereira ou Mati, mati-taperê.
Este é o nome de uma coruja, que se considera agourenta.
Quando, a horas mortas da noite, ouvem cantar a mati-taperê, quem a ouve e está dentro de casa, diz logo:
Matinta, amanhã podes vir buscar tabaco, desgraçado.26
Quem na manhã seguinte chega primeiro àquela casa, será ele considerado como o mati.
A razão é que, segundo a crença indígena, os feiticeiros e pajés se transformam neste pássaro para se transportarem de um lugar para outro, e exercer suas vinganças.
Outros acreditam que o mati é uma maaiua, e então o que vai à noite gritando agoureiramente é um velho ou uma velha de uma só perna, que anda aos pulos.”27
A Matintapereira é uma modalidade do mito do saci-pererê, na sua forma ornitomórfica.
A matintapereira não é realmente uma coruja, como pensava Stradelli, mas um cuculida, Tapera naevia, Lin, também conhecido como Sem-fim e Saci.

26 Deixou escrito Max. J. Roberto, profundo conhecedor das coisas indígenas.
27 (Stradelli, Vocabulário da Língua Geral, 518).

Trecho do texto: "O mito tem procedência ameríndia, de fonte tupi-guarani. Teria sido, primitivamente, um mito ornitomórfico: pássaro encantado e, ainda hoje, em diversas versões, o saci é uma ave. Transformou-se, depois, no mito antropomórfico do negrinho de um pé só que caracteriza sua forma mais popular."

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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 22

CAPÍTULO 22 

No que tange o Mapinguari. Trata-se de um animal fabuloso, semelhando-se ao homem, mas todo cabeludo.
Os seus grandes pêlos o tornam invulnerável à bala, exceção da parte correspondente ao umbigo.
Segundo a lenda, é ele um terrível inimigo do homem, a quem devora.
Mas devora somente a cabeça.
De um velho tuxaua, já semi-civilizado, sabe-se que estava o antigo rei da região.22
J. da Silva Campos fixou a versão do rio Purus, Amazonas:
“Um Mapinguari, aquele macacão enorme, peludo que nem um coatá, de pés de burro, virados para trás, trazia debaixo do braço o seu pobre companheiro de barraca, morto, estrangulado, gotejando sangue.
O monstro, com as unhas que pareciam de uma onça, começou a arrancar pedaços do desgraçado e metia-os na boca, grande como uma solapa, rasgada à altura do estômago.23
Francisco Peres de Lima descreve o Mapinguari no Acre:
“...este animal deriva-se dos índios que alcançaram uma idade avançada, transformando-se em um monstro das imensas e opulentas florestas amazônicas - ao qual dão o nome de Mapinguari.
O seu tamanho é de um metro e oitenta, aproximadamente, a sua pele é igual ao casco de jacaré, os seus pés idênticos aos de uma mão de pilão, ou de um ouriço de castanha”.24
Fácil é ver o processo de convergência para o Mapinguari, gigante antropófago que vai tomando as características do Gorjala, do Pé-de-Garrafa, a invulnerabilidade, os pés invertidos do Curupira e Matuiú, etc.
O Mapinguari continua assombrando pelas matas do Pará, Amazonas e Acre.25

22 (Mário Guedes, Os Seringais, 221-222, Rio de Janeiro, 1920).
23 (Basílio de Magalhães, “Contos e Fábulas Populares na Bahia” in O Folclore no Brasil, 321-322). 24 (Folclore Acreano, 103, Rio de Janeiro, s.d. [1938]).
25 No seu aspecto primitivo é idêntico ao Khoungouraissou, que o Coronel Prjévalki ouviu descrever no Han Sou, na Mongólia. Luís da Câmara Cascudo, Geografia dos Mitos Brasileiros, “Ciclo dos Monstros”.

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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 21

CAPÍTULO 21 

Quanto a Mãe-do-Mato:
“Notei que, nos acampamentos feitos dentro das matas, os trabalhadores, ao se encaminharem para o serviço, desatam as redes ou desarmam as camas, com medo de que a velha Mãe-do-Mato, protetora dos animais fabulosos, venha colocar em cada leito, algum graveto de madeira, como sinal que possa fazer o efeito da morfina, prostando em sono profundo o incauto que ali se deitar, predispondo-o a ser devorado por esses animais”.21 

21 (Ignácio Baptista de Moura, De Belém a São João do Araguaya, Rio de Janeiro, 1910). A viagem é de 1896.

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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 20

CAPÍTULO 20 

Depois, o pajé passou a comentar sobre a Mãe-do-Fogo:
É o próprio fogo ou a substância imponderável que o sustenta e dirige, origem do elemento, a mãe, a ci.
Nesta acepção, diz-se no idioma tuoi Tatá-manha, mãe do fogo, ou Sacu-manha, mãe do quente.
É, na população mestiça, sinônimo do Batatá, Batatão, ou Fogo-Fátuo.20

20 (Peregrino Júnior, Histórias da Amazônia, 54, Rio de Janeiro, 1936, que a escreve “Mãe-do-Fogo”). Superstição do Pará.

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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 19

CAPÍTULO 19

Sobre a Mãe-da-Seringueira, o pajé contou:
Fantasma amazônico, protetor da seringa, seringueira (Hevea brasilienses, Muell).
Espécie de caapora:19

“Dizem que o Amazonas
É um lugar arriscado,
Além das feras que tem
É muito mal-assombrado

Tem a mãe-da-seringueira,
Uma visão feiticeira
Que faz o homem azalado.

Quando se vai tirar o leite
Augura o aviso mau
Sai na frente o freguês
A cortar também o pau

Todo leite que tirar
Não dá para um mingau!”

19 (Luís da Câmara Cascudo, Geografia dos Mitos Brasileiros, 433).

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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 18

CAPÍTULO 18 

A seguir, o pajé começou a conta a ‘Lenda da Mãe-da-Peste’:
Para os indígenas todas as coisas, entidades e forças têm origem feminina, uma mãe, a Ci e é natural que as calamidades não escapem à lógica folclórica.
Há indicação da Mãe-da-Peste, em Belém, quando uma epidemia de febre amarela invadira a região.17
“Algumas pessoas contaram que durante várias tardes sucessivas, antes de irromper a febre, a atmosfera era densa, e que um escuro nevoeiro, acompanhado de forte bodum (mau cheiro), que ia de rua em rua.
Este vapor inútil, procura dissuadi-los da convicção de que ele fosse precursor da pestilência”.18

17 Henry Walter Bates ainda encontrou, na cidade de Belém, em 1851, referências a esta entidade.
18 O Naturalista no Rio Amazonas, 1.º, 371, S. Paulo, 1944.

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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 17

CAPÍTULO 17 

Após esta breve narrativa, o pajé passou a contar sobre a Mãe Lua.
Mãe-da-Lua/ Urutau/ Jurutau (Caprimulgidae), é uma ave noturna.
Seu canto melancólico e estranho, lembrando uma gargalhada de dor, cercou-a de misterioso prestígio assombrador.
Está rodeada de lendas superstições, espavorindo a gente do campo, personalizando fantasmas e visagens pavorosas.
Só quem haja ouvido o grito da mãe-da-lua, pode medir a impressão sinistra e desesperada, que ele provoca durante a noite.
A jurutauí, um pouco menor, mas também chamada mãe-da-lua (Nyctibius jamaicensis), tem aplicação curiosa contra a sedução sexual.
“A pele da ave noctívaga jurutauí preserva as donzelas das seduções e faltas desonestas.
Conta-se que antigamente matavam para isso uma destas aves e tiravam a pele que, seca ao sol, servia para nela assentarem as filhas, justamente nos três primeiros dias do início da puberdade.
Parece que esta posição era guardada por três dias, durante os quais as matronas da família vinham saudar a moça, aconselhando-a a ser honesta.
No fim desses dias, a donzela saía curada, isto é, invulnerável à tentação das paixões desonestas, a que seu temperamento, destarte modificado pudesse atrair.16
A guarani Nheambiú transformou-se em urutau por ter morrido seu amado Quimbae.
Noutra lenda (do Rio Araguaia, entre os carajás) Imaeró se mudou nessa ave, porque Taina-Can (estrela-d’alva) preferiu sua irmã Denaquê para esposa.

16 José Veríssimo registrou: Cenas da Vida Amazônica, 62, Lisboa, 1886. Veríssimo adianta que esse cerimonial fora abolido e que se limitada a varrer as penas de urutauí ou jurutauí.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 16

CAPÍTULO 16

 Porém, no dia seguinte, como já era de se esperar, na hora combinada, lá estava o pajé, aguardando a aproximação dos índios, para que então, finalmente, pudesse começar a contar suas novas histórias.
Dessa forma, quando todos os índios da tribo se aproximaram, ele começou a dizer:
-- Aproveitando então, que todos estão reunidos, vou começar contando a ‘Lenda do Macunaima’:
O Macunaima e não Macunaíma, é uma entidade divina para os macuxis, acavais, arecunas, taulipangues, indígenas caraíbas.
Além disso, a tradução da Bíblia para o idioma caraíba divulgou Macunaima como sinônimo de Deus.13
Criador dos animais, vegetais e humanos, Macunaima é gêmeo de Pia, vingadores de sua mãe, morta pelos tigres, filhos de Konaboáru, a Rã da Chuva, e que mora nas Plêiades.14
Com o passar dos tempos e convergências de tradições orais entre as tribos, interdependência cultural decorrentes de guerras, viagens, permutas de produtos, Macunaima foise tornando herói, centro de um ciclo etiológico, zoológico.
Personagem essencial de aventuras e episódios reveladores do seu espírito inventivo, inesgotável de recursos mágicos, criando os homens de cera e depois de barro, esculpindo animais, transformando os inimigos em pedras, que ainda guardam a forma primitiva.
Tornou-se um misto de astúcia, maldade instintiva e natural, de alegria zombeteira e feliz.
É o herói das histórias populares contadas nos acampamentos e aldeados indígenas, fazendo rir e pensar, um pouco despido dos atributos de deus olímpico, poderoso e sisudo.15

13 A oeste do “plateau” da serra Roraima e Alto Rio Branco, na Guiana Brasileira. Makonàima Yakwarri otoupu tona poropohru; o espírito de Deus pairava sobre as águas (Gênese, 1, 2).
14 (Gilberto Antolínez, Hacia el Índio y su Mundo, 170, Caracas, 1946).
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pl%C3%AAiades Plêiades.
15 Theodor Koch-Grunberg, 1872-1924, reuniu a melhor e maior coleção de aventuras de Macunaima nessa fase popularesca, no Vom Roroima Zum Orinoco (Ergebnisse Einer Rise in Nordbrasilien und Venezuela in den Jahren, 1911-1913), n.º II, Berlin, 1917. Algumas dessas estórias foram traduzidas pelo Dr. Clemente Brandenburger e publicadas na Revista de Arte e Ciência, n.º 9, março de 1925, Rio de Janeiro (“Lendas Índias da Guiana Brasileira”). Denominou um romance de Mário de Andrade de Macunaíma. O herói sem nenhum caráter. Rapsódia, São Paulo, 1928.

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Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 15

CAPÍTULO 15 

Ao ouvirem isso, os curumins ficaram desapontados.
Isso por que, apesar do adiantado das horas, as crianças ficaram tão fascinadas com as lendas e histórias contadas pelo pajé, que não faziam questão nenhuma de irem dormir.
Aliás, foi por conta da curiosidade e extremo interesse das crianças em conhecer as lendas e costumes indígenas, que o pajé se estendeu, contando suas histórias.
Os curumins, sequiosos por conhecerem as lendas e mistérios dos índios, insistentemente pediam-lhe para contar mais e mais histórias, e ele, enlevado pelo interesse das crianças, acabou se estendendo.
Porém, já era tarde e todos tinham que dormir.
Diante, disso, argumento nenhum, convenceria o pajé a mudar de idéia.
Afinal, já era muito tarde.

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Luciana Celestino dos Santos
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quarta-feira, 17 de junho de 2020

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 14

CAPÍTULO 14 

Com isso, o pajé passou a falar sobe o Jurupari.9
O Jurupari, é um ente sobrenatural visita os homens em sonhos e causa aflições tanto maiores, quanto trazendo-lhes a faculdade da voz.
Esta concepção que poderá ser a que criaram as amas-de-leite, amalgamando as superstições indígenas, com as de além-mar, tanto vindas da África como da Europa, não é a do nosso indígena.
Para ele Jurupari é o legislador, o filho da virgem sem cópula, pela virtude do sumo da cucura do mato, e que veio mandado pelo Sol, para reformar os costumes da terra, a fim de poder encontrar nela uma mulher perfeita, com o que o Sol possa casar.
Jurupari, conforme contam, ainda não encontrou, e embora ninguém saiba onde, continua a procurá-la, e só voltará ao céu quando a tiver encontrado.
Jurupari é, pois, o antenado lendário, o legislador divinizado, que se encontra como base em todas as religiões e mitos primitivos.
Quando ele apareceu, eram as mulheres que mandavam, e os homens obedeciam, o que era contrário às leis do Sol.
Ele tirou o poder das mãos das mulheres, e o restituiu aos homens e, para que estes aprendessem a ser independentes daquelas, instituiu umas festas, em que somente os homens podem tomar parte, e uns segredos que somente podem ser conhecidos por estes.10
As mulheres que os surpreendem, devem morrer; e em obediência desta lei, morreu Ceuci a própria mãe de Jurupari.
Ainda assim, nem todos os homens conhecem o segredo; só o conhecem os iniciados, os que, chegados à puberdade, derem prova de saber suportar a dor, serem seguros e destemidos.
Os usos, leis e preceitos ensinados por Jurupari e conservados pela tradição ainda hoje professados e escrupulosamente observados por numerosos indígenas da bacia do Amazonas, e embora tudo leve a pensar que Jurupari é um mito Tupi-Guarani, todavia, tenho visto praticadas suas leis por tribos das mais diversas proveniências, e em todo o caso largamente influíram e, pode-se afirmar, influem ainda em muitos lugares do nosso interior sobre usos e costumes atuais, o não conhecê-las, tem decerto produzido mais mal-entendidos, enganos e atritos do que geralmente se pensa.
Ao mesmo tempo, porém, tem permitido, como tem-se dito mais de uma vez, ocasião de observar pessoalmente, que ao lado das leis e costumes trazidos pelo cristianismo e civilização européia, subsistem ainda uns tantos usos e costumes, que embora mais ou menos conscientemente praticados, indicam quão era forte a tradição indígena.
Quanto à origem do nome, aceita-se a explicação que ela foi dada por um velho tapuio, a quem objetava ter sido afirmado que o nome de Jurupari quer dizer “o gerado da fruta” - Intimãã, Iurupari céra onheên putáre o munha iané iurú pari uá.
Nada disso.
O nome de Jurupari quer dizer que fez o fecho da nossa boca.
Vindo, portanto, de iuru boca e pari aquela grade de talas com que se fecham os igarapés e bocas de lagos, para impedir que o peixe saia ou entre.11
A origem Tupi-Guarani do mito é discutível.
Foi divulgado, à força d’armas, no Rio Negro, pelos indígenas da raça Aruaca, vindos do Norte.
É, geograficamente, o mito mais prestigioso, com vestígios vivos em quase todas as tribos.
É um deus legislador e reformador, puro, sóbrio, discursador, exigente no ritual sagrado.
Jurupari-demônio é uma imagem da catequese católica do séc. XVI.
D. Frederico Costa, Bispo do Amazonas, na “Pastorai”, documento de informação etnográfica, não aceitou o satanismo de Jurupari, de quem expôs os oito mandamentos:
1º A mulher deverá conservar-se virgem até a puberdade;
2º Nunca deverá prostituir-se e há de ser sempre fiel a seu marido;
3º Após o parto da mulher, deverá o marido abster-se de todo o trabalho e de toda a comida, pelo espaço de uma lua, a fim de que a força dessa lua passe para a criança;
4º O chefe fraco será substituído pelo mais valente da tribo;
5º O tuxaua (chefe) poderá ter tantas mulheres quantas puder sustentar;
6º A mulher estéril do tuxaua será abandonada e desprezada;
7º O homem deverá sustentar-se com o trabalho de suas mãos;
8º Nunca a mulher poderá ver Jurupari, a fim de castigá-la de algum dos três defeitos nela dominantes: incontinência, curiosidade e facilidade em revelar segredos”.
Os indígenas não adoravam Jurupari.
Um bispo escreveu:
“Parece também evidente que houve erro em identificar Jurupari com o demônio”.
Nenhum demônio possuirá as exigências morais de Jurupari.
O reformador instituiu nas cerimônias instrumentos musicais de sopro, especialmente uma longa trombeta de paxiúba, que um som cavernoso e profundo.
As mulheres não podem, sob pena de morte, ouvir sequer esse som.
Nem os instrumentos musicais, máscaras e outros apetrechos das danças de Jurupari podem ser vistos por mulher e mesmo rapaz não iniciado.12
Com isso o pajé, ao dar-se conta do adiantado da hora, mandou todos os índios se recolherem, pois mais um dia iria se iniciar e todos precisavam trabalhar.

9 Jurupari, o demônio, o espírito mau, segundo todos os dicionários e os missionários, exceção feita do Padre Tastevin. “A palavra jurupari parece corrutela de jurupoari”, escreve Couto de Magalhães em nota da segunda parte do Selvagem, que ao pé da letra traduziríamos - boca mão sobre: tirar da boca. Montoia (Tesoro) traz esta frase: - che jurupoari - tirou-me a palavra da boca. O Dr. Batista Caetano traduz a palavra: “Ser que vem à nossa rede, isto é, ao lugar onde dormimos.” 
10 Concepção patriarcal da época.
11 (Stradelli, Vocabulário da Língua Geral, 497-498). Explicação que me satisfaz, porque de um lado caracteriza a parte mais saliente do ensinamento de Jurupari, a instituição do segredo, e do outro lado, sem esforço se presta a mesma explicação nos vários dialetos Tupi-Guaranis, como se pode ver em Montoia, às vezes iuru e pari e às mesmas vozes em Batista Caetano. 
12 (Stradelli, “Legenda Dell’Jurupary,” Bolletino della Societá Geografica Italiana, terc. série, III, Luglio e segs., Roma, 1890, Em Memória de Stradelli, Manaus, 1936; Geografia dos Mitos Brasileiros, longo estudo sobre Jurupari; Renato Almeida, “Trombeta de Jurupari”, opus cit., 44-48). Stradelli estudou o mito, ouvindo indígenas e assistindo à cena do culto nos afluentes do rio Negro. 

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE - CAPÍTULO 33

CAPÍTULO 33 

E assim o fizeram.
Depois, foram conhecer a Praia de Itapuã.
Situada no final da orla, ficou famosa ao virar tema de Vinícius de Moraes e Dorival Caymmi.
Subdividida em Placaford, Sereia e Farol.
Nesta praia, seu trecho mais disputado é o que fica a caminho do farol.
Na Praia de Piatã, os turistas se divertiram muito com seus coqueiros, areia amarelada e ondas fracas.
No Jardim de Alá, o gramado tomado pelo coqueiral inspira pequeniques à beira-mar.
Pequenique este, que os turistas, ao visitarem a praia, trataram logo de providenciar.
À noite, com a lua, a inspiração é maior.
Porém, como ainda tinham muitos lugares para conhecer, os turistas não passearam de noite na praia.
Mas no dia seguinte, mais do que depressa, foram conhecer a Praia Pituba.
Com muitas pedras na areia amarela e um lindo e um Jardim dos Namorados à beira-mar, o local, era um convite aos casais.
Todavia, os cinco rapazes estavam sozinhos, por isso mesmo só curtiram a praia.
Assim, mais tarde, passearam pela Praia de Amaralina.
Aproveitando suas águas, se divertiram por algumas horas.
Depois, foram comer um acarajé, num dos inúmeros quiosques que ficam na praia.
No Rio Vermelho, os turistas puderam ver os baianos oferecendo prendas a Iemanjá, num famoso ritual da cultura afro-brasileira.
Durante a cerimônia, barcos levam oferendas para a rainha do mar, também conhecida como Mãe d’água.
É a senhora dos ventos, das tempestades e dos destinos dos que se lançam ao mar, recebendo homenagens.
Ela também é conhecida como Nossa Senhora da Conceição.
Em Ondina, os turistas se deslumbraram com suas piscinas naturais e seus jardins com coqueiros.
Além disso, a região possuí muitos bons hotéis.
Passeando pelo Farol da Barra, no começo da Baía de Todos os Santos, o pôr-do-sol é espetacular e o mar, forte, muito bom para surfe.
Os turistas, aproveitando o ensejo, surfaram um pouco.
Já o Porto da Barra, é uma enseada de águas calmas, considerado o melhor banho de mar de Salvador.
Nesta praia, um painel de azulejos mostra a chegada do primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de Souza, ocorrida aqui.
Atentos, os turistas observaram cada detalhe do lugar.
Depois, aproveitando para conhecer a Baía de Todos os Santos, fizeram um belíssimo passeio de barco.
Esta baía, considerada a maior do Brasil, possuí uma superfície de mil e cem quilômetros quadrados e cinqüenta e cinco belas ilhas para serem visitadas.
Lá, os turistas os mergulharam em praias primitivas, onde segundo contam, há vários barcos naufragados.
No dia seguinte, os turistas, visitando a Praia de Itaparica, se impressionaram com suas dimensões.
Isso por que a praia possuí trinta e cinco quilômetros.
Lá, condomínios residenciais, luxuosas casas de veraneio e construções coloniais do povoado fundado por jesuítas em 1560, convivem harmoniosamente.
Os turistas então, passeando de balsa, avistaram mais de vinte praias na região.
Estão nesta relação, a Praia de Gameleira, Mar Grande, Cacha-Prego, Penha, entre outras.
À certa altura, se avista a famosa Fonte da Bica com sua água mineral famosa. Sua costa oriental é ladeada por bancos de areia e manguezais. Próximo dali, fica Passos, um pequeno povoado, bem como as Praias da Pontinha e Ponta do Padre.
Na Praia de Frades, muitos coqueiros, mata atlântica, lagos, cachoeiras e vilas de pescadores.
Os turistas também, aproveitaram para conhecer o Parque do Abaeté.
Lá uma lagoa escura, cantada por Caymmi e Caetano Veloso ganhou quatrocentos hectares urbanizados, com restaurantes, quiosques com água de coco, acarajé e doces típicos.
Nesse lugar, as lavadeiras lavavam pilhas de roupas à beira da lagoa.
Com o tempo, foram para no tanque.
Foram vinte e cinco tanques construídos pelo governo na Casa da Lavadeira.
Isso por que o sabão poluía e matava os peixes.
Outra atração do lugar é a Casa da Música.
Neste lugar tem até o Ford 29 que puxou o primeiro trio-elétrico, criado por Dodô em 1950.
No Parque Florestal do Pituaçu, os turistas conheceram a Praia de Pituaçu.
Lá a atração é o Espaço Mário Cravo, com mais de oitocentos trabalhos do artista baiano, entre gravuras, pinturas e esculturas.
Dias antes, os turistas puderam apreciar a Festa de Reis ou Festa da Lapinha, como também é conhecida.
Durante os festejos, os turistas visitaram o presépio da Igreja da Lapinha e a apresentação de Ternos de Reis.
Trata-se de uma tradição portuguesa temperada com molho caboclo.
Na Festa do Bonfim, os turistas participaram de novenas, missas e festas de largo, que antecipam a lavagem da famosa igreja.
Os turistas também puderam ver a Lavagem da Igreja de Itapuã, feita quinze dias antes do Carnaval.
De Piatã à Igreja de Nossa Senhora da Conceição, viram afoxés e blocos carnavalescos.
No final da cerimônia, os turistas tomaram água na escadaria do templo.
Na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, uma procissão, que saí do local, vira festa de largo para louvar a padroeira da Bahia.
Durante a Procissão dos Navegantes, os turistas, avistaram centenas de embarcações seguindo a galeota com o Senhor dos Navegantes.
No dia 31 de dezembro, a festa vira reveillon popular.
Ao apreciarem o carnaval, os turistas puderam se dar conta da loucura baiana.
Trios elétricos, afoxés, blocos afros e cordões, arrastam multidões entre a Praça Principal e o Bairro de Olinda.
A animação corre solta no Farol da Barra e na Praça Castro Alves, onde na madrugada de terça-feira ocorre o encontro dos mais famosos trios-elétricos.
Os turistas, que quiseram desfilar no bloco do Olodum, tiveram que se associar e comprar uma fantasia.
Mais tarde, ‘saíram na pipoca’, pulando com todos os trios que apareceram.
Nos dias que se seguiram, os turistas, percorreram as principais praias do litoral baiano.
Em Porto Sauípe, por exemplo, os turistas avistaram uma pequena vila de pescadores e inúmeras casas de veraneio.
A praia, é cheia de coqueiros, dunas e ondas fortes.
Atravessando de barco o Rio Sauípe, os turistas avistaram uma área para banho, formada na barra, durante a maré baixa.
Já na Praia do Forte, conhecida como a Polinésia brasileira, os turistas puderam apreciar as belezas do lugar com todo o conforto.
A praia badaladíssima e com uma tremenda infra-estrutura, é considerada uma das melhores da região.
Possuí doze quilômetros de praias com coqueiros, recifes e muitas atrações ecológicas.
Além disso, a preservação da paisagem é garantida por um rigoroso controle urbanístico, quem corta um coqueiro, é obrigado a plantar quatro.
Na Praia do Conde, o Pantanal baiano, tem quarenta quilômetros de praias, dunas, manguezais e lagoas.
Em Baía do Itapirucu, vale a pena passear de barco até o Rio do Cavalo Ruço, que forma uma lagoa de águas cristalinas excelente para banhos.
Já a Praia do Sítio é a mais animada, com infra-estrutura de pousadas e restaurantes.
Em Barra do Itariri, os turistas aproveitaram as belezas do lugar, para mais do que depressa, curtir a praia e tirar algumas fotos.
Lá existe, um pequeno povoado de pescadores encravado num cenário deslumbrante de dunas, coqueiros, manguezais e arrecifes.
Ademais, antes de desaguar num mar de águas transparentes, o Rio Itariri faz uma bela e insinuante curva.
Um braço do Rio Itapirucu atravessa a região e reproduz paisagens do pantanal, com muitas garças negras e alguns jacarés, sempre tímidos e difíceis de se ver.
Ao passarem por Imbassaí, os turistas se sentiram na obrigação de parar.
Esta praia, procuradíssima nos fins-de-semana, fica a noventa quilômetros de Salvador, oferece banhos de água doce e salgada – nas piscinas de águas mornas formadas por arrecifes à beira-mar.
No Rio Barroso, paralelo à praia, e na cachoeira do Rio Imbassaí, os turistas se deliciaram em suas águas.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 13

CAPÍTULO 13

Ao contar sobre Juriti-Pepena, o pajé comentou que:
É uma superstição dos índios, em que se crê na vinda de uma juriti invisível que canta numa touceira de tajás.
Os pios lamentosos da ave misteriosa, anunciam desgraças, que serão evitadas por um feiticeiro, pajé, mestre, que saiba rezar, afastando o presságio.
Se não for evitada a profecia da juriti-pepena, a vítima ficará aleijada.

DICIONÁRIO:

Significado de Tajás - O mesmo que: taiobas, tinhorões.

taioba - substantivo feminino
1. BRASILEIRISMO•BRASIL
erva ( Xanthosoma violaceum ) da fam. das aráceas, nativa de regiões tropicais das Américas, de folhas sagitadas, grandes, com pecíolo longo, comestíveis, tubérculos tb. us. como alimento e inflorescência envolta por espata verde-acinzentada com as margens arroxeadas; arão, aro, bezerro, jarro, mangarito-grande, mangarito-roxo, pé-de-bezerro, taiá, taiá-açu, taiaúva, taiova, tajá, tajá-açu, tajabuçu, talo, taro, tarro.
2. BRASILEIRISMO•BRASIL
m.q. MANGARITO ('designação comum').

tinhorão - substantivo masculino ANGIOSPERMAS
1. erva ( Caladium bicolor ) da fam. das aráceas, nativa do Brasil e Peru, de folhas cordiformes, oblongas, peltadas, com pecíolo longo, verdes manchadas de branco ou verdes com o centro vermelho, e espata tubulosa e branca; apresenta propriedades anticatarrais e vermífugas, mas é muito venenosa; brasileira, taiá, tajá, tajurá, tambatajá, tinhorão-de-lombriga.
2. design. comum a diversas variedades e cultivares dessa espécie, que apresentam grande diversidade no tamanho, forma e variegação das folhas.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 12

CAPÍTULO 12

Depois, passou a falar sobre Iapinari. 
Filho de mulher virgem, Iapinari nasceu cego e recobrou a visão, esfregando o sumo dos olhos do cancão (Cianocorax cyanoleucus). 
Era grande tocador de membi, tornando-se famoso. 
Ficaria cego novamente, se a mãe revelasse a outra pessoa, o segredo que lhe dera a luz dos olhos. Apaixonada por um moço, a mãe de Iapinari contou o segredo, e o filho voltou a cegar, precipitando-se no rio, onde se tornou um rochedo. 
A mãe, moças e rapazes da tribo que seguiram Iapinari, também ficaram encantados. 
Lenda do Rio Uaupés, Rio Negro, Amazonas. 
A pedra Iapinari fica entre as cachoeiras de Tucunaré e Uaracapuri.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 11

CAPÍTULO 11

 Em seguida o pajé passou a contar sobre a Curacanga.
Um lobisomem, cuja cabeça se solta do corpo, e que denominam Curacanga, é sempre a concubina de um padre, ou a sétima filha do seu amor sacrílego.
O corpo fica em casa, e a cabeça, sozinha, sai, durante a noite de sexta-feira, e voa pelos ares como um globo de fogo.
Curacanga:
“Quando qualquer mulher tem sete filhas, a última vira Curacanga, isto é, a cabeça lhe sai do corpo, à noite, e, em forma de bola de fogo, gira à toa pelos campos, apavorando a quem encontrar nessa estranha vagabundeação.
Há, porém, meio infalível de evitar-se esse hórrido fadário: é tomar a mãe, a filha mais velha para madrinha da ultimogênita.”8

8 A Cumacanga é do Pará e a Curacanga, idêntica, é do Maranhão. A cabeça luminosa é um elemento comum aos mitos do fogo, punição, encanto, indicação de ouro ou contos etiológicos. Os indígenas caxinauás, panos do Estado do Acre, explicam a origem da Lua como uma cabeça que subiu ao céu.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos 
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 10

CAPÍTULO 10

Após, prosseguiu contando a ‘Lenda do M'boitatá’.
Foi assim:
Num tempo muito, muito antigo, houve uma noite tão comprida que pareceu que nunca mais haveria luz do dia.
Noite escura como breu, sem lume no céu, sem vento, sem serenada e sem rumores, sem cheiro dos pastos maduros nem das flores da mataria.
Os homens viveram abichornados, na tristeza dura.
E porque churrasco não havia, não mais sopravam labaredas nos fogões e passavam comendo canjica insossa.
Os borralhos estavam se apagando e era preciso poupar os tições...
Os olhos andavam tão enfarados da noite, que ficavam parados, horas e horas, olhando sem ver as brasas somente, porque as faíscas, que alegram, não saltavam, por falta do sopro forte de bocas contentes.
Naquela escuridão fechada, nenhum tapejara seria capaz de cruzar pelos trilhos do campo, nenhum flete crioulo teria faro, nem ouvido, nem vista para abster na querência, até nem sorro daria no seu próprio rastro!
E a noite velha ia andando... ia andando...
Minto:
No meio do escuro e do silêncio morto, de vez em quando, ora duma banda ora doutra, de vez em quando uma cantiga forte, de bicho vivente, furava o ar.
Era o téu-téu ativo, que não dormia desde o entrar do último sol e que vigiava sempre, esperando a volta do sol novo, que devia vir e que tardava tanto já...
Só o téu-téu de vez em quando cantava; o seu - quero-quero! - tão claro, vindo de lá do fundo da escuridão, ia se agüentando a esperança dos homens, amontoados no redor avermelhado das brasas.
Fora disto, tudo o mais era silêncio; e de movimento, então, nem nada.
Minto:
Na última tarde em que houve sol, quando o sol ia descambando para o outro lado das coxilhas, rumo do minuano, e de onde sobe a estrela-d'alva, nessa última tarde também desabou uma chuvarada tremenda.
Foi uma manga d'água que levou um tempão a cair, e durou... e durou...
Os campos foram inundados; as lagoas subiram e se largaram em fias coleando pelos tacuruzais e banhados, que se juntaram, todos, num; os passos cresceram e todo aquele peso d'água correu para as sangas e das sangas para os arroios, que ficaram bufando, campo fora, campo fora, afogando as canhadas, batendo no lombo das coxilhas.
E nessas coroas é que ficou sendo o paradouro da animalada, tudo misturado, no assombro.
E eram terneiros e pumas, tourada e potrilhos, perdizes e guaraxains, tudo amigo, de puro medo.
E então!...
Nas copas dos butiás vinham encostar-se bolos de formigas; as cobras se enroscavam na enrediça dos aguapés; e nas estivas do santa-fé e das tiriricas boiavam os ratões e outros miúdos.
E, como a água encheu todas as tocas, entrou também na da cobra-grande, a – boiguaçu – que, havia já muitas mãos de luas, dormia quieta, entanguida.
Ela então acordou-se e saiu, rabeando.
Começou depois a mortandade dos bichos e a boiguaçu pegou a comer carniça.
Mas só comia os olhos e nada, nada mais.
A água foi baixando, a carniça foi cada vez engrossando, e a cada hora mais olhos a cobra-grande comia.
Cada bicho guarda no corpo o sumo do que comeu.
A tambeira que só come trevo maduro, dá no leite o cheiro doce do milho verde.
O cerdo que come carne de bagual nem vinte alqueires de mandioca o limpam bem, e o socó tristonho e o biguá matreiro até no sangue têm cheiro de pescado.
Assim também, nos homens, que até sem comer nada, dão nos olhos a cor de seus arrancos.
O homem de olhos limpos é guapo e mão-aberta; cuidado com os vermelhos; mais cuidado com os amarelos; e, toma tenência doble com os raiados e baços!...
Assim foi também, mas doutro jeito, com a boiguaçu, que tantos olhos comeu.
Todos - tantos, tantos! que a cobra-grande comeu -, guardavam, entrenhado e luzindo, um rastilho da última luz que eles viram do último sol, antes da noite grande que caiu...
E os olhos - tantos, tanto! - com um pingo de luz cada um, foram sendo devorados; no princípio um punhado, ao depois uma porção, depois um bocadão, depois, como uma braçada...
E vai...
Como a boiguaçu não tinha pêlos como o boi, nem escamas como o dourado, nem penas como o avestruz, nem casca como o tatu, nem couro grosso como a anta, vai, o seu corpo foi ficando transparente, transparente, clareando pelos miles de luzezinhas, dos tantos olhos que foram sendo esmagados dentro dele, deixando cada qual sua pequena réstia de luz.
E vai, afinal, a boiguaçu toda já era uma luzerna, um clarão sem chamas, já era um fogaréu azulado, de luz amarela e triste e fria, saída dos olhos, que fora guardada neles, quando ainda estavam vivos.
Foi assim e foi por isso que os homens, quando pela primeira vez viram a boiguaçu tão demudada, não a conheceram mais.
Não conheceram e julgando que era outra, muito outra, chamam-na desde então, de boitatá, cobra do fogo, boitatá, a boitatá!
E muitas vezes a boitatá rondou as rancherias, faminta, sempre que nem chimarrão.
Era então que o téu-téu cantava, como o bombeiro.
E os homens, por curiosos, olhavam pasmados, para aquele grande corpo de serpente, transparente - tatá, de fogo-que media mais braças que três laços de conta e ia aluminando baçamente as carquejas...
E depois, choravam.
Choravam, desatinados do perigo, pois as suas lágrimas também guardavam tanta ou mais luz que só os olhos e a boitatá ainda cobiçava os olhos vivos dos homens, que já os das carniças a enfaravam...
Mas, como dizia:
Na escuridão só avultava o clarão baço do corpo da boitatá, e era ela que o téu-téu cantava de vigia, em todos os flancos da noite.
Passado um tempo, a boitatá morreu: de pura fraqueza morreu, porque os olhos comidos encheram-lhe o corpo mas lhe não deram substância, pois que sustância não tem a luz que os olhos em si entranhada tiveram quando vivos...
Depois de rebolar rabiosa nos montes de carniça, sobre os couros pelados, sobre as carnes desfeitas, sobre as cabelamas soltas, sobre as ossamentas desparramadas, o corpo dela desmanchou-se, também como cousa da terra, que se estraga de vez.
E foi então, que a luz que estava presa se desatou por aí.
E até pareceu cousa mandada: o sol apareceu de novo!
Minto:
Apareceu sim, mas não veio de supetão.
Primeiro foi-se adelgaçando o negrume, foram despontando as estrelas; e estas se foram sumindo no coloreado do céu.
Depois se foi sendo mais claro, mais claro, e logo, na lonjura, começou a subir um rastro de luz..., depois a metade de uma cambota de fogo... e já foi o sol que subiu, subiu, subiu, até vir a pino e descambar, como dantes, e desta feita, para igualar o dia e a noite, em metades, para sempre.
Tudo o que morre no mundo se junta à semente de onde nasceu, para nascer de novo.
Só a luz da boitatá ficou sozinha, nunca mais se juntou com a outra luz de que saiu.
Anda arisca e só, nos lugares onde quanta mais carniça houve, mais se infesta.
E no inverno, de entanguida, não aparece e dorme, talvez entocada.
Mas de verão, depois da quentura dos mormaços, começa então o seu fadário.
A boitatá, toda enroscada, como uma bola - tatá, de fogo! -, empeça a correr o campo, coxilha abaixo, lomba acima, até que horas da noite!...
É um fogo amarelo e azulado, que não queima a macega seca nem aquenta a água dos manatiais, e rola, gira, corre, corcoveia e se despenca e arrebenta-se, apagado... e quando um menos espera, aparece, outra vez, do mesmo jeito!
Maldito!
Tesconjuro!
Quem encontra a boitatá pode até ficar cego...
Quando alguém topa com ela só tem dois meios de se livrar: ou ficar parado, muito quieto, de olhos fechados apertado e sem respirar, até ir-se ela embora, ou, se anda a cavalo, desenrodilhar o láco, fazer uma armada grande e atirar-lha por cima, e tocar a galope, trazendo o laço de arrasto, todo solto, até a ilhapa!
A boitatá vem acompanhando o ferro da argola... mas de repente, batendo numa macega, toda se desmancha, e vai esfarinhando a luz, para emulitar-se de novo, com vagar, na aragem que ajuda. Campeiro precatado!
Reponte o seu gado de querência da boitatá: o pastiçal, aí, faz peste...
Tenho visto!7

DICIONÁRIO:
abichornado - adjetivo SUL DO BRASIL
1. que se tornou abafado, sufocante; abochornado.
2. que se tornou abatido, desanimado.

tapejara - substantivo de dois gêneros
1. BRASILEIRISMO•BRASIL S. B C.-O. MG aquele que conhece bem o território; baqueano, vaqueano.
2. POR EXTENSÃO•RIO GRANDE DO SUL pessoa que dirige com segurança qualquer navio.

flete - substantivo masculino RIO GRANDE DO SUL
cavalo bom e formoso, arreado com luxo e elegância.

butiá - substantivo masculino ANGIOSPERMAS
1. design. comum às palmeiras do gên. Butia, com oito spp., nativas da América do Sul, ger. de estipe médio, com cicatriz de pecíolos antigos, longas folhas penatífidas us. em obras trançadas, e pequenas drupas comestíveis, com semente oleaginosa.
2. m.q. OURICURI (Syagrus coronata).

Tambeira - Garrota - Novilha.

enfarar - Fazer com que (alguém) sinta enfaro (enjoo ou aborrecimento); entediar-se. Etimologia (origem da palavra enfarar). De origem questionável.

precatado - adjetivo - que se precatou; aprecatado, acautelado, prevenido.

7 Lenda do Sul.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 9

CAPÍTULO 9

Dessa forma, passou a contar sobre a ‘Lenda de Mani’.
Começa assim:
Em tempos idos, apareceu grávida a filha dum chefe selvagem.5
O chefe quis punir no autor da desonra de sua filha, a ofensa que sofrera seu orgulho e, para saber quem ele era, empregou debalde, rogos, ameaças e por fim castigos severos.
Tanto diante dos rogos, como diante dos castigos, a moça permaneceu inflexível, dizendo que nunca tinha tido relação com homem algum.
O chefe tinha deliberado matá-la, quando lhe apareceu em sonho um homem branco, que lhe disse que não matasse a moça, porque ela efetivamente era inocente, e não tinha tido relação com homem.
Passados os nove meses, ela deu à luz uma menina lindíssima e branca, causando este último fato a surpresa não só da tribo, como das nações vizinhas, que vieram visitar a criança, para ver aquela nova e desconhecida raça.
A criança, que teve o nome de Mani e que andava e falava precocemente, morreu ao cabo de um ano, sem ter adoecido e sem dar mostras de dor.
Foi ela enterrada dentro da própria casa, descobrindo-se e regando-se diariamente a sepultura, segundo o costume do povo.
Ao cabo de algum tempo, brotou da cova uma planta que, por ser inteiramente desconhecida, deixaram de arrancar.
Cresceu, floresceu e deu frutos.
Os pássaros que comeram os frutos se embriagaram, e este fenômeno, desconhecido dos índios, aumentou-lhes a superstição pela planta.
A terra afinal fendeu-se, cavaram-na e julgaram reconhecer, no fruto que encontraram, o corpo de Mani.
Comeram-no e assim aprenderam a usar a mandioca.6
Um dos índios, ao ouvir a história, comentou:
-- Quer dizer que foi assim que surgiu a mandioca?
O pajé assentiu com a cabeça.

5 Lenda originária da região do Pará. 
6 (O Selvagem, p.134-135). Mani - Menina de cujo corpo nasceu a mandioca, Manihot utilíssima Pohl., euforbiácea, base da alimentação brasileira. O nome mandioca proviria de Mani-óca, casa de Mani. É lenda da raça tupi. A lenda de Mani foi registrada por Couto de Magalhães em 1876. Dicionário do Folclore Brasileiro / Câmara Cascudo. - Rio de Janeiro: Ediouro Publicações. S.A. sem data.  

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
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