Poesias

sábado, 18 de abril de 2020

Pontos Turísticos - Marcos Históricos - Rio Grande da Serra

A Capela de São Sebastião – Marco Histórico de Rio Grande da Serra

Sobre a importância da Capela "Santa Cruz", hoje em ruínas e seu valor como marco fundamental no Coração da Cidade.
O marco da civilização de Rio Grande da Serra está representado sem a menor
sombra de dúvida, pela Capela de Santa Cruz, ou "São Sebastião", famosa não pela sua arquitetura, mas sim pela sua torre e coroa, um dos mais belos símbolos portugueses.
Notório, também, pelo sítio de sua localização, precisamente no centro de Rio
Grande da Serra (coração do primeiro povoamento), numa colina, fazendo frente para o antigo Caminho do Zanzalá à Mogi das Cruzes (atual caminho que faz a Avenida da Saudade, Avenida Doutor Luis Carlos de Mesquita), Avenida Dom Pedro I (ex.: Capitão Marques), Rua Rabello Lobo, atual Rua Prefeito Carlos José Carlson, (Rua da Estação e Rua Guilherme Pinto Monteiro).
Pelo lado direito de quem da Capela olha, para a antiga Estrada Velha de Ribeirão ires à Paranapiacaba, (antiga trilha de índios e tropeiros) e que atravessa a propriedade da SOLVAY S/A (Indústria ELCLOR, PETROCLOR, etc.), com destino à Campo Grande, Paranapiacaba, onde existe interligação com os acessos a Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, e trilhas para Bertioga e Santos.
A sua localização também é referenciada pelo fato de a Capela de Santa Cruz estar distante um quilômetro do Rio Grande, pelo seu lado esquerdo, rio notoriamente importante à época, pela sua navegabilidade, como veremos mais adiante.

Da Edificação da Capela "Santa Cruz"

Consta que, por volta de 1611, as tropas que transportavam sal e gêneros vindos através do porto de Santos e São Vicente, para o povoado de Mogi das Cruzes, utilizavam-se das trilhas e caminhos, principalmente o de "Zanzalá para Mogi", o qual ladeava o Rio Grande, no povoado do mesmo nome.
Do Rio Grande, seja pelo rio Grande, seja pelas trilhas e caminhos existentes, os tropeiros e carreiros se dirigiam não só à Mogi das Cruzes, como também para São Bernardo do Campo (Santo André) e para a Província de São Paulo.
Um dos locais preferidos para "parada" das tropas, era às margens do rio Grande, por ser esse um dos rios mais importante da região, pois tinha navegabilidade, local de boa pastagem para o gado e, ainda, oferecia certa segurança, já que o percurso de subida da Serra até Paranapiacaba, região de agreste e de mata densa, onde além dos animais ferozes, eram freqüentes os ataques indígenas e salteadores, razão pela qual era normal o pernoite
dos tropeiros fora da região das "matas", "dentro" do campo, e próximo ao Rio Grande.
Consta, ainda, que numa dessas paradas das tropas em Rio Grande, veio a falecer um dos tropeiros, que foi sepultado num alcantil próximo ao local.
No lugar marcado por uma cruz de madeira, decidiu-se construir uma morada, que mais tarde foi substituída por uma ermida, a Capela “Santa Cruz”, hoje "São Sebastião", em ruínas, devido a ação demolidora praticada na calada da noite do dia 20 para 21 de abril de 1979.
A ação demolitória, foi considerada violenta, pelo uso de picaretas, marretas, e um trator.

Sua Arquitetura

A arquiteta Luciana Costa, que recentemente fez estudos e todo um trabalho de
campo visando apresentar projeto para recuperação e restauro da obra, explica: "As capelas, devido a nossa colonização ser regida pelos religiosos, são marcos fundamentais para o estudo e o entendimento de toda uma sociedade da época", e respondendo à indagação - "Ter características jesuíticas, o que será que isso significa?", responde:
"É considerada jesuítica a arquitetura, e todo acervo da obra religiosa dos Séculos XVI, XVII, fruto de um trabalho penoso e constante dos padres que vinham com a Companhia de Jesus. Não é a arquitetura mais bela, nem a mais rica do nosso período, porém, a mais significativa. A construção da ermida de estilo simples, em pedra assentada com barro e encamisamento de tijolos, técnica chamada "taipa de mão". Não ocupa área superior a 80 metros quadrados e a planta é relativamente simples. É retangular, como uma única nave, que continha alta (em madeira e excelente estilo colonial), em nível um pouco mais elevado de onde se concentravam os fiéis. Havia nichos laterais, um de cada lado, onde eram colocadas as imagens. O seu telhado simples, em duas águas, era coberto por telhas capa - canal (telhas que se colocavam uma sim e a outra ao contrario), únicas utilizadas na época colonial, porque eram feitas nas coxas dos índios escravos. O teto composto por madeiramento, dava à Capela conformação de uma nave. O seu frontispício com uma única porta, com abertura de luz sobre ela, em arco, é o único ponto por onde entrava iluminação externa."

Da torre e seu coroamento

A arquiteta Luciana Costa é de opinião que a torre, de estilo peculiar, meã ou meia-chã jesuítica, é feita em adobe, que é o tijolo feito em fôrma, porém não cozido.
Não é a mesma técnica usada para a construção da ermida, pelo que parece ter a torre construção posterior à capela.
Lembra as torres carmelitanas, de estilo próprio, quadrangular.
Ergue-se na lateral direita da Capela (quem de frente a observa), apresentando na parte superior duas grandes janelas ovaladas, fechadas por venezianas em madeira bem aparelhada, por onde se expandia o som cristalino e sonoro de um sino, em bronze, que tem como escudo, o brasão do Brasil Imperial.
Este sino, ao que consta, está nas dependências da Casa Paroquial, sob a custódia do padre administrador.
O coroamento da torre é da maior importância, pois retrata um símbolo português, da época de Portugal colônia.
Mísulas verticais, nos quatros cantos da torre, formam duas pétalas de flor - o Lírio (flor símbolo de Portugal).
Desse quadrângulo, ergue-se uma cúpula ovalada (como uma abóbora celeste), que da à Capela a característica de uma nave, arrematada no centro por
um bulbo, o qual sustenta um Globo (o globo mundial) construído em grossas fitas de aço.
Em cima fica a Cruz da Ordem de Cristo, o Galo e o Cruzeiro.
A cruz que ficava na torre da capela "Santa Cruz", talvez como um arremate ou enfeite tem pequenas setas, como que indicando os pólos ( Norte, Sul, Leste, Oeste).
A Cruz da Ordem de Cristo esteve estampada em todas as bandeiras de Portugal (e que foram nossas) até 1822, e no Brasil, com a primeira Bandeira do Império, instituída por Dom Pedro I, em 18 de setembro de 1822.
As naus portuguesas ostentavam em suas bandeiras, essa cruz.
Foi Dom Henrique (O Navegador) quem equipou as embarcações pioneiras dos grandes descobrimentos marítimos, que ampliaram os domínios portugueses no mundo e, com essa expansão política, ajudaram também a divulgar o Cristianismo.
Quando as expedições de Pedro Álvares Cabral (1500) e Martim Afonso de Souza (1531) aportaram as costas brasileiras, os portugueses estavam no auge do seu movimento de expansão marítima.
A carta de Pedro Vaz de Caminha, primeiro relato da vida em terra brasileira, no seu nascedouro, faz um primeira referência a esse símbolo cristão: "Ali estava com o Capitão, a Bandeira de Cristo, com que saída de Belém, a qual esteve sempre bem alta, da parte do Evangelho".
No quadro "A primeira Missa no Brasil", de autoria de Vitor Meirelles de Lima, o referido símbolo também está presente, bem próximo do altar improvisado. Na tela "O descobrimento do Brasil" de Oscar Pereira da Silva, apresenta as naus que deixam entrever esse símbolo.
E nós encontramos em Luis de Camões (1524-1560), em seu famoso épico de amor, "Os Lusíadas", imortal evangelho cívico de amor a pátria lusa, a interpretação de quão profundo é o emblema que ficava sob a Torre de nossa Capela "Santa Cruz".
A cruz da Ordem de Cristo, símbolo cristão que encheu de forças os Cavaleiros das Cruzadas Medievais, o mesmo símbolo que sustentou o ânimo dos que lutavam contra os mouros na Península Ibérica e depois de atravessar o Atlântico, aqui fez nascer em novas bases, a velha civilização européia, representava, verdadeiramente, uma essência do mundo cristão e lusitano, do qual orgulhosamente descendemos.
O povoado de Rio Grande nasceu e floresceu à sombra benéfica e acolhedora dessa Cruz, mas que a ação demolidora, praticada por alguns poucos, destruiu na calada da madrugada de 21 de abril de 1979.
O restauro, a reconstrução desse marco fundamental na história de nossa civilização, impõe-se já como um ponto de honra, porque através dele que vamos nos recordar sempre de valores nobilíssimos como é o da Liberdade, da autonomia e da Cristandade.
A Capela "Santa Cruz" teve como ornamento, doze finíssimas aquarelas, retratando as estações do calvário de Cristo, verdadeiras obras de arte, que foram destruídas pelo tempo.
E, a partir da doação pela família Pandolfi, de imagem esculpida a canivete, em
madeira, feita no século XVII, por empregados na serraria da Família Pandolfi, que a Capela de "Santa Cruz" passou a ser conhecida como Capela "São Sebastião" sendo o seu Padroeiro a imagem do referido Santo.

Informações extraídas da internet.
Site da Prefeitura de Rio Grande da Serra, e do Jornal Diário do Grande ABC.
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Luciana Celestino dos Santos. 

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