Poesias

sábado, 18 de abril de 2020

Núcleos Urbanos: Vila Nova ou Vila Martin Smith

Com a construção da segunda obra de subida e descida da serra, o núcleo original se estendeu para as áreas vizinhas ao longo do vale.
Essa expansão urbana teve um controle mais rígido e planejado, dando início à implantação de um modelo urbano projetado: a Vila Nova ou Vila Martin Smith.
Esse novo conjunto projetado pela Companhia, formava um sistema disciplinarmente organizado através de uma técnica de aglomeração dispostas hierarquicamente, e conforme um arranjo que definia o desenho das habitações.
Isto vinha reforçar o aspecto britânico das construções já existentes, que eram
arquitetonicamente diferenciadas pela utilização de sistema construtivo em madeira, a maioria em pinho-de-riga, porém trazia novidades quanto ao sistema construtivo, pois as habitações possuíam uma tipologia pré-definida.

O Sistema Funicular: um Patrimônio Tecnológico
Os ingleses, aliados aos mais renomados engenheiros europeus, vieram ao Brasil executar o projeto de ligação da ferrovia entre o planalto paulista e a Baixada Santista na serra do Mar, cuja implantação foi dividida em duas fases distintas:
Primeiro Período: 1860 a 1899;
Segundo Período: 1900 a 1946.
O que aconteceu após 1946...

Instalação do 1o Sistema Funicular (Serra Velha)
Essa primeira fase, correspondeu à instalação da primeira ligação conhecida como Primeiro Sistema Funicular ou Serra Velha.
Este se constituía de quatro planos inclinados interligados por patamares, onde estavam instalados sistemas de máquinas fixas acionando cabos de aço ("tail end") que sustentavam locomotiva e composições na subida e descida da serra, numa extensão total de aproximadamente oito quilômetros.
Em 1864, estava pronto o primeiro trecho.
A 16 de fevereiro de 1867, o sistema foi inaugurado, em caráter provisório, com duas viagens diárias.
No término das obras, a grande maioria dos trabalhadores foi dispensada, ficando apenas aqueles necessários para a manutenção dos serviços de conservação da ferrovia, do maquinário e das operações de tráfego, dando origem ao vilarejo então denominado Alto da Serra, organizado nos limites ferroviários.
Ainda nessa época, o povoado da região não era muito mais que um acampamento e, segundo Celina Kuniyoshi, "esse caráter provisório se justificava na medida em que ficariam morando no Alto da Serra após a inauguração da estrada, apenas um número muito reduzido de empregados, que se encarregariam do tráfego local, dispensado portanto até a construção de uma estação.
Todavia, para a aceitação definitiva da linha por parte do governo, foi exigida a complementação das obras na Serra, demandando a permanência de grande número de operários, e também dos negociantes de víveres que abasteciam esses trabalhadores.
Essa população, por sua vez, constituiu um público para a linha férrea, e a Companhia resolveu então construir uma estação no Alto da Serra.
Como o desenvolvimento da lavoura cafeeira, cresceu o tráfego da estrada de ferro, estimulando a expansão do núcleo urbano de Alto da Serra para atender ao fluxo cada vez maior de passageiros e vagões de carga que aguardavam a descida (3 vagões apenas em cada viagem), ou a formação de um comboio para prosseguir viagem rumo a São Paulo e Jundiaí.
Apesar desse desenvolvimento, o Alto da Serra só deixou de ser um núcleo urbano acanhado, formado com casas de barro e sapé, no final do século XIX, quando a São Paulo Railway construiu o segundo funicular."

Instalação do 2º Sistema Funicular (Serra Nova)
Por causa da rápida expansão econômica da região planaltina, o escoamento da
produção de café foi tornando-se insuficiente, necessitando de novas alternativas, resolvidas a partir da construção do Segundo Sistema Funicular ou Serra Nova.
Este executava suas operações em cinco planos inclinados, por meio de cabos de aço contínuos que tracionavam as composições movidas por cinco máquinas fixas, assentadas nos patamares.
Para a circulação das composições, usava-se uma locomotiva de pequeno porte denominada "locobreque", que era dotada de um mecanismo de sapatas em sua parte de baixo, entre as rodas, que tracionava os cabos de aço.
Em fins de 1899, foram concluídas as obras do segundo plano inclinado, que foram inauguradas no início de 1900.
Em outubro deste ano, o segundo funicular começou a operar, sendo definitivamente entregue ao público, em 28 de dezembro de 1901.
O que aconteceu após 1946...
Em 1946, expirando-se o prazo de concessão de noventa anos, a Estrada de Ferro foi encampada pela União (decreto de 13 de outubro de 1946), passando a se denominar Estrada de Ferro Santos – Jundiaí.
Na década de 1960, começaram os estudos para o aumento da capacidade de trafégo Santos – Jundiaí, o que resultou na implantação do sistema de esteiras dentadas, construído exatamente em cima do traçado da Serra Velha.
Assim, inaugurava-se, em 1974, a chamada cremalheira-aderência, com tecnologia japonesa.
E um sistema de tração, parecido com a operação de escadas rolantes, com engrenagens que se juntam e se ajustam às locomotivas, que, além das rodas convencionais, possuem uma terceira roda dentada, no meio da composição, que se ajusta às cremalheiras.
Com o sistema aderência-cremalheira, desapareceu o primeiro plano inclinado
construído na década de 1860.
O Segundo Plano Inclinado continuou em atividade até 1982, sendo então desativado comercialmente.
O mesmo se deu, de 1896 a 1990, mais ou menos, no trajeto que corresponde à ligação do Quinto Patamar na Vila de Paranapiacaba com o Quarto Patamar, na Grota Funda, foi operado, precariamente, por funcionários de uma entidade civil denominada ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária).
O qual se dava aos fins de semana, apenas para atender fins turísticos.
Paranapiacaba, portanto, pode ser considerado patrimônio de interesse
internacional pelos seus famosos sistemas funiculares de cabos de aço que tracionavam os trens: o primeiro, inaugurado em 16 de fevereiro de 1867, e o segundo, em 28 de dezembro de 1901.

"Julho é um mês terrível". 
O ex-maquinista José Arnaldo de Farias, baiano de Senhor do Bonfim, chegou em julho de 1947 a Paranapiacaba, e só foi descobrir que a vila tinha igreja, 29 dias depois.
"A cerração não deixava a gente nem vê a aba do chapéu" recorda ele, servindo mais uma cachaça a quem tem frio nessa manhã de julho de 1982.
Lá se vão, trinta e cinco anos, mas a cerração continua firme.
Às oito da manhã, no alto do morro onde fica o cemitério, a paisagem fica encharcada pela garoa gelada (...).
Embaixo, o barulho dos trens enfrentando a cremalheira, incomoda a parte alta da vial que não acordou ainda.
Paranapiacaba acorda tarde porque não há o que fazer, além do que fazem os
homens da ferrovia.
No bar do velho Manuel Maria Marques, o Maneco, 76 anos, um grupo de adultos assiste aos desenhos animados da tevê; quem passa toma café, conhaque ou fogo paulista, porque o frio zune nos ouvidos.
Português de Coimbra, o seu Maneco, vive aqui desde o dia 3 de setembro de 1930, quando Paranapiacaba chamava-se Alto da Serra e o movimento era grande.
A vila ferroviária que os ingleses haviam batizado de Vila Martin Smith tinha jardins floridos nos jardins dos quintais. Paranapiacaba era uma espécie de cidade – modelo."

Alto da Serra – Os Principais Referenciais: Estação do Alto da Serra
A velha estação do Alto da Serra possuía um aspecto original.
Sua torre que lembra o Big-Ben de Londres, era equipada com um relógio, cujos mostradores em algarismos romanos podiam ser vistos a longa distância.
Além da função visual, o relógio da estação também desempenhava importante papel como referencial "sonoro", pois estava localizado em uma torre elevada.
A estação de trem foi o primeiro referencial da Vila.
Desta forma, o trânsito local era obrigatório.
Assim, pela sua localização central na Vila, possuía características bastante originais, tendo, à princípio, desempenhado as funções de um "ponto de encontro".
Comenta Ferreira que: "o ponto principal de encontros para se tratar de um negócio, para se comentar sobre futebol, política ou outro assunto qualquer.
Era muito comum, quando saíamos de casa, que alguém nos perguntasse aonde iríamos e a resposta era quase sempre: Vou até a Estação.
As noites de sábado e domingo eram os dias de glória da Estação.
Durante o dia, o movimento já aumentava, mas, à noite, era impressionante o movimento em suas dependências; plataformas bastante largas ofereciam espaço para um grande número de pessoas, mas, mesmo assim, em alguns momentos, havia dificuldades em encontrar-se espaços vazios."
Esta estação, que se caracterizava por uma esplêndida arquitetura de estilo
vitoriano, teve projeto datado em fins do século passado e foi desenhada por engenheiros britânicos.
Ela veio desmontada para ser construída aqui.
A estação configurava um novo status para o quase acampamento de obras que constituía o então Alto da Serra.
A estação do Alto da Serra foi desativada em 1977 e já estava em processo de
demolição, quando sobreveio um incêndio em janeiro de 1981 e, dela, só restou a torre do relógio que, restaurada, foi integrada à atual estação.

Os Principais Referenciais: Passarela Metálica
A passarela metálica, construída em 1899 sobre o corredor ferroviário, onde se
localizavam a estação, o pátio e todos os equipamentos, estabeleceu o única ligação existente entre os dois núcleos da cidade.
Os Principais Referenciais: Clube União Lyra Serrano.
O edifício do clube União Lyra Serrano, o "town hall" social do Alto da Serra,
representando um dos mais antigos clubes de "football" do Estado foi fundado em 1903.
Lembra Negrelli que: "havia a Sociedade Recreativa Lyra da Serra, onde aos
domingos à noite havia uma sessão de cinema mudo, geralmente filme em série.
No salão cada grupo de família tinha os seus lugares certos, tudo direitinho, e orquestra composta de músico locais, tocavam belas valsas e até peças clássicas, eram amadores, nada ganhavam, tocavam para agradar a todos, e abriam a sessão com uma marcha, para o filme natural.
Nesta Sociedade também existia um salão para o jogo de bilhar, e nos fundos dois campos para bochas, e entre os habitantes havia verdadeiros craques (...)".
A Sociedade Recreativa Lyra da Serra, hoje, União Lira Serrano, em razão da união feita com o Serrano Football Club, tem sede ampla com salões para cinema e bailes, jogos diversos e biblioteca e um campo de futebol.
O campo de futebol, até hoje, ocupa local de destaque, dentro da Vila.
Em 1907, começaram as construções da sede atual que, em 1938, foi ampliada
adquirindo a feição hoje existente: um grande edifício de dois andares, totalmente construído em madeira de lei, principalmente pinho-de-riga, importada da Inglaterra.
Antigamente, ao final da escada de madeira, na porta de um camarote, poder-se-ia ler: Este reservado é de uso exclusivo dos senhores Mr. Alfred E. Whitton, Dr. Jorde A. Boeri, Arno L. M. da Veiga e respectivas famílias.
Outrora, os degraus de todas as escadas internas recebiam tapetes de veludo.

Os Principais Referenciais: Castelinho
Um dos mais importantes e controvertidos elementos da paisagem local.
Trata-se de uma construção vitoriana, mesclando "Queen Anney style" com "shigle style" e, por essa razão, batizado de "Castelinho".
Ele servia como residência ao superintendente inglês, autoridade máxima da Ferrovia e, portanto, da cidade.
Foi construído em 1897 e seu projeto original foi concebido dentro do conjunto da tipologia das casas da Vila Martin Smith, sendo o único exemplar do "pacote" importado da Inglaterra como sendo do "typo C", conforme atestam as plantas da época.
Situa-se entre a Vila Velha e a Vila Martin Smith, na mais elevada e estratégica
colina local, no "baricentro" visual, de onde se pode avistar toda a movimentação da Vila Ferroviária.
Caracteriza-se pelo aspecto simbólico de liderança, pois é de onde se visualiza todo o núcleo urbano, o pátio de manobras, a estação e as instalações das máquinas fixas do último patamar.
Ele atrai as atenções de qualquer ponto da Vila, por sua situação elevada.
Mas isso aconteceu, também, com os quarteirões de casa que eram organizadas em termos de um claro sistema de aglomeração para facilitar a localização imediata de qualquer funcionário, que deveria estar sempre pronto a atender os superiores hierárquicos.
Observa Marco Santos: "sendo, então uma forma da presença estática e simbólica do poder.
Desta forma, a estrutura social e hierárquica dos trabalhadores da empresa refletem espacialmente na Vila, como sendo uma forma de distribuição e uma afirmação de vigilância e poder."
Durante muitos anos, esta construção funcionou como residência de um bispo de Santo André e, depois, como escritório da Ferrovia, abrigando, atualmente, um Museu.

Os Principais Referenciais: Edifício do Mercado
Essa construção interessante, recebeu uma atenção especial em seu projeto de 1899.
Pela finalidade a que se destinava e por se tratar de um edifício não residencial e de uso comercial, comportava detalhes construtivos ligados a cuidados higiênicos e sanitaristas, tais como um sistema de ventilação cruzada através de óculo na entrada e de venezianas nas laterais.
Nesse mercado, como conta Negrelli: "compartimentos em box onde funcionavam um açougue, um bar, a agência do correio, porém, do lado de for a existia um barracão com divisões, onde aos sábados vinham caipiras, que traziam aves, ovos e frutas.
Era uma espécie de feira-livre em miniatura."

Os Principais Referenciais: Pau-da-Missa
O pau-da-missa constitui-se de um velho pé de cambuci, que possuía forte conotação simbólica, pois, como se tratava de uma árvore que se encontrava em local de passagem obrigatória para quem se dirigia à estação, e tornou-se receptáculo de recados e avios.
Recorda Ferreira que o "pau-da-missa era uma árvore muito importante para os
moradores, pois de tronco grosso servia para a colocação de todos os tipos de avisos para a comunidade, em geral, avisos de funerais, missas, aniversários, casamentos, contra quem ia jogar o time de futebol e outros."

Extraído da internet
Prof. Issao Minami – Departamento de Projeto FAUUSP.
Fontes: Site da Prefeitura de Santo André, e Jornal Diário do Grande ABC.
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  
   

Nenhum comentário:

Postar um comentário