Poesias

sábado, 25 de abril de 2020

Imemoriais

Em memórias, um passado remoto, que não quer se apagar.
Lembranças tristes, álacres, doridas, fagueiras.
Saudades de um tempo, mais que passado.
Repisar de eternas lembranças.
Rodamoinhos existenciais.
Flores do bem e do mal. 

De passagem pelo trem da vida, reconheci passagens de um tempo remoto.
 Longínquo.
Construções antigas, prédios de tijolos à vista, paredes, galpões, fábricas, fachadas, azulejos. Detalhes.
Rica ornamentação, esculturas lindamente trabalhadas, casas abandonadas.
Construções de galpões de tijolos – fábricas.
Descortinadas junto as estradas de ferro. Belíssimas construções.
Monumento erigido em homenagem ao esquecimento.
Memória da história operária do Brasil.

Labéu do esquecimento.
Desdouro em nossas memórias.
Quanta luta, quanto sangue derramado.
 Vidas devotadas ao trabalho.
Desidério de uma vida futura, onde a memória fosse preservada.

 Operários indo trabalhar em uma tecelagem, em máquinas de fiar.
Mulheres pobres, sacrificadas, morando em cortiços.
 Casas velhas e mal cuidadas.
 A trabalhar longas horas.

De madrugada “o apito da fábrica de tecido” a ferir aos ouvidos, de todos os passantes dos arrabaldes. Consoante a inesquecível canção do imortal Poeta da Vila.
Em contraste, belas casas, mansões, palacetes.
 Detalhes, entalhes, esculturas, colunas.
 Vitrais, estátuas.
 Construções a sofrerem com as horas do ocaso.
O crepúsculo de áureos tempos.

 Ao passar diante de tais monumentos, muita vida a contemplar.
Memória de um passado não muito remoto.
Muito embora remeta a tempos imemoriais.

Lindas jovens a andarem em seus carros sem capô.
Curtos cabelos cacheados, brancas peles, longas saias e chapéus.
 Além das brancas luvas.
 Corsos carnavalescos, carros enfeitados com flores.
 Confete e serpentina.

O tempo.
Retrato amarelado na parede da memória. 
Lembrança a ser resgatada em nossos sentidos.
 Cinematografo – a fábrica de sonhos.
Nascimento da indústria cinematográfica.
Humberto Mauro, Rodolfo Valentino, Theda Bara, Clara Bow, Douglas Fairbanks, Charles Chaplin, Greta Garbo.

Ídolos a embalar os sonhos dos jovens da época.
 Moços e moças a se imaginarem, fortes e destemidos, galanteadores; ou então, delicadas e donairosas, a espera de um príncipe valoroso.

Assistir as fitas de cinema.
 Grande evento social.
Filmes mudos, legendas, retratos em preto e branco.
Expressão corporal. Olhar marcante.
Olhos marcados. Forte expressão do olhar.
 Virilidade.
Languidez no olhar.

Tempos distantes nos espaços imemoriais.
 Lembranças da moça sentada em um banco da praça, tímida, a sonhar com tão belo rapaz. Melindrosa.
Um príncipe das telas de cinema.
 Anos Vintes.

Tempos distantes.
Longânime e resignado senhor de brancos cabelos.
Nem sempre! ...
O tempo a tudo consome, a tudo devora.
 A tudo transforma, deixando tudo como dantes.
O tempo não existe, o que existe são as lembranças a marcarem passagens de vida.
Devir do mundo, rotação da vida.

Saudade das coisas e das casas, dos muros, dos prédios, e de tudo que nunca deveria mudar.
Saudades de um mundo melhor.

 Luciana Celestino dos Santos
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