No ano de 1968, o estudante secundarista Edson Luís foi morto pela Polícia Militar, durante protesto no Rio de Janeiro contra a qualidade da alimentação fornecida, no restaurante estudantil Calabouço.
Essa e outras violências mobilizaram estudantes, setores da Igreja Católica e da classe média, que organizaram a Passeata dos Cem Mil, no Rio.
Ao mesmo tempo ocorreram greves operárias agressivas, em Contagem (Minas Gerais) e Osasco (São Paulo).
Grupos assaltaram bancos, buscando fundos para a guerrilha urbana.
O governo foi pressionado pelos militares linha dura, que defendiam o recrudescimento das ações repressivas.
Em abril, 68 municípios, incluindo todas as capitais, foram transformadas em zonas de segurança nacional, com prefeitos nomeados pelo próprio presidente.
A situação política se agravou ainda mais, quando o governo não conseguiu licença do Congresso para processar o deputado Márcio Moreira Alves, por ter feito um discurso, considerado ofensivo às Forças Armadas.
Aos 13 de dezembro, o Presidente fechou o Congresso e decretou o Ato Institucional no 5 (AI-5), que lhe conferiu poderes para fechar o Parlamento, cassar mandatos, acabar com a garantia do habeas-corpus e institucionalizar a repressão.
Em razão de sua existência, podia-se cometer quaisquer arbitrariedades.
Cessaram os direitos políticos.
Qualquer um poderia ser preso, torturado e nem ao menos tinha o direito, de poder se defender.
Costa e Silva o então presidente militar, foi quem elaborou o decreto, mas ainda
assim, não queria que ele entrasse em vigor, e acreditava que duraria menos do que o seu governo.
Todavia acabou durando mais de 10 anos, e só teve fim com a concessão da anistia dada pelo governo aos exilados políticos, (artistas e cantores que foram considerados comunistas, de esquerda), Geraldo Vandré, entre outros.
Com sua música "Pra não dizer que não falei das flores", Geraldo Vandré criou uma espécie de hino da Revolução que os jovens de 68 queriam realizar.
Os jovens em seu ímpeto por justiça, aproveitaram o ano de 68, para se manifestarem politicamente, e tentarem se redimir da omissão em relação o Golpe de 64, ao qual não reagiram.
Talvez isso fosse reflexo do fim do direito de se manifestar.
Mas agora não, agora precisavam se manifestar, expor suas reivindicações,
organizar greves.
Mas estas manifestações não aconteceram só no país, abalaram o mundo todo.
Essas manifestações, aconteceram em todo o mundo.
Em Paris por exemplo.
Esses jovens e seus representantes estudantis organizavam passeatas.
No Brasil, os representantes da UNE (União Nacional dos Estudantes), chegaram até a falar com o Presidente.
Mas devido a imprudência no trato com o mesmo, puseram tudo a perder.
Mas como já foi dito antes, os jovens organizaram passeatas e manifestações
estudantis, e nas ruas e obtiveram o apoio da população.
Em uma dessas passeatas, o contingente de manifestantes era tão grande, que a massa policial destinada a reprimir o movimento foi agredida, e espancada pelos estudantes.
Essas agressões foram apoiadas pela população.
Diante disso o contingente policial que entrou em ação para reprimir a passeata, já entrou ressabiado no meio da manifestação, com medo de ser agredido pelos estudantes.
Uma dessas manifestações foi por causa do assassinato de um jovem, Edson Luís, que gerou uma revolta na população.
Por conta dela, se organizaram várias missas para o jovem.
Da igreja saíria uma marcha para protestar contra a morte deste.
Essa revolta ganhou o apoio da população, e foi reprimida por um grande contingente policial que foi até a igreja armado e à cavalo, para impedir os manifestantes de entrar ou sair da igreja.
No final das contas, o padre que celebrou a missa teve que acalmar os ânimos. Mesmo assim a população, acuada pelos policiais, tentou fugir por meio das frestas que lhes era permitido passar, e que estavam sendo ocupadas pela policia.
Na tentativa de fugirem, muitos foram mortos, ou agredidos pelos policiais.
Um senhor tentou discutir, e acabou sendo empurrado para dentro de um carro, e lá foi espancado pelos policiais.
Essa era uma época onde se tinha uma posição definida.
Ou se era de esquerda ou se era de direita, e não se podia ficar em cima do muro.
Todos tinham que ter uma posição.
Os que eram considerados de direita eram rotulados de alienados, como por exemplo os cantores da Jovem Guarda, que não cantavam músicas onde se colocava problemas políticos.
Por conta disso foram muito criticados por setores radicais da MPB, aqui entendida como música de protesto.
Geraldo Vandré era um dos que não simpatizavam com a rotulada "música jovem" feita pela turma do iê-iê-iê.
Os próprios Caetano e Gilberto Gil, foram criticados ao criarem ao ver de alguns algo tão alienado como a Tropicália, com referências tão Jovem-Guardistas.
Quando Caetano cantou "É proibido proibir" foi vaiado pelo público.
Por isto, revoltado exclamou:
"É essa a juventude que quer tomar o poder?"
Num Festival da Canção enquanto cantava "Alegria, Alegria" foi também vaiado, e vendo que a canção de Gilberto Gil foi desclassificada do festival, resolveu protestar publicamente contra a desclassificação de "Domingo no Parque".
Resultado, acabou sendo igualmente desclassificado.
Depois entrando no páreo novamente.
Estes cantores, foram também acusados de destruírem ideologicamente a Bossa Nova, de acabarem de enterrar o que ela tinha feito de bom ao inovar a música brasileira.
Mas nem tudo foram espinhos nesse movimento musical, pois renderam a devida homenagem a Jovem Guarda mostrando que ela também teve seus momentos de intelectualidade e criticou a nossa realidade à sua maneira, como quando homenageou Caetano Veloso com a música "Debaixo dos Caracóis", cantada e composta por Roberto Carlos considerado o Rei da Juventude. Aqui vai um trecho da música:
"Um dia a areia branca
Seus pés irão tocar
E irá molhar seus cabelos
Na água azul do mar
Janelas e portas vão se abrir
Pra ver você chegar
E a se sentir em casa
Sorrindo vai chorar
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma história pra contar
De um mundo tão distante..."
A Jovem Guarda pegou o yeh-yeh-yeh dos Beatles e transformou em nossa música jovem, com direito as mais belas versões de músicas estrangeiras de todos os países.
Onde quer que fosse, lá estavam os nossos primeiros passos no rock brasileiro. Foi aí que foi dada a largada pro nosso rock.
Em razão disso, houve uma marcha de protesto contra o imperialismo yanke no
Brasil, mas nada abalou os alicerces da nossa música.
Nada poderia atingir a Jovem Guarda, porque ela não fazia música estrangeira e sim brasileira.
Além do que, havia muito mais com que se preocupar, do que ficar fazendo passeata de protesto contra um determinado tipo de música.
A Jovem Guarda incorporou o estilo dos Beatles, mas abrasileirou o estilo, colocando o nosso tempero.
Por falar em música, vamos voltar ao Festival da Canção de 68, onde teve a
apresentação da música de Geraldo Vandré "Pra não dizer que não falei das flores".
Essa música que virou o hino dos terroristas dos anos setentas, e dos jovens do final dos anos 60, foi considerada a nossa marselhesa, o nosso verdadeiro hino nacional.
A música que retratava e ainda infelizmente, retrata a nossa realidade.
Aqui vai o trecho da música que foi acusada de fazer uma injustiça com o exército brasileiro:
"Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição
De morrer pela pátria
E viver sem razão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer..."
Essa música representou uma época.
Uma geração que passou e não volta mais.
Realmente esta é uma bela música que trata da pobreza do nosso país, que fala de um Brasil pobre e mulato.
De suas mazelas e de como um território tão rico e vasto como o nosso, pode ser tão pobre. Como no verso em que diz:
"Pelos campos a fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
Ainda fazem das flores seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão..."
O trecho que menciona a fome em grandes plantações, e nos coloca a triste realidade da desigualdade social.
Este período foi marcado por vários decretos ou Atos Institucionais que foram no total de 16 durante todo o regime militar.
Esses Atos Institucionais eram usados como medida de repressão, ou seja, como forma de abuso de poder.
Esse sistema arbitrário foi instituído pelos militares.
O primeiro Presidente depois do golpe militar foi o Marechal Humberto Castelo Branco.
Tomou posse no dia 15 de abril de 1964 e seu mandato foi prorrogado até 67.
Foi o período em que foi constituído o milagre econômico quando os índices inflacionários se estabilizaram mas acarretaram um alto custo social para os trabalhadores, ou seja, o chamado milagre econômico não ajudou a massa trabalhadora.
Esse período foi chamado de Anos de Chumbo.
Tudo nesse período era controlado pelos organismos de repressão, músicas eram censuradas.
Até a Jovem Guarda teve uma de suas músicas censuradas.
Era "Rua Augusta", de Ronnie Cord, que teve um de seus trechos censurados:
"Entrei na rua Augusta a 120 por hora
Botei a turma toda do passeio pra fora
Fiz curvas em duas rodas sem usar a buzina
Parei a quatro dedos da vitrine
Legal
Hi,Hi,Johnny,Hi,Hi,Alfredo
Quem é da nossa gang não tem medo..."
Até aqui nada de mais, mas aguardem o que seguirá:
"Comigo não tem mais esse negócio de farda
Não paro o meu carro nem se for na esquina
Tirei a 130 o maior fino do guarda
Tirei o maior grosso da menina"
As artes eram também muito censuradas.
Com isso os jornais também tinham que arrumar meios de passar suas informações, sem fazer o órgão e a censura perceberem.
Para isso, usavam metáforas e outras figuras de linguagem para se comunicarem com os leitores.
Assim as músicas também tinham que utilizar o mesmo mecanismo, criticar a realidade sem fazer os militares perceberem.
"London, London", é uma música toda cantada em inglês.
Tudo para os militares não perceberem.
Também se utilizavam do recurso das figuras e dos desenhos, para informarem a população.
Depois de decretado o draconiano AI-5, num dos jornais censurados, surgiu a mensagem de tempos nebulosos de nuvens negras, enquanto na rua brilhava um forte sol.
É claro que esta foi uma alusão metafórica a ditadura.
Um dos primeiros Atos Institucionais foi decretado em 1964.
Esse ato suspendeu as garantias constitucionais, direitos políticos, cassou mandatos legislativos e instaurou inquéritos policial-militares para descobrir atividades subversivas e de corrupção no governo deposto.
Com isso cassaram o mandato de Senadores, Deputados, Vereadores, e suspenderam os direitos políticos de dezenas de cidadãos, dentre os quais os ex-Presidentes Jânio Quadros e João Goulart, Governadores como Luís Carlos Prestes entre outros.
Além disso oficiais foram transferidos para a reserva ou excluídos das forças armadas.
Foi aí que se estabeleceu a repressão policial em todo país, registrando-se prisões de políticos, militares, jornalistas, intelectuais, líderes estudantis e sindicais.
Após, foram editados dois Atos Instituicionais que vigoraram durante o regime
militar e que foram adotados pelos militares.
Estes eram arbitrariedades cometidas contra a Constituição.
Ademais, cabe ressaltar que o primeiro Presidente militar foi Castelo Branco. Usou os Atos Institucionais como forma de punição, interveio em sindicatos, cassou mandatos de políticos, inclusive do ex-Presidente Kubitschek e criou o SNI (Serviço Nacional de Informação).
Foram baixados os atos institucionais 3 e 4, os AI-3 e AI-4.
Uma nova Constituição foi promulgada e substituiu a de 1946.
Ocorreram manifestações de violência política como o atentado a bomba nas oficinas do jornal O Estado de São Paulo.
Este atentado foi realizado pelos militantes de esquerda como forma de vingança, pelo fato deste jornal ter se colocado a favor do regime militar.
Os militantes de esquerda tentam criar um grupo de guerrilhas, mas não chegou a durar.
Alguns militantes chegaram até a receber treinamento no exterior para saberem agir, em caso de necessidade.
Em razão disso, passaram por dificuldades extremas.
Contudo esse contingente preparado para as guerrilhas, não era suficiente para estabelecer um movimento armado no Brasil.
Outro atentado terrorista, foi cometido onde pousaria o avião em que viajaria a
comitiva do General Arthur da Costa e Silva, matando o jornalista Edson Régis e o Almirante Nélson Dias Fernandes e ferindo quatorze pessoas.
Depois veio o governo de Costa e Silva.
Durante o seu governo, morreu o ex-Presidente Castelo Branco em um desastre aéreo.
Seu avião se chocou com um jato, que também ocupava os ares.
Durante seu governo teve um Congresso em Ibiúna que não deu não deu certo devido a maneira como foi organizado.
Lá, havia um acampamento com centenas de pessoas, que numa cidade pequena, passaram a chamar a atenção da população, pois houve também uma maior movimentação do seu comércio.
Por esta razão, foram todos denunciados e presos.
Na prisão, passaram por uma série de torturas.
Houve também uma revolta entre os estudantes de esquerda e de direita que acabou com a morte de um estudante.
Vários professores foram feitos de refém, para as negociações dos estudantes.
Estes prometeram (os professores), que eles (os estudantes) não seriam agredidos se saíssem sem reagir.
Contudo, foram enganados, pois todos foram presos.
Sendo que até os professores foram enganados pelas autoridades.
O líder guerrilheiro Carlos Lamarca foi capturado, mas só na década seguinte, ele foi assassinado.
Já em 1969, o General Costa e Silva, paralisado por um derrame, deixou a
Presidência, em agosto.
Com isso, uma junta militar formada pelos Ministros Aurélio de Lyra Tavares (Exército), Augusto Rademaker (Marinha) e Márcio de Souza e Melo (Aeronáutica) substituíram temporariamente o Presidente, e impediram a posse do Vice, o civil Pedro Aleixo.
A Aliança Libertadora Nacional (ALN), organizada pelo veterano comunista Carlos Marighella, e o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) seqüestraram no Rio o Embaixador norte-americano Charles Elbrick.
Ele foi trocado por 15 presos políticos, mandados para o México.
Os militares então criaram a figura do banimento do território nacional e a pena de morte, nos casos de “guerra psicológica adversa ou revolucionária ou subversiva”.
Neste mesmo ano, a Constituição foi reformada pela Emenda Constitucional nº 2, outorgada pela junta que incorporou em suas Disposições Transitórias os dipositivos do Ato Institucional no 5.
O presidente podia então fechar o Congresso, cassar mandatos e suspender direitos políticos, o que dava aos governos militares completa liberdade de legislar em matéria política eleitoral, econômica e tributária.
Na prática, o Executivo substituiu o Legislativo e o Judiciário.
Entre os anos de de 1969 a 1974, a alta oficialidade das três Armas escolheu com Presidente Emílio Garrastazu Medici.
Ele comandou o período mais brutal da ditadura militar, batizado de Anos Negros ou Anos de Chumbo.
Censurou a imprensa, e promoveu duro combate aos movimentos estudantis, sindicais e de esquerda.
A luta armada se intensificou ao mesmo tempo em se espalharam pelo país os centros de tortura do regime, geralmente ligados ao Destacamento de Operações e Informações e Defesa Interna (DOI-Codi).
O endurecimento político foi respaldado pela milagre econômico e pela intensa propaganda.
O PIB anual não passava de 18%.
O Estado arrecadava mais, e lançava projetos faraônicos, como a Rodovia Transamazônica, atacada por críticas à devastação do ambiente, e à invasão de terras indígenas.
Nesse período foi inaugurada em Paulínia (SP) a maior refinaria de petróleo do país.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Informações extraídas do livro: A Revolução Impossível, de Luis Mir, o livro Anos Rebeldes, baseado na minissérie exibida na rede Globo, e matérias publicadas no Jornal O Estado de São Paulo, ano de 1997.
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