Poesias

domingo, 31 de maio de 2020

COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 44

CAPÍTULO 44

A segunda narrativa foi sobre Iara, a Mãe-d’Água.
Espécie de sereia que vive no Rio São Francisco.
Para os barqueiros, o rio dorme quando é meia-noite, permanecendo adormecido por dois ou três minutos.
Neste momento, o rio pára de correr e as cachoeiras de cair.
Os peixes deitam-se no fundo do rio, as cobras perdem o veneno e a Mãe-d’Água vem para fora, procurando uma canoa para sentar-se. e pentear seus longos cabelos.
As pessoas que morreram afogadas, saem do fundo das águas e seguem para as estrelas.
Os barqueiros que se acham no rio à meia-noite, tomam todo o cuidado para não acordá-lo.
Se um barqueiro sente sede, antes de pegar a água do rio, joga nela um pedacinho de madeira.
Se ele fica parado, o barqueiro espera, porque não convém acordar o rio.
Quem o fizer, poderá ser castigado pela Mãe-d’Água, pelo Caboclo-d’Água, pelos peixes, pelas cobras e pelos afogados, que não podem alcançar as estrelas.
Um barqueiro muito moço ao ouvir as histórias, não acreditou em nada do que disseram sobre o rio.
Certa vez, ele estava numa venda bebendo com os companheiros, quando a conversa pendeu para tais mistérios.
Ele ria de tudo.
Ao ouvir, então, que era perigoso despertar o rio à meia-noite, quase se engasgou de tanta risada.
-- Vocês são todos uns medrosos! Parecem crianças! Como é que uma pessoa sensata, pode acreditar nessas coisas?
-- Acho que não se deve brincar com o que não se conhece! – disse um deles.
O moço olhou para os companheiros com ar de superioridade: -
- Escutem aqui. Não acredito nessas bobagens e não é só conversa, não. Se quiserem apostar comigo, tomo banho no rio à meia-noite, quando ele estiver dormindo.
Os homens ficaram horrorizados.
Como era possível fazer tal aposta?
-- Então? – continuou ele. – Aceitam ou não aceitam? Já é hora de acabar com essas mentiras! Vamos!
Os companheiros então, reuniram-se numa roda e começaram a cochichar.
Após alguns minutos, o mais velho dirigiu-se ao moço, que esperava, com ar zombeteiro:
-- Nós somos da opinião que você não deve ir procurar tal perigo. Agora, se você insiste, nós aceitamos a aposta.
Como o moço insistiu, a aposta foi feita.
O dinheiro ficou com o dono da venda e todos combinaram que o banho seria naquela noite.
A notícia correu depressa pelo lugar.
Muitas pessoas procuraram o corajoso jovem, pedindo-lhe que desistisse de idéia tão perigosa.
Mas quem seria capaz de fazê-lo desistir?
Conforme o combinado, perto da meia-noite foram todos para o rio.
Impressionados pela quietude do lugar, as pessoas mantinham-se mudas.
O próprio desafiante sentia a influência do mistério que havia no ar, pois, estava calado e pensativo.
À meia-noite, um dos barqueiros pegou um pequeno pedaço de madeira e o atirou, com cuidado, às águas silenciosas.
Todos os olhos estavam fixos no pedaço de pau que flutuava mansamente, sem sair do lugar.
-- O rio está dormindo! – disse ele, num sussurro.
O moço preparou-se para mergulhar, sem dizer uma palavra, já arrependido do compromisso que assumira.
Respirou profundamente, como que procurando a coragem perdida.
Sabia que não podia esperar mais, sem que seus companheiros percebessem o medo que o dominava.
Corajoso, controlou-se e saltou, quebrando o cristal das águas paralisadas, e desaparecendo nas profundezas misteriosas.
Os barqueiros trocavam olhares de surpresa, pois acreditavam que ele desistiria no último instante.
O tempo foi passando e o moço não retornou à superfície.
Os barqueiros olhavam com ansiedade o lugar onde ele desaparecera.
Quando julgavam confirmado o seu receio, as águas se abriram, deixando surgir a cabeça do corajoso mergulhador.
-- É ele! – disse um dos barqueiros.
-- Olhe que é algum afogado enraivecido, porque acordamos o rio! – avisou outro.
Mas, era mesmo o rapaz que voltava, não havia dúvidas.
Entretanto, ele estava tão diferente, que seus amigos ficaram surpresos.
Falaram com ele, gritaram, chamaram.
Com o olhar vazio, ele ficou andando pelo barco, de um lado para outro, sem destino certo...
De repente, com um salto, atirou-se nas águas do rio.
Aconteceu tão depressa que ninguém pôde fazer nada, e o moço desapareceu, para nunca mais voltar.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

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