CAPÍTULO 17
Quanto ao Mingusoto, no folclore da Paraíba trata-se de um fantasma aterrador, habitando a capital do Estado.
Mingusoto é informe e aterrador.
É uma espécie crescida do alma-de-gato, que amedronta as crianças.
Mingusoto, infixo, desmarcado em sua influência, é infinito nas manifestações que o pavor multiplica.
Dizem-no senhor dos elementos, águas vivas dos rios, águas mortas das lagoas e barreiros.
Fantasma poderoso, que domina os lençóis subterrâneos, gemendo no silêncio das noites, dá-se ao sestro de abrir as igrejas, organizando mudas, enormes e lentas procissões noturnas, que se desenrolam com o cerimonial terrível das aparições coletivas, populares na Idade Média.
Essas procissões, que surgem e desaparecem, com suas bandeiras, pálios, irmandades coguladas, fiéis, confundindo-se na treva.9
O Mingusoto, além desses hábitos de assombração cristã e litúrgica, materializa-se no leão de bronze ou no galo de ferro, que coroam as torres de São Bento e de São Francisco em João Pessoa, igrejas apontadas como residenciais.
Também o descrevem vivendo nas praias da Camboinha ou de Tambau.
Curiosamente, o abantesma ainda não escolheu corpo definitivo para visitas sistemáticas. “Interessante que não se conhece a sua forma exata de gente.
Nem mesmo se desconfia dela.
Pelo nome é que se conclui parecer mais de homem que de mulher.
Domina as matas, o mar e os rios.
“É dono dos elementos”.10
Mas não há registro de atividade característica do Mingusoto.
“Nada exige, mas amedronta.”
É um medo, com as prerrogativas clássicas da indecisão antropomórfica, com vasto prestígio indeterminado.”11
9 Vêm da Europa, e não há figura legendária que não as tenha visto Sevilha, Roma ou Heidelnerg. O doutor Fausto, Dom Juan e o violinista Paganini deram depoimentos.
10 Informa Ademar Vidal.
11 (Geografia dos Mitos Brasileiros, 442-443). Em Portugal, o medo ou miedo, aparece como um “home alto, bestido de branco,” como Leite de Vasconcelos registrou em Miranda.
DICIONÁRIO:
infixo - adjetivo - que não é fixo, inseguro, instável.
co·gu·lar - (cogulo + -ar) - verbo transitivo - 1. Encher a medida com quanto cabe acima das suas bordas. 2. Carregar excessivamente. "cogular", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/cogular [consultado em 23-05-2020].
pálio - substantivo masculino - 1. ANTIGO manto amplo, capa. 2. ornamento litúrgico que consiste numa faixa de lã branca adornada com cruzes negras, us. em torno do pescoço pelos arcebispos, em cerimônias pontificais.
abantesma - substantivo de dois gêneros - 1. alma do outro mundo, fantasma, espectro; aparição terrificante. 2. FIGURADO (SENTIDO)•FIGURADAMENTE - indivíduo ou coisa que causa susto ou que, por seu aspecto, é desagradável ou mesmo repugnante.
Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
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