Poesias

domingo, 10 de maio de 2020

SOCORRO: ASSASSINARAM O AMOR

Três horas da madrugada.
Um corpo inerte jaz em meio ás pedras.
Trata-se de uma jovem misteriosamente assassinada.
O delegado de polícia ao avistar o corpo machucado da jovem, questiona-se: Quem a teria assassinado? Por que razão? Em que circunstâncias?
Todavia, por mais que se questionasse, não conseguia encontrar respostas.
Investigações foram realizadas.
O tempo foi passando.
Nenhuma resposta.
O crime se tornou um caso insolúvel.
Insolúvel como tantos outros crimes.
Essa trágica história servirá como metáfora para o que eu vou contar.

Como já se sabe, o mundo hodiernamente está assolado por problemas: conflitos sociais, mundiais, religiosos, etc.
O planeta Terra, esta aldeia globalizada está cada vez mais confusa, com as
desigualdades e injustiças de toda a ordem.
O amor está longe de fazer parte da vida das pessoas.
O respeito, que considero mais difícil de se conquistar que o próprio amor, está cada vez mais alijado das relações humanas.
Não consigo entender isso.
Qual será a razão de tanto ódio, tanta hostilidade, tanta indiferença?
Vai se saber, mas o fato é que as pessoas perderam a educação.
Muitos creditam esse desamor a ausência de religião.
Não sei a resposta.
Por enquanto contudo, não obstante todos esses problemas, deixemos de lado estas questões.
Passemos a comentar coisas amenas.
Passemos as lembranças de um tempo distante.

Um tempo onde todos os sonhos são possíveis.
Um tempo onde se pode sonhar com mundos fantásticos e conviver com personagens igualmente incríveis.
O tempo, o tempo da infância onde apenas com o poder da imaginação, uma criança pode transformar o mundo num lugar melhor para se viver.
Eu me lembro da minha infância sonhada, de meus sonhos maravilhosos, do encontro com meus ídolos, de viver num mundo mágico, onde tudo é belo, todas as pessoas são amigas, e quando há conflitos, são todos meras bobagens, facilmente sanados.
Um mundo onde todos são felizes, todos são heróis indestrutíveis, com muitos poderes.
Nesse mundo se pode ser uma estrela de TV, artista, cantora, atriz, criadora de suas histórias, de suas novelas, de suas comédias, de seus programas televisivos, ou até mesmo, de uma emissora inteira.
Que mundo de encantos em que todos podemos sonhar com tudo.
Uma cidade inteira feita a nosso modo, um prédio, interagir com personagens dos gibis, ser rica, milionária e praticar todas as extravagâncias possíveis.
Como ter um navio, viajar num trem de luxo, etc.
Com a imaginação e a TV se pode viajar para várias épocas.
Lembro-me de lindas histórias dramatizadas.
Que tempo bom!
Curioso que eu tivesse tanta pressa em crescer.
Acho que era para ter liberdade!

Mas também foi bom ser criança.
Passear, ir ao cinema assistir filmes com os pais e amigos, comer lanches, vestir uma bela roupinha, tomar sorvete.
Lembro-me da piscina do SESI, dos passeios pela cidade à noite, dos suculentos lanches que mal dava conta de comer, de tão grandes.
Recordo-me de passear de ônibus pelo centro de Araraquara.
Como era imponente aquele centro.
Para mim criança, era fascinante!
Tinha túnel, desnível, centro comercial.
Como aquele centro era fantástico.
Um verdadeiro mundo a ser descoberto.
Estudava no SESI.
E, durante as aulas de educação física, havia brincadeiras de boneca, nas quadras da escola.
Quando voltava para casa, à tarde, aproveitava para brincar em uma piscina de plástico.
Nas festas juninas, me fantasiava de caipira e dançava coreografias ensaiadas por semanas.
Lembro-me de brincar na piscina de concreto na casa de uma vizinha.
Em outra residência, havia um gato, bastante arisco.
Recordo-me de improvisar pipas, brincar de bicicleta montada em uma vassoura.
Ah!, a imaginação.
Como a minha imaginação era fértil!
Contudo para os estudos, não era boa aluna.
O sistema solar, o relevo, os vermes, etc.
Que assuntos mais complicados!
Tinha dificuldade para aprender.
Ler e escrever, a tabuada, que tormento era aprender tudo aquilo!
Isso mudou ao final de algum tempo.
Em outra época em que o mundo foi se tornando aos poucos menos desafiador, o conhecimento foi se tornando mais interessante.
Mas, voltando a carga...

Também me lembro de minha família, de você, minha mãe, e de nossos passeios pelo zoológico de Araraquara.
De nadar nas águas de uma lagoa, de passear pelos arredores, colher sementes, e contemplar a beleza deste cenário.
Lembro-me de brincar com flores, de caminhar pelos arredores da cidade.
Ver muito verde.
Nestes passeios, colhia pequenas flores – mosquitinhos –, entre outras espécies.
Passeava perto do SESI e ficava admirada com o tamanho da escola.
Neste momento, vem-me a lembrança de você.
Você com sua blusinha amarela e sua colega usando uma blusa da mesma cor.
Muitas vezes, caminhamos por uma trilha até chegar na escola.
Certa vez, eu e sua filha, Karina, aparecemos numa festa junina com o mesmo
penteado.
Até o estilo da roupa era parecido.
Essas coincidências eram risíveis!
Mas você mãe, não ficava muito satisfeita com isso.
Recordo-me das visitas de alguns familiares, de passar diversas vezes pela
rodoviária, de visitar minha avó paterna, de brincar em uma antiga máquina de escrever.
Brincar de escrever histórias, as histórias de minha vida, que nunca conseguia terminar.
Lembro-me dos passeios de ônibus para Ribeirão Preto, para passear em seu
shopping, posto que Araraquara não os possuía.
Quando saí de lá, passou a tê-lo.
Mas voltando, durante esses passeios, ficava o dia inteiro vendo lojas e brincando no parque pago que havia dentro do shopping.
Lembro-me de ouvir músicas no rádio e sentir nostalgia.
E as viagens para a praia?
Para ver o mar, passávamos horas dentro de um ônibus, sonhando com a praia.
Como era bom brincar na areia, admirar o ir e vir das águas e banhar-me nelas.
Lembro-me da tentativa de fotografar um caranguejo, das fotos, das brincadeiras na piscina, das bóias.
Do sol, do calor.
Como gostava de meu maiozinho com desenho de sol, mas não gostava de meu
cabelinho curto.
Quantas coisas boas!
Lembro-me também de meus brinquedos, de brincar na pracinha praticamente em frente à nossa casa, nossos amigos, alguns vizinhos, as festinhas.
Bons tempos!
Rumando para Campinas, prossegui com minha aversão aos estudos, mas continuei me divertindo.
Toda semana visitava, com minha família, o Parque Portugal – mais conhecido como Taquaral –, lá, via a réplica de uma das caravelas de Cabral.
Certo dia, neste mesmo parque, cheguei a andar de pedalinho.
Também me recordo de uma criança pequena.
E de brincar de escolinha, de celebrar missas, de brincar de carnaval jogando confete e serpentina, de jogar bola, etc.
Em quase todos esses momentos mãe, você esteve presente.
Sua soberana presença.
Todos esses momentos são retratos de minha vida.
Talvez sejam alguns bons retratos da sua também.
Não sei, mas gostei de lembrar.
Não relatei os maus momentos por que não era o caso lembrá-los.
Esse não é o momento para más lembranças.
Muito embora o prenúncio tenha sido triste, esta não é uma pauta triste.
Por isso, cantemos a alegria, o tempo da juventude.
Mas que o tempo presente não está fácil é um fato.
Em contraponto a isso, digitei este relato em que exponho alguns pontos do meu pensamento e de minhas lembranças.
Mesmo assim, percebo que o mundo está áspero demais e temo que a despeito de tudo o que relatei, que o amor nasceu e foi assassinado, como na letra de Raul Seixas na música: “Eu nasci há dez mil anos atrás”.
Mas, revendo o que foi escrito, talvez esteja enganada.
Ao reler estas linhas, vejo que nem tudo está perdido.
Não devo cultivar as “rabugens do pessimismo”, como já escreveu o proeminente Machado de Assis.
Como dizem por aí, que enquanto houver vida, há esperança.
Só nos resta aguardar.
Tomara que o amor não esteja morto e enterrado, como a moça da história.
Desculpe o mal jeito, mas faço um brinde a você!
Feliz 8 de maio de 2005.

Desejo-lhe um feliz e enriquecedor: Dia das Mães!
Parabéns pelo seu lindo dia.
E ainda dizem que esta é apenas uma data comercial inventada para os comerciantes lucrarem.
Bem que poderia existir um: Dia dos Filhos!

Luciana Celestino dos Santos
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