Atravessando ruas, calçadas e avenidas.
Chega-se a uma praça, ponto de encontro dos estudantes em frente a escola.
Muitos jovens reunidos a conversar.
Pessoas segurando livros e cadernos.
Mochilas, materiais displicentemente jogados ao chão.
Risos e muitas gargalhadas, vozerio, bulício.
Altas vozes.
Ana, uma jovem de longos cabelos.
Lindas madeixas, parcialmente presas, em duas mechas laterais.
Conferiam-lhe um ar ainda mais jovial.
Mais parecendo uma menina, em meio a jovens com aparência de adultos.
A moça trazia consigo, um mundo de livros e cadernos enlaçados em seus braços.
Empolgada por ser o primeiro dia de aula, caminhava concentrada, envolta em pensamentos ansiosos, de como seriam seus novos colegas, e os professores, as aulas.
Como tudo seria?
Em seus pensamentos, distraída que estava, não se atentou aos sinais de trânsito.
Por um triz não fora atropelada.
O motorista impaciente, ao perceber a distração da moça, gritou exasperado, alertando para que tivesse cuidado ao caminhar.
Ana assustada, saiu correndo.
Encaminhando-se apressadamente para uma calçada.
Diante do susto, a moça começou a andar apressada.
Seus pensamentos se dissiparam.
O coração disparou.
Em sua caminhada, Ana ficou a tentar se recordar por que se distraíra tanto.
Mais atenta porém, evitou novamente desafiar os sinais de trânsito.
Tentando achar graça no infortúnio, pensou que precisava chegar viva na escola, ou todo o esforço de mudar de colégio, seria em vão.
Tal pensamento lhe divertiu um bocado.
E lá se foi a moça.
Caminhando por ruas sonolentas.
Poucas pessoas caminhando pelos arredores.
O dia ainda escuro, aos poucos se espreguiçando, amanhecendo em todo o seu esplendor.
Ana caminhando, e contemplando o amanhecer do dia.
Sempre observando de esguelha, a aproximação de carros.
Ao se aproximar do colégio, avistou muitos estudantes.
Muitos pareciam adultos.
Grupinhos conversavam animadamente.
Tímida, a garota atravessou apressadamente o corredor.
No amplo patio avistou listas.
Lá estavam indicadas as salas onde todos iriam estudar.
Observando os papéis afixados, em meio ao burburinho dos alunos, Ana finalmente descobriu em que sala iria estudar.
Perguntou a uma funcionária onde ficava a sala, e, devidamente orientada, seguiu em direção ao lugar.
Com isto, procurou uma carteira, em um lugar não muito próximo da mesa do professor.
E tampouco, próxima do fundão.
Ao sentar-se no lugar escolhido, outros alunos ingressaram na sala.
Um casal adentrou a sala, rindo alto.
A moça a todo o momento empurrava o rapaz, que a seguia.
E este por sua vez, parecia achar graça na brincadeira ou provocação.
Ana então, abaixou a cabeça, pegou um dos livros, e começou a folheá-lo.
Mas não se demorou muito em seu gestual.
Pois foi interrompida pelo professor, a se apresentar.
Chamava-se Eduardo, era professor de história.
Animado, começou a explicar, que pretendia lecionar a história de uma maneira diferente.
Mencionou que leriam muitos textos.
Fato este que desagradou a muitos alunos, os quais sem tardança, reclamaram.
Eduardo, comentou então, que pretendia não tornar sua aula demasiado maçante.
Argumentou dizendo que não poderia ensinar a matéria, sem fazer com que eles pensassem a disciplina.
Ressaltou que também poderiam ser exibidos filmes, e talvez agendadas visitas a museus.
Ana ao ouvir as pretensões do professor, ficou animada.
Finalmente aulas interessantes, pensou.
O professor então passou a dizer, que a história que poderia ensinar, seria aquela mencionada em livros.
Indagou sobre a existência do homem na terra, de que forma a terra fora criada.
Mencionou que seria através de uma explosão, segundo a teoria mais aceita, e que ao passar por um longo processo de resfriamento, deu-se início as primeiras formas de vida.
Seres simples, unicelulares, que com o tempo, foram dando origem, a formas mais complexas de vida. Com estruturas celulares mais complexas.
Quando o professor mencionou a existência de dinossauros, dois alunos comentaram que assistiram o filme que falava do assunto.
Irônicos, os alunos diziam que os dinossauros foram criados em laboratório.
Foi o suficiente para todos rirem.
Ana também achou graça, mas tentou disfarçar o riso, por achar o comentário impertinente.
Ademais, estava mais interessada na exposição do professor.
Eduardo comentou então, que uma teoria, dizia que os dinossauros foram extintos e que em seu lugar, surgiu o homem, a cerca de um milhão de anos atrás.
O mestre contou que esta data era controversa, havendo doutrinadores mencionando dois milhões, ou até cinco milhões para a existência do homem neste planeta.
Relatou que os registros da passagem humana pela terra são recentes, não sendo precisa a indicação de um milhão de anos.
Ao final da aula comentou que muito da história da criação do mundo, é baseado em constatações científicas, ou teorias.
Argumentou que conforme a ciência vai avançando, muitos dogmas foram caindo, dando lugar a novas teorias e outros conceitos.
Rindo, comentou que muito provavelmente, muito do que estava ensinando, seria radicalmente modificado, caso se constate ser a teoria em que se baseia, imprecisa, e que muito embora isto possa acontecer, necessário se faz transmitir o pensamento de sua época.
Neste momento, tocou o sinal.
O professor se despediu.
Alguns minutos mais tarde, adentrou o professor Tércio.
Explicou aos alunos, que ensinaria biologia.
Não sem antes de uma algazarra em sala de aula.
Ana então, voltou a folhear seu livro …
Quando outro professor entrou na sala, logo foi se apresentando.
Era o professor de matemática.
Assim iniciando a aula, comentou que os árabes tiveram importante função, na criação dos algarismos. Relatou que pensava na matemática, não apenas como sendo um amontoado de números, mas também como uma sequência de raciocínios, e de histórias como da proximidade, entre a filosofia e outras ciências.
Lúcio, argumentou que houve um filósofo que mencionou ser possível adensar o conhecimento filosófico, através da matemática.
Deixando inscrito na entrada de sua escola: “Aqui só entram os que amam a matemática” no pórtico de sua academia.
Trata-se de Platão.
E que em tempos de antanho, não havia tantas separações entre os conhecimentos.
Comentou sobre as diferentes formas de se medir o tempo, através de relógio de sol, ampulhetas.
Das diferentes maneiras de se medir, ou contar as coisas.
Através da medida dos pés, das mãos.
Jardas, milhas, etc.
Irônico, comentou que o problema era quando os pés possuíam diferentes tamanhos, o que sempre causava confusão.
Mencionou a criação de formas de quantificar coisas, e precificá-las.
Sempre a necessidade de se medir e quantificar tudo, necessidade que sempre acompanhou o homem nas mais priscas eras.
Nisto, novamente bateu o sinal.
Com isto, se seguiram apresentação de outros professores ...
Toda a semana praticamente se fez assim.
Todos dispostos em ensinar suas disciplinas, e a focar a interdisciplinariedade entre elas.
O professor de filosofia, por exemplo, deu início a sua aula, com a seguinte indagação:
Afinal, o que raios é a filosofia?
Os alunos, ao ouvirem a pergunta, debocharam:
Afinal de contas, se o senhor que é o professor não sabe, Como nós iremos saber?
Foi o suficiente para todos rirem.
Nisto o homem perguntou, o por quê de estarem ali, aquela hora da manhã, quando poderiam estar em qualquer outro lugar.
Rindo, alguns alunos diziam que eram obrigados a estar lá.
O professor indagou então:
Por que estariam ali obrigados?
E todos responderam que estavam ali por que tinham que estar.
Sorridente, o mestre comentou estar em meio a filósofos, e a classe voltou a rir.
Nisto passou a questionar o fato de:
Por que tinham que fazer, o que faziam? Por que não poder agir diferente?
Todos então, passaram a olhar com olhar de espanto para o mestre.
Rindo o homem comentou:
Ó! Pobres alunos! Devem estar a pensar: Quem é este louco que está a surtar? Será um mestre, ou um louco? Ou de mestre e de louco, todos nós temos um pouco?
Nisto, Raul tornou a questionar o fato, de obedecermos um padrão pré estabelecido de conduta, de comportamento.
E neste momento, os alunos começaram a argumentar que não obedeciam seus pais, e eram sempre criticados por isto.
Diziam não seguirem regras, e por isto, serem livres.
Atento, o professor comentou que algumas regras, não eram implicitamente demonstradas, ficando subjacentes.
E desta forma, quando agíamos de forma aparentemente inesperada, estaríamos quebrando regras.
Ao ouvirem isto, os alunos se olharam espantados.
O professor, percebendo a perplexidade no ar de espanto dos alunos, explicou-se, dizendo:
Não estou aqui para quebrar paradigmas, ou simplesmente para chocar, comportamento típico de alguns adolescentes que se dizem rebeldes. Estou aqui para dizer que não somos robôs, programados para seguirmos regras. Podemos pensar por nós mesmos, sem que alguém tenha que impôr seu modo de pensar.
E completou dizendo que todos possuem a sua verdade, e o seu modo de encarar a vida.
Não necessariamente errado, mas quase sempre particular, e muitas vezes equivocado.
E nisto prosseguiu dizendo que os saberes históricos, são deveras importantes.
E que devemos respeitar o conhecimento alheio, principalmente quando este alguém se propõe a partilhá-lo conosco.
O que não devemos, é aceitar tudo passivamente, sem quaisquer questionamentos.
Somos seres pensantes.
Devemos sim, criticar aquilo com o que não concordamos, mas sempre com critério e sem violência.
O mestre argumentou que pontos de vistas diversos devem ser respeitados, ainda que não se concorde com eles.
E nunca se deve estimular a diferença, a discriminação, a divisão, e a violência.
Mencionou que fazemos parte de uma sociedade democrática, ainda que só na fachada, já que nossas instituições, em seu entender, não atuam de forma pública e transparente.
Neste momento, comentou que se a democracia, o era apenas na aparência, deveriam todos aproveitar-se desse simulacro, para tentarem mudar a realidade do mundo em que viviam.
E adultos e senhores de suas vidas, trabalharem para tornar nossas instituições melhores.
Neste instante, alguns alunos aplaudiram.
Rindo, o professor comentou que não estava ali para fazer proselitismo político, e sim para ensinar uma disciplina, que para ele era a razão pura e simples de estarem neste mundo.
Divagando, disse:
A falta de certeza de nossa função no mundo, do por que de nossa passagem por este mundo,
fez com o que o homem criasse a mais diversas teorias a respeito do mundo, e de sua criação. Da motivação das chuvas, dos raios, das tempestades. Ira divina, ou as chuvas seriam uma recompensa?
Prosseguindo em seu pensamento, o mestre comentou que assim fora dada origem as mais diversas lendas.
Necessidade de explicar e entender o mundo incompreensível que os cercava.
Pois angustioso era o fato de nada entender.
Com o avançar dos tempos, das primeiras descobertas sobre formas de melhor viver, começaram a compreender alguns mecanismos da natureza.
E assim surgiram os primeiros rudimentos do viver social.
Unidos, perceberam que poderiam realizar muitas coisas.
E que duas cabeças pensam melhor que uma só.
E assim, surgiu a sociedade e os saberes coletivos.
Animado o professor comentou que o viver social era algo imposto, mas também decorrente da necessidade de sobrevivência, já que os primeiros homens viviam em um ambiente bastante inóspito.
Com isto, deixaram de ser coletores, vivaram caçadores.
Com a escassez de caça, descobriram que plantando, poderiam ser alimentar do que era produzido pela terra.
Ana intrigada, constatou que todas aquelas explanações, a faziam lembrar-se das aulas de história.
O mestre então, prosseguiu sua aula.
Disse que os homens passaram a criar uma forma de comunicação que fosse válida para todos os integrantes do grupo.
Para que todos se entendessem.
E assim, aos poucos, os grunhidos, foram cedendo lugar pouco a pouco a uma linguagem primitiva que foi evoluindo, dando origem a vários idiomas, já que cada grupamento humano possuía seu código.
Mais tarde, este código oral, tornou-se escrito, e com a invenção da escrita, as tradições orais passaram a ser registradas.
Primeiro sob a forma de desenhos, depois sob a forma de um código compreendido por todos.
Em grupo, e vivendo em modo de vida mais regrado, passou a ter tempo para pensar o mundo que o cercava.
Surgiram então as lendas, as narrativas, e os questionamentos.
Nisto surgiu a ciência, a matemática, tendo-se em vista a necessidade de comprovar os fatos da natureza, e necessidade de se quantificar as coisas.
Vieram as civilizações, e as guerras, já que nem todos se entendiam, e o ser humano cobiçoso, desde as mais priscas eras, sempre achou que a grama de seu vizinho era mais verde do que a sua.
Neste momento, novamente a classe caiu na risada.
Ora, não se podia negar, tratar-se de um tipo bastante peculiar.
Mestre ou louco, sua aula era exemplar!
Em dado momento, o homem chegou a dizer que o ser humano, sempre criativo, adorava inventar moda.
E assim surgiram as diferentes roupas.
No início, no modo de vida selvagem nus.
Aos poucos descobrindo as vantagens de se proteger.
Envolviam-se em folhas de plantas, peles de animais caçados, as quais eram amarradas ao corpo.
Tais indumentárias rudimentares, deram lugar a imensos vestidos, botas, sapatos.
Com o tempo, e a questão da praticidade, já que foram surgindo novas necessidades, com o surgimento da tecnologia, o homem foi aos poucos, adotando um modo de vestir mais simples.
Até se chegar ao modo quase natural dos homens da cavernas, na atualidade.
Respondeu o mestre brincando.
Troça que fez a sala novamente rir.
Rindo, o professor comentou que a moda era cíclica.
O vestuário quase inexistente dos primeiros tempos, parece fazer parte da moda novamente.
Com isto, o professor perguntou divertido, acaso haviam entendido como haviam chegado, ao ponto em que estavam.
Nisto, prosseguiu dizendo, que todos viviam um modo de vida imposto pela sociedade, e que já houve grupos que responderam a estas imposições, com outras formas de viver.
Enumerou os hippies, como resposta a um modo de viver capitalista.
Argumentou que seu modo de vida no entanto, embora pudesse ser aparentemente livre, não o era, já que também ocorreram excessos, tratando-se mais de um ato de rebeldia do que uma forma alternativa de se viver a vida.
Foi assim que o homem lançou uma pergunta para todos da sala.
Acaso seria possível, viver uma vida diferente da qual vivemos?
Algo diverso do que nos fora imposto?
Silêncio na sala de aula...
Depois de algum tempo pensando.
Um aluno levantou a mão.
Questionou se viver longe da correria das grandes cidades, viver uma vida mais simples, não seria uma forma de escapar de um modelo que nos fora imposto.
O professor considerando a resposta do aluno, comentou que poderia ser uma alternativa, deixar o modo de viver consumista, para viver uma vida mais simples.
Contudo, mesmo seguindo este paradigma, argumentou que seria impossível abandonar de todo, o modo de vida que nos fora imposto.
Isto por que, adaptados a vida em sociedade, não suportaríamos, viver novamente em cavernas, sem acesso a tecnologia, ao conforto, e sem termos vizinhos com que brigarmos.
Mencionou que mesmo nos insurgindo contra o modelo imposto, levaríamos em conta os paradigmas com os quais estamos acostumados.
E assim, dificilmente seria criado algo muito diferente do que já temos ou já tivemos.
Muitos alunos no entanto, não compreenderam o raciocínio do professor.
Outros, entendendo parte do que havia querido dizer o mestre, comentaram que sim, era possível transformar radicalmente o mundo.
Rindo o professor comentou, que era muito saber que ainda haviam jovens dispostos a transformarem o mundo.
Ainda que muitos acreditem ser isto uma quimera.
Empolgado, um dos alunos chegou que talvez a função dos jovens no mundo seria modificar a realidade, tal qual era apresentada a todos.
Raul, o mestre, comentou que era muito interessante o raciocínio do jovem.
Com isto, os demais alunos aplaudiram o estudante.
E desta forma, prosseguindo a aula, o professor comentou, que a filosofia não trazia respostas definitivas, conceitos fechados.
E sim trazia as pessoas uma maneira de refletirem sobre a vida, o mundo.
E fechando a explanação, o professor comentou:
E também para trazer à tona, aquelas perguntas clássicas. Que todos nós nos fazemos, ou iremos fazer em algum momento da vida. Senão vejamos: Quem somos, de onde viemos, para onde vamos?
Animado, o professor indagou brincalhão:
E a última pergunta, e a mais instigante - O que é que eu estou fazendo aqui?
Todos riram novamente.
Nisto, bateu o sinal.
Era hora de ir para casa.
Ana então recolheu seu material.
Todos estavam ansiosos para voltarem para suas casas.
E contrariamente a todos, a garota arrumou seu material calmamente.
A jovem estava adorando a nova escola.
Os professores eram ótimos, chegou a dizer em casa.
Ao sair do colégio, em meio a alunos que ainda conversavam no corredor, quem sabe esperando alguém que os buscasse, a menina ficou a pensar nas palavras de Raul.
Considerou filosofia uma matéria interessante, e chegou a conclusão que a divisão entre as disciplinas, mostra-se necessária apenas para fins didáticos, sendo que na prática, não há grandes divisões entre as matérias.
E que o ensino do português é tão importante quanto a matemática.
Que a filosofia era necessária para um pensar crítico, sendo útil para nos fazer refletir sobre a vida.
Por esta razão, em conversa com seus novos colegas nos corredores, ao ouvi-los questionar a utilidade de se aprender certas matérias, Ana argumentava que tudo o que se aprendia, poderia ser útil.
Foi o suficiente para ser criticada.
E nisto os alunos continuaram a insistir em dizer, que não precisavam aprender história, entre outras disciplinas as quais consideravam chatas.
Ana ficou quieta.
Não concordava com esta visão de que só deveriam ser passados conhecimentos práticos.
Entendia ser a teoria a base do conhecimento.
Com isto, passou a fazer amizades convivendo amiúde, com um pequeno grupo de colegas.
Com o tempo, a jovem passou a ter aulas de história sobre as primeiras civilizações.
Hidráulicas, pois estabeleceram-se a margem de rios.
Isto porque o rio trazia água e alimentos, abastecendo as cidades.
O mestre mencionou a cultura egípcia, as piramides, as múmias.
Corpos eram enfaixados e envolvidos em tramas de tecidos, para se conservarem após a morte.
O cérebro era extraído pelas narinas, e dentro do corpo eram inseridos óleos aromáticos para conservá-los.
Eduardo, comentou que muitos corpos estavam preservados, em que pesem os milhares de anos em que ocorreram suas mortes.
Em aulas, comentou sobre a cultura helênica, o surgimento da Grécia, a cultura avançada de seu povo. Suas lendas, sua cultura, a criação da democracia.
As reuniões na Ágora, praça pública, e o fato de somente homens livres poderem participar das discussões políticas.
Comentou que o governo do povo, desde sempre, fora conduzido por uma minoria.
Pois mulheres, crianças e escravos não participavam das reuniões e do governo.
Eduardo, explanou sobre o Século de Péricles.
Período de grande prosperidade para a Grécia.
Templos magníficos construídos, esculturas magnificas de Fídias, escultor do grande estratego.
Comentou ser a cultura grega composta da história de inúmeros outros povos.
Mencionou Esparta e seu povo guerreiro.
O ideal de perfeição grega.
O teatro grego, sempre representado por homens, ainda que em papéis femininos.
Relatou que a cultura grega não discriminava a sodomia, e que a mulher ocupava um papel de pouca relevância na sociedade.
Destacou porém, a presença das deusas gregas a ressaltar a importância feminina, embora na prática, não fosse o que acontecia.
Relatou que muitos monumentos no atual país estão em ruínas.
Em razão das guerras e da pilhagem.
Ressalvou que muitos conhecimentos gregos são aplicados ainda hoje, principalmente nas palavras que utilizamos.
Como ecologia, filosofia, entre outras.
Mencionou que a própria religião católica se baseou em lendas gregas, para construir sua doutrina, sua liturgia, seus dogmas.
Cultura que gerou influência mesmo durante a Idade Média.
Durante o ano letivo, os alunos visitaram exposições onde puderam ver ânforas com desenhos de heróis gregos, além de esculturas - tradicionais da cultura grega.
Puderam ver a forma como as roupas eram feitas, sem costuras enroladas no corpo.
Viviam em moradas simples, sem grande mobiliário.
O professor mencionou os dórios, os persas e seus imperadores, denominados de xá.
Para a alegria dos alunos gozadores que não se cansavam de dizer que iriam fazer um chá do imperador.
Em outras aulas, o professor comentou sobre a origem de Roma, sobre Feudalismo, Idade Contemporânea, etc.
Argumentou que a origem de Roma era uma lenda, a respeito dos irmãos Rômulo e Remo, os quais foram alimentados por uma loba.
Comentou que em textos sagrados, consta a história de que os homens que habitavam a região, proveram o rapto de mulheres, as sabinas.
Romano, povo belicoso, e com grande propósitos expansionistas.
Ao escravizarem os gregos, tornaram-nos mestres de seus filhos.
E com isto, apropriaram-se de sua cultura. Adaptaram as lendas e mitologia gregas, para sua realidade.
Roma, inicialmente governada por imperadores, a transformar-se em república.
Res pública, coisa pública.
Mencionou o mestre, a perseguição aos cristãos, os sacrifícios humanos.
O coliseu romano, onde os cidadãos de Roma apreciavam o degradante espetáculo.
A famosa política do pão e do circo.
Tão conhecida de alguns políticos.
Mencionou alguns nomes famosos.
Como Nero, o imperador incendiário, os Cesares, imperadores de Roma.
A decadência do império.
As guerras contra Cartago, em virtude da sanha expansionista.
As hordas de bárbaros que passaram a ingressar em Roma.
Bárbaros, por não possuírem a mesma cultura, e por espalharem seu modo de vida por Roma.
Nisto, o professor mencionou que os povos conquistados, ao adotar o latim, passaram, em virtude de suas características linguísticas, a adotá-lo com variações.
Fato este que originou as línguas neolatinas como o português, o espanhol, o italiano, o francês, entre outras.
Roma então em virtude da invasão bárbara, cindiu-se em duas.
E a parte oriental de Roma, resistiu por cerca de um milênio.
Com o que se denominou Império Bizantino. Bizâncio, Istambul.
A parte ocidental fracionou-se, transformou-se em feudos, os quais mais tarde deram origem aos estados nacionais, na época do Renascimento.
Feudalismo, modo de vida, que deu origem a vassalagem.
Com servos a cuidarem das terras para seus donos.
Fase da história denominada Idade Média.
Período conhecido como obscurantista.
Todavia, em que pesem historiadores argumentarem que não houve produção artística, ocorreram manifestações culturais na época.
Isto por que data deste período o trovadorismo, o surgimento do teatro em Portugal, e a arquitetura gótica.
Época em que a igreja e seu poderio predominou.
Onde ocorreram inúmeras cruzadas, com objetivo expansionista.
Em que pesem os argumentos de se tratar de missão evangelizadora.
Com o tempo, mentes passaram a se insurgir contra este estado de coisas.
Surgiu o protestantismo.
Questionando a venda de indulgências, de lascas da cruz de Cristo, de pedaços do céu.
Com isto, surgiram novas religiões e houve perseguição nos países em que a tradição católica imperou. Lutero e Calvino, diante das reações, tiveram que migrar para países onde as religiões protestantes foram adotadas.
Para fugirem da perseguição religiosa e da denominada Santa Inquisição.
Nos países católicos, com uma simples denúncia, desafetos eram encaminhados a Tribunais, denominados Tribunais do Santo Ofício, onde eram torturados para confessar práticas atentatórias a religião.
Muitos, visando se livrar das torturas, confessavam o que não haviam feito.
Pessoas foram mortas das mais cruéis maneiras.
Intelectuais e judeus foram perseguidos, livros foram queimados.
Muitos judeus se converteram ao cristianismo para fugirem das perseguições.
Luís Vaz de Camões, precisou ressaltar em sua obra “Os Lusíadas”, que as divindades decantadas em sua narrativa ao contar as glórias do povo português, eram falsas, e que os deuses da mitologia eram coisa do demônio.
Em que pese a doutrina católica ter se baseado na cultura grega.
Com isto, surgiu a Idade Contemporânea.
Uma reação a um período obscuro da história.
O neoclassicismo nas artes. Releitura das artes clássicas gregas.
Manifestação literária.
Surgimento do estado português.
País berço das grandes navegações com propósito expansionista.
Cujo intuito era descobrir uma nova rota para as Índias, visando o comércio de especiarias.
Por erro de percurso, descobriram o Brasil.
Exploraram sua madeira, o Pau Brasil.
Escravizaram índios, impuseram sua cultura, catequizando-os.
Padre José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, foram jesuítas trazidos para estas plagas.
Mais tarde, percebendo que os índios, assim denominados por que os portugueses acreditavam haver chegado as Índias, não eram a melhor alternativa para a exploração de trabalho escravo, passaram a escravizar os negros.
Trazidos da África, não conheciam o Brasil, o que dificultava a fuga.
E assim, os mesmos lavraram a terra, plantaram café, cuidaram dos filhos do senhor da terra.
Neste processo, alguns se insurgiram contra este estado de coisas.
Lutaram pela abolição dos escravos, como o senhor de terras Joaquim Nabuco, José do Patrocínio, entre outros.
Zumbi, e outros negros escravos, fundarem núcleos de resistência, os quilombos.
Os próprios lutaram contra a inexorável sina, fugindo e em agrupamentos, criando quilombos.
Alguns dos negros nascidos nos tempos da escravidão, tornaram-se livres e ilustrados.
Houve negros ilustres em nossa história, como Machado de Assis, engenheiros, literatos como Cruz e Souza, José do Patrocínio, André Rebouças, entre outros.
Mais tarde outros lutaram pela Independência do Brasil.
Que de colônia se tornou um país independente.
Graças um brado as margens do Riacho do Ipiranga.
Neste momento, o professor comentou que a história era grandiosa.
Com um imperador trajado de farda militar, seguido de um séquito de sua guarda.
Ás margens de um límpido e imponente Ipiranga.
Quando na verdade se tratava de um mal estar, e um imperador de ceroulas.
Quase sem companhias, a declarar a Independência do Brasil.
A qual foi conquistada mediante o pagamento de uma soma em dinheiro.
Antes do famigerado episódio, a família real fugida de Portugal, aportou em terras tupiniquins.
Fugida do Bloqueio Continental imposto por Napoleão, em razão do apoio de Portugal a Inglaterra. Portugal adquiria as manufaturas inglesas.
Razão pela qual, no Brasil foi proibida a produção de manufaturas.
Devendo a colônia importar seus insumos.
Mencionou o mestre em suas aulas, as capitanias hereditárias, o ciclo da cana-de-açúcar.
Açúcar brasileiro, superado pelo açúcar das Antilhas, e pelo produto holandês, mais barato.
O ciclo do ouro, com a exploração de jazidas de ouro e diamantes.
O ouro de aluvião, aflorando a face da terra.
O ciclo da borracha na Amazônia, também vencido pela concorrência com uma matéria-prima mais barata.
A queda da monarquia no Brasil, com a proclamação da República.
A industrialização, o surgimento dos cortiços, moradia dos trabalhadores das fábricas.
As jornadas extenuantes, os movimentos grevistas visando melhores condições de trabalho.
A Greve Geral de 1917.
Washington, presidente brasileiro, a dizer que greve era caso de polícia.
O mestre argumentou que a industrialização no Brasil, se deu de forma tardia.
Pois nos países europeus, ocorreu cerca de dois séculos antes.
Neste modelo, havia empregados trabalhando em jornadas estafantes, dormindo em caixões, sendo torturados e espancados.
Crianças trabalhando em jornadas rigorosas.
O salário sendo pago para que os empregados apenas não morressem imediatamente de fome.
O mestre comentou que muito sangue foi derramado para que os direitos trabalhistas fossem respeitados.
Razão pela qual não concorda em que se flexibilizem as leis trabalhistas.
Argumentando que num país onde as leis não são respeitadas, não se pode prescindir de tal instrumento de fiscalização das condições de trabalho, mencionou que tal ideia preocupante.
Em outras aulas, o professor mencionou a Revolução Russa de 1917, e a consequente implantação do socialismo, logo desvirtuado, com o surgimento de classes sociais, e elite.
As Guerras Mundiais, a Primeira e a Segunda, o Nazismo, o Facismo, entre outros.
Os movimentos totalitários, a Ditadura de Salazar em Portugal, a Revolução dos Cravos, que pôs fim, ao movimento.
Revolução em que se diz que uma florista passou a oferecer cravos aos manifestantes que as ofertaram aos soldados, tendo estes as depositado no cano de suas armas.
Destacou a Ditadura de Franco na Espanha.
A gripe espanhola que assolou o mundo.
Entre outros movimentos.
A guerra fria.
O fim da União Soviética.
A queda do Muro de Berlim, que dividia a Alemanha.
A ditadura brasileira, o Golpe de 64, as torturas, o Movimento das Eleições Diretas, conhecido como Diretas Já.
E o tempo a passar...
As aulas de matemática a enumerarem as frações, as incógnitas.
As equações, as matrizes, a lembrarem as células do excel.
Literatura, e suas escolas, os movimentos literários.
Trovadorismo, com suas cantigas de amor, de amigo e de maldizer.
Mal chagados, machucados.
O neoclassicismo, a exaltar a cultura helênica, o arcadismo.
O romantismo, com suas gerações, a primeira a exaltar o nacionalismo, histórias de índio, e a cultura portuguesa.
A segunda fase e os delírios mórbidos, e a terceira fase, com seu condoreirismo.
Castro Alves, e seu “Navio Negreiro”.
Parnasianismo; o Simbolismo de Cruz e Souza, com suas aliterações, repetições de sons.
O modernismo, com Fernando Pessoa, e suas diversas personalidades poéticas, denominadas heterônimos.
O realismo fantástico dos autores latinos.
Os poetas estrangeiros.
A química a se mostrar nos componentes das fórmulas de alimentos.
Nos cosméticos, como os xampus.
Na cozinha, com a transformação dos alimentos, a alteração da estrutura das matérias.
Estado líquido para gasoso, a solidificação da água a se transformar em gelo.
A evaporação dos perfumes, sua composição química.
Interessado o professor em despertar o interesse dos alunos na matéria, ministrou aulas onde foram apresentadas a aplicação da química na indústria de cosméticos.
Como cremes, condicionadores, esmaltes, tinturas, etc.
Na biologia, os alunos aprenderam sobre genética.
Genes dominantes e recessivos, características genéticas.
Alelo, antígenos, tipos sanguíneos, doador universal, receptor universal.
Sobre botânica.
Explanações sobre o processo de fotossíntese, o transporte de alimento para as plantas pela seiva.
A eliminação de gás carbônico.
Além do conselho de não se ter plantas no quarto, pelo fato das mesmas realizarem o processo de fotossíntese durante a noite.
A seiva a correr pelas plantas.
A física a falar dos movimentos.
De Isaac Newton, da Lei da gravitação, da força centrífuga e centrípeta.
Da Teoria da Relatividade.
Das fórmulas utilizadas no cálculo da velocidade, entre outras incógnitas.
E os alunos a reclamarem da complexidade das equações e da utilidade de tais conhecimentos.
Ana procurando se aplicar cada vez mais, se estudando para as provas.
Passava as tardes em seu quarto, debruçada sobre livros e cadernos, lendo e respondendo questões, testes de história, geografia, biologia, química, física, matemática, português, literatura, e inglês.
Ana gostava de frequentar o colégio,
Das aulas de geografia, encantava-lhe o fato de descobrir aspectos humanos de outras culturas, como o fato de no Japão, haverem poucas terras agricultáveis, usando os orientais a técnica de terraceamento, realizando plantações em montanhas e encostas.
A cultura de arroz em meio as águas.
A China e sua incrível muralha.
O Brasil, com seus maciços antigos, relevo desgastado, sem uma grande cadeia de montanhas, e razão pela qual se observa poucos movimentos tectônicos, tendo em vista a acomodação das placas tectônicas.
Descobriu que há milhões de anos, os continentes eram todos integrados, sendo denominada esta junção Pangeia, e que os movimentos tectônicos acabaram por afastar extensas faixas de terras.
Movimentos que desenharam o mapa do mundo.
Ana descobriu em aula, que existem diversas teorias sobre a origem dos índios no Brasil, sendo uma delas, a de que os índios chegaram ao Brasil atravessando o Estreito de Bering, a provável origem oriental de nossos índios, tendo em vista, alguma similaridade de feições.
As auroras boreais, que promovem espetáculos de luzes, em plena madrugada, por horas, por dias.
O sol da meia noite em pontos extremos do globo terrestre.
A professora mencionou neste momento da aula, que havia uma canção romântica, que tratava do desejo de sempre haver, noites com sol.
Ana recordou-se da canção “Noites Com Sol” de Flávio Venturini.
A mestra mencionou as características do relevo brasileiro, seus pontos extremos.
O processo de urbanização recente, a industrialização, os aspectos humanos do aquecimento da economia, o aumento da classe C, e o impacto gerado na economia, o aumento de demanda por transporte público.
O excesso de carros nas ruas, a ocasionar poluição, engarrafamentos.
Mencionou a extensa faixa litorânea.
O clima equatorial da Amazônia, os igarapés, e a vida a margem dos rios, em palafitas.
O clima semi árido do nordeste, o clima frio do sul, o ambiente tropical do Brasil.
Tratou do Meridiano de Greenwith, dos Trópicos de Câncer e Capricórnio, da Linha do Equador.
De latitude e de longitude, destacando serem estas coordenadas, importantes para a navegação, para a identificação de embarcações.
Citou a bússola como instrumento de orientação, bem como instrumentos antigos como o astrolábio. Comentou sobre os pontos cardeais: norte, sul, leste, oeste.
Os pontos colaterais.
A rosa dos ventos.
Ana ficava a ler as anotações transpostas para seu caderno, os textos indicados nos livros.
Nas provas, obteve êxito, tendo seu esforço recompensado.
E assim, todo o dia Ana era despertada pela mãe.
Tomava um banho, vestia uma calça jeans, uma blusa, penteava seus cabelos, calçava seu tênis.
Tomava um café da manhã apressado e seguia para a escola.
Carregava em seus braços, livros e cadernos.
Ruas vazias, com alguns apressados a passarem pelo caminho.
No dia em que acordou atrasada, foi um desespero só.
Banho corrido.
Enquanto procurava uma roupa para vestir, penteava os cabelos.
Escovou os dentes, e apressada, pegou uma maçã e saiu correndo de casa.
Pelo caminho, foi mastigando a fruta e tentando ajeitar o material nos braços.
Ansiosa por chegar a escola, mal teve tempo para observar uma nesga de sol despejando-se sobre o dia.
Céu azul, com algumas nuvens.
Ao chegar na escola, já havia devorado a maçã, e tratando de ganhar tempo, dirigiu-se logo a sala de aula.
A esta altura, todos os alunos já se conheciam, e comentavam sobre o comportamento dos colegas, ora criticando, ora elogiando.
Na verdade, mais criticando do que elogiando.
Ana em algumas oportunidades, chegou a ouvir elogios direcionados a alguns professores.
Alguns bastante ousados.
Isto por que, as alunas haviam descoberto um professor o qual consideravam bonito, e não paravam de comentar sua aparência.
Certo dia, ao indagarem Ana sobre o assunto, a mesma começou a gaguejar constrangida.
Não fosse o sinal de início das aulas, e a moça teria que dizer algo, ainda que não fosse verdadeiro, somente para impressionar as colegas de classe.
Até por que, quase todas estavam enamoradas do mestre.
Quanto aos alunos, estes se encantavam com a professora de geografia, segundo eles, a mais bela mestra de toda o colégio.
Quando um dos alunos se saiu com este comentário, todos caíram na risada.
Afinal de contas, de onde havia tirado aquela expressão?
No final porém, todos acabaram adotando o fraseado, já que tinha um tom poético que poderia impressionar.
E assim, ficava o grupo dividido.
Os meninos criticando o objeto da paixão das garotas do colégio, e as moças, a desdenhar da beleza da professora, argumentando que o professor de literatura era muito mais belo.
Outros achavam graça na disputa, e caíam na risada com os comentários de ambos os grupos.
Ana por sua vez, observando o comportamento da turma do colégio, passou a notar que um grupo de alunos gostava de praticar esportes, outros eram mais afeitos as conversas, e assim por diante.
Durante o intervalo, circulando pela escola, a garota quase foi atropelada por um grupo de alunos correndo.
Foi então, que um garoto gentilmente a segurou e pediu aos colegas que tivesse mais cuidado.
Ana agradeceu o gesto de gentileza, e o rapaz descuidadamente, respondeu que não havia sido nada.
Foi o suficiente para Ana passar a observar as outras turmas de educação física.
Assim como quem não queria nada, lá estava ela olhando passes de bola, corridas e encontrões.
Para olhares menos atentos, parecia apenas mais uma curiosa.
Isto por que, sempre havia gente disposta a observar as aulas.
E assim, Ana passou a se interessar pelas aulas de educação física.
Com o tempo, passou a se interessar por um aluno.
E o moço sempre que a encontrava, educadamente a tratava, chamando-a de princesa.
Constrangida, na primeira vez que ouviu o chamamento, ficou vermelha, mas com o tempo, deixou o acanhamento de lado.
Passou a responder os rápidos cumprimentos do moço.
Empolgada, Ana acreditou se tratar de algo maior do que uma simples gentileza.
E animada, passou a se arrumar com mais apuro.
Os tênis foram deixados de lado e trocados por sandálias delicadas e sapatilhas.
Os cabelos passaram a ficar totalmente soltos.
Roupas mais alinhadas.
E discretamente, a moça procurava passar por ele, sempre que podia.
Em várias ocasiões, enquanto o moço conversava com seus colegas, Ana procurou distraidamente passar na sua frente.
Até suas colegas de classe, notaram a mudança.
Brincando diziam que ela estava apaixonada, embora não pudessem apontar um pretendente.
Ana nervosa, procurava desmentir as alegações, sem êxito.
Seu constrangimento a denunciava.
Procurando torturá-la e obrigá-la a contar quem seria o felizardo, ficavam a todo o momento importunando-a e mandando recadinhos durante as aulas.
A moça, aborrecida, passou a se recusar a recebê-los.
Certo dia, um professor, ao notar a insistência de uma de suas alunas em entregar um papel a moça, interpelou a aluna, admoestando-a.
Disse-lhe que ou parava com aquilo, ou seria obrigado a mandar retirá-la da sala de aula.
Nice, a aluna, parou com a insistência.
O constrangimento foi maior.
Ana por sua vez, percebendo que era espreitada, passou a evitar se aproximar do moço.
Afinal se preocupava com o que os outros poderiam pensar.
Com o tempo, Ana constatou que ele sequer notara a mudança.
Mal sabia o nome do moço, mas achou que ele poderia ser uma pessoa especial.
Até por que ele a tratava com mais educação que a maioria dos garotos do colégio.
Isto porém, não era suficiente para um namoro, ou namorico que fosse.
Com efeito, mesmo pesarosa com a indiferença, Ana, ainda continuou a insistir na mudança.
E suas colegas após notarem que andava mais arrumada, e implicarem com a mudança, passaram a se acostumar com o novo visual.
Um dia finalmente encheu-se de coragem e se encaminhou em direção ao moço.
Qual não foi sua surpresa ao vê-lo conversando todo atencioso com uma garota?
Linda a moça, chamou a atenção de todos por onde passou.
E o moço não parava de por as mãos em seu cabelo para tirá-lo do rosto.
Posto que a todo o momento o vento jogava uma mecha de cabelo contra o rosto claro.
Perplexa Ana, ao vislumbrar a cena, saiu do pátio procurando conter o choro.
Na pressa, derrubou parte dos livros que segurava, sendo obrigada a abaixar-se para recolhê-lo.
Foi então que o jovem, distraído com a conversa, notou a garota, que rapidamente recolheu o material, em que pesem os protestos do moço para ajudá-la.
Ana, tentando se conter, agradeceu a ajuda, mas respondeu que ela não se fazia mais necessária. Levantou-se e encaminhou-se para fora do colégio.
Durante o caminho de volta para a casa, um filme passava em sua mente.
O rapaz a todo o momento segurando entre seus dedos, os cabelos da moça loira, com quem conversava.
Pelo caminho, passou por ruas, casas, prédios, avenidas.
Por pessoas apressadas e indiferentes que nem notaram sua tristeza.
Chegando em casa, a moça foi direto para seu quarto, onde depositou os materiais levados em cima de sua escrivania e deitou-se em sua cama.
Chorou copiosamente.
Depois das lágrimas, a moça resolveu esquentar sua comida.
Almoçou arroz, frango e batata frita, acompanhada de um suco industrializado.
Por vezes, ficou a segurar o garfo e o copo de suco no ar.
Estava desapontada.
Sua paixonite havia acabado, antes mesmo de começar.
Desta forma, chateada, ao perceber que a mudança não surtira o efeito esperado, passou a deixar o cuidado em se adornar, um pouco de lado.
Abandonou o batom rosado.
Abandonou as madeixas soltas, passando a usar novamente os cabelos parcialmente presos.
Voltou a calçar seus tênis, pois possuía vários pares deles.
Passou a deixar suas melhores roupas, para os passeios nos finais de semana.
As piadinhas e provocações persistiram durante algum tempo, inclusive com comentários a respeito de quem seria o suposto pretendente da moça.
Seu amor platônico.
Ana por sua vez, dava de ombros.
Focada nos estudos, não queria saber mais de conversinhas e fofocas.
Circunstância que atraiu a antipatia de algumas pessoas que passaram a considerá-la metida e arrogante.
Alunos chegaram a apelidá-la de bitolada, certinha, chata, entre outras denominações pouco elogiosas.
Irritada com tanto disse me disse, a moça respondeu em sua página eletrônica, que aos desavisados e desocupados, interessados demais na vida alheia, ofertaria um presente.
E assim, copiou uma imagem onde rosas exuberantes eram mostradas na tela.
No fim, um texto dizendo que conforme havia aprendido com a história de Dona Beja, que cada um dá aquilo que tem.
Diante do recado, as provocações foram diminuindo, até cessarem por completo.
Isto por que a moça deixou de ser o assunto da sala.
Outros temas se faziam mais interessantes.
E em sua página eletrônica, as poesias românticas, aprendidas em sala de aula e que tanto a encantaram, cederam lugar aos estudos, e ao interesse por novos conhecimentos.
Na referida página, Ana comentava seus gostos.
As músicas que ouvia.
Os filmes que gostava, os programas de tevê que acompanhava.
E também mencionava algumas de suas tristezas.
Ao perceber que o moço não a enxergava, chegou a escrever em sua página de relacionamento, que se sentia como um ser inexistente e que se sumisse, ninguém notaria sua falta.
No tocante a isto, havia gente que comentava suas palavras, ora criticando, ora elogiando, e Ana denunciava os comentários que julgava impertinentes.
Falando nisto, quase todos os alunos possuíam página em sites de relacionamentos.
Era uma forma de se comunicarem com o mundo, e até partilharem planos de estudos.
Ana por diversas vezes, passou informações via e-mail, ou rede social.
Nisto, até o tempo, um grande conselheiro, mostrou-lhe que até as dores mais sentidas passam.
E Ana deixou o ar melancólico.
Estava cada vez mais animada com as aulas.
Os professores eram bons, dedicados.
A moça não se cansava de elogiar a qualidade das aulas para a família.
Ao comentar com suas vizinhas o conteúdo das aulas do colégio em que estudava, todas diziam que gostariam de ter aulas como aquelas.
Argumentavam que por melhores que fossem os professores, sempre havia algo que deixava a desejar.
Já no colégio de Ana, tudo parecia bom.
Foi então que a moça comentou que lá também haviam problemas.
Como o do garoto recém-chegado, que por ter hábitos religiosos diferentes, era discriminado.
Ana mencionou que todos o apontavam como feiticeiro, adepto de rituais de magia negra.
Isto quando não o chamavam de macumbeiro.
Ameaçando inclusive agredi-lo.
Ana comentou que com toda a diplomacia, os professores comentaram o caso em classe, advertindo que qualquer prática de discriminação dentro do colégio seria seriamente punida.
Um dos alunos, ao ouvir isto, argumentou que fora da escola estaria permitido agir como quisesse.
Foi então que o mestre respondeu-lhe que agressões físicas ou verbais, oriundas das relações do colégio, seriam punidas.
Argumentou que este tipo de prática não se coadunava com o pensamento do século vinte e um, sendo característica das épocas mais atrasadas da história da humanidade.
E assim, prosseguiram as aulas.
No dia seguinte, Raul em sua aula, mencionou que o pensamento é livre.
E que todos devem ter respeitada sua maneira de pensar.
Mesmo que não concordemos com estas manifestações e expressões religiosas, devemos respeitar seus praticantes, ponderou.
Argumentou que uma das funções da filosofia era a discussão de ideias em prol de uma melhor compreensão do mundo que nos cerca.
Muitos alunos argumentavam que não eram obrigados a conviver com pessoas que praticavam o candomblé.
Raul argumentou que nem todos os praticantes do candomblé praticam o mal, por meio de rituais. Relatou que esta é uma pequena vertente e que muitos dentro do próprio candomblé não concordam com ela.
Ademais, acrescentou, tais rituais são frutos de séculos de história e partem de uma crença e de um contexto no qual eram considerados válidos.
Nisto, indagou da formação religiosa dos alunos.
Através de perguntas, descobriu que boa parte tinha formação católica, em que pesem muitos evangélicos e protestantes.
Ressalvou que diante de tantas diferenças religiosas, se cada um resolvesse impor sua religião aos demais, a convivência seria impossível, já que a tendência é sempre acharmos que nossas convicções são melhores do que as dos demais.
Argumentou que o propósito específico das religiões é congregar seus pares, pessoas que pensam de maneira assemelhada, e que partilham de objetivos comuns.
Neste instante, lançou a seguinte pergunta:
E se fosse dito, que o objetivo de todas as religiões é semelhante? E se fosse dito que o objetivo delas é o bem comum? Ou a dominação?
Intrigados, alguns alunos passaram a fazer perguntas:
Como assim? O que poderia ele, estar querendo dizer?
E Raul então, passou a explicar:
O objetivo das crenças, não é então explicar o mundo?
E assim, começou a dizer:
No início dos tempos, não havia como se explicar as coisas de um modo racional. Então se fez uso de alegorias. Como os gregos, ao falar das ideias inatas. Do Rio Lete, no qual mergulhavam esquecidos de suas lembranças anteriores. E de posse das ideias passadas, demonstravam aptidões e habilidades, na vida presente. Habilidades tidas como inatas, dons naturais, podemos dizer assim. Todavia, nem todos tinham estas habilidades herdadas. E para adquirir determinadas habilidades, muitos necessitavam empreender um grande esforço. Muitos podem associar tais ideias a vidas passadas, se assim o quiserem, e desde que acreditem nestas ideias, completou. Também podem dizer que se trata de uma ideia simples para explicar o por quê da facilidade de aprendizado de algumas pessoas, e a dificuldade de outras. E assim como a mitologia foi a forma primeira de se tentar entender o mundo, as religiões podem ser uma forma mais elaborada para se alcançar o mesmo objetivo, sob um novo prisma.
Que prisma?
Indagou um aluno.
Sob o prisma de algo sobrenatural, fora de nós mesmos, sob o prisma de um ente salvador, como em boa parte das religiões, que tem os seus messias e profetas. Cada uma tem sua forma própria para explicar seus temas. Mas analisando todas uma a uma, verifica-se grandes diversidades de formas, mas o conteúdo é similar, assemelhado. Então, complexa torna-se a questão da superioridade entre as religiões. Posto que se parecidas o são, por quê haver tanta divisão?
Neste momento, alguns alunos tentaram argumentar dizendo que as religiões evangélicas não tinham nada a ver com o catolicismo, ou com o candomblé.
Raul então argumentou que analisando superficialmente, de fato, nada tinham de semelhante.
Ressalvou que muitos pontos de suas liturgias eram diversos, e acrescentou que em algumas religiões o messias ainda não havia chegado.
Contudo, se todas pregam o bem, o auxílio ao próximo, então, as diferenças não são tão grandes assim. Havendo diferenciação na forma como ensinam e aplicam seus preceitos.
Sorrindo, comentou que todos eram vizinhos de um mesmo planeta, e partidários de convicções semelhantes, embora enviesadas por pontos de vistas equivocados.
Finalizou a polêmica argumentando que mesmo o candomblé não pregava o mal pura e simplesmente, sendo resultado do processo de evolução de uma cultura, e reflexo do modo de pensar de um povo. Argumentou que todas as religiões possuíam um mesmo modus operandi e todas pregam o bem comum.
Comentou sobre a festa de São Cosme e São Damião, e o fato de se oferecer comida aos meninos pobres.
Mencionou o sincretismo religioso e a fusão de diversas manifestações culturais religiosas no país.
Nisto, perguntou a todos se gostavam de carnaval, de canjica, se ficavam tristes, macambúzios, sorumbáticos, jururus.
Acaso sabiam o que era banzo, Iemanjá procissões marítimas ou lacustres em homenagem a Nosso Senhor dos Navegantes, a Nossa Senhora, sincretismo de Iemanjá.
Mencionou que os escravos, usavam nomes dos santos católicos, para poder continuar as práticas de seus rituais religiosos.
Perguntou se alguém ali sabia o que era uma congada e acaso entendia o por quê de reis negros em suas manifestações.
O professor explicou-lhes tratar-se de homenagens aos reis da África e aos orixás, e que muitas pessoas oriundas de outras religiões acompanhavam.
Ressalvou que num país tão plural e tão diverso, afirmar que não se aceita o candomblé, argumentando que se trata de macumba, é no mínimo ignorância.
Falta de conhecimento sobre o assunto e um pouco de hipocrisia, já que se trata de cultura arraigada ao nosso cotidiano.
Argumentou que se trata do mesmo que dizer não gostar de católicos, vivendo num país entranhado com a cultura religiosa católica.
Curiosos, os alunos perguntaram se o professor era adepto de alguma religião.
Raul respondeu-lhes que não, embora fosse um estudioso do assunto.
Ana argumentou que para um não religioso, ele entendia mais do assunto do que muitos dos costumavam frequentar igrejas.
Todos riram.
Um dos alunos chegou a comentar que ele devia ser pastor.
Raul respondeu-lhe que sua vocação era lecionar, e que os alunos poderiam não concordar com ele, mas que para isto, deveriam apresentar pontos de vista consistentes, e não criticar por criticar.
Cumpre destacar que durante suas aulas, o professor de filosofia aproveitou para debater temas afetos ao dia a dia dos alunos.
Falou sobre amor, sobre os afetos.
Curiosos, os alunos perguntaram-lhe sobre o amor platônico, do qual muitos falam.
Raul respondeu-lhe tratar de amor de contemplação, sem o conteúdo erótico ou sensual contido neste afeto.
Mencionou que este conceito não fora criado por Platão, e sim adaptação de ideias filosóficas de diferentes autores, entre eles Sócrates, transportadas para outras realidades.
Argumentou que se convencionou denominar este de amor platônico, em virtude da consagração do uso da expressão.
Tratando-se de um conceito moderno, adaptado do conceito original dos filósofos antigos.
Uma das alunas, desapontada, chegou a mencionar que preferia acreditar de um conceito advindo dos antigos filósofos e não apenas uma deturpação de suas ideias.
Raul comentou então, que coisas assim acontecem em virtude das dificuldades de adaptação dos textos gregos para outros idiomas, e na divergência quanto aos entendimentos e interpretações.
Em tom divertido, chegou a comentar que quem conta um conto, aumenta um ponto também.
Ressalvou que em virtude disto, necessário se faz pesquisar boas fontes de pesquisas e não se basear em qualquer texto.
Mencionou também a história da filosofia, comentou sobre os filósofos anteriores a Sócrates, o pré-socráticos.
Além de Sócrates, Platão, Aristóteles, Sartre, entre outros expoentes da filosofia.
Contou que Sócrates não deixou escritos, os quais foram registrados por seu discípulo Platão.
Em classe, o mestre apresentou textos destes pensadores, os quais foram debatidos pelos alunos. Ressalvou que antes de ensinar a história da filosofia, deveria direcioná-los para um pensar a filosofia.
Ana adorava as aulas.
Em conversas com vizinhas, descobriu que não era em todos os lugares em que os alunos eram estimulados a um debate de ideias.
Uma pena, pensou.
Quando o tempo do colégio se findou, a moça passou a ficar melancólica.
E muito embora tenha feito vestibulares estando convicta de sua aprovação.
Receava o futuro.
Preocupava-lhe o fato de não passar nas provas.
Seus colegas tentavam dissuadi-la da preocupação, dizendo-lhe que era boa aluna, que sempre ia bem nas provas, que não havia com o que se preocupar.
E assim, tentando se descontrair, passou a se preparar para sua formatura.
No dia da comemoração, ao sair do chuveiro, posicionou-se em frente ao espelho do quarto.
E munida de batom, rímel, e estojo de maquiagem, passou a se arrumar.
Por diversas vezes experimentou o vestido na costureira, antes de poder usá-lo em sua formatura.
Mas agora, ao vesti-lo para a formatura, a sensação era diferente.
Longo, branco e com saia plissada.
Um belo modelo frente única.
Os cabelos semi presos, caíam do alto da cabeça na forma de cachos.
Por fim, calçou um sapato branco de salto.
E passou perfume atrás do pescoço, atrás dos joelhos, nos braços.
Conduzida por seus pais, foi de carro até o salão onde seria realizada a formatura.
No dia anterior, fora realizada a cerimônia de entrega dos diplomas de conclusão do ensino médio.
Todos os alunos utilizando becas e chapéu, subiram ao palco para receberem os diplomas.
Todos igualmente cumprimentados.
Os paraninfos elogiaram o desempenho dos alunos, e um aluno de cada turma, foi escolhido para ser o leitor de uma mensagem na cerimônia.
Ana tirou fotos com suas amigas e ao lado dos pais.
Na data aprazada da formatura, Ana dançou a valsa com seu pai.
Passos devidamente registrados por um fotografo.
Depois, acompanhada pelos colegas de classe, aproveitou para se divertir e dançou por um longo tempo.
Também cumprimentou os professores, os quais a todo o momento perguntavam que curso iria fazer.
E Ana respondia que havia feito vestibular para química.
Lá foi apresentada a um parente de Breno, colega de classe.
Ana e Júlio conversaram um pouco.
O moço disse-lhe que estava cursando faculdade de direito.
Ana respondeu-lhe que havia prestado vestibular para o curso de química.
Enquanto conversava, Ana observava o movimento do salão.
O moço empolgado, comentava que cursava o quarto ano do curso.
Mencionou seus projetos de advogar.
Comentou que já fazia estágio na área.
Relatou que pretendia após formado, trabalhar por mais algum tempo no escritório onde fazia estágio, até reunir condições de abrir seu próprio escritório.
Comentou ser um dos poucos em sua família que iria ter diploma universitário.
Ana ouvia as palavras do moço.
Comentou sobre o interesse por química, a possibilidade de criar fórmulas, e trabalhar na elaboração de produtos.
Disse que a química está presente em tudo, nos produtos utilizados no dia a dia, no creme de barbear, nos alimentos, no ar que respiramos, nos produtos de limpeza que utilizamos, nos cosméticos, nas roupas, nos sapatos.
Brincando, Júlio comentou que até nas relações pessoais, havia química.
Ao ouvir isto, Ana caiu na risada.
Algumas colegas, que a viram acompanhada do moço, acenaram cúmplices para a moça.
Pareciam afirmar que ela estava bem acompanhada.
Observando os olhares das colegas, Ana passou a fitar o moço, que sorria para ela.
Os pais e familiares da moça, estavam em outra mesa, conversavam animadamente entre si.
Todos estavam orgulhosos do desempenho de Ana, boa aluna e sempre apresentando boas notas. Também aproveitavam para observar Ana e Júlio.
Todos especulavam o teor da conversa.
Por fim, ao ouvir uma música, Júlio convidou Ana para dançar.
Um tanto sem jeito, a moça demorou para apoiar os braços no ombro do rapaz.
Júlio, percebendo a hesitação da jovem, segurou seu braço, apoiando-o sobre seu ombro.
Dançaram.
Procurando manter a cadência da conversação, o moço comentou que adorava aquela música. Aproveitou então para perguntar o tipo de música preferido de Ana.
A garota comentou que gostava de MPB, mas que ultimamente estava ouvindo música pop.
Nisto o moço comentou que adorava ouvir músicas que o faziam refletir, mas que também adorava músicas para dançar, e por esta razão estava adorando a canção que estavam sendo tocada.
No salão, havia uma banda tocando os mais diversos estilos musicais.
Ana mais ouvia do que falava.
Dançaram a música.
Como Ana não soubesse acompanhar o ritmo do moço, Júlio explicou-lhe os passos da dança.
Observando o gestual, a jovem caiu na risada.
Chegou a perguntar se os gestos seriam aqueles mesmos.
Júlio respondeu-lhe que sim.
E mesmo desajeitados, dançaram.
Júlio prometeu a moça, que na próxima vez, dançariam algo mais lento.
De fato, Ana achou um tanto estranha a dança, de jogar o quadril de um lado, e de outro.
Quando retornaram a mesa, o rapaz comentou que já estava se preparando para sua formatura.
Ana perguntou-lhe quando se formaria.
O moço respondeu que em menos de dois anos, caso tudo ocorresse bem.
Ana comentou que precisaria primeiro passar no vestibular, para somente depois, pensar em formatura.
Perguntou-lhe o rapaz que não havia feito o vestibular.
No que Ana respondeu-lhe afirmativamente, mas que ainda não havia tido conhecimento do resultado.
Júlio desejou-lhe sorte e comentou que certamente obtivera êxito nas provas.
Relatou que Breno lhe dissera que era muito inteligente, e que certamente passaria nos melhores vestibulares.
Ana agradeceu o elogio.
Contudo, ainda mostrava-se preocupada com o resultado das provas.
Nisto, em questão de algumas semanas, ao verificar a relação de aprovados no jornal, constatou que seu nome constava na lista.
Júlio, que vinha lhe fazendo visitas, desde o começo do ano, parabenizou-a pelo feito.
Brincando, afirmou que agora é que viria a pior parte.
Espantada, Ana perguntou o por quê da afirmação e Júlio, rindo, respondeu que estava brincando.
No final da festa, a dupla dançou uma música mais lenta, conforme prometeu Júlio.
Quando tocou “Coração de Estudante”, Júlio brincou dizendo que estava vivendo um “deja vu”, pois em todas as formaturas tocavam a mesma música.
Ana ficou perplexa com a afirmativa.
Júlio percebendo isto, comentou que estava brincando.
Apenas quebrando o gelo.
A estudante comentou que ele tinha um jeito estranho de fazer piadas.
Argumentou quase rindo, que a música era um clássico, e que era inevitável a escolha da música.
O moço concordou.
Argumentou que poderia ser pior.
Comentou que poderiam tocar aquela canção que dizia que todos eramos campeões.
Ana riu.
Riu mas criticou-o, dizendo que seus pais adoravam a banda.
Júlio rindo ainda mais que Ana, visto ter comentado que seus pais também gostavam da banda, e mais ainda da música.
Gozador, destacou que se emitisse o comentário perto de seus pais, correria o sério risco de ser morto por eles.
Ana, tentando conter o riso, pediu para que ele parasse com aquilo.
Júlio parecia não se importar.
A moça então, passou a observar com um pouco mais atenção, o moço que se esforçava em contar piadas, e parecer o tempo todo rápido e inteligente.
Por fim, a certa altura, os pais da moça vieram buscá-la.
Disseram que estava tarde, e que precisavam voltar para casa.
Júlio lamentou a despedida.
Perguntou aos pais de Ana onde moravam.
Prometeu fazer uma visita.
A moça, sem esperar por isto, ficou um tanto constrangida com o pedido.
Tentou sinalizar para que ele desistisse da ideia.
Em vão.
Com isto, ao final das festas em celebração ao final do ano, Ana passou a receber visitas esporádicas do rapaz.
Desta feita, na primeira aparição do moço, a jovem ficou surpresa.
Por um momento, acreditou que o moço estava apenas fazendo suas gracinhas ao pedir seu endereço, afirmando que iria visitá-la.
Em razão disto, por semanas teve que aturar as brincadeiras e gozações dos parentes, dizendo que havia arrumado um pretendente, e que a ela só cabia esperar.
Com o que tempo, acreditando que o moço não iria aparecer, cessaram as gozações.
Razão pela qual a moça ficou surpresa ao se deparar com o rapaz em frente a sua porta.
Seu espanto parece ter ficado estampado em seu rosto, já que Júlio indagou o por quê da surpresa em vê-lo.
Brincando, disse que ela não parecia feliz em vê-lo.
Ana começou a gaguejar.
Tentava dizer alguma coisa, mas foi interrompida pelo rapaz que disse simpático, que estava apenas brincando.
Sem graça, a moça convidou-o para entrar.
Júlio perguntou pelos pais da moça, mas estes não estavam em casa.
Ana convidou-o a sentar-se no sofá da sala.
Ofereceu-lhe água, suco.
Júlio perguntou-lhe se não poderia ser café.
A moça respondeu-lhe que não havia café pronto, e que sempre que tentava prepará-lo, errava na medida.
Ora saía muito doce, muito fraco, ou muito forte.
Júlio rindo, comentou que não tinha importância.
Aceitou a oferta do suco.
Ana então, pegou dois copos no armário da cozinha, e levou-os para a sala.
Retirou a jarra com suco da geladeira, e serviu a bebida.
Enquanto bebiam, conversaram.
Como quem não quer nada, Júlio comentou sobre um filme que estava em cartaz e convidou a moça para assisti-lo com ele.
Enquanto o rapaz contava sobre o enredo da história, percebeu que Ana demonstrou interesse no enredo.
Contudo, ao receber o convite, a moça sem jeito, tentou dizer que não seria possível.
Júlio então argumentou o por quê da recusa, e Ana sem ter como se justificar, acabou aceitando o convite.
Mencionou que poderiam se encontrar na porta do cinema, e que ela pagaria sua entrada.
Júlio protestou, alegando que se ele havia convidado, ele deveria arcar com as entradas.
Porém, ao perceber o ar de contrariedade da moça, relatou que não se sentiria nem um pouco incomodado, se ela o convidasse para comer um cachorro quente depois do filme.
Ana riu, e concordou com o ajustado.
Pagaria o lanche.
E assim, no dia aprazado, a moça tratou de vestir um bonito vestido amarelo de poás brancos, de alças finas, e saia levemente rodada.
Aproveitou a ocasião para deixar os cabelos parcialmente presos, e os pés calçavam um sapato com um saltinho.
A família, ao vê-la arrumada para o evento, comentou que as coisas estavam progredindo.
Ana ignorou o comentário.
Nisto, despediu-se da família e seguiu em direção ao lugar combinado para o encontro.
Júlio parecia um pouco impaciente.
Comentou que ela havia se atrasado um pouco.
Surpresa, Ana perguntou se ele havia esperado muito.
Rindo Júlio respondeu que não.
Destacou tinha valido a pena esperar, e que ela estava muito bonita.
Ana retribuiu o elogio com um sorriso.
Nisto, o moço comprou os ingressos para o filme.
Caminhando pelo shopping, adentraram o cinema e acompanharam o filme.
Ana não parava de rir e Júlio gostava de observá-la se divertindo.
Antes da exibição porém, o moço ofereceu-lhe uma pipoca.
Ana percebendo o gesto de delicadeza, aceitou.
Mas de tão grande, a guloseima mais parecia uma refeição.
Tanto que Ana por diversas vezes, ofereceu pipoca a Júlio.
Ao término da projeção, o casal caminhou pelo shopping.
Ana parecia estar procurando algo.
Júlio ao notar isto, perguntou-lhe o que estava procurando.
Ana então, comentou que não estava encontrando nenhuma lanchonete na praça de alimentação do shopping, onde se vendia cachorro quente.
Júlio ao ouvir a explicação da moça riu.
Indagou sobre a necessidade de comprar lanche.
Ana, ao perceber que ainda segurava a embalagem cheia de pipocas, começou a rir.
Perguntou se ele não queria comer um lanche.
Júlio respondeu que ainda era cedo, e que poderiam comer o cachorro quente em outro lugar.
Nisto, pegou-a pela mão, e começou a arrastá-la.
Ana, sem entender o que estava acontecendo, perguntou para onde estavam indo.
Rindo, Júlio respondeu-lhe que era surpresa.
Foi então que atravessaram o shopping.
Júlio a levou para o estacionamento.
Mostrou-lhe um carro.
Curiosa, Ana elogiou o veículo, e perguntou-lhe ser era o dono do carro.
O rapaz assentiu com a cabeça, e convidou-a para entrar.
Ana argumentou que precisava voltar para casa.
Júlio retrucou dizendo que poderiam dar uma volta pela cidade.
A moça tentou deixar o passeio para outro dia, mas Júlio insistiu, e assim, seguiram rumo a cidade, devidamente motorizados.
A certa altura, chegaram em um belo parque, cercado de árvores frondosas e floridas, e um lago.
Júlio então, estacionou o veículo, e o casal seguiu caminhando pelo parque.
Sentaram-se em um banco em frente ao lago onde nadavam alguns patos.
A certa altura, Júlio abriu um pacote de bolachas e partindo-as em pequenos pedaços, começou a jogá-las para os patos.
Ana comentou que achara o lugar lindo, e que nunca tivera a oportunidade de passear por ali, embora tivesse curiosidade em conhecê-lo.
Júlio ficou espantado em saber que alguém que vivia em um ambiente com tantas oportunidades de passeio, não as aproveitava.
A moça respondeu que nem tudo ficava acessível, e que nem sempre havia disponibilidade para tantos passeios.
Ao ouvir isto, Júlio se prontificou a agendar alguns passeios.
Para que pudesse conhecer melhor a cidade em que vivia.
Ana concordou animada.
Mais tarde, o moço levou a jovem de carro para casa.
Dias depois, suas vizinhas curiosas, vieram lhe perguntar como havia sido o passeio.
Ana respondeu-lhes que foram ao cinema e fizeram uma caminhada.
Insatisfeitas com a resposta, procuraram saber mais detalhes do encontro, mas Ana comentou lacônica, que não havia sido nada demais.
As vizinhas estavam indignadas, mas a moça se recusou a comentar mais detalhes do passeio.
Ao se recordar do evento ocorrido nos tempos de colégio, ficou bastante prevenida.
Com o tempo no entanto, os passeios passaram a se tornar mais frequentes.
Visitaram parques, museus, exposições.
Andaram de trem por cidades próximas.
Entre outros passeios.
Até o dia em que o moço resolveu lhe perguntar se estavam namorando.
Estavam fazendo um pequenique em um parque da cidade.
Surpresa com a pergunta, Ana não sabia o que dizer.
Sem saber que palavras dizer, respondeu com um breve:
Sei lá, acho que não!
Foi o suficiente para que Júlio caísse na gargalhada.
Ana o observava com curiosidade.
A certa altura, o moço respondeu-lhe que não imaginava ser Ana, uma garota tão moderna, a ponto de não se importar em saber em que tipo de relacionamento estava.
A jovem continuava a observá-lo com curiosidade.
Tentou se explicar, mas o moço não deixou dizer qualquer palavra.
Neste momento o moço lhe deu um beijo.
Ana ficou levemente surpresa com a atitude do moço.
Mas não ao ponto de tomá-la como totalmente inesperada.
Júlio então ficou a observá-la, como que a estudar sua reação.
Olhou-a nos olhos.
Ana sem graça, esboçou um leve sorriso e abaixou os olhos.
Júlio pôs a mão em seu rosto.
Segurou o seu queixo.
Aproximou-se novamente da moça e Ana o abraçou.
Tímida olhou para os lados, como a observar que alguém se aproximava e de súbito, num ímpeto, tocou o rosto de Júlio e beijou-lhe levemente os lábios.
O jovem por sua vez, lançou-lhe um olhar de alguém que compreendia o gesto.
Em seguida, segurando seu rosto, disse-lhe que adorava o seu jeitinho, e que aquele gesto, era muito significativo para ele, pois significa que estavam acordes.
Ana olhou-o com ar interrogativo.
Rindo, Júlio falou que finalmente estavam namorando.
Foi o suficiente Ana bater de leve em seu ombro e chamá-lo de sem graça.
Argumentou que não fazia assim tanto tempo que estavam saindo.
Júlio respondeu-lhe que já fazia quase dois meses em que lhe mostrava as maravilhas da grande metrópole, sem que ela lhe desse sinais de que estava interessada nele e não única e exclusivamente nos passeios.
Rindo, comentou que por diversas vezes se sentiu trocado por esculturas, pinturas, móveis e objetos antigos.
Fingindo adotar um gesto dramático, perguntou-se quando teria algum espaço em seu mundo?
Ana ao ver que pessoas passavam pelo lugar, pediu para que ele parasse.
Foi a deixa para Júlio apresentar uma atuação digamos, com contornos mais dramáticos.
Constrangida, ao perceber que algumas pessoas riam, pediu novamente para que parasse a brincadeira. Ameaçou inclusive, ir embora naquele momento.
Júlio então parou.
Ao perceber que a moça ficara irritada, resolveu levá-la para casa.
No caminho, enquanto dirigia o carro, resolveu desculpar-se.
Disse que não tivera a intenção de ofendê-la.
Apenas estava brincando.
Ana aborrecida comentou que ele brincava demais, e que não levava nada a sério.
Júlio, incomodado com as palavras da moça, argumentou que ela estava sendo muito agressiva.
Neste momento, Ana respondeu que não gostava quando faziam pouco caso dela, e que as pessoas estavam rindo dele.
O moço respondeu-lhe que não se importava com o que as pessoas achavam.
Estava mais interessado em agradar uma pessoa.
Assim pediu-lhe desculpas por ter sido inconveniente.
A jovem aceitou as desculpas.
Foi o suficiente para Júlio tornar a provocá-la.
Brincando, perguntou-lhe se a incomodava tanto assim, ver as pessoas rindo dele.
Ana respondeu que sim.
Nisto o moço parou o carro.
A moça por sua vez protestou:
Seu maluco, por que resolveu parar aqui?
Júlio, então abraçou-a, dizendo que havia ganhado o dia.
Ana achou graça na atitude intempestiva do moço.
Conversaram durante algum tempo, depois, Júlio levou-a de volta para casa.
A esta altura, Ana estava frequentando a faculdade.
Precavida, evitou os primeiros dias de aula.
Depois, passou a frequentar o curso.
No começo, pouco entendia do que os professores falavam.
Aos poucos porém, foi se inteirando das disciplinas e compreendendo o espírito da coisa.
Animada, comentou com a família e o namorado, que estava gostando do curso.
Mencionou que não via a hora de criar fórmulas e aplicar na prática o que iria aprender no curso.
Comentou que durante as aulas, recapitulou conceitos aprendidos no colégio, agregando novos conhecimentos.
Ao longo dos anos de curso, foram apresentadas as inovações técnicas na área, como a nanotecnologia, e suas implicações, na criação de novos produtos, entre eles cosméticos resistente a certos agentes bactericidas, entre outras propriedades.
A diferença entre as partículas em seu tamanho normal e seu tamanho em escala reduzida.
O mestre relatou que as propriedades das partículas se alteravam com a diminuição de seu tamanho, devendo haver muitos cuidados em sua manipulação, em virtude de não se saber ao certo quais implicações teriam a utilização das mesmas.
Acrescentou que este é um ramo da ciência para o qual cabe regulamentação.
Destacou tratar-se de partículas de tamanho muito reduzido, só visíveis por meio de microscópios especiais.
Argumentou que desde Roma antiga se faz uso da nanotecnologia, embora não tivesse esta denominação, quando da utilização de micropartículas de ouro e de outros metais, na coloração de objetos, como taças, ou em vitrais, com partículas de prata, como na Idade Média.
Júlio acompanhava bastante interessado, as descrições da moça sobre o seu curso de química.
Animado, também comentava sobre as aulas do curso de direito, suas dificuldades e seus tropeços, como algumas notas baixas, que precisava recuperar, ou iria ficar de exame.
Ana sempre o incentivava a dedicar-se mais aos estudos.
Argumentou compreensiva, que poderiam até estudar juntos, ele com suas matérias jurídicas, e ela com sua química.
Júlio perguntou que ela não importava em diminuir os passeios.
Ana respondeu que se fosse necessário para a melhoria de suas notas, não se importava nem um pouco. Relatou que se tratava de uma situação temporária, e que não havia problemas quanto a isto.
Júlio agradeceu a compreensão.
E desta forma ficaram ajustados.
Com a dedicação maior aos estudos, o moço percebeu uma melhora em suas notas.
Tanto que nem precisou ficar de exame.
Com isto, após cinco anos de estudo, Júlio estava prestes a se formar no curso de direito.
Feliz com o encerramento do curso, chegou a comentar que sentiria saudade da faculdade e dos colegas de turma.
Ana ao ouvir o comentário, mencionou que às vezes também pensava nas pessoas com quem estudou no ensino médio.
Curiosa, relatou que tinha interesse em saber como estavam.
Relatou que com a página que possuía na internet, ainda conseguia acompanhar algumas novidades relacionadas a alguns colegas, mas que nem todos gostavam de postar coisas pessoais.
Razão por que ficava sem saber muitas coisas.
Júlio argumentou que o tempo e as circunstâncias separam as pessoas, mas que isto não fazia com que nos esquecêssemos delas.
Concordou com o fato de que as redes sociais ajudam a aproximar um pouco, quem de outra forma, estaria afastado.
Ana completou dizendo sentia saudades de algumas pessoas.
Júlio afirmou que já estava sentindo saudades, antes mesmo do fim do curso.
Comentou ter tido a sensação de que o dia da formatura nunca iria chegar e lá estava ele, formado.
A esta altura, Ana estava escolhendo o vestido que usaria no baile.
Decidida, a moça optou por um vestido longo vermelho, para acompanhar o namorado no baile.
Nisto, quando Ana apresentou Júlio como seu namorado para a família, todos a parabenizaram.
Os pais da moça já imaginavam que isto seria apenas questão de tempo.
Quando Júlio apresentou Ana aos pais, o casal ficou encantado com os modos discretos e educados da moça.
Argumentaram que estava cada vez mais raro se encontrar pessoas tão educadas.
Rosa, a mãe do moço, argumentou que a mãe de Ana estava de parabéns, por haver lhe proporcionado tão boa educação.
Ana, gentilmente agradeceu o elogio, e sorrindo, disse que iria transmiti-lo para sua mãe.
Com isto, durante os tempos de intenso estudo, o casal Ana e Júlio ora se revezavam em seus estudos na casa de um ou de outro.
E assim, passaram a partilhar da intimidade das famílias.
Almoçavam, comiam lanches, e às vezes até jantavam na casa das famílias.
Rosa às vezes aproveitava para conversar com a moça.
Ana então, comentava de seus projetos profissionais e que já estava de olho em estágios na área.
A mulher a considerava muito responsável para a idade.
Quando da formatura, Rosa ajudou a moça por diversas vezes, a arrumar o vestido vermelho.
E quando o casal dançou a valsa juntos, a mulher insistiu para que um fotografo registrasse os passos do casal.
Lamentou não poder fazer uso de sua câmera digital.
Todos os que estavam na mesa riram.
Cleusa, a mãe de Ana comentou que ela era uma mãe muito coruja.
No que Rosa concordou.
O casal, mais interessado em dançar, passou mais tempo juntos, do que na mesa com os parentes e familiares.
Ana comentou com o moço, que dali a alguns anos, seria ela quem estaria se formando.
Júlio sorriu dizendo que fora em sua formatura do ensino médio em que se conheceram.
A moça comentou que ele parecia um pouco nervoso naquela noite.
Júlio retrucou dizendo que não estava nervoso e sim ansioso por chamar sua atenção.
Nisto o moço começou a rir.
Foi o suficiente para que Ana indagasse o por quê do riso, e Júlio tivesse que se explicar.
O moço então comentou que pedira a Breno para que a apresentasse a ele.
Contou que ficou durante o baile, observando-a.
Relatou que fora convidado para festa por ele, e que por pouco não deixou de ir.
Nisto, emendou dizendo que se o fizesse, teria perdido a grande oportunidade de encontrar uma pessoa muito especial, e que com o tempo se relevou ser muito importante para ele.
Ao término da explicação, Ana pode perceber que o rapaz ficara um tanto constrangido.
A moça que nunca tivera oportunidade de vê-lo sem jeito, adorou a experiência e ficou a dizer que ele estava ficando vermelho.
Júlio, temendo que as pessoas em volta percebessem, pediu para que ela falasse mais baixo.
Ana comentou rindo que agora ele sabia como ela se sentia quando ele a importunava com suas gracinhas.
Nisto Júlio segurou a moça mais perto de si, e rindo perguntou se ela estava gostando de torturá-lo.
No que Ana balançou a cabeça afirmativamente.
E assim, enquanto a moça ria, o rapaz segurou seu rosto e a beijou.
Ana então, olhou discretamente para os lados, e acreditando que ninguém os observava, procurou encostar sua cabeça no ombro do rapaz.
E assim, cúmplices, continuaram a dançar.
Foi uma festa linda, com muitas felicitações, cumprimentos, despedidas.
Fotos do moço ao lado dos pais, dos pais de Ana, dos colegas de classe e de Ana.
A propósito, a moça conhecia os colegas de turma do moço e vice e versa.
Por vezes, Ana estudou em grupo com seus colegas sem a presença de Júlio e vice e versa.
De vez em quando brotava um ciúme, e quando um se sentia negligenciado pelo outro, todas as questões eram discutidas.
Brigavam.
Ana certo dia, ficou um pouco incomodada com as colegas de classe que ligavam para o moço. Argumentava que uma delas ficava paquerando-o descaradamente.
Júlio por sua vez, também não gostava da proximidade da moça, com certos colegas.
Insistia em dizer que eles estavam interessados nela.
Ana rebatia dizendo que ele estava exagerando.
O moço também argumentava que ela era muito ciumenta e que era difícil conviver com ela.
Em dado momento, as discussões foram ficando tão ridículas, que Ana começou a rir.
Júlio inicialmente irritou-se, mas ao observar a risada gostosa da moça, passou a rir junto.
Por fim, Júlio se desculpou com Ana.
Argumentou que havia exagerado em sua reação, tendo sido grosseiro com ela.
Ana argumentou que também estava sendo ciumenta, mas asseverou que se a fulana continuasse se insinuando para ele, ela receberia um recado a altura.
Júlio curioso, perguntou se ela sairia no tapa com a moça.
Ana sorrindo, comentou que não preciso brigar ou xingar.
Enigmática, argumentou que faria muito pior.
Júlio rindo, perguntou se ela não pretendia matar a moça, com algum composto químico.
Ana respondeu-lhe que não precisava se preocupar, pois não agiria de forma violenta, e que ele iria gostar muito.
Curioso, o moço insistiu em saber o que faria.
Ana se recusou a responder.
E assim, o moço passou a beijar e a abraçar a moça.
Tudo na vã esperança de saber, o que se passava na cabeça de Ana.
Carinhos e abraços, e nenhuma informação válida.
Desapontado, a certa altura desistiu.
Disse que ela era muito resistente.
Ana riu.
Agora no baile de formatura, lá estava a sujeita a esbanjar simpatia para Júlio, ignorando a presença de Ana.
A jovem, ao perceber a presença inconveniente da colega de classe, cumprimentou-a efusivamente, perguntando-lhe como ia.
A mulher, sem ter como ignorar sua presença, respondeu-lhe secamente.
Ana então, aproximando-se do namorado, comentou que desejava a felicidade de todos, inclusive das pessoas carentes.
Suzana, a colega, fingiu ignorar o comentário e continuou a conversar com Júlio ignorando a presença de Ana.
Júlio sem saber como despachar a moça, já demonstrava visível constrangimento com as indiretas disparadas por Suzana, que a todo o momento fazia questão de se recordar das conversas que tiveram durante o ano, das tardes de estudo, das brincadeiras em classe.
Chegou a convidá-lo para um almoço em sua casa, ignorando por completo a presença de Ana.
Júlio tentou se esquivar, dizendo que estava ocupado com seus afazeres e que somente saía acompanhado de sua namorada.
Ana ao ouvir isto, alegrou-se.
Suzana porém, fingia ignorar o comentário.
A certa altura, cansada de aturar tantas provocações, Ana aproximou-se do moço, pedindo licença a moça.
Argumentou que tinha algo importante para lhe dizer e que precisava de um pouco de privacidade.
Suzana alegou que não era educado expulsar as pessoas, enquanto elas estavam conversando.
Ana respondeu que se ela quisesse poderia ficar.
Nisto segurou a nuca do rapaz e beijou-lhe os lábios.
Como a situação se prolongasse, Suzana ficou sem ambiente, e sem ter outra alternativa, acabou se afastando e deixando o casal a sós.
Ao término do beijo, Júlio observou a moça, com olhos de exclamação.
Perguntou-lhe o que lhe passara na cabeça.
Ana sem jeito, demonstrou descontentamento com a postura do rapaz.
Júlio então esboçando um sorriso, comentou que estava brincando.
Ainda brincando, perguntou se poderia repetir o beijo.
Ana rindo, comentou que ele não tinha jeito.
Suzana de longe, os observava rindo cúmplices.
Ficou furiosa, mas não havia mais nada que pudesse ser feito.
Aborrecida, acabou por sair mais cedo da festa.
Ana e Júlio aproveitaram o evento até o final.
Saíram juntos da festa, bem depois dos seus familiares voltarem para casa.
Saíram para namorar, e voltaram na tarde do dia seguinte para suas casas.
Quando chegaram em casa, os dois foram alvos de comentários do tipo:
Que festa demorada! Comemoração longa hein?
Exaustos, tiraram seus trajes de festa, deitaram em suas camas e dormiram.
Felizes, dormiram embalados pelo som da banda tocando ao fundo, as boas músicas ouvidas, outras tantas dançadas, as taças erguidas em comemoração a formatura...
Ana sonhou com sua colação de grau, e revisitou a colação de grau do namorado.
Depois do baile, só restou ao moço estudar, pois precisa passar no exame de proficiência da profissão.
E assim, meses após a formatura, o rapaz foi aprovado no exame da Ordem, sendo contratado pelo escritório onde fazia estágio.
Ana parabenizou-o pela aprovação e pelo emprego.
Saíram para comemorar.
Jantaram juntos.
Feliz, o rapaz sugeriu um prato caro, para que pudessem comemorar a aprovação.
Ana rindo, comentou que não gostaria de passar a noite lavando pratos.
Júlio achando graça, retrucou dizendo que não se fazia necessário tal sacrifício, posto que tinha dinheiro para pagar a refeição.
Nisto a moça segurando o cardápio, após se acomodar na cadeira, gentilmente arrumada pelo garçom, comentou assustada que os valores dos pratos eram salgados demais.
Sugeriu até que jantassem em outro restaurante.
Constrangida, comentou que não teria como ajudar a pagar as despesas.
Júlio insistiu para que não se preocupasse.
E percebendo a hesitação da moça na escolha do prato, sugeriu uma iguaria a base de camarão.
Enquanto o garçom anotava o pedido, perguntou a moça, se ela de fato gostava de camarão. Argumentou que fizera o pedido baseado nas escolhas que fazia em idas a restaurantes.
Ana respondeu que iria experimentar, pois nunca havia provado a tal receita.
Quando a refeição foi servida, e Ana serviu-se da refeição, logo aprovou a escolha.
Comentou que tudo estava uma delícia.
O moço por sua vez, escolheu um prato a base de carne vermelha.
Ana gostou da escolha do vinho, em que pese ter se espantado com o preço da garrafa.
Estava impecável de vestido curto verde escuro.
Enquanto comiam, conversavam e riam.
Mais tarde, ao saírem do restaurante, Júlio começou a dizer que tinha projetos para o futuro.
Em outros passeios, outros jantares, novas conversas de planos para o futuro.
O casal passou então, a fazer planos para quando Ana se formasse.
Rindo a moça comentou que faltavam dois anos para a conclusão do curso.
Júlio respondeu que não tinha pressa, e todo o tempo do mundo para pensar em como seria o futuro de ambos.
Mencionou casamento.
Fato este suficiente para fazer Ana se engasgar com o vinho que estava ingerindo.
O jovem riu.
Comentou:
Tem que coisas que nunca mudam!
Nisto auxiliou a moça, sugerindo que ela respirasse fundo.
Comentou que muitas coisas na vida são assim.
Ana ao se sentir melhor, pediu para que ele parasse com as brincadeiras.
Júlio preocupado, sugeriu que ela parasse de beber o vinho e se servisse de um suco de laranja.
Ana então bebeu o suco devagarinho.
Tornaram a conversar, mas o moço precavido, relatou que dali por diante, falariam de coisas mais amenas.
Ana comentou que estava procurando vagas de estágio.
Júlio completou dizendo que ela estava certa.
Conversaram tranquilamente.
Falaram do último passeio que fizeram, do filme que assistiram.
Mais tarde, ao levar a moça para casa, observando o céu escuro, a lua e algumas estrelas, o moço comentou que estava se recordando de sua formatura e de quando a conheceu.
Ana sorriu e a visão do casal dançando em seu baile de formatura, fez seus olhos brilharem.
Júlio passou a descrever seu vestido, o penteado que usava.
Chegou a dizer que se lembrava até do aroma do perfume usado por ela.
A moça sorriu com os olhos.
Despediram-se.
E cada um seguiu para sua casa, com os pensamentos envolvidos lembranças de momentos felizes.
Júlio então, rumou para casa acompanhado pela lua, que por sinal estava cheia.
Encantado com a visão, em dado momento, Júlio resolveu mudar o percurso.
Finalmente estacionou o carro e ficou a contemplar a lua.
Estava disposto a dividir a visão com alguém especial.
Razão pela qual retornou a casa de Ana e bateu no portão insistentemente.
Assustados, os pais da moça acordaram e se dirigiram a sala.
Receosos, acenderam a luz e procuraram ver da janela, quem era o doido ou a doida que estava batendo no portão e fazendo tanto alarde.
Ao perceberem tratar-se de Júlio, perguntaram-lhe o que fazia ali tão tarde da noite.
Afinal já não havia deixado Ana em casa?
Aflito, o rapaz informou que tinha algo muito importante para dizer a ela, e que não poderia esperar o dia amanhecer.
Cleusa e Antônio insistiram para que ele deixasse o assunto para o dia seguinte.
Júlio insistiu.
Com isto, trataram de acordar Ana, que dormia pesadamente.
Disseram-lhe que Júlio insistia em conversar com ela.
E assim, acordou.
Procurou pentear os cabelos, e usando um hobby por cima de sua camisola, foi ao encontro do rapaz.
Enquanto a moça procurava se ajeitar um pouco, Antônio procurava conversar com Júlio.
O moço parecia ansioso.
Ana brincando, perguntou-lhe onde era o incêndio.
Contudo, ao notar o ar de gravidade do moço, ficou preocupada.
Afinal, o que poderia estar acontecendo? Pensou.
Antonio e Cleusa então se afastaram, ao perceber que o moço preferia conversar a só com Ana.
Aflita, Ana insistiu para que dissesse o que estava acontecendo.
Júlio pediu-lhe para que o deixasse falar.
O moço então, comentou sobre o bonito luar, e sobre a necessidade que sentira de partilhar sua alegria com ela.
Disse que algum tempo já vinha pensando sobre o assunto, e que regressara a sua casa, movido por um impulso irresistível.
Ana achou graça nas palavras do moço.
Considerou que o mesmo estava fazendo mais uma de suas piadas.
Nisto o moço perguntou-lhe se poderia acompanhá-lo para fora da sala.
A garota não compreendeu.
Júlio insistiu então.
Ana intrigada, abriu a porta da sala.
Seguiram para o quintal.
Lá o moço apontou para a lua.
Disse que poucas vezes a poluição das cidades proporcionaram uma visão tão linda quanto daquela lua majestosa.
Ana concordou.
A lua de fato estava muito bonita.
Contudo, não conseguia compreender o que se passava na cabeça do moço.
Júlio por sua vez, após alguns instantes de silêncio, perguntou-lhe então, de supetão, se ela gostaria de se casar com ele.
Ana, ficou surpresa.
Júlio rindo, comentou que ela não poderia engasgar.
Ana começou a rir.
Disse que ele não levava nada a sério.
Argumentou que já era muito tarde para brincadeiras, e que por ser tarde da noite, precisava dormir, assim como ele.
O moço, aborrecido, comentou que não estava brincando.
Ana surpresa, perguntou:
Não? Então … o que é?
Júlio respondeu-lhe que de fato a estava pedindo em casamento.
Ana olhava-o atônita.
Com o olhar parado, fixo em um ponto que nem ele mesmo sabia qual era, o rapaz ficou aguardando uma resposta.
Por um momento chegou a pensar que a namorada estivesse passando mal.
Tanto que aproximou-se da moça perguntando-lhe se estava bem.
Até que finalmente ela disse bem baixinho:
Sim!
Como ele não ouvisse, a moça repetiu a palavra em um tom maior.
Júlio abraçou-a.
Comentou que ela não iria se arrepender.
Nisto explicou que estava arrumando um dinheiro para comprar um apartamento, e estando efetivado no escritório, poderia se preparar para concursos.
Nisto, Ana perguntou-lhe se não preferia advogar.
Júlio respondeu que a advocacia própria teria que esperar um pouco mais.
Seria adiada, mas de forma alguma abandonada.
Ana perguntou-lhe se não seria melhor ele montar o escritório, arregimentar clientes, e depois se preocupar com o apartamento e casamento.
Júlio respondeu que não.
Argumentou que dentro em breve ela também estaria ingressando no mercado de trabalho, e aí tudo ficaria mais fácil.
Receosa, Ana argumentou que dinheiro não estava fácil de ser ganho, e que ainda estava procurando estágio.
Júlio respondeu-lhe que por enquanto não estava contando com sua colaboração.
Ana prometeu-lhe que assim que fosse possível, o auxiliaria.
Quando Cleusa e Antônio souberam da novidade, indagaram se não estaria muito cedo para assumir um compromisso.
Júlio respondeu que não pretendia se casar imediatamente, mas que queria deixar claras suas intenções.
Os pais de Ana concordaram.
Nisto Júlio entrou em seu veículo e voltou para casa.
Certo dia, o casal foi visto à noite, andando juntos, trajando roupas de festa em um jardim.
Ana usava um vestido vermelho longo, levemente rodado, cabelos jogados para a frente, em seu ombro direito.
Usava brincos de pérola, e salto, além de uma leve maquiagem.
Júlio usava um terno.
O passeio pelo lindo jardim iluminado, estava sendo fotografado.
De longe, familiares e convidados observavam o casal.
Quando os noivos finalmente ficaram a sós, Júlio sentou-se em um tronco de madeira e Ana encostou-se em seu ombro.
Ambos completavam a lua.
Brincando, Júlio comentou ter tido a impressão de que ela os estava acompanhando desde o início da cerimônia.
A lua estava cheia, redonda e linda.
Com sua claridade, produzia um bonito efeito sobre o jardim iluminado artificialmente.
Parecia que tudo ali era feito de luz.
Espetáculo lindo de se ver!
Por fim, um lindo porta-retratos de madeira exibia uma linda foto do casal valsando.
Em outro porta-retratos, o casal sentado sobre um tronco, contemplava a claridade do luar.
Cleusa havia aberto os álbuns de fotografia, e matava as saudades da filha, observando fotos de quando a moça fora um bebê, criança, dos tempos da escola e do colégio.
Cuidadosa, guardara as fotos de formatura da filha.
Nisto, a mesa da sala estava repleta de álbuns para as visitas observarem.
Por fim, a mulher exibiu o álbum mais recente de fotos.
Lá estavam Ana e Júlio magníficos.
Todas as visitas observavam as fotos e comentavam a beleza dos noivos, da cerimônia, da festa.
Rosa também destacava a beleza do terno do filho.
Feliz!
Estava tudo muito bom!
Luciana Celestino dos Santos
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