ANOS QUARENTAS – NAS ONDAS DO RÁDIO
Capítulo 7
Nisto, enquanto atuava no Atlântico, Francisco foi ferido em uma batalha.
Diante disto, foi transferido para um hospital no Uruguai.
Lá foi cuidado pelo doutor Epitácio e enfermeiras.
Clodoaldo, ao ser informado pelo comandante do exército em São Paulo, que Natália havia se
alistado novamente como enfermeira voluntária, solicitou que ela fosse designada para trabalhar
no Uruguai.
O homem pretendia facilitar a aproximação do casal.
Desta forma, Natália foi designada para servir como enfermeira na marinha.
Ao receber a convocação, a moça ficou desapontada.
Comentou com sua mãe, que preferia voltar para a Itália.
Celina respondeu que ela não poderia recusar a convocação.
Nisto Natália partiu para o Uruguai. Providenciou passaporte, arrumou as malas e partiu.
Ao chegar no país, foi levada até a cidade onde Francisco estava hospitalizado.
Quando adentrou as dependências do hospital, qual não foi sua surpresa ao ver Francisco, deitado
em uma cama, inconsciente.
Revoltada, a moça deu meia volta.
Argumentou que não cuidaria daquele paciente.
Conversando com o doutor Epitácio, Natália pediu outra missão.
O homem respondeu que não poderia ajudá-la.
Aconselhando-a, o médico sugeriu que ela cuidasse do marido.
Surpresa ao ouvir a palavra marido, Natália perguntou como ele sabia que ela era casada com
aquele senhor.
Epitácio, sem alternativas, acabou por revelar que ela estava ali por determinação do Capitão de
Fragata, senhor Clodoaldo.
Natália ficou furiosa.
Nisto, a moça voltou ao quarto onde o moço estava.
Ao notar que o marido estava com febre, Natália ficou preocupada.
Assim que pode, foi conversar com o médico.
Preocupada, perguntou ao médico, se o estado de Francisco era grave.
Epitácio respondeu-lhe, que a situação do militar inspirava cuidados, mas sendo bem cuidado, o
homem se recuperaria com toda a tranqüilidade.
Ao ouvir tais palavras, Natália ficou mais calma.
Com isto, passou a tratar do marido.
Dedicada, chegou a dormir a seu lado.
Durante as febres, Natália colocou panos molhados na fronte do militar. Ministrou-lhe remédios.
Contudo, permanecia indiferente.
Natália ainda estava magoada com Francisco.
Nisto, aos poucos, o homem estava se recuperando.
Ao despertar, ficou feliz ao se deparar com a moça.
Por alguns instantes, chegou a pensar que estava sonhando.
Quando ficou mais lúcido, Francisco constatou que não estava sonhando.
Francisco ficou então, deveras feliz com a novidade.
Consciente, o homem passou a pedir perdão a mulher.
Natália, no entanto, parecia ignorá-lo.
Francisco por sua vez, não parecia disposto a desistir.
Solicitando a ajuda da esposa, pediu para ela ajeitar seu travesseiro.
Natália ajeitou-o.
O militar, percebendo a distração da moça, beijou-a.
A mulher ficou furiosa.
Francisco então, segurando sua mão, pediu, implorou para ela não ir embora. Dizendo que se
sentia muito só quando ela partia, comentou que somente ali, entendera que não poderia ficar sem
ela.
Argumentou que nada mais fazia sentido, que nada tinha graça. Relatou que vinha sentindo-se
muito só.
Revelou que até as coisas que lhe pareciam mais divertidas, perderam o sentido.
Francisco contou que sofreu muito ao ficar tanto tempo longe dela.
Comentou que sentia sua falta, que sentia falta da filha, que sentia ciúmes dela, em meio a tantos
homens fardados. Relatou que Natália era a mulher de sua vida, que ninguém era mais importante
para ele, do que ela. A exceção de Lorena, todo o resto era acessório.
Arrependido, começou a cantar:
“Quem sou eu pra ter direitos exclusivos sobre ela
Se eu não posso sutentar os sonhos dela
Se nada tenho e cada um vale o que tem
Quem sou eu pra sufocar a solidão da sua boca
Que hoje diz que é matriz e quase louca
Quando brigamos diz que é a filial
Afinal se amar demais passou a ser o meu defeito
É bem possível que eu não tenha mais direito
De ser matriz por ter somente amor pra dar
Afinal o que ela pensa em conseguir me desprezando
Se sua sina sempre é voltar chorando,
Arrependida, me pedindo pra ficar
Matriz ou Filial - Composição: Lucio Cardim”
Chorando, Francisco comentou que agora entendia o mal havia causado a ela e que estava
arrependido por todo o sofrimento que lhe havia causado.
Natália observava a tudo como se aquilo se não lhe dissesse respeito.
Francisco insistia em pedir-lhe perdão.
Segurava as mãos da moça. Beijava-as.
Aflito, o homem pediu:
- Diga alguma coisa!
Natália balbuciou alguma palavra impronunciável.
Francisco ameaçou levantar-se. Ao fazê-lo, sentiu tontura.
Natália disse que ele devia ter cuidado. Afinal de contas, ainda não estava totalmente recuperado.
Nisto, a moça continuou a cuidar do marido.
Francisco a todo momento pedia para voltar.
Com o tempo, acabou por vencer a resistência da moça.
Nisto, mesmo sendo cuidado por outras enfermeiras, Francisco não parecia interessado em outras
mulheres.
Natália percebeu isto.
Em outra oportunidade, Francisco tornou a conversar com a moça.
Disse que aquela indiferença o estava matando.
Cantava baixinho para ela:
“Quantas noites não durmo,
A rolar-me na cama
A sentir tantas coisas
Que a gente não pode explicar quando ama
O calor das cobertas
Não me aquece direito
Não há nada no mundo
Que possa afastar esse frio do meu peito
Volta
Vem viver outra vez ao meu lado
Não consigo dormir sem teu braço
Pois meu corpo está acostumado
Volta
Vem viver outra vez ao meu lado
Não consigo dormir sem teu braço
Pois meu corpo está acostumado
Volta - Jamelão"
Francisco, insistiu para eles voltassem a viver juntos.
Francisco respondeu que se ela concordasse, nunca mais se separariam. Disse que ela nunca mais
iria se arrepender de viver ao seu lado. Nunca mais eles iria brigar. Nunca, nunca mais mesmo,
ela iria dizer que se arrependera de casar-se com ele.
Cantou:
“Fica comigo esta noite
E não te arrependerás
Lá fora o frio é um açoite
Calor aqui tu terás
Terás meus beijos de amor
Minhas carícias terás
Fica comigo esta noite
E não te arrependerás
Quero em teus braços, querida
Adormecer e sonhar
Esquecer que nos deixamos
Sem nos querermos deixar
Tu ouvirás o que digo
Eu ouvirei o que dizes
Fica comigo esta noite
Então seremos felizes
Fica Comigo Esta Noite - Composição: Adelino Moreira/Nelson Gonçalves”
Francisco abraçou então a mulher.
O casal beijou-se.
O doutor Epitácio, ao adentrar o quarto, percebendo que o casal estava se entendendo, retirou-se
discretamente do quarto.
Conforme os dias se passaram, Francisco recebeu alta.
Nisto, o casal voltou para São Paulo.
Chegando em casa, Francisco permaneceu alguns dias em repouso.
Sempre que Natália ajeitava o travesseiro do moço, Francisco tentava agarrá-la.
A mulher, dizia então, que ele precisava se recuperar. Argumentava que ele não estava
completamente curado.
Com o tempo, o homem retomou sua rotina, tornou a ler seu jornal.
Ajudava a cuidar da filha. Brincava com Lorena, saía com a moça para passear.
Novamente foi condecorado com uma nova patente. Alçara o posto de Capitão Tenente.
Celina estava orgulhosa do genro.
Certa vez, perguntou:
- Não disse que ele chegaria a Capitão?
O homem recebeu a nova patente numa cerimônia pomposa em Santos.
Orgulhoso, estava acompanhado de sua mulher.
Glauco e Clarisse também fizeram questão de acompanhar o casal.
Nesta época, Lorena já andava pela casa.
Atencioso, Francisco presenteava Natália com flores.
Um dia, ao ver uma boneca de louça exposta na vitrine de uma loja, resolveu comprar.
Levou o mimo para Natália.
A mulher, ao receber o presente, tratou logo de colocá-lo na cristaleira que havia na sala de jantar.
Lorena ficava horas a contemplar a boneca.
Balbuaciava que queria brincar com a boneca.
Natália, dizendo que não iria deixá-la brincar com a boneca, comentou que ela quebraria o objeto
e acabaria se cortando.
Lorena começou a fazer pirraça.
Natália, disse então, que se ela continuasse gritando, não iria mais brincar com suas bonecas.
Aborrecida, Lorena sentou-se no chão da sala.
Natália retomou seus afazeres.
Empenhado em se acertar com a esposa, Francisco levou a esposa para uma boate.
Lá o casal dançou, sorriu, se divertiu.
Em casa, Francisco abraçou a esposa. Levou-a para o quarto.
Empolgado, o homem começou a cantar:
“Lábios que beijei
Mãos que afaguei
Numa noite de luar, assim,
O mar na solidão bramia
E o vento a soluçar, pedia
Que fosses sincera para mim.
Nada tu ouviste
E logo que partiste
Para os braços de outro amor.
Eu fiquei chorando
Minha mágoa cantando
Sou estátua perenal da dor.
Passo os dias soluçando com meu pinho
Carpindo a minha dor, sozinho
Sem esperanças de vê-la jamais
Deus tem compaixão deste infeliz
Porque sofrer assim
Compadei-vos dos meus ais.
Tua imagem permanece imaculada
Em minha retina cansada
De chorar por teu amor.
Lábios que beijei
Mãos que afaguei
Volta, dai lenitivo a minha dor.
Lábios que eu Beijei - Composição: J.Cascata / Leonel Azevedo"
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário