Capítulo 3
Preocupada com os comentários a respeito da separação, Celina disse que ela precisava fazer as
pazes com Francisco, ou começaria a ser apontada como uma mulher largada pelo marido.
Natália contudo, dizia que não se importava com os comentários.
Argumentava que fosse necessário, passaria a trabalhar para manter a casa.
Ao ouvir isto, Celina repreendeu a filha.
Dizendo que mulheres que trabalhavam fora de casa não eram bem vistas, relatou que as coisas
permanecessem daquela forma, deixaria de visitá-la.
Natália ficou surpresa com o aviso.
Contudo, em que pese a repreensão da mãe, ela não estava disposta a voltar para Francisco.
O homem porém, estava disposto a tudo para se entender com a esposa.
Tristonho, andava recluso.
Dizia aos amigos, que se voltasse a se entender com Natália, abandonaria sua vida desregrada.
Cassiano, André, Severo e Glauco, porém, não acreditavam nas palavras do moço.
Aborrecido, Francisco disse que eles deveriam ser os primeiros a acreditarem em suas palavras.
Alegou que se eles não acreditassem em sua mudança, nem Natália acreditaria.
Nisto, Francisco continuou sua peregrinação em busca do perdão de sua esposa.
Por diversas vezes, bateu na porta da casa da moça com flores.
Algumas foram levadas por mensageiros.
Natália porém, se recusava a receber qualquer coisa que viesse de Francisco.
Desta forma, ao ser convocado para uma missão na marinha, o homem partiu amuado.
Natália por sua vez, continuou a cuidar de sua casa.
Triste, comentou com sua mãe, que se sentia muito sozinha.
Celina respondeu-lhe então, que precisava voltar para seu marido, e que um filho traria paz e
felicidade para aquela casa.
Natália se ocupava com os afazeres domésticos e se distraía com as canções do rádio, e com a
rádio novela “A Flor do Deserto”.
Quando o locutor anunciava a novela, a moça parava tudo o que estava fazendo, para acompanhar
as aventuras do sheik.
A esta altura, o sheik conversava com seus amigos, relatando-lhes que estava planejando a festa
com todo o cuidado, e que seus serviçais estavam executando tudo com muito esmero.
Revelou ainda, que procurava descobrir se havia naquele reino, alguém especial, alguém que
pudesse oferecer-lhe mais do que apenas sua beleza.
Comentou que estava cansado da beleza vazia, que apenas se calava para as coisas do mundo.
Pensativo, parecia estar naquele ambiente, conversando com seus amigos, apenas de corpo
presente. Os pensamentos, percorriam o espaço.
Quando finalmente chegou o dia da festa, o sheik recebeu uma visita do Grão Vizir.
Curioso, o homem foi logo perguntando a Ali, o por quê de tão inesperada festa.
O sheik respondeu que queria apenas celebrar a vida, comemorar seus sucessos, o fato de se
encontrar vivo e bem...
O Grão Vizir porém, não se convenceu daquelas palavras.
Tanto que chegou a dizer:
- O que tanto procuras está muito perto de você! Tão perto que nem consegues dar conta disso.
Por esta mesma razão, também se encontra tão longe.
O sheik não compreendeu as enigmáticas palavras.
O Grão Vizir porém, dizendo que não poderia se demorar, desculpou-se por não por poder ficar
mais tempo despedindo-se do rapaz.
Ao se afastar, apenas disse:
- Sorte!
A noite no salão do palácio em que o sheik vivia, muitas flores, almofadas, comidas, bebidas,
danças, música.
Aos poucos os convidados foram aparecendo.
Moças lindas, de todas as regiões, algumas vindas até de outros reinos, começaram a enfeitar o
salão.
Com toda a cerimônia, o sheik foi apresentado as moças.
Contudo, não parecia entusiasmado.
A certa altura da noite, já estava desolado.
Nisto, uma moça entrara sorreitaramente no castelo, terminando por encontrar os jardins do
palácio.
Escondeu-se no local.
Tentava encontrar a melhor visão da festa, sem pudesse ser vista pelos sentinelas.
Com isto, passou a se esgueirar espreitando os movimentos da festa pelas janelas do castelo.
Em dado momento, Ali, entendiado com as presenças vazias encontradas na festa, resolveu fazer
um pequeno passeio pelo jardim.
Observando a lua, que se fazia bonita no céu do Oriente, o moço ouviu um barulho, e percebeu
um movimento brusco em meio as folhagens.
Ao se aproximar das ramagens, percebeu que se tratava de uma jovem, vestida em trajes muito
simples, com um véu cobrindo o rosto.
Curioso, Ali quis se aproximar para o ver o que se escondia atrás do véu.
A moça porém, afastou-se.
Ali, achando tudo aquilo muito interessante, pediu para ela não se afastar.
Dizendo que nada lhe aconteceria de mal, perguntou-lhe seu nome.
Sem alternativas, já que não havia como fugir, a moça se apresentou:
- Yasmin.
- Yasmin. Que belo nome. Sabes o que significa?
Yasmin começou então a observar o moço, reparou no semblante de Ali.
Não parecia ameaçador.
A moça resolveu se aproximar, voltou o véu, mostrou o rosto.
O homem ficou encantando com a beleza da moça.
Tentou tocar em seu rosto.
Yasmin, contudo, recuou.
Ali, percebendo que havia se excedido, pediu-lhe desculpas.
Dizendo que não precisa ter medo dele, pediu para que ela se aproximasse.
Yasmin então, aproximou-se do moço.
Ali então respondeu:
- Yasmin, significa flor branca de jasmin. Um bonito nome, para uma bela flor.
Ao ouvir as palavras, a moça ficou sem jeito.
Ali, argumentou que ela não deveria ter vergonha de sua beleza.
O homem tentou se aproximar da moça, caminhando até onde ela se encontrava.
Yasmin, percebendo isto, afastou-se, e ao perceber uma oportunidade para sair do local,
aproveitou-a.
Fugiu escondendo-se entre as plantas do jardim.
Ali ficou então, a procurar pela moça.
Em vão.
Yasmin havia evaporado.
Desolado, voltou para a festa.
Meteu-se em confabulações com os comerciantes do local.
Cumprimentou as moças.
Belas jovens, perfumadas, bem arrumadas.
Ao término da festa, ao contemplar o salão vazio, sentou-se em uma almofada.
Ficou a pensar na jovem que havia encontrado em seu jardim.
Aflito, pensava no que poderia fazer para tornar a vê-la.
Amuado, reflexivo, tanto conjecturou que acabou por chegar a uma conclusão.
Iria procurá-la por todos os cantos, por toda a região, por todo o Oriente se fosse preciso.
Nisto terminou mais um capítulo da adorável rádio novela, “A Flor do Deserto”.
Sorrindo, ficava pensando no porque da vida não ser parecida com as histórias narradas nas rádio
novelas, Natália ficou a pensar.
Enquanto varria a sala, se ouvia no rádio a canção:
“Nós somos as cantoras do rádio
Levamos a vida a cantar
De noite embalamos teu sono
De manhã nós vamos te acordar
Nós somos as cantoras do rádio
Nossas canções cruzando o espaço azul
Vão reunindo num grande abraço
Corações de norte a sul
Canto pelos espaços afora
Vou semeando cantigas
Dando alegria a quem chora
Bum, bum, bum...
Canto, pois sei que a minha canção
Vai dissipar a tristeza
Que mora no teu coração
Canto para te ver mais contente
Pois a ventura dos outros
É a alegria da gente
Bum, bum, bum...
Canto e sou feliz só assim
Agora peço que cantes
Um pouquinho para mim
Cantores do Rádio - Braguinha, Lamartine Babo e Alberto Ribeiro“
E assim a moça passou a tarde, lavando passando, limpando a casa.
Francisco estava longe, muito longe, em mais uma missão.
Ao voltar para a casa, depois de longos meses afastado, bateu na porta de Natália.
A mulher, ao perceber que Francisco não a deixaria em paz, acabou atendendo-o.
O homem, suplicante, disse que sentiu muitas saudades sua, que não conseguia viver sem sua
presença, e que viver aquele longo tempo separado, fora um inferno para ele.
Argumentou que estava arrependido.
Tanto que ajoelhou-se a seus pés, expondo-se a observação de todos os que passavam pela rua
naquele momento.
Constrangida, Natália mandou-o levantar-se. Respondeu que aquilo era covardia.
Francisco começou a cantar:
“Covarde sei que me podem chamar
Porque não calo no peito essa dor
Atire a primeira pedra, ai, ai, ai
Aquele que não sofreu por amor
Covarde sei que me podem chamar
Porque não calo no peito essa dor
Atire a primeira pedra, ai, ai, ai
Aquele que não sofreu por amor
Eu sei que vão censurar o meu proceder
Eu sei, mulher que você mesma vai dizer
Que eu voltei pra me humilhar
É, mas não faz mal
Você pode até sorrir
Perdão foi feito pra gente pedir
Covarde sei que me podem chamar
Porque não calo no peito essa dor
Atire a primeira pedra, ai, ai, ai
Aquele que não sofreu por amor
Covarde sei que me podem chamar
Porque não calo no peito essa dor
Atire a primeira pedra, ai, ai, ai
Aquele que não sofreu por amor
Atire a Primeira Pedra - Ataulfo Alves, Letra De Mário Lago”
A esta altura, alguns curiosos aplaudiram a apresentação do moço.
Sem graça a moça agradeceu a atenção, e chamou o homem para entrar em casa.
Nisto Francisco abraçou a mulher, beijou seus braços, suas mãos, seu pescoço.
Natália tentou afastá-lo, mas o homem continuou as investidas.
Entre um beijo e outro, pedia-lhe perdão por seus gestos impensados, pelas a atitudes que a
fizeram ficar magoada com ele.
Tentando encantá-la, Francisco começou novamente a cantar:
“Quero beijar-te as mãos
Minha querida
Senta junto de mim
Vem, por favor
És o maior enlevo
Da minha vida
És o reflorir do meu amor
Sinto nesta ansiedade
Que minha alma invade
Que me faz sofrer
A luz de um divinal querer
Eterna glória de viver
Se tu me quiseres tanto
Quanto eu que vivo
Para te adorar
Será um mundo de esplendor
O nosso amor
Amor, nosso amor.
Quero Beijar-te as Mãos – Anísio Silva“
Rendida, a moça deixou-se levar pelo encantamento proposto por Francisco.
Desta forma, o casal acabou se entendendo.
Natália perdoou o marido.
Nisto, tempos depois, a moça anunciou que estava grávida.
Francisco ficou exultante.
Quando precisou novamente viajar a trabalho, ficou preocupado em deixar a mulher sozinha.
Pedia a todo o momento a sogra, para que cuidasse de Natália, durante a sua ausência.
Aflito, pedia a todo o momento para Celina não desgrudar nem um minuto da filha.
Exagerado, dizia que Natália não poderia ficar sozinha.
Celina pacientemente, ouviu todas as recomendações do moço.
Depois, para tranquilizá-lo Celina comentou que gravidez não era doença, e que Natália iria ficar
muitíssimo bem sob seus cuidados.
Disse ao moço:
- Vá em paz! Vai ficar tudo bem.
E assim, Francisco partiu relativamente tranquilo.
Relativamente, por que em suas conversas com os amigos, não se cansava de dizer que Natália
estava grávida.
Chegou a mostrar a foto da esposa para todos os tripulantes do navio.
Estava exultante com a idéia de ser pai.
Meses depois, quando o homem retornou ao lar, Natália já havia dado luz a Lorena.
O casal havia escolhido juntos, o nome da criança.
Luciana Celestino dos Santos
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