Poesias

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO ANOS OITENTAS – AVENTURAS NOS CLUBES DE ESQUINAS

Capítulo 4

Triste Rafael começou a se desinteressar de seus afazeres.
Amuado, não queria mais saber de sair com seus amigos.
Lucas, preocupado com a apatia do amigo, comentou que no dia 11 de agosto seria comemorado
o Dia do Advogado, em homenagem a implantação dos cursos jurídicos no Brasil.
Ao ouvir isto, Rafael retrucou dizendo que não era advogado, e tampouco estudante de direito
para participar de tal evento.
Lucas retrucou então, que ninguém precisava saber disto.
Ao notar que o amigo precisava de uma injeção de ânimo, comentou que eles iriam participar do
“pindura”.
Curioso, Rafael perguntou do que se tratava.
No que Lucas respondeu:
- É um ritual no qual os estudantes de direito, tomam uma refeição em um restaurante, mas na
hora de efetuar o pagamento da conta, comunicam o fato de serem estudantes de direito. Realizam
um discurso e o valor que seria cobrado pela refeição não o é.
Rafael perguntou se este procedimento não causava problema.
Lucas comentou então, que geralmente os donos de restaurante aceitavam a tradição.
Com isto, Lucas arrastou o amigo, mesmo a contra-gosto para o evento. 
Antes, Lucas, Inácio, Artur, Rogério e Fabrício, participaram da “peruada”.
Dias antes, Lucas explicou que a “peruada” tinha origem ainda no Brasil Império, quando alunos
roubaram perus de um professor da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. 
Atrevidos convidaram o professor que fora furtado, para comer os perus. 
Daí para virar uma festa de repleta de música e de pessoas fantasiadas da mais variadas formas, foi um pulo.
Rafael ouvia estas palavras e achava graça.
E assim, lá se foram os amigos participarem da afamada “peruada”.
Fabrício, Rogério, Artur, Inácio e Lucas, passaram em meio a carros, cantaram, dançaram,
gritaram.
Só não beberam muito por que estavam se preparando para o “pindura”.
Mais tarde, os cinco rapazes se dirigiram até o apartamento de Rafael, que ficava no Centro de
São Paulo.
Arrastaram o homem relutante para a noite.
Chegaram em uma cantina e trataram logo de pedir um vinho.
Animados, comentaram sobre as estrepolias feitas durante o dia na “peruada”. Riram dos amigos
bêbados. Dos rapazes correndo feito malucos entre os carros.
Fizeram um brinde atrás do outro.
Celebravam:
- Viva o Dia do Advogado!
- Viva!
- Viva a “peruada”!
- Viva!
- Viva São Paulo!
- Viva!
Brindavam e bebiam.
Rafael achava graça de tudo.
A certa altura, os cinco rapazes começaram a cantar:
“São, São Paulo meu amor
São, São Paulo quanta dor
São oito milhões de habitantes
De todo canto em ação
Que se agridem cortesmente
Morrendo a todo vapor
E amando com todo ódio
Se odeiam com todo amor

São oito milhões de habitantes
Aglomerada solidão
Por mil chaminés e carros
Caseados à prestação

Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito
São, São Paulo
Meu amor
São, São Paulo
Quanta dor

Salvai-nos por caridade
Pecadoras invadiram
Todo centro da cidade
Armadas de rouge e batom
Dando vivas ao bom humor
Num atentado contra o pudor

A família protegida
Um palavrão reprimido
Um pregador que condena
Uma bomba por quinzena

Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito
São, São Paulo
Meu amor
São, São Paulo
Quanta dor

Santo Antonio foi demitido
Dos Ministros de cupido
Armados da eletrônica
Casam pela TV
Crescem flores de concreto
Céu aberto ninguém vê
Em Brasília é veraneio
No Rio é banho de mar
O país todo de férias
E aqui é só trabalhar

Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito
São, São Paulo
Meu amor
São, São Paulo
São, São Paulo - Tom Zé”

Nisto, os ocupantes das outras mesas aplaudiram a apresentação.
Inácio, Artur, Rogério, Fabrício e Lucas agradeceram os aplausos.
Rafael sugeriu então que eles pedissem logo a comida.
Fabrício concordou. Disse que estava morrendo de fome.
O grupo pediu pizza, macarrão e ravioli.
Comeram bastante.
Depois, pediram um cafezinho.
Fabrício, Rogério, Artur, Inácio e Lucas já estavam um pouco altos.
Nisto, Fabricio e Lucas, começaram a dizer:
- Viemos aqui hoje para celebrar uma importante data.
- Viva! – interromperam Artur, Rogério e Inácio.
A dupla continuou:
- Data de inauguração dos cursos jurídicos no Brasil. Tradição criada pelos estudantes da
Faculdade de Direito do Largo São Francisco.
- Bravo! Bravo! – aplaudiram Rogério, Inácio e Artur.
Fabrício e Lucas disseram:
- Viemos aqui hoje para cumprir a tradição do “pindura”. “Pindura” de pendurar a conta e brindar
a vida dos homens com poesia. Afinal, justiça tardia é antes de tudo injustiça flagrante e manifesta,
nos dizeres do poeta.
- Será que fora Rui Barbosa que dissera aquelas palavras? – perguntou-se Fabrício.
- Não importa quem disse. O que importa é que o direito é a ciência da justiça, do conhecimento
e da verdade. Afinal de contas, somos guiados o tempo inteiro pelo direito, pela lei. – emendou
Lucas.
- Viva o direito! – brindaram Artur e Inácio.
Rafael não parava de rir.
Rogério estava segurando uma garrafa de vinho já pela metade.
O dono do restaurante, ao saber do fato, disse aos rapazes que eles não precisavam pagar a
refeição.
Ofereceu-lhes outra garrrafa de vinho.
Nisto, os cinco rapazes continuaram bebendo.
Mais tarde, os rapazes resolveram brindar os fregueses do restaurante com outra canção:
“Só quem não te conhece,
Bem no fundo não pode entender,
Teus arranha-céus,
Neste escuro véu,
Sem o lume das estrelas.

Só quem não te conhece,
Ó cidade, não pode entender,
Teu postal sem cor,
O real valor,
Que se oculta em tuas sombras.
Universo de luzes e promessas,
Vitrine de ilusões,
Teus metais brilham mais,
No olhar dos inocentes.

Dia a dia o sol,
Abre seu farol sobre pedras,
Ilhas de ancorar corações solitários,
Nas multidões.

Teus caminhos cruzados,
Viajantes de toda direção,
Teus mortais,
Sonham mais,
Com ares do sertão,
Passageiros da paisagem,
Estações que vão no vento,
Em teu coração São Paulo…
São Paulo - (Thomas Roth/Luiz Guedes)”

Novos aplausos.
Nisto o grupo se despediu, agradeceu a gentileza do dono do restaurante, e partiu.
Lucas, Inácio, Artur, Rogério, Fabrício e Rafael caminharam pelo Centro da cidade. Já era quase
meia-noite.
Passaram pelo Vale do Anhangabaú, Viaduto do Chá, Rua Quinze de Novembro, prédios antigos,
Viaduto Santa Ifigênia, Mosteiro São Bento, Rua Boa Vista, Páteo do Colégio, Teatro Municipal,
Praça da Sé, Marco Zero, Catedral da Sé.
Enquanto admiravam a calma daquelas horas tardias, o grupo começou a cantar:
“É sempre lindo andar na cidade de São Paulo
O clima engana, a vida é grana em São Paulo
A japonesa loura, a nordestina moura de São Paulo
Gatinhas punks, um jeito yankee de São Paulo
Na grande cidade me realizar
Morando num BNH.

Na periferia a fábrica escurece o dia.
Não vá se incomodar com a fauna urbana de São Paulo
Pardais, baratas, ratos na Rota de São Paulo
E pra você criança muita diversão e pauluição
Tomar um banho no Tietê ou ver TV.

Na grande cidade me realizar
Morando num BNH
Na periferia a fábrica escurece o dia.
Chora Menino, Freguesia do Ó, Carandiru, Mandaqui, ali
Vila Sônia, Vila Ema, Vila Alpina, Vila Carrão, Morumbi, 
Pari,
Butantã, Utinga, Embu e Imirim, Brás, Brás, Belém
Bom Retiro, Barra Funda, Ermelino Matarazzo
Mooca, Penha, Lapa, Sé, 
Jabaquara, Pirituba, Tucuruvi, Tatuapé

Pra quebrar a rotina num fim de semana em São Paulo
Lavar um carro, comendo um churro é bom pra burro
Um ponto de partida pra subir na vida em São Paulo
Terraço Itália, Jaraguá, Viaduto do Chá.

Na grande cidade me realizar morando num BNH
Na periferia a fábrica escurece o dia
Na periferia a fábrica escurece o dia
São Paulo, São Paulo - (Oswaldo, Biafra, Claus, Marcelo e Wandy)”

Lucas e Rogério se abraçaram num poste.
O grupo dançou na rua.
Mais tarde, cada um seguiu a pé para sua casa.
Ao chegar em casa, Rafael, abriu a porta do apartamento, trancou-a, entrou em seu quarto e jogou-se na cama.
Dias depois ao se encontrarem, Lucas, Fabrício, Inácio, Artur, Rogério e Rafael, comentaram
animados sobre o “pindura”.
Literalmente penduraram a conta. Para não pagá-la.
Dias depois, o grupo voltou a frequentar o restaurante.
O dono do estabelecimento ao vê-los, perguntou se eles iriam pendurar a conta novamente.
Fabrício respondeu que não. 
Disse que infelizmente, aquele não era dia do advogado, em que pese
não achar nada mal a idéia de que todos os dias fossem dia do advogado.
O dono do restaurante riu.
Lucas e Rogério repreenderam Fabrício.
Comentaram:
- Dizendo isto, o que ele irá pensar dos advogados?
Rafael achava graça.
Distraído, ficava a pensar na moça, na estranha com quem se envolvera por uma noite.
Pensando se questionava, por se ocupar pensando nela. Por que não conseguia esquecê-la.
Ao notar que o amigo estava distraído, Lucas tratou de chamar o amigo a realidade.
Rafael, comentou que estava preocupado com seu trabalho.
Lucas fingiu acreditar. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 


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