Poesias

terça-feira, 29 de setembro de 2020

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 7

No dia seguinte, ao encontrar Paulina no banco, Cleide se aproximou, e comentou que ela e o irmão conversaram, tratando logo de pedir desculpas.
Dizendo que não estava nem um pouco confortável com o distanciamento entre elas, afirmou que Marina também não fizera por mal, todas aquelas perguntas.
Elas só estavam preocupadas com o súbito interesse de Ricardo por ela.
Paulina dizendo que elas não tinham com o que preocupar, afirmou que ela não precisava lhe pedir desculpas.
Cleide porém insistiu:
-- Não, não. Eu reconheço que fui inconveniente. Me desculpe.
Marina que de longe via a cena, aproveitou para se aproximar.
Ao perceber do que se tratava, também pediu desculpas.
-- Me desculpe. Eu também agi mal. No momento em que percebi que você não estava interessada em nos contar o que estava acontecendo, eu deveria ter me calado.
Paulina percebendo o empenho das amigas em se desculparem, aceitou os pedidos de desculpas.
E assim, as três voltaram a conversar.
No final do expediente, saíram juntas do banco e voltaram para casa.
Animadas, engataram uma conversa que parecia não ter mais fim.
Tanto que mesmo chegando no bairro, as três demoraram para entrar em suas casas.
Isso por que, ficaram conversando por um longo tempo na rua.
Alaor, ao ver a filha entrar em casa, comentou que a vira da janela, conversando com duas moças.
Paulina explicou-lhe então, que eram suas colegas de trabalho.
Alaor ao ouvir isso, retrucou:
-- Vocês ficam juntas o dia inteiro e mesmo assim, ainda encontram tempo para conversarem mais? Como pode?
Éster, ao ouvir o comentário do marido, tratou de defender a filha:
-- Ora homem! Deixe de ser implicante! Sua filha é jovem, tem aproveitar a vida, cultivar as amizades. Aproveitar enquanto ainda não tem que se preocupar com filhos, casa,
marido.
Alaor, ao perceber que não tinha argumentos, calou-se.
Mesmo contrariado, ficou em silêncio.
E desta forma jantaram.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 6

No sábado, conforme combinado, lá se foram Paulina e Ricardo passear.
Empenhado em impressionar a moça, Ricardo comentou que estava pensando em pedir uma promoção em seu trabalho, haja que vista que acumulava muitas funções e por isso fazia jus a um salário um pouco melhor.
Paulina, ao ouvir o rapaz, comentou que ele devia ter cuidado ao propor uma promoção, já que tudo tem o momento certo para acontecer.
Ricardo concordou.
Mas dizendo que tinha intenção de crescer na empresa, insistiu na idéia de promoção.
Paulina, por sua vez, dizendo que demoraria muito tempo para poder pedir uma promoção, comentou que ainda estava aprendendo seu trabalho.
Contudo, mesmo diante dos desafios, estava feliz por ter um trabalho.
Ricardo, disse:
-- Parece que este passeio está virando um segundo escritório. Vamos falar de outro assunto?
-- Tudo bem. – comentou Paulina.
-- Trabalhar é complicado mesmo. E eu tenho certeza de que, quando menos você esperar, vai estar ocupando um cargo de grande responsabilidade no banco. Não se preocupe.
-- Você também vai conseguir sua promoção. – comentou ela rindo.
Nisso, Ricardo perguntou-lhe se ela gostava de música.
Obviamente ela respondeu afirmativamente.
Ricardo, aproveitando essa oportunidade, resolveu convida-la para dançar.
Paulina aceitou prontamente.
-- Adoro dançar. – respondeu ela.
-- Eu também. A dança é uma válvula de escape, para todos os nossos problemas.
-- Concordo. É a maior manifestação da liberdade humana. Não existe nada mais livre do que o nosso corpo solto no ar, sentindo o ritmo da música.
-- Parece uma coisa primitiva.
-- Mas é bom. É uma sensação de liberdade muito grande. – reiterou Paulina.
Ricardo concordou.
Nisso, os dois continuaram a caminhar e a conversar.
Curioso, Ricardo queria saber há quanto tempo a moça morava no bairro, se estava gostando da vizinhança, do que gostava, etc.
Paulina, atônita com tantas perguntas, ia respondendo da melhor forma possível.
A certa altura, deixou escapar que Cleide e Mariana haviam perguntado insistentemente o que os dois haviam conversado.
Ricardo, ao descobrir a indiscrição da irmã, comentou que isso não ficaria assim.
Dizendo que Cleide ouviria poucas e boas, deixou Paulina desconcertada.
Isso por que a moça, ao proferir aquelas palavras, o fez sem intenção indispor Cleide e Marina com ele.
Apenas comentou por distração.
Dizendo que ele não precisava brigar com a irmã por conta disso, comentou que nada respondeu, e que sua vida não dizia respeito a ninguém.
Mesmo assim, Ricardo disse que tomaria satisfações.
Preocupada, Paulina insistiu:
-- Tudo bem. Mas não briguem por causa disso. Ela só me questionou por que estava preocupada com você. Ela não me conhece bem. Talvez tenha sido por isso.
-- Se bem conheço minha irmã. Não foi nada disso. Mas deixe estar.
Aflita, Paulina insistiu para que ele não brigasse com ela. Sentindo-se culpada, comentou:
-- Eu e minha boca! Se eu não tivesse falado nada. Você nem iria saber que isso aconteceu. Isso que dá falar sem pensar! Bem que meu pai vive me dizendo para ter cuidado
com o que digo!
-- Não! Você fez muito bem em me contar. Mas não se preocupe, eu não vou brigar com Cleide. Pode ficar sossegada.
Com isso, Ricardo mudou de assunto, e os dois voltaram a falar de amenidades.
Muito embora ambos estivessem incomodados com a atitude de Cleide, procuraram evitar falar novamente sobre isso.
A certa altura, Ricardo sugeriu a Paulina, tomar um sorvete.
A moça aceitou.
O dia estava quente, as crianças corriam pelo parque, e eles aproveitavam para conversar.
Por fim, depois de algumas horas, os voltaram para casa.
Gentil, Ricardo levou a moça até o portão de entrada de sua residência, onde se despediu.
Insistente, pediu para que ela não esquecesse do novo encontro dos dois.
Paulina prometeu que se lembraria.
Ricardo então, se dirigiu até sua casa.
Encontrando Cleide, comentou que não gostou de saber que ela havia inquirido Paulina sobre a conversa de ambos.
Cleide então respondeu:
-- Eu estava apenas preocupada. Afinal de contas, você nunca levou nenhum namoro a sério.
-- Mas isso não lhe dá o direito de se intrometer em minha vida, e muito menos envolver Marina nisso. Eu vou dizer só uma vez! Nunca mais faça isso, ou eu nunca mais
falo com você!
-- Ah é! E quem lhe deu o direito de falar assim comigo?
-- Você mesma! – respondeu ele de forma agressiva.
Cleide então, percebendo que ambos estavam se excedendo comentou:
-- Está certo meu irmão! Você tem todo o direito de ficar bravo comigo. Eu não agi direito. O que eu tinha que fazer era falar com você, e não ficar colocando Paulina contra a
parede. Coitada! Ela deve ter ficado muito constrangida com o meu comportamento.
-- Ficou. Mas ela não está aborrecida com você. Tanto que pediu para que eu não brigasse contigo.
-- Nossa! Muito legal da parte dela. Desculpe, Ricardo. Eu prometo que também pedirei desculpas a ela. Eu vou desfazer esse mal entendido, prometo.
Ricardo, constatando sinceridade nas palavras da irmã, aceitou suas desculpas.
E assim, esta questão foi resolvida.

Luciana Celestino dos Santos
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QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 5

Nisso, se seguiram os dias.
Marina então, pôde finalmente, retirar a segunda via de seu RG, CIC, Título de Eleitor.
Como era só para retirar seus documentos, a moça gastou menos tempo na rua.
Sozinha, lá se foi logo cedo, resolver este assunto.
Todavia, ainda assim, necessitou ser dispensada do trabalho, durante a manhã.
Por esta razão, avisou seu chefe com antecedência.
Desta forma, só trabalhou durante à tarde.
Quando chegou ao banco, Paulina e Cleide, por sua vez, já estavam trabalhando a
pleno vapor.
Mesmo atarefadas, as duas, ao verem Marina chegando, comentaram entre si:
-- Ainda bem que ela chegou.
Sim o trabalho de caixa, era realmente exaustivo.
E quando alguém precisava faltar por um algum motivo, o trabalho, que já era puxado, ficava ainda pesado.
Isso por que, as pessoas, vão todos os dias ao banco, realizam saques, efetuam depósitos, pagamentos.
E tirando as operações mais complicadas, que são feitas com os gerentes, o trabalho mais pesado fica com os caixas.
Sem contar que mesmo após encerrado o atendimento ao público, os funcionários precisam verificar se os valores estão corretos.
Se não está faltando dinheiro.
Uma tremenda responsabilidade!
E assim, Marina, Cleide, Paulina, e os demais funcionários, ficavam praticamente o dia inteiro as voltas com números.
Uma trabalheira.
Mas elas gostavam do trabalho.
Não bastasse isso, no final do dia, lá se ia Cleide e Marina estudar.
Depois do jantar, lá estavam elas em meio aos livros, estudando, se dedicando.
Tudo com o intuito de passar no vestibular.
Ricardo, por sua vez, só pensava em sair com os amigos e se divertir.
Eugênia, vivia dizendo para o garoto voltar a estudar, mas ele não queria nem saber.
A única coisa que ele fazia, era dizer que estudar não era para ele.
Cleide não estudava?
Então, já era o bastante. Em seu modo de pensar.
E assim, de vez em quando assistia televisão e acompanhava o noticiário. Somente.
Mais nada.
A Eugênia – sua mãe –, só restava se conformar.
Afinal de contas, Ricardo já era adulto e ela não poderia mais obrigá-lo a nada.
Desta foram, ao ver que era inútil convencer seu filho do contrário, foi cuidar da louça.
Enquanto isso Cleide e Marina estudavam.
Dedicadas, passavam algumas horas estudando.
Sim, estavam realmente dispostas a ingressar em uma universidade.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 4

No dia seguinte as duas amigas novamente encontram Paulina.
Ricardo, que estava indo mais cedo para o trabalho, também as encontrou no ponto de ônibus aguardando a condução chegar.
Estava um dia frio e todos estão muito bem agasalhados.
Bem agasalhados para as três garotas que trabalham no banco é um pouco difícil por conta do uniforme, mas para Ricardo, é mais fácil.
Mas voltemos ao encontro.
Ricardo, finalmente encontra sua loura fabulosa.
Percebendo que a garota conhecia sua irmã e a colega de vizinhança, logo se apresenta.
-- Prazer! Meu nome é Ricardo. Qual é o seu?
-- Paulina.
-- Vocês três se conhecem há muito tempo?
-- Não muito! Eu vim a conhecer a Cleide e a Marina quando fui trabalhar no banco. – respondeu a moça.
-- E você mora há muito tempo neste bairro? – perguntou ele, curioso.
-- Apenas alguns meses. Mas já estou me enturmando.
-- Desculpe-me. Eu esqueci de apenas um detalhe. Marina é minha vizinha há bastante
tempo e Cleide é minha irmã. – respondeu ele ao perceber que Marina e Cleide olhavam-no
com curiosidade.
-- A sim? É verdade, Cleide já havia falado que tinha um irmão! – respondeu Paulina.
-- E você está gostando do trabalho? – perguntou ele.
-- Um pouco. O ritmo é um tanto quanto puxado. – comentou ela.
Nisso, Cleide e Marina começaram a rir.
Ricardo ao perceber o ar de deboche, não gostou nem um pouco. Mas não se intimou.
Continuou a conversar com a moça.
-- Mas não tem jeito. Quem trabalha tem que se dedicar muito. Eu também. Quando
eu chego no escritório em que trabalho, é uma correria danada. Mal tenho tempo de respirar.
-- E o que você faz? – perguntou Paulina.
-- Eu sou auxiliar administrativo.
-- Que legal! E você trabalha há muito tempo? – continuou Paulina.
-- Muito! Muito tempo. Eu estou trabalhando neste escritório, há cinco anos, desde que eu comecei a trabalhar.
Nisso, o ônibus finalmente apareceu.
Ricardo, que estava indo para a mesma região, acompanhou as três durante o percurso.
E assim, aproveitou para continuar conversando com Paulina dentro do lotação.
Conversa vai, conversa vem, Ricardo descobriu que a moça não tinha namorado.
Fato este que o agradou profundamente.
-- Então a senhorita está sozinha no momento! – comentou Ricardo.
-- Por quê? – perguntou Paulina, curiosa.
-- Por nada. Apenas te achei bonita demais para ficar sozinha. Que homens mais distraídos, meu Deus! Onde já se viu, uma mulher linda como você, sozinha.
Encabulada, Paulina sorriu constrangida.
Ricardo, aproveitando a oportunidade, tascou logo um novo comentário:
-- Não fique constrangida não. Afinal de contas, eu não falei nenhuma bobagem.
Paulina ficou ainda mais sem graça.
Ricardo, percebendo o constragimento da moça, disse:
-- Paulina! Mil perdões! Que falta de jeito essa minha. Você já deve estar cansada de tantos comentários sobre sua beleza, não é mesmo? ... Percebo que não estou sendo nem um
pouco original. Mil perdões, mais é que as circunstâncias não me permitem ser mais criativo. Por esta razão, eu gostaria de te convidar para um passeio. Não me leve a mal. É apenas um passeio.
A moça ao receber o convite ficou surpresa.
Marina e Cleide que os observavam à distância, se seguravam para não rirem da cena.
Ricardo todo gentil diante de Paulina, era uma cena cômica para as duas, que nunca tinham visto o rapaz se derramar em tantas gentilezas.
Nisso, chegou à hora das moças descerem do ônibus.
Ricardo, que aguardava com ansiedade a resposta de Paulina sobre o convite para passear, teve que repetir o convite.
Desta forma, somente quando a moça desceu do ônibus, é que o rapaz finalmente obteve a resposta.
-- Sim, eu aceito. – respondeu Paulina, para sua alegria.
Feliz, Ricardo finalmente sentou-se num banco, e depois de alguns minutos finalmente desceu da condução.
Como o escritório distava algumas quadras do ponto, o rapaz teve que andar um pouco até chegar ao local de trabalho.
Feliz, logo que sentou em sua mesa, comentou com Claudionor:
-- Lindo dia! Não é mesmo?
Claudionor, surpreso com o comentário, disparou:
-- Poxa vida! Eu não sabia que você gostava de contemplar a natureza!
Ricardo riu do comentário.
Claudionor então, dizendo que precisava tirar algumas cópias de documentos, retirou-se do recinto.
Ricardo então, começou a trabalhar. Como de costume, datilografou documentos, realizou operações contábeis, orientou o trabalho dos contínuos, e pediu a Claudionor que
autenticasse mais alguns papéis, bem como entregasse alguns documentos.
E lá se foi Claudionor novamente para a rua.
Em razão de seu ofício, o rapaz freqüentemente, passa muito tempo na rua.
Certa vez, seu amigo Ricardo, percebendo o quão era sacrificado seu trabalho, comentou que quando ele se cansasse de levar e trazer documentos, poderia perfeitamente,
ser taxista, já que conhecia a cidade com a palma da mão.
Ao se lembrar desse comentário, Claudionor sorriu.
No final do dia, ao retornar ao escritório, o rapaz, percebendo o ar de felicidade no rosto de Ricardo, perguntou-lhe o por quê de tanta satisfação.
Ricardo respondeu:
-- Ora meu amigo. E que mal há em ser feliz? Eu estou feliz por que a vida é boa comigo. Só.
-- Sei. Agora você vai me dizer que esse sorriso estampado em seu rosto não tem nenhum motivo.
Tiago, que vinha passando, carregando duas caixas de papelão – repletas de documentos para serem arquivados, comentou ironicamente:
-- Ora, Claudionor! O motivo é o de sempre: mulher!
Claudionor então, percebeu o que estava se passando.
Por esta razão, comentou:
-- Ah! Agora eu entendo todo esse mistério! Só podia ser mulher. Não sei como não percebi isso antes.
Curioso, Tiago perguntou:
-- E aí? Conseguiu conversar com ela?
Fazendo charme, Ricardo respondeu que só voltaria a tocar no assunto quando conquistar a moça.
Desapontados, Tiago e Claudionor, começaram a provocá-lo dizendo que ele estava enrolando demais para tomar a iniciativa.
Aborrecido o rapaz disse:
-- Não me amolem! Vão arrumar o que fazer!
Nisso, Cleide e Marina, curiosas para saber sobre o que Paulina e Ricardo falaram no ônibus, não paravam de fazer perguntas à moça.
Atordoada, Paulina não sabia mais o que dizer para desconversar. Incomodada com tanta curiosidade, a todo momento respondia que não foi nada de mais.
Mas Cleide, comentou que ouviu ela dizer que aceitava alguma coisa.
Insinuando que seu irmão a convidara para sair, queria por que queria que Paulina lhe revelasse o tema da conversa.
Paulina não entanto, se fechou em copas.
Reservada, não queria entrar em detalhes.
Por esta razão, respondia com evasivas.
Essa atitude, frustrou bastante Cleide.
Marina então, percebendo que a amiga estava sendo um pouco inconveniente, sugeriu para que elas deixassem Paulina a sós.
Cleide, concordou.
Conversando com Marina, a moça comentou que Ricardo não era flor que se cheirasse, e que só estava tentando ajudar Paulina.
Marina respondeu:
-- Eu sei, amiga. Mas Paulina, não te conhece direito.
-- Sim! Mas...
Marina interrompeu a amiga:
-- Eu sei que você vai me dizer que ela apesar de não nos conhecer bem, ela sabe mais de nós do que de Ricardo...
Desta vez, foi Cleide que interrompeu o pensamento de Marina.
-- Mas é justamente por isso, que ela deveria nos contar. Eu conheço meu irmão.
-- Sim, Cleide. Mas quem garante que ela está interessada nele? Pode ser apenas um encontro, isso que não quer dizer nada. Pode ser que não dê em nada.
-- Você acha?
-- Sim. E também, se der em alguma coisa, quem garante que ele realmente não está interessado de verdade nela?
-- A minha amiga. Eu não sei não. Estou muito desconfiada dessa história. – insistiu Cleide.
-- Tudo bem. Mas deixa pra lá. Isso não é mais problema seu. – comentou Marina.
-- Está certo. Ela que tenha cautela.
Nisso, as duas trataram de pegar seus pertences e, despedindo-se de Paulina, voltaram para casa.
Mais tarde as duas se encontraram e continuaram sua rotina de estudos.
Paulina por sua vez, demorou um pouco mais para sair do banco.
Desejando evitar Marina e Cleide, voltou mais tarde para casa.
Alaor, seu pai, já estava ansioso com tanta demora.
Éster, já não sabia mais o que fazer para acalmá-lo.
Foi quando finalmente Paulina entrou em casa.
Dizendo que havia se atrasado por conta do trabalho, ouviu as seguintes palavras de seu pai:
-- Está bem! Se foi por um motivo justo, eu não vou me aborrecer com você.
Éster, que já havia posto o jantar na mesa, pediu logo para a filha se sentar.
Nisso os três jantaram.
Após o jantar, Éster comentou com sua filha que estava gostando de ver sua dedicação com o trabalho.
Até mesmo Alaor concordou com sua esposa.
Parecia que finalmente Paulina estava se tornando responsável.

Luciana Celestino dos Santos
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QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 3

E eis que surge uma nova manhã.
Como de costume, Paulina está atrasada para mais um dia de trabalho.
Aturdida, quase esquece sua bolsa em cima da mesa.
Não fossem os apelos de seu pai, Alor e ela teria que voltar correndo para casa atrás da bolsa.
Ê, mocinha distraída! Só não esquece a cabeça por que ela está grudada em cima do pescoço!
Ao sair de casa, despede-se dos pais apressadamente, e corre alvoroçada para o ponto
de ônibus.
Lá encontra Cleide e Marina conversando com a possibilidade de se tornarem
universitárias.
Paulina que nem de longe cogitava voltar a estudar, comentou:
-- Vocês são muito corajosas de a essa altura da vida voltarem a estudar! Imagine só,
conciliar trabalho e estudo. Não vai ser nada fácil!
-- Realmente! Mas a nossa vontade de progredir é maior do que as dificuldades. Além
do que, a vida já está difícil. Dificuldade por dificuldade, esse é o menor dos nossos
problemas. – respondeu Cleide.
Nisso o ônibus chegou. Ao verem o ônibus lotado, quase desanimaram.
-- Ah, meu Deus! E agora? – perguntou Marina.
-- Xi! Nesse horário é melhor encarar. Se nós ficarmos esperando outra condução,
nós não chegaremos a tempo no trabalho. Seja o que Deus quiser! – comentou Cleide.
-- Então, vamos que vamos. – emendou Paulina.
E entraram. Mas que sufoco! Mais espremidas do que costume, as três garotas
chegaram no centro da cidade cansadas. Ao adentrarem a agência o vigia ao vê-las, comentou
espantado:
-- Nossa! Mas que caras! Parece que chegaram até aqui em um comboio de guerra.
-- Pois foi quase isso, Seu Elias. O ônibus estava mais cheio do que de costume. –
comentou Marina.
-- É eu sei. Parece estão circulando em menor número. – comentou Elias.
-- E o senhor sabe por quê? – perguntou Cleide.
-- Parece que vai haver um protesto. – respondeu o vigia.
-- Minha nossa! Só faltava nós não termos como voltar para casa! – comentou
apreensiva Paulina.
-- Eu acho que não vai ter problema não. Até o final do expediente, tudo se resolve.
– respondeu Elias.
-- Assim esperamos. – disseram as três em uníssono.
Com isso, as três garotas trataram logo de começar o trabalho.
Como de costume, verificaram o caixa, ouviram algumas instruções do gerente, e logo que a agência abriu,
começaram a atender os clientes.
Ricardo, auxiliar administrativo, na mesma região, também saiu cedo de casa.
Já no escritório, começou a sua rotina de organizar papéis e realizar cálculos.
Mais tarde orientaria Claudionor para levar documentos para serem autenticados no cartório.
Zeloso com seu trabalho, Ricardo orientava os contínuos em sua rotina diária de levar
e trazer papéis.
Com isso, lá se ia Claudionor, com sua pastinha debaixo do braço, levar documentos
para serem autenticados. Mais tarde realizaria pagamentos por meio do malote.
Vidinha corrida essa, onde o vai-e-vem é uma constante!
São Paulo, em seu vai-e-vem, ao cair da tarde, finalmente concedeu o merecido
descanso aos nossos laboriosos e esforçados cidadãos. Era o momento da volta para casa.
Ônibus lotados, muita gente nas ruas. Até o merecido descanso.
Ao chegar em casa, Marina cumprimenta os pais e comenta sobre mais um dia de
trabalho.
Em seguida, janta rapidamente e se dirige à casa da amiga Cleide.
Lá encontra Cleide em meio a muitos livros. E mais uma vez as duas permanecem
por horas em meio aos livros.
Animadas estudam história. Relembram os tempos de escola e recordam-se de alguns
pontos de matemática.
Ricardo por sua vez, chega em casa e, enquanto sua dedicada irmã estuda, ele
aproveita para acompanhar o noticiário.
Eugênia, sua mãe, aproveita para levar a louça até o cozinha e lavá-la.
Na casa dos pais de Marina, a mesma coisa. Adélia retira pratos, talheres e panelas da
mesa e leva tudo para a pia.
Otávio também acompanha o noticiário.
Quando termina, é a hora da novela que Adélia acompanha assiduamente.
Otávio, que não vê a menor graça nisso, comenta:
-- Não sei como é que você pode gostar disso. Com tanta coisa acontecendo no Brasil,
as pessoas lutando para que tudo mude e você ai, grudada na frente dessa televisão como se
a história de uma novela fosse mais importante que a história do Brasil!
-- Grandes coisas! Como se a história do Brasil fosse realmente muito importante!
Não me amole, me deixe assistir minha novela. É uma das poucas distrações que ainda é
possível ter.
-- Está certo! Está bem! Depois não diga que eu não avisei. – retrucou ele amuado.
Com isso, finalmente terminou a novela. E Marina continuava na casa de Cleide.
Preocupado, Otávio perguntou a esposa, se Marina não estava demorando muito para
voltar.
Descontraída, Adélia respondeu:
-- Está sim! Mas espere um pouco mais. Daqui a pouco ela vai estar estourando por
aí.
Dito e feito. Não demorou cinco minutos e lá estava ela de volta. Cansada, ela
comentou que teria que levantar cedo para tirar novas vias de seus documentos.
-- Vou tirar uma segunda-via de todos os meus documentos. Isso vai me dar uma
trabalheira tão grande e uma canseira, que eu sinto preguiça só de imaginar.
-- Quer que eu vá com você? – perguntou Otávio.
-- Se o senhor quiser. – respondeu Marina.
-- Posto então, iremos juntos. – comentou ele.
E assim foi feito. Como de costume, ambos acordaram cedo e trataram logo de se
dirigirem aos órgãos competentes onde conseguiram solicitar a segunda-via de todos os
documentos.
Nessa brincadeira, levaram o dia inteiro.
Quando Cleide foi até sua casa para as duas estudarem, Marina comentou sobre sua
peregrinação.
-- Uma trabalheira danada! A minha sorte é que não estava com minha carteira de
trabalho. Já bem pensou, ter que tirar uma segunda-via e refazer todos os registros?
-- É verdade!
-- Em compensação, vai ser uma nova via do RG, do CIC, do Título de Eleitor.
-- Mas ainda bem que é só isso. – respondeu Cleide.
-- É agora é só aguardar. Haja paciência. Ainda bem que não preciso desses
documentos com tanta urgência. Senão, estaria perdida.
-- Ainda bem. Mas agora, mudando de assunto, vamos estudar? – sugeriu Cleide.
-- Assim, vamos.
E nisso as duas amigas começaram a abrir livros e a ler sobre os mais variados
assuntos. Também fizeram alguns exercícios de química e matemática.
Mais tarde, Marina e Cleide se despediram, e Ricardo finalmente chegou em casa.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 2

No dia seguinte, ela e sua amiga iniciaram mais um longo dia de trabalho. Ao
tomarem o ônibus, fizeram todo o percurso do trabalho em pé.
Ricardo por sua vez, também foi trabalhar. Numa época que emprego que era algo
certo, o rapaz também seguia num ônibus lotado até o centro da cidade para trabalhar. Era
auxiliar administrativo em um escritório da região.
Sua rotina de trabalho também era bastante puxada. Mas ao contrário da irmã, Cleide,
não estava muito interessado em estudar. Tanto que sempre que podia, ao final do expediente,
aproveitava para sair com os amigos.
Neste dia não foi diferente. Enquanto ele saía com os amigos pela cidade,
freqüentando os botecos da cidade, Marina e Cleide aproveitavam para estudar.
Assim, depois de jantar, Cleide foi até a casa de Marina. Carregada de livros, tratou
de fazer Marina ler. Revendo as matérias do colegial, Marina demonstrou um pouco de
dificuldade em se concentrar e apreender as informações, mas Cleide, paciente, explicava
para a amiga, tudo o que ela não entendia.
Otávio, ao ver as duas amigas estudando juntas, ficou deveras feliz.
Tanto que quando Cleide se despediu da amiga e voltou para casa, ele aproveitou para elogiar a atitude da moça.
-- Que grande amiga é essa Cleide, não?
-- Com certeza! Outra em seu lugar não teria metade da paciência que ela teve em me
explicar as coisas que eu não entendi.
-- Está muito difícil?
-- Um pouco. Mas ela me disse que logo logo eu vou tirar isso de letra.
-- Com certeza! Filha minha não nega a que veio. – respondeu Otávio sorridente.
-- Eu espero que o senhor esteja certo!
Nisso Ricardo, Claudionor, Tiago e Clóvis, caminhavam pelas ruas da cidade.
Freqüentadores dos bares, os quatro amigos inseparáveis não se cansavam de comentar suas
peripécias e incursões pela Terra da Garoa. Animados a certa altura, depois da caminhada,
sentaram-se em um bar e começaram a falar do filme que haviam acabado de assistir.
Ricardo disse:
-- Adoro estes filmes! Estas histórias água com açúcar me cansam. Só a Cleide mesmo
pra gostar do John Travolta.
-- Mas que ouvir a Olívia Newton John cantando não é nada mal, ah, isso não é que
não! – retrucou Tiago.
-- É verdade! Eu não tinha visto a situação por este ângulo. – reconheceu Ricardo.
-- Tudo bem! Está certo que esta atriz é muito bonita, mas que filmes de luta são bem
mais interessantes, ah isso são mesmo! – concordou Clóvis
-- E os filmes do Charles Bronson? – perguntou Claudionor.
-- Melhor que isso, só Bruce Lee, ou qualquer outro filme de lutas marciais. – disse
Tiago.
-- Com certeza. – concordaram todos.
Mas além de filmes, os rapazes também gostavam de comentar sobre seu dia-a-dia, o
trabalho. Contudo o assunto que eles mais gostavam de falar, era esse: mulheres.
-- Outro dia indo para o trabalho, eu encontrei uma loira tão bonita no ônibus! –
comentou Ricardo.
-- Ah é? E você sabe o nome dela? – perguntou Claudionor curioso.
-- Não, infelizmente não! Quando eu estava tomando coragem e finalmente ia me
aproximar pra puxar papo, ela desceu do ônibus. – respondeu Ricardo.
-- Nossa! Que grande conquistador você está me saindo! Não consegue nem descobrir
o nome da mulher. – comentou Tiago irônico.
-- Ah, gente! Calma lá, também né? Como eu ia saber que ela ia descer justamente
quando eu estava me aproximando? Mas não pensem que eu me dei por vencido. Eu ainda
vou conseguir conversar com ela.
-- Mas ela é bonita mesmo? – insistiu Clóvis.
-- Muito. Tanto que não é fácil encontrar belezas como a dela por ai. Aquela loura é
uma em um milhão. – comentou Ricardo.
-- Pois eu aposto que deve ser feia. Tão feia que você nem tem coragem de nos
apresentar. – provocou Clóvis.
-- É nada. É linda, é mais linda do que todas as garotas que vocês já conheceram! –
retrucou Ricardo.
-- Mais bonita que a Marina? – perguntou Claudionor.
-- Ah, Claudionor, aí é covardia. Você vai querer comparar duas belezas sem igual no
mundo? Não dá, meu chapa! Não dá!
-- Pois eu começo a desconfiar de que essa loira deve ser realmente fenomenal. Eu
quero conhecer. Quando você finalmente conseguir se apresentar a ela, apresente-a a nós. Eu
prometo não ficar com saliências. – respondeu Clóvis.
-- Está certo! Assim que tiver a oportunidade, eu a apresento a vocês. Só que antes
ela precisa me conhecer. – respondeu Ricardo.
-- Esse Ricardo! Já está se sentindo um galã de novela. – ironizou Claudionor.
-- Um verdadeiro Toni Ramos. – comentou entre risadas, Tiago.
-- Ah, vocês estão rindo? Pois me aguardem. Eu ainda vou fisgar esse mulherão.
Risos.
-- Vocês duvidam? Pois então, esperem para ver. – retrucou Ricardo.
-- Está certo! Vamos aguardar. – ironizou Claudionor.
E assim a conversa prosseguiu. Ora os quatro rapazes falavam sobre as mulheres, ora
comentavam sobre o que teriam que fazer no dia seguinte.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 1

São Paulo, manhã de 1977, Marina e Cleide se preparam para mais um dia de trabalho.
Amigas, são funcionárias de um Banco, no qual atuam na função de caixa. Como todos os
paulistanos que vivem na mesma condição, ambas se levantam cedo, se arrumam, tomam o
café da manhã, e vão até o ponto de ônibus, onde esperam por quase meia-hora a condução
para poderem ir até o centro da cidade, onde trabalham.
No caminho, conversam sobre diversos assuntos, inclusive, os planos de vida.
Cleide, entusiasmada com a vida apesar das dificuldades, revela que pretende cursar
uma faculdade e lutar por uma vida melhor.
Marina a aprovou.
Cleide comenta:
-- Sim! Eu quero muito cursar uma faculdade, ter uma profissão. Eu não quero ficar
o resto da minha vida trabalhando como caixa em Banco, não. Não que a profissão não seja
digna, mas eu sonho com muito mais que isso. Sonho com uma vida melhor, menos
sacrificada.
-- Cleide, você tem toda a razão! A vida está muito difícil! Não dá mais pra continuar
desse jeito. Temos que fazer alguma coisa. Meu pai sempre diz que se a gente quer ser alguém
na vida, tem que estudar. O único caminho que nós temos é a escola. Não nascemos em berço
de ouro, então só podemos contar com nós mesmas.
-- Com certeza Marina! Por isso que quando eu chego do trabalho eu trato logo de
pegar nos livros e estudar. Quero tentar o vestibular no final do ano. Por que você não tenta
também? Ainda dá tempo de estudar.
-- Não sei amiga! A vida tem estado tão corrida nos últimos tempos! Não sei se vou
conseguir dar conta de tudo.
-- Não vai! Mas é lógico que vai! Você é esperta, inteligente. Você pode conseguir
tudo, Marina. Tudo, só tem que querer.
-- Sei lá! As vezes as coisas são tão complicadas!
-- Deixe disso Marina! Se for o caso, nós podemos estudar juntas. Pra que curso você
pretende concorrer?
-- Deixe-me ver... Olha, eu sempre gostei de ajudar as pessoas. Talvez eu preste para
assistente social.
-- Uma bela carreira sem dúvida. Pois eu penso em prestar vestibular para o curso de
letras.
-- É verdade Cleide! Você sempre me falou que gostaria de ser professora.
-- Sim, eu acho fascinante lecionar.
-- Sempre participou das aulas!
-- Pois é.
Nisso, eis que chegam no centro da cidade.
Já é hora de entrarem na agência em que são funcionárias e começarem a trabalhar.
A rotina é cansativa, o trabalho é incessante e somente no final da tarde as duas finalmente puderam retomar o assunto.
Enquanto as duas amigas conversavam distraidamente quando um menor se aproximou das
duas e aproveitando de um instante de distração delas e subtraiu a carteira de Marina.
Quando a moça percebeu o furto, o ladrãozinho já estava a metros de distância, e não havia mais nada
para ser feito.
A única coisa que lhe restou a fazer, foi reclamar.
Por isso:
-- Mas que absurdo é esse? Onde é que essa violência vai parar?
Surpresa, Cleide perguntou:
-- Mas o que houve, Marina?
-- Um ladrãozinho levou meus documentos. E agora, como eu vou pagar a passagem
do ônibus? – indagou a moça aflita.
-- Calma Marina, eu pago sua passagem. Mas eu acho que devemos passar antes em
uma delegacia, e relatar o que aconteceu.
-- Está certo.
Solícita, Cleide acompanhou Marina até a delegacia de polícia.
Ao voltarem para casa já tarde da noite, a moça estava inconformada com o ocorrido,
dizendo que São Paulo estava a cada dia pior, Marina precisou ser consolada por Cleide.
-- Ora amiga, isso acontece. Mas não se preocupe. Não foi você mesma que me disse
que aquele garoto não roubou nada de valor?
-- Sim, falei e repito. A questão não é o dinheiro roubado em si. O problema é que eu
vou ter tirar uma nova via de todos os meus documentos, vou ficar preocupada com o uso
que esse delinqüente vai fazer deles... Você já parou para pensar em tudo isso, Cleide? Sem
falar na paranóia da gente!
-- Está certo! Está bem! Eu concordo com tudo o que você disse. Foi muito
desagradável. Mas pense bem. Poderia ter sido bem pior. Já pensou se ele estivesse armado?
Pense só no susto que seria. Além disso, o que aquele menor fez só o vai prejudicar.
Provavelmente ele vai usar o dinheiro para se drogar.
-- Se drogar? É verdade! Eu não tinha pensado nisso. Provavelmente ele furtou minha
carteira para arrumar dinheiro para se drogar.
-- Pois é! E como é que uma futura assistente social reage dessa maneira? Você já
parou para pensar que quando estiver atuando, acabará se deparando com esse tipo de
situação? Minha amiga, se você pensa realmente em seguir esta carreira, é melhor mudar
seus conceitos.
-- É Cleide. Você sempre com uma palavra sensata. Eu vou pensar nisso. Até por que,
dificilmente vão pegar aquele garoto. E se o pegarem, quem sabe qual será o futuro dele?
-- Marina, parece que finalmente você está entendendo melhor as coisas.
-- É verdade! – respondeu pensativa.
Curiosa, Cleide perguntou:
-- O que foi?
-- Por um instante eu pensei que seria muito bom tentar uma vida melhor... Pensando
bem Cleide, eu acho que vou aceitar sua sugestão. Já que não tenho condições financeiras de
freqüentar um cursinho, vamos estudar juntas para passar no vestibular. Você realmente acha
que ainda dá tempo?
Cleide sorriu:
-- Claro que sim! Mas eu aconselho começar o quanto antes. Que tal amanhã?
-- Amanhã? Claro, sem falta. Eu prometo que amanhã estarei mais animada.
-- Ótimo! Então até amanhã, Marina. – respondeu abraçando a amiga.
-- Até amanhã, Cleide. – disse Marina.
Marina, educadamente, conduziu Cleide até a porta. Como as duas moravam a poucos
metros de distância, Cleide chegou logo em casa.
Ricardo e Eugênia, seu irmão e sua mãe, respectivamente, ficaram preocupados ao
perceberem que Cleide demorava para retornar.
Ao verem-na chegar tão tarde em casa,
crivaram-na de perguntas:
-- Cleide, onde esteve minha filha? – perguntou Eugênia.
-- Minha mãe, você não vai acreditar!
-- Pois então, conte! – respondeu Ricardo.
Aflita, Eugênia disse:
-- Quieto Ricardo, deixe Cleide falar.
Nisso a moça começou a falar:
-- Desculpem-me pela demora. Mas aconteceu um imprevisto.
-- Que imprevisto? – perguntou Eugênia curiosa.
-- É que quando eu e minha amiga voltávamos para casa, um menor furtou a carteira
de Marina. Aí tivemos que ir até a delegacia. E foi um fiasco.
-- Por quê? – perguntou Ricardo.
-- Por que, em razão da rapidez da ação do garoto, eu e minha amiga não pudemos
identificá-lo e assim, não há o que se fazer.
-- Nada? – perguntou Eugênia.
-- Nada, nada, não. É claro que foram adotadas as providências de praxe, mas nada
de extraordinário, foi feito o B.O. Só que agora minha amiga vai ter que tirar uma segunda
via de todos os seus documentos.
-- Isso vai dar uma trabalheira! – respondeu Eugênia penalizada.
-- Pois bem! E com isso, provavelmente minha amiga vai precisar faltar alguns dias
no trabalho.
-- Que chateação! – insistiu Eugênia.
-- Mas ainda bem que não foi nada mais grave.
-- Com certeza! Já pensou se ao invés de simplesmente furtar, o menor a tivesse
ameaçado com uma arma? Teria sido bem pior. – respondeu Ricardo.
-- Mas enfim, mudemos de assunto. Eu vou já esquentar seu jantar minha filha.
-- Está bem mãe.
Na casa de Marina, o alvoroço era geral, Otávio – seu pai – e Adélia – sua mãe –,
estavam inconformados com o incidente.
Otávio era o mais nervoso.
Revoltado, dizia que a situação de São Paulo estava piorando a cada dia.
Marina por sua vez, já refeita do aborrecimento que passara, comentou:
-- Ora papai, todo mundo está sujeito a isso! Eu já nem estou mais me importando com isso.
-- Mas isso é um absurdo minha filha, esta cidade não pode continuar desse jeito. Se
não, onde nós vamos parar. Se a freqüência de assaltos continuar aumentando dessa maneira,
daqui a pouco nós não poderemos mais sair de casa. O medo vai ser tanto que as pessoas vão
sair de casa inseguras, sem a certeza de que irão voltar.
-- Papai! Não exagere.
-- Não minha filha, não é exagero. Se as coisas continuarem do jeito que estão, daqui
a pouco não teremos mais controle da situação. E São Paulo é uma cidade tão bonita, não
merece ser maltratada dessa forma. Por que as autoridades não tomam uma providência? Por
que ninguém faz nada? Isso é uma pouca vergonha!
-- Acalme-se Otávio! Não é pra tanto! Foi desagradável? Foi, mas não é por isso que
você tem que transformar um simples incidente em um cavalo de batalha. Há coisas piores
acontecendo por aí todos os dias. – respondeu Adélia, tentando dissuadir o marido de fazer
mais um discurso inflamado.
-- Mas isso é muito grave, esta cidade está se tornando uma terra sem lei. Não
podemos concordar com isso Adélia.
-- Eu sei que não Otávio! Não devemos nunca nos conformar com as coisas erradas.
Só que eu não acho que ficar fazendo discurso resolve alguma coisa.
-- Está bem, Dona Adélia! Você mais uma vez está coberta de razão! Se discurso
resolvesse alguma coisa, o nosso Brasil seria um dos melhores países do mundo. É ver os
enorme discursos vazios de nossos políticos. Realmente você tem razão, nós precisamos de
gente atuante, não de políticos pernósticos, que só sabem falar enrolado para engambelar o
povo.
-- Falou o nosso grande sábio. – respondeu Adélia.
Marina concordou com seu pai.
Enquanto jantavam, já que seus pais sempre a esperavam para isso, Marina comentou que estava pensando em voltar a estudar.
Otávio, que desde que a filha deixara o colegial insistia para que ela voltasse a estudar,
ficou muito feliz. Entusiasmado, perguntou o que ela pretendia fazer:
-- Olha, eu ainda não estou muito certa, mas eu vou estudar junto com minha amiga
Cleide, ela pretende cursar letras e eu pretendo ser assistente social.
-- Assistente social? Não poderia ser alguma profissão mais promissora não? –
perguntou um pouco desapontada, Adélia.
-- Ora mãe, se foi a senhora mesma que comentou que é hora de agirmos, por que não
uma profissão como essa? Quem sabe entendendo um pouco o que passam os desvalidos, não
fique mais fácil ajudá-los?
-- Ora minha filha, e por que não fazer alguma coisa pelos mais pobres sendo uma
advogada? Por exemplo. É uma belíssima profissão, dá futuro, prestígio e você pode até
advogar para quem não tem recursos, desde que sejam apenas alguns clientes.
-- Mas mãe, eu nunca sonhei com essa profissão!
-- Minha filha, você está certa! A gente tem fazer aquilo que gosta. E não existe nada
mais lindo do que ajudar o nosso semelhante. Faça o que te faz feliz. Só não tenha ilusões de
que sozinha você poderá ajudar o mundo. Infelizmente, pouca coisa no mundo depende da
nossa vontade. Mas certamente se você puder fazer um pouco, já será um grande feito. –
respondeu Otávio.
Nisso os três trataram de jantar.
Mas tarde, antes de todos se recolherem para dormir, Otávio felicitou a filha pelo
passo que estava dando. Dizendo que sonhava com isso desde que ela deixara o colegial,
confidenciou-lhe que sempre desejou que sua filha tivesse um diploma. Comentando que o
estudo era o único caminho que possuía para ter uma vida melhor, abraçou Marina e lhe
desejou boa noite.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO CONTEMPORANEIDADE

Capítulo 7

Sônia despertou.
Em nova consulta com a psicóloga, a moça comentou que somente agora estava começando a
entender o que havia se passado.
Disse que sofrera uma crise existencial.
Que todo aquele sentimento de desengano, aquela tristeza inexplicável, aquela mágoa profunda
pelo mundo hostil que a maltratava, era resultado não apenas de uma insatisfação com a vida, mas
também, uma falta de entendimento do mundo.
Constatou que a crise por que passara, sua falta de memória, os seus modos errantes, foram a
resposta que sua cabeça encontrou, para digerir o sofrimento.
O que atrapalhou o processo, foi ter se chocado contra os acontecimentos.
Comentou que sua mãe descobrira uma foto sua nos jornais, segurando uma criança que fora
soterrada em uma enchente.
Ao ser perguntada se se sentia uma heroína por isto, Sônia respondeu que não.
Depois da sessão, mais bem disposta, a moça foi levada para a praia.
Lá, permaneceu contemplando o mar.
Cantou:
“Só eu sei
As esquinas por que passei
Só eu sei só eu sei

Sabe lá o que é não ter e ter que ter pra dar
Sabe lá
Sabe lá

E quem será
Nos arredores do amor
Que vai saber reparar
Que o dia nasceu
Só eu sei
Os desertos que atravessei
Só eu sei
Só eu sei

Sabe lá
O que e morrer de sede em frente ao mar
Sabe lá
Sabe lá

E quem será
Na correnteza do amor que vai saber se guiar
A nave em breve ao vento vaga de leve e trás
Toda a paz que um dia o desejo levou

Só eu sei
As esquinas por que passei
Só eu sei
Só eu sei

E quem será
Na correnteza do amor...
Esquinas – Composição: Djavan”

Caminhando sozinha, lembrou-se dos amigos Amilton e Rodrigo.
Onde andariam?
Perguntou-se.
Procurando se acertar com sua mãe, Sônia prometeu que faria o possível para se manter
equilibrada.
Lara prometeu que entraria em contato com seus amigos, e que dentro em breve eles iriam se
encontrar.
Sônia beijou o rosto da mãe.
Dias mais tarde, enquanto a moça caminhava pela praia, ouviu uma voz cantando ao longe:
“É bonito se ver na beira da praia
A gandaia das ondas que o barco balança
Batendo na areia, molhando os cocares dos coqueiros
Como guerreiros na dança
Oooh, quem não viu vai ver
A onda do mar crescer
Oooh, quem não viu vá ver
A onda do mar crescer

Olha que brisa é essa
Que atravessa a imensidão do mar
Rezo, paguei promessa
E fui a pé daqui até Dakar
Praia, pedra e areia
Boto e sereia
Os olhos de Iemanjá

Água, mágoa do mundo
Por um segundo
Achei que estava lá
Eu tava na beira da praia
Ouvindo as pancadas das ondas do mar
Não vá, oooh, morena
Morena lá
Que no mar tem areia

Olha que luz é essa
Que abre caminho pelo chão do mar
Lua, onde começa
E onde termina
O tempo de sonhar
Gandaia Das Ondas/Pedra E Areia – Compositores Lenine/Dudu Falcão”

Ao voltar-se, a moça percebeu quem era.
Era Rodrigo se aproximando.
O moço cumprimentou-a.
Sônia perguntou se ele estava ali há muito tempo.
Rodrigo respondeu que só o suficiente para perceber que ela estava entretida com aquele cenário
maravilhoso.
A moça abraçou o amigo.
Mais tarde, os dois voltaram para casa e Sônia pode ver Amilton.
Sônia agradeceu a ele e ao filho por a terem acolhido.
Lara e Rafael também agradeceram.
Cláudio, irmão de Sônia, também agradeceu os préstimos.
Almoçaram juntos.
Amilton chegou a comentar indiscreto, que Rodrigo não parava de perguntar por Sônia.
Mais tarde a dupla caminhou pela praia.
Rodrigo comentou com Sônia, que todos na cidade perguntava por ela.
A moça respondeu que estava bem.
Em seguida, o moço começou a assoviar uma canção.
Sônia começou a cantar a letra:
“É bom andar a pé
Sem sapato, sem direção à toa
Na cabeça o sol
Um boné

É bom andar a pé devagar
Devagar para aguentar o calor
E olhar a vista pro mar
Melhor
É bom andar a pé
Sem dinheiro, sem documento
A favor do vento
Semi nu

É bom andar a pé
Devagar para aguentar o calor
E olhar a vista pro mar
Melhor
Esqueça tudo
Que tudo sobrevive
Isto é tempo livre pra viver

É bom saber
Andar acompanhado de ti
Faz meu coração se sentir
Melhor

É bom andar a pé
Sem sapato, sem direção a toa
Na cabeça o sol
Um boné
É bom andar a pé
Devagar para aguentar o calor
E olhar a vista pro mar
Melhor

Esqueça tudo
Que tudo sobrevive
Isto é tempo livre pra viver
É bom saber
Saber não ocupa lugar
Andar acompanhado de ti
Faz meu coração se sentir
Melhor
Lara Lara larará...
Melhor
É Bom Andar a Pé - Wilson Simoninha - Composição: (novo CD - Melhor)”

Por fim, o casal passou a caminhar de mãos dadas.
FIM

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO CONTEMPORANEIDADE

Capítulo 6

Nisto, Sônia ficou a caminhar pelos arredores de São Paulo.
A moça dormia cada dia na casa de uma família diferente.
Até ser encontrada por policiais, que a abordaram.
A moça tentou resistir, mas os homens a dominaram.
Ao chegar na delegacia, já em São Paulo, a moça foi reconhecida através de um retrato.
Lara havia mandado afixar cartazes com um número de telefone, solicitando informações sobre
o paradeiro da moça.
Mais tarde Sônia foi levada a casa da mãe, que a abraçou emocionada.
Nisto a moça foi submetida a um tratamento com uma psicóloga.
Em seus sonhos, Sônia lembrou-se de seu relacionamento com Francisco.
Lembrou-se do dia em que passou na praia e se encontrou com o rapaz.
O moço sentou perto dela.
Apresentou-se.
Disse que adorava acordar cedo como ela fizera, e ficar a contemplar o mar.
Comentou que não havia tristeza que não se dissipasse enquanto ficava a observar o ir e vir das
vagas, a espuma das ondas, o sol chegar de mansinho até tomar conta da praia.
Sônia ficou a ouvi-lo.
Continuou a contemplar o mar.
Disse que o mar lhe trazia uma sensação de grande paz e liberdade.
O moço começou então a cantar:
“Morena, dos olhos d'água,
Tira os seus olhos do mar.
Vem ver que a vida ainda vale
O sorriso que eu tenho
Pra lhe dar.

Descansa um meu pobre peito
Que jamais enfrenta o mar,
Mas que tem abraço estreito, morena,
Com jeito de lhe agradar.

Vem ouvir lindas histórias
Que por seu amor sonhei.
Vem saber quantas vitórias, morena,
Por mares que só eu sei.

Morena, dos olhos d'água,
Tira os seus olhos do mar.

Vem ver que a vida ainda vale
O sorriso que eu tenho
Pra lhe dar.
Seu homem foi-se embora,
De partir ou de voltar.

Mas as ondas não tem hora, morena,
Prometendo voltar já.

Passa a vela e vai-se embora
Passa o tempo e vai também.
Mas meu canto inda lhe implora, morena,
Agora, morena, vem.

Morena, dos olhos d'água,
Tira os seus olhos do mar.
Vem ver que a vida ainda vale
O sorriso que eu tenho
Pra lhe dar.
Morena dos Olhos D'água - Composição: Chico Buarque”

Mais tarde, os dois caminharam juntos pela praia.
Com o tempo passaram a namorar.
Frequentemente eram vistos andando de braços dados pela praia.
Namoravam.
Se beijavam.
De vez em quando a moça dormia na casa do rapaz.
Certa vez, observando a moça dormindo em seus braços, o moço começou a cantar:
“Amor é um livro
Sexo é esporte
Sexo é escolha
Amor é sorte...
Amor é pensamento
Teorema
Amor é novela
Sexo é cinema...

Sexo é imaginação
Fantasia
Amor é prosa
Sexo é poesia...

O amor nos torna
Patéticos
Sexo é uma selva
De epiléticos...

Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão

Amor é divino
Sexo é animal
Amor é bossa nova
Sexo é carnaval
Oh! Oh! Uh!

Amor é para sempre
Sexo também
Sexo é do bom
Amor é do bem...
Amor sem sexo
É amizade
Sexo sem amor
É vontade...

Amor é um
Sexo é dois
Sexo antes
Amor depois...

Sexo vem dos outros
E vai embora
Amor vem de nós
E demora...

Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão

Amor é divino
Sexo é animal
Amor é bossa nova
Sexo é carnaval
Oh! Oh! Oh!

Amor é isso
Sexo é aquilo
E coisa e tal!
E tal e coisa!
Uh! Uh! Uh!
Ai o amor!
Hum! O sexo!
Amor E Sexo - Composição: Rita Lee/Roberto de Carvalho/Arnaldo Jabor”

Certo dia, a moça foi até o litoral, acompanhada do rapaz.
Durante o trajeto, a moça se deslumbrou com a beleza da paisagem. A Represa se descortinava
diante de seus olhos, um mar de uma imensidade azul de profundo esplendor. Em torno, muito
verde, árvores.
Linda visão dos braços da Represa. Muito azul.
Encantada, a moça chegou a comentar que parecia um Nilo Azul, como o que vira em alguns
filmes antigos.
- Que beleza! – falava.
Ao chegarem na casa de praia, descarregaram as malas que estavam no bagageiro do carro.
Mais tarde a moça comentou que estava cansada de se desentender com seus pais.
Principalmente com sua mãe.
Comentou que ela não concordava com a liberdade de seu namoro.
Sônia disse também, que não via sentido nas coisas. Não entendia por que tinha que correr atrás
de sucesso, de dinheiro e de prestígio, e ao conquistar estas coisas, perceber o quanto elas são
vazias.
Triste, chegou a cantar:
“Eu desisto
Não existe essa manhã que eu perseguia
Um lugar que me dê trégua ou me sorria
E uma gente que não viva só pra si

Só encontro
Gente amarga mergulhada no passado
Procurando repartir seu mundo errado
Nessa vida sem amor que eu aprendi

Por uns velhos vãos motivos
Somos cegos e cativos
No deserto do universo sem amor

E é por isso que eu preciso
De você como eu preciso
Não me deixe um só minuto sem amor

Vem comigo
Meu pedaço de universo é no teu corpo
Eu te abraço corpo imerso no teu corpo
E em teus braços se unem em versos à canção

Em que eu digo
Que estou morta pra esse triste mundo antigo
Que meu porto, meu destino, meu abrigo
São teu corpo amante amigo em minhas mãos
São teu corpo amante amigo em minhas mãos
São teu corpo amante amigo em minhas mãos

Vem, vem comigo
Meu pedaço de universo é no teu corpo
Eu te abraço corpo imerso no teu corpo
E em teus braços se unem em versos a canção

Em que eu digo
Que estou morta pra esse triste mundo antigo
Que meu porto, meu destino, meu abrigo
São teu corpo amante amigo em minhas mãos
São teu corpo amante amigo em minhas mãos
São teu corpo amante amigo em minhas mãos.
Universo no Teu Corpo – Taiguara”

Francisco abraçou a moça.
Mais tarde, a moça comentou que Francisco era o nome de seu bisavô.
O moço achou graça na coincidência.
Com isto, Francisco e Sônia caminharam de mãos dadas pela praia.
Um dia o moço convidou a moça para jantar.
Sônia vestiu um bonito e florido vestido frente única.
Francisco vestiu uma calça jeans e uma camisa pólo.
Foram a pé até um restaurante que ficava em frente a orla marítima.
Ao lá chegarem, um garçon ajudou a moça a sentar-se.
Primeiramente pediram um suco.
Conversaram.
Francisco comentou que a retomada do cinema nacional era muito alvissareira, já que ele gostava
de filmes nacionais.
Comentou que adorara assistir ao filme “Carlota Joaquina – Princesa do
Brasil”, “O Quatrilho”.
Sônia comentou que gostara de assistir filmes como “Meu Tio Matou Um Cara”, “Se eu Fosse
Você”, a tragetória do Barão de Mauá.
Concordou com o moço. Disse que o cinema nacional não
ficava nada a dever a outros países bons produtores de filme.
Mais tarde, o moço pediu o cardápio, pediu um vinho tinto, lula a dorê com molho tártaro, e
fritada de peixes.
O casal deliciou-se com as iguarias.
Serviram-se de arroz.
Francisco brindou a noite.
Mais tarde, o moço pediu ostras.
Sônia respondeu que não sabia comer ostras, e que aquilo lhe causava aflição.
Francisco ofereceu uma ostra com limão a moça.
Colocou o molusco na boca de Sônia, que sentiu o bicho escorregar por sua garganta.
- Gostou? – perguntou.
A moça respondeu que não era ruim.
Mais tarde ao voltar para casa, o moço contou que tinha um presente para ela.
Sônia perguntou o que era.
Nisto o homem mostrou-lhe uma caixa.
A moça viu de relance, que era um anel.
Nisto o moço puxou-a pelo braço, e começou a dançar no passeio.
Sônia pediu para ele parar, posto que todos os olhavam.
Francisco parecia não se importar.
O homem começou a cantar:
“Fonte de mel
Nos olhos de gueixa
Kabuki, máscara

Choque entre o azul
E o cacho de acácias
Luz das acácias
Você é mãe do sol

A sua coisa é toda tão certa
Beleza esperta
Você me deixa a rua deserta
Quando atravessa
E não olha pra trás

Linda
E sabe viver
Você me faz feliz
Esta canção é só pra dizer
E diz

Você é linda
Mais que demais
Vocé é linda sim
Onda do mar do amor
Que bateu em mim

Você é forte
Dentes e músculos
Peitos e lábios

Você é forte
Letras e músicas
Todas as músicas
Que ainda hei de ouvir

No Abaeté
Areias e estrelas
Não são mais belas
Do que você
Mulher das estrelas
Mina de estrelas
Diga o que você quer

Você é linda
E sabe viver
Você me faz feliz
Esta canção é só pra dizer
E diz

Você é linda
Mais que demais
Você é linda sim
Onda do mar do amor
Que bateu em mim

Gosto de ver
Você no seu ritmo
Dona do carnaval
Gosto de ter
Sentir seu estilo
Ir no seu íntimo
Nunca me faça mal

Linda
Mais que demais
Você é linda sim
Onda do mar do amor
Que bateu em mim
Você é linda
E sabe viver
Você me faz feliz
Esta canção é só pra dizer
E diz
Você É Linda – Compositor: Caetano Veloso”

Ao chegar em casa, o moço perguntou-se ela gostaria de se casar com ele.
Sônia, ao ouvir a pergunta do moço, comentou sem jeito, que ainda não estava preparada para se
casar.
Francisco ficou arrasado.
Mais tarde, o casal acabou se separando.
Para justificar o término da relação, o moço cantou-lhe uma canção:
“O teu amor é uma mentira
Que a minha vaidade quer
E o meu, poesia de cego
Você não pode ver
Não pode ver que no meu mundo
Um troço qualquer morreu
Num corte lento e profundo
Entre você e eu

O nosso amor a gente inventa
Pra se distrair
E quando acaba a gente pensa
Que ele nunca existiu
O nosso amor
A gente inventa
Inventa
O nosso amor
A gente inventa

Te ver não é mais tão bacana
Quanto a semana passada
Você nem arrumou a cama
Parece que fugiu de casa

Mas ficou tudo fora de lugar
Café sem açúcar, dança sem par
Você podia ao menos me contar
Uma história romântica

O nosso amor a gente inventa
Pra se distrair
E quando acaba a gente pensa
Que ele nunca existiu
O nosso amor
A gente inventa
Inventa
O nosso amor
A gente inventa
O Nosso Amor A Gente Inventa - Composição: Cazuza/João Rebouças/Rogério Meanda”

O moço beijou as mãos da moça.
Despediu-se.
Nunca mais se viram.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO CONTEMPORANEIDADE

Capítulo 5

Ao melhorar um pouco, a moça aproveitou a ausência de Amilton e Rodrigo e se encaminhou
para o centro da cidade.
Dirigiu-se a prefeitura.
Exigiu falar com o prefeito.
Paciente, esperou por duas.
Ao ser chamada para entrar, foi elogiada por Agenor.
O homem comentou que havia visto sua foto nos jornais.
Disse que ela havia se tornado uma espécie de heroína para a cidade.
Sônia parecia não prestar atenção nas palavras do prefeito.
A certa altura, depois de fazer vários elogios, de fazer menção a seu ato de coragem, o homem
finalmente perguntou se ela queria dizer alguma coisa.
Sônia respondeu que a cidade precisava de mais investimentos, que as pessoas precisavam ter
moradias de qualidade, e que aquele estado de coisas não poderia permanecer.
Agenor não gostou do que ouviu.
Nisto a moça segurou uma bandeira. Começou a cantar:
“Quero a utopia, quero tudo e mais
Quero a felicidade nos olhos de um pai
Quero a alegria muita gente feliz
Quero que a justiça reine em meu país

Quero a liberdade, quero o vinho e o pão
Quero ser amizade, quero amor, prazer
Quero nossa cidade sempre ensolarada
Os meninos e o povo no poder, eu quero ver

São José da Costa Rica, coração civil
Me inspire no meu sonho de amor Brasil
Se o poeta é o que sonha o que vai ser real
Bom sonhar coisas boas que o homem faz
E esperar pelos frutos no quintal

Sem polícia, nem a milícia, nem feitiço, cadê poder?
Viva a preguiça viva a malícia que só a gente é que sabe ter
Assim dizendo a minha utopia eu vou levando a vida
Eu viver bem melhor
Doido pra ver o meu sonho teimoso, um dia se realizar
Coração Civil - Composição: Milton Nascimento e Fernando Brant”

Enquanto cantava, balançava a bandeira.
Agenor, ao vê-la descontrolada, exigiu que ela parasse.
Sônia não se intimidou.
Continuou cantando.
Nisto, Agenor chamou dois seguranças, que constrangidos, conduziram a moça para fora do
gabinete.
Preocupados, os homens perguntaram se ela estava precisando de alguma coisa.
Sônia respondeu que não.
Levantou-se e saiu da prefeitura.
No caminho, foi até o lugar onde a família que morrera no morro, fora enterrada.
Caminhando pela cidade, era apontada pelos moradores que a consideravam uma heroína.
Uma criança correndo, aproximou-se.
Ofereceu um flor.
Depois saiu correndo.
Seguindo seu curso, a moça foi abordada por um mendigo que dizia tê-la conhecido em suas
andanças por São Paulo.
Sônia aturdida respondeu que não se lembrava dele.
O homem porém, insistia em dizer que se lembrava dela.
Comentou que a moça gostava muito de estudar, estava sempre com um livro debaixo do braço.
Nisto, afastou-se, deixando a moça mergulhada em seus pensamentos.
Ao vê-la passando pela delegacia, Jandir chamou-a.
Sônia contudo, não o ouviu.
Mais tarde, Amilton surgiu na cidade. Aflito, procurou a moça no morro.
Ao lá chegar, percebeu que não havia mas nenhum morador no local. O local estava interditado.
Policiais proibiam as pessoas de subirem.
Ao voltar ao centro da cidade, o homem foi informado que a moça havia passado pela prefeitura,
sendo convidada a se retirar por Agenor, o prefeito.
Furioso, o homem falou ao prefeito que ela não oferecia nenhuma ameaça.
Estava apenas desnorteada.
Nisto, Amilton passou a perguntar sobre o paradeiro de Sônia aos trauseuntes.
Todos os que se dispunham a passar informações, diziam que ela era uma garota muito corajosa.
Caminhou pelo local onde foram enterrados os mortos no deslizamento.
Soube que a criança que Sônia ajudara a resgatar estava bem, e que a moça fora abordada por um mendigo.
Amilton contudo, só foi encontrá-la, tempo depois, a beira do rio.
Sônia havia seguido até a cidade a cavalo.
Amilton encontrou a moça e o cavalo, ao voltar para casa.
Sônia havia ido a cidade por um caminho alternativo.
Não queria ser encontrada.
Ao vê-la abaixada, contemplando o rio, Amilton parou a charrete.
O homem desceu.
Foi ao encontro de Sônia.
Ao vê-la mergulhada em pensamentos, disse que ela precisava voltar para casa.
Sônia assentiu com a cabeça.
Amilton amarrou o cavalo na charrete, e seguiu para casa.
Ao adentrar a casa, Rodrigo aflito, disse que a cama estava arrumada.
Nisto, os dois conduziram a moça, insistiram que ela dormisse mais um pouco.
Adormeceu.
Sonhou novamente com pessoas sofrendo, pedindo ajuda.
Viu fome, miséria, desespero.
Compungida, agaixou-se. Encolheu-se.
Chorando, cantava:
“Vai, abandona a morte em vida em que hoje estás
Há um lugar onde essa angústia se desfaz
E o veneno e a solidão mudam de cor
Há ainda o amor

Vai, recupera a paz perdida e as ilusões,
Não espera vir a vida às tuas mãos
Faz em fera a flor ferida e vai lutar
Pro amor voltar

Vai, faz de um corpo de mulher estrada e sol
Te faz amante, vai
Teu peito errante
Acreditar que amanheceu

Vai, corpo inteiro mergulhar no teu amor
E este momento
Vai ser teu momento
O mundo inteiro vai ser teu, teu

Vai, abandona a morte em vida em que hoje estás
Há um lugar onde essa angústia se desfaz
E o veneno e a solidão mudam de cor
Há ainda o amor

Vai, há ainda o amor
Vai, há ainda o amor
Vai, há ainda o amor ...
Viagem – Compositor: Taiguara”

Outro dia, Rodrigo contou que uma senhora estava caminhando pela outra margem do rio.
Comentou que era uma senhora elegante, distinta.
Disse que achava seu semblante triste.
Ao se aproximar para conversar com a mulher, percebeu que ela se afastava.
Nunca soube seu nome.
Rodrigo respondeu que a vira algumas vezes por ali, mas que depois da tentativa de aproximação,
a mulher desapareceu.
Sônia ouvia as palavras do rapaz.
Perguntou ao rapaz como era a fisionomia da mulher.
Rodrigo ficou feliz ao perceber que a moça se interessara pela conversa.
Comentou que era uma mulher alta, morena de tez clara.

Aparentava uns cinquenta anos.
Nisto Sônia ficou a pensar.
Amilton comentou certa vez com Rodrigo, que precisavam encaminhar a moça para um psicólogo.
O moço respondeu que iria buscar auxilio com alguns amigos que moravam no centro da cidade.
Contudo, não houve tempo de auxiliar a moça.
Sônia certo dia, enquanto todos dormiam, pegou algumas roupas, arrmou uma trouxa.
Vestiu o casaco que trazia no corpo quando foi encontrada por Rodrigo e Amilton, e partiu.
Não levou nada além do que recebera de presente dos moradores do lugar.
Quando o dia amanheceu, Rodrigo e Amilton, ao perceberem que a moça não se encontrava em
nenhum lugar da casa, procuraram ela nos campos, na margem do rio.
Percorreram o rio de um lado a outro.
Nada de encontrarem-na.
Jandir, ao tomar conhecimento deste fato, comunicou a Amilton que havia descoberto que uma
mulher chamada Lara, estava procurando sua filha, uma moça chamada Sônia, e que em tudo
correspondia a descrição daquela Sônia que ficara em sua casa.
Dias depois a mulher chegou ao lugar.
Amilton conversou com a mulher.
Descreveu Sônia para a mulher.
Nisto, o homem lembrou-se que durante a quermesse foram tiradas algumas fotos dos moradores
da cidade.
Mostrou uma foto em que a moça aparecia ao lado de alguns moradores.
Ao ver a fotografia Lara ficou a dizer que aquela moça era sua filha.
Mais tarde foi celebrada uma missa em homenagem aos mortos pelos deslizamentos dos morros
da região.
Todos os políticos da região compareceram em peso.
A imprensa também.
Os moradores criticaram a exploração pela mídia, de toda aquela tragédia.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO CONTEMPORANEIDADE

Capítulo 4

No tempo das chuvas, começaram os problemas na cidade. Alagamentos. Encostas de morros
deslizando.
Em virtude da ocupação desordenada, muitas pessoas habitavam os morros.
A estrada que dava acesso a cidade, se transformou em um atoleiro.
Com isto, só era possível atravessar a cidade a cavalo.
Sônia sugeriu a doação de roupas e de alimentos para as pessoas que haviam perdido suas casas.
Organizou uma central de coleta, e assim, reuniu uma quantidade razoável de roupas e alimentos,
a qual foi devidamente encaminhada para a cidade por Amilton e outros moradores da região.
Certo dia, precisando comprar alguns itens para a casa, Amilton e Sônia foram de carroça para a
cidade.
No caminho avistaram morros sem cobertura vegetal, árvores caídas, lama.
Os dois ficaram surpresos com o que viram pelo caminho.
Ao chegarem na cidade, depararam-se com o caos.
Pessoas correndo de um lado para o outro, pedindo ajuda.
Amilton então, comentou que iria até a prefeitura se oferecer para ajudar no que fosse preciso.
Sônia se comprometeu em comprar os víveres.
Lá se foi ela para o mercado.
Com uma lista nas mãos, comprou tudo o que precisava.
Nisto, a moça levou os mantimentos para a carroça.
A cidade estava em polvorosa.
Com efeito, a moça foi abordada por um dos passantes.
Pedindo ajuda, uma criança levou-a até um dos morros onde havia risco de mais deslizamentos.
A cobertura vegetal fora parcialmente arrancada e haviam barracos soterrados.
A lama cobria tudo.
Por várias vezes a moça escorregou, sendo auxiliada pelos moradores, os quais auxiliavam no
resgate junto com os bombeiros.
Sem saber direito como agir, a moça começou a escavar a terra com as mãos.
Ao ouvir pedidos abafados de ajuda, Sônia continuou escavando.
Os bombeiros, ao perceberem o que a moça fazia, tentaram afastá-la, em vão.
Irritada, a moça comentou que haviam pessoas ali, precisando de sua ajuda.
E assim, continuou escavando.
Um dos bombeiros então, pegou uma capa e cobriu o corpo da moça.
A capa porém, escorregava.
Nisto, os bombeiros escutaram gritos de ajuda.
Ao constatarem que os gritos vinham do lugar onde a moça escavava, auxiliaram-na tarefa.
Ao término de quase uma hora, resgataram uma criança.
Aturdida, Sônia segurou a criança no colo.
Jornalistas que estavam no local, fotografaram a moça coberta de lama, usando uma capa e
segurando uma criança no colo. O semblante vazio.
Durante as horas em que permaneceu no morro, a moça tentou convencer os moradores que
residiam no local, a saírem dali, comentou que aquelas casas também desabariam.
O bombeiro Alencar, ao constatar que a moça não sairia do local, sugeriu que ela conversasse
com os moradores.
E assim, Sônia, conversando com os moradores, comentou que mais importante do que salvar
alguns bens materiais, era a vida de cada um deles, e que perdida, não haveria nada mais a ser feito.
Diante disto, os moradores concordaram em sair.
Retiraram parte de seus pertences e encaminharam-se para o abrigo da prefeitura.
Houve um morador porém, que insistiu em permanecer no morro.
Momentos depois, houve um novo deslizamento.
O morador retinente, teve sua casa soterrada.
Nisto, os bombeiros continuaram os trabalhos de resgate.
Depois de horas de buscas. A triste constatação.
O homem e sua família, foram encontrados sem vida.
Sônia ficou desolada.
De madrugada a moça voltou ao centro da cidade.
Amilton já estava a horas procurando-a.
Neste momento o centro da cidade estava vazio.
Ao perceber que a moça estava coberta de lama, com uma capa de chuva, o homem perguntou:
- Está tudo bem? Onde você estava?
Sônia não respondeu.
Aflito Amilton insistiu na pergunta. Novamente ficou sem resposta.
Ao notar que a moça parecia não estar bem, encaminhou-a ao Pronto Socorro da cidade.
Lá chegando, pode se deparar com o caos. Pessoas feridas, pacientes em macas espalhadas pelos
corredores.
Constatando que o atendimento no local era inviável, Amilton dirigiu-se ao hospital da cidade
vizinha.
Ao ser atendida pelo médico, o homem recomendou-lhe repouso, e acompanhamento por um
psicólogo.
Amilton agradeceu a atenção.
Comentou que viera da cidade vizinha, e que o ambiente por lá estava horrível.
Por conta dos deslizamentos havia muitos feridos, muita gente desabrigada.
O médico ao observar que a moça estava suja de lama, molhada e com uma capa de chuva,
recomendou que ela não voltasse ao morro.
Se fosse o caso, que ficasse em casa de parentes.
Amilton achou graça.
Ao notar a confusão do médico, respondeu que a moça não morava em nenhum morro.
Todavia, atenderia as recomendações do doutor, afastando-a do palco dos últimos acontecimentos.
Sônia foi levada para a casa.
Lá Amilton conduziu a moça para o quarto.
Rodrigo aflito, ao ver Sônia, ficou preocupado.
Disse que estava tentando contatá-los a horas, já que ambos saíram para fazer compras, naquele
tempo.
Argumentou que ao perceber as horas passando e nada deles voltarem, encheu-se de
aflição.
Passou a ligar de meia em meia-hora para o celular do pai.
Sem sucesso.
Com isto, ao ver a moça toda suja de lama, e em aspecto tão lastimável, abatida, perguntou o que
estava acontecendo.
Amilton respondeu que iria deixar Sônia no quarto.
Rodrigo resolveu acompanhá-los.
Nisto Amilton auxiliou a moça se deitar.
Antes ajudou-a tirar a capa molhada.
Pediu a moça que tirasse o vestido sujo e colocasse uma roupa limpa.
Sônia foi até o biombo, tirou o vestido sujo.
Amilton escolheu um vestido limpo que a moça tratou de colocar.
Depois, deitou-se na cama.
Amilton abriu o cobertor e cobriu-a.
Rodrigo pediu para ela dormir.
Sônia parecida vidrada.
Parecia alheia a tudo.

Em dado momento, começou a cantar:
“Hoje
Trago em meu corpo as marcas do meu tempo
Meu desespero, a vida num momento
A fossa, a fome, a flor, o fim do mundo...

Hoje
Trago no olhar imagens distorcidas
Cores, viagens, mãos desconhecidas
Trazem a lua, a rua às minhas mãos.

Mas hoje,
As minhas mãos enfraquecidas e vazias
Procuram nuas pelas luas, pelas ruas...
Na solidão das noites frias por você.

Hoje
Homens sem medo aportam no futuro
Eu tenho medo acordo e te procuro
Meu quarto escuro é inerte como a morte

Hoje
Homens de aço esperam da ciência
Eu desespero e abraço a tua ausência

Que é o que me resta, vivo em minha sorte
Sorte
Eu não queria a juventude assim perdida

Eu não queria andar morrendo pela vida
Eu não queria amar assim como eu te amei.
Hoje - Composição: Taiguara”

Durante o sono, a moça relembrou dos delizamentos, dos gritos, do desespero, dos pedidos de
ajuda.
De caminhar sem rumo.
De ouvir tudo o que acontecia a sua volta, de não sentir nada.
Ao se lembrar dos últimos acontecimentos, acordou sobressaltada.
A moça teve febre, delírios.
Aflitos Rodrigo e Amilton cuidaram da moça.
Sônia ficou acamada por uma semana.
Movidas por solidariedade, algumas vizinhas se prontificaram a cuidar da moça.
Ministraram remédios, conversaram com ela, insistiram para que ela se alimentasse.
Sônia por sua vez, permanecia alheia a tudo.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO CONTEMPORANEIDADE

Capítulo 3

Nisto a moça continuou a ler o livro. Ficou algumas horas se debruçando sobre poesias.
Ao retornar do trabalho, ao ver a moça lendo um livro velho e empoeirado, Rodrigo perguntou-lhe se gostava de ler.
Sônia respondeu que sim.
Rodrigo estendeu-lhe novamente a mão.
Subiram até o sótão. Lá havia uma série de livros amontoados no chão.
O moço comentou que havia livros de mistério, suspense, poesias, contos, romances, clássicos.
Os olhos da moça brilharam.
Encantada, a moça comentou que adorava ler. Comentou que já lera Jorge Amado, José de
Alencar, Dostoiévski – com seu “Crime e Castigo”, “Os Miseráveis” – de Vitor Hugo, “A
Moreninha” – de Joaquim Manoel de Macedo. Entre outros.
Sorrindo, Rodrigo perguntou se ela havia lembrado de mais alguma coisa.
Sônia respondeu então que se lembrara que gostava de ficar as tardes lendo.
Caminhando pela casa, percebeu que os móveis estavam sem pó. A sala estava um brinco.
Amilton, elogiando a presteza da moça, comentou que ela estava se saindo muito bem.
Sônia pediu para Rodrigo e Amilton para acompanhá-los no trabalho.
Ao ouvir isto, o mais moço comentou que ela não estava acostumada com aquele tipo de trabalho.
Surpresa, a moça perguntou como ele poderia saber disto, se nem ela mesma se lembrava do que
fazia antes de chegar ali.
Rodrigo respondeu-lhe que suas mãos eram macias, denunciando que ela não estava habituada
com a lida na roça.
Acrescentou ainda, que ela estava muito bem trajada para uma camponesa.
Com efeito, ao constatarem que a moça permaneceria algum tempo no lugar, Rodrigo e Amilton
providenciaram junto a vizinhança, algumas roupas para a moça.
Com isto, a moça começou a usar vestidos.
No dia seguinte, acompanhou pai e filho na lida do campo.
Levou para eles um almoço preparado por ela. Mais tarde levou um lanche.
Passou algumas horas com eles, lendo outro livro de poesias.
A moça no dia seguinte, cuidou dos quartos.
Com o tempo, a vizinhança passou a visitar Rodrigo e Amilton.
Conheceram a moça.
Nisto a moça participou dos preparativos para a quermesse.
Preparou bandeirinhas, balões.
Auxiliou as mulheres nos preparativos dos comes e bebes.
Gentis, algumas mulheres confeccionaram um bonito vestido de festa para a moça.
Ao saberem que a moça estava muito bem vestida quando surgiu do outro lado do rio,
preocuparam-se em fazer um vestido com o melhor que possuíam em matéria de tecido.
Ao receber o presente, Sônia agradeceu o presente.
Ficou emocionada.
Na festa, a moça dançou com Amilton e com Rodrigo.
Cumprimentou a vizinhança.
Foi apresentada ao padre.
A festa foi animada.
Sônia dançou ao som da música “Festa do Interior”:
“Fagulhas pontas de agulhas
Brilham estrelas de São João...
Babados, xotes e xaxados
Segura as pontas
Meu coração...

Bombas na guerra-magia
Ninguém matava
Ninguém morria...

Nas trincheiras da alegria
O que explodia
Era o amor...(2x)

Fagulhas pontas de agulhas
Brilham estrelas de São João...
Babados, xotes e xaxados
Segura as pontas
Meu coração...

Bombas na guerra-magia
Ninguém matava
Ninguém morria...

Nas trincheiras da alegria
O que explodia
Era o amor...(2x)

Ardia aquela fogueira
Que me esquentava
A vida inteira
Eterna noite
Sempre a primeira
Festa do Interior...(2x)

Fagulhas pontas de agulhas
Brilham estrelas de São João...
Babados, xotes e xaxados
Segura as pontas
Meu coração...

Bombas na guerra-magia
Ninguém matava
Ninguém morria...

Nas trincheiras da alegria
O que explodia
Era o amor...(2x)

Ardia aquela fogueira
Que me esquentava
A vida inteira
Eterna noite
Sempre a primeira
Festa do Interior...(2x)
Festa do Interior - Composição: Moraes Moreira/Abel Silva”

Tempos depois, a moça começou a realizar um trabalho voluntário de alfabetização de crianças.
Uma vez por semana, Sônia lia histórias para a criançada.
A moça cuidava da casa de Amilton e Rodrigo, levava comida para os dois, enquanto
trabalhavam. Lia livros, uma grande paixão, e realizava trabalhos voluntários.
Certo dia, Jandir visitou a moça.
Comentou que estava muito difícil localizar seus parentes.
Nisto, perguntou-lhe novamente se havia se lembrado de mais alguma coisa.
A moça respondeu que não.
Nisto continuou seus afazeres.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO CONTEMPORANEIDADE

Capítulo 2

Certo dia, a moça resolveu fazer um passeio.
Chegou a ir até o extremo da cidade.
Perdida, caminhou por um lugar bonito, onde depois de uma longa caminhada, encontrou um
rio.
Caminhou, caminhou, até encontrar um barco.
A moça parecia desorientada.
Rodrigo ao avistá-la, tratou de chamar seu pai, Amilton.
Aflito, o moço apontou para a moça.
A garota, aproximou-se do barco e ficou a observá-lo.
Nisto Amilton aproximou-se da moça. Perguntou:
- Moça? Moça? Você é daqui?
Nada de resposta.
Amilton perguntou-lhe então:
- Como é seu nome?
Silêncio.
Rodrigo resolveu conversar com a moça.
Disse que estava ficando tarde e que precisavam voltar para casa. Perguntou a moça se ela estava
entendendo o que eles estavam falando.
- Sim. Entendo ...
Nisto Rodrigo reiterou as perguntas do pai.
A moça, sem conseguir conectar as idéias, respondeu que havia planejado dar uma volta por São
Paulo e acabou parando por ali.
Disse que havia entrado em vários ônibus até chegar ao lugar. Por fim, disse que se lembrava de
haver caminhado muito, até chegar ali. 
Nervosa, respondeu quase chorando, que não se lembrava de mais nada.
Amilton e Rodrigo se entreolharam. 
Estavam preocupados.
Amilton percebendo que a moça esta dispersa, chamou o filho para perto do rio, e comentou com
ele cochichando:
- E essa agora. O que fazemos?
- Não podemos deixar a moça aqui. É perigoso.
Amilton concordou. 
Contudo, argumentou que não poderia alojar a moça em sua casa por tempo indeterminado.
Rodrigo sugeriu então que se ocupassem de levá-la para casa. 
No dia seguinte, acabariam encontrando uma solução.
Amilton concordou com a sugestão do filho.
Nisto, os dois rapazes se aproximaram da moça, que a esta altura contemplava a imensidão do
rio.
Rodrigo, chamou-a:
- Moça! Venha conosco. Estamos voltando para casa. Você não pode ficar sozinha aqui, é muito
ermo.
A garota ao ouvir o chamado, balançou a cabeça negativamente.
Tentou correr, mas Amilton a conteve.
Dizendo para ela não se assustar, afirmou que não iria fazer-lhe nada de mal.
Olhava diretamente para os olhos da moça.
Rodrigo então se aproximou, estendeu sua mão e pediu para ela os acompanhasse.
Aflita, sem saber direito o que fazer, a moça segurou a mão do rapaz.
Nisto Amilton auxiliou-a a entrar no barco.
E assim, os três seguiram até o outro lado do rio.
Ao chegarem na margem, a moça avistou uma bonita casa de campo. 
Ampla, acolhedora.
Rodrigo respondeu que era ali que moravam.
- Bonita! – respondeu a moça.
Amilton e Rodrigo, conduziram a moça a casa.
Prepararam o jantar, e usando de um pouco de convencimento, fizeram com que a moça comesse
um pouco.
Em seguida Amilton resolveu fazer algumas perguntas a moça, que atordoada, nada conseguia
responder. 
Dizia não se lembrar onde morava, quem era sua família.
 Nem de seu nome se lembrava.
Rodrigo e Amilton só conseguiram descobrir que a moça vinha de São Paulo.
Percebendo que a moça permanecia atordoada, Amilton solicitou que o filho arrumasse um dos
quartos para que ela pudesse dormir.
Depois da arrumação, a moça foi conduzida para o quarto.
Nisto ela, exausta, atirou-se na cama e dormiu.
Enquanto isto, Amilton e Rodrigo discutiam o que fazer com a moça.
Preocupado, Amilton disse ao filho, que precisavam comunicar o desaparecimento da moça para
a polícia.
Ao ouvir isto, Rodrigo questionou a providência a ser tomada. Perguntava:
- Isto é realmente necessário?
Amilton argumentou que precisavam fazer isto, pois caso não o fizessem, poderiam ainda serem
acusados de seqüestro.
Com isto, só coube a Rodrigo aceitar.
Nisto, no dia seguinte Amilton foi até a delegacia de polícia. 
Lá o homem comunicou o desaparecimento de uma moça morena, de estatura mediana e de cabelos pretos e compridos.
O homem comentou que a moça estava perdida, desorientada, não se lembrava de onde vinha,
apenas que saira de São Paulo, vindo a se encontrar naquelas paragens.
Respondeu que ao ver que a moça estava sozinha, ele e seu filho se encarregaram de levá-la para
casa.
O delegado registrou o ocorrido. 
Informou que iria até a casa de Amilton fazer algumas perguntas a moça. 
Relatou que iria verificar que em São Paulo estava sendo procurada uma moça com aquelas características.
Visando obter maiores informações, perguntou se a moça realmente não sabia de onde viera. 
Amilton respondeu que fez esta pergunta a moça, e ela não soube informar seu paradeiro.
Com efeito, ao despertar, a moça se assustou ao se deparar com um ambiente estranho. Levantou-se. Olhou em volta.
Sentou-se na cama.
Nisto Rodrigo bateu na porta.
Pedindo licença, perguntou se poderia entrar.
Sem saber o que dizer, a moça acabou respondendo que podia.
Rodrigo adentrou o quarto.
Ao ver que a moça estava sentada na cama, perguntou se estava tudo bem.
Aturdida, a garota perguntou onde estava.
Rodrigo ficou surpreso com a pergunta:
- Então não se lembra? Você estava desorientada, caminhava perdida por estas paragens. Ao
vê-la neste estado, conduzimos você até esta casa.
A moça começou a pensar. Colocando as mãos na cabeça, a garota lembrou-se dos últimos
acontecimentos.
Diante disto, respondeu que sim, se recordava.
Nisto o moço perguntou seu nome.
A moça tentou se lembrar. Realizou um esforço muito grande.
Rodrigo percebendo isto, pediu para que ela deixar isto para depois. 
Comentou que havia preparado um café da manhã.
Nisto a moça comeu cereais, frutas, leite, suco, pão com frios, queijo branco. Tudo que era
oferecido a ela, aceitava de bom grado.
Rodrigo comentou que ela estava com muita fome.
Belo contraste em relação ao jantar frugal do dia anterior.
O moço comentou que dali a pouco iria trabalhar, e que seu pai havia dado uma saída e que
retornaria dentro em breve.
Com isto, Amilton retornou da delegacia.
Rodrigo comentou que ela havia tomado o café da manhã.
Amilton falou que precisava conversar com a moça.
Assim o fez. 
Contou a moça que comparecera na delegacia da cidadezinha, e que relatou seu desaparecimento ao delegado.
A garota demonstrou que ficou contrariada.
O homem por sua vez, argumentou que não poderia ter agido diferente sob pena de ser acusado
mais tarde, de seqüestro.
A moça então desculpou-se pelo incômodo. Comentou que iria embora dali.
Amilton disse que não havia necessidade. Perguntou-lhe então, se havia se recordado de alguma
coisa.
A moça respondeu que não.
Nisto ouviu uma voz chamando: “Sônia”.
Voltou-se. 
Olhando para Amilton, perguntou se ele a havia chamado.
O homem respondeu que não.
A moça respondeu que havia se lembrado de seu nome. 
Respondeu que se chamava Sônia.
Mais tarde pai e filho saíram para trabalhar.
A moça permaneceu sozinha em casa.
Fechada na casa, circulou pelo imóvel. Ao achar livros, pegou um deles e começou a ler.
Ao voltarem do trabalho, perceberam que a moça havia lavado a louça e arrumado os utensílios
da cozinha.
Amilton agradeceu a gentileza. Perguntou-lhe se havia se lembrado de mais alguma coisa.
Nervosa, a moça respondeu que não.
- Está bem Sônia!
Durante o jantar, o delegado compareceu na residência.
Diante disto, foi convidado para a ceia.
Enquanto jantava, resolveu fazer algumas perguntas a moça, que nervosa, respondeu que não se
lembrava de nada. Recordou-se que viera de São Paulo, e que chamava-se Sônia. 
Jandir, recomendou-lhe não ficar nervosa. Disse que estava apenas tentando auxiliá-la a encontrar
sua família.
Mais tarde, o homem se despediu de Amilton e Rodrigo. Prometeu que continuaria investigando
e que havendo novidade, comunicaria os fatos.
Sônia recolheu-se.
Rodrigo então, criticou a atitude do pai. Dizendo que ele devia ter preparado o espírito da moça,
argumentou que Jandir fora muito incisivo com ela.
Amilton concordou. 
Respondeu que conversaria com Jandir.
Nisto, os dois foram se recolher.
No dia seguinte Amilton foi conversar com o delegado.
Jandir por sua vez, prometeu que seria mais sutil nas próximas abordagens. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO CONTEMPORANEIDADE

Capítulo 1

Sônia estava insatisfeita com sua vida.
Nos últimos tempos, vivia se desentendendo com sua mãe.
Não entendia por que sua vida não era do jeito que gostaria.
Até o curso universitário passara a ser fonte de insatisfações.
Lara costumava dizer que aquilo era uma fase, e que com o tempo iria passar. Dizia que ser reflexo
dos arroubos da juventude.
Ouvir tais palavras de descrédito, deixavam a moça revoltada.
Com o tempo porém, passou a se importar menos com o pouco caso que seus pais creditavam a
seus problemas.
Passou a dar prosseguimento a sua rotina.
Para tentar se distrair, ouvia música, assistia filmes, lia livros.
Cantarolava:
“Um dia frio
Um bom lugar prá ler um livro
E o pensamento lá em você
Eu sem você não vivo

Um dia triste
Toda fragilidade incide
E o pensamento lá em você
E tudo me divide (bis)

Longe da felicidade e todas as suas luzes
Te desejo como ao ar
Mais que tudo
És manhã na natureza das flores

Mesmo por toda riqueza dos sheiks árabes
Não te esquecerei um dia
Nem um dia
Espero com a força do pensamento
Recriar a luz que me trará você

E tudo nascerá mais belo
O verde faz do azul com o amarelo
O elo com todas as cores
Pra enfeitar amores gris (bis)

Um dia frio
Um bom lugar prá ler um livro
E o pensamento lá em você
Eu sem você não vivo

Um dia triste
Toda fragilidade incide
E o pensamento lá em você
E tudo me divide

Mesmo por toda riqueza dos sheiks árabes
Não te esquecerei um dia
Nem um dia
Espero com a força do pensamento
Recriar a luz que me trará você

E tudo nascerá mais belo
O verde faz do azul com o amarelo
O elo com todas as cores
Pra enfeitar amores gris (bis)
Nem um dia - Composição: Djavan”

No momento se ocupava com a leitura de biografia, como a de Casimiro Montenegro, o homem
que criou o ITA; de Oscar Schindler – alemão que salvou a vida de milhares de judeus, durante a
Segunda Grande Guerra.
Ler sobre a vida de pessoas notáveis, lhe fazia esquecer sua insatisfação com a vida.
Ou melhor, fazia com que visse seus problemas por uma outra perspectiva.
Chegava a se sentir pequena, diante da grandeza de tais pessoas.
E nisto, pensava, pensava ...

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO ANOS OITENTAS – AVENTURAS NOS CLUBES DE ESQUINAS

Capítulo 6

Certo dia, Rafael pediu-lhe para cantar alguma coisa.
Lara titubeou um pouco, mas depois, atendendo ao pleito, começou a cantar:
“Diz pra eu ficar muda
Faz cara de mistério
Tira essa bermuda
Que eu quero você sério...

Tramas do sucesso
Mundo particular
Solos de guitarra
Não vão me conquistar...

Uh! eu quero você
Como eu quero!
Uh! eu quero você
Como eu quero!...(x2)

O que você precisa
É de um retoque total
Vou transformar o seu rascunho
Em arte final...

Agora não tem jeito
Cê tá numa cilada
Cada um por si
Você por mim e mais nada...

Uh! eu quero você
Como eu quero!
Uh! eu quero você
Como eu quero!...

Longe do meu domínio
Cê vai de mal a pior
Vem que eu te ensino
Como ser bem melhor...

Longe do meu domínio
Cê vai de mal a pior
Vem que eu te ensino
Como ser bem melhor...
(Bem melhor!)...

Uh! eu quero você
Como eu quero!
Uh! eu quero você
Como eu quero!...(2x)
Uh! eu quero você
Como eu quero!...
Como eu quero - Composição: Leoni e Paula Toller”

Rafael beijou a moça.
A seguir segurou a moça pelos braços.
Lara começou a rir.
O moço sussurrando, convidou-a a ir para seu quarto.
Quando Lara ficou noiva, Lorena e Ronaldo foram apresentados ao moço.
Lorena chegou a comentar que não precisava mais se preocupar com Lara.
Ronaldo, censurou a esposa. Dizendo que aquele não era assunto para ser tratado na frente do
noivo, comentou que era um momento de alegria.
Rafael disse que ele também estava mais tranquilo. 
Confidenciou que ao encontrar Lara, sentiu que seu futuro não seria tão incerto quanto imaginava.
Quando Lorena perguntou como o casal havia se conhecido, Lara e Rafael se entreolharam.
Depois de alguns minutos, o moço respondeu que eles se conheceram em uma boate.
Lara arregalou os olhos.
Rafael emendou dizendo que foi encontro inesquecível. Disse também que acabou perdendo o
contato com a moça, mas persistiu procurando-a por todos os lugares onde passava.
- Que romântico! – comentou Lorena, enternecida.
Clara, Clotilde, Alice e Iolanda, assim como Lucas, Inácio, Artur, Rogério e Fabrício,
acompanharam o almoço de noivado.
Rafael colocou um anel no dedo da moça.
Nisto Rafael e Lara casaram-se e foram morar juntos.
Como o moço, pouco tempo depois de casado, perdeu o emprego, Lara assumiu as despesas do
lar.
Rafael passou então, a se ocupar dos afazeres domésticos.
Passou a lavar, passar cuidar da casa.
Também continuou a procurar trabalho, mas nada de arrumar ocupação.
Este fato o deixava deveras insatisfeito.
Certo dia, percebendo uma certa tristeza no semblante do moço, Lara perguntou o que se passava.
Rafael se fechou em copas.
Ao se deparar então com jornais e ofertas de emprego circuladas, em um jornal dobrado, percebeu
por que o moço andava triste.
Nisto, dizendo-lhe palavras de consolo, argumentou que aquela situação era temporária, e que
com sua força de vontade e garra, ele acabaria encontrando trabalho em sua área.
Triste o homem começou a cantar:
“Um dia vivi a ilusão de que ser homem bastaria
Que o mundo masculino tudo me daria
Do que eu quisesse ter
Que nada, minha porção mulher que até então se resguardara
É a porção melhor que trago em mim agora
É o que me faz viver
Quem dera pudesse todo homem compreender, ó mãe, quem dera
Ser o verão no apogeu da primavera
E só por ela ser
Quem sabe, o super-homem venha nos restituir a glória
Mudando como um Deus, o curso da história
Por causa da mulher
Quem sabe o super-homem, venha nos restituir a glória
Mudando como um deus o curso da história
Por causa da mulher
Super-Homem, a Canção - Gilberto Gil”
Lara abraçou o moço. Beijou seu rosto.
Nisto, ao curso de alguns meses, o homem arrumou um trabalho.
Com a situação financeira mais estável, o casal teve um filho.
Ao segurar a criança no colo, Rafael ficou emocionado.
Chegou a cantar baixinho para ela:
“É comum a gente sonhar, eu sei, quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar um sonho lindo de morrer
Vejo um berço e nele eu me debruçar com o pranto a me correr
E assim chorando acalentar o filho que eu quero ter

Dorme, meu pequenininho, dorme que a noite já vem
Teu pai está muito sozinho de tanto amor que ele tem
De repente eu vejo se transformar num menino igual seu pai
Que vem correndo me beijar quando eu chegar lá de onde eu vim

Um menino sempre a me perguntar um porque que não tem fim
Um filho a quem só queira bem e a quem só diga que sim
Dorme menino levado, dorme que a vida já vem
Teu pai está muito cansado de tanta dor que ele tem

Quando a vida enfim me quiser levar pelo tanto que me deu
Sentir-lhe a barba me roçar no derradeiro beijo seu
E ao sentir também sua mão vedar meu olhar dos olhos seus
Ouvir-lhe a voz a me embalar num acalanto de adeus

Dorme meu pai sem cuidado, dorme que ao entardecer
Teu filho sonha acordado, com o filho que ele quer ter
O Filho Que Eu Quero Ter - Composição: Toquinho/Vinicius de Moraes”

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO ANOS OITENTAS – AVENTURAS NOS CLUBES DE ESQUINAS

Capítulo 5

Nisto Rafael continuou a empreender sua busca. 
Numa noite o moço avistou Lara conversando com suas amigas.
Emocionado, mal podia acreditar no que estava vendo.
Desesperançado, um dia chegou até a procurá-la na boate em que ocorrera o encontro.
Mal podia acreditar no que via.
Lucas, ao perceber o que se passava, incentivou o amigo a ir ao encontro da moça e conversar.
Nervoso, Rafael relutou em se aproximar dela.
Lucas argumentou:
- Eu não acredito! Eu você me enlouqueceu com a história dessa moça. Encheu os meus ouvidos
por meses, para no momento em que finalmente a encontra, resolve desistir? Cadê a coragem do
conquistador! Estou decepcionado!
Nisto, ficou empurrando o amigo na direção em que a moça estava.
Constrangido, Rafael disse que não havia necessidade daquilo.
Nervoso, afastou a mão do amigo, e disse que ele iria encontrá-la por sua própria iniciativa.
E assim, tentando encontrar coragem, o moço foi ao encontro da moça.
Lucas observava o amigo à uma certa distância.
Cauteloso, Rafael não queria assustá-la.
Contudo, sentindo que precisava não se fazer notar até se aproximar da moça, foi caminhando
lentamente ao seu encontro.
Lucas ironizou dizendo que ele era tão rápido quanto uma tartaruga.
Rafael pediu para ele se calar.
Com isto, finalmente se aproximou da moça.
Lara, surpresa, o reconheceu imediatamente. 
Assustada, tentou sair do lugar.
O moço porém, agil, segurou a sua mão.
Nisto, pediu para que ela não fosse embora. 
Disse que depois de tanta procura, ela não poderia partir simplesmente.
Rafael começou a cantar:
“Eu tô perdido
Sem pai nem mãe
Bem na porta da tua casa
Eu tô pedindo
A tua mão
E um pouquinho do braço

Migalhas dormidas do teu pão
Raspas e restos me interessam
Pequenas porções de ilusão
Mentiras sinceras me interessam
Me interessam...

Eu tô pedindo
A tua mão
Me leve para qualquer lado
Só um pouquinho de proteção
A um maior abandonado
Teu corpo, com amor ou não
Raspas e restos me interessam
Me ame como a um irmão

Mentiras sinceras me interessam
Me interessam...
Migalhas dormidas do teu pão
Raspas e restos me interessam
Pequenas poções de ilusão
Mentiras sinceras me interessam
Me interessam...

Eu tô pedindo
A tua mão
Me leve para qualquer lado
Só um pouquinho de proteção
A um maior abandonado
Maior Abandonado - Compositor(es): Cazuza/Frejat”

Lara resolveu então, ouvir o moço.
Rafael lhe explicou que ela o deixara muito bem impressionado, e que razão, sentiu necessidade
de vê-la novamente. Comentou que o que sentira por ela, nunca havia sentido isto, antes por outra
pessoa.
Lara ficou perplexa.
Nisto, Lucas resolveu se aproximar. 
Simpático, cumprimentou a moça, elogiando o bom gosto do amigo.
A moça sorriu agradecendo.
Nisto, Lucas despediu-se.
Aflito, Rafael perguntou-lhe então, se eles poderiam se encontrar novamente.
Lara não sabia o que responder.
O moço insistiu.
Dizendo que não poderia obrigá-la a aceitar o convite, argumentou que ela não perderia nada com
isto.
Desta forma, Lara aceitou o convite.
Nisto, ele se apresentou, e ela finalmente disse seu nome.
Ao ouvir Lara, o homem ficou encantado. Gentil, disse que aquele era um bonito nome.
Lara agradeceu a gentileza.
Mas tarde, a moça lhe contaria que sua mãe lhe dera este nome, em homenagem a personagem do
filme “Doutor Jivago”.
O primeiro encontro do casal, foi num restaurante.
Inicialmente tímidos, o casal passou mais tempo se olhando, do que propriamente conversando.
Rafael porém, a despeito disto, estava muito feliz com o encontro.
Tanto que acabou conseguindo um novo encontro com a moça.
Conforme o tempo foi passando, finalmente o casal começou a namorar.
Certo dia, o moço convidou-a para almoçar em sua casa.
Zeloso e esforçado, o homem tentou preparar arroz, batatas douradas, bisteca e salada.
Passou dias elaborando um cardápio.
Nervoso, preparou a refeição com todo o cuidado.
Lara usava um vestido bandagem, calçava um scarpin.
Nisto a moça foi até o apartamento de Rafael. Apertou a campanhia.
Ao vê-la, Rafael elogiou-a. Disse que ela estava muito bonita.
A moça agradeceu o elogio.
Nisto, o moço convidou-a para entrar. Perguntou-lhe se gostaria de bebericar algo.
Lara respondeu que não.
Nisto, Rafael pediu licença e voltou para a cozinha. Respondeu que faltava pouco para o almoço
ser servido.
Quando estava tudo pronto, o moço colocou o arroz, as batatas, a carne e a salada em bonitas
louças.
A seguir, convidou a moça para sentar-se.
Puxou a cadeira e a moça agradecida, sentou-se.
Nisto, serviu a mesa. Colocou arroz, batatas, carne e salada em seu prato.
Depois, serviu-se.
Com isto, o moço pediu a moça para experimentar a comida.
Lara se serviu de um pouco de arroz, batata e bisteca.
Porém, ao colocar a comida na boca. Sentiu um gosto estranho. 
Ansioso, Rafael perguntou o que ela tinha achado da comida.
Sem graça, Lara respondeu que a comida estava ótima.
Todavia, em que pese o elogio a comida, sua expressão dizia o contrário.
Percebendo isto, Rafael resolveu experimentar a comida.
Ao colocar a comida na boca, o moço perceber que a mesma não estava boa.
Diante disto, disse:
- Não! Não coma! Está horrível!
Chateado, recolheu a comida e jogou o almoço fora.
Em seguida, pediu desculpas.
Lara então, percebendo que ele estava se esforçando para ser gentil, respondeu que não tinha
problema.
Nisto, ao ver que o moço estava chateado, segurou o queixo do moço. 
Convidou-o para almoçar fora.
Rafael concordou. Disse porém, que pagaria a conta. Tentando se desculpar, argumentou que já
que havia estragado o almoço, precisava compensá-la de alguma forma.
E lá se foi o casal procurar um restaurante para almoçar.
Nisto, o moço resolveu levar a moça para o restaurante onde costumava ir com seus amigos.
O dono do restaurante, ao reconhecê-lo, comentou que ele estava muito bem acompanhado.
Rafael e Lara agradeceram.
Juntos, comeram uma boa pizza. Beberam vinho.
Conversaram.
Rafael contou que vivia sozinho em São Paulo. Disse que estava na cidade para estudar.
Lara por sua vez, comentou que nascera em São Paulo, que sua mãe era paulistana, que sua avó,
assim como sua bisavó também eram.
Rindo, Rafael brincou dizendo que ela advinha de uma família paulistana quatrocentona.
Lara achou graça.
Ao voltarem para o apartamento de Rafael, o casal parou em frente a uma sorveteria. Compraram
sorvetes e foram tomando a sobremesa enquanto caminhavam pelo Centro da cidade.
Rafael comentou que aquela cidade era fascinante. Sua grandeza assustava e atraía ao mesmo
tempo.
Lara parecia compreender o que ele estava querendo dizer.
Aquele foi momento em que Lara decidiu que valia a pena investir naquela relação. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.