CAPÍTULO 92
Na cidade de Goiás, tiveram o privilégio de conhecer o Goiás Velho.
No calçamento de suas ruas, todas desiguais em tamanho e nivelamento, estão denunciados
os passos lentos e pesados de muitas patas de boi.
Hoje, porém, ao invés de bois, são os cavalos
que estalam suas ferraduras nas pedras.
Foi nessa histórica cidade, que conheceram a Casa de Cora
Coralina.
Neste casarão, na beira da ponte foi onde viveu a poetisa ingênua e a doceira de mão
cheia Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, a famosa Cora Coralina (1889-1985).
Na
construção colonial de 1682 – uma das primeiras casas da cidade – está tudo o que ela deixou:
móveis, livros, rascunhos literários, documentos e cartas de remetentes ilustres como Carlos
Drummond de Andrade e Jorge Amado.
Até suas roupas floridas continuam no cabide do quarto.
Na cozinha, os tachos de cobre onde Cora fazia doces cristalizados – seu ganha pão durante muito
tempo.
Escritora desde os catorze anos, estudou até o terceiro ano primário, aprendeu a fazer contas
aos setenta anos e publicou seu primeiro livro aos setenta e cinco.
No quintal da casa está a bica de água mineral, fonte que a inspirou assim:
“Biquinha és banho e refrigério,
Copo de água cristalina e azul
Para a sede de quem fez
A longa caminhada
Às vertentes do passado
E volta vazia às origens
Da sua própria vida.”
Em seguida os turistas visitaram a Igreja Nossa Senhora da Abadia.
Construída pelos
escravos e para os escravos em 1790.
O altar é todo talhado em madeira, pintado de azul e ouro,
de autoria desconhecida como a pintura no teto, que representa Nossa Senhora no céu com os
anjos.
Ademais, a imagem da padroeira de Veiga Valle decora o altar.
Ao visitarem a Catedral de Sant’Ana, os turistas descobriram que esta fora a quarta igreja
construída no mesmo lugar.
Em 1727, era apenas uma capela e ruiu.
Em 1743, erguida uma igreja
barroca no lugar, também ruiu.
Novamente, em 1949, foi construída uma igreja barroca em seu
lugar.
Mais uma vez, a edificação construída ruiu.
Depois, novamente erguida uma edificação,
desde 1958, elevada a condição de catedral, continua firme como tribuna pastoral de Dom Tomás
Balduíno desde 1967.
Na Igreja de São Francisco de Paula, ao avistarem sua fachada branquinha, emoldurada por
portas e janelas azuis, os turistas trataram logo de entrar.
Ao adentrarem a construção, foram logo
observando seus detalhes arquitetônicos, como o centro do altar onde está a imagem de Bom Jesus
dos Passos, trazida de Salvador em 1745 e usada na procissão da semana santa.
Contudo a surpresa
maior estava no teto.
Os turistas ao lançarem os olhos para o teto da igreja, puderam ver passagens
da vida de São Francisco.
Ademais, do pátio da igreja a vista da cidade é lindíssima.
Por conta
dessa visão puderam vislumbrar toda a magnitude da cidade.
Contudo, como ainda tinham muito o que ver, trataram logo de visitar a Igreja do Rosário.
Esta edificação, construída pelos dominicanos em 1959, é um templo de pedra, que apresenta uma
torre solitária e arcos góticos.
Em suas paredes laterais, está pintada pelo Frei Nazareno Canfalone,
a Via Crucis.
Além disso, esta igreja, ocupa o espaço da antiga Igreja Nossa Senhora do Rosário
dos Pretos, demolida em 1920.
Quando os turistas foram visitar a Igreja de Santa Bárbara, e ao perceberem que a mesma
estava fechada, trataram de subir seus oitenta e sete degraus e contemplaram a cidade do alto.
No Museu das Bandeiras, os turistas passearam pelo enorme casarão de pé direito duplo sustentado
por seculares vigas de madeira, construído em 1761.
O andar térreo era cadeia, o de cima, Câmara
Municipal. A prisão úmida, lembra uma enxovia e funcionou até 1950.
As duas celas coletivas
têm paredes de um metro de espessura e grades grossas.
No piso superior estão documentos, fotos,
louças e objetos domésticos da época do império.
Tudo explicado em painéis históricos.
Na praça,
próxima do museu, há uma fonte com chafariz de cauda, de 1778.
No Palácio Conde dos Arcos, os turistas conheceram o casarão de trinta e seis cômodos, que foi sede do governo de 1748 à 1935.
Ali, móveis, louças e objetos dos noventa e oito
governadores que passaram por lá, entre os quais, Felicíssimo Espírito Santo, bisavô de Fernando
Henrique Cardoso.
Depois, os viajantes conheceram o Quartel.
Foi este local, que durante a Guerra do
Paraguai, serviu de hospital militar.
Hoje o pátio interno serve de palco para festas populares.
Depois, os turistas aproveitaram para andar de charrete pela cidade, bem como por seus
arredores.
Mais tarde, aproveitaram também, para descer de bóia, o Rio Bagagem.
No dia seguinte, acompanhados de um guia, visitaram a Serra Dourada.
Pela estrada para Aruanã, os turistas chegaram até a serra.
Porém, passando pela estrada,
os turistas avistaram um túnel de dois metros de altura, cavado por escravos no morro da
Bandeirinha, o qual dá acesso a vários salões, e acredita-se que sai do outro lado do morro, onde
se encontra uma outra estrada.
De acordo com o guia, documentos de 1839 contam que dois
alemães entraram no túnel e nunca mais voltaram.
Um padre, indignado com o descaso do governo,
também resolveu ir atrás deles e também sumiu.
Por isso mesmo, os turistas acharam por bem,
entrarem acompanhados do guia.
Isso por que, ninguém conhece os mistérios do lugar.
Após, na serra que contorna a cidade, e que esconde rios, cachoeiras e ribeirões que
deságuam no Rio Vermelho, foram passear.
Neste lugar, a vegetação de cerrado convida a
caminhadas entre flores silvestres, ipês-amarelos e esculturas naturais, escavadas pela ação do
tempo nas rochas.
Por fim, o pôr-do-sol dá nome à serra.
Assim, voltaram a Goiás.
Foi então, que de volta a cidade, aproveitaram para participar da Semana Santa.
Na quarta feira, tem a procissão do fogaréu, que simboliza a busca e a prisão de Jesus.
Nessa procissão, os
fiéis saem com tochas na mão ao som de tambores e de músicas barrocas chamadas ‘moletes dos
passos’, compostas em 1855.
Na Igreja do Rosário ocorre a ceia do Senhor.
Depois, na Igreja de
São Francisco, encenação da crucificação de Cristo.
A seguir, os turistas aproveitaram para
comprar algumas pinturas, produzidas por Goiandira Ayres de Couto, as quais são feitas a partir
de 551 tons diferentes de grãos de areia coloridos da Serra Dourada.
As pinturas são de casarões e
paisagens de Goiás dessa artista, que já expôs em mais de trinta países do mundo.
Passeando pelas ruas da cidade, conheceram ainda o Mercado Municipal e um museu
improvisado, com peças artesanais.
Com isso, depois de tantos passeios turistas despediram-se da região, e novamente
partiram.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
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