No tempo dos padres jesuítas, existia um moço sacristão no Povo de Santo Tomé, na
Argentina, do outro lado do rio Uruguai.
Ele morava numa cela de pedra nos fundos da própria
igreja, na praça principal da aldeia.
Ora, num verão mui forte, com um sol de rachar, ele não conseguiu dormir a sesta.
Foi então, que levantou-se, assoleado, e foi até a beira da lagoa refrescar-se.
Levava consigo
uma guampa, que usava como copo.
Coisa estranha: a lagoa toda fervia e largava um vapor sufocante, e qual não foi a surpresa
do sacristão ao ver sair d'água a própria Teiniaguá, na forma de uma lagartixa com a cabeça de
fogo, colorada como um carbúnculo.
Ele, homem religioso, sabia que a Teiniaguá, - os padres diziam isso!- tinha partes com o
Diabo Vermelho, o Anhangá-Pitã, que tentava os homens, e arrastava todos para o inferno.
Mas
sabia também que a Teiniaguá era mulher, uma princesa moura encantada, jamais tocada por
homem.
Aquele pelo qual se apaixonasse, seria feliz para sempre.
Assim, num gesto rápido, aprisionou a Teiniagá na guampa, e voltou correndo para a igreja,
sem se importar com o calor.
Passou o dia inteiro metido na cela, inquieto, louco para que chegasse a noite.
Quando as sombras finalmente desceram sobre a aldeia, ele não se sofreu: destampou a
guampa para ver a Teiniaguá.
Aí, o milagre: a Teiniaguá se transformou na princesa moura, que sorriu para ele e pediu
vinho, com os lábios vermelhos.
Ora, vinho só o da Santa Missa.
Louco de amor, ele não pensou duas vezes: roubou o vinho sagrado e assim, bebendo e
amando, eles passaram a noite.
No outro dia, o sacristão não prestava para nada.
Mas, quando chegou a noite, tudo se
repetiu.
E assim foi até que os padres finalmente desconfiaram, e numa madrugada invadiram a
cela do sacristão.
A princesa moura transformou-se em Teiniaguá, e fugiu para as barrancas do rio
Uruguai.
Mas o moço, embriagado pelo vinho e de amor, foi preso e acorrentado.
Como o crime era horrível – contra Deus e a Igreja! – foi condenado a morrer no garrote
vil, na praça, diante da igreja que ele tinha profanado.
No dia da execução, todo o Povo se reuniu diante da igreja de São Tomé.
Então, lá das barrancas do Rio Uruguai, a Teiniaguá sentiu que seu amado corria perigo.
Aí, com todo o poder de sua magia, começou a procurar o sacristão abrindo rombos na
terra, uns valos enormes, rasgando tudo.
Por um desses valos, ela finalmente chegou à igreja, bem
na hora em que o carrasco ia garrotear o sacristão.
O que se viu foi um estouro muito grande, nessa hora, parecia que o mundo inteiro vinha
abaixo.
Houve fogo, fumaça e enxofre, e tudo afundou, e tudo desapareceu de vista.
E quando as
coisas clarearam, a Teiniaguá tinha libertado o sacristão, e voltado com ele para as barrancas do Rio
Uruguai.
Vai daí, atravessou o rio para o lado de cá, e ficou uns três dias em São Francisco de Borja,
procurando um lugar afastado onde os dois apaixonados pudessem viver em paz.
Assim,
foram parar no Cerro do Jarau, no Quaraim, onde descobriram uma caverna muito funda e
comprida.
E lá foram morar, os dois.
Essa caverna, no alto do Cerro, ficou encantada.
Virou Salamanca, que quer dizer "gruta mágica", a Salamanca do Jarau.
Quem tivesse coragem de entrar lá, passasse sete provas e conseguisse sair, ficava com o
corpo fechado, com sorte no amor, e com dinheiro para o resto da vida.
Na Salamanca do Jarau, a Teiniaguá e o sacristão, se tornaram os pais dos primeiros gaúchos
do Rio Grande do Sul.
Ah, ali vive também a Mãe do Ouro, na forma de uma enorme bola de fogo.
Às vezes, nas tardes ameaçando chuva, dá um grande estouro numa das cabeças do Cerro, e pula
uma elevação para outra.
Muita gente viu.
Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário