CAPÍTULO 86
Felipe, ao ouvir a narrativa, ficou deslumbrado.
A região do Pará era além de exótica, uma região rica em tradições culturais.
Por isso mesmo, interessado em ouvir novas lendas, continuou ali em meio aos nativos do lugar, que lhe contavam todas as lendas que conheciam.
Nisso, foi contada a história da Criação do Mundo.
Dentre as lendas carajás está a da criação do mundo.
Nesta região, todos são unânimes em afirmar que se originou do Furo das Pedras.
Um local debaixo d’água, perto do Rio Macaúba.
Seus parentes, os javaés e os xambivás, teriam a mesma origem.
Afirma-se que os animais se transformam em homens e vice-versa.
Acredita-se que os astros são povoados por seres humanos, que descem à terra.
Os índios carajás são originários de um mundo subterrâneo, onde a luz do sol penetra enquanto aqui é noite.
Aí nesse furo, viviam os antepassados dos carajás, dos javaés, dos xambivás.
Eram muito felizes e morriam de velhice só mesmo depois de terem cansado de viver.
Um dia saíram de lá, e passaram a percorrer a terra.
Entretanto, um deles, por ser muito robusto, não conseguiu passar seu corpo pelo furo da pedra.
Lá ficou entalado.
Os que estavam na terra, ao regressar, trouxeram-lhe frutos, comidas e galhos secos de árvore.
Ele observou e disse:
“Não quero ir para este lugar, lá as coisas morrem cedo.
Vejam os galhos secos das árvores.
Voltem para nosso lugar onde viveremos para sempre.”
Mas ele voltou sozinho para o fundo do buraco e os carajás ficaram na terra.
E tudo aqui era escuro...
Alimentavam-se com raízes e frutos do mato que precisavam ir catar.
Aí um menino chegou, viu uma menina.
Achou-a bonita e com ela se casou...
Depois, mandou que ela fosse ao mato buscar frutos.
E estava tudo escuro.
Aproximou-se a mãe, que desejou ajudar, mas como estava escuro para colher frutos, machucou a mão nos espinhos.
Nada podiam fazer porque estava escuro, somente quando aparecesse um raio de sol para clarear.
Então, a mãe mandou o menino buscar raízes.
No escuro, o menino pegou mandioca brava e comeu.
E começou a passar mal, deitado de costas.
Um urubu, vindo com o seu passo desengonçado, disse para os outros:
“Ele não está morto, ainda se move.”
Chegaram mais urubus, e o menino continuava de costas, com os olhos piscando...
Os urubus foram se aproximando para beliscar o menino.
Mas o caracará, mais cuidadoso, ficou voando em redor, observando.
Chegou mais perto do menino e gritou para os urubus:
“Cuidado, ele está vivo!”
Os urubus em coro responderam:
“Ele está morto!”
E a discussão começou:
“Ele está morto! Ele está vivo!”
Então o caracará foi buscar o urubu-rei, que confirmou que o menino estava vivo.
Então o caracará foi buscar o avô do urubu-rei, de bico vermelho e o cabelo ralo, que chegou e disse:
“Ele está morto!”
E pousou sobre a barriga do menino.
Então ouviu-se um estalo...
O menino pegou o urubu-rei com as mãos.
Ele se debateu, esperneou, quis fugir, mas estava seguro.
Então o menino disse ao urubu-rei:
“Quero enfeites!”
E o urubu-rei respondeu:
“Vou trazer!”
Trouxe as estrelas do céu.
O menino não gostou porque continuava escuro:
“Quero outro enfeite!”
O urubu trouxe a lua.
E o menino respondeu:
“Também não serve, ainda está escuro!”
Então o urubu-rei trouxe o sol.
E o menino ficou contente porque tudo ficou claro.
Era o dia.
A mãe então, se aproximou do urubu-rei, que passou a ensinar-lhe a utilidade de todas as coisas.
Então o menino soltou o urubu-rei.
Nisso a mãe lembrou-se de perguntar qual era o segredo da eterna juventude.
O urubu respondeu, mas infelizmente ele estava tão alto que todos ouviram a resposta, as árvores, os peixes, os animais, menos a mãe e o menino.
É por isso que envelhecemos e morremos.
Com isso, Felipe, notando que precisava partir, despediu-se do povo da terra, assim como seus amigos, e prosseguiram viagem.
Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
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