Poesias

sexta-feira, 31 de julho de 2020

COISAS DO BRASIL PARTE 3 – REGIÃO SUL CAPÍTULO 5

Assim, continuando a narrar as tradições gaúchas, o narrador comentou sobre a origem do Primeiro Gaúcho. 
A história começa assim: 
Os índios que habitavam a região sul, conheciam, não se sabe desde quando, o uso das boleadeiras. 
Simplesmente, usavam-nas juntamente com as flechas e lanças, contra os inimigos e também para caçar. 
Dizem que, uma vez, no século XVIII, os índios estavam realizando uma grande festividade. 
Diversas fogueiras foram acessas para assar as caças. 
Além disso, dançavam e cantavam alegremente. 
Com isso, alguns bandeirantes passando por perto viram a fumaça. 
Como eles andavam atrás de ouro e algumas pedras preciosas, necessitavam de escravos para ajudá-los no trabalho. 
Um deles chegou até a dizer: 
-- Vejam! Fumaça! Devem ser os índios! 
-- Com certeza! – respondeu outro. 
– Vamos aprisioná-los! 
Dessa forma, apontaram as cordas, verificaram as armas e seguiram em direção à fumaça. 
Os índios, que não eram bobos, mantinham sentinelas por todos aqueles lugares. 
Informado da presença dos bandeirantes, o cacique da tribo ficou furioso: 
-- São os brancos que querem escravizar-nos! – gritou ele. 
– Que venham! Que venham! 
O chefe, então, arquitetou um plano: mandou que vários guerreiros montassem em seus cavalos e seguissem para a campina. 
Os índios cavaleiros deveriam ficar deitados e escondidos num dos lados do cavalo, deixando o outro lado voltado para os brancos. 
Com isso, eles pensariam tratar-se de cavalos selvagens e se aproximariam, tornando-se presas fáceis. 
Dito e feito. 
Quando os bandeirantes viram os cavalos, ficaram contentíssimos: 
-- Que belos cavalos! – exclamou o chefe. 
– Vamos cercá-los e laçá-los. 
Assim, foram se aproximando, sem perceberem que se tratava de uma armadilha. 
Quando então, os índios acharam que os brancos estavam suficientemente perto, endireitaram-se nos cavalos e partiram, rápidos como um tiro, contra eles, uns atirando boleadeiras ou flechas, outros com as terríveis lanças apontadas. 
Os bandeirantes ficaram boquiabertos. 
Até chegaram a dar alguns tiros, mas como o ataque havia sido inesperado, não tiveram tempo de reagir. 
Muitos foram mortos e, quem pôde, tratou logo de fugir dali. 
Vitoriosos, os índios examinaram o lugar onde se travara o combate, quando ouviram um gemido. 
Havia alguém vivo. 
O ferido era o mais moço do grupo de bandeirantes e chamava-se Rodrigo. 
Fizeram-no prisioneiro e o levaram para a aldeia. 
Em razão da vitória, foi realizada uma grande festa, na qual o Conselho da Tribo condenou Rodrigo à morte. 
Contudo, como os índios não matavam pessoas doentes ou feridas, decidiram esperar até que o rapaz ficasse completamente curado, para então, sacrificá-lo. 
Enquanto isso, o rapaz podia andar livremente pela aldeia. 
Foi então que a filha do chefe, uma linda mocinha chamada Imembuí, ficou com muita pena do prisioneiro, e passou a lhe dar as melhores comidas e bebidas. 
Com isso, os dias foram se passando. 
Rodrigo então, com o ferimento cicatrizado, percebeu que já estava próxima a hora de sua morte. 
Por isso, perguntou a Imembuí, se ela sabia a data da cerimônia. 
A índia olhou-o então, com os olhos cheios de lágrimas: 
-- Não tenha receio. – respondeu. – Estou do seu lado e nada te acontecerá. 
Ao ouvir isso Rodrigo ficou muito contente e até se animou. 
Como é bom ter esperança! 
Ficou tão alegre que sentiu vontade de cantar, de tocar. 
Resolveu então, fazer um instrumento, uma viola. 
Com sua faca, cortou um pedaço de madeira e pouco a pouco, penosamente, conseguiu dar-lhe a forma desejada. 
Depois arranjou fibras de uma trepadeira, transformando-a em cordas. 
Estava pronta a viola, e Rodrigo começou a tocar e a cantar belas canções, tristes e suaves, que agradaram imensamente a Imembuí. 
Dias depois, um índio trouxe a mensagem do cacique: estava próxima a hora do sacrifício! 
Ele precisava pagar por todos os brancos que pensaram em escravizar os índios. 
Era só aguardar mais um pouco. 
Ao ouvir a notícia, a esperança de Rodrigo ficou abalada, e embora a moça tivesse prometido que conseguiria salvá-lo, ele tinha suas dúvidas. 
De qualquer modo, continuou a tocar e a cantar para a mocinha índia, que não se cansava de ouvi-lo. 
E, pouco a pouco, apaixonaram-se um pelo outro, e começaram a namorar. 
Mas a dúvida permanecia. 
Mesmo com a moça lhe prometendo: 
-- Conseguirei salvá-lo. Pedirei perdão ao chefe. Ele é meu pai e não deixará de me atender. 
Mesmo assim, Rodrigo temia por sua vida. 
E assim, mais alguns dias correram. 
Certa manhã, alguns índios levaram o prisioneiro e amarraram-no fortemente a um tronco. 
O dia do sacrifício chegara. 
Imembuí não conseguira salvá-lo, embora tivesse pedido diversas vezes ao pai, e ele se sentisse inclinado a concordar. 
Assim, quando a moça foi avisada, atirou-se aos pés do pai e lhe implorou que conservasse a vida de seu namorado. 
O chefe então, respondeu: 
-- Por mim, ele seria poupado, mas há outros chefes e não quero desgostá-los. Fazem questão de sacrificar o branco conquistador. 
Ela então, saiu dali e foi conversar com os outros chefes. 
Implorou a todos, um por um. 
Disse-lhes que o moço era dotado de bom coração e que fizera aquilo por influência dos companheiros.
Mas os chefes não estavam dispostos a ceder. 
Como, porém, gostavam muito da indiazinha, resolveram formar um Conselho para decidir, de uma vez, a sorte de Rodrigo. 
Por isso, mandaram soltá-lo, até a solução final, e sua namorada correu para ele, a fim de lhe contar o que sucedera. 
Rodrigo ouviu tudo, preocupado. 
Não se sentiu muito esperançoso não. 
No Conselho, os chefes discutiam. 
Não viam motivo para poupá-lo, mas também não queriam desgostar a jovem índia, nem a seu pai, que era o chefe de todos. 
Foi então que Rodrigo teve uma idéia. 
Ele era muito esperto e se lembrou que os índios são muito sensíveis à música. 
Talvez conseguisse seduzi-los com suas canções. 
Foi então, buscar a viola, e sentou-se o mais perto possível do lugar do Conselho, e começou a tocar e a cantar as mais belas canções que conhecia. 
Dentro da cabana, os chefes ficaram maravilhados. 
Um a um, foram saindo para ver quem tocava e cantava tão docemente. 
Quando viram era o prisioneiro, ficaram surpresos. 
Ele não era um homem! 
Era um deus! 
E aquele que havia sido motivo de ódio, passou a ser agora, motivo de admiração por todos. 
Diz a lenda que, enquanto ouviam as tristes e belas canções, exclamavam: 
-- “Gaú-che! Gaú-che”. – que significava “gente que canta triste”. 
Desta expressão indígena, teria vindo a palavra gaúcho. 
Diante disso, os índios não tinham mais motivos para sacrificá-lo. 
Rodrigo e Imembuí, ficaram noivos e, pouco tempo depois, realizou-se o casamento. 
E que casamento! 
Jamais aqueles índios tinham visto uma festa igual. 
Depois do banquete, todos dançaram à luz das fogueiras. 
Foi com estes índios que Rodrigo aprendeu a usar as boleadeiras. 
Com o tempo, os chefes índios começaram a notar que Rodrigo, além de excelente músico, possuía outras qualidades. 
Era calmo, inteligente e equilibrado. 
Por esta razão, resolveram elegê-lo conselheiro da tribo. 
E ele agiu com tanta sabedoria e competência, que logo se tornou um dos chefes. 
Com seu modo de pensar de homem civilizado, influiu nos hábitos daquela gente. 
-- Temos necessidade de formar lavouras e melhorar nosso meio de vida. – disse ele, um dia. – Vamos às missões dos jesuítas e lá conseguiremos ferramentas e sementes. Em troca, daremos aos padres, erva-mate, cavalos, peles e o que mais pudermos conseguir. Desta maneira, também obteremos tecidos para vestir melhor a nossa gente. 
Dito e feito. 
Junto aos jesuítas, Rodrigo foi bem sucedido e conseguiu o que desejava. 
Com isso, logo a terra dos índios passou por uma grande transformação. 
Verdes lavouras, gordos animais, índios alegres. 
Rodrigo foi portanto, o primeiro gaúcho, e seus descendentes herdaram o amor à música, à terra e ao progresso.

2 Histórias e Lendas do Brasil (adaptado do texto original de Gonçalves Ribeiro). São Paulo: APEL Editora, sem/data.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

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