CAPÍTULO 88
Como esta que o nativos começaram a relatar.
Chama-se ‘Como Nasceram as Estrelas’.
No planalto oriental do Estado do Mato Grosso vive uma tribo de índios.
Os Orarimogodogue, mais conhecidos por Bororo.
Têm o hábito de se reunirem todas as noites.
Em voz alta, contam os fatos do dia, as aventuras e as lendas.
É uma das mais vivas maneiras de perpetuarem a tradição oral da tribo.
As histórias não começam com o “era uma vez”.
O narrador inicia a lenda dizendo “eu digo a vós, meus filhos, a vós, meus netos, e vós escutais a minha palavra...”
O milho é um dos principais alimentos dos Bororo.
Um dia as mulheres foram à roça colher milho, mas encontraram umas poucas espigas.
Ficaram muito tristes, pois não podiam alegrar os maridos que saíram para caçar.
Lembraram-se então de levar uns meninos que estavam brincando para ajudá-las.
Assim, colheram muito milho e, lá mesmo na roça, socaram e fizeram bolos para os homens caçadores.
Enquanto pilavam o milho, um menino saiu com uma taquara cheia de grãos de milho e os deu para sua avó que estava na maloca.
-- Prepare bolo para eu comer com meus amigos. – pediu o menino.
Mas a velhinha não sabia que eles tinham pego aquele milho sem ordem das suas mães.
Fez o bolo e eles comeram.
Foi um trabalhão para a velhinha.
Nisso, um papagaio que estava olhando tudo, sabia da tramóia dos meninos.
Assim, os meninos, ao perceberem que foram descobertos, cortaram-lhe a língua.
Depois, bem alimentados pelo bolo de milho, pensaram em subir para o céu.
Foram à mata, pegaram um beija-flor, amarraram em seu bico um cipó, e ordenaram-lhe que voasse o mais alto possível e prendesse a ponta no céu.
O Beija-flor fez como lhe haviam pedido.
Assim, enquanto ele voava, emendaram várias cordas de cipó até perder de vista.
Os meninos foram subindo, subindo, um a um, pelo cipó céu acima...
Quando as mulheres voltaram da roça perguntaram pelos meninos.
A velhinha, de tão cansada, dormia pesadamente.
Perguntaram para o papagaio, e ele nada respondeu porque tinham lhe cortado a língua.
As mulheres começaram a procurar os meninos e nada.
Uma viu um cipó, olhou melhor e concluiu - eles subiram ao céu por aqui.
Com isso, todas começaram a gritar para que os meninos voltassem.
Mas o beija-flor cada vez levava mais alto a ponta do cipó.
E eles não quiseram voltar, mesmo suas mães implorando, chorando.
Desobedeceram.
Como castigo de sua desobediência e ingratidão, foram obrigados, todas as noites, a olhar para a terra para ver se suas mães ainda estão chorando.
E os olhos dos meninos se tornaram as estrelas...71
71 Alceu Maynard Araújo. Brasil, histórias, costumes e lendas – São Paulo: Editora Três Ltda., s/data.
Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
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