Poesias

sexta-feira, 31 de julho de 2020

COISAS DO BRASIL PARTE 3 – REGIÃO SUL CAPÍTULO 8

Em seguida, o narrador passou a falar sobre a ‘Lenda da Salamanca do Jarau’: 
No tempo dos padres jesuítas, existia um moço sacristão no Povo de Santo Tomé, na Argentina, do outro lado do rio Uruguai. 
Ele morava numa cela de pedra nos fundos da própria igreja, na praça principal da aldeia. 
Ora, num verão mui forte, com um sol de rachar, ele não conseguiu dormir a sesta. 
Foi então, que levantou-se, assoleado, e foi até a beira da lagoa refrescar-se. 
Levava consigo uma guampa, que usava como copo. 
Coisa estranha: a lagoa toda fervia e largava um vapor sufocante, e qual não foi a surpresa do sacristão ao ver sair d'água a própria Teiniaguá, na forma de uma lagartixa com a cabeça de fogo, colorada como um carbúnculo. 
Ele, homem religioso, sabia que a Teiniaguá, - os padres diziam isso!- tinha partes com o Diabo Vermelho, o Anhangá-Pitã, que tentava os homens, e arrastava todos para o inferno. 
Mas sabia também que a Teiniaguá era mulher, uma princesa moura encantada, jamais tocada por homem. 
Aquele pelo qual se apaixonasse, seria feliz para sempre. 
Assim, num gesto rápido, aprisionou a Teiniagá na guampa, e voltou correndo para a igreja, sem se importar com o calor. 
Passou o dia inteiro metido na cela, inquieto, louco para que chegasse a noite. 
Quando as sombras finalmente desceram sobre a aldeia, ele não se sofreu: destampou a guampa para ver a Teiniaguá. 
Aí, o milagre: a Teiniaguá se transformou na princesa moura, que sorriu para ele e pediu vinho, com os lábios vermelhos. 
Ora, vinho só o da Santa Missa. 
Louco de amor, ele não pensou duas vezes: roubou o vinho sagrado e assim, bebendo e amando, eles passaram a noite. 
No outro dia, o sacristão não prestava para nada. 
Mas, quando chegou a noite, tudo se repetiu. 
E assim foi até que os padres finalmente desconfiaram, e numa madrugada invadiram a cela do sacristão. 
A princesa moura transformou-se em Teiniaguá, e fugiu para as barrancas do rio Uruguai. 
Mas o moço, embriagado pelo vinho e de amor, foi preso e acorrentado. 
Como o crime era horrível – contra Deus e a Igreja! – foi condenado a morrer no garrote vil, na praça, diante da igreja que ele tinha profanado. 
No dia da execução, todo o Povo se reuniu diante da igreja de São Tomé. 
Então, lá das barrancas do Rio Uruguai, a Teiniaguá sentiu que seu amado corria perigo. 
Aí, com todo o poder de sua magia, começou a procurar o sacristão abrindo rombos na terra, uns valos enormes, rasgando tudo. 
Por um desses valos, ela finalmente chegou à igreja, bem na hora em que o carrasco ia garrotear o sacristão. 
O que se viu foi um estouro muito grande, nessa hora, parecia que o mundo inteiro vinha abaixo.
Houve fogo, fumaça e enxofre, e tudo afundou, e tudo desapareceu de vista. 
E quando as coisas clarearam, a Teiniaguá tinha libertado o sacristão, e voltado com ele para as barrancas do Rio Uruguai. 
Vai daí, atravessou o rio para o lado de cá, e ficou uns três dias em São Francisco de Borja, procurando um lugar afastado onde os dois apaixonados pudessem viver em paz. 
Assim, foram parar no Cerro do Jarau, no Quaraim, onde descobriram uma caverna muito funda e comprida. 
E lá foram morar, os dois. 
Essa caverna, no alto do Cerro, ficou encantada. 
Virou Salamanca, que quer dizer "gruta mágica", a Salamanca do Jarau. 
Quem tivesse coragem de entrar lá, passasse sete provas e conseguisse sair, ficava com o corpo fechado, com sorte no amor, e com dinheiro para o resto da vida. 
Na Salamanca do Jarau, a Teiniaguá e o sacristão, se tornaram os pais dos primeiros gaúchos do Rio Grande do Sul. 
Ah, ali vive também a Mãe do Ouro, na forma de uma enorme bola de fogo. 
Às vezes, nas tardes ameaçando chuva, dá um grande estouro numa das cabeças do Cerro, e pula uma elevação para outra. 
Muita gente viu.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 3 – REGIÃO SUL CAPÍTULO 7

Quanto a lenda do Sepé Tiaraju, o narrador iniciou comentando que em 1750, foi decidido pelo Tratado de Madri, que a Espanha trocaria com Portugal, sua possessão conhecida por Os Sete Povos das Missões, pela Colônia do Sacramento, que pertencia aos portugueses. 
Milhares de índios guarani, catequizados pelos jesuítas espanhóis, habitavam as Missões. 
Conforme o tratado, todos os habitantes das Missões tinham de deixar suas terras, e se mudar para o território pertencente aos espanhóis. 
Acontece que o prazo para a mudança era muito curto, e os índios, que já estavam descontentes, pois não iam ter tempo de arrumar suas coisas. 
Os jesuítas interferiram, pedindo um prazo maior, e aconselharam aos índios que se mantivessem obedientes e tranqüilos. 
Assim, muito embora os jesuítas não tivessem conseguido mais tempo, como pretendiam, os índios pareciam estar conformados. 
De repente, no entanto, eles se revoltaram, e isto, por causa de Sepé Tiaraju. 
Sepé era um índio muito forte e admirado por todos, sobretudo pelas vitórias que acumulara nos jogos da tribo. 
Certa manhã, Jussara, sua namorada, contou-lhe um sonho que tivera, onde um anjo lhe dizia que haveria grandes sofrimentos para seu povo. 
Padre Balda, um jesuíta muito estimado pelos índios, ouviu a conversa. 
Procurou acalmá-los, mas Sepé ficou realmente preocupado. 
Não sem razão: as tropas espanholas e portuguesas estavam por perto, prontas a agir, caso as ordens não fossem cumpridas. 
Diante disso, Padre Balda falou: 
-- De nada adiantará reagirmos, meus filhos. Apenas daremos às tropas motivo para nos atacar. Vamos em paz. Construiremos novas cidades e plantaremos novas lavouras. 
Mas Sepé, ao ouvir as palavras do sacerdote, pediu perdão ao jesuíta, dizendo que, pela primeira vez, era obrigado a lhe desobedecer. 
Não permitiria que seu povo entregasse aos portugueses, o fruto de tantos anos de trabalho. 
Dali não sairiam. 
E prometeu que, no dia seguinte, acompanhado de quinhentos homens, atacaria o inimigo. 
Assim, de nada adiantou o esforço do padre para convencer o valente guerreiro. 
No dia seguinte, ainda de madrugada, eles partiram a cavalo, ao encontro do inimigo. 
Deu-se o combate entre os índios e os soldados portugueses. 
Uma luta rápida e decisiva. 
Pouco valeram a coragem e o desprendimento de Sepé e sua gente, diante do número e das armas do inimigo. 
Os atacantes foram quase exterminados. 
Os poucos sobreviventes fugiram, e Sepé caiu prisioneiro. 
Quando Jussara foi avisada, desesperou-se. 
O padre procurou consolá-la: 
-- Sei quem é Sepé, minha filha. Se caiu prisioneiro, logo se libertará. Não se entristeça, que o veremos mais depressa do que pensamos. 
No acampamento português, Sepé era arrastado à presença do general lusitano. 
Mandaram o índio beijar a mão do general, mas ele recusou-se: 
-- Ninguém me obriga a beijar a mão de outro homem. Depois, sou eu e não ele, o dono destas terras! 
O general português explodiu uma gargalhada: 
-- Dono? Tu és apenas um pobre bárbaro, mais nada. 
Ao ouvir tais palavras, Sepé respondeu, com os olhos incendiados de raiva: 
-- Bárbaro? Você é mais bárbaro do que eu, pois pretende tirar a terra de seus legítimos proprietários, enquanto eu luto em defesa de meu povo! 
Quando o chefe lusitano viu que, por mal, não conseguiria conquistar o índio, fingiu-se de amigo e lhe ofereceu fumo. 
Sepé recusou, dizendo que possuía fumo de melhor qualidade do que aquele. 
O português pretendia, realmente, conseguir de Sepé a revelação do lugar onde estavam escondidos os cavalos de seus guerreiros, para que pudesse apossar-se deles, deixando os índios sem meios para atacar. 
Assim, ele disse a Sepé: 
-- Se me contares onde estão os teus cavalos, terás imediatamente a liberdade. 
Sepé assumiu um ar orgulhoso e respondeu: 
-- Não preciso esmolar liberdade: se eu quisesse libertar-me, não haveria forças capazes de me impedir. 
Quem ouviu, não pode deixar de caçoar. 
Nisso, o general português perguntou-lhe, sarcasticamente: 
-- Então, não temos forças capazes de te impedir a fuga? Essa é muito boa! E o que farias para sair daqui? 
Sepé olhou firmemente o lusitano e exclamou: 
-- Isto! Rápido como o raio, o índio escapou dos soldados que faziam roda e, montando no primeiro cavalo que encontrou, saiu em disparada. 
Quando os portugueses perceberam o que havia acontecido, ele já desaparecera numa nuvem de pó. 
Nas Missões, o povo vibrou de alegria. 
Padre Balda abraçou-o, comovido: 
-- Eu sabia que você voltaria! Tinha certeza! Meu coração não me enganou! 
Foi então que Sepé revelou que agora odiava mais do que nunca o inimigo. 
A humilhação pela qual passara exigia vingança. 
O jesuíta percebendo a agitação que dominava o índio, lhe pediu que descansasse: 
-- Algumas horas de repouso acalmarão sua revolta. Vá para a rede e durma. Depois, seus pensamentos serão outros. 
Sepé obedeceu. 
Exausto como estava, o ódio logo cedeu ao sono...
Alguns dias depois, como os índios não haviam deixado as Missões e o prazo se esgotara, as tropas portuguesas aguardavam a chegada das tropas espanholas, para, juntas, expulsarem os desobedientes. 
Foi quando um soldado português entrou alvoroçado em seu acampamento, levando uma seta. 
Tinha sido atirada por Sepé e trazia, espetada na ponta, uma mensagem de desafio. 
Foi mostrada ao chefe lusitano, que ficou furioso. 
Os portugueses não viam a hora de atacar, mas tinham ordem de aguardar as tropas espanholas. 
Com isso, depois de muita espera, veio uma comunicação, informando que os espanhóis ainda demorariam algum tempo para se preparar. 
O chefe português ficou ainda mais furioso, mas não teve outro remédio, senão mandar que seus soldados voltassem à fortaleza, onde estavam aquartelados. 
Quando a notícia chegou às Missões, o povo interpretou a retirada do inimigo como uma derrota, e foi uma alegria imensa. 
Um mês se passou. 
Tudo retomara ao que era antes. 
Os índios e os jesuítas faziam calmamente seus trabalhos rotineiros. 
Era a paz, a tranqüilidade... 
Foi quando soou um grito, que mudou completamente a vida daquele povo: 
-- Vamos ser atacados! Vamos ser atacados! 
Era o temido ataque dos brancos. 
E vinham juntos, portugueses e espanhóis. 
Sepé assumiu a chefia de sua gente. 
Os guerreiros corriam, na pressa de se preparar para a guerra. 
Em vão, os jesuítas pediam que não resistissem, para evitar a mortandade. 
Mas, os índios estavam por demais revoltados com a maldade dos brancos. 
Por que queriam tirar-lhes a terra? 
Que mal haviam feito? 
Preferiam morrer a sair da terra onde haviam nascidos e que adoravam. 
Depois de tudo pronto, Sepé despediu-se de Jussara, e partiu com seus guerreiros. 
Seguiu na frente, montado a cavalo, na mão direita a lança provocadora; na cabeça, o cocar de plumas multicores. 
Inteligente, sabia que o inimigo era mais forte. 
Preferiu, pois, a luta de emboscada, o ataque rápido, a surpresa. 
Sepé era visto em toda parte. 
Desdobrava-se. 
Lutava com todas as forças que possuía, mas o inimigo era poderoso. 
Unidos, espanhóis e portugueses atacavam em massa. 
Os índios defendiam-se bravamente. 
Às balas dos atacantes, respondiam com suas flechas. 
Caíam homens dos dois lados. 
Depois, veio o combate corpo a corpo, brancos e índios confundindo-se, no ardor da peleja. 
Ah, o eterno egoísmo dos homens! 
Os portugueses queriam as terras, e não se preocupavam com os sentimentos daquela gente. Recusavam-se a compreender o amor que os índios devotavam ao lugar. 
Queriam que eles saíssem e pronto! 
E o combate continuou. 
Os índios lutavam com um ardor nunca visto. 
Uma coragem que desprezava as possantes armas dos inimigos, deixando-os surpresos. 
Dentre os combatentes, sobressaía-se a figura de Sepé Tiaraju. 
Ele era invencível! 
Lutando como lutava, sem temor, sem a mínima cautela, já era para estar morto. 
Não se cansava. 
Era sempre o mesmo. Foi então que o inimigo percebeu que ele era o coração de seus guerreiros. 
Era sua presença que os animava. 
Resolveu, portanto, concentrar-se nele. 
Aos punhados, os soldados o atacavam, mas nem assim conseguiam vencê-lo. 
Sepé foi rodeado por dez soldados. 
À sua volta, a luta prosseguia. 
O guerreiro enfrentou corajosamente os dez atacantes, mas era demais! 
E enquanto lhes dava combate, um deles conseguiu atingi-lo com a lança. 
Sentindo-se ferido, o índio ainda tentou resistir, agarrando-se ao pescoço do cavalo, mas fugiam-lhe as forças. 
Tudo escureceu. 
Seus braços não suportaram mais e ele caiu no chão, quase morto. 
Um soldado aproximou-se, montado a cavalo, e fitou, por um instante, o valente guerreiro. 
Em seguida, apontando-lhe a arma, atirou. 
Sepé estava morto. 
Deixara de existir, o defensor dos povos das Missões. 
Todos os índios que olharam para o céu, viram um cavaleiro galopando um cavalo de fogo, envolto por uma luz azulada muito bonita. 
Na mão direita, o cavaleiro empunhava a lança. 
Era Sepé, indo ao encontro de Tupã. 
Depois que ele morreu, os índios perderam grande parte da vontade que os fazia enfrentar forças tão superiores. 
Lutavam ainda, porém, sem aquele ardor que sentiam, quando Sepé estava presente e, enfraquecidos, caíam um a um. 
O inimigo, agora com novo ânimo, atacava sem cessar. 
Já não era mais combate, tratava-se de perseguir os poucos índios que ainda estavam de pé. 
Mais algumas cargas e as tropas espanholas e portuguesas, nada mais tinham a fazer. 
Os poucos índios que escaparam, fugiram para o mato. 
Nas campinas, entre os corpos dos indígenas, estavam os inúmeros jesuítas, mortos quando tentavam proteger os nativos. 
Vitoriosas, as tropas marcharam para as Missões. 
Ajudados pelos jesuítas, o povo reuniu o que restou e partiu, de cabeça baixa, em busca de novas terras.
Vencidos. 
Sem esperança. 
Lentamente, a procissão foi deixando a cidade. 
Com olhos tristes, miraram pela última vez suas plantações verdejantes, suas ocas amigas, sua terra! 
Os algodoeiros, à distância, pareciam acenar-lhes com lenços brancos, despedindo-se. 
E se encerrou de forma lendária, um passado nebuloso da história do nosso grandioso Brasil. 
Ao término da narrativa, todos os ouvintes bateram palmas. 
Isso por que, poucos dos que ali estavam ouvindo as maravilhosas narrativas, tinham conhecimento de que o Sul possuía um folclore tão vasto e tão rico. 

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 3 – REGIÃO SUL CAPÍTULO 6

Com isso, ao encerrar a narrativa, sobre a origem do povo gaúcho, o narrador comentou então, sobre a origem da A Erva-Mate. 
Esta lenda conta que, há muitos e muitos anos, uma grande tribo estava de partida. 
O lugar onde moravam não servia mais, pois a caça estava difícil e a terra já não produzia como antes. 
Todos estavam muito tristes, apesar das palavras animadoras do cacique e das previsões do pajé. Lentamente, em procissão, os índios foram deixando a antiga aldeia onde tinham vivido tantos anos. 
As ocas abandonadas e alguns pássaros que, percebendo o abandono, vieram pousar no terreiro, à procura de alguma sobra de comida, compunham a desolação do ambiente. 
Não havia mais ninguém. 
De repente, o couro que fechava a entrada de uma oca foi afastado. 
Os pássaros, assustados, voaram para longe, e um velho índio apareceu. 
Tinha os cabelos completamente brancos, e apoiava-se a um bordão. 
Atrás dele surgiu uma mocinha índia. 
O velho guerreiro não tivera forças para acompanhar a tribo em sua marcha. 
Sua filha mais nova, sem coragem de abandoná-lo, preferira renunciar à segurança da tribo. 
Para não assistir à partida de sua gente, haviam permanecido dentro da oca. 
O velho insistira com a filha para que fosse com os outros: 
-- Vá, enquanto é tempo, Iari. Pouco me resta de vida e depois, o que será de você? O que fará neste lugar abandonado? Antes ficar sozinho do que angustiar-me com seu destino. 
-- Não fale assim, pai. Sabe que eu não teria coragem de abandonar-lhe. O que faria o senhor sozinho? Morreria de fome! 
Os dois continuaram a viver na aldeia e dava pena ver o esforço do índio para ser útil à filha. Lentamente, com o maior sacrifício, reunia um pouco de lenha, e apanhava alguma fruta. 
Ela, então, não parava: plantava, colhia, cozinhava, procurava manter em ordem a oca e o terreiro, onde o mato, adivinhando a fraqueza da moça, parecia resolvido a retomar o que fora seu. 
Até as onças, que antes não se aproximavam, temendo a flecha dos guerreiros, andavam urrando cada vez mais perto.
A noite era cheia de sobressaltos e o dia, vazio de esperanças. 
Os meses foram passando. 
Numa triste tarde de inverno, o velho estava um tanto afastado da aldeia, colhendo algumas frutas, quando viu mexer-se uma folhagem próxima. 
Pensando que fosse uma onça, ficou gelado. 
Para defender-se, não tinha mais forças. 
Para fugir, não podia contar com as pernas. 
Completamente paralisado, esperou o pior. 
Em vez da onça, porém, viu surgir um homem branco muito forte, de olhos da cor do céu, vestindo roupas coloridas, que aproximou-se do velho guerreiro e pediu: 
-- Venho de longe e há dias que ando sem parar. Estou cansado e queria repousar um pouco. Poderia arranjar-me uma rede e algo para comer? 
O velho lembrou-se que a comida era escassa, mas não pode recusar. 
-- Sim, respondeu. Venha comigo. 
E tomaram o caminho da aldeia. 
Ao chegar, ele chamou Iari e apresentou-lhe o viajante: 
-- Este homem, minha filha, está mais cansando do que nós, e também sente fome. Cuide para que nada lhe falte. 
Iari acendeu o fogo e preparou tudo o que havia de comer, embora soubesse que não seria fácil conseguir mais. 
O estranho comeu com apetite. 
O velho e sua filha cederam-lhe sua oca, e foram dormir numa das outras, abandonadas. 
Iari levou sua rede, nela acomodou o pai e dormiu no chão, porque não havia outra rede e a de seu pai ficara com o viajante. 
Logo cedo, o velho índio encontrou o homem branco cortando lenha. 
Pediu-lhe que parasse, pois era um hóspede, mas o homem respondeu que já estava bem descansado e gostaria de ajudar, também. 
Terminou de cortar a lenha e seguiu em direção à floresta. 
Horas depois, retornou com várias caças. 
O velho não sabia o que dizer. 
-- Vocês merecem muito mais! - exclamou o homem.
 –Trataram-me com toda a hospitalidade, dando-me tudo o que possuíam! 
Depois ele confessou que era um enviado de Tupã. 
O deus dos índios estava preocupado com a sorte dos dois. 
-- Pela bondade de vocês – disse ele. – Merecem receber tudo o que desejarem. 
O velho animou-se: 
-- Posso pedir mesmo? 
-- Claro! Diga o que deseja! 
-- Queria ter um amigo que me fizesse companhia até que meus dias acabassem. 
-- Assim, Iari poderia alcançar nossa tribo e ser feliz. Fico triste em vê-la aqui sozinha, sem amigas, sem uma festa, só trabalhando. Se ao menos eu tivesse mais forças! Poderia ficar sozinho. Ela não quer deixar-me, porque sabe que eu não sobreviveria. 
-- Vou arranjar-lhe um amigo, prometeu o mensageiro. Um amigo que lhe dará alegria e forças para o resto de seus dias. 
Mostrou-lhe, então, uma erva estranha: esta é a erva-mate. Plantea, deixe que ela cresça e faça-a multiplicar-se. 
Depois ferva suas folhas e beba o chá. 
Novamente as forças lhe voltarão, e poderá trabalhar e caçar o quanto quiser. 
Sua filha, se desejar, poderá ir ao encontro da tribo. 
Iari foi chamada e disse que não, preferia ficar na companhia do pai. 
Não poderia ser feliz em sua tribo, se o deixasse só. 
O enviado de Tupã sorriu, emocionado: 
-- Por ser tão boa filha, você merece uma recompensa. A partir de agora, você é Caá-Iari, a deusa protetora dos ervais. Cuidará para que o mate jamais deixe de existir, e fará com que os outros o conheçam e bebam, para ficarem fortes e felizes. 
Em seguida, o homem partiu. 
Tinha dito a verdade: o velho guerreiro recuperou as forças perdidas e nunca mais passaram necessidade. 
Entretanto, Iari vivia preocupada com o pedido do estranho. 
Ele queria que ela tornasse o mate conhecido. 
Mas como? 
Estavam tão longe que ali não aparecia ninguém! 
Ela não sabia o que fazer... 
Numa distante aldeia de índios, realizava-se uma grande festa. 
Todos estavam contentes porque tinham feito uma boa caçada, e tão cedo não precisariam preocupar-se com alimento. 
Enquanto uns dançavam e cantavam, outros comiam e bebiam. 
Depois de algumas horas de alegria, dois jovens índios, que tinham bebido mais do que deviam, começaram a discutir. 
Eram Piraúna e Jaguaretê. 
O primeiro usava um colar feito com dentes de cem inimigos que abatera nas guerras; o segundo era famoso por sua força e coragem. 
Eram os guerreiros mais fortes da tribo. 
Quando alguns índios viram o que estava acontecendo, procuraram acalmar os dois jovens, pois sabiam que uma briga entre eles teria resultado funesto. 
Depois de muito esforço, levaram cada um para um lado, e a festa continuou. 
Mas os dois estavam mesmo decididos a terminar a discussão que haviam iniciado. 
Pouco a pouco, um foi chegando perto do outro, e a briga recomeçou. 
Desta vez, apelaram para a força. 
Os índios mais corajosos fizeram de tudo para separá-los. 
Porém, quem podia com eles? 
Fortes como eram, cheios de ódio e com cauim a embotar-lhes o raciocínio, pareciam duas feras, e não dois homens. 
De repente, Jaguaretê empunhou um tacape e deu um violento golpe na cabeça de Piraúna, matando-o.
Interrompendo-se a festa, Jaguaretê foi amarrado ao poste das torturas. 
Pelas leis daquela tribo, os parentes do morto podiam executar o assassino. 
Trouxeram o pai de Piraúna, para que ordenasse a execução de Jaguaretê, mas ele não quis fazê-lo. 
Disse que Jaguaretê só era culpado de haver bebido demais, tendo dado, assim, oportunidade a Anhangá, o espírito mau, de dominá-lo, levando-o a matar o amigo. 
Ele não deveria ser morto, portanto. 
Apenas expulso da tribo. 
Teria de viver sozinho nas matas desconhecidas, onde poderia refletir com calma sobre o que fizera. 
A decisão do velho foi obedecida. 
Depois de desamarrarem o jovem guerreiro, deram-lhe permissão para que pegasse suas armas, e ordenaram que partisse imediatamente. 
Jaguaretê obedeceu e seguiu para o exílio. 
Ia triste, cabisbaixo, pois o efeito da bebida estava passando e podia ver agora o mal que fizera. 
Seguiu seu caminho e embrenhou-se na mata. 
Depois que Jaguaretê sumiu na floresta, ninguém ouviu falar mais nele. 
Com o tempo, foi completamente esquecido. 
Muitos anos depois, alguns índios daquela tribo, que nem tinham ouvido falar em Jaguaretê, saíram para caçar. 
Entraram pelo sertão, onde era fácil encontrar uma onça, aprofundando-se cada vez mais. 
No meio da floresta, encontraram uma cabana. 
Surpresos, aproximaram-se com cuidado. 
Nisto, um homem forte e sorridente apareceu. 
Embora tivesse os cabelos brancos, o corpo e o rosto eram os de um jovem. 
Ele acolheu os índios com cordialidade, e ofereceu-lhes uma bebida desconhecida. 
Era Jaguaretê, o índio expulso de sua tribo, e a bebida desconhecida era o mate. 
Os índios quiseram saber por que ele vivia sozinho naquela cabana, e que bebida era aquela. 
Jaguaretê contou-lhes a sua história: 
-- Assim que me vi sozinho na floresta, não agüentava mais o cansaço e o remorso, joguei-me no chão e ali fiquei, pedindo a morte. O arrependimento e a saudade de minha gente me torturavam. Fiquei muito tempo caído no mesmo lugar. Pressenti, então, que alguém estava perto de mim. Levantei a cabeça e vi uma jovem de olhar bondoso. 
Ela fitou-me com compaixão e disse: 
-- Tenho pena de você, porque não matou por querer e agora está arrependido do que fez. Para que possa suportar seu exílio, vou ensinar-lhe uma bebida que não enfraquece nem tira a razão, como o álcool, mas fortalece o corpo e clareia a mente. Meu nome é Caá-Iari, a deusa protetora dos ervais. Mostrou-me uma estranha planta e esclareceu: 
-- Esta é a erva-mate. Plante-a, deixe-a crescer e faça-a multiplicar-se. Depois, prepare uma infusão com suas folhas e beba o chá. Seu corpo será forte e sua mente será clara por muitos e muitos anos. Segurei, emocionado, a planta que a deusa me entregara. Ela me olhou, em silêncio. Depois, desaparecendo pouco a pouco, como se fosse fumaça, ordenou: 
-- Não deixe de transmitir a quem encontrar, o que aprendeu sobre o mate! 
-- Portanto, meus amigos, finalizou Jaguaretê, quero que levem alguns pés de erva-mate para sua tribo e nunca deixem de transmitir aos outros o que aprenderam. 
-- Não vem conosco? - perguntou um índio. 
-- Não, não vou. – respondeu Jaguaretê, pensativamente. – Agora é tarde. Todos os que eu conhecia na tribo já devem estar mortos, e eu seria um estranho. É preciso que eu cumpra meu exílio. Além disso, estou tão habituado com este lugar, que me sinto parte dele. E não estou sozinho, tenho o mate para alegrar minhas horas de solidão. 
Os índios voltaram e contaram aos outros o tinham ouvido. 
O mate foi plantado e multiplicou-se. 
Outras tribos aprenderam o seu uso e ele é, até hoje, muito difundido no Sul...

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 3 – REGIÃO SUL CAPÍTULO 5

Assim, continuando a narrar as tradições gaúchas, o narrador comentou sobre a origem do Primeiro Gaúcho. 
A história começa assim: 
Os índios que habitavam a região sul, conheciam, não se sabe desde quando, o uso das boleadeiras. 
Simplesmente, usavam-nas juntamente com as flechas e lanças, contra os inimigos e também para caçar. 
Dizem que, uma vez, no século XVIII, os índios estavam realizando uma grande festividade. 
Diversas fogueiras foram acessas para assar as caças. 
Além disso, dançavam e cantavam alegremente. 
Com isso, alguns bandeirantes passando por perto viram a fumaça. 
Como eles andavam atrás de ouro e algumas pedras preciosas, necessitavam de escravos para ajudá-los no trabalho. 
Um deles chegou até a dizer: 
-- Vejam! Fumaça! Devem ser os índios! 
-- Com certeza! – respondeu outro. 
– Vamos aprisioná-los! 
Dessa forma, apontaram as cordas, verificaram as armas e seguiram em direção à fumaça. 
Os índios, que não eram bobos, mantinham sentinelas por todos aqueles lugares. 
Informado da presença dos bandeirantes, o cacique da tribo ficou furioso: 
-- São os brancos que querem escravizar-nos! – gritou ele. 
– Que venham! Que venham! 
O chefe, então, arquitetou um plano: mandou que vários guerreiros montassem em seus cavalos e seguissem para a campina. 
Os índios cavaleiros deveriam ficar deitados e escondidos num dos lados do cavalo, deixando o outro lado voltado para os brancos. 
Com isso, eles pensariam tratar-se de cavalos selvagens e se aproximariam, tornando-se presas fáceis. 
Dito e feito. 
Quando os bandeirantes viram os cavalos, ficaram contentíssimos: 
-- Que belos cavalos! – exclamou o chefe. 
– Vamos cercá-los e laçá-los. 
Assim, foram se aproximando, sem perceberem que se tratava de uma armadilha. 
Quando então, os índios acharam que os brancos estavam suficientemente perto, endireitaram-se nos cavalos e partiram, rápidos como um tiro, contra eles, uns atirando boleadeiras ou flechas, outros com as terríveis lanças apontadas. 
Os bandeirantes ficaram boquiabertos. 
Até chegaram a dar alguns tiros, mas como o ataque havia sido inesperado, não tiveram tempo de reagir. 
Muitos foram mortos e, quem pôde, tratou logo de fugir dali. 
Vitoriosos, os índios examinaram o lugar onde se travara o combate, quando ouviram um gemido. 
Havia alguém vivo. 
O ferido era o mais moço do grupo de bandeirantes e chamava-se Rodrigo. 
Fizeram-no prisioneiro e o levaram para a aldeia. 
Em razão da vitória, foi realizada uma grande festa, na qual o Conselho da Tribo condenou Rodrigo à morte. 
Contudo, como os índios não matavam pessoas doentes ou feridas, decidiram esperar até que o rapaz ficasse completamente curado, para então, sacrificá-lo. 
Enquanto isso, o rapaz podia andar livremente pela aldeia. 
Foi então que a filha do chefe, uma linda mocinha chamada Imembuí, ficou com muita pena do prisioneiro, e passou a lhe dar as melhores comidas e bebidas. 
Com isso, os dias foram se passando. 
Rodrigo então, com o ferimento cicatrizado, percebeu que já estava próxima a hora de sua morte. 
Por isso, perguntou a Imembuí, se ela sabia a data da cerimônia. 
A índia olhou-o então, com os olhos cheios de lágrimas: 
-- Não tenha receio. – respondeu. – Estou do seu lado e nada te acontecerá. 
Ao ouvir isso Rodrigo ficou muito contente e até se animou. 
Como é bom ter esperança! 
Ficou tão alegre que sentiu vontade de cantar, de tocar. 
Resolveu então, fazer um instrumento, uma viola. 
Com sua faca, cortou um pedaço de madeira e pouco a pouco, penosamente, conseguiu dar-lhe a forma desejada. 
Depois arranjou fibras de uma trepadeira, transformando-a em cordas. 
Estava pronta a viola, e Rodrigo começou a tocar e a cantar belas canções, tristes e suaves, que agradaram imensamente a Imembuí. 
Dias depois, um índio trouxe a mensagem do cacique: estava próxima a hora do sacrifício! 
Ele precisava pagar por todos os brancos que pensaram em escravizar os índios. 
Era só aguardar mais um pouco. 
Ao ouvir a notícia, a esperança de Rodrigo ficou abalada, e embora a moça tivesse prometido que conseguiria salvá-lo, ele tinha suas dúvidas. 
De qualquer modo, continuou a tocar e a cantar para a mocinha índia, que não se cansava de ouvi-lo. 
E, pouco a pouco, apaixonaram-se um pelo outro, e começaram a namorar. 
Mas a dúvida permanecia. 
Mesmo com a moça lhe prometendo: 
-- Conseguirei salvá-lo. Pedirei perdão ao chefe. Ele é meu pai e não deixará de me atender. 
Mesmo assim, Rodrigo temia por sua vida. 
E assim, mais alguns dias correram. 
Certa manhã, alguns índios levaram o prisioneiro e amarraram-no fortemente a um tronco. 
O dia do sacrifício chegara. 
Imembuí não conseguira salvá-lo, embora tivesse pedido diversas vezes ao pai, e ele se sentisse inclinado a concordar. 
Assim, quando a moça foi avisada, atirou-se aos pés do pai e lhe implorou que conservasse a vida de seu namorado. 
O chefe então, respondeu: 
-- Por mim, ele seria poupado, mas há outros chefes e não quero desgostá-los. Fazem questão de sacrificar o branco conquistador. 
Ela então, saiu dali e foi conversar com os outros chefes. 
Implorou a todos, um por um. 
Disse-lhes que o moço era dotado de bom coração e que fizera aquilo por influência dos companheiros.
Mas os chefes não estavam dispostos a ceder. 
Como, porém, gostavam muito da indiazinha, resolveram formar um Conselho para decidir, de uma vez, a sorte de Rodrigo. 
Por isso, mandaram soltá-lo, até a solução final, e sua namorada correu para ele, a fim de lhe contar o que sucedera. 
Rodrigo ouviu tudo, preocupado. 
Não se sentiu muito esperançoso não. 
No Conselho, os chefes discutiam. 
Não viam motivo para poupá-lo, mas também não queriam desgostar a jovem índia, nem a seu pai, que era o chefe de todos. 
Foi então que Rodrigo teve uma idéia. 
Ele era muito esperto e se lembrou que os índios são muito sensíveis à música. 
Talvez conseguisse seduzi-los com suas canções. 
Foi então, buscar a viola, e sentou-se o mais perto possível do lugar do Conselho, e começou a tocar e a cantar as mais belas canções que conhecia. 
Dentro da cabana, os chefes ficaram maravilhados. 
Um a um, foram saindo para ver quem tocava e cantava tão docemente. 
Quando viram era o prisioneiro, ficaram surpresos. 
Ele não era um homem! 
Era um deus! 
E aquele que havia sido motivo de ódio, passou a ser agora, motivo de admiração por todos. 
Diz a lenda que, enquanto ouviam as tristes e belas canções, exclamavam: 
-- “Gaú-che! Gaú-che”. – que significava “gente que canta triste”. 
Desta expressão indígena, teria vindo a palavra gaúcho. 
Diante disso, os índios não tinham mais motivos para sacrificá-lo. 
Rodrigo e Imembuí, ficaram noivos e, pouco tempo depois, realizou-se o casamento. 
E que casamento! 
Jamais aqueles índios tinham visto uma festa igual. 
Depois do banquete, todos dançaram à luz das fogueiras. 
Foi com estes índios que Rodrigo aprendeu a usar as boleadeiras. 
Com o tempo, os chefes índios começaram a notar que Rodrigo, além de excelente músico, possuía outras qualidades. 
Era calmo, inteligente e equilibrado. 
Por esta razão, resolveram elegê-lo conselheiro da tribo. 
E ele agiu com tanta sabedoria e competência, que logo se tornou um dos chefes. 
Com seu modo de pensar de homem civilizado, influiu nos hábitos daquela gente. 
-- Temos necessidade de formar lavouras e melhorar nosso meio de vida. – disse ele, um dia. – Vamos às missões dos jesuítas e lá conseguiremos ferramentas e sementes. Em troca, daremos aos padres, erva-mate, cavalos, peles e o que mais pudermos conseguir. Desta maneira, também obteremos tecidos para vestir melhor a nossa gente. 
Dito e feito. 
Junto aos jesuítas, Rodrigo foi bem sucedido e conseguiu o que desejava. 
Com isso, logo a terra dos índios passou por uma grande transformação. 
Verdes lavouras, gordos animais, índios alegres. 
Rodrigo foi portanto, o primeiro gaúcho, e seus descendentes herdaram o amor à música, à terra e ao progresso.

2 Histórias e Lendas do Brasil (adaptado do texto original de Gonçalves Ribeiro). São Paulo: APEL Editora, sem/data.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 3 – REGIÃO SUL CAPÍTULO 4

E assim, o narrador começou falando que se tratava de uma lenda que se chama: ‘A Lenda da Gralha Azul’.
Pois bem, esta história começa com a ida a do Senhor Fidêncio Silva, à Fazenda dos Pinheirinhos. 
Isso porque, em razão de seu trabalho, havia muito tempo, que já não experimentava descanso daquela agitação comercial em que vivia, e a necessidade de um repouso prolongado, tornara-se-lhe cada vez mais patente. 
Estava deveras cansado. 
Portanto, oportuna foi a visita a tal fazenda. 
Além do mais, o Senhor Fidêncio Silva era parente afastado da esposa de José Fernandes. 
Assim, logo que pensou em descanso, lembrou-se dos Pinheirinhos, longe daquele bulício de transações ,e onde o clima não podia ser mais saudável. 
E não tardou que estivesse a sorver em largos suspiros, com evidente contentamento, o ar puro e limpo da localidade. 
José Fernandes recebeu-o fidalgamente, como costumava fazer com todos que traziam uma certa importância de responsabilidades. 
Pôs os Pinheirinhos à disposição do seu hóspede pelo tempo que desejasse: um, dois, três meses e mais se lhe aprouvesse.
 Ali teria plena liberdade; quando não quisesse sair nas ocasiões de rodeio, poderia ficar em casa, a uma sombra do pomar, folheando qualquer livro da sua biblioteca quase totalmente agrária, mas que possuía, também, alguma literatura. 
E passeios igualmente não faltariam. 
Um dia poderia cavalgar; outro iria caçar, levando espingarda, para fazer uma caçada de anta mais para o sertão ou então; sairia a passear pelos campos. 
Amanhã correria a vizinhança, ouvindo prosa de caboclos; e até pescaria, se quisesse, poderia fazer, em três léguas sertão adentro. 
Dessa maneira não havia como não corressem agradabilíssimos os trinta dias que Fidêncio Silva pretendia passar nos Pinheirinhos. 
E assim foi. 
Um domingo depois do almoço, saiu à caça com o fazendeiro. 
Bem municiados, espingardas suspensas pelas bandoleiras ao ombro, entranharam-se os dois por extenso e tapado capão. 
-- Querência de ter muito veado, cotia e quati. – afirmava o José Fernandes. 
Mas a sua asserção foi logo posta em cheque pela evidência dos fatos. 
Os caçadores não viam um só animalzinho que merecesse chumbo grosso, embora já tivessem andado muito. 
Passaram então a sondar a ramagem, na esperança de divisar algum pássaro de saborosa carnadura. 
Em certo momento, Fidêncio Silva parou e fez um sinal de silêncio ao companheiro. 
Depois, engatilhou, apressado a arma e firmou pontaria, visando a alguma caça. 
O fazendeiro procurou a caça, erguendo o olhar para a direção indicada pelo cano da espingarda. Súbito, um tremor sacudiu-lhe o corpo, e esteve ele ao lado de Fidêncio Silva. 
Mas já era tarde: o rebôo do tiro perdia-se molemente pelas quebradas da mata, soturno, a evocar tristeza naquela quietude frouxa de um mormaço estonteante. 
A expressão condoída da fisionomia do José Fernandes durou pouco e de todo desapareceu, ao ruflar das asas ligeiras, esgueirando-se assustadiças por entre as tramadas franças. 
O atirador errara o alvo e, boquiaberto, todo interrogação, estacava os olhos no fazendeiro, que, ainda com a mão no cano da arma, que pretendera desviar antes do tiro partir, no entanto, sem êxito, desafogava um longo suspiro de satisfação. 
-- Meus parabéns! – foram as primeiras palavras de José Fernandes, entre irônicas e zombeteiras. 
-- Parabéns!? – exclamou, ainda mais intrigado, o Fidêncio Silva.
– Então não merece cumprimentos o caçador que erra tiro em gralha azul? 
-- Renovo-os. Toque nestes ossos! E estendeu a destra. 
-- Quero compreender as suas palavras, mas creia, não posso atinar com o porquê de seu arrebatamento de há pouco. Não matar com carga de chumbo, um pássaro do tamanho dessa gralha, concordo que seja péssimo atirador, porém... 
-- Não. Não o censurei por errar. Muito pelo contrário: apresentei-lhe os meus sinceros parabéns. Confuso, meio envergonhado, o Fidêncio Silva confessou: 
-- O amigo tem, então, duas coisas para explicar-me. 
-- Uma só, uma só – emendou logo o fazendeiro. 
– Há coerência entre as minhas palavras e a anterior atitude. Eu lhe conto tudo. Sente-se aí nesse tronco caído e escute-me. 
O negociante obedeceu maquinalmente. 
Depois tirou um lenço e pôs-se a enxugar o suor que lhe escorria pelo rosto, enquanto que, largando o corpo preguiçosamente sobre a trançada grama, José Fernandes foi falando assim: 
“Era no inverno, quinze anos atrás. 
Havia muita seca e o gado caía de magro. 
Certa tarde montei o cavalo e saí por aí a percorrer os campos, na esperança de salvar alguma criação que porventura se atolasse ao saciar a sede. 
Levava comigo uma velha espingarda, que sempre me acompanhava, porque naquele tempo não poupava caça que se encontrasse pelo campo... 
Pois bem, regressava para casa. 
Vagaroso, com o pensamento nos grandes prejuízos que a seca estava ocasionando, quando então vi um bando de gralhas azuis descer à beira de um capão, entre numeroso grupo de pinheirinhos. 
Para afugentar, ainda por pouco a minha tristeza, acrescida pelo fato de ter naquela volteada encontrado mais duas reses estraçalhadas pelos corvos, resolvi dar caça àqueles animaizinhos. 
Aproximei-me cauteloso, apeando a respeitosa distância. 
Não muito longe, deti-me à sombra de um pinheirinho e contemplei, por instantes, o bando. 
Eram poucas as gralhas, e notei que revolviam o solo com o bico. 
Fazer pontaria e puxar o gatilho foi obra de um momento. 
Mas, ai! 
Que horrível o segundo que se lhe seguiu! 
A espoleta estraçalhou-se e vários estilhaços, de mistura com resíduos da pólvora, vieram dar em cheio em meu rosto. 
Tonteei, bambearam-se-me as pernas e caí por sobre a macega. 
Quanto tempo estive desacordado, não lhe sei dizer.
 Antes, porém, de recuperar os sentidos, quando o sol já se encobria por detrás da mata, um pesadelo fabuloso, qual uma história de fadas, gravou-se-me na memória. 
Revi-me de arma em punho, pronto para fazer fogo. 
Quando o fiz, iluminou-se o alvo e, aberta as asas brilhantes, o peito a sangrar, veio ele de manso, se achegando a mim. 
Os pés franzinos evitavam os sapés esparsos pelo chão e o andar esbelto tinha qualquer coisa de divino. 
Dardejante o seu olhar, estremeci ante aquela figura de ave, e deixei cair a arma. 
Estático já, estarreci ao ouvir os sonoros e compreensíveis sons que aquele delicado bico soltava naturalmente. 
Dizia a gralha: 
"És um assassino! 
Tuas leis não te proíbem matar um homem? 
E quem faz mais do que um homem, não vale pelo menos tanto quanto ele? 
Eu, como humilde avezinha, que sou, entoando a minha tagarelice selvagem, faço elevar-se toda essa floresta de pinheiros. 
Multiplico, à medida de minhas forças, o madeiro providencial que te serve de teto, que te dá o verde das invernadas, que te engorda o porco, que te locomove dando o nó de pinho para substituir o carvão-de-pedra nas vias férreas. 
E ignoras como eu opero!... 
Vem. 
Acompanha-me ao local onde me interrompeste o trabalho, para aprenderes o meu doce mister. 
Vês? 
Ali está a cova que eu fazia e, além, o pinhão já sem cabeça, que eu devia nela depositar com a extremidade mais fina para cima. 
Tiro-lhe a cabeça porque ela apodrece ao contato da terra e arrasta à podridão o fruto todo, e planto-o de bico para cima a fim de favorecer o broto. 
Vai. 
Não sejas mais assassino. 
Esforça-te, antes, por compartilhar comigo nesta suave labuta." 
A gralha desapareceu e eu voltei à razão. 
Levantei-me a custo e fui ter ao local escavado pelas aves, uma das quais jazia com o peito manchado de sangue, ao lado de um pinhão já sem cabeça. 
Admirado, verifiquei a certeza da visão: mais adiante cavouquei com as mãos a terra revolvida de fresco e descobri um pinhão com a ponta para cima e sem cabeça. 
O José Fernandes fez uma pausa e depois concluiu, mal encobrindo a sua alegria: 
-- Aí está, caro Fidêncio, como vim a a ser um plantador de pinheiros. 
Quero valer mais que um homem: quero valer uma gralha azul!1 ”

DICIONÁRIO: reboo /ôo/ substantivo masculino
ato ou efeito de reboar; ressoo.
ressoar - verbo 1. intransitivo soar com força; retumbar, ecoar.
"ressoavam as trombetas"
2. transitivo direto e intransitivo fazer soar; cantar, entoar.
"um cântico ressoou pelas alamedas"
dardejante adjetivo de dois gêneros 1. que arremessa dardo ('arma').
2. POR EXTENSÃO que fere ou atinge com dardo ('arma').

1 Texto extraído do site: http://www.terrabrasileira.net/folclore/regioes/3contos/entesnor.html
Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

COISAS DO BRASIL PARTE 3 – REGIÃO SUL CAPÍTULO 3

A seguir, começou a falar sobre a história do Angoéra. 
Nos Sete Povos das Missões, ainda no tempo dos jesuítas e da colonização do Brasil, vivia um índio muito triste, que se escondia de tudo e de todos pelas matas. 
Considerado por todos como um verdadeiro fantasma, e por isso era chamado de Angoéra – fantasma, em guarani. 
E fugia da igreja como o diabo da cruz! 
Contudo, os padres, insistentes, e com muita paciência, convenceram Angoéra a ser batizado, o qual tornou-se cristão, deixando portanto, de vagar pelos rincões escondidos. 
Ao se tornar cristão, passou a se chamar Generoso, e também mudou sua maneira de agir. 
Passou a ser alegre, extrovertido e muito festeiro. 
No entanto, como tudo que na vida começa, um dia Generoso morreu, mas sua alma alegre e festeira continuou por aí, e até hoje, procura diversão. 
Onde tenha um fandango – dança típica espanhola, bem marcada e com andamento vivaz, é em geral, acompanhada por guitarras (instrumento antigo) e castanholas –, lá está a alma do Generoso. 
Se uma viola toca sozinha, pode acreditar, que lá está a mão dele, conduzindo o instrumento. 
Travesso, se ouve uma gostosa risada ou se levanta a saia de uma bela moça, pode acreditar, é ele! 
O narrador concluiu a história, dizendo: 
-- Quando acontece alguma dessas travessuras, o tocador que está animando a festa deve cantar em sua homenagem. 
E nisso o violeiro que ali estava, começou a tocar, entoando a seguinte canção: 
“Eu me chamo Generoso, morador de Pirapó. Gosto muito de dançar com as moças, de paletó.” 
E assim, todos começaram a dançar. 
As palavras cantadas pelo violeiro, eram uma ode ao lendário gentio. 
E ninguém podia se negar, e deixar de participar da homenagem. 
Depois da dança, todos aplaudiram o narrador e novamente sentaram-se. 
Estavam ansiosos para conhecer a próxima história que o narrador da tão prestigiada festa, iria contar. 

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 3 – REGIÃO SUL CAPÍTULO 2

Animado, estava contando a história do Boitatá ou Mboi-tatá, como alguns moradores do local preferem denominá-lo. 
Tal nome significa cobra de fogo, e é mais o menos isso que o Boitatá, segundo diz quem a viu. 
É uma cobra de fogo, que vaga pelos campos, pelas verdejantes paisagens da floresta para protegê-la daqueles que a tentam incendiar. 
Para alguns, que acreditam tê-la visto, trata-se de uma serpente transparente incandescente, como se estivesse queimando por dentro. 
Segundo crédulas testemunhas, as pessoas, em decorrência de tal visão, ficavam temporariamente cegas, dada a intensidade da luz que a estranha criatura jogava contra eles. 
Era uma luz muito forte e intensa. 
Ao ouvir sobre a luz, Felipe, mais que depressa perguntou: 
-- E como era essa luz? Que forma tinha? 
No que o narrador disse: 
-- É um fogo meio azulado, misturado com amarelo. 
Não é muito definido. 
É um fogo muito forte, mas que não queima nem o mato seco, nem a água dos rios. 
O fogo simplesmente se mexe. 
Rola, faz uns giros, corre como se tivesse pernas, até explodir no ar e acaba se apagando. 
É mágico, parece aqueles shows pirotécnicos que se vêem aos montes. 
Nesse instante, Felipe percebeu, que o estranho fenômeno que o narrador comentava, é o famoso fogo fátuo. 
E o fogo fátuo, nada mais é, do que a inflamação espontânea de gazes, geralmente emanados de sepulturas ou de pântanos. 
Tal fenômeno produz um brilho intenso que dura poucos minutos, e some da mesma forma como surgiu. 
Mas, mesmo sabendo do que se tratava, preferiu se calar. 
Como se tratava de uma exposição folclórica, não tinha sentido tal comentário. 
Mas, mesmo assim, movido ainda de uma certa curiosidade, perguntou se havia alguma forma de não ser prejudicado, ao se ter a visão do fenômeno. 
O narrador então lhe explicou que, as duas únicas possibilidades de se livrar dela é, ou ficar parado, quieto, de olhos fechados, bem apertados e sem respirar, ou ainda, se estivesse em uma montaria, podia-se fazer um laço e lançar em cima do Boitatá. 
Em seguida, devia-se partir a galope, trazendo consigo, o laço arrastado, até uma certa distância. 
Depois de terminar o relato sobre a história do Boitatá, o narrador teve o cuidado de dizer, que esta lenda era tipicamente sulista. 
Outros povos, outras regiões brasileiras, provavelmente, nem conheciam essa história. 

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 3 – REGIÃO SUL - CAPÍTULO 1

Lúcio, Flávio, Agemiro, Fábio e Felipe rumaram para o Sul. 
Queriam visitar uma cidadezinha de qual já tinham ouvido muito a respeito. 
Era uma pequena cidade da região, onde anualmente, acontecia um festival de folclore. 
Nesse festival, além de comida e bebidas típicas, havia ainda, danças folclóricas e espetáculos artísticos, onde eram contadas as antigas lendas da região. 
O famoso festival, atraía os moradores de outros lugares, que curiosos, vinham conhecer a cidade. 
Assim, por já terem ouvido falar da famosa festa, os cinco turistas, que já algum tempo, viajavam juntos, resolveram parar por ali, e conhecerem o tão comentado festival. 
Os cinco ao chegarem ao local, procuraram logo fazer amizade com os moradores da localidade. 
Nisso, a festa já estava repleta de pessoas. 
Centenas delas, que circulavam pelos arredores da cidade e pelos ambientes da festa. 
Diante disso, foram conhecer o lugar. 
Visitaram as barracas de quitutes, de bebidas, de produtos artesanais, entre outras coisas. 
Depois de um certo tempo caminhando, encontraram uma tenda armada, na qual de hora em hora, aconteciam danças típicas. 
Em outra tenda armada, um narrador, contava as principais lendas do Sul.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

sexta-feira, 24 de julho de 2020

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 96

CAPÍTULO 96 

Todavia, deixando o deslumbramento de lado, ainda havia muito a ver visto na cidade.
Por esta razão, os turistas, mais do que depressa, foram ver de perto a Torre de TV.
Com duzentos e dezoito metros de altura, é o centro de retransmissão das emissoras de rádio e de TV.
Além disso, é ponto de referência na cidade.
Do seu mirante a setenta e cinco metros de altura, a vista é de um cartão postal.
No dia seguinte, visitaram o Parque da Cidade.
Neste recanto, de quatrocentos e vinte hectares, com urbanismo de Lúcio Costa, arquitetura de Niemeyer e paisagismo de Burle Marx, o convite a um agradável passeio é bem aceito.
No parque há ciclovia, kartódromo, campo de aeromodelismo, estado hípico, lago com pedalinhos, bosque com churrasqueiras, e uma piscina com ondas artificiais que é a atração da cidade.
Contam os freqüentadores do parque, que as personagens da música do grupo Legião Urbana, andavam por aqui.
Depois disso, os turistas resolveram visitar o Parque Nacional de Brasília.
Neste lugar, trinta mil hectares de cerrado e matas ciliares, convidam a um inesquecível passeio.
A área, aberta ao público tem duas piscinas de água mineral natural.
Há vestiários e quiosques, além de trilhas demarcadas para caminhadas.
Na última sexta-feira do mês, às sete horas, os freqüentadores organizam um café da manhã à beira da piscina.
Foi exatamente nesse dia, que os turistas visitaram o parque, e se encantaram com a hospitalidade dos brasilienses.
Em seguida, foram visitar o Vale do Amanhecer.
Em Planatina.
Lá, há uma comunidade mística, fundada pela vidente Tia Neiva.
Maior exemplo do sincretismo religioso no país, lá se realizam, todos os dias, cerca de cem rituais dos mais variados cultos.
Na praça, no centro do povoado, há um lago formado por uma Estrela de Davi, de concreto armado, onde se realizam as cerimônias, e uma pirâmide para energização.
Os adeptos dizem que o templo principal teve arquitetura e decoração orientada por espíritos recebidos por Tia Neiva.
Mais de mil médiuns moram no local, que funciona como cidade – tem escola, creche, fábrica de tijolos, mercearia e outros serviços.
Mais tarde, ao retornarem a capital, Lúcio e Flávio, aproveitaram para voar de ultraleve sobre a capital.
Foi assim, que os dois, voando, puderam ver o Plano Piloto do alto, como se fossem pássaros.
Depois, de carro, os cinco rapazes avistaram o conjunto de edifícios que à margem do Eixo Monumental, divide as asas sul e norte.
Os turistas também conheceram o Catetinho – construção de madeira que serviu de residência presidencial durante a primeira fase da implantação da nova capital.
Considerado o primeiro projeto de Niemeyer para a cidade, foi tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional.
A seguir, visitaram a Capela do Palácio da Alvorada.
Ao voltarem ao Hotel Nacional de Brasília, aproveitaram a piscina existente no pátio externo e nadaram um pouco.
Mais tarde, avistaram a Fonte Sonora, o Hospital Distrital, o Banco do Brasil, o Banco Regional de Brasília, a Estação Rodoviária, o INSS, o SESC, o Palácio dos Arcos, o Instituto Central de Ciências, o Iate Clube, o Hotel de Turismo, a Concha Acústica, a Sociedade Hípica, o Jóquei Clube, o Campo Universitário, o Cemitério Norte, a Zona Militar, o Aeroporto, o Setor dos Hotéis, o Setor Bancário e o Setor Cultural.
Com isso, resolveram fazer um passeio pelo Lago Paranoá.
Assim, no Barco Tôa-Tôa, juntamente com outras quarenta e cinco pessoas, e com todas as mordomias, os turistas navegaram por duas horas por diversos lugares.
Saindo do ASBAC, no setor de clubes e passando pela Ermida de Dom Bosco, barragem do lago e península do Palácio da Alvorada, o passeio mostra aos turistas, outros ângulos de Brasília.
Depois, passaram pelo Shopping Conjunto Nacional, onde compraram alguns produtos artesanais.
Por sinal, depois de tantos passeios, os cinco viajantes já estavam cheios de lembranças e presentes para distribuir aos amigos, e guardarem para si.
Dessarte, ainda na região, decidiram visitar o Alto Paraíso.
Situado no ponto mais alto do estado de Goiás, fica perto das estrelas.
O local, é um cenário impressionante de rios, vales, cachoeiras e montanhas.
Perto do lugarejo onde vivem os esotéricos, místicos e alternativos, está Pouso Alto, um pico de mil e oitocentos metros de altitude.
Alguns esotéricos dizem que uma espécie de energia envolve a cidade, por ter sido construída sobre uma grande placa de cristal.
Distante dali trinta e cinco quilômetros, está o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.
Os turistas, animados com o passeio, decidiram então ir até o local.
Ao passarem pelo vilarejo de São Jorge, perceberam que ali, era a porta de entrada do parque. Depois, estacionando o carro, percorreram um caminho de seis quilômetros, beirando o Rio Preto, entre antigas formações rochosas, flores exóticas e pássaros, até se chegar a duas quedas d’água.
Uma delas, com cento e vinte metros, desaba de um paredão e forma uma piscina natural.
A formação enegrecida no fundo, tornou escura a água do rio.
Por conta disso, a mesma é conhecida como Coca-Cola.
Subindo o rio, a aventura continua pelos cânions, pela corredeira da Carioca, com várias piscinas, e por qualquer pondo onde o corpo pedir um mergulho.
E foi isso que os turistas fizeram.
Depois, saindo de São Jorge, foram até o Vale da Lua – uma formação rochosa esculpida por milhares de anos pelas águas do Rio São Miguel.
O nome do lugar é Vale da Lua, por conta do cenário, que se assemelha a superfície lunar.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 95

CAPÍTULO 95 

Ainda hoje, os índios sofrem as conseqüências, da intervenção dos brancos.
Todavia, continuaram seu passeio pela região.
De binóculos, apreciaram o lindo espetáculo das aves.
Nisso o guia comentou que, no Rio Araguaia existe um negrinho d’água que afunda as canoas dos aventureiros que se lançam à suas águas, à meia noite.
Hospedados em um hotel na Ilha da Confusão, em Barreira de Santa Cruz, os turistas apreciaram calmamente, as belezas da região.
Por fim, mais uma vez partiram.
Deste vez o destino, era a capital do país, Brasília.
De monomotor, avistaram a capital, a plataforma rodoviária, a Esplanada dos Ministérios e ao fundo, a Praça dos Três Poderes.
Ao descerem e verem de perto a famosa Praça dos Três Poderes, os turistas puderam se dar conta do colosso que é Brasília.
Imponente, a praça, com seu grandioso prédio e sua semicircuferência ao lado, são retratos do modernismo das linhas arquitetônicas de Brasília.
Caminharam por suas avenidas largas e aparentemente solitárias.
Sim, os cinco rapazes, passaram pelo Eixo Monumental e depois, passearam pela Praça dos Três Poderes.
Nestes dois lugares, estão concentradas boa parte dos momentos mais importantes da história do Brasil.
Isso por que, pelo Eixo Monumental, que desemboca na Esplanada dos Ministérios, já desfilaram tanques, estudantes em passeata, e até um militar a cavalo.
A cena era dantesca: o coronel Newton Cruz chicoteava manifestantes e carros faziam um buzinaço contra a derrota da emenda constitucional das eleições diretas.
No final do Eixo, na Praça dos Três Poderes, está o Panteão da Pátria, um monumento em forma de pomba, em homenagem ao Presidente Tancredo Neves.
A poucos passos, o Palácio do Planalto, onde trabalha o presidente da república.
Colunas finas, formando curvas, sustentam a leveza do edifício, e a famosa rampa do poder.
Comenta-se que um ex-presidente saiu dele pela porta dos fundos.
Fernando Collor, saiu sob um coro de vaias.
Com isso, do outro lado da praça, está o Congresso Nacional.
O prédio onde se realizam as sessões tem duas conchas, uma voltada para cima, teto do Plenário da Câmara, e a outra para baixo, teto côncavo do Senado.
O amplo gramado em frente foi palco de manifestações populares e episódios constrangedores, como o do deputado que, numa noite dessas, foi flagrado namorando em plena grama.
O Congresso é a casa do povo, e o acesso é livre, inclusive às galerias dos Plenários.
Por isso mesmo os turistas fizeram questão de visitar o local.
Todavia, mesmo diante da facilidade do acesso, os turistas se depararam com uma parede de vidro, que impedia o livre acesso aos parlamentares.
Porém, a despeito disso, foi um belo passeio.
Lá conheceram as instalações do local e perceberam o quão organizado era.
Na Biblioteca do Senado, puderam ver a cópia da capa do folheto que contém o discurso de William Pitt, sugerindo a interiorização da capital.
Depois, a poucos passos dali, avistaram o Superior Tribunal de Justiça.
O prédio, projeto de Niemeyer, tem linhas de extrema leveza, e na frente, a escultura "A Justiça", de Alfredo Ceschiatti, com os olhos vendados, cega como a lei.
Mais tarde, os turistas avistaram, às margens do Lago Paranoá – artificial –, o Palácio da Alvorada, obra-prima de Oscar Niemeyer, que se tornou símbolo do movimento moderno da arquitetura brasileira.
Quando o então presidente, Fernando Henrique, residiu nele, foi a primeira vez, desde Juscelino, que um governante ficou feliz em morar nele.
Sarney chegou a morar por lá por alguns meses, mas reclamou que o local era um verdadeiro forno, e houve até uma primeira dama que chamou o Alvorada, de aquário.
Collor morou em sua residência, a Casa da Dinda, e Itamar Franco preferiu continuar na residência do vice-presidente, o Palácio do Jaburu.
O Alvorada, é uma construção revestida de mármore e fachada de vidro, sustentada por colunas brancas que se abrem em semicírculos, como símbolo da genialidade de Niemeyer.
Os turistas, ao verem o palácio, mesmo de longe, ficaram impressionados.
Uma construção tão imponente!
Não conseguiam entender por que tantos presidentes reclamaram do lugar.
Com isso, chegada a noite, os turistas foram jantar no Restaurante La Vecchia Cucina.
No dia seguinte, almoçaram no Restaurante Francisco.
Á noite, jantaram no Piantella – refúgio de Ulysses Guimarães.
Ali a turma do poire – licor de pera, que era a bebida preferida do ‘senhor diretas’ – se reunia, tramando peraltices políticas.
Assim além de conhecerem a gastronomia da cidade, os turistas visitaram, alguns templos religiosos, entre eles, o Templo da Boa Vontade.
O templo, de grande beleza plástica, é o mais visitado por seu ecumenismo, e fica aberto vinte e quatro horas por dia.
Construído em forma de pirâmide, com sete faces, ostenta no ápice um cristal de quarenta centímetros de altura, dezoito 78 centímetros de diâmetro e pesando vinte e um quilos.
Segundo algumas pessoas, é o maior cristal puro encontrado na região.
No interior do templo, o caminho da peregrinação é uma espiral desenhada no piso com pedras negras.
As pessoas caminham descalças até o centro da espiral e tocam um pequeno círculo de cobre.
As mãos para o alto, são para meditar e receber vibrações.
O retorno é pela espiral de pedras brancas, que significa o caminho da purificação.
Depois, um gole de água na fonte, que faz o caminho espiral da nave, por baixo da terra, e jorra num jardim.
No dia seguinte, visitaram o Palácio da Justiça.
Este prédio, também é conhecido como sede do Ministério da Justiça.
Os jardins e a bela fachada de arcos que se sustentam por lajes curvas de concreto aparente, por onde deslizam cortinas d’água, é alvo de superstições do povo, que acredita que as últimas, simbolizam um choro permanente por que ele ‘acha’ o palácio em frente, do Itamaraty muito bonito.
Ao visitarem o Palácio do Buriti, no Eixo Monumental Oeste, os turistas finalmente conheceram a sede do governo do Distrito Federal.
Projetado por Mauro Jorge Esteves, tem nos jardins, as esculturas ‘A Loba Romana’, cópia de ‘A Loba do Capitólio’, doada pela Prefeitura de Roma, e ‘Forma Espacial no Plano’, de Enio Iommi, doada pelo governo argentino.
Passeando por Brasília, os turistas avistaram ainda o Palácio do Jaburu, no Setor de Hotéis e Turismo Norte, que é a residência oficial do vice-presidente da república.
Com projeto de Niemeyer e jardins de Burle Marx, tem árvores frutíferas e plantas da região.
No entanto, para tristeza dos cinco rapazes, o palácio só pôde ser visto de longe.
Em seguida, foram conhecer o Palácio Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores.
Projetado por Niemeyer, é circundado por espelhos d’água que refletem os arcos da fachada e das laterais.
Os jardins de Burle Marx, foram feitos com plantas da Amazônia.
No centro do jardim, espelhos d’água – ao centro deles – e a escultura de Bruno Giorgi ‘O Meteoro’, de mármore carrara, e que parece flutuar.
Novamente no Eixo Monumental, avistaram trecho da Esplanada dos Ministérios, e os inúmeros prédios de concreto, onde moram políticos e demais habitantes da cidade.
Após, os cinco turistas foram visitar a Catedral Metropolitana. A base larga, vai se afunilando.
Á frente, diversas esculturas embelezando o lugar.
Situada no Eixo Monumental Leste, é um esplêndido projeto de Niemeyer.
A nave circular é iluminada por uma luz natural que vaza por vitrais coloridos de Mariane Perret, que formam as paredes.
Para sustentar a estrutura, colunas curvas se abrem e se fecham em forma de coroa, encimadas por uma cruz metálica.
No interior da nave, flutuam no ar três anjos de alumínio fundido esculpidos por Alfredo Ceschiatti.
Painéis de Di Cavalcanti representam a Via Sacra.
À entrada da catedral, ‘Os Evangelistas’, que são quatro estátuas de bronze de Ceschiatti.
Ao lado, os sinos do campanário, doados pelo governo espanhol.
Mais tarde, os cinco viajantes foram conhecer o Memorial JK, monumento em homenagem ao fundador de Brasília, inaugurado em 1981.
O monumento, possuí um pedestal de vinte e oito metros com a estátua de Juscelino.
Este local, abriga a biblioteca de JK, com mais de três mil volumes, sala de pesquisas, auditório.
A câmara mortuária, com os restos mortais do ex-presidente é um salão circular com teto decorado por vitrais coloridos de Mariane Perrett. A seguir, os cinco rapazes foram conhecer o Espaço Lúcio Costa. Situado no sub-solo da Praça dos Três Poderes, é uma homenagem ao autor do plano urbanístico de Brasília.
Nesse espaço, a peça permanente é uma maquete de Brasília de treze por treze metros, de autoria de Antonio José.
Posteriormente, conheceram o Teatro Nacional, situado na Esplanada dos Ministérios.
Estabelecido no Eixo Monumental, ao lado da rodoviária, trata-se de um projeto de Niemeyer, que tem a forma de uma pirâmide irregular, com composição plástica de cubos e retângulos de Athos Bulcão.
Tem três salas de espetáculos, obras e galeria de arte.
Animados com a magnitude da cidade, foram visitar o setor comercial de Brasília, bem como as super quadras do setor residencial.
Em seus passeios pela cidade, visitaram o Santuário de São João Bosco.
Seu interior caracteriza-se por uma extrema simplicidade arquitetônica e intensa luminosidade.
Neste lugar, os turistas aproveitaram para rezar um pouco.
Depois, admirando a construção, constataram, que apesar da simplicidade, o templo, com paredes de arcos góticos de dezoito metros de altura, fechados com vitrais em doze tonalidades de azul, do belga Humberto Vandró, que mudam com a posição do sol, era um deslumbre só.
Além disso, nas portas de bronze, há quadros das visões proféticas de Dom Bosco.
Nos jardins, paisagismo de Burle Marx. A seguir, foram visitar a Ermida de Dom Bosco, ao lado do Lago Paranoá.
Construído sobre o paralelo quinze, é o local onde Dom Bosco previu que surgiria uma nova civilização.
Na minúscula capela, em forma de pirâmide, está a imagem do santo padroeiro da capital, esculpida em mármore carrara pelos irmãos Arreghini di Pietra Santa.
No lugar, se tem uma bela vista dos arredores da cidade.
Depois, os turistas foram visitar o Museu Histórico de Brasília.
Trata-se de uma estrutura, em concreto armado e mármore, com a cabeça de Juscelino Kubitschek esculpida em pedra sabão.
No interior, inscrições com frases de Oscar Niemeyer e Juscelino sobre a construção de Brasília.
Após, conheceram o Museu de Arte de Brasília.
O museu, com um acervo de mais de setecentas obras de arte brasileira dos últimos trinta anos, conta com tela de Iberê Camargo, Tomie Othake, Athos Bulcão, Siron Franco, João Câmara.
A tela ‘Exposição e Motivos da Violência’, de Câmara, venceu o prêmio do Salão de Brasília de 67 com o nome de AI-5.
Em pleno regime militar, a obra desapareceu e só foi encontrada em 91, no porão do museu.
Enquanto conheciam os principais pontos turísticos da cidade, Fábio, Lúcio, Flávio, Agemiro e Felipe, aproveitaram para também conhecer a Igrejinha.
A Igreja de Nossa Senhora de Fátima, foi o primeiro templo a ser construído na capital.
Com painel de azulejos de Athos Bulcão, sua forma lembra uma corneta, nome que se dá àquele chapéu de abas largas usado pelas freiras vicentinas.
No Cruzeiro de Brasília, há uma cruz de madeira situada no ponto mais alto do Plano Piloto, onde foi rezada a primeira missa de Brasília, em 1957.
Além disso, no local, se tem uma vista de quase trezentos e sessenta graus da cidade.
Vista essa que deixou os cinco turistas maravilhados.
Brasília, realmente é um colosso.
Com suas avenidas largas, seu céu azul que quase toca as pessoas, é uma cidade imponente e majestática.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 94

CAPÍTULO 94

Durante o passeio pela região, ouviram a seguinte história: Kananxuiuva é o deus Carajá.
Kananxuiuva criou o mundo.
Criou o céu, o sol, a lua, as estrelas, as florestas, os rios, as tempestades.
Criou os frágeis e os fortes.
Deu asas aos pássaros cantores e veneno às cobras silenciosas.
Dotou os rios de botos e piranhas.
Criou Kbói, o índiopeixe, gigante e barrigudo, que trouxe no ventre os primeiros carajás, cujo berço esplêndido foi o leito do Rio Araguaia.
O mundo de Kananxuiuva existe, resiste e é uma ilha.
A Ilha de Camonaré, a Bananal, a maior ilha fluvial do mundo.
Uma ilha que nenhum sonho é capaz de imaginar, na vastidão de sua grandeza, na miudeza de seus detalhes.
O universo dela é uma paisagem plana, definida e variada.
A essência são as areias amareladas e acastanhadas, como se lhe tivesse acrescentado ferrugem.
A vegetação vai do rasteiro cerrado às matas tipicamente amazônicas.
Orquídeas, samambaias, ipês, cedros, palmeiras perfumam, enfeitam e colorem este gigantesco vaso.
O terço de cima da ilha é protegido pelo Parque Nacional do Araguaia.
O restante é reserva indígena administrada pela Funai.
O amanhecer é extraordinário.
A vida se alvoroça nos gorjeios de bem-te-vis, uirapurus, sabiás, azulões, coleirinhas.
Bandos de garças sobrevoam os campos encharcados, com o pescoço curvado e as pernas fininhas estendidas para trás.
Pelas lagoas deslizam bandos de jaburus solidários que acabaram de deixar seus ninhos coletivos.
Exibem imponentes seus bicos negros levemente curvados para cima, como se estivessem permanentemente erguendo um valioso troféu.
Nos galhos dos arbustos, os biguás parecem vestidos de luto na sua plumagem negra.
Estes, espreitam sua vítima, que será abatida num certeiro mergulho na lagoa.
Até gaivotas existem aqui, desfazendo o mito de que só vivem no mar.
A ilha possuí seiscentas e sessenta espécies de aves.
Cada qual de um jeito.
Cada qual com seu espetáculo.
É ainda aurora quando os filhos de Kananxuiuva rompem velozes pelo Araguaia.
São exímios canoeiros.
Eles vão a pesca, deixando na aldeia a mulheres e os afazeres domésticos.
Nas malocas, elas conversam num dialeto carajá desconhecido dos homens.
Elas, e apenas elas, sabem falar esta língua passada de mãe para filha desde que a primeira mulher surgiu da barriga de Kbói.
Jamais um homem, por respeito ou ética, ousou decifrar este segredo.
A brasa acesa que arde no centro da aldeia espera os aruanãs, pirarucus, piraíbas, tucunarés, pintados, piaus, matrinxões que serão trazidos do rio – apenas na quantidade suficiente para a fome.
Há muito tempo os carajás assimilaram os calções e muitos o dinheiro e a cachaça.
Mas nem por isso largaram mão de seus colares, cocares e brincos – todos penachos coloridos de aves.
As maçãs do rosto são gravadas com dois círculos, feitos com os dentes agudos do peixe cachorra – sobre a ferida é aplicada tinta de jenipapo.
Os simétricos desenhos pelo corpo são produzidos com o óleo do fruto do urucum.
Filhos do Rio Araguaia, respeitam o pai, e o protegem.
Antigamente por exemplo, não se molestavam as centenárias tartarugas gigantes, que aqui, pesam mais de cem quilos e têm mais de um metro de comprimento.
Mas os tori – os brancos – apreciam a carne de tartaruga, e pagam por isso.
Por isso, é célebre a história de um turista europeu que, compadecido com o triste fim dos répteis em vias de extinção, decidiu comprá-los e devolvê-los ao Rio Araguaia.
Todavia, o dinheiro e o esforço foram insuficientes: enquanto ele soltava as tartarugas no rio, os índios voltavam a capturá-las alguns metros adiante.
Com isso, muito antes de o governo proibir formalmente a utilização da área como pasto para gado, Kananxuiuva armou uma cilada para preservar suas espécies.
De olho na criação, o senhor dos trovões fazia – e, ressabiado, continua fazendo – o mundo desabar entre novembro e abril.
E assim, ao transformar a ilha em arquipélago, as cheias mandavam para longe os vaqueiros e os rebanhos, sufocando a depredação.
Até raposas, cachorros-do-mato, guarás, guaxinins, jaguatiricas, pacas e capivaras fugiam da fúria do poderoso, para se refugiarem nas entranhas do trecho da floresta amazônica, ao norte do Bananal. Agora Kananxuiuva teme a maldição de Kbói, que não queria os carajás aqui.
Kbói considerava a área maldita e o rio de morte, sendo desaconselhável para a nobre missão de dar vida a um povo.
Com relação à nação, já se contaram quarenta e cinco mil pessoas.
Hoje, no Bananal, não passam de mil.
Ao término da narrativa, os turistas ficaram espantados com a situação dos índios.

O jaburu (Jabiru mycteria), também conhecido como tuiuiú, tuiuguaçu, tuiú-quarteleiro, tuiupara, rei-dos-tuinins, tuim-de-papo-vermelho (no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), cauauá (no Amazonas), jabiru (na região Sul do Brasil) e jabiru-americano. Informação extraída da wikipedia https://pt.wikipedia.org/wiki/Jaburu

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 93

CAPÍTULO 93

Próximo destino, Tocantins. Ao chegarem na capital, Palmas, desceram da aeronave, e depois de confortavelmente instalados em uma pousada, passaram a visitar a cidade.
Ao visitarem o Palácio do Araguaia, os cinco viajantes puderam se deslumbrar com um grandioso prédio de vidro e concreto aparente, onde trabalham o governador, os deputados e os juízes.
Este magnífico prédio, fica no marco zero da cidade, onde foi rezada a primeira missa local.
Na Reserva Ecológica do Lajeado, na estrada Aparecida do Rio Negro, no quilômetro dezoito, os turistas puderam se deslumbrar com uma reserva três em um.
Sim, por que neste local, havia caatinga, vegetação de cerrado e florestas úmidas em uma área de um mil e quinhentos quilômetros quadrados.
Dessa forma, o resultado só poderia ser esse mesmo.
Logo na entrada da reserva, o íngreme Morro do Governador oferece uma exuberante vista do vale.
Já o Mirante de Palmas é para os amantes à moda antiga.
Local perfeito para namoricos e beijinhos furtivos.
Com isso os turistas, ao passarem pelo mirante e verem alguns casaizinhos, ficaram morrendo de vontade de ter companhia.
Isso por que, a vista do vale durante o dia, dá o clima propício para tanto.
Todavia, mesmo à noite, a vista do lugar é um espetáculo.
Sim, por que a noite já basta por si só.
Tudo isso, em razão do por-do-sol cinematográfico que o local oferece.
Neste recanto da natureza, tudo é belo.
O céu, possuído por gaviões-reais, urubus-reis, asasbrancas, papagaios, araras e tucanos, é um convite ao encantamento.
Além disso, antas, pacas, onças, veados e guarás correm entre cajuranas, ipês, jatobás, macaúbas, argelins, e outras noventa espécies vegetais que escondem jibóias e camaleões.
E ainda, sempre há um salto ou uma cachoeira onde se refrescar.
Demarcado no papel, boa parte da reserva se presta ao pastoreio.
Por isso mesmo, os pastores são bons guias para o passeio.
Além de conhecedores do local, oferecem segurança aos turistas.
Por fim, ainda encantados com as imagens que viram e fotografaram, os turistas continuaram o passeio, agora para conhecerem as Cachoeiras do Roncador.
Situada no quilômetro trinta e seis da estrada Aparecida do Rio Negro, é um magnífico lugar para caminhadas.
Isso por que, para se chegar as aludidas cachoeiras, é preciso caminhar por uma trilha durante uma hora.
Esta magnífica trilha, margeia o Riacho Brejo da Lagoa, na Serra do Lajeado, até se chegar ao deslumbrante ‘Véu de Noiva’ de sessenta metros de altura.
A cauda do véu é uma piscina de águas cristalinas e geladas e cada d’àgua é uma massagem e tanto.
Ao passarem pelo local, é claro que os turistas se banharam nas águas da cachoeira.
Depois, ao continuarem o passeio, avistaram a Cachoeira Brejo da Lagoa, a qual oferece quase um replay.
A única diferença da cachoeira anterior é que o sol bate no paredão de pedra, e as minúsculas gotas d’água, que formam pequenas nuvens, ao chocar-se com a piscina natural, produzem cores como um caleidoscópio.
Realmente um passeio encantador.
No dia seguinte, já de volta a cidade, foram conhecer a Pedra de Pedro Paulo.
Logo acima da cidade, a pedra pode ser escalada.
Porém, os turistas não quiseram saber da aventura.
Mas, a despeito disso, logo ficaram conhecendo uma curiosidade local.
Segundo alguns moradores, nos anos cinqüentas, um seminarista chamado Pedro Paulo, pegava uma corneta, e subia na pedra para tocar sax no fim da tarde.
Dessarte, para os antigos moradores, o som enchia o vão entre as paredes de pedra da serra, propagando-se pelo vale.
Mais tarde, os cinco rapazes, foram conhecer a Praia da Graciosa.
Situada na Vila de Canelas, a margem oposta do Rio Tocantins vira praia em meio a centenários pés de babaçus e buritis.
Nos fins de semana, milhares de pessoas se reúnem neste balneário sazonal – que surge nos meses de junho a setembro –, com direito a camping, bares flutuantes, quadras de esporte e shows.
Ao lá chegarem, por ser a época da formação da praia, os turistas se deleitaram em suas águas.  Depois, foram conhecer o Porto Nacional, distante sessenta e seis quilômetros de Palmas.
Esta região, apresenta o casario colonial dos tempos em que era parada obrigatória do trajeto Belém-Lisboa.
O estilo romântico da Catedral Nossa Senhora das Mercês, construída com as pedras do Rio Tocantins (1894-1903), lembra um prédio medieval.
Foi erguida com base numa maquete trazida de Tolouse, França, pelos freis dominicanos.
Em seu interior despojado, um crucifixo de madeira, de dois metros, impressiona.
Além disso, no auge da seca, em julho, o Rio Tocantins dá mostras de sua fraqueza na Carreira Comprida.
Suas águas vão sumindo e ele que se apresentava exuberante, quase intransponível, mais parece um riacho tímido.
Nessa fase, pode-se vencê-lo a pé, caminhando pelas pedras do seu leito.
Porém, nos locais em que resiste um pouco mais, o rio forma praias e facilita os mergulhos.
Por isso mesmo, os turistas, ao visitarem as principais atrações da cidade, trataram logo de dar um mergulho nestas águas, para encerrar o passeio.
Com isso, no dia seguinte, trataram de viajar para a região da Ilha do Bananal.
A bordo do monomotor, os turista, aproveitaram para mais uma vez, admirar a região.
Depois, a aeronave pousou, e os turistas puderam conhecer um pouco mais sobre o Rio Araguaia e os índios Carajás.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 92

CAPÍTULO 92

Na cidade de Goiás, tiveram o privilégio de conhecer o Goiás Velho. 
No calçamento de suas ruas, todas desiguais em tamanho e nivelamento, estão denunciados os passos lentos e pesados de muitas patas de boi. 
Hoje, porém, ao invés de bois, são os cavalos que estalam suas ferraduras nas pedras. 
Foi nessa histórica cidade, que conheceram a Casa de Cora Coralina. 
Neste casarão, na beira da ponte foi onde viveu a poetisa ingênua e a doceira de mão cheia Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, a famosa Cora Coralina (1889-1985). 
Na construção colonial de 1682 – uma das primeiras casas da cidade – está tudo o que ela deixou: móveis, livros, rascunhos literários, documentos e cartas de remetentes ilustres como Carlos Drummond de Andrade e Jorge Amado. 
Até suas roupas floridas continuam no cabide do quarto. 
Na cozinha, os tachos de cobre onde Cora fazia doces cristalizados – seu ganha pão durante muito tempo. 
Escritora desde os catorze anos, estudou até o terceiro ano primário, aprendeu a fazer contas aos setenta anos e publicou seu primeiro livro aos setenta e cinco. 
No quintal da casa está a bica de água mineral, fonte que a inspirou assim: 

“Biquinha és banho e refrigério, 
Copo de água cristalina e azul 
Para a sede de quem fez 
A longa caminhada 
Às vertentes do passado 
E volta vazia às origens 
Da sua própria vida.” 

Em seguida os turistas visitaram a Igreja Nossa Senhora da Abadia. 
Construída pelos escravos e para os escravos em 1790. 
O altar é todo talhado em madeira, pintado de azul e ouro, de autoria desconhecida como a pintura no teto, que representa Nossa Senhora no céu com os anjos. 
Ademais, a imagem da padroeira de Veiga Valle decora o altar. 
Ao visitarem a Catedral de Sant’Ana, os turistas descobriram que esta fora a quarta igreja construída no mesmo lugar. 
Em 1727, era apenas uma capela e ruiu. 
Em 1743, erguida uma igreja barroca no lugar, também ruiu. 
Novamente, em 1949, foi construída uma igreja barroca em seu lugar. 
Mais uma vez, a edificação construída ruiu. 
Depois, novamente erguida uma edificação, desde 1958, elevada a condição de catedral, continua firme como tribuna pastoral de Dom Tomás Balduíno desde 1967. 
Na Igreja de São Francisco de Paula, ao avistarem sua fachada branquinha, emoldurada por portas e janelas azuis, os turistas trataram logo de entrar. 
Ao adentrarem a construção, foram logo observando seus detalhes arquitetônicos, como o centro do altar onde está a imagem de Bom Jesus dos Passos, trazida de Salvador em 1745 e usada na procissão da semana santa. 
Contudo a surpresa maior estava no teto. 
Os turistas ao lançarem os olhos para o teto da igreja, puderam ver passagens da vida de São Francisco. 
Ademais, do pátio da igreja a vista da cidade é lindíssima. 
Por conta dessa visão puderam vislumbrar toda a magnitude da cidade. 
Contudo, como ainda tinham muito o que ver, trataram logo de visitar a Igreja do Rosário. 
Esta edificação, construída pelos dominicanos em 1959, é um templo de pedra, que apresenta uma torre solitária e arcos góticos. 
Em suas paredes laterais, está pintada pelo Frei Nazareno Canfalone, a Via Crucis. 
Além disso, esta igreja, ocupa o espaço da antiga Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, demolida em 1920. 
Quando os turistas foram visitar a Igreja de Santa Bárbara, e ao perceberem que a mesma estava fechada, trataram de subir seus oitenta e sete degraus e contemplaram a cidade do alto. 
No Museu das Bandeiras, os turistas passearam pelo enorme casarão de pé direito duplo sustentado por seculares vigas de madeira, construído em 1761. 
O andar térreo era cadeia, o de cima, Câmara Municipal. A prisão úmida, lembra uma enxovia e funcionou até 1950. 
As duas celas coletivas têm paredes de um metro de espessura e grades grossas. 
No piso superior estão documentos, fotos, louças e objetos domésticos da época do império. 
Tudo explicado em painéis históricos. 
Na praça, próxima do museu, há uma fonte com chafariz de cauda, de 1778. 
No Palácio Conde dos Arcos, os turistas conheceram o casarão de trinta e seis cômodos, que foi sede do governo de 1748 à 1935. 
Ali, móveis, louças e objetos dos noventa e oito governadores que passaram por lá, entre os quais, Felicíssimo Espírito Santo, bisavô de Fernando Henrique Cardoso. 
Depois, os viajantes conheceram o Quartel. 
Foi este local, que durante a Guerra do Paraguai, serviu de hospital militar. 
Hoje o pátio interno serve de palco para festas populares. 
Depois, os turistas aproveitaram para andar de charrete pela cidade, bem como por seus arredores. 
Mais tarde, aproveitaram também, para descer de bóia, o Rio Bagagem. 
No dia seguinte, acompanhados de um guia, visitaram a Serra Dourada. 
Pela estrada para Aruanã, os turistas chegaram até a serra. 
Porém, passando pela estrada, os turistas avistaram um túnel de dois metros de altura, cavado por escravos no morro da Bandeirinha, o qual dá acesso a vários salões, e acredita-se que sai do outro lado do morro, onde se encontra uma outra estrada. 
De acordo com o guia, documentos de 1839 contam que dois alemães entraram no túnel e nunca mais voltaram. 
Um padre, indignado com o descaso do governo, também resolveu ir atrás deles e também sumiu. 
Por isso mesmo, os turistas acharam por bem, entrarem acompanhados do guia. 
Isso por que, ninguém conhece os mistérios do lugar. 
Após, na serra que contorna a cidade, e que esconde rios, cachoeiras e ribeirões que deságuam no Rio Vermelho, foram passear. 
Neste lugar, a vegetação de cerrado convida a caminhadas entre flores silvestres, ipês-amarelos e esculturas naturais, escavadas pela ação do tempo nas rochas. 
Por fim, o pôr-do-sol dá nome à serra. 
Assim, voltaram a Goiás. 
Foi então, que de volta a cidade, aproveitaram para participar da Semana Santa. 
Na quarta feira, tem a procissão do fogaréu, que simboliza a busca e a prisão de Jesus. 
Nessa procissão, os fiéis saem com tochas na mão ao som de tambores e de músicas barrocas chamadas ‘moletes dos passos’, compostas em 1855. 
Na Igreja do Rosário ocorre a ceia do Senhor. 
Depois, na Igreja de São Francisco, encenação da crucificação de Cristo. 
A seguir, os turistas aproveitaram para comprar algumas pinturas, produzidas por Goiandira Ayres de Couto, as quais são feitas a partir de 551 tons diferentes de grãos de areia coloridos da Serra Dourada.
As pinturas são de casarões e paisagens de Goiás dessa artista, que já expôs em mais de trinta países do mundo. 
Passeando pelas ruas da cidade, conheceram ainda o Mercado Municipal e um museu improvisado, com peças artesanais. 
Com isso, depois de tantos passeios turistas despediram-se da região, e novamente partiram.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 91

CAPÍTULO 91 

Em Caldas Novas, os turistas também, aproveitando os encantos do lugar, foram conhecer a Lagoa Quente de Pirapitinga.
Esta pequena lagoa de águas quentes fica situada a seis quilômetros da cidade.
Porém, apesar de ser uma lagoa, não é permitido banhar-se no local, por causa das algas de sua superfície.
Ademais, as águas, do poço da lagoa, na temperatura de 51º C (graus Celsius), não são nem um pouco convidativas para um mergulho.
Após, visitaram o Templo da Ecologia e das Artes.
Lá puderam conhecer um pouco mais sobre a história da cidade, sobre a Serra de Caldas e entender o por quê das águas quentes da região, em fotos, textos e palestras.
Com isso, resolveram conhecer o afamado Rio Quente.
Ao chegarem no local, perceberam que a água nasce pelando na Pousada do Rio Quente.
Mesmo assim, Fábio e Agemiro resolveram colocar os pés em sua nascente e sentiram como água brota quentinha da terra, e segue mornamente mais adiante.
Depois de quatorze quilômetros, a água esfria de vez.
Os demais, ao constatarem que não havia problema em se banharem em suas águas, resolveram aproveitar a oportunidade.
Lúcio, encostando-se numa pedra que aflora em seu leito parecia estar em um banheiro cercado pela vegetação natural.
Com isso, empolgados com o ambiente, decidiram fazer um passeio a cavalo pelo Parque Estadual da Serra de Caldas, uma chapada de 135 quilômetros que está a mil e quarenta metros de altitude.
Com disso, aprenderam uma curiosidade sobre os antigos habitantes do brasil, os bandeirantes.
Segundo alguns moradores, os bandeirantes, acompanhados de cachorros, sempre íam caçar na região.
Porém, em várias oportunidades, seus cães, desacostumados com a natureza do lugar, ao se aproximarem das águas quando íam caçar veados, queimavam o rabo nelas, por causa de sua temperatura.
Os cinco rapazes, ao ouvirem a história, caíram na gargalhada.
Em Pirenópolis, cidade pertencente ao estado, os turistas puderam se deslumbrar com os festejos do Divino Espírito Santo.
Antes porém, os turistas visitaram a cidade.
Ao visitarem a Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário, deslumbraram-se com a construção de taipa de 1732.
Nela, duas grandes torres abrem o caminho da imponente nave com teto pintado por Inácio Pereira Leal.
A arquitetura e o entalhe dos cinco altares são de autores desconhecidos.
Um arco, com dois anjos esculpidos, separam a nave do altar-mor.
As imagens da sala lateral, que protegem os devotos, estão protegidas por grades, para evitar a ação de larápios, vândalos e congêneres. 
Ao conhecerem a Igreja Nossa Senhora do Carmo, os rapazes viram a beleza da igreja colonial, que apresenta três altares.
Os dois laterais bebem na fonte barroco-rococó e o altar-mor foi tão reformado, que perdeu as formas originais.
Foi erguida em 1903 por um rico minerador.
Dizem que as filhas dele se gabavam de pisar em pepitas de ouro e terminaram a vida na sarjeta.
Nesta igreja está o Museu de Arte Sacra, com peças que pertenciam à antiga igreja do Rosário dos Pretos, demolida na década de quarenta.
Na Igreja de Nossa Senhora do Bonfim, em estilo colonial de 1754, erguida no ponto mais alto da cidade, a imagem do Cristo crucificado, em tamanho natural, encaixada num nicho atrás de uma porta pintada com os mesmos motivos e dimensões, é deslumbrante.
A imagem foi trazida de Salvador pelos escravos em 1755.
O Teatro de Pirenópolis, os turistas descobriam que fora construído em 1899, com donativos da população, e inaugurado em 1901.
Era aqui que se encenavam as peças portuguesas, tão longas que havia uma espécie de berçário no piso superior – e o xixi das crianças caía sobre a cabeça dos espectadores.
Registra-se também, uma passagem tragicômica, quando a morte do ator Eugênio Costa Campos, foi calorosamente aplaudida.
O público supunha que o pobre ator estava representando seu papel.
Mas não, estava morto mesmo.
Depois, passeando pela cidade, os turistas foram visitar o Museu das Cavalhadas.
Nesta casa, Dona Maria Eunice, velha moradora de Pirenópolis, montou o museu na sala de sua casa.
São roupas e adereços usados na Cavalhada, assunto que Dona Maria conhece demais, e não se cansa de falar nele.
As aulas são informais e gratuitas.
No Museu da Família Pompeu, os turistas puderam ver o mobiliário e objetos de famílias tradicionais da cidade.
O prédio, do século XVIII, tem vocação pioneira: abrigou a primeira Tipografia do estado, a primeira Biblioteca Pública, a primeira banda de música.
Aliás, é aqui que acontecem os ensaios da Banda Phoenix, que toca na festa do Divino desde 1892.
Mais tarde, os cinco companheiros de viagem, foram passear pela Serra dos Pireneus.
Por trilhas ecológicas, avistaram vinte e seis cachoeiras enfeitadas de orquídeas.
Finalmente, ao chegarem no pico dos Montes Pireneus, a mil trezentos e oitenta e cinco metros de altitude, os cinco viajantes puderam se deslumbrar com a vista do vale e da cidade.
Como era época de lua cheia, os moradores também subiram o pico, e lá acamparam.
Depois, rezaram, realizaram batizados e pagaram promessas.
Trata-se da afamada Romaria da Santíssima Trindade, igualmente chamada de Festa da Lua.
Após, Lúcio, Flávio, Fábio, Agemiro e Felipe, voltaram para a cidade e finalmente foram assistir a Festa do Divino.
A festa, realizada quarenta dias após a páscoa, é a mais tradicional do gênero no país.
São doze dias de comes e bebes na Casa do Imperador – sorteado na cidade desde o século XVIII entre os moradores candidatos.
À original festa de origem portuguesa, foram incorporadas manifestações da cultura indígena e negra, e hoje o Divino é marcado por cortejos profanos e religiosos – são novenas, procissões, missas, reisados, congadas e danças carajás.
Os três dias de Cavalhada, são o auge da folia. Isso por que, cada dia representa uma passagem da luta de conversão dos mouros ao cristianismo – a batalha, o batismo, a confraternização.
Os figurinos são produzidos pelas costureiras que capricham nas roupas de veludo e cetim.
A festa honra o nome: é divina.
Assim, os turistas passaram longos dias aproveitando uma das festas mais espetaculares que já tinham visto.
Depois, inebriados com a beleza da cidade, foram ávidos conhecer os ateliês: de móveis do designer Maurício Azeredo; de esculturas de Flora Karan; e de artes plásticas de Ita Pereira.
Mais tarde, quando foram visitar os ateliês dos bijuteristas, os cinco turistas puderam ver delicadas peças feitas em prata, algumas inclusive, incrustadas de pedras preciosas.
Tudo isso em razão da fama nacional de Pirenópolis, considerada o maior centro de arte com prata do Brasil.
Além disso, visitando outros ateliês, viram artesanato feito em barro, palha, e até mesmo em tecidos.
Mais tarde, seguiram para Anápolis.
Pelas janelas da aeronave, puderam admiram o centro da cidade, com sua ampla praça e sua igreja.
Ao circularem pela cidade, descobriram que além de ser uma linda cidade, Anápolis é também um importante centro industrial.
Não bastasse isso, o edifício da reitoria da Universidade Federal de Goiás, era bastante imponente.
Em seguida, a bordo do monomotor, durante o passeio aéreo pela região, os turistas puderam avistar o Rio Araguaia.
Das alturas, também avistaram a Ilha do Bananal, e os bancos de areia formados durante o período da estiagem.
Nesse ponto, o rio, formando dois braços, cria a referida ilha.
Nesta ilha vivem índios da Tribo Carajá.
Estes índios costumam dançar o ritual aruanã.
Nisso, os cinco viajantes, também puderam ver os pescadores em seu trabalho no Araguaia.
Cuidadosos, lançam suas redes e calmamente esperam pelo resultado do trabalho.
Caudaloso, o Rio Araguaia, possuí uma largura média de mil e seiscentos metros.
Por fim, depois desse passeio, os turistas aproveitaram para conhecer Goiás.
Antiga capital do estado, os turistas caminharam por suas ruas históricas e conheceram os principais marcos da cidade.
Na Rua da Abadia, de paralelepípedos, os turistas puderam se dar conta da antigüidade da região.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.
Luciana Celestino dos Santos
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