Poesias

quinta-feira, 27 de maio de 2021

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 24

No dia seguinte, Marta e Renato, pesarosos com o triste fim de Elis, providenciaram um bonito enterro para a moça – que segundo os populares era ‘A noiva desfalecida’.
Como o fato era trágico, os principais jornais locais noticiaram o ocorrido.
Foi assim que Bernardo e Claudete descobriram que a filha havia morrido. Desesperados, ao saberem que Elis falecera, caíram em prantos. Mesmo Bernardo que renegara a filha, ao saber que nunca mais haveria reparação para a separação dos dois, lamentou profundamente. Furioso, ao acompanhar o enterro da filha, por diversas vezes chamou Lourival de assassino e de covarde.
Claudete ao perceber a exaltação do marido, ao notar o luto que o rapaz trazia nos olhos, censurou Bernardo. Dizendo que Lourival já estava pagando por todo o mal que fizera a Elis, comentou que não cabia a eles condenarem-no.
Bernardo no entanto, inconformado, revelou que nada o faria aceitar o que se sucedera.
Ao ouvir isso, Claudete calou-se.
Abelardo igualmente inconformado, assim que soube da morte de Elis, foi prestar condolências aos pais da moça. Visivelmente triste, comentou que era tarde demais para ele.
Claudete ao ouvir as desalentadas palavras do rapaz, pediu a ele para que retomasse sua vida. Dizendo que ele ainda era muito jovem para desistir de ser feliz, a mulher comentou que ainda encontraria uma pessoa para amar.
Bernardo ao ouvir isso, sorriu.
Com isso, conforme os dias foram se seguindo, Lourival, percebendo que não podia permanecer na cidade, despedindo-se dos tios, sumiu por algum tempo. Como sua dívida ainda não havia sido quitada, Lourival achou por bem fugir. Precavido, antes que sair da cidade, o rapaz recomendou aos tios que fossem até a polícia, em caso de necessidade.
Marta e Renato prometeram seguir a recomendação.
Assim, Lourival partiu. Partiu por que sabia que cedo ou tarde Aliomar surgiria diante dele para cobrar a dívida. Por isso, percebendo que poderia colocar a família em risco, resolveu partir.
Marta e Renato, mesmo pesarosos, concordaram com a despedida. E mesmo com o dinheiro deixado pelo sobrinho, os dois acharam por bem fechar a casa e voltar para a velha vila de pescadores onde antes viviam.
Estavam certos. Lá, nunca foram importunados por Aliomar e seu bando.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 23

Elis, ao se ver livre novamente, tornou a correr. Desesperada, não se preocupava mais com os carros que passavam. Por conta disso, quase foi atropelada duas vezes. A caminho da igreja, Elis só pensava em se esconder de Aliomar.
Foi então que Lourival, ao vê-la correndo, desesperado, gritou seu nome.
Elis ao vê-lo, tornou a olhar para trás. Ao perceber que Aliomar se aproximava, tornou a atravessar a rua sem olhar os carros que passavam.
Correndo, ao chegar à metade da rua, foi atropelada por um carro. Sem poder contar com a sorte desta vez, a moça se machucou seriamente.
Lourival ao vê-la caída no chão, mais uma vez gritou seu nome. Desesperado, ao ver o atropelamento, acorreu imediatamente em sua direção.
Aliomar por sua vez, ao ver a moça desacordada, percebendo que aquele acidente poderia lhe trazer complicações, exclamou:
-- Menina! Por que você fez isso?
Em seguida, saiu dali. Penalizado, lamentou que tudo tivesse que se encerrar daquela maneira.
Todavia, o pior estava ainda por vir.
Conforme Lourival chamava o nome de Elis, mais desesperado ficava. Isso por que, desacordada, a moça não respondia. Angustiado, ao perceber que o acidente fora sério, tentou de todas as maneiras possíveis despertá-la.
Com isso, depois de passar intermináveis minutos chamando-a, balançando seu rosto e segurando-a nos braços, Elis finalmente acordou. Lourival ao ver a moça abrindo os olhos, abraçou-a e quase chorando, respondeu:
-- Que bom que você acordou! Pensei que nunca mais abriria os olhos!
Mas a alegria durou pouco.
Elis, seriamente machucada, ao perceber que sua vida chegava ao fim, perguntou tristemente:
-- Por que você fez isso comigo?
Lourival ao ouvir a pergunta, respondeu quase chorando:
-- Eu não pensei que ele fosse ser tão covarde ao ponto de te perseguir por isso. Eu juro Elis. Eu juro, eu tentei pagá-lo. Quando eu amealhei dinheiro suficiente para saldar minha dívida, eu tentei pagá-lo. Mas ele não aceitou. Dizendo que eu já havia feito um acordo, Aliomar se recusou a receber meu dinheiro.
Magoada, Elis perguntou:
-- Foi então que você pensou em oferecer como compensação. Não é mesmo?
Lourival, tentando se explicar, disse:
-- Não Elis. Não é nada disso. Eu não deixaria ele passar uma noite com você. Eu só concordei com isso, para ganhar tempo.
-- Tempo? – perguntou a moça novamente, quase sem voz.
-- Sim, tempo. Eu só queria sair daqui. Fugir e te proteger. Isso por que, com a desculpa do casamento, poderíamos sair da cidade sem levantar suspeitas... Eu só queria te fazer feliz. – respondeu o rapaz, emocionado.
Elis, ao ouvir as explicações do moço, respondeu que acreditava nele. Segundo ela, muito embora seu modo de fazer as coisas fosse um pouco torto, não havia por que não acreditar em suas palavras.
Lourival, ao ouvir isso, respondeu chorando que a amava.
Elis então, se despedindo da vida, disse:
-- Eu acredito que sim. Eu também gosto muito de você. Só lamento que tudo tenha que terminar assim. – respondeu ela entristecida.
Lourival, desesperado, respondeu que nada iria terminar. Dizendo que ela se recuperaria do acidente, respondeu que eles seriam ainda, muito felizes.
A moça ao ouvir estas palavras sorriu.
O rapaz então, alegando que pediria socorro, comentou que sairia dali por alguns minutos.
Elis, aflita, pediu para que ele não a deixasse sozinha.
Aturdido, Lourival concordou em ficar ali lhe fazendo companhia. Abraçando-a novamente, prometeu a ela que tudo acabaria bem.
Elis então, ao perceber que era chegado o momento da despedida, respondeu que o perdoava por tudo o que havia feito.
Lourival aflito, agradeceu o perdão e dizendo que nunca mais a magoaria, respondeu que faria de tudo para que ela continuasse a seu lado.
A moça ao ouvir isso, respondeu que era tarde demais para fazer promessas.
Lourival respondeu então, que não, ainda era tempo de se arrepender.
Nisso Elis, pendendo a cabeça para trás, encerrou sua vida.
O rapaz ao perceber que a moça cerrava os olhos, implorou para que ela não o fizesse. Elis porém, exausta, já não tinha mais forças para resistir. Assim, acabou falecendo.
Lourival, ao notar que Elis não mais respirava, deu um último grito de desespero. Chamando por seu nome, ao perceber que seus sonhos se desfizeram, Lourival chorou sobre o peito de Elis.
Seus tios, que partiram em seu encalço, minutos depois dele haver saído da igreja, ao verem-no sentado no chão, no meio da rua, com Elis nos braços, penalizados com a situação, constataram que o pior havia acontecido.
Abalados, ao saberem da morte da moça, choraram desesperados.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.   

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 22

Elis por sua vez, suspendendo a saia do vestido, passou a correr feito uma desesperada. Enquanto corria, os comparsas de Aliomar vinham atrás, no seu encalço.
Em cada momento em que se virava para trás, Elis, percebia os homens mais perto. Desesperada, ao notar isso, a moça aumentou a intensidade da corrida.
Nisso, Lourival, que à esta altura aguardava ansioso pela chegada de sua noiva, ao perceber Marta e Renato aflitos, correndo em sua direção, resolveu ir até eles. Ao descobrir que eles foram obrigados a saírem da casa sem trazerem Elis, Lourival ficou deveras preocupado.
Isso por que, imaginando se tratar de Aliomar, o moço sabia que podia esperar pelo pior. Por esta razão, ao tomar conhecimento dos fatos, Lourival, despedindo-se dos tios, respondeu que iria pessoalmente buscá-la.
Marta ao ouvir isso, pediu para que o sobrinho tivesse cuidado, já que o homem parecia ser perigoso. Acompanhado de um bando de meliantes, Aliomar não deixaria que ele se aproximasse tão facilmente da casa.
Lourival porém, não se importava mais com isso. Dizendo que precisava consertar uma grande bobagem que fizera, respondeu que precisa ir até lá para conversar com Aliomar.
Renato, percebendo que o sobrinho estava certo, concordou com ele.
Com isso, só coube a Marta concordar com a decisão do sobrinho, muito embora ela considerasse melhor chamar a polícia.
Lourival, ao ouvir a sugestão de sua tia, discordou. Dizendo que fazendo isso, poderia pôr em risco a vida de Elis, respondeu que teria que resolver este assunto sozinho.
Foi assim, que aflito, o rapaz seguiu correndo o caminho de volta para casa.
À esta altura, Elis, acossada por Aliomar, foi obrigada a voltar para casa. Arrastada, nem sob os escandalosos protestos que fizera, o homem se apiedou dela.
Com isso, mesmo cansada, a moça se debatia. Dizendo que não seria obrigada a fazer o que não queria, ouviu de Aliomar, que ele era o único dono e senhor da situação.
Elis porém, jamais aceitaria esse tipo de argumento. E assim, continuou resistindo às investidas de Aliomar. Contudo, já quase sem forças, continuou a ser arrastada. Desesperada, começou a gritar por socorro.
Aliomar, ao perceber isso, tentou calar sua boca, mas ao tentar segurá-la, acabou deixando-a mais uma vez escapar.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 21

Surpresa, Elis perguntou:
-- Que dívida?
Pacientemente Aliomar lhe explicou que Lourival possuía uma dívida com ele.
Elis, aturdida, respondeu que era mentira, já que ele não jogava mais.
Aliomar ao notar a incredulidade de Elis, revelou fazia algum tempo que ele não aparecia por lá. Todavia, depois de certo tempo, Lourival voltou ao cassino. Contudo, ao retornar, não estava com a mesma sorte de antes. Foi assim, que contraiu uma dívida, praticamente impagável.
Elis ao ouvir isso, retrucou. Dizendo que se ele tinha dinheiro suficiente para bancar uma festa de casamento daquelas, podia perfeitamente pagar sua dívida, chamou Aliomar de mentiroso.
O homem, ao ouvir a ofensa, comentou que Lourival também não era nenhum santo. Tanto que para tentar pagar a dívida, se envolveu com contrabandistas perigosos.
Ao ouvir estas palavras, Elis retrucou dizendo que era tudo mentira.
Aliomar então, percebendo o estado de nervos da moça, resolveu dizer finalmente:
-- Eu sinto muito senhorita. De verdade! Contudo, eu preciso te dizer mais uma coisa... Não bastasse isso, seu noivo, como forma de me ressarcir do prejuízo, ofereceu-me você como compensação.
Elis ao ouvir isso, ficou revoltada.
Aliomar, ao notar o ódio nos olhos da moça, comentou que Lourival havia prometido convencê-la a passar uma noite com ele.
Elis ao ouvir isso, ficou apavorada. Nervosa, ao perceber que estava em meio a esta confusão, finalmente deu-se conta, de que tudo aquilo era verdade. Desesperada, começou a chorar.
Aliomar, aproveitando-se da situação, fingiu consolá-la.
Elis, por sua vez, só fazia perguntar:
-- O que vou fazer? Eu abandonei minha família para ficar com ele. Agora eu estou sozinha.
Aliomar, percebendo o choro, ofereceu-lhe um lenço. A seguir, dizendo que dívida era dívida, respondeu que esperaria ela se acalmar.
Elis ao ouvir isso, percebeu que estava em uma situação complicada. Tão complicada que assim que se acalmou um pouco, respondeu que não sabia de nada e que não tinha nada a ver com toda aquela confusão.
Aliomar ao ouvir isso, respondeu que a levaria até a igreja para conversar com Lourival.
A moça nervosa, perguntou onde estavam Marta e Renato.
Aliomar, dizendo que eles estavam bem, comentou que os levou para longe dali. Alegando que queria ficar a sós com ela, deixou bem claro que não a deixaria nem por um minuto sozinha.
Elis ao perceber isso, comentou que poderia pegar um táxi para ir até a igreja. Além disso, dizendo que precisava retocar a maquiagem, comentou que precisava voltar ao quarto.
Aliomar ao ouvir isso, respondeu que a acompanharia até lá.
Elis resistiu a idéia.
O homem então, impaciente, respondeu que estava ali para cobrar sua dívida e que iria obter seu pagamento, custasse o que custasse. Empurrando-a contra a parede, Aliomar ameaçou matar Lourival, caso ela não passasse uma noite com ele.
Elis, desesperada, tornou a chorar. Dizendo que não criara toda aquela confusão, respondeu que não tinha culpa de nada.
Aliomar no entanto, não se comoveu com seu desespero. Alegando que negócios são negócios, o homem respondeu que não havia como ela escapar disso. Ansioso, ao sentir a respiração ofegante da moça, sem qualquer cerimônia, segurou sua cabeça e fazendo menção de beijá-la, começou a erguer a saia do vestido.
Elis, ao perceber isso, tentou se desvencilhar de Aliomar, mas este, ameaçando-a, exigiu que ela ficasse quieta.
Desesperada, a moça, ao contrário do que ele havia pedido, começou a gritar. Pedindo que ele a deixasse em paz, Elis implorou para que ele a soltasse.
Aliomar porém, continuava a importuná-la.
Elis então, percebendo que não possuía outra alternativa, ao notar que Aliomar estava distraído, chutou-o. Em seguida, constatando que ele a soltara, saiu pela porta dos fundos e ganhando a rua, começou a correr desesperada.
Furioso com a atitude da moça, assim que recuperou o fôlego, Aliomar gritou para que seus comparsas fossem atrás dela.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 20

Aliomar irritado, ao saber que não fora convidado, ainda assim, colocou seu melhor terno e rumando para a igreja, aguardou a chegada de Lourival. Enquanto isso, seus olheiros continuavam a vigiar o casal.
À certa altura, cansado de esperar pela chegada de Lourival, Aliomar ao ser informado que o moço já havia saído de casa, resolveu ir até a casa do rapaz, para conversar com Elis.
Nisso, Elis, entusiasmada com o casamento, auxiliada por Marta – tia de seu futuro marido –, se preparava para o momento.
Primeiramente tomou um demorado banho, depois, vestiu-se. Marta prestativa, ajudou-a a fechar os botões da veste.
Em seguida a moça se maquiou um pouco e arrumou os cabelos.
Marta ao vê-la tão linda, comentou emocionada que nunca tinha visto antes, uma noiva mais radiosa. Feliz, comentou que nunca em sua vida imaginara ver uma beleza tão delicada diante de si.
Elis ao ouvir as palavras comovidas de Marta, sorriu.
Nisso Marta – que já estava devidamente arrumada – comentou que era hora de saírem de casa, ou o casamento não ocorreria.
Elis concordou.
Marta então, deixou a moça em seu quarto. Dizendo que iria chamar Renato para arrumar o carro, comentou que voltaria em breve.
Elis concordou. Dizendo que esperaria em seu quarto, deixou Marta ir.
Enquanto Marta procurava pelo esposo, Elis ajeitava um pouco mais seu cabelo, colocava os brincos e segurava o buquê de flores.
Entretida que estava em se arrumar, a moça nem sequer notou que um estranho adentrava seu quarto. Distraída que estava, Elis só foi perceber a presença do estranho, quando mirando o espelho, distinguiu um vulto. Assustada, tentou sair do quarto, mas o homem, mais rápido, alcançando-a, segurando um de seus braços, tapou-lhe a boca.
A seguir, Aliomar, puxou-a para dentro do quarto. Fazendo-a se sentar numa poltrona, o homem prometeu que a soltaria, se ela não gritasse, nem tentasse fugir.
Elis, sem alternativa, acabou concordando.
Nisso, Aliomar, soltou-a.
A moça, assustada, sem entender o que estava acontecendo, perguntou o que ele fazia ali.
Aliomar então explicou-lhe que estava ali, por que há muito tempo, a admirava de longe e que por isso mesmo desejava lhe falar.
Elis, ao ouvir estas palavras, acreditando tratar-se de um louco, aproveitando-se de um momento de distração de Aliomar, levantou-se e se dirigindo a porta, alcançou as escadas.
Desesperada a moça, começou a procurar por Marta e Renato. Ao perceber que não havia ninguém na casa, Elis começou a desconfiar que o homem não agia sozinho. Por esta razão, assim, que alcançou a sala, a moça saiu da residência. Porém, quando estava prestes a ganhar a rua, Aliomar, puxando-a pelo braço, obrigou-a a entrar.
Elis então, tentando se livrar da Aliomar, ameaçou gritar.
Aliomar porém, tapando sua boca, arrastou-a para dentro da casa.
Em seguida, chamou seus comparsas. Quando os homens adentraram a sala, Aliomar então começou contar, que estava ali para cobrar uma dívida.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 19

Contudo, conforme os dias se passavam, o rapaz, tentando encontrar uma outra alternativa, falava cada vez menos com a moça. Com a desculpa de que estava nervoso com a proximidade do casamento, Lourival, evitava ficar muito tempo próximo de Elis.
No entanto, empenhado em proporcionar uma grande festa para a moça, usou parte do dinheiro para saldar sua dívida, com isso.
Elis, desconfiada, perguntou a Lourival onde ele havia arrumado tanto dinheiro.
O rapaz, dizendo que havia feito um empréstimo, comentou que aos poucos pagaria o mesmo.
Elis ao ouvir as explicações de Lourival, comentou que ele não deveria ficar por aí fazendo dívidas.
O rapaz então, dizendo que ela merecia uma grande festa de casamento, comentou que não deixaria por menos. Assim, não houve quem o convencesse a mudar de idéia.
Nisso, conforme os dias foram se passando, uma linda festa foi organizada.
Elis, com dinheiro nas mãos, alugou um grande salão.
Marta e outras quituteiras da região, prepararam os comes e bebes. Feliz, a mulher comentou ajudara a criar o sobrinho, fazendo doces.
Elis ao ouvir isso, ficou surpresa.
Marta ao perceber o espanto de Elis, comentou:
-- E como é que você pensava que a gente vivia? Era assim mesmo. Cada ajudava um pouco em casa.
-- Eu não imaginava isso. – respondeu Elis.
Com isso, Renato, contratou uma banda para tocar no casamento.
Elis, radiante, escolheu um lindo vestido branco.
Assim, foi questão de tempo para que tudo estivesse pronto.
Lourival, por sua vez, com o fraque pronto, já estava ansioso pelo casamento.
Um pouco esquecido do ajuste firmado com Aliomar, o rapaz, planejava, com a desculpa do casamento, aproveitar a lua-de-mel para fugir. Com o dinheiro que conseguira arrumar, os dois poderiam viver sossegados por um longo tempo.
Nisso, Aliomar, informado constantemente dos passos do casal, aguardava paciente, o dia em ficaria a sós com a moça.
Com isso, conforme os dias foram se passando, finalmente chegou o dia do casamento.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 18

Com isso, Lourival continuou a contrabandear. Não bastasse isso, sequioso por obter uma posição de maior destaque na organização, o rapaz acabou atraindo a ira de seus comparsas, que furiosos com o fato dele ser protegido de Raul, planejavam intrigá-lo com o chefe.
Todavia, nenhum dos planos destes homens deu certo. Isso por que, ao contrário do que imaginavam, Lourival conseguiu se tornar o braço direito de Raul.
Desta forma, o rapaz conseguiu amealhar uma pequena fortuna em dinheiro. O suficiente para saldar sua dívida com Aliomar, que insatisfeito com sua demora em contar sobre o combinado com Elis, começou a pressioná-lo, nos últimos dias.
Contudo, agora, com o dinheiro em mãos, Lourival acreditava que finalmente havia conseguido livrar sua noiva, das garras de Aliomar. Por isso, satisfeito, assim que pôde, dirigiu-se a casa de jogos.
Aliomar ao vê-lo tão impecavelmente alinhado, foi logo perguntando se ele havia contado a moça, sobre a dívida.
Lourival, calmo, assim que ouviu a pergunta, pediu para conversar a sós com ele no escritório.
O homem, ao ouvir o pedido, prontamente o atendeu. Curioso, assim que entrou na sala, repetiu a pergunta que já havia feito.
Lourival, ao perceber o interesse de Aliomar neste assunto, comentou que havia levado até lá, o valor correspondente a dívida que fizera.
O homem intrigado, perguntou-lhe então, o que ele estava querendo dizer com aquelas palavras.
Lourival, percebendo que deixara o homem intrigado, comentou:
-- Aliomar. Sei que o senhor vive do jogo, e como já tinha dito antes: esta não é uma casa de caridade. Assim, quem perdeu tem que pagar. É o que eu pretendo fazer agora.
Surpreso, Aliomar perguntou:
-- Vai me dizer que já conversou com a moça a este respeito?
No que Lourival, constatando que não havia sido compreendido, respondeu:
-- Senhor, escute bem o que vou te dizer. Não, eu não conversei com Elis a este respeito.
-- Não? – perguntou novamente surpreso, Aliomar.
-- Não. Não foi preciso. Eu trouxe o dinheiro para pagar minha dívida. – respondeu Lourival, colocando um envelope pardo sobre a mesa.
Aliomar furibundo, indagou se Lourival estava brincando com ele.
O rapaz, surpreso com sua reação, respondeu:
-- Mas é claro que não.
No que Aliomar retrucou:
-- Pois se não está brincando, para quê este dinheiro em minha mesa?
O rapaz então, mais espantado ainda, perguntou:
-- Mas como pensa que eu iria te pagar?
Aliomar, notando que Lourival pretendia mudar o combinado, comentou:
-- Não acha que já é um pouco tarde para voltar atrás? Afinal de contas, não foi isso o que combinamos.
Lourival, percebendo que Aliomar não ficara nem um pouco satisfeito com o pagamento, comentou que havia mudado de idéia. Isso por que, como havia conseguido amealhar dinheiro suficiente para pagar sua dívida, Elis não precisava ser usada como moeda de troca.
Aliomar, ao ouvir as palavras de Lourival, respondeu que não fora isso que eles haviam combinado.
O rapaz, percebendo que Aliomar não aceitaria facilmente mudar os termos do acordo, comentou que Elis não vinha passando muito bem os últimos dias.
O homem ao ouvir isso, respondeu:
-- Curioso. Até onde sei, Elis está lépida e fagueira se encarregando dos preparativos do casamento.
Aturdido, Lourival ao ouvir o comentário de Aliomar, perguntou-lhe como sabia disso.
Tranqüilo, o homem respondeu:
-- Não se esqueça que eu tenho olhos por toda a parte.
Lourival ao ouvir isso, ficou gelado. Desesperado, tentou de todas as formas possíveis, convencer o homem, a aceitar o pagamento da dívida em dinheiro.
Mas Aliomar, não aceitou. Depois de ver a moça, ficou encantado com sua beleza. Assim não houve forma possível, de fazê-lo desistir da idéia de passar uma noite com Elis.
Lourival então, derrotado, finalmente concordou. Pedindo mais um prazo, prometeu que contaria a Elis sobre o acordo e que aos poucos, a convenceria a aceitar a idéia.
Aliomar, ao ouvir as palavras do rapaz, não satisfeito comentou:
-- Está bem! Eu vou te conceder mais um prazo. Até por que se eu já esperei até agora, não me custa esperar mais um pouco. Porém, preste atenção. Não pense que eu vou aceitar ser enganado desta vez. Ouça bem, eu vou ter homens vigiando atentamente sua casa e todos os passos de seus familiares, e tanto seus, quanto os dela. Estamos entendidos?
Sem ter alternativas, Lourival concordou.

Luciana Celestino dos Santos
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OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 17

Muito embora inicialmente tenha ganho todas as apostas que fizera no jogo de cartas, com o passar das horas, Lourival começou a perder. Mas isso era só o início. Nos dias que se seguiram, como o rapaz só fazia perder as apostas, acabou por se endividar.
E assim, embora nos primeiros tempos, tenha ganho muito dinheiro nas mesas de jogos, agora só conseguia perder.
Este fato, complicou sua vida sobremaneira.
Isso por que endividado, Lourival se viu em uma complicada situação. Sem ter como pagar sua dívida, o rapaz voltou a contrabandear mercadorias. Contudo, nem assim o conseguiu saldar seu débito com Aliomar.
Em razão disso, conhecedor da beleza de Elis, Aliomar, percebendo que Lourival jamais conseguiria saldar a dívida, sugeriu ao rapaz que o deixasse ficar ao menos por uma noite, com a moça.
Lourival ao ouvir a proposta, ficou furioso. Dizendo que Elis era sua noiva, comentou que não poderia desrespeitá-la desta maneira.
Aliomar então, ameaçando-o, comentou que ele não estava em condições de enfrentá-lo. Afirmando que por muito menos que isso, muita gente morreu em suas mãos, o homem, insistiu em sua idéia de passar uma noite com a moça.
Lourival, constatando que não tinha mesmo como pagar sua dívida, ao ver que não havia outra saída, a contragosto, acabou concordando.
Aliomar ao perceber a aquiescência do rapaz, prometeu-lhe que entregaria Elis inteirinha. Em seguida, sugeriu a Lourival, que contasse o quanto antes a moça, o assunto que conversaram.
Lourival alegando que precisava de algum tempo para contar a Elis o que se passava, pediu para Aliomar esperar um pouco.
O homem, concordou em esperar.
Com isso, acreditando que conseguiria ganhar tempo, Lourival fez de tudo para que a noiva não percebesse o que estava se passando. Dizendo que estava trabalhando em um escritório, o rapaz comentou que durante à noite fazia alguns bicos para conseguir juntar dinheiro para a festa.
Elis, ao ouvir as explicações de Lourival, por um momento acreditou em suas palavras. Crédula que o rapaz lhe dizia a verdade, Elis, deixou de lado suas preocupações, e passou a se ocupar dos preparativos da festa de seu casamento.
Lourival, penalizado ao vê-la tão empenhada em escolher o vestido de noiva, comentou desolado que muito embora ela merecesse os céus, teria que contentar com uma festa simples.
Ao ouvir isso, Elis comentou que pouco importava se o seu casamento resultaria ou não em uma grande festa. O que lhe era mais caro, era o fato de estar ao lado da pessoa a quem amava.
Lourival ao ouvir estas palavras, respondeu que também a amava muito.
Nisso os dois se abraçaram.

Luciana Celestino dos Santos
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OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 16

A certa altura, ao chegar na praia, Elis cansada, sentou-se na areia, e diante do mar, começou a chorar. Dizendo que não esperava sofrer em tão pouco tempo outra decepção, a moça comentou que desde que o conhecera, nunca mais soube o que era ter paz.
Lourival, ao perceber a decepção nos olhos de sua namorada, comentou que não estava fazendo nada de grave. Alegando que a única pessoa a quem estava prejudicando era a ele mesmo, Lourival tentou de todas as formas possíveis, convencer, Elis de que estava sendo sincero quando dizia que queria lhe proporcionar uma vida de rainha.
A moça ao ouvir estas palavras, compreendeu finalmente seu intento, mas dizendo que não era preciso que ele se arriscasse, comentou que podia trabalhar. Alegando que em breve se tornaria professora, Elis insistiu em dizer, que podia perfeitamente trabalhar.
Lourival todavia, ao ouvir as palavras de Elis, comentou que sua futura mulher não iria trabalhar. Dizendo que era homem suficiente para cuidar de sua família, o rapaz comentou que não precisava de ajuda.
Elis tentou retrucar, mas Lourival, teimoso, não queria ouvi-la. Todavia, prometendo que não jogaria mais, conseguiu acalmá-la.
E nos dias que se seguiram, o rapaz não foi jogar.
Elis, percebendo o empenho de Lourival em cumprir com sua palavra, se aquietou.
Com isso, os dois, aproveitando um dia em que Marta e Renato não estavam em casa, dormiram juntos. Lourival, ansioso por ter Elis em seu quarto, dormindo em sua cama, assim que viu seus tios saírem, chamou-a.
A moça porém, relutou muito até aceitar a proposta. Mas Lourival, persuasivo, acabou a convencendo a aceitar o convite.
Foi assim que os dois viveram pela primeira vez, uma noite de casal.
Com isso, feliz com a escolha que fizera, Lourival decidiu finalmente marcar a data de seu casamento.
Desta forma, ao pedir a moça em casamento, Lourival, ouviu prontamente um sim.
Isso por que, Elis, ao ser pedida em casamento, não se fez de rogada. Aceitou imediatamente o pedido.
Diante disso, Lourival, que havia comprado um anel de noivado, ofereceu-o a moça. Visivelmente constrangido, o rapaz comentou que apesar de não possuir um anel repleto de brilhantes como ela merecia, foi o que conseguiu comprar.
Elis, ao notar o acanhamento de Lourival, comentou que apesar de simples, o anel era muito lindo.
O rapaz ao ouvir o comentário, sorriu.
Marta e Renato ao perceberem que as coisas estavam se encaminhando, encomendaram um bolo na confeitaria. Foi assim que eles comemoraram o noivado do sobrinho com Elis.
Lourival então, percebendo que precisava organizar uma grande festa para sua amada, tornou a jogar. Sequioso de lhe oferecer um casamento inesquecível, Lourival voltou a se encontrar com seus companheiros de jogatina.
Estes ao verem-no de volta às mesas de jogo, comentaram surpresos:
-- Nossa! Você por aqui? Quanto tempo!
Lourival, porém, nem um pouco interessado em delongas, comentou que estava ali para jogar. Assim, começou a fazer apostas.

Luciana Celestino dos Santos
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quinta-feira, 20 de maio de 2021

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 15

Lourival então agradeceu e conduzindo Elis até o lugar, fechou a porta, e começou a se explicar. Alegando que seu dinheiro estava se acabando, o rapaz comentou que precisava manter ela e a seus tios. Ademais, dizendo que ela sempre vivera como uma princesa, comentou não seria justo ele impor-lhe, uma vida de miséria e tristeza.
Elis, ao ouvir as palavras do namorado, comentou que não pedira nada a ele.
Lourival concordando, respondeu que ainda que ela não tivesse pedido, ele se sentia na obrigação de proporcionar-lhe uma vida de conforto e alegria.
Elis percebendo então, que o rapaz queria provar-lhe algo, comentou que ele não tinha que provar nada a ninguém. Dizendo que gostava dele pelo que ele era e não pelo que tinha, Elis conseguiu deixá-lo comovido.
Lourival porém, a despeito do desinteresse de Elis em dinheiro, respondeu que estava com sorte. Isso por que, todas as vezes em que jogou naquela mesa, nunca perdeu grandes somas. Muito pelo contrário, quase sempre ganhava.
Elis ao ouvir isso, afirmou que esta era uma estratégia que esses donos de cassinos usavam para conquistarem a assiduidade do cliente. Depois que conseguiam ganhar sua confiança passavam a extorqui-lo, até reduzi-lo a nada.
Espantado, Lourival perguntou a moça, como ela poderia saber disso.
Elis, respondeu:
-- Sei disso por que meu pai, viu muita gente perder dinheiro desta maneira.
Lourival começou então a rir. Ao dizer que Bernardo não era a pessoa mais confiável que conhecia, conseguiu atrair a ira da moça, que irritada, respondeu:
-- Escute aqui, Lourival! Meu pai pode ter todos os defeitos do mundo, mas se tem uma coisa que ele não é, é mentiroso.
O rapaz, percebendo que fora indelicado com Elis, desculpou-se. Dizendo que não queria desrespeitar seu pai, comentou que só disse o que disse, para disfarçar seu nervosismo.
Elis ao ouvir as desculpas do rapaz, comentou que ainda estava em tempo de desistir daquela loucura.
Lourival porém, dizendo que precisava proporcionar uma boa vida à sua família, recusou a idéia da moça.
Elis então, percebendo que de nada adiantava discutir com Lourival, aborrecida, resolveu deixá-lo sozinho. Abrindo a porta do escritório, Elis saiu apressadamente da casa de jogos.
Lourival por sua vez, ao constatar que não podia deixar a moça sozinha, pediu licença a seus companheiros de jogo e partiu em seu encalço.
A moça, desapontada com o rapaz, não seguiu para a casa como seria de se imaginar. Triste, Elis tencionava ficar sozinha e por isso, foi caminhando até uma das praias que havia por ali.
Lourival, seguindo-a, pedia para que ela parasse um pouco e o ouvisse.
Elis no entanto, dizendo para ele ir embora, só conseguia deixá-lo aflito.
Com isso, ao ser descoberto, Lourival percebeu que precisava inventar uma boa desculpa para convencê-la a novamente perdoá-lo. E assim, ainda que a situação fosse complicada, Lourival não desistiria de convencer a namorada de suas boas intenções. E foi assim, que imbuído nesse objetivo, o rapaz acompanhou-a em seu percurso. Mesmo diante dos protestos da moça, Lourival, continuou a segui-la.

Luciana Celestino dos Santos
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OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 14

Lourival a certa altura, com o dinheiro acabando, ciente de que havia prometido a Elis, não mais se envolver com contrabando, passou a jogar. Sequioso de ganhar uma boa quantia, o rapaz passava noites e noites a jogar.
Seus tios – Marta e Renato – ao notarem as constantes saídas de Lourival, começaram a indagá-lo a respeito delas.
O rapaz então, desconversando, dizia aproveitar as noites sem sono, para andar pela cidade.
Renato e Marta ao ouvirem isso, muito embora desconfiados, deixaram de lado as perguntas. Contudo, preocupados com a situação de Elis, questionaram o rapaz a respeito deste assunto. Perguntando-lhe se havia arrumado outra namorada, Lourival, surpreso, respondeu que não.
Seus tios então, deixaram de interrogá-lo.
Elis contudo, certa vez, ao perceber que o rapaz ficava boa parte da noite na rua, descontente com esta situação, esperou por ele por horas. Quando finalmente Lourival chegou, Elis, que a esta hora dormia no sofá, foi despertada por ele.
Surpreso, ao acordá-la, Lourival, quis logo saber por que ela estava dormindo na sala.
Elis então, perguntou:
-- Eu é que te pergunto. O que você faz na rua, até tão tarde da noite?
Lourival ao ser novamente inquirido a este respeito, alegou que não fazia nada demais. Dizendo que saía apenas para caminhar, respondeu que algumas vezes, o sono não vinha.
Elis, nem um pouco convencida disso, perguntou por que ele não aproveitava para ler um livro.
No que Lourival respondeu:
-- Já tentei. Mesmo assim, se o livro é interessante, não consigo ter sono. Se o livro é ruim, eu nem consigo começar a ler.
Depois desta explicação, o rapaz, transido de sono, despediu-se da namorada, e dirigindo-se ao seu quarto, trocou de roupa, e pôs-se a dormir.
Elis, no entanto, desconfiada das razões que levavam Lourival, a sair de casa de madrugada, decidiu por conta própria segui-lo.
Assim o fez. Na noite seguinte, aguardando o momento que o moço sairia de casa, Elis, ficou acordada durante toda a noite.
Quando Lourival finalmente saiu de casa, a moça partiu em seu encalço. Acompanhando-a à uma certa distância, Elis tomou todo o cuidado. Como não queria ser vista, seguiu-o discretamente.
Foi assim, que ela descobriu que todas as noites, Lourival se reunia com alguns rapazes para jogar. Reunidos em uma casa de jogo, os rapazes, passavam toda a madrugada, fazendo grandes apostas.
Ao perceber a nova forma de seu namorado ganhar a vida, Elis ficou chocada. Temerosa de que o rapaz se envolvesse em confusão, ao vê-lo apostar uma vultosa quantia, resolveu aparecer.
Quando Lourival, que estava sentado numa mesa, a viu, espantado, perguntou:
-- Elis, o que você está fazendo aqui?
Indignada a moça retrucou:
-- Eu é que pergunto: o que você está fazendo aqui?
Os demais componentes da mesa, ao verem a moça, ficaram encantados com sua beleza. Cochichando que nunca tinham visto antes uma mulher tão bonita, conseguiram deixar Lourival irritado.
O rapaz então, percebendo que aquele não era o lugar apropriado para conversar, pediu para Aliomar arrumar uma sala para que ele e Elis pudessem ficar a sós.
Prestativo, o dono da casa de jogos, ofereceu o escritório, para que os dois ali conversassem.

Luciana Celestino dos Santos
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OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 13

À certa altura, Elis, cansada de esbravejar e gritar, cansada, atirou-se na cama e começou a chorar. Desesperada, a moça não sabia mais o que fazer. Surpreendida pelo comportamento do pai, Elis depois de um certo tempo, finalmente percebeu que não haveria acordo.
Diante disso, notando que não teria escolha, a moça começou a fazer as malas. Abrindo o armário, Elis pegou roupas, sapatos, objetos de uso pessoal, jóias e livros. Decidida a sair daquela casa de qualquer jeito, a moça fingiu dormir.
Com isso, quando seus pais adentraram o quarto, ao verem-na deitada, logo se aquietaram. Acreditavam que provavelmente, cansada de brigar, Elis acabou adormecendo.
Assim, mais calmos, Bernardo e Claudete também foram dormir.
Nisso Elis, ao notar que em casa todos dormiam, ao se aproximar da porta do quarto, percebendo que a mesma permanecia trancada, pensou na seguinte solução: amarrando vários lençóis – um no outro, formaria uma corda e assim, poderia pular a janela.
Assim fez. Amarrando os lençóis, em questão de tempo, Elis fez uma corda. Em seguida, atando um dos lençóis à janela, Elis, amarrou as malas na corda improvisada, descendo cada uma delas, sem fazer barulho. Depois, foi sua vez descer a janela.
Por fim, quando se viu do lado de fora da casa, Elis, segurando suas malas, saiu pé-ante-pé e ganhando a rua, foi imediatamente para a casa de Lourival.
Lourival que estava aflito, ao vê-la em casa, ficou muito contente. Muito embora surpreso com a situação, imediatamente, o rapaz ofereceu acolhida para a moça.
Não fosse a intervenção de Marta e Renato, e talvez o rapaz tivesse oferecido seu próprio quarto para Elis.
Com isso, na casa de Lourival, depois de muita conversa e explicação, finalmente todos foram dormir.
No dia seguinte, Bernardo, antes de sair para o trabalho, resolveu dar uma olhada na filha. Acreditando que com uma noite de castigo Elis estaria mais dócil, qual não foi sua surpresa ao ver que sua filha havia fugido.
Bernardo ao ver o quarto vazio, tratou logo de abrir as portas do armário. Ao ver que quase todas as roupas haviam sumido, percebeu que Elis saído de casa durante a noite. Quando se aproximou da janela, ao ver uma corda improvisada, constatou que havia perdido sua filha para sempre.
Desapontado, assim que falou com a esposa, Bernardo comentou que Elis havia fugido.
Claudete incrédula, demorou para acreditar no que estava acontecendo. Contudo, ao ver o quarto vazio, o armário quase sem roupas, e uma corda improvisada pendurada na da janela, constatou que o marido estava certo.
Contudo, mesmo percebendo a escolha da filha, Claudete insistiu com o marido para que a trouxesse de volta.
Bernardo, desapontado, ao ouvir as palavras da mulher, comentou que não iria atrás de Elis. Dizendo que a moça já fizera sua escolha, ressaltou que mesmo que ela voltasse por bem, nunca mais as pessoas a respeitariam.
Claudete, percebendo que o marido estava certo, deixou de falar sobre isso. No entanto, mesmo diante do comportamento da filha, Claudete, desejava que Elis voltasse.
Bernardo porém, não queria mais nem saber da filha. Dizendo que Elis estava morta, comentou que nunca mais queria vê-la.
Para Claudete, ouvir seu marido se referindo a moça desta maneira, era muito triste. Todavia, não havia nada que pudesse ser feito para mudar essa realidade.
E assim, o tempo foi passando.

Luciana Celestino dos Santos
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OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 12

Elis, desesperada, despedindo-se de Lourival, partiu no encalço de Abelardo. No entanto, não conseguiu alcançá-lo.
Lourival, percebendo o desespero de Elis, bem que tentou ajudá-la, mas a moça, dizendo que tinha que resolver aquela história sozinha, pediu para ele voltar para casa.
Lourival, mesmo preocupado, ao notar que não ajudava em nada, acabou concordando. Mas não sem antes dizer, que as portas de sua casa estariam sempre abertas para ela.
Elis, agradeceu a oferta. Nisso, voltando para casa, ao lá chegar, constatou que Abelardo já havia revelado tudo o que sabia.
Bernardo, furioso, ao saber que sua filha o enganara, ameaçou colocá-la de castigo.
Abelardo, que ainda estava na casa, ao perceber a fúria de Bernardo, comentou que revelou o que sabia, para que ele ficasse mais atento com Elis. Contudo, não queria que Bernardo batesse na moça.
Bernardo, ao ouvir isso, prometeu que não bateria na filha. Porém, dizendo que tamanha desobediência não poderia ficar sem castigo, alegou que ela ficaria alguns dias sem sair de casa.
Abelardo, ao ouvir isso, respondeu que assim ficava mais tranqüilo. Em seguida, saindo da sala, despediu-se de Bernardo e Claudete.
Com isso Bernardo, notando que precisava ficar a sós com a filha, pediu a esposa para que saísse da sala.
Claudete, temendo que o marido batesse em Elis, pediu insistentemente para que ele não fizesse nada do que pudesse se arrepender depois.
Bernardo irritado, ainda assim, prometeu a esposa que não surraria a filha.
Só assim, Claudete deixou a sala.
Nisso, furibundo, Bernardo se dirigiu a filha:
-- Quando eu penso que eu já vi tudo o que poderia, eu me surpreendo com mais um absurdo. Onde já se viu uma filha desobedecer seu pai?
Elis ao perceber a visível irritação do pai, tentou se explicar, mas Bernardo, iracundo, nem a deixou falar. Afirmando que estava decepcionado com o seu comportamento, Bernardo comentou que não esperava esse tipo de atitude por parte dela. Alegando que já ouvira histórias parecidas, sempre imaginou que sua filha era diferente.
Elis ao ouvir estas palavras, tentou novamente se explicar, mas outra vez Bernardo a impediu de falar. Profundamente irritado, comentou que diante dos últimos acontecimentos, só cabia a ele colocá-la de castigo. E assim, Bernardo, afirmou que ela só poderia sair de casa, acompanhada.
Elis então, percebendo que precisava dizer algo, comentou que não sairia de casa acompanhada por ninguém. Dizendo que era dona de seu nariz, respondeu que desde há muito tempo, resolvia seus assuntos sozinha. Assim, não seria agora que seria tolhida em sua liberdade.
Bernardo ao notar a postura da filha, retrucou:
-- Mocinha! Não seja petulante! Você não está em condições de discutir comigo. Além disso, que modos são esses?! Não foi assim que eu te criei.
-- Não. Não foi mesmo! Você me criou para ser uma esnobe, uma pessoa arrogante. Só que eu não sou. Não sou, e não vou desistir de ficar com Lourival por sua causa. Eu gosto dele. Será que não dá para você entender?
-- Não. Não dá para entender. Como eu vou entender que uma moça tão delicada e tão educada, possa gostar de um sujeitinho desclassificado? Minha filha, esse rapaz além de pobre, é um bandido.
Elis respondeu:
-- Não. Não é não. Ele mudou. Agora ele está trabalhando num escritório. Ele está seguindo um caminho correto agora.
-- Minha filha. Como você pode ter tanta certeza? Ele já te enganou antes.
-- Mas agora é diferente. Ele me prometeu. – respondeu ela.
-- Promessas. Desde quando verdadeiras?
-- Desde quando eu o vi trabalhando. Ele mudou. – insistiu ela.
-- Sim. E daí. Isso não muda o fato dele não ser homem para você. Eu não criei minha filha para cair nas mãos do primeiro safardana que aparecer.
Elis ao ouvir as palavras nem um pouco elogiosas de seu pai, a respeito de Lourival, respondeu num tom agressivo:
-- Ele não é um safardana. É um homem bom. Só que mal orientado. Mas agora, ele está no caminho certo. Posso assegurar.
-- Até quando minha filha? Até aparecer uma proposta melhor? Escute, Elis, eu sei o que estou dizendo, esse tipo de gente, não muda nunca.
-- Muda sim pai. Muda e muda tanto, que ele está pensando até em casamento.
Bernardo então, comentou:
-- Casamento. Parece que esse seu namoradinho não perde tempo mesmo. Mal passou a te ver e agora já esta pensando em matrimônio. Minha filha, não vê que esse miserável está querendo te aplicar o golpe do baú?
Elis ao ouvir isso, irritada, respondeu:
-- Ele não é um golpista. E eu irei me casar com ele, mesmo que contra sua vontade.
-- Ah, é mesmo?! Será que ele vai te aceitar sem dinheiro? – perguntou Bernardo em um tom provocativo.
-- Vai sim, ele não está interessado no meu dinheiro.
-- É isso que nós vamos ver. – respondeu Bernardo em tom de desafio.
-- Pois bem, veremos. Eu te garanto que o senhor está enganado. – respondeu ela.
-- Pode ser. Mas enquanto eu vivo for, a senhorita não se casará com este desclassificado.
-- Me casarei sim, mesmo contra sua vontade.
-- Não se casará não. – respondeu Bernardo gritando.
A seguir, um pouco mais calmo, comentou:
-- E agora, a senhorita vai fazer o favor de se trancar em seu quarto, e não vai sair de lá enquanto eu não te autorizar. Está ouvindo?
Elis mais uma vez tentou retrucar, mas Bernardo, segurando-a pelo braço, arrastou-a até o quarto. Em seguida trancando a porta, deixou a filha gritando, pedindo para sair.
Claudete ao ouvir a discussão, tentou convencer o marido a não deixá-la trancada em seu quarto. Em vão.
Profundamente aborrecido, Bernardo não queria mais nem ouvir falar neste assunto.

Luciana Celestino dos Santos
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OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 11

Feliz, Elis mais tarde voltou para casa. Ao abrir o portão para entrar na residência, a moça foi abordada por Abelardo.
Elis, ao ser repentinamente inquirida pelo jovem, levou um susto. Abelardo ao perceber isso, desculpou-se. Porém em seguida, perguntando onde ela havia estado, ouviu como resposta:
-- Desde quando eu lhe devo satisfações?
Abelardo ao receber esta resposta, desculpou-se, mas dizendo que estava muito preocupado com ela, comentou que fazia muito tempo que os dois não se viam mais. Alegando que desde o passeio que fizeram no parque, – após o encontro com aquele estranho rapaz – nunca mais os dois se viram, Abelardo cobrou de Elis, um pouco mais de atenção.
A moça então, percebendo que precisava ganhar tempo, comentou que ultimamente estava muito ocupada com seus estudos, por isso, não podia ficar com ele.
Abelardo aborrecido, comentou que quando se quer muito alguma coisa, se arruma tempo.
Elis, sentindo-se pressionada, relatou que assim que pudesse os dois voltariam a conversar. Agora, no entanto, dizendo que precisava se preparar para as provas, Elis relatou que não podia ficar à toa.
Abelardo, notando que não seria nada fácil convencê-la a sair com ele, acreditando que Elis estava realmente preocupada com as provas, despediu-se. No entanto, dizendo que ao termino das avaliações voltaria a encontrá-la, afirmou que era muito paciente e sabia esperar.
A moça ao ouvir isso, ficou deveras preocupada. Contudo, de certo modo, aliviada por ter se livrado ao menos durante algum tempo do cerco de Abelardo, Elis adentrou a casa.
Abelardo por sua vez, se relembrando do passeio que fizera no parque com Elis, começou a ficar desconfiado. Ao se lembrar que Elis só o acompanhara no parque, depois de o fazer prometer que não contaria nada sobre o encontro dela com Lourival aos pais, Abelardo constatou que a moça não estava sendo sincera. Furioso, ao perceber que fora usado, tomado de um ímpeto, pensou em novamente se dirigir à casa da moça e exigir explicações. Depois porém, pensando no assunto, Abelardo chegou a conclusão de que se pressionasse a moça, certamente ela lhe responderia com evasivas. Ademais, prevenida da desconfiança, passaria a ter mais cuidado. Não. Não era uma boa idéia. Pensou ele.
Assim, Abelardo, pensando em outra idéia, chegou a conclusão de que a melhor coisa a fazer era segui-la. Sim, desta forma mais cedo ou mais tarde acabaria descobrindo a verdade.
E assim passou a proceder. Sempre que Elis saía de casa, lá estava Abelardo – quase como uma sombra – a segui-la.
Elis porém, ávida por se encontrar com Lourival, com o passar do tempo, deixando de lado os cuidados que tinha em observar se não era seguida, passou a ficar cada vez mais relapsa. Muito embora ainda olhasse em volta, Elis, sempre que via Lourival, sem preocupar com o que as pessoas iriam pensar, acorria em seu encontro.
Com isso, Abelardo, depois de algum seguindo-a, ao ver a cena, ficou chocado. Ao constatar que o rapaz que saía de braços dados com Elis, era o mesmo moço que ele deixara conversar com ela, Abelardo constatou que havia sido enganado. Furioso, ao ver a cena, pensou logo em contar toda a verdade aos pais da moça. Contudo, controlando seu impulso, continuou a seguir Elis. Tudo com o intuito de saber o que o casal fazia quando estava junto.
Assim, Abelardo descobriu que Elis e Lourival, adoravam caminhar de mãos dadas, bem como conversar. Muito embora os dois não fizessem nada de errado, Abelardo considerou uma falta de respeito o comportamento de Elis. Tanto que ao ver os dois se despedirem com um longo e demorado beijo, Abelardo, num ímpeto de fúria, pôs tudo a perder. Sentindo-se traído, ao ver a cena, foi até eles, e exigindo explicações, perguntou:
-- O que significa isso?
Elis ao ver Abelardo à sua frente, perguntou o que ele estava fazendo ali.
Abelardo, ao ouvir a pergunta da moça, respondeu que não era ele quem deveria responder as perguntas.
Lourival, aborrecido com o atrevimento do rapaz, perguntou:
-- O que é que você tem com isso?
Abelardo ao ouvir a pergunta, respondeu a Lourival que ele não devia se intrometer naquele assunto, já que era ‘persona non grata’.
Lourival ao ouvir isso, respondeu que sim, devia sim se intrometer, já que ele era namorado de Elis.
Abelardo ao ouvir estas palavras, perguntou a Elis se o que Lourival dizia era verdade.
-- É sim, Abelardo. Nós estamos juntos. – respondeu Elis.
O rapaz ao notar que os dois estavam saindo juntos há algum tempo, chegou a pensar que nada faria Elis desistir da idéia de ficar ao lado de Lourival. No entanto, tencionando separá-los, Abelardo revelou que contaria tudo o que vira a Bernardo.
Elis ao ouvir a ameaça, chegou a pedir ao rapaz para que não contasse nada a seu pai, mas Abelardo decidido, revelou que não desistiria da idéia.
Por isso mesmo, Abelardo deixou-os sozinhos, e se dirigindo à casa da moça, assim que chegou lá, pediu a Claudete para conversar com Bernardo.

Luciana Celestino dos Santos
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OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 10

No dia seguinte os dois passearam. Mais tarde, depois de se despedir do moço, Elis, aproveitou para olhar algumas vitrines no centro da cidade. A seguir, verificando se não era seguida, a moça foi até a residência de Lourival.
Quando Elis se deparou com a casa – uma bela e ampla construção toda em azul, que parecia um pequeno palácio –, notou que esta, não ficava nada a dever a sua residência. Espantada com as dimensões do imóvel, assim que entrou na casa, Elis, ao ser atendida por Marta, perguntou se eles possuíam aquele imóvel há muito tempo.
Marta educadamente, respondeu que não. Em seguida, perguntando o por quê da curiosidade, ao saber que Elis era amiga de Lourival, foi logo chamá-lo.
Em questão de minutos finalmente, Lourival descendo às escadas, dirigiu-se a sala.
Ao se deparar com Elis, o rapaz ficou profundamente feliz. Comentando que não esperava vê-la tão cedo, Lourival respondeu que estava em seu quarto, lendo um pouco.
Elis ao constatar que ele e sua família estavam muito bem instalados, comentou que era muito estranho que um simples pescador, tivesse condições de morar numa casa tão boa quanto aquela.
Lourival, ao ouvir o comentário, respondeu que durante um longo tempo, guardou parte do dinheiro que ganhava para comprar uma boa casa. Afirmando que ele também tinha o direito de ter uma boa vida, respondeu que não precisou roubar dinheiro de ninguém para tanto. Alegando que sempre trabalhou, comentou que há muito tempo, não estava mais envolvido com contrabando.
Ao ouvir isso, Elis, respirou aliviada.
Lourival, então, insistindo em dizer que estava disposto a mudar de vida, acabou por convencê-la, de que não se envolveria mais com o bando.
Foi assim que os dois voltaram a se entender.
Com isso, precavidos, Lourival e Elis evitavam se encontrar em lugares muito freqüentados, para que assim, nenhum conhecido de Bernardo, avistasse o casal. Elis, acreditava que em assim procedendo, estaria a salvo da severidade de seu pai.
Ledo engano. Contudo, levaria algum tempo até que essa história caísse nos ouvidos de Bernardo.
Com isso, sempre que podiam os dois se encontravam. Felizes, Elis e Lourival tornaram a ver o belíssimo jardim que os encantara tempos atrás.
Elis, ao observar os lírios que haviam no campo, comentou que uma bonita passagem da Bíblia, contava por meio de uma metáfora, a respeito da excessiva preocupação das pessoas com o dia de amanhã.
Lourival ouvindo atentamente o relato da namorada, perguntou-lhe qual era a relação de tudo isso, com a vida deles.
A moça respondeu que:
-- Olhai os lírios do campo.
O rapaz intrigado, perguntou-a ela o que estava querendo dizer com estas palavras.
Elis explicou então, que nesta passagem da Bíblia, estava escrito que as aves não fiam e nem tecem. Não obstante isso, nunca lhes falta o que comer. Assim, a excessiva preocupação dos homens com o dia de amanhã é desnecessária. Isso por que, em se trabalhando, nunca faltará o que o comer.
Lourival ao ouvir, isso, comentou que era muito bonita esta passagem da Bíblia. Mas dizendo que nem tudo eram flores na vida das pessoas, relatou que nem todos os homens podiam se dar ao luxo de não terem que se preocupar com o dia de amanhã.
Elis ouviu atentamente as palavras do namorado.
O rapaz então, dizendo que já passara necessidade, deixou-a comovida.
Elis, que nunca tivera a mínima idéia do que era passar fome, ao ouvir que ele e seus tios passaram por provações, relatou que agora entendia o apelo sedutor que poderia haver em ganhar dinheiro fácil.
Lourival ao ouvir estas palavras, comentou que nunca mais viu Raul.
A moça ao ouvir isso, sorriu.

Luciana Celestino dos Santos
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OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 9

Lourival então, percebendo que maldizer o pai da moça não era a melhor solução, respondeu:
-- Está bem! Muito embora o que ele fez não tenha sido correto, nem bonito, ele devia ter seus motivos para assim agir. Afinal, com uma filha tão bonita, o que não deve faltar são pretendentes, cada qual com uma história duvidosa.
Elis ao ouvir as palavras do rapaz, sorriu.
Lourival, então, notando que a moça estava disposta a ouvi-lo, comentou que realmente se envolvera com um bando de contrabandistas, mas que estava disposto a mudar sua vida só para ficar com ela.
Elis ao ouvir isso, comentou desapontada:
-- Eu já devia imaginar! Meu pai não mentiria para mim. Você é um bandido. Por que mentiu pra mim? Por que me fez acreditar que você era uma pessoa honesta? Foi divertido brincar assim comigo?
Lourival constatando que Elis se decepcionara com ele, comentou que nunca tivera a intenção de brincar com ela, muito menos enganá-la. Dizendo que só não comentara sobre sua família por que tinha medo de ser rejeitado, atraiu para si a raiva da moça, que irritada comentou:
-- O que você pensa que eu sou?
Lourival ao ouvir a pergunta, respondeu que nunca fizera mal juízo dela, mas como sabia que o meio em que ela vivia não aceitava conviver com outras classes sociais, achou por bem omitir sua origem.
Elis então, respondeu que ainda assim, nada justificava o fato dele ter se tornado um bandido.
Lourival ao notar que a moça continuava reticente quanto a seu comportamento, revelou que sim, andara por caminhos errados, mas que agora estava disposto a se modificar.
Elis, desconfiada, respondeu:
-- Ah, sim? Pois eu não acredito!
Lourival então, disposto a convencê-la de que estava dizendo a verdade, comentou que não vivia mais em sua vila. Estando na cidade, agora poderia arrumar um emprego melhor e certamente, proporcionar-lhe uma vida de conforto.
Elis ao ouvir estas palavras, perguntou-lhe onde estava morando.
Lourival informou a moça sobre seu endereço.
Curiosa, Elis perguntou há quanto tempo ele vivia no centro da cidade.
Atencioso, Lourival respondeu que há pouco tempo. Além disso, comentando que estava procurando trabalho, respondeu que já havia feito algumas entrevistas de emprego, e estava aguardando resposta.
Elis ao ouvir isso, respondeu:
-- Que bom! Tomara que dê tudo certo para você.
Lourival curioso, perguntou então:
-- E nós? Como ficamos?
Elis ao ouvir isso, respondeu que precisava voltar para casa.
Lourival, insatisfeito com a resposta, segurando a moça pelo braço, reiterou a pergunta.
Foi então que Elis respondeu que precisava pensar. Alegando que Abelardo a esperava, respondeu que não seria nada bom deixar que seu pai desconfiasse dessa aproximação.
Lourival concordou.
Elis, então, respondeu que dali alguns dias iria visitá-lo.
O rapaz afirmou que esperaria ansiosamente pela visita.
Nisso, Elis foi ao encontro de Abelardo, que impaciente, já estava voltando para a rua onde a deixara a sós com Lourival.
Indócil, Abelardo comentou que ela se demorou em sua conversa.
Hábil, Elis comentou que não fora nada fácil convencer Lourival de que eles não podiam mais se falar.
Abelardo ao ouvir isso, ficou deveras satisfeito.
Nisso, a moça aproveitando o ensejo, pediu ao rapaz para que não comentasse nada com Bernardo a respeito do encontro casual que eles tiveram com Lourival. Elis, dizendo que não queria aborrecer seu pai, prometeu que no dia seguinte, passearia com ele.
Foi assim, que ela conseguiu comprar o silêncio de Abelardo.

Luciana Celestino dos Santos
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OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 8

Nisso, Elis, profundamente decepcionada com Lourival, acostumada a ouvir os conselhos de seus pais, passou a desprezá-lo. Dizendo que não conseguia entender por que ele era assim, prometeu aos pais, que nunca mais se encontraria com ele.
Bernardo e Claudete ao ouvirem a promessa, ficaram deveras satisfeitos. Isso por que, acreditando que seria apenas uma questão de tempo para que ela esquecesse o rapaz, passaram com o tempo, a sugerir a ela que arrumasse outro pretendente.
Elis, contudo, não estava nem um pouco interessada em arrumar outro namorado. Decepcionada com Lourival, a moça ainda assim, não havia se esquecido do rapaz. Desta maneira, precisava de mais algum tempo para se desfazer de sua lembrança e retomar sua vida.
Bernardo porém, não pensava desta forma. Acreditando que somente quando a filha encontrasse um bom partido se esqueceria de Lourival, simpatizando com o filho de um comerciante da região, sugeriu-lhe que um dia desses aparecesse em sua casa para visitar a ele e sua família. Tencionando arrumar um pretendente para sua filha, Bernardo então, começou a preparar o ambiente.
Foi assim que em poucos dias, Elis foi apresentada a Abelardo.
O rapaz ao ver Elis, se encantou com a beleza da moça. No entanto, o mesmo não se pode dizer dela. Muito embora Abelardo não fosse desprovido de atrativos, a moça ainda estava muito ligada a Lourival para se interessar por qualquer outro rapaz.
Todavia, mesmo diante do desinteresse de Elis por Abelardo, Bernardo fazia questão de que sua filha o fizesse companhia. Dizendo que seria indelicado de sua parte deixar o rapaz sozinho com ele e Claudete, Bernardo pressionou a filha, a aceitar a presença de Abelardo.
Elis então, sem ter alternativas, muitas vezes ficou tardes inteiras a pagear o rapaz.
Contudo, muito embora o tempo passasse, nada a fazia esquecer de Lourival.
Certa vez, ao passear pelo centro da cidade com Abelardo, Elis acabou avistando Lourival.
O rapaz, cheio de si, demorou para perceber a moça. No entanto, assim que a viu caminhando com Abelardo, enciumado, foi logo tomar satisfações.
Elis ao ver Lourival diante de si, mal pôde acreditar. Feliz por vê-lo mais uma vez, ainda assim, rechaçou-o.
Lourival, percebendo o ar de desdém de Elis, ainda assim, exigiu explicações para o fato dela estar acompanhada de um rapaz.
Elis ao ouvir a pergunta de Lourival, respondeu que não lhe devia satisfações.
Abelardo ao ouvir isso, ficou felicíssimo. De tão satisfeito chegou a interferir na conversa. Perguntando a moça se ela não gostaria de voltar para casa, sugeriu-lhe encerrar a conversa o quanto antes.
Elis ao ouvir isso, respondeu que antes, precisava dizer umas palavras a Lourival. Assim, delicadamente, pediu para que Abelardo se afastasse por alguns minutos.
Abelardo ao ouvir o pedido de Elis, não gostou nem um pouco. Tanto que chegou a insistir para ficar.
A moça, percebendo isso, comentou que se ele a deixasse a sós por alguns minutos com Lourival, poderia levá-la para um novo passeio no dia seguinte.
Abelardo ao ouvir isso, mesmo desapontado com o pedido de Elis, concordou. Assim, caminhando por entre ruas, deixou-a sozinha com Lourival.
Lourival então, aborrecido com a cena que acabara de ver, perguntou:
-- Quer dizer então, que bastou eu virar as costas para você arrumar um novo namorado?
Elis, aborrecida com a pergunta, comentou irritada:
-- E o que você tem com isso? Por acaso não foi você o primeiro a faltar com a confiança? Seu mentiroso! Você disse que tinha uma vida estabelecida, só que na verdade é um criminoso. Um criminoso e um mentiroso!
Lourival, furioso comentou:
-- Mentiroso por que? Por acaso ser um pescador me faz menos digno que um comerciante? Por que um pescador não pode ter uma vida estabelecida? Por que é pobre? É isso?
Elis, desconcertada com as palavras de Lourival , disse:
-- Não, não é isso. Eu não quis desfazer da sua pessoa. Me desculpe.
-- É. Eu sei que não. Você nunca faria isso. Isso é coisa de seu pai. Foi ele que te envenenou contra mim. Disse que eu estava envolvido com contrabando, que eu sou um bandido, e nem um pouco digno de sua confiança.
Elis, demudada, perguntou:
-- E não é verdade? Se meu pai contratou até um detetive para te investigar!
Lourival ao ouvir isso, comentou:
-- Quer dizer que foi essa a desculpa que ele usou para te dizer tudo isso?
-- Não foi desculpa. – respondeu Elis, aborrecida.

Luciana Celestino dos Santos
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OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 7

Lourival, ao perceber o desencanto nos olhos da moça, tentou inutilmente explicar-lhe a situação, mas ela, logo saiu da sala e adentrando seu quarto, sumiu de suas vistas.
Bernardo então, constatando que conseguira o que almejara, pediu para a esposa sair da sala.
Lourival por sua vez, humilhado com a situação, novamente fez menção de sair da casa. Bernardo, percebendo isso, exigiu que ele esperasse mais um pouco. Dizendo que não havia terminado seu assunto, ao perceber que Claudete já havia saído da sala, segurou o rapaz pelo braço.
Lourival, ao se ver compelido a permanecer diante de Bernardo, comentou irritado, que ele já havia conseguido o que queria, e portanto não havia mais nada a ser dito.
Bernardo no entanto, insistiu. Alegando que ainda tinha uma última coisa a dizer, respondeu:
-- Como o senhor já deve ter percebido, eu não quero vê-lo rondando minha filha. Ou seja, para ser mais claro: eu não criei Elis para vê-la se envolver com um aproveitador. Filha minha não se mistura com gentalha.
Lourival ao ouvir estas palavras, tratou logo de sair da residência. Antes porém, comentou:
-- Está certo! Eu não vou mais importunar nem o senhor nem sua família. Só quero que saiba de uma coisa: muito embora eu não seja o modelo de genro que o senhor quer – endinheirado –, eu não sou nenhum traste inútil, como o senhor pensa. Eu tenho dinheiro o suficiente para comprar toda essa pose de esnobe que o senhor tem... Tem mais uma coisa... eu não sou um golpista, eu gosto de sua filha, muito embora, para gente como o senhor, o dinheiro seja o mais importante.
Ao ouvir as palavras do rapaz, Bernardo, considerando-o um grande atrevido, bem que tentou retrucar, mas Lourival rapidamente saiu da casa da família, e ganhando a rua, deixou-o falando sozinho.
Desapontado, o rapaz ficou a caminhar pelas ruas de Fortaleza, sem vontade de voltar para casa. Humilhado, só conseguia pensar em uma coisa: dinheiro. Irritado e chateado com a situação, Lourival percebeu que só havia uma forma de ser aceito pelo arrogante Bernardo. Somente quando tivesse muito dinheiro é que poderia se casar com Elis.
Ao notar que só havia este caminho, o rapaz passou a trabalhar cada vez mais amiúde com Raul. No entanto, por mais que trabalhasse, Lourival nunca conseguia amealhar dinheiro suficiente para realizar seu intento. E assim, mesmo ganhando um bom dinheiro, não era o suficiente para sua ambição.
Seus tios, ao notarem o comportamento irritadiço de Lourival, censuraram sua ganância, mas o moço, dizendo que precisava mudar de vida, retrucou. Alegando que não agüentava mais viver naquela vila de pescadores, Lourival comentou que gostaria de morar numa casa melhor e mais ampla.
Seus tios – Marta e Renato –, ao ouvirem os comentários do rapaz, responderam que se ele gostaria de viver em uma casa melhor, deveria aprender a guardar pelo menos, parte do dinheiro que ganhava.
Lourival, ao ouvir o conselho dos tios, caiu em si. Percebendo que se continuasse a esbanjar o dinheiro que ganhava, nunca conseguiria melhorar sua vida, depois desse dia, nunca mais gastou tudo o que ganhava com bobagens. Assim, foi questão de tempo, para que conseguisse comprar uma bela residência no centro da cidade.
Com isso, as moças da região onde vivia, ao saberem que o rapaz partiria em breve, ficaram desalentadas. Os rapazes da vila porém, felizes, mal viam a hora de Lourival partir e eles finalmente se verem livres de sua presença inconveniente.
Assim, foi.

Luciana Celestino dos Santos
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OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 6

No dia seguinte, em passeio com Lourival, Elis logo comentou que seu pai e sua mãe já estavam sabendo do namoro dos dois.
Lourival, ao ouvir isso, ficou deveras satisfeito.
Nisso, Elis comentou que ele havia sido convidado para um jantar.
Lourival então, de tão animado, segurou-a pelos braços, e carregando-a disse-lhe:
-- Estou tão feliz, que nesse jantar seria até capaz de pedi-la em casamento.
Elis ao ouvir isso, perguntou:
-- É mesmo? Então por que não pede?
Lourival sentindo-se desafiado, perguntou:
-- E a senhorita, aceitaria meu pedido?
-- Mas é claro que sim. – respondeu ela com um sorriso largo.
Lourival satisfeitíssimo, mal poderia imaginar que o convite era extensivo a seus tios. Contudo, quando tomou conhecimento dessa condição, ficou bastante nervoso.
Surpresa, Elis quis logo saber o por quê de tanta agitação.
Lourival então, tentando ganhar um pouco de tempo, comentou que seus tios, não estavam muito bem de saúde para poderem sair de casa.
Elis, ao ouvir estas palavras, comentou que eles poderiam esperar os dois melhorarem para depois marcar o jantar.
Lourival, ainda nervoso, comentou então, que devido o fato dos dois estarem muito doentes, não seria tão cedo que eles estariam recuperados, para este jantar.
Ao ouvir isso, Elis ficou desolada.
O rapaz, ao notar isso, comentou então:
-- Olhe! Não que eu esteja muito feliz em fazer isso, mas nós podemos muito bem marcar este jantar para os próximos dias, e assim que meus tios estiverem melhor, eu me encarrego de providenciar um jantar para sua família.
Elis ao ouvir isso concordou.
Enquanto isso, Bernardo, sequioso de saber mais detalhes sobre a vida do rapaz, utilizando-se dos serviços de um detetive particular, tratou logo de se prevenir. Temeroso de que Lourival não passasse de um golpista, assim que soube que sua filha o estava namorando, pensou logo em investigá-lo.
Com isso, no dia do jantar, já de posse das informações que precisava, Bernardo, ciente de que o rapaz era um simples caiçara, pensou logo em urdir um plano para afastá-lo de sua filha. Furioso com o atrevimento do rapaz, assim que soube de sua humilde condição, pensou logo em cancelar o jantar.
Contudo, depois de muito pensar, achou por bem continuar a farsa. Assim, até o momento do jantar, poderia desmascará-lo na frente da mulher e da filha.
Sim, Elis era a principal interessada. Assim ela deveria ser a primeira a saber tudo o que cercava a vida de Lourival. Por isso, Bernardo precisava deixar o encontro acontecer.
E assim o fez.
Quando Lourival chegou à sua casa, Bernardo, fingindo cordialidade, fez questão de cumprimentá-lo e deixando-o à vontade, ofereceu-lhe um licor.
O rapaz, ao ouvir o oferecimento aceitou a bebida.
Bernardo então, ao vê-lo sorvendo a bebida com tanto gosto, perguntou-lhe se já havia experimentado, o licor.
Lourival, respondendo que não, comentou que apesar de ser um sabor novo e diferente, era muito bom.
Bernardo então, aguardando o jantar, pediu a filha, para que acompanhasse a mãe até a cozinha, para verificar se tudo estava saindo a contento.
Elis percebendo que seu pai precisava conversar com o rapaz, saiu rapidamente da sala.
Claudete por sua vez, desejando boas-vindas ao rapaz, também se retirou.
Nisso, Bernardo e Lourival ficaram por algum tempo sozinhos.
O homem então, aproveitando a ocasião, conversou com Lourival. Dizendo que não sabia quase nada sobre ele, Bernardo, começou a lhe fazer perguntas.
Lourival, seguro de si, respondeu a todas elas com muita tranqüilidade. Fazendo-se passar por um homem de negócios, o rapaz comentou que estava começando um pequeno comércio.
Bernardo ao ouvir isso, quis logo saber o tipo de comércio.
Lourival explicou então, que estava pensando em montar um mercado.
Bernardo, percebendo isso, começou a fazer perguntas a respeito do assunto para o rapaz.
O moço então, respondeu a todas com o maior cuidado.
Quanto a isso estava tudo indo muito bem.
No entanto, foi só o pai da moça perguntar sobre sua família, que Lourival, se fechou em copas. O rapaz, nervoso com a pergunta, tratou logo de desconversar. Dizendo que seus tios não estavam bem, comentou que ainda muito pequeno, perdera os pais.
Bernardo ao ouvir as palavras do rapaz, fingindo grande curiosidade, perguntou-lhe como os pais haviam morrido.
Lourival, ao ouvir a pergunta, revelou que não estava nem um pouco interessado em rememorar um assunto que lhe era por demais penoso.
O homem ao ouvir isso, desculpou-se. Alegando que havia sido inconveniente, reiterou suas desculpas.
O jovem ao ouvir as desculpas de Bernardo, aceitou-as, e, dizendo que eles deveriam mudar de assunto, começou a falar de Elis. Animado Lourival chegou a dizer a Bernardo que ele e sua mulher deviam ter muito orgulho da filha que tinham, já que Elis, era uma pessoa maravilhosa.
Bernardo ao ouvir isso sorriu. A seguir, dizendo que ele era um rapaz muito inteligente, comentou que Elis era a maior alegria de sua vida.
Lourival ouvia atento tudo o que Bernardo falava.
À certa altura, percebendo a aproximação da filha e da esposa, Bernardo comentou que tinha tanta adoração pela filha, que jamais permitiria que alguém se aproveitasse dela. Dizendo que jamais admitiria oportunistas e aproveitadores em sua família, comentou que sua filha era importante demais, para que a deixasse ser infeliz.
Lourival, desconfiado de que talvez aquelas fossem um recado, fingindo ignorar este fato, concordou com ele.
Nisso, Elis e Claudete, surgindo na sala, chamaram os dois para jantar.
Bernardo e Lourival, seguiram para a sala de jantar.
Ao se sentarem à mesa, logo uma criada serviu-os.
Durante o jantar, os quatro conversaram sobre amenidades.
Após, terminado o jantar, Bernardo constatou que era chegado o momento de revelar tudo o que sabia sobre o rapaz. Com isso, o homem, alegando que tinha algo muito importante para falar, pediu para que o rapaz esperasse um pouco antes de partir.
Lourival concordou com o pedido.
Assim, todos retornaram a sala de estar.
Lá procurando encontrar um bom momento para revelar o que sabia, comentou com a esposa e a filha que Lourival tencionava lançar-se ao comércio.
Curiosa, Claudete quis saber mais detalhes.
Lourival então, mais uma vez explicou os detalhes de sua empreitada.
Elis, era só sorrisos.
E, seguida, Bernardo, começou a fazer comentários sobre a vida do rapaz. Dizendo que ele fora criado pelos tios e que estes não puderam comparecer ao jantar, o homem conseguiu deixar Lourival bastante incomodado.
O moço porém, tentando demonstrar cordialidade, não retrucou.
Nisso, Bernardo continuou. Comentando que certa vez, um conhecido o vira sair de barco na praia do Mucuripe, Bernardo conseguiu deixar Lourival desconcertado.
Isso por que, o rapaz, percebendo que Bernardo sabia algo mais sobre seu passado, ficou logo apreensivo. Contudo, visando encerrar a conversa, Lourival comentou que de vez em quando saía junto com os pescadores, para fazer um passeio de barco pela região. Dizendo que o Ceará é um belo estado, Lourival comentou que o que de mais belo existe por lá, é a natureza pródiga e farta.
Bernardo ao ouvir as palavras de explicação do rapaz, continuou a provocá-lo. Insistindo em seu intento de desmascará-lo, Bernardo começou a dizer, que Lourival era um homem de negócios.
Elis, ao ouvir isso, concordou. Contudo, desconfiada da atitude provocativa de seu pai, perguntou:
-- Sim, ele é. Mas o que isso tem de mais?
Bernardo, percebendo a curiosidade da filha, comentou que não haveria nada de mais nisso, não fosse o fato, dele estar envolvido com contrabandistas.
Ao proferir estas palavras, o homem conseguiu deixar sua esposa e filha, chocadas.
Lourival percebendo que fora vítima de uma cilada, bem que tentou negar, mas Bernardo, dizendo que tinha como provar o que afirmara, foi até seu escritório, e de volta a sala, segurando um envelope nas mãos, abriu-o e despejou algumas dezenas de fotos em preto e branco sobre a mesinha de centro.
Lourival ao ver as fotos, começou a dizer que tudo aquilo não passava de uma armação.
Bernardo então, interrompendo-o comentou que não adiantava ele negar os fatos. Afinal de contas, a sua própria origem já denunciava que ele enveredaria por este caminho. Tudo com vistas a abandonar sua vida de miséria.
Lourival ao ouvir isso, percebeu finalmente, que não adiantava argumentar. Rendido, fez menção de partir.
Bernardo, segurando-o pelo braço, revelou então, que ele era um pescador.
Elis, aturdida, ao ouvir isso, sem saber o que pensar, perguntou:
-- É verdade o que papai está dizendo? Você é mesmo um pescador?
Gaguejando, o rapaz tentou se explicar, mas Elis, percebendo que seu pai não mentira, atalhou:
-- Não. Não precisa me dizer nada. – respondeu ela, visivelmente decepcionada.

Luciana Celestino dos Santos
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OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 5

Ao adentrar a sala, seu pai, percebendo que ela sempre chegava acompanhada de um mancebo, mais uma vez quis saber quem era.
Elis, percebendo a curiosidade do pai, mais uma vez, desconversou. Dizendo que o rapaz era apenas um conhecido, alegou que ele a trazia sempre em casa, por que era muito insistente. O rapaz, dizendo que ela não devia sair desacompanhada, fazia questão de lhe pagear.
Bernardo, ao ouvir isso, comentou que era muito pouco comum um desconhecido se interessar em acompanhar alguém, sem nenhum motivo concreto.
Elis ao ouvir isso, respondeu:
-- Mas ele não é um desconhecido. Eu não acabei de falar que ele é conhecido?
Bernardo ao ouvir isso, retificou:
-- Está bem. É um seu conhecido. Muito embora eu não saiba de quem se trata, segundo você, ele é seu conhecido.
-- Sim, é colega meu. – respondeu ela.
Seu pai, ao ouvir isso, comentou:
-- Se ele é seu colega, então ele não é apenas um conhecido.
Elis, ao ouvir isso, logo percebeu que falara demais. Constatando o deslize, tentou consertar a situação:
-- Colega? Eu disse colega? Não é bem um colega, posto que mal nos falamos. Eu disse colega, por que ultimamente é sempre ele que tem me trazido em casa.
Bernardo ao ouvir, perguntou:
-- Curioso! Um colega que ultimamente tem andando muito com você, não é mesmo? Será que ele é apenas um colega?
Elis ao ouvir ao ouvir as indagações de seu pai, sentiu as palavras fugirem.
Seu pai, todavia, insistiu para que a filha, respondesse suas perguntas.
Elis então, perguntou, depois de se acalmar um pouco:
-- Ora papai! Que idéia o senhor faz de mim? Por acaso, o que eu poderia estar fazendo? Por que essas perguntas?
Bernardo percebendo que sua filha tencionava fugir do assunto, novamente perguntou:
-- Mocinha! A senhorita ainda não me respondeu a pergunta que fiz. Acaso tem alguma coisa nessa história, que eu não posso saber? Sim por que, se ele é apenas um colega, por que você faz tanta questão de escondê-lo de nós?
-- Mas pai! Eu não estou escondendo ninguém!
-- Está sim, e você bem o sabe. Agora eu me pergunto... Por que será? Acaso ele é mais um pretendente?
Elis ao ouvir isso, ficou aturdida. Sem saber o que pensar, começou a gaguejar:
-- N... não. Mas é claro que não! Papai, que idéia!
-- Por quê? Acaso o rapaz não é provido de atrativos? Jovem, porte altivo... Aposto que muitas mulheres devem ter se interessado por ele.
Elis, ao ouvir isso, não ficou nem um pouco satisfeita. Porém, procurando disfarçar sua contrariedade, tratou logo de encerrar aquela conversa. Dizendo que o pai estava sendo indiscreto ao comentar sobre a vida de uma pessoa que nem sequer conhecia, Elis alegou, que não cabia a ela, responder aquelas perguntas.
Bernardo então, percebendo que fora indiscreto, desculpou-se e deixou-a ir para seu quarto. Contudo, dizendo que aquela conversa não estava encerrada, tratou logo de avisá-la que mais tarde retomaria o assunto.
Elis, concordou.
Ao entrar em seu quarto, amplo e ricamente decorado, a moça, percebendo que não tardaria o momento em que contaria a verdade, passou a pensar de que forma contaria aos pais, que estava namorando. Angustiada, passou a pensar na melhor forma de contar a verdade.
Ensaiando um discurso, Elis passou horas e horas em seu quarto.
Durante o jantar, Bernardo então, relatando que precisava retomar um assunto com a filha, comentou que mais tarde eles conversariam.
Claudete, percebendo o ar de gravidade do marido, quis logo saber sobre o que os dois conversariam.
Bernardo ao notar a curiosidade da esposa, comentou que não era nada de mais. Dizendo que apenas, ficara intrigado com um fato, Bernardo respondeu, que não cabia a ela ficar preocupada.
Claudete então, percebendo que nenhum dos dois contaria o que estava se passando, resolveu deixar o assunto de lado.
E assim continuaram a ceia.
Mais tarde, depois do jantar, Bernardo, ansioso por retomar a conversa, mandou Elis, ir para o escritório – que ele possuía na residência.
Claudete, percebendo que o assunto era particular, resolveu ir até a sala, retomar seus bordados.
Nisso, Bernardo, entrando logo em seguida no escritório, fechou a porta e impaciente, disparou a seguinte pergunta:
-- Agora você vai me responder aquela pergunta que te fiz hoje à tarde, não é mesmo?
Elis, ao ouvir mais uma vez o questionamento do pai, bem que tentou desconversar, mas Bernardo, cansado de ouvir evasivas, foi logo dizendo que não aceitaria desculpas. Afirmando que estava cansado de ouvir afirmações vagas, Bernardo comentou que não sairia dali, enquanto ela não lhe contasse toda a verdade.
A moça ao ouvir isso, ficou bastante apreensiva. Tão apreensiva, que seu pai, preocupado, perguntou:
-- Se você está tão nervosa assim, é por que aquele rapaz é muito mais do que um simples conhecido, não é?
Elis, ao perceber que seu pai já desconfiava desta proximidade, perguntou:
-- E o que tem de mais nisso? Acaso eu estou proibida de namorar?
Bernardo ao ouvir estas palavras, tomado de espanto, sentou-se num dos sofás que havia no escritório. Surpreso, muito embora desconfiasse de que havia algo de estranho, jamais poderia imaginar que sua prevenção se tornaria realidade.
Elis, percebendo o ar estupefato de seu pai, perguntou surpresa:
-- Mas não era o senhor mesmo que estava desconfiado?
Bernardo ao ouvir a pergunta da filha, deveras preocupado, foi logo crivando-a de perguntas. Sequioso de saber tudo o que se relacionava ao rapaz, descobriu que ele se chamava Lourival, que fora criado por seus tios, e que seus pais morreram quando ele era ainda muito pequeno.
Bernardo ao ouvir isso, constatou que de posse dessas informações, já poderia descobrir qual era a origem do rapaz. Isso por que, desconfiado de que as boas roupas do rapaz e sua postura altiva, fossem mera aparência, Bernardo quis logo se precaver. Afinal de contas, não havia criado sua filha, para que ela se envolvesse com algum aproveitador.
Elis, que até então, não conhecia a família de Lourival, ao perceber a excessiva curiosidade do pai em conhecer detalhes sobre a vida do moço, comentou que ele possuía uma boa condição social. Dizendo que era ele quem bancava todos os passeios que faziam, Elis alegou, que ele estava sempre muito elegante. Extremamente educado, parecia um nobre, segundo ela.
Bernardo porém, nem assim se convenceu de que o rapaz poderia ser um bom partido. Desconfiado de tantas boas maneiras, comentou que nunca vira o rapaz antes.
Elis, tentando contornar a situação, respondeu, que havia muitos comerciantes na cidade que ele não conhecia.
Ao ouvir isso, Bernardo concordou.
Elis então, mais calma, parou de tentar convencer o pai de que seu namorado era uma boa pessoa.
Bernardo então, comentou que estava tudo bem.
A moça ao ouvir isso ficou surpresa.
Seu pai então, percebendo seu espanto, comentou que se o namoro dos dois era tão certo assim, não havia nada de mais nela convidar o moço e sua família para jantarem um dia desses com eles.
Elis ao ouvir isso, perguntou:
-- Pai! O senhor tem certeza disso?
No que Bernardo respondeu:
-- Mas é claro que eu tenho. Pode convidar o rapaz sem medo. Outra coisa... não se esqueça de que o convite é extensivo à família.
Elis ao ouvir isso, ficou exultante.
Bernardo então, desejando ficar um instante sozinho, pediu a filha para que saísse do escritório, para que pudesse trabalhar um pouco.
Satisfeita, a moça saiu prontamente do escritório.

Luciana Celestino dos Santos
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OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 4

Seus tios, acostumados com suas demoras, nem o crivavam mais de perguntas. Isso por que, sempre que o rapaz era inquirido por eles, suas respostas eram sempre vagas.
Assim, depois de muito perguntarem: De onde você está vindo? Isso são horas de se chegar em casa? O que você anda aprontando? Entre outras inúmeras perguntas, e ouvirem que ele não estavam fazendo nada de mais, os dois se cansaram. Dizendo que tudo estava nas mãos de Deus, resolveram deixar de se preocuparem tanto com Lourival, que segundo eles, devia saber o que estava fazendo.
Com isso, Lourival foi se afastando cada vez mais de sua família.
Sentindo-se cada vez mais livre, não tardaria para que ele alçasse vôos maiores. Vôos tão elevados que o fariam perder até a direção.
Mas agora era o tempo de sonho. Tempo de amar e de se saber amado. Tão amado que parecia que nada destruiria o inquebrantável sonho de amor.
E assim, continuaram os passeios. Certa vez, Elis e Lourival, ao passarem por um jardim, descobriram que entre as flores que lá haviam sido plantadas, estavam lírios, que embelezando a paisagem, cobriam o solo e enfeitavam o campo.
Este foi recanto escolhido pelos dois, para sempre se lembrarem, quando estivessem sós.
Lourival e Elis, encantados com a beleza do lugar, prometeram que sempre que pudessem, passeariam pelo local. E de braços dados voltaram para o centro da cidade.
Ao lá chegar, Lourival tratou logo de deixar Elis em frente a porta de sua casa. Despedindo-se da moça, o rapaz, comentou que era chegado o momento dela contar aos pais, que estava namorando.
A moça, ao ouvir isso, prometeu que dentro em breve contaria tudo aos pais.
Lourival, ao ouvir isso, quis logo saber quando ela contaria sobre o namoro dos dois.
Sentindo-se pressionada, Elis, comentou que assim que pudesse.
Impaciente, Lourival comentou que mal via a hora dessa conversa acontecer.
Elis, percebendo isso, comentou que precisava pensar em como contar o que se passava. Pedindo paciência ao namorado, a moça, insistiu para que ele aguardasse o momento certo, para a tal conversa acontecer.
Lourival, percebendo que Elis tentava ganhar tempo, ainda assim, concordou em esperar. No entanto, estipulando um prazo, o rapaz alegou que ela não deveria tardar para revelar aos pais o que se passava.
Ao ouvir isso, Elis prometeu que não se demoraria.
Com isso, os dois se despediram e a moça entrou em casa.

Luciana Celestino dos Santos
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OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 3

Lourival então, constatando que sua vida estava mudando, cada vez mais distante de sua antiga vida de pescador e de seus amigos, passou a trilhar um novo caminho. Caminho este que se revelaria tortuoso. Todavia, num primeiro momento, foi só alegria e cor. Isso por que, Lourival, agora com dinheiro, vivia a passear na cidade.
Com seu paletó de linho, seu chapéu e seu semblante sempre feliz, Lourival, conheceu Elis.
A moça, filha de um rico comerciante da cidade, toda vestida de renda, atraiu logo sua atenção. Isso por que, além de bela, a moça era também, muito elegante. Tão elegante, que logo percebeu o garbo de Lourival, e igualmente se interessou por ele.
Elis, ao ver no moço tanto donaire e primor, ao tê-lo diante de si, logo o cumprimentou. Imaginando que o rapaz pertencia a uma família abastada, a moça educadamente passou a lhe falar.
Lourival então, animado, acreditou que havia encontrado a mulher ideal.
Isso por que, possuidora de grande beleza e de modos refinados, Elis, segundo ele era a materialização da perfeição. De tão grande perfeição que o rapaz fez de tudo para saber seu nome e onde vivia.
Assim, foi questão de tempo, para que um se enamorasse do outro.
Lourival, feliz com isso, passou a se dividir entre seu trabalho, e os encontros com sua namorada, Elis.
Felizes, os dois caminhavam de braços dados, pela famosa praia do Mucuripe. O mesmo cenário, onde tempos antes, ele estivera a pescar. Agora não. Lourival, posando de rico burguês, no momento só queria saber de mostrar a namorada, as belezas e os encantos da região. Tanto, que esquecido de sua humilde condição, sentiu-se em condições de igualdade em relação a moça.
E assim, sem se censurar, Lourival corria atrás de Elis, que escapando de seu alcance, deixava-o mais intrigado.
Certa vez, cansado destas carreiras, o rapaz, alcançando Elis, segurando-a pelo braço, jogou-a na areia. Em seguida, sentando-se ao lado da moça, Lourival passou a olhá-la fixamente.
Elis também, com os olhos fixos no rapaz, depois de um certo período de encantamento, perguntou:
-- Mas você vai ficar me olhando assim... até quando?
Lourival, percebendo que podia agir, resolveu se aproximar dela. Ainda olhando-a fixamente, o rapaz foi se aproximando cada vez mais. À certa altura, segurando com suas mãos, o delicado rosto de Elis, Lourival tomado de um ímpeto, beijou-a.
Permanecendo com as mãos no rosto da moça, Lourival comentou que nunca havia conhecido alguém igual a ela.
Elis ao ouvir isso, sorriu. A seguir, chamando-o debochadamente de mentiroso, perguntou se nenhuma outra mulher havia se interessado por ele.
Lourival afirmando que não, atraiu para si o sarcasmo de Elis, que não acreditou nem um pouco em suas palavras.
O rapaz, percebendo isso, relatou que nunca havia se encantado tanto por uma pessoa, como neste momento.
Elis ao ouvir isso, resolveu deixar de lado as brincadeiras e dizendo que devia voltar para casa, deixou o moço um tanto quanto desapontado.
Lourival então, pedindo-a para ficar, ouviu como resposta que estava ficando tarde e que ela tinha que ir.
Entendendo a situação, o rapaz resolveu acompanhá-la em sua jornada de retorno ao centro da cidade. Lá, ao deixá-la em frente ao portão de sua casa, tentou beijá-la novamente, mas Elis, repeliu-o.
Desapontado, Lourival perguntou a ela, por que ele não poderia beijá-la ali.
Ao se ver inquirida, Elis respondeu, que seus pais ainda não sabia do namoro dos dois, por isso, o melhor que ele tinha a fazer, era se comportar.
Lourival, ao ouvir, concordou com o cuidado. Todavia, o rapaz pediu insistentemente para que ela revelasse o relacionamento dos dois, o mais depressa possível à sua família.
Elis, percebendo a seriedade das palavras do rapaz, concordou. Em seguida, se despedindo de Lourival entrou em casa.
Nisso, o rapaz, voltou para sua morada.

Luciana Celestino dos Santos
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OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 2

Insatisfeito com a vida que levava, o jovem pescador começou a se envolver com pessoas estranhas. Sequioso por mudar sua sina, Lourival, passou com o tempo, a auxiliar alguns contrabandistas da região, em busca de dinheiro.
Com isso, o rapaz, ao começar a ganhar um dinheirinho extra, passou a se desinteressar cada vez mais pela pescaria. Isso por que, se ele conseguia arrumar dinheiro suficiente realizando o transporte de mercadorias pelo mar, por que precisava continuar pescando?
Seus tios, ao perceberem isso, ficaram desconfiados. Sim, por que, se ele não mais saía para pescar, como ainda assim, conseguia dinheiro suficiente para ajudar a família, e para gastar com futilidades?
Lourival, a esta altura, cansado de esconder que estava envolvido em negócios escusos, passou a ter cada vez menos cuidado. Ostentando pequenos luxos, o rapaz começou até, a se vestir melhor.
Seus amigos, certa vez, ao verem-no tão alinhado, comentaram surpresos, que ele estava prosperando.
Lourival ao perceber o olhar de espanto e de admiração dos amigos, sorriu.
Sentindo-se vitorioso, o rapaz nos últimos tempos, vinha se dedicando mais ao seu novo trabalho, do que a comunidade onde vivia. Animado com sua nova situação, Lourival só queria saber de se entrosar com os novos colegas de trabalho, e quem sabe até, alçar uma melhor posição. Ambicioso, o rapaz sentia que poderia ir longe nessa atividade.
Raul, o chefe dos contrabandistas do lugar, percebendo o empenho de Lourival em desempenhar bem sua função, comentou que mais dia, menos dia, certamente ele alcançaria um posto de maior responsabilidade dentro da organização.
O rapaz ao ouvir isso, sorriu satisfeito.
Quem não gostou nada desta história, foram os antigos companheiros de atividade de Raul.
O líder porém, não se importava com isso.

Luciana Celestino dos Santos
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OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - CAPÍTULO 1

“ As velas do Mucuripe
Vão sair para pescar
Vou levar as minhas mágoas
Pras águas fundas do mar
Hoje à noite namorar
Sem ter medo da saudade
E sem vontade de casar

Calça nova de riscado
Paletó de linho branco
Que até o mês passado
Lá no campo ‘inda era flor
Sob meu chapéu quebrado
O sorriso ingênuo e franco
De um rapaz novo, encantado
Com vinte anos de amor

Aquela estrela é dela
Vida, vento, vela, leva-me daqui ”

(Mucuripe – Raimundo Fagner/Belchior)

1940. As velas dos barcos, e o deslizar das jangadas, convidam a uma longa jornada mar adentro.
É desse mar que os pescadores e os jangadeiros retiram o sustento de suas famílias.
E é desse mar que se despedem no lusco-fusco vespertino, quando o sol se retira da praia, beijando a superfície das águas e manchando-as de dourado.
A seguir, surgem as horas vazias, a agonia das mulheres que perderam seus maridos em tempestades, esperando pelo retorno de quem nunca virá.
É nesse cenário que vive um jovem pescador chamado Lourival.
Moreno, por volta de seus vinte anos, é objeto de cobiça de muitas das mulheres que por ali vivem.
Vivem, pobres como ele, em um bairro paupérrimo, longe do centro e do glamour de tão antiga cidade. Vivem, a sonhar com o dia em que ele, irá se dignar a olhar para elas, quando passar.
Quem não gostava nada desse frisson eram os rapazes, que sentiam-se preteridos pelas moças, as quais, com raras exceções só tinham olhos para Lourival.
Lourival, por sua vez, não estava nem um pouco interessado em causar confusão. Aliás, distraído, muitas vezes nem sequer, percebia os olhares.
Ambicioso, o rapaz só queria saber de se livrar daquela vida miserável. Aborrecido, já estava cansado de se sacrificar no mar, e só ser explorado. Lourival, encantado com o estilo de vida do centro, agora só queria saber de conforto e de luxo.
Certa vez, para passear pela cidade e conhecer seu esplendor, Lourival colocou sua melhor roupa. Um terno que fora de seu pai, que o usara quando se casou.
Fascinado com a beleza da cidade, Lourival se encantou com as belas construções, seus teatros, suas igrejas. Esse passeio se deu durante o Natal. Foi lá que ele se encantou com a encenação do Bumba-Meu-Boi.
E agora, perdido em pensamentos, Lourival só fazia se lembrar deste passeio. Animado sempre que podia comentava com os amigos, que um dia ainda teria muito dinheiro e moraria no centro da cidade.
Seus amigos, também pescadores, sempre que ouviam esta conversa, caíam na risada. Descrentes de que Lourival conseguiria alcançar êxito em seu intento, eles sempre faziam troça com ele.
Lourival, então, ao se ver sendo alvo de piadas, ficava furioso, e aborrecido, deixava os amigos de lado.
Ele por sua vez, sozinho, ficava a sonhar com o dia em que teria muito dinheiro, e que todos aqueles que até então não davam crédito às suas palavras, ainda iriam procurá-lo em troca de favores. Pensando nesta possibilidade, Lourival ficava a sorrir. Lhe era extremamente agradável pensar nisso.
Porém, quando retornava a realidade e se percebia praticamente sozinho no mundo, Lourival não se sentia nem um pouco feliz.
Contudo, precisava se recolher e dormir, pois no dia seguinte, precisaria enfrentar novamente o mar para obter seu sustento, e auxiliar o casal de tios que o criou, depois que seus pais faleceram.
E assim, lá se foi ele novamente, durante a madrugada enfrentar o mar.
Trabalhando no barco, os pescadores só tinham tempo para observar o mar e pescar. Para isso lançavam mão de redes e de muita paciência. No final da tarde, voltavam com o barco abarrotado de peixes.
E mais uma vez a vida se repetia.
Para Lourival, essa repetição sem fim, era extremamente monótona.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

O DESTINO DESFOLHOU - EPÍLOGO

E foi assim, que a situação calamitosa da cidade foi resolvida.
De uma hora para outra? Não.
Foi simples de se resolver? Não.
Mas o que interessa é que todos participaram. Todos queriam que situação melhorasse e se empenharam nisso.
Quem podia, ajudou com trabalho voluntário. Quem não podia, ajudou com idéias, denunciou o que estava errado, avisou a polícia quando viu algum suspeito, ou mesmo um crime ser cometido.
Não se expôs dando uma de herói, mas colaborou com o bom trabalho da polícia.
Novos policiais foram formados. Mais bem pagos e treinados, tornaram-se amigos da população. E não foi um milagre implementar essa idéia. Foi só planejar bem os gastos, elaborar corretamente o orçamento do município, diminuir o desvio de verbas, o superfaturamento, e isso se tornou uma realidade.
Uma nova escola foi construída, a periferia da cidade se tornou menos violenta.
A prefeitura investiu em mais áreas de lazer, em trabalho sociais, em treinamento para os jovens.
Com relação aos encarcerados, colocou-os para trabalhar. Com os menores infratores fez o mesmo.
Quando desbaratou o quadrilha, o índice de criminalidade caiu drasticamente.
Quanto aos homens que atiraram duas vezes na delegacia e causaram celeuma geral, os mesmos foram presos e cumprem pena.
Já com relação aos policiais estrangeiros que prestaram serviço na cidade, estes foram homenageados, e assim que se resolveu a confusão, com a prisão dos bandidos que causaram o tumulto, voltaram para suas respectivas cidades.
E a cidade foi ficando cada vez melhor.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.


O DESTINO DESFOLHOU - CAPÍTULO 3

E assim, conforme o plano ía sendo cuidadosamente elaborado, Olívia tratava logo de se inteirar de tudo.
Enquanto isso, Joana depois de escrever uma grande reportagem sobre o escândalo na prefeitura, resolveu divulgar o conteúdo dos documentos que caíram em suas mãos.
Cléber, que já esperava por um acontecimento extraordinário, ficou estarrecido com o teor da notícia.
Joana, ao escrever a matéria, havia ido longe demais. Contudo, como estava amparada, em prova documental, não havia como negar o escândalo.
Realmente o prefeito havia ganho muito dinheiro em superfaturamento de obras. Além disso, havia a suspeita do que mesmo havia sido subornado para aceitar alguns projetos nem um pouco convenientes para a boa administração da cidade. Contudo, no tocante a essa questão, Joana não tinha ainda, como provar suas suspeitas.
Porém, quando o escândalo viesse a tona, fatalmente isso seria investigado, e assim se esclareceria a verdade.
Cléber, um pouco temeroso com reação do prefeito, comentou com Joana, que a notícia realmente repercutiria como uma bomba na cidade. Por esta razão, tratou de aconselhar a moça, que se ela queria realmente publicar aquela notícia, deveria primeiramente, arrumar um outro local para ficar. De preferência, bem longe da cidade.
Joana contudo, mesmo sabendo que estava se arriscando, comentou com Cléber, que preferia mesmo, era ficar, para ver toda a confusão armada. Isso por que, não havia vindo de tão longe para perder a oportunidade de ver a situação resolvida.
Cléber, ao perceber a expectativa da moça, tratou logo de adverti-la:
-- Minha querida! Não sei se você percebeu, mas estamos no Brasil. No lugar onde tudo acaba em pizza e festa. Olha! Eu não quero te desiludir, mas dificilmente Arthur será preso, e mesmo se ele for, acabará não dando em nada. Até por que, ele não é o único responsável por isso. Se ele conseguiu ser corrupto, é por que existem muitos outros corruptos, bem como corruptores na cidade. Exemplo disso, foi a última denúncia de corrupção envolvendo o seu nome. Não deu em nada.
Joana contudo, procurando contradizer o colega de profissão, comentou:
-- Eu sei Cléber. Mas agora é diferente. Agora nós temos provas. Podemos derrubá-lo.
Cléber, percebendo o entusiasmo da moça, desistiu de tentar convencê-la de que tudo era uma ilusão. Cauteloso porém, tratou de perguntar:
-- E o que eu faço com aquela carta que você me deu?
-- Por enquanto nada. Só use aquela carta se algo de muito grave acontecer comigo.
Cléber então, concordou em guardar a carta.
Com isso, vendo os documentos e a reportagem pronta, comprometeu-se com Joana. Prometendo que publicaria a matéria na íntegra, pediu para ficar com os documentos. Isso por que, queria ter como provar tudo o que alegava. Até por que, sabia que a reação do prefeito seria imediata. Assim, precisava se precaver.
E foi assim, prevenido, foi que o diretor de redação, publicou a matéria, que como era de se esperar, caiu como uma bomba na cidade.
Quando Arthur foi informado por seus assessores sobre o conteúdo da matéria, ficou estarrecido. Isso por que, acreditando que as denúncias haviam sido esquecidas, acreditava que nunca mais ouviria falar naquele assunto. Todavia, qual não foi sua surpresa ao constatar que o escândalo estava de novo presente em sua vida.
Revoltado, exigiu dos assessores, que tratassem de descobrir quem havia escrito aquela matéria contra ele.
Os assessores, ressabiados, ficaram na difícil situação de contar a ele, que quem havia escrito aquela matéria havia sido Joana, a mesma mulher que vivera com ele durante todos aqueles meses.
O prefeito, percebendo que havia sido enganado por Joana, ficou profundamente decepcionado. Mas, recuperando-se da surpresa desagradável, procurou pensar logo em uma forma de se vingar. Isso por que, não podia deixar isso para lá. Até por que, depois de um escândalo recém resolvido, não podia se dar ao luxo de se envolver em outro, ou fatalmente teria que adiar seus planos políticos para o futuro.
Iracundo, decidiu conversar com a moça.
Porém, ao se dirigir ao hotel onde a moça se hospedou, descobriu que a mesma não estava mais lá.
Arthur, ao saber disso, ficou ainda mais irritado. Porém, prometeu a si mesmo que aquilo não ficaria sem troco. Assim, passou semanas procurando Joana, que parecia se esconder dele.
Sim, Joana havia saído da cidade. Levando consigo a reportagem que realizara, resolveu vender a matéria.
E sim, vendeu a reportagem a um grande jornal da capital.

Mas tarde, Arthur por meio de seus informantes, acabou descobrindo que a notícia se espalhara.
Mais uma vez, o escândalo havia sido levado ao conhecimento de todo o país. Tal fato, deixava-o numa situação ainda mais complicada.
O político, vendo-se enredado, começou a perceber que não havia nenhuma saída para ele. Por conta do escândalo, certamente teria que desistir de seus planos políticos. Ao menos enquanto tudo não se resolvesse.
No entanto, não era só isso. Por conta da repercussão do escândalo, provavelmente o prefeito teria que renunciar ao cargo.
Arthur, ao saber disso, ficou irritadíssimo. Teimoso, comentou que nunca renunciaria a um cargo que sempre sonhou um dia ocupar.
Mas os assessores insistiram que só havia essa possibilidade.
Arthur porém, refutava esta possibilidade.
Mas, mesmo querendo muito permanecer no cargo até o final da legislatura, sabia que seria que seria muito difícil não ser afastado.
Para piorar, a população, que sempre o apoiara, e a qual sempre admirou seu trabalho na prefeitura, agora estava muito revoltada. Muito mais revoltada do que antes, quando se dera o primeiro escândalo.
Agora, andando nas ruas, o prefeito percebia claramente a hostilidade dos munícipes. Freqüentemente apontado pelos moradores, era considerado ‘persona non grata’, por muitos. Até mesmo seus companheiros de partido agora evitavam sua presença, temendo a repercussão negativa do caso. Apesar de muitos deles estarem envolvidos na denúncia, acreditavam que, por não terem seus nomes revelados, estavam a salvo.
Porém, ledo engano. Nos dias que viriam, muitos outros nomes envolvidos no escândalo, surgiriam.
E a cidade, mais uma vez, ganhava publicidade negativa.
Não bastassem os altos índices de violência, havia ainda o escândalo envolvendo os principais figurões da cidade.
Com isso, enquanto Joana se divertia vendo a derrocada do prefeito, Arthur só pensava em uma forma de se vingar da moça. Por isso, desde que tomou conhecimento do escândalo envolvendo seu nome, o prefeito da cidade, tentava de todos os modos possíveis, encontrar Joana.
Sentindo-se traído por Joana, tentava encontrar uma forma de chegar até ela, e acertar suas contas.
Seus assessores no entanto, percebendo que este encontro poderia não resultar em boa coisa, aconselharam o prefeito a deixar as coisas se acalmarem, para depois dar o troco. Isso por que, se ele conseguisse provar que tudo não passara de um equívoco, poderia enterrar para sempre a carreira jornalística de Joana.
Mas Arthur queria mais. Achando que era muito pouco apenas destruí-la profissionalmente, ele desejava acabar com sua vida, da mesma forma que ele achava que ela tinha feito com a sua.
Joana, porém, estava muito longe dali. Aconselhada por Cléber, resolveu dar algum tempo para depois voltar.
Entrementes, ao contrário do que prometera a Cléber, que depois de publicar a matéria, muito insistiu para que ela não voltasse mais para a cidade, Joana resolveu voltar.
E assim, antes mesmo que a situação se acalmasse, a moça retornou para a cidade.
Agora no entanto, ao contrário do que fizera na outra oportunidade, a moça resolveu alugar uma casa. Isso por que, sabendo que o escândalo renderia ainda muitas matérias jornalísticas, considerou uma ótima idéia morar na cidade por algum tempo.
O que ela não contava é com a ira do prefeito, que logo ficou sabendo do seu retorno. Sim, por que, depois de revelar ao país inteiro as denúncias envolvendo a administração de Arthur, tornou-se, da noite para o dia, uma pessoa conhecida.
Assim, em muitos dos lugares por onde passava, era reconhecida por algumas pessoas.
Por conta de sua matéria sobre a corrupção, chegou a ganhar um prêmio. Foi exatamente por isso que passou a ser rapidamente reconhecida. Ao virar notícia, se tornou uma jornalista com credibilidade.
Mas o que ela não sabia, era que isso custaria muito caro para ela.
Isso por que, sendo conhecida, tornava-se um alvo fácil para o prefeito que dessa forma, a localizaria com muita facilidade.
Dito e feito.
Arthur logo que soube que Joana se encontrava de novo na cidade, fez de tudo para encontrá-la.
Tarefa que, diga-se de passagem, não foi das mais complicadas.
Isso por que, contando com a ajuda de seus assessores, o mesmo conseguiu facilmente descobrir onde ela estava. Os assessores, incumbidos da tarefa de descobrir onde a moça estava, constataram que a jornalista alugara uma casa para morar. Ao saberem disso, foram logo contar ao prefeito que ficou deveras satisfeito com a notícia.
Finalmente Arthur iria se vingar daquela mulher.
Aquela mulher que acabara com sua carreira política. Aquela meretriz, em suas palavras.
Tomado de profundo ódio, passava os dias a pensar em qual seria a melhor vingança. Inobstante sua ira com relação Joana, Arthur, por mais que pensasse, não conseguiu chegar a nenhuma conclusão. Apesar de astuto, seu ódio obscurecia sua mente, e assim, o mesmo não conseguia chegar a nenhuma conclusão.
Constatando que não seria nada fácil se vingar da moça, o homem encheu-se de coragem e foi até a casa dela conversar.
Joana, ao perceber a presença do político em sua casa, ficou tremendamente surpresa. Assustada, ao vê-lo diante de si, pediu a ele que fosse embora imediatamente.
Arthur porém, não arredou o pé. Insistindo em dizer que precisava conversar, falou que não sairia de sua sala enquanto ela não lhe dirigisse a palavra e lhe explicasse por que havia feito aquilo.
Joana, assustada, foi logo argumentando que não tinha nada a explicar, e que portanto, ele não tinha nada que fazer ali. Ordenando que ele fosse embora, a moça insistiu para que ele partisse.
Arthur ao ouvir o pedido da moça pela segunda vez, perguntou em tom de desafio:
-- E se eu não sair, o que vai acontecer?
-- Infelizmente, eu vou ter que chamar a polícia. – respondeu ela decidida.
Arthur então, percebendo que a moça não estava de brincadeira, resolveu sair. Mas, antes deu-lhe um aviso:
-- Eu vim aqui com a maior boa vontade do mundo. Você não quis conversar comigo. Agora eu não posso prometer que nada de mal vai te acontecer. Mocinha, você mexeu num campo minado, cuidado não para ser uma vítima da guerra.
Ao ouvir isso, Joana, insistiu para que ele fosse embora.
Foi o que Arthur fez.
Contudo, as palavras do ainda prefeito, deviam ser levadas em consideração. Isso por que, ele não estava de brincadeira.
Tanto que Cléber, ao ouvir a história da boca de Joana, ficou assombrado com a tranqüilidade da amiga. Advertindo-a de que ele não estava de brincadeira, recomendou a ela, que não andasse sozinha pela cidade.
Joana, ao perceber a preocupação do amigo jornalista, caiu na risada. Desdenhando do zelo do amigo, disse-lhe que não havia nada com que se preocupar, até por que, aquele era o último rugido do leão.
Mas Cléber estava assustado.
E tinha razão para estar.
Não bastou uma semana para que Joana fosse alvo de um terrível atentado. Ao passear de carro pelas ruas da cidade, a moça percebeu que haviam cortado os freios de seu veículo. Sem ter como parar, acabou batendo num poste de iluminação. Por sorte, a moça se feriu apenas levemente.
Mas, mesmo desconfiada de que poderia ser um atentado, Joana ficou ainda mais ávida por denúncias a respeito de Arthur.
Enquanto isso, Olívia, preparando-se para executar o plano dos amigos, passou a freqüentemente comprar drogas com o suposto traficante. Indo reiteradas vezes até o local, descobriu que o meliante vendia diversos tipos de produtos, inclusive armas e objetos contrabandeados.
Freqüentando o ponto, descobriu também, que o mesmo possuía intermediários pelos arredores. Além disso, o mesmo era receptador e possuía vários homicídios em sua longa ficha criminal.
Olívia, de posse dessas informações, passou a documentar tudo o que estava acontecendo. Diariamente, relatava ao delegado, todos os passos de sua investigação.
Otaviano, cada vez que percebia progressos na investigação de Olívia, ficava mais e mais animado.
Fabrício e Alessandro, também, de posse das informações, deram-se conta, de que era apenas uma questão de tempo para agirem.
Com isso, no momento em fora dado o sinal verde, os mesmos estavam prontos para agirem.
E assim o fizeram.
Cercando o local, prenderam o traficante, vários de seus auxiliares, bem como alguns usuários, que naquele momento compravam drogas no local.
Quando os mesmos se viram cercados pela polícia, imediatamente, tentaram se evadir.
Mas felizmente, não conseguiram. Com a ajuda da polícia de outras cidades, o delegado Otaviano conseguir cercá-los completamente.
O perigoso bandido, ao ser levado para a delegacia, reconheceu Olívia.
Ao vê-la vestida como policial, o mesmo percebeu que havia caído em uma emboscada. Furioso por ter sido enganado, prometeu de se vingar de todos.
Alessandro ao ver o ódio estampado no rosto do bandido, ficou preocupado com Olívia.
Fabrício, percebendo que a preocupação do amigo excedia os limites do convencional, começou a brincar com ele. Dizendo que ele estava muito preocupado com quem era apenas uma colega de trabalho, Fabrício, conseguiu irritar o amigo.
Tanto que Alessandro, ao ser interpelado neste sentido, mandou logo que o amigo se calasse. Impaciente, deixou Fabrício falando sozinho.
Nisso, no dia seguinte, em resposta a prisão do traficante, a delegacia foi alvo de tiros.
Olívia, que estava de folga, ao voltar e ver a delegacia toda cheia de marcas de tiros, ficou deveras espantada.
Tanto que ao ver a situação do Distrito Policial, temeu que alguns de seus colegas tivesse se ferido no tiroteio, ou mesmo que os bandidos estivessem sido libertados.
Porém ao entrar, descobriu, que apesar dos estragos materiais que sofrera a delegacia, ninguém havia se ferido.
Isso por que, assim que os disparos começaram a ser efetuados, todos se abaixaram. Desta forma, ninguém se feriu.
Olívia, impressionada com o evento, perguntou ao delegado, se essa era uma reação comum.
Otaviano respondeu que não. Surpreso, disse que nunca tinha se deparado com uma situação igual. A não se no caso do linchamento, nunca vivera uma situação tão absurda. Contudo, havia uma coisa que ele não conseguia entender. Se haviam investido com tanta violência contra os policiais, por que não invadiram a delegacia, e resgataram os presos?
Assombrado com a possibilidade de ver a delegacia ser invadida por bandidos, o diligente delegado, pediu reforço para outras cidades.
Assim, ainda no fim da tarde, um novo contigente policial, fazia uma ronda nas principais ruas da cidade.
Antes do cair da noite, temendo pelo pior, Otaviano, foi conversar com o prefeito. Aconselhando-o a efetuar o toque de recolher, avisou que se novamente viessem a atacar sua delegacia e seus homens, não haveria muito o que fazer com relação aos civis. Por isso mesmo, a melhor solução era todos se recolherem mais cedo para suas casas.
Arthur, sem levar em contar a advertência do ilustre delegado, se negou a realizar o toque de recolher.
Quando caiu a noite, para desespero do delegado, novamente atiraram contra a delegacia. Porém, desta vez, ao invés de simplesmente causarem danos as instalações, os bandidos conseguiram ferir Alessandro.
Olívia, ao ver o amigo baleado, caminhou de gatas até sua direção.
Preocupada com seu ferimento, ao se dar conta de que não havia como removê-lo dali, passou ela mesma a fazer os primeiros socorros. Rasgando um pedaço da própria camisa do rapaz, Olívia estancou o sangue. Antes porém, fez o possível para limpar o ferimento, e como a ajuda do rapaz e de outros policiais, levou o mesmo para um lugar seguro, dentro da delegacia.
Os policiais, percebendo que o delegado, estava se expondo muito, recomendaram que ele ficasse com Alessandro, o mais distante possível da confusão.
O delegado então, percebendo a preocupação de seus subordinados, respondeu que não tinham que se preocupar com ele. Como homem sensato que era, o mesmo não iria se expor, desnecessariamente.
A população, que àquela altura, ainda estava andando pelas ruas da cidade, ficou apavorada. Ao ouvirem o barulho de tiros, os mesmos passaram a correr em desabalada carreira. Alguns, no meio da confusão, tentavam voltar para casa. Outros, desorientados, não sabiam para que lado correr, e assim, ficaram durante longo tempo, tentando se esconder.
O prefeito, ao tomar conhecimento do que se passava na cidade, logo percebeu que havia dado o golpe definitivo para que Joana o aniquilasse.
E o pior, a decisão que dera causa a toda aquela confusão, havia partido de sua própria omissão. Preocupado, pensou que assim que a jornalista infame soubesse disso, fatalmente usaria isto contra ele.
Desesperado, Arthur percebeu que se não tomasse medidas urgentes, enterraria de vez sua carreira política. Por isso mesmo, consciente do mal passo que havia dado, contatou imediatamente a redação do jornal da cidade e concedendo uma entrevista, comprometeu-se a dar todos os esclarecimentos a respeito do assunto.
Enquanto isso, na cidade, tiros ainda eram disparados a esmo, a fim de causar confusão e desordem públicas. Mas, a essa altura, os poucos populares que ainda não haviam voltado para casa, estavam bem escondidos em casa de amigos e parentes nos arredores.
Resultado da nefasta noite: um ferido.
Depois que a confusão acabou, Otaviano recomendou que os policiais saíssem pelos fundos, discretamente.
Diante isso, os policiais, que haviam ficado fazendo a ronda nas ruas da cidade, depois da confusão, voltaram para a delegacia.
Chocados com a violência, os policiais de outra cidade se comprometeram em ficar durante mais algum tempo por ali.
Comunicando a gravidade da situação, seus chefes superiores, não se opuseram. O único cuidado que deviam ter, era não serem alvos também, de toda aquela violência.
E assim, os policiais permaneceram na cidade.
No dia seguinte, a população, revoltada, pedia uma solução da polícia.
Arthur, prefeito da cidade, concedeu uma entrevista a Cléber, explicando tudo o que havia acontecido no dia anterior.
Dizendo-se surpreso com os últimos acontecimentos, comentou que não esperava que um novo ataque ocorresse tão depressa.
Sempre tentando eximir sua responsabilidade, alegou que aqueles, eram eventos isolados, e que eles já estavam tomando todas as providências necessárias, para resolverem o problema.
Joana, por sua vez, entrevistou o delegado de polícia, e este deu uma versão contrária a do prefeito.
Otaviano, alegando que havia contatado o prefeito e pedido a ele que realizasse um toque de recolher, ouviu de sua boca que não o faria. Talvez por acreditar que um raio não caía duas vezes no mesmo lugar, achou que não havia perigo.
A jornalista então, perguntando se o concurso recentemente realizado não suprira a necessidade de novos policiais, descobriu que diante da nova situação apresentada, nem o novo contingente era suficiente.
Joana ficou perplexa. Não só pela violência, mas também pela impotência da polícia. Chocada, a moça comentou com o delegado, que aquele quadro que se delineava na cidade, fazia a lembrar-se de sua querida São Paulo, que tornou-se, com o passar dos anos, uma cidade bastante violenta. Preocupada, comentou que não queria que o que vinha ocorrendo nas grandes cidades do país, virasse rotina naquela que um dia fora também, uma pacata cidade do interior.
Nisso, Otaviano, percebendo a inquietação da moça, perguntou-lhe então, o que ela sugeria.
Joana, surpresa com a pergunta, respondeu, que essa resposta, não era algo fácil de ser dado.
Contudo, ponderando um pouco sobre a situação, percebeu que somente a união de todos, polícia, poder público e população, poderia resolver o problema. Pensando na situação da cidade, a jovem jornalista comentou, que a população também contribuíra para deixar o caos se instalar.
Otaviano, só ficava ouvindo.
Joana então prosseguiu. Dizendo que muitos ali compravam drogas, produtos roubados, contrabandeados, pirateados, bem como praticavam e recebiam suborno, a moça argumentou que essas pessoas alimentavam a indústria do crime.
Otaviano, assentiu com a cabeça. Porém, nada disse.
-- Sim! Estas pessoas estimulam toda essa cultura de violência. Estão compactuando com tudo isso, e depois se acham no direito de reclamar quando tudo está errado. Mas fomos nós que criamos essa confusão. E é a nós que cabe desatar esse nó. Agora, como faremos isso? Com paciência e perseverança, com a participação de todos. Se alguém vir alguém suspeito, denuncie. Se perceber uma atitude suspeita, avise a polícia. Não deixe o crime acontecer. Seja atuante. Não queira pôr sua vida a prêmio. Aquilo que puder ser feito, faça. Avise a polícia. Mas não brinque com ela. Discuta propostas de como acabar com a violência. Ponha a polícia nas ruas, deixe as pessoas verem que os policiais não são monstros, e sim pessoas preocupadas com o bem estar social. Remunerem melhor nossos policiais, ministrem cursos de capacitação, dêem um horário bom de trabalho, estimulem os policiais, motivem, façam eles sentirem-se parte de algo muito importante que é a sociedade. Que o poder público, faça sua parte, que ocupe os presos com trabalho. Os menores também. Afinal de contas, mente vazia é a oficina do demônio. Não misturem presos perigosos com batedores de carteira. Faça-os trabalharem, faça-os se manterem na cadeia. Estimulem sua recuperação. É assim que as coisas melhoram. E acima de tudo, dêem oportunidades para as pessoas trabalharem. Por que sem isso, fica difícil manter a segurança pública. Quando as pessoas não tem nada a perder, é que elas se tornam mais perigosas.
Otaviano, ao ouvir o discurso da jovem jornalista, aplaudiu entusiasticamente. Surpreendido pelo bom senso da jovem, ele finalmente comentou:
-- Percebo que você é uma pessoa bastante esclarecida. Esclarecida e inteligente.
Joana riu.
Otaviano então, percebendo que ainda tinha perguntas a responder a jornalista, comentou com ela, que tentaria falar com o prefeito e sugerir uma série de medidas, para conter o problema da violência que já há muito, assolava a cidade.
Joana, ao perceber a boa vontade do delegado, prometeu que faria o possível para publicar aquela matéria no dia seguinte.
Otaviano respondeu que esperaria.
Com isso, quando finalmente encerrou entrevista, o delegado foi até a delegacia.
Quando lá chegou, seus homens já estavam arregaçando as mãos para repararem os estragos. Trabalhando como pedreiros, faziam o que podiam para consertar os estragos.
Otaviano ao ver o empenho dos policiais, ficou profundamente emocionado. Tão emocionado que fez questão de ajudá-los na difícil tarefa.
Enquanto isso Joana, trabalhava a todo o vapor para imprimir uma edição extra do jornal da cidade.
Cléber, comentando que tinham uma entrevista do prefeito da cidade sobre o assunto, alegou também precisava imprimir sua matéria.
Diante disso, os dois, ao tomarem conhecimento do teor das diferentes matérias, pensaram juntos, e chegaram a conclusão que o melhor a ser feito, era publicar uma nova edição, com as duas entrevistas.
Dito e feito.
A nova edição, ao chegar as bancas, causou furor. Isso por que, a população, interessada em saber o que as autoridades da cidade tinham a dizer a respeito do assunto, trataram de comprar o jornal.
Ao lerem impresso no jornal que Arthur nada fizera diante do apelo do delegado, ficaram revoltados.
Alguns mais exaltados, foram protestar em frente a prefeitura. Enervados, chegaram a atirar paus e pedras em direção as janelas.
Arthur então, percebendo que os populares iriam invadir a prefeitura, ligou imediatamente para a delegacia pedindo para alguns policiais fossem até lá para dispersar a multidão enfurecida.
Otaviano, ao ouvir o pedido do prefeito, destacou alguns homens para o trabalho. Aproveitando a oportunidade, resolveu acompanhá-los, e assim, conversar com o prefeito.
Com isso, assim, que a multidão foi dispersada pelos policiais, o delegado adentrou o prédio da prefeitura, e foi conversar com Arthur.
O prefeito, irritado com as declarações do delegado, disse a ele, que o mesmo não devia ter feito aquele comentário, até por que, o mesmo não correspondia exatamente a verdade.
Otaviano, ao ouvir as palavras do prefeito, caiu na risada. Comentando que não havia aumentado uma vírgula na história, disse que havia dito pouco perto do que ele sabia a respeito da negligência dele com relação a questão da segurança pública.
Arthur irritado, comentou que sem ele, não haveria um contingente maior de policiais na cidade, já que foi ele que autorizou a abertura do concurso para o preenchimento de cargos de policiais.
Otaviano comentou então, que diante dos últimos acontecimentos, ele não tinha mais como se negar. Até por que, diante do quase linchamento de dois policiais, se não fizesse o que tinha a obrigação de fazer, ficaria definitivamente desmoralizado.
O prefeito, ao ouvir as duras palavras do delegado, ficou profundamente irritado. Contudo, sem ter como discutir, acabou propondo um acordo ao delegado. Dali por diante, realizaria o toque de recolher.
O delegado ao ouvir isso, caiu na risada.
Arthur, irritado, perguntou:
-- Mas o que é tão engraçado assim?
-- Até onde vai o seu jogo prefeito? Ou o senhor acha que depois do que aconteceu, as pessoas vão ficar dando sopa até altas horas, na rua? Depois que escurecer, todo vai é pra casa. Não é mais preciso toque de recolher. As pessoas já estão suficientemente assustadas para isso ser necessário.
-- Mas então, o que é que o senhor quer que eu faça?
-- Quero que o senhor organize uma reunião, na praça principal da cidade, com toda a população, com a presença do poder público – representada na pessoa de Vossa Excelência, bem como de seus vereadores –, com a polícia e a imprensa.
Arthur, sem ter alternativas, depois de resistir um pouco, acabou concordando com o delegado, e assim, no final de duas semanas, finalmente a reunião se realizou.
Durante a reunião, coberta pela imprensa, a população discutiu propostas de segurança pública.
Alguns sugeriram mais policias, outros mais treinamento dos policiais já existentes. Alguns sugeriram que criassem um telefone para que a população pudesse denunciar os crimes. Assim, sempre que alguns deles visse algo suspeito, poderiam logo avisar a polícia.
Um popular, sugeriu que as rondas da polícia cobrissem um número maior de quarteirões. Outro sugeriu que se fizessem trabalhos sociais e voluntários na parte pobre da cidade.
Muitos sugeriram melhor iluminação em certos pontos da cidade, que escuros, facilitavam a ação de ladrões.
Nesse ponto, o delegado sugeriu a que a delegacia, não deveria ficar tão exposta nem num lugar tão escuro. Respaldado pelas palavras de um cidadão, Otaviano comentou que precisavam de um nova delegacia.
Uma senhora pediu ao prefeito, mais escolas e mais trabalho.
Outro cidadão, sugeriu que dessem ocupação aos presos e aos menores.
Outro ainda sugeriu que deveria ser feito um trabalho de prevenção, dando-se iguais oportunidades a todos. Assim, os índices de violência despencariam.
Enfim, cada um deu sua idéia, e no fim, muitas idéias boas surgiram.
Arthur então, percebendo que tinha muito a fazer, alegou que faltavam verbas para todos aqueles projetos.
A população, insatisfeita, ao ouvir o prefeito, começou a vaiá-lo.
Desmoralizado, Arthur foi rapidamente levado dali, em meio a ovadas e vaias.
Enfurecido, só conseguia achar uma culpada para toda aquela confusão. A culpada era Joana. Porém, toda a vez que pensava em se vingar dela, não conseguia ter nenhuma boa idéia.
Enquanto isso, sua desmoralização política, se tornava cada vez maior. Sendo investigado, vieram logo à tona todas as suas falcatruas.
Não bastasse isso, ocorreu uma enchente na cidade, em razão das prolongadas chuvas daquele verão.
Superando o índice pluviométrico esperado para a época, o rio transbordou e inundou várias casas que ficavam próximas.
Joana, que morava próxima do rio, teve sua casa inundada. Assustadoramente a água cobriu todo o primeiro pavimento da casa. Sem ter outra alternativa, a moça foi se proteger no segundo andar da residência.
Apavorada, só conseguiu sair de casa, no dia seguinte, quando a água baixou.
Em razão disso, a moça, aproveitando a situação, resolveu publicar uma outra matéria sobre o prefeito.
Foi a gota d’água.
Em razão de seu último gesto, Joana passou a receber ameaças de morte.
Cléber, alertando-a sobre seu acidente, pediu encarecidamente, para que ela fosse embora dali e nunca mais voltasse.
Joana, percebendo a gravidade da situação, prometeu ao amigo, que viajaria assim que pudesse.
Porém, antes que ela pudesse pensar nisso, Arthur foi destituído do cargo.
Ao saber da novidade, a moça ficou feliz. Contudo, não dava para esconder que também estava preocupada com a novidade.
Isso por que, sem ter que se preocupar com o cargo que ocupara, agora o homem estava livre para praticar qualquer atitude impensada. Desmoralizado, havia encerrado de vez sua carreira política. Estava acabado.
E assim, foi questão de dias para que Joana, fosse acossada pelo prefeito.
Ao sair da redação do jornal, um dos assessores do prefeito, puxando-a pelo braço, empurrou-a para dentro de um carro, e levou-a até Arthur.
O homem, ao vê-la se aproximar, prometeu que a faria se arrepender do dia em que havia nascido.
E teria o feito, se não fosse impedido pelo barulho da sirene da viatura da polícia, que rondava o local.
Não fosse por isso, certamente Joana teria sido morta por Arthur.
Com isso, o vice-prefeito, que passara a ocupar o cargo, ao se ver implicado no escândalo que destruiu a carreira de Arthur, acabou por renunciar ao cargo. Temendo sofrer as mesmas sanções que o antigo prefeito sofrera, resolveu desistir de continuar a governar. Com isso mais para a frente, poderia novamente se eleger.
Assim, uma nova autoridade ocupou o cargo.
Como faltava pouco tempo para as eleições, logo logo um novo prefeito, escolhido pelo povo, ocuparia o cargo.
E assim foi.
Otaviano, convidado por inúmeros vereadores e populares para ocupar o cargo, acabou concordando em se candidatar.
Venceu tranqüilamente as eleições.
Isso por que seu adversários, estavam todos envolvidos em escândalos e corrupção, e assim, ele era a única personalidade impoluta no meio de todos aqueles políticos.
Venceu e colocou em prática todos os seus projetos em matéria de segurança pública. Governando em parceria com a população, investiu em projetos sociais, e incentivou a abertura de indústrias na cidade. Fez o mercado de trabalho crescer, o desemprego diminuir. Passou a fiscalizar as entradas da cidade, a contar com a colaboração da população, que sempre avisava a polícia quando via algo suspeito.
Enfim, um governo bem diferente do de Arthur, que pecava pela corrupção.
Joana percebeu isso.
Otaviano, percebendo a perspicácia da moça, nomeou-a para cuidar da pasta da educação e da cultura na cidade.
Joana, agradeceu o convite e animada, convidou Cléber para ser seu braço direito.
Fabrício e Alessandro passaram a cuidar da pasta da segurança pública.
Já Olívia, voltou a estudar e tencionando ser delegada, se esforçava para atingir sua meta.
Alessandro, que sempre conheceu a dedicação da moça, sentiu-se deixado um pouco de lado no começo, mas depois, aconselhado pelo amigo, e estando também ele, assoberbado de trabalho, acabou entendendo-a.
Fabrício, percebendo a mudança na vida dos dois, comentou com o amigo, que ele logo logo faria parte do time dos casados.
Alessandro, achou graça no comentário.
E os dois se abraçaram.
Enquanto isso Arthur, cansado de ser vaiado pela população, arrumou suas malas, vendeu sua casa, e foi embora da cidade. Os demais políticos, envolvidos no escândalo de corrupção, depois da fragorosa derrota nas eleições, fizeram o mesmo.
Não que a cidade tenha ficado livre de políticos corruptos. Mas a bandalheira diminuiu sensivelmente. Tanto que a população, apesar de alguns problemas, não se cansava de elogiar a nova administração.
Otaviano era um grande prefeito.
Diziam.
Não estavam errados. Tudo que era possível fazer, ele fazia.
É assim que são os grandes políticos. Atuantes, e preocupados com bem estar social.
Pena que poucos sejam os que pensem assim.

Luciana Celestino dos Santos
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