Poesias

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Outros Tempos

E a chuva que não para de cair
Janelas recobertas de brilhos efêmeros
E o dia escuro e triste

Odisséia para se chegar a algum lugar
Adequadamente paramentada para a frialdade dos tempos
Longo casaco negro, vestido de lã, blusa de lã, botas, luvas
Luta por um melhor lugar neste mundo inóspito
Selva de um ideal civilizatório

Saudades de um mar, de espumas brancas
Claro límpido
Com suas espumas a brilharem de azul em meio a noite nublada
O movimento das águas a espalhar partículas de luz azul
E o horizonte em tons marinhos

Belos momentos para se afastar dos falatórios
A só se pensar na beleza da vida
A se esquecer das maldades e competições
Esplendor

Gaivotas a voar
Superfícies de gramas, cobertas de água clara
Resultado das chuvas que não param de cair
A cidade em azul permanente
Peruíbe a mais parecer a cidade das águas
Águas que nunca cessam

E agora a chuva ...
Chuva novamente, não bastasse a semana de antanho
Igualmente chuvosa

As gotas na janela, a produzirem singelos brilhos
E eu a dedilhar as letras, em um velho teclado
Cadeira em desalinho
Estando em São Paulo

O prédio a frente, branco,
Com janelas quadriculas ovais
De aspecto soturno e abandonado
Estranho lugar
Por cá, estranhas paragens
Olhos sequiosos de belezas,
Em meio a fealdade das construções

A chuva, ora a chuva, continua a cair
Chuva perene,
A fazer-se dama de companhia para a tarde triste
A chorar a chuva constante
Lembrei-me de outra linda canção
Diante deste tempo terrível,
Dia taciturno e triste, tenso

Somente ao cair das horas,
A chuva junina se dissipou
Atenta, procurei partir

Regressei ao meu lar de novos modos
E percorrendo novos caminhos,
Descobri uma nova forma de as mesmas coisas fazer

Um horizonte de novas possibilidades
Novo ambiente
Ou um museu de grandes novidades,
Como diria Cazuza

Em tempo, ao chegar ao lar
Pude me ocupar de minhas coisas
Novos projetos realizei
Fotos finalmente pude apreciar

Lindas paragens de verdes paranaenses, sulistas, e peruibenses
Veredas mil, a compor este imenso e colossal
Vasto, varonil, meu Brasil!
E o tempo a passar ...

Nas manhãs madrugadeiras
Percorri os mesmos horizontes sob novo prisma
As brumas densas
A lançarem um quê de branco sobre a noite escura
E o frio a nos rondar

O trolebus a passar rapidamente,
O trem a andar no mesmo embalo
Cadente velocidade
Cheio das gentes em seu interior
O metrô linha verde, repleto como sempre

E eu entretida em minhas leituras
Agora a desbrava r a hermosa letra
De Federico Garcia Lorca
E seus poemas originais sobre o amor
Textos em espanhol, tendo ao lado sua tradução

E estando eu a ler,
E eu a decidir se o caminho fico a seguir
Pensei então descansada, em seguir até a Consolação

Ao lá chegar, atravessei longos caminhos,
Corredores extensos,
Cadenciados passos

O lado oposto a se avolumar
Para enfim, chegar a linha amarela
Com seus carros abertos
Podendo se passar de um lado para o outro

Muitas escadas para se acessar a linha vermelha,
Na estação a lembrar da coisa pública “res publica”
Enfim se chegar ao destino com folga

Trabalho para se realizar
Leituras diárias, notícias na internet
Raciocinar embalada por boas canções
A animar o trabalho

Outros tempos,
Pois na vida, há tempo para tudo
Trabalhar, estudar, ler, pensar, se divertir
Enfim, sobra um tempo até para sorrir

Luciana Celestino dos Santos
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