Poesias

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Meninice

O menino a passear de mãos dadas com seu pai
A tudo contemplava
As brincadeiras das crianças
Seus pais empurrando seus filhos
O lago com patos e aves

O garoto a observar os bichos, pedia para seu pai
Que também olhasse para eles
Indagava ao homem sobre a beleza das paragens

Seu pai concordava com o encantamento da criança
Dizia que um espaço verde como aquele
Era um verdadeiro deleite
Regozijo para a alma

O menino indagou-lhe a significação das palavras
E o pai, pacientemente explicou-lhe
Que aquele parque era um lugar muito encantado e especial

Nisto a criança aproximou-se das flores
Perguntou-lhe as espécies
E o pai respondeu os nomes das flores que conhecia
Apontou-lhe girassóis amarelos, lírios, antúrios, hibiscos...
Nas árvores, mostrou-lhe os passarinhos a bicarem,
As frutas deixadas nos galhos
E o menino a tudo contemplava, extasiado

Maravilhado,
O menino não cessava de a tudo perguntar
Curiosidades enfindas
De criança, a despertar
Sua curiosidade infantil
Perguntas mil

Entre elas:
Como nascem as borboletas?
O pai zeloso e atento
Ficou a pensar
Como explicar tal mistério?

A pensar e pensar
A uma conclusão chegou
E resolveu explicar:
As borboletas nascem
Feiosas e com pelos urticantes
Os quais queimam, a quem neles se encostar
É sua defesa, contra o ataque dos predadores
Seus inimigos naturais

A criança por sua vez, não apreciou a explicação
Tanto que chegou a questionar:
Como pode um ser tão lindo
Ter tão feia aparição?

O pai, percebendo a incredulidade da criança
Explanou:
Mas não se trata de um estágio definitivo
De feia lagarta, que queima
A larva se encasula,
A qual nada mais é que uma nova fase
Em sua diversificada vida
E neste processo, se modifica
Embelezando-se e enchendo-se de cores e vida

A criança intrigada, a perguntar
O que significa encasular?
O pai diligente, trata logo de explicar:
Este singelo ser
Passa por um período em que perde
Suas urticantes células
Transformada em larva
É envolta em uma trama viscosa
Onde permanece acrisolada, se aperfeiçoando
Envolvida em uma cripta
A larva se desenvolve e se transforma
A se depurar e a transformar em voador ser

Curioso, o menino pergunta ao pai:
Como o bichinho faz para se libertar?
E o pai lhe responde, desvendando o mistério:
O bichinho feioso, agora transformado
Metamorfoseado em linda borboleta
A antiga crisálida envolvida em seu casulo
Luta com todas as suas forças contra a barreira,
Limite aparentemente instransponível,
Abre brechas, transpõe o limite,
E ganha a liberdade!
Livre e dotada de asas, voa
Voa, voa para muito longe

Está pronta para experienciar uma nova realidade
Muitos jardins para passear
A embelezar com sua gama de cores
A delicadeza de seu vôo
Pari passo com o vôo estilístico do beija-flor

O menino, sem muito compreender
As complicadas palavras do pai
Pergunta-lhe a significação das frases

Paciente, o pai lhe explica que a borboleta
Inicialmente taturana, transforma-se em um lindo ser
A qual, após passar por um processo de transformação
Liberta do obstáculo inicialmente instransponível
Ganha ares e mostra suas belas cores
Estampadas em suas duas asas

Nisto o menino pergunta sobre o beija-flor
O pai indaga sobre o que ele quer saber
O menino, sem saber o que dizer, pensa,
Pensa, pensa, coça sua cabeça,
E dispara:
Sei lá! Fale tudo o que você sabe!

O pai então, começa a explanar:
Trata-se de uma linda ave
Capaz de tirar o pólen das flores com seu longo bico
E a permanecer estático em pleno vôo
De cores azuladas, esverdeadas, belas penas,
Delicado porte, a cortejar as flores do jardim

Interessado na narrativa, o menino pergunta:
E como é este jardim?
O pai, respirando fundo, diz:
É um lindo jardim, cercado de muito verde
Repleto de flores, de cores e formatos diversos
Na entrada da casa, um caramanchão
Lindas esculturas, uma bela fonte
E mil passarinhos a brincar
Voam de um lado para outro no jardim
Fazem ninhos nas copas das árvores
Trazem sons agradáveis para o lugar

E o menino pergunta:
E as borboletas papai?
Também fazem parte do passeio?
Mas é claro que sim!
Responde o pai amoroso,
Sempre disposto a esclarecer seu curioso filho
E completando a explicação:
Neste jardim, as borboletas reinam soberanas
Ornadas de lindas cores, bonitos desenhos em suas asas
Fazem a inveja dos pardais, com sua penugem marrom
Pousam nas plantas do lugar
Beijam as lindas flores do jardim!

Neste ponto, o menino solta uma gostosa gargalhada:
Papai, você é muito engraçado!
O homem ri e pegando a criança nos braços
Começa a lhe fazer cócegas
O garoto, ri, e ri, ri até cansar
Em dado momento, pede para que o pai pare

O pai, o coloca então, novamente no chão
E o menino perguntador
Continua a elaborar perguntas

Como nascem os pássaros?
E o pai a explicar:
Nascem de ovos que são cuidados por suas mães
Estas aves constroem ninhos no alto das árvores
Para abrigar seus filhotes,
E cuidam deles levando-lhes comida,
Regurgitando em seus bicos
Ensinando os pequenos a voar
E estes com o tempo, ganham o mundo
Inicialmente temerosos, aos poucos
Ganham os ares em segurança

Sem compreender algumas das palavras paternas
O menino pergunta
E o pai lhe ensina:
As aves mastigam os alimentos,
E o levam digeridos a boca dos filhotes

O garoto, impaciente com as delongas, indaga:
A ave vomita a comida para os filhinhos?
O pai assente com a cabeça
Enojado, o menino diz que as aves são estranhas
O homem por sua vez ri
E diz que tudo na natureza tem uma motivação
As chuvas caem por necessidade de nutrir a terra
Devolvendo ao solo, o que lhe foi retirado na evaporação

Novas perguntas ao pai
O homem calmamente vai respondendo uma a uma
Evaporação, é o processo de absorção da água
A água evapora com a ação do sol
Acumula-se nas nuvens
Que após algum tempo, se precipitam sobre o solo
Na forma de muitas gotas de chuvas

Encantado o garoto respondeu que gostava
Gostava muito, de na chuva brincar
Bater os pés nas poças d’água e a tudo molhar
O pai contudo, ao ouvir as palavras do filho
Recomendou-lhe não fazer isto perto dos passantes
Isto por que ninguém gosta de na chuva se molhar

O menino comentou então
Que gostava de ver as gotinhas de chuva
A escorrerem pela janela, como a caminhar pelo vidro
Fazendo estranhos percursos
Rindo, o garoto respondeu que achava engraçado,
As janelas ficharem embaçadas

O pai neste ínterim, respondeu-lhe que as janelas ficavam assim
Por conta do frio externo, em contraste com o calor interno
O garoto encantado, dizia:
Gosto de na janela escrever,
Desenhos fazer, e mil coisas a conter

Em outro instante, reclamou do frio
Que vem lado a lado com a chuva
Estragando suas brincadeiras na rua,
Com seus coleguinhas
Sorrindo, o menino respondeu
Brincava de jogar bola, de pega-pega
Esconde-esconde, empinar pipa,
Andar de bicicleta, entre outros brinquedos

Neste momento, seu pai recomendou-lhe
Aos vizinhos não incomodar
Posto que quem não respeita a seu próximo
Não respeita a si mesmo
Argumentou sobre as voltas que o mundo dá
E que tudo nesta vida está para mudar
E o que hoje incomoda,
Amanhã poderá ser quem será, deveras incomodado

A criança procurou assimilar a preciosa lição
Comentou que não gostava de a ninguém incomodar
Mas dizia que muito poucos pareciam se importar
Com esta importante lição

O pai então, respondeu-lhe nem todos estavam prontos
Mas que o tempo de aprender
Para todos iria chegar
E que disto ninguém poderia escapar

Enigmático, dizia que todos os que aqui estão
Valiosa lição aprenderão
E quem mais disposto estiver a ela apreender
Mas facilmente se elevará

O garoto sorriu
Disse ser seu pai um homem muito sábio
No que o homem retrucou dizendo, que não e não
Nisto, o menino perguntou se sábio
Um dia também se tornaria,
Já que era um filhote seu

Rindo, o pai pegou novamente o menino nos braços
E amoroso respondeu:
Filhotes são os filhos das aves, dos animais em geral
Os filhos dos homens não são filhotes, e sim seus filhos
Obra de sua mais rica criação!

E assim, o garoto sorriu
Perguntou ao pai se ele uma pessoa importante
E o pai respondeu-lhe que sim
Disse que para todos os pais, e também para as mães
Os filhos são o que mais importa...
Nisto, pouco tempo depois, um tanto decepcionado,
O homem respondeu que ao menos,
Assim o deveria ser

A criança então, ao olhar em volta
Notou a presença de um homem andrajoso
Acompanhado de uma criança esfarrapada
Este homem era ríspido com o menino
Instando-o a mais depressa coletar o papelão,
Que levava em sua carroça

O menino então, indagou ao pai
Perguntou-lhe se aquele homem amava seu filho,
De tão terna e igual maneira

Suspirando o jovem pai respondeu:
Infelizmente, eu não acredito!
Nem todos os pais são amorosos com seus filhos
Nem todos os filhos respeitam seus pais
Mas a lição a que devemos seguir é de amar-nos,
Como o bíblico adágio de amar-nos uns aos outros

A criança olhou penalizada para o menino
A trabalhar tão duramente
Enquanto ele estava a brincar

Seu pai, ao perceber isto, comentou
Que ele não deveria se penalizar
Afinal de contas, não havia como a todos ajudar
Mas tentando confortá-lo, respondeu
Que poderia oferecer um pequeno auxílio
E assim, o rosto do menino se iluminou

Nisto o homem aproximou-se do catador
Perguntou-lhe se não poderia oferecer,
Um pouco de comida ao garoto
Irritado, o carroceiro mandou-lhe se afastar
E o rapaz tentando argumentar, êxito não obteve

A criança, ao presenciar a cena lamentou
Seu pai, ao notar a tristeza do garoto
Comentou que nem sempre toda ajuda é bem recebida
E que nem todos tratam bem as pessoas

Dizendo para seu filho a todos respeitar
Recomendou-lhe que ficasse atento àquelas cenas
E que quando pudesse fazer, ajudasse
Mas em percebendo não poder ajudar
Que se afastasse e respeitasse
Pois nem todos querem, ajudados ser
Argumentou que desta feita,
Não se pode apressar o entendimento das pessoas

A criança expressou inquietação
E seu pai respondeu-lhe que com o tempo
A lição entenderia
E cauteloso a saberia aplicar

Nisto o homem explicou-lhe:
Que nem todos ruins eram
Desta forma, o rapaz apontou para
As crianças que por lá passavam
Mostrou-lhe pais e mães amorosos,
Crianças felizes a brincar

Na praça, muitos pombos a comerem milho...
Quando o menino fez menção de delas se aproximar
Seu pai aconselhou-a a assim não proceder
Disse-lhe que as aves são bonitas
Mas transmitem doenças
E que o melhor a fazer era de longe contemplá-las
A criança lamentou, mas ao pai obedeceu

Nisto a dupla passeou pelas ruas da cidade
Passaram por estabelecimentos comerciais
Quando o menino se encantou com um brinquedo,
Exposto em uma enfeitada vitrine
O pai explicou-lhe que nem tudo na vida podemos ter
E que esta era uma outra lição, que ele deveria aprender

Sentando o filho em um banco, o homem falou-lhe:
O dinheiro limita as comerciais aquisições,
Mas sabendo administrar a contabilidade da vida,
Podemos de muitas coisas usufruir
Para tanto, devemos saber eleger,
As necessidades nossas

Afinal de contas:
Precisamos nos endividar e encher de mil coisas
Que tempo não teremos de usufruir,
Ou podemos escolher um entre tantos
E nos divertirmos bem
Abdicando de outras coisas que nem tão importantes, assim são?

Sorrindo, o menino entendeu
Disse que o brinquedo de fato bonito era
Mas ele possuía muitos brinquedos, e que muitos deles
Encostados estavam, sem uso e utilidade

E assim, o menino ficou a pensar e a pensar
Relembrou do garoto pobre
A papelão recolher
Imaginou qual triste era sua infância
Sem brincadeiras e divertimentos
Muito provavelmente, sem brinquedos

Pensativo, em dado momento
A seu pai perguntou:
Poderia eu doar alguns brinquedos meus
A crianças que menos tem do que eu?

O homem comovido, abraçou o filho
Disse-lhe que havia aprendido valiosa lição,
A qual não mais se esquecer poderia
E assentindo com a cabeça
Concordou com o pedido,
E ao em casa chegarem
Recolheram brinquedos em bom estado...
Dias depois a uma instituição encaminharam

Sorrindo, o menino respondeu que pode não ter conseguido
Àquela criança ajudar
Mas que a muitos outros poderia beneficiar

E o pai concordou
Argumentou que um pequeno gesto
A tudo pode transformar

E assim se afastaram
E a lição continuou
Pois sempre podemos algo novo aprender

A vida é assim!
Um eterno aprendizado
Na escola formal, no colégio, na faculdade
E na principal das escolas, a escola da vida!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

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