O tio a tentar demonstrar a sobrinha, o quanto as composições atuais são incompletas, com seus compositores a fazerem letras inconclusas.
A sobrinha a desdenhar das palavras do parente, como a dizer que tudo aquilo não passa de bobagem. Pura implicância. Dizia haver lindas canções com belas letras.
Os rapazes por sua vez, conversam alto, animados.
Um dos moço parecia não tirar os olhos da moça.
Clarissa usava um lindo vestido rodado branco com poás pretos.
Cabelos médios, cacheados.
Cássio encantou-se com sua figura.
A garota no entanto, a conversar com o tio, não percebeu os olhares.
Os demais convivas por sua vez, pareciam entretidos demais em fazer comentários sobre tudo, pequenas bobagens, e não percebem a intenção do moço.
A certa altura, o olhar permanece no ar, tão insistente, que se torna impossível não notá-lo.
E Clarissa se incomoda com isto.
Todos dizem ser o moço gente boa, o que não é o bastante para convencer a moça.
Clarissa procura olhar para outra direção.
A certa altura retira-se da sala.
Os olhares acompanham a moça até a mesma sair da sala.
Clarissa percebe os olhares a acompanhando.
Sente-se bastante incomodada com a insistência.
A sós com os irmãos da moça, Cássio começou a perguntar sobre ela. Quem era.
Inácio respondeu-lhe mal humorado, que era sua irmã e que ele tirasse os olhos dela, ou teria problemas com Seu Flaviano, o pai da jovem.
Sem graça, Cássio mudou rapidamente de conversa.
Mas sempre que a moça aparecia na sala, o moço aproveitava para observá-la.
Clarissa fingia não perceber.
Como as visitas se tornassem constantes, Clarissa passou evitar permanecer muito tempo na sala.
Não gostava do moço e sua presença a incomodava.
Com o tempo, o rapaz angariou a simpatia de Flaviano, que passou a convidá-lo a ir mais vezes a sua casa.
Era colega de faculdade de Flávio, irmão mais velho de Clarissa.
Nesta época a moça estava estudando bastante, tencionava cursar uma faculdade.
Clarissa por sua vez, após muito conversar com o pai, e auxiliada por Cristiano, finalmente conseguiu convencer o homem a deixá-la ingressar em uma faculdade.
Flaviano, acreditando que a moça não conseguiria obter êxito nos exames, concordou finalmente.
Clarissa agradeceu-lhe oferecendo-lhe um abraço e um beijo.
Estava entusiasmada com a ideia de fazer uma faculdade. Coisa rara para as moças do lugar.
O homem, comovido, pediu para que deixasse de bobagem.
A moça agradeceu também a Cristiano, que ajudou-a na tarefa de convencer o viúvo turrão.
E assim, quando Clarissa voltava do trabalho, aproveitava para estudar.
Dedicada acabou ingressando da faculdade de letras da capital, para desgosto do pai, que não contava que a filha fosse de fato conseguir aprovação.
Contudo, como já havia empenhado sua palavra, não podia voltar atrás.
E assim, depois de algumas boas conversas de Flaviano com Cristiano, a moça finalmente conseguiu autorização para se matricular no curso.
Cristiano argumentou que se tratava de uma instituição conceituada, e que isto lhe traria bons resultados.
A Flaviano, só restou concordar.
Feliz, Clarissa então, passou a frequentar as aulas.
Animada, por algum tempo, chegou a esquecer da presença incomoda de Cássio.
Afinal de contas, quase não permanecia em casa, possuindo pouco tempo e probabilidade de encontrá-lo.
Cássio por sua vez, ao se aproximar de Flávio, passou a frequentar cada vez mais a casa da família.
Em razão da amizade, por diversas vezes passaram as tardes estudando juntos.
Por diversas vezes, sondou o amigo em busca de informações a respeito da moça.
Ao vê-la sempre estudando e carregando livros para cima e para baixo, perguntou-lhe se era muito aplicada nos estudos.
Flávio respondera que de todos os irmãos, ela era de longe a mais estudiosa.
Cássio brincou dizendo que nem ele era tão afeito aos estudos assim.
Flávio retrucava dizendo que ninguém era mais estudioso que sua irmã.
Nas poucas vezes em que viu a moça estudando na sala da casa, Cássio ficava a observá-la.
Certo dia tentou conversar com a moça, mas Clarissa era de poucas palavras.
Respondia laconicamente.
Flávio a certa altura, chamou o amigo para um lanche.
Clarissa sempre que podia, aproveitava a deixa para se afastar. Dizia que continuaria seus estudos no quarto.
A empregada levava o lanche numa bandeja para a moça.
A certa altura as visitas passaram a escassear.
Cássio argumentava que estava trabalhando em um escritório de advocacia.
Flaviano ao saber disto, parabenizou-o.
Perguntou-lhe onde estava trabalhando e o moço revelou.
O homem então disse-lhe que estava seguindo a direção certa, e que com afinco poderia se tornar um bom causídico.
Fato este que fez Cássio sorrir agradecido.
E assim, por algum tempo, o moço ficou sumido.
Desta forma, começou a trabalhar no escritório.
Profissional dedicado, tendo seu trabalho até elogiado.
Clarissa por sua vez, seguia sua rotina: faculdade no período da manhã e trabalho na parte da tarde.
Seu tio Cristiano havia conseguido uma colocação de meio período como recepcionista em seu consultório odontológico.
Para desgosto de Flaviano, o qual só concordou com o trabalho se o mesmo não prejudicasse a preparação para ensino clássico da moça.
Flaviano queria ver sua filha ostentando o diploma de professora, assim como suas irmãs mais velhas, todas casadas.
Dizia que Clarissa era mais estudiosa e aplicada que todos os seus outros filhos, e que muito embora o interesse da moça pelos estudos fosse motivo de apreensão, também era motivo de orgulho.
Certo dia, ao confidenciar isto ao irmão, pediu para que ele não contasse isto a moça, ou ela ficaria muito convencida.
Cristiano prometeu não fazê-lo, muito embora achasse graça na precaução.
E assim, aos dezesseis anos, lá se foi a moça trabalhar.
Dizia querer ganhar seu próprio dinheiro para poder comprar suas coisas. Não queria depender do dinheiro do pai.
Foi o bastante para Flaviano ser censurado.
Certo dia, irritado com as repreensões dos filhos e dos amigos, comentou que a filha estava trabalhando e que isto não era nenhum crime. Até por que, havia muitas moças trabalhando no comércio.
Muito rebateram dizendo que ela tinha posses e que não havia necessidade de trabalhar fora.
Flaviano respondia dizendo que ele autorizou a filha a trabalhar. Argumentou que após o fato, Clarissa se tornou mais responsável com seus horários, passando a cuidar bem de seu tempo de estudos. Disse até que assim, ela não tinha tempo para botar caraminholas na cabeça, como muitas dessas moças deslumbradas.
Foi o bastante para muitos se calarem.
De vez em quando Clarissa também ouvia críticas, mas não se importava.
Cristiano por seu turno, estava satisfeito com o trabalho da moça.
Educada, atendia aos clientes mais exigentes com calma e paciência.
E assim, mesmo com a faculdade, a moça continuou com o trabalho no consultório do tio.
Ia para a faculdade e para o trabalho a pé ou de bonde.
De manhã, seguia para a faculdade, no horário do almoço, seguia para o lar, e após o almoço lá se ia para o consultório do tio.
Cristiano e uma secretária agendavam as consultas na parte da manhã.
A tarde Clarissa ocupava o posto de recepcionista.
E assim a moça seguia sua rotina.
Em idas e voltas do trabalho e da faculdade, a moça por vezes, teve a impressão de que alguém seguia seus passos.
Certo dia, chegou a caminhar apressada, tentando com isto demonstrar que havia notado sua presença.
Por diversas vezes, voltou-se pra trás, sem nada notar.
Certo dia, estando seu tio em casa, o mesmo notou um sujeito envolto em uma capa.
Clarissa havia acabado de chegar a residência.
Cristiano por sua vez, comentou com o irmão, que era um tipo muito estranho.
Flaviano não deu importância ao comentário, mas respondeu que um dos irmãos iria acompanhá-la na ida e na volta do trabalho.
Durante a manhã, comentou que ele mesmo levaria a moça para a faculdade.
E assim foi feito.
O estranho, ao perceber que a moça não estava mais desacompanhada, sumiu.
Neste período Cássio voltou a frequentar a casa.
Certo dia, estando Flávio ausente, Flaviano intimou Clarissa a fazer sala para o moço.
Contrariada, a moça argumentou que tinha matéria da faculdade para estudar. Perguntou-lhe por que ele mesmo não fazia sala para o rapaz.
Flaviano argumentou que Cássio era jovem demais para se ocupar com alguém velho como ele. Argumentou que ele teria mais assunto para conversar com ela, do que com ele.
Clarissa reticente, comentou que seria muito pouco provável que tivessem algum assunto em comum.
Flaviano então, tentando usar de diplomacia, comentou que ela tinha condições de conduzir uma boa conversa com o moço. Nisto o homem mencionou que não havia criado uma filha tão educada apenas para si, e sim para o mundo.
Clarissa comentou que ele parecia o irmão, falando.
Sem alternativa, a moça foi fazer sala para Cássio.
O moço ao ver a bela jovem, levantou-se. Perguntou-lhe com ia.
Clarissa respondeu-lhe que ia bem. Indagou se Flávio não havia lhe dito que não estaria em casa naquela tarde.
Cássio sem jeito, argumentou que ele talvez houvesse dito alguma coisa, mas que ele em sua distração, provavelmente se esqueceu. Nisto procurou desculpar-se perguntando se não estava causando nenhum incomodo.
Clarissa não respondeu.
O moço então, observando o jardim da casa, comentou que eles tinham um espaço todo especial.
Argumentou que morava em um prédio e que sempre que podia observar um jardim bonito como aquele, não perdia a oportunidade.
Uma das irmãs da moça, ao entrar na sala, vendo o moço a conversar com Clarissa, resolveu se afastar.
Flaviano, ao descer as escadas, sugeriu a filha que levasse o rapaz para o jardim.
Ao ouvir a palavra jardim, Clarissa fica contrariada.
Discretamente, Flaviano insistiu.
Clarissa indicou ao moço o jardim.
Nisto, o homem desceu a escadaria, e ao ver sua outra filha perto da porta, a convidou para entrar.
No jardim, o moço fica a observar o canto das aves, as árvores.
Comentou que tudo era muito bonito.
Clarissa pouco falou.
Parecia distante, aborrecida.
O moço por sua vez, ao se aproximar da moça, percebendo que todos permaneciam na sala, convidou-a para um passeio. Disse que seria inaugurado um parque nas proximidades do bairro, e que precisava de alguém para acompanhá-lo.
Clarissa respondeu-lhe que provavelmente alguma moça aceitaria o convite.
Cássio então lhe perguntou se aceitaria o convite.
A moça espantada, disse que não poderia.
Cássio insistiu.
Como a jovem dissesse que precisava estudar, o rapaz persistiu na pergunta.
Flaviano a certa altura, interrompeu o moço.
Perguntou-lhes se não gostariam de comer ou beber algo.
Clarissa então respondeu que estava com fome.
Cássio aborrecido, teve que concordar.
E assim, acompanhou a todos em uma pequena ceia.
Por fim, em conversas com Flaviano, Cássio comentou sobre um novo parque a ser inaugurado e que havia convidado Clarissa para acompanhá-lo.
Flaviano ficou feliz com o convite, mas ao perceber que a moça recusara, resolveu auxiliar o moço, dizendo que ela havia se recusado receosa de desagradá-lo.
Clarissa, ao ouvir os dizeres do pai, tentou interrompê-lo, sem êxito.
Por fim, só restou-lhe aceitar o convite.
E assim ajustados, na data combinada, a moça acompanhou o moço no jardim.
Flaviano, por precaução, pediu a um dos irmãos, que acompanhasse a moça.
E lá se foi Inácio, contrariado, servir de vela.
Aborrecido o moço foi resmungando, acompanhar o casal.
Cássio se esforçava para se mostrar simpático com a moça.
Inácio ao ver uma jovem sentada sozinha em um banco, resolveu se aproximar.
Foi a deixa para Cássio segurar a mão da moça.
Disse-lhe que precisava buscar algo que esquecera em seu carro.
Clarissa respondeu-lhe que não poderia ficar sozinha com ele. Argumentou que esperaria o moço voltar.
Cássio insistiu, disse que não poderia deixá-la sozinha, tendo em vista que Inácio estava distraído flertando uma garota.
Como a moça resistisse a ideia, Cássio desistiu de seu intento.
Caminharam então, a beira do lago e mais tarde, o trio seguiu para a casa de Flaviano.
Ilana e Irene, suas irmãs, insistiam em fazer perguntas do encontro, mas Clarissa contrariada, dizia não ter sido nada demais. Dizia que só havia ido ao encontro por insistência paterna.
As duas ficavam desapontadas com a falta de interesse da moça no rapaz.
Algumas vizinhas chegavam até a dizer que ela estava namorando o moço.
O que Clarissa fazia questão de negar a todo o momento.
Todavia, em que pese o desinteresse da moça pelo rapaz, Flaviano continuava a insistir para que a moça continuasse a fazer companhia ao rapaz.
Em conversas com Cássio, o homem pode perceber que ele se interessara por sua filha.
Inácio porém, não gostava nem um pouto da aproximação.
Para Flaviano, o comportamento implicante de Inácio e a desconfiança de Cristiano, não passavam de ciúmes bobos.
Nisto, mesmo diante dos protestos de Clarissa e da defesa de seu tio Cristiano, a moça não conseguiu convencer o homem da ideia de empurrá-la para o moço.
Cristiano costumava dizer ao irmão, que isto não tinha como dar certo, que afeto não se impõe, se conquista.
Flaviano porém, retrucava dizendo que não escolhera sua esposa, e mesmo diante da imposição paterna, foi muito feliz ao lado de Carlota.
Cristiano concordou, mas completou dizendo que fora uma imposição em termos, já que ele gostara da moça desde o primeiro momento em que a vira. Rindo, comentou que se não tivesse gostado dela, não teria pai e mãe para obrigá-lo a casar-se.
Rindo, Flaviano comentou que a conhecera de passeios pela praça, em andanças pelo bairro.
Cristiano comentou que também gostara de uma moça, mas em virtude das dificuldades criadas pelos pais da jovem, não conseguiu realizar seu intento de casar-se. Resignado, comentou que por isto continuava solteiro.
Rindo, Flaviano comentou que ele não passava de um solteirão incorrigível.
Cássio confidenciou então, que àquela altura, não conseguiria conviver com outra pessoa. Argumentou que havia se convertido em um rabugento cheio de manias.
Novamente rindo, Flaviano respondeu que parecia que ele não era o único rabugento do lugar.
Cássio retrucou dizendo que não, mas que decerto, ele o era mais rabugento do que todos da família.
Rindo, acabaram por mudar o tema da prosa.
E Clarissa continuou a fazer sala para o moço.
Contrariada, acompanhava o moço no jardim.
Certa vez, se fez acompanhar de um livro.
Cássio por seu turno, não se sentiu ofendido.
Flaviano porém, repreendeu a filha pela falta de modos. Argumentou que era falta de educação, convidar alguém para um passeio e o deixar falando sozinho.
Rindo, Cássio comentou que achava a atitude original, e que também gostava de ler. Insistiu em dizer ao homem que não precisava se incomodar.
Flaviano deixou-os a sós, embora contrariado.
Nisto o moço comentou que já havia lido outras obras do autor. Perguntou um pouco admirado, se ela gostava de Jorge Amado.
Clarissa comentou que sim.
Cássio destacou que se tratava de um escritor um pouco ousado para moças.
A jovem riu. Comentou que ela gostava de bons textos e de histórias que a faziam pensar. Argumentou que não gostava de histórias bobas, contos água com açúcar.
Cássio ficou perplexo.
Nisto a moça continuou a ler seu livro.
A certo altura, após o chá da tarde, Flaviano convidou o moço para uma conversa reservada.
No escritório do homem, conversaram sobre Clarissa.
Cássio respondeu-lhe que pretendia casar-se com a moça.
Flaviano franziu a fronte.
Apreensivo, respondeu que a jovem era geniosa e caprichosa.
O moço pareceu não se importar.. Argumentou que adorava um desafio.
E nisto continuou as visitas a moça.
Com o tempo, o moço conquistou a confiança do pai da moça.
Cássio estava animado, pois finalmente sairia sozinho com a jovem.
Cristiano, ao saber da novidade, comentou que estava estranhando a liberdade que ele estava concedendo ao rapaz. Argumentou que Clarissa não estava interessada em Cássio, e que não fazia sentido pressioná-la.
Flaviano se enervou.
Retrucou dizendo que todos interferiam na criação da filha, mas ninguém se prontificava a resolver os problemas quando estes surgiam. Argumentou que ele criara a jovem, praticamente sozinho, já que Carlota falecera quando ela era apenas uma criança.
A Cristiano, só coube calar-se.
Clarissa ao conversar com seu pai sobre o assunto, também tentou argumentar, mas foi igualmente rechaçada.
Flaviano por diversas vezes lhe dissera que sua mãe havia se casado aos quinze anos, e ela aos dezessete, quase com dezoito anos, continuava solteira.
A moça tentou argumentar que preferia se formar, para depois pensar em casamento, mas foi interrompida pelo pai que lhe disse que Cássio estava interessado em casar-se com ela.
Clarissa, ao ouvir a palavra casamento, demonstrou contrariedade.
Nervosa, respondeu que ninguém poderia obrigá-la a casar-se.
Flaviano retrucou dizendo que poderia obrigá-la sim, já que era menor de idade e dependente economicamente dele.
Mencionou que se quisesse, poderia proibi-la de cursar a faculdade.
Ao ouvir isto, a moça protestou.
Flaviano sugeriu-lhe então, que tratasse de obedecê-lo.
Com isto, não lhe restou outra alternativa senão, acatar as ordens do pai.
E assim, continuou a se encontrar com o moço.
Tempos difíceis.
Contrariada, a moça evitava falar de Cássio, e se irritava a toda vez que seu nome era mencionado.
Sentia raiva do rapaz, por ter sua liberdade de escolha tolhida.
Em razão disto, sempre que podia, arrumava um pretexto para aborrecer o moço.
Primeiro foram os livros lidos durante os encontros, depois as demoras para se arrumar, fazendo-se esperar em demasia.
Flaviano ficava mortificado com a conduta da moça, e sempre procurava desculpar-se com o rapaz.
Dizia que como toda a jovem, Clarissa estava se comportando como uma desmiolada.
Por diversas vezes, repreendeu a filha.
Cássio por seu turno, era sempre muito calmo e paciente.
Levava a moça ao cinema, ao teatro.
Aguardava pacientemente pela moça, tolerava seus atrasos.
Flaviano por seu turno, ao perceber seu comportamento inadequado, chegou a ameaçar por a filha de castigo, mas só não levou o intento a efeito, por que o próprio Cássio o convenceu a não fazê-lo. Argumentou que não precisava castigar a moça, e que Clarissa cedo ou tarde, seria razoável.
Nisto, pediu para conversar com a moça, depois de um passeio onde a moça pouco falou.
Flaviano atendeu ao pedido.
Clarissa então foi instada a seguir até a biblioteca para conversar com o moço.
Cássio então, lhe propôs uma trégua.
Argumentou que poderiam ser amigos, e que ela não precisava declarar guerra a ele. Mencionou que não lhe queria mal.
Propôs fazerem um pequenique num parque que havia perto dali.
Clarissa, querendo se livrar da pressão paterna, concordou.
Com isto, no dia agendado para o encontro, auxiliada pelas irmãs Ilana e Irene, a moça colocou uma bela saia longa e rodada, uma blusa enfeitada com aplicações de rosa. Usou um pouco de perfume francês.
Contrariada, foi convencida a usar maquiagem.
Quando Cássio foi buscá-la, comentou que ela estava muito bonita.
Clarissa fingiu não ouvir.
Nisto o moço segurou a mão da jovem.
Seguiram de carro para o parque.
A todo o momento Cássio dizia que ela não devia se sentir obrigada a assumir um compromisso com ele. Comentou que poderiam perfeitamente serem amigos.
Clarissa ouvia as palavras do moço, mas não conseguia compreender o que ele estava querendo dizer.
Em dado momento, disse que poderiam saborear as iguarias.
Comentou que a cozinheira de sua casa não era tão boa quanto a empregada de Flaviano, mas que também tinha seus segredos.
E assim, Cássio ofereceu suco, pão, geleias para a moça, que a tudo recusava.
Neste momento, o moço começou a se irritar com o comportamento da moça.
Tentando se controlar, argumentou que não precisavam ser inimigos. Insistiu nisto. Mencionou que gostava dela e que estava cansado de ser rejeitado.
Clarissa estava impassível.
A certa altura, percebendo a indiferença da moça, Cássio começou a chacoalhá-la.
A moça então tentou se desvencilhar do jovem.
Sem força para reagir, começou a gritar.
Assustado, o moço começou a olhar para os lados.
Colocando a mão em sua boca, insistiu para que parasse de gritar.
Somente quando a moça silenciou é que tirou a mão de sua boca.
Nervoso, começou a recolher os alimentos, guardou a toalha e jogou tudo na cesta.
Segurando a moça pelo braço, Cássio começou a dizer que não a trataria mais com gentileza.
Clarissa sendo empurrada e arrastada, começou a reclamar que ele a estava machucando.
Nervoso, o moço começou a apertar seu pulso com mais força.
Caminharam para fora do parque. O moço atirou a cesta dentro do carro, e obrigou a moça a entrar no carro.
Ao perceber que alguns circunstantes observavam a contenda, pediu a moça que entrasse logo no veículo, e não criasse dificuldades, pois todos estavam olhando para eles.
Clarissa entrou no carro.
E assim, o casal partiu.
Contudo, para surpresa da moça, Cássio não a levou de volta para casa.
Aparentando mais calma, o rapaz convidou-a para fazer o pequenique em outro lugar.
Clarissa ao descer do carro, tentou correr, mas o moço partiu em seu encalço.
Ainda no carro, a jovem tentou convencê-lo a voltarem para casa. Em vão.
Assustada, a moça tentou correr em direção a avenida, mas foi contida pelo moço, que a conduziu em direção ao parque.
Lá, caminharam em direção ao bosque.
Clarissa olhava em volta e se afligia.
Cássio, ao perceber que não havia ninguém por perto, pressionou fortemente o pulso da moça.
Clarissa tentou fugir, se debateu, em vão.
Mesmo seus gritos, não poderiam ser ouvidos.
Estava muito longe da entrada do parque ...
Clarissa agora entendia que tudo fazia parte da caminhada, de um longo processo de entendimento e de conhecimento pelo qual precisava passar.
Caminhos que precisava percorrer.
Necessário se fazia o constrangimento, mas também importante se fazia saber se impor, em que pese ser impossível fazê-lo, naquele momento de irracionalidade, impor sua vontade. Sobrepujar seu entendimento por sobre a ignorância prevalente de quase toda a maioria, inclusive de boa parte de sua família.
Quase todos lhe opuseram obstáculos.
Diziam-lhe que o melhor seria casar-se com seu ofensor, e esquecer de vez aquele incidente desagradável que maculava a todos da família.
O tempo passou, e somente após reencontrar o pai, anos depois, após passar novamente por dificuldades enormes, conseguiu entender a trajetória.
Conseguiu entender que sua vida devia seguir longe de seus parentes, longe de seus entes queridos.
Precisava formar uma nova família e assim o fez. Teve filhos, casou-se, e passou a morar em outro estado da região.
Longe do pai, dos irmãos, do tio adorado, companheiro em suas dificuldades.
De certa forma, precisou morrer para nascer novamente e poder continuar sua vida.
De em quando em vez, após anos de ausência, passou a receber visitas de parentes. Sempre raras.
Na família, sua história virou lenda.
Tanto que é lembrada, e até aumentada, por seus descendentes.
Muitos não acreditam dizendo se tratar de uma grande mentira.
Mas os familiares de Clarissa insistem em dizer que é tudo verdade..
… Clarissa se sentia oprimida e sufocada.
Não tinha escolhas.
Ou permanecia onde estava, e se casava contra sua vontade, apenas para acobertar uma infâmia, ou se arriscava a partir para longe.
Começar tudo do zero. Sofrer sozinha, não sofrer o jugo e a recriminação de todos.
Ou então, sofrer pelas consequências de algo que ocorrera sem que tivesse culpa, muito embora nestes casos, a culpa sempre caiba a vítima.
Assim, para fugir a um futuro ainda mais cruel do que era seu passado, Clarissa partiu.
Arrumou pegou uma mala emprestada, onde arrumou com todo o cuidado seus pertences.
Por ser uma região de intenso calor, não se fazia necessário muitas malas.
Razão pela qual conseguiu arrumar suas roupas, alguns sapatos e livros em apenas uma mala.
Precisava fugir.
Afinal, não conseguiria se casar com Cássio. Tinha verdadeiro horror a ideia de passar o restante de seus dias a seu lado.
Seu pai porém, estava irredutível.
Não aceitava o fato de sua filha não lhe revelar o que ocorrera naquela tarde, em que pese todos deduzirem o que se sucedera.
Clarissa também estava cansada dos olhares de reprovação.
Seu tio Cristiano, era o único que parecia se importar com a tristeza da sobrinha.
Razão pela qual tentou inúmeras vezes conversar com o irmão Flaviano, com vistas a tentar demovê-lo da ideia de forçar a moça a casar-se com Cássio.
Mas o homem não se convencia.
Dizia que o maior tesouro de uma mulher por aquelas paragens era sua honra, e que a mesma havia sido manchada.
… Com efeito, quando a moça regressou do encontro forçado com o moço, trancou-se em seu quarto, não queria conversar com ninguém.
Flaviano e seus irmãos não compreendiam o que estava acontecendo.
Cássio durante o encontro, advertiu a moça para que nada dissesse a respeito do ocorrido.
Clarissa chocada, tentava a todo o custo, se desvencilhar do carrasco.
Com isto, quando Cássio finalmente se distraiu, Clarissa investiu contra ele.
Empurrou-o com toda a força e saiu correndo do lugar.
Sua saia rodada, estava rasgada e suja de lama.
Tremendo, desesperada, a moça conseguiu se esconder em meio a plantas e árvores.
Cássio por sua vez, ao perceber que a moça fugia, partiu em seu encalço.
Clarissa então, conseguiu descobrir um lugar para se esconder.
Assustada, só saiu do lugar após ter a certeza de que Cássio não a espreitava.
Nervosa, apavorada, a moça percorreu ruas e avenidas sem dar por si.
Ao chegar nas proximidades de sua casa, se apercebeu que estava um pouco descomposta.
Cabelo desarrumado, saia suja e rasgada.
Foi então que percebeu que algumas pessoas a olhavam com espanto e perplexidade.
Aflita, não conseguia parar de chorar.
A todo o momento pensava em que desculpa daria para justificar os trajes, e os modos.
Diante disto, passou a mão no rosto, tentou enxugar as lágrimas.
Ao passar por um comércio pediu licença.
Disse que fora assaltada e que reagira.
A dona do comércio perguntou-lhe se o ladrão não estava por perto, Clarissa lhe disse que estava correndo do meliante a cerca de meia hora.
Aliviada, a mulher indicou-lhe o banheiro, disse que penteasse os cabelos, arrumasse suas roupas.
Clarissa agradeceu.
Ao trancar-se no banheiro, voltou a chorar.
E assim, entre lágrimas e tristeza, penteou os cabelos, lavou o rosto. Tentou lavar a saia para disfarçar a sujeira e o rasgo.
Por fim, tentando se acalmar, lavou novamente o rosto.
Ao sentir-se segura, saiu do banheiro.
Ao sair, a comerciante perguntou-lhe se estava bem.
Clarissa balançou a cabeça afirmativamente.
A mulher encheu-lhe de perguntas.
Indagou onde se sucedera o assalto, do por quê reagir. Argumentou ser isto muito perigoso, e se o moço estivesse armado? Pensou. Repreendeu a moça chamando-lhe de irresponsável. Por fim, perguntou-lhe se havia ido a delegacia dar parte.
Clarissa atordoada, respondeu que assim que pudesse, o faria.
Ainda perdida, agradeceu o auxílio.
Prestativa, a mulher perguntou-lhe se não gostaria que alguém a conduzisse até sua casa.
Clarissa disse que não precisava.
Afastou-se da loja.
Parecia um fantasma caminhando pelas ruas e avenidas.
Por fim, chegou em casa.
Esgueirando-se, adentrou a sala do imóvel, e sem que dessem por sua presença, entrou em seu quarto, onde se trancou.
Quando Flaviano percebeu que a moça já havia chegado a casa já era quase noite.
Aflito, ficava perguntando a todos se sua filha havia chegado.
Todos respondiam que não a tinham visto ainda.
Clarissa em seu quarto, encolhida em sua cama, tremia e chorava.
Flaviano por seu turno, ao percorrer os quartos do amplo imóvel assobradado, ao tentar abrir a porta do quarto da moça, percebeu que a porta estava trancada.
Ao notar isto, começou a bater na porta insistentemente.
Chamou a moça pelo nome. Perguntou-lhe o que estava fazendo trancada.
Clarissa estava muda.
Impaciente aguardou alguns minutos e tornou a bater insistentemente.
Clarissa permanecia inerte.
Não fosse a intervenção de Cristiano e o homem permaneceria junto a porta.
Tentando acalmar o irmão, o moço sugeriu que ambos descessem e fossem conversar a sós.
Flaviano comentou com Cristiano que aqueles não eram modos de uma moça de família. Argumentou que parecia mais uma garotinha mimada.
Cristiano perguntou-lhe então, onde a moça fora passear.
Flaviano mencionou que autorizou um passeio da moça com Cássio. Argumentou que não havia nada de mais, já que o jovem se mostrara interessado na moça, e estavam praticamente noivos.
Cristiano comentou que Clarissa não gostava dele.
O homem retrucou que aquilo era uma bobagem, e que com o tempo Clarissa veria as qualidades do moço.
Cristiano argumentou que não gostava do modo como o moço olhava para a jovem. Dizia que ele parecia hipnotizado quando a via. Mencionava que aqueles modos lhe despertavam atenção e inspiravam preocupação.
Flaviano retrucava dizendo que tudo aquilo não passava de uma grande bobagem. Pura implicância.
Mas o tempo lhe mostraria que o irmão mais novo estava certo.
Com o passar dos dias, Cássio passou a rondar a casa da moça.
Clarissa no dia seguinte, ao despertar, estava febril.
Flaviano aflito, ao notar que a filha não jantara com os irmãos e o tio, aborreceu-se.
Ao perceber o suposto descaso da moça, ameaçou ir até seu quarto para tomar satisfações.
Impaciente, disse que estava cansado de chamá-la sem obter retorno.
Cristiano disse que iria chamá-la em seu lugar.
Clarissa por sua vez, nada respondia.
Cristiano bateu mais uma vez na porta.
Aflito pensou que a moça estava aborrecida com o passeio.
Contudo, não insistiu.
Achou melhor deixar a moça sozinha.
Ao perceber que no dia seguinte, a moça não respondia aos apelos de seu pai, Cristiano preocupou-se.
Chegou a dizer que a moça não costumava agir daquela forma.
Flaviano impaciente, gritou dizendo que se ela não abrisse a porta, ele iria abri-la a pontapés.
Cristiano então chamou a sobrinha.
Nada de Clarissa responder.
Irritado, Flaviano avançou contra a porta.
Em questão de minutos, a porta do quarto estava aberta.
O homem arrebentou a fechadura.
Clarissa por seu turno, estava inerte em sua cama.
Cristiano adentrou o quarto com o irmão.
Ao ver a moça deitada na cama, acreditou que a mesma estava dormindo.
Contudo, ao se aproximar, Cristiano notou que a mesma ardia em febre.
Observando o leito, percebeu que a moça estava molhada de suor.
Mesmo inconsciente, a jovem tremia.
Aflito, Flaviano despertou-a.
Foi o suficiente para a moça cair em prantos.
Atônito, abraçou a filha.
Recomendou que se acalmasse.
Como a moça não melhorasse, trataram de chamar um médico.
O doutor recomendou repouso e alimentação leve.
Pensou tratar-se de gripe.
A moça permaneceu febril por dias.
Por fim, estimulada pelo tio, fez um pequeno passeio até uma praça.
Cássio observava a dupla à distância.
A certa altura, incomodada, a moça pediu para voltar para casa.
Este estado de coisas preocupava os irmãos, que tentavam a todo o custo, entender o que havia acontecido.
Em dado momento, passaram a pressionar Clarissa, para que explicasse o que havia ocorrido.
Flaviano por seu turno, estranhou a ausência de Cássio, bem como o fato do mesmo não haver trazido sua filha em casa.
Estranhava o nervosismo da moça, seu estado de nervos.
Razão pela qual Flaviano procurou o moço, nos dias que se seguiram ao convalescimento da filha.
Mas nada de achá-lo.
Em sua casa, o jovem nunca estava.
Fato este que deixou o homem um tanto quanto intrigado.
Clarissa por seu turno, dizia a todos que fora vítima de um assalto.
Flaviano porém, ao indagar de Cássio, só obtinha respostas vagas.
Clarissa dizia que o moço precisou deixá-la na frente do parque, e que ao voltar para casa, foi abordada por um ladrão.
Flaviano e Cristiano contudo, não estavam convencidos da história.
Com o tempo, passaram a surgir rumores de que a moça fora vista sendo arrastada de um parque, e sendo conduzida com violência para dentro do carro de um moço.
Clarissa aos poucos, retomou os estudos e o trabalho.
Contudo, a sensação de que estava sendo vigiada, voltou a incomodá-la.
Tanto que um dia chorando, pediu para que alguém a acompanhasse na ida e volta da escola e do trabalho.
Flaviano prometeu acompanhá-la.
Clarissa estava estranha.
Cada vez mais reclusa e triste.
O homem chegou a conjecturar que estava sentindo falta do namorado.
Foi o suficiente para a moça gritar dizendo que ele não era seu namorado. Nervosa, deixou escapar que não queria vê-lo nunca mais.
Cássio por seu turno, continuava a observar a rotina da família.
Dia desses, aproveitando a ausência de todos, o homem adentrou a residência de Flaviano.
Clarissa estava sozinha em casa.
Cristiano, que havia planejado fazer uma visita a sobrinha, se dirigiu ao sobrado, estragando os planos do moço.
Cássio foi surpreendido pelo homem, saindo sorrateiramente da casa.
Espantado com a audácia do rapaz, Cristiano perguntou a moça, porque estava encontrando-se às escondidas com Cássio.
Clarissa ficou lívida.
Disse que nunca mais o vira, e que não aguentava mais ouvir seu nome.
Nervosa, começou a tremer e a chorar, assustando Cristiano, que tratou logo de chamar um médico.
Com o tempo, a vizinhança começou a falar dos moços atrevidos do moço.
E assim, foi questão de semanas para que a cidade, ou parte dela, estivesse especulando a vida da moça.
A comerciante que a auxiliara no dia do ocorrido, chegou a apontá-la quando a viu na rua.
Em pouco tempo, já era mal vista e apontada por todos.
Ninguém queria se aproximar, ou conversar com ela.
Cássio por seu turno, ao perceber que a jovem não o delatara, resolveu fazer uma proposta para a família.
Casaria-se com a moça, dando o falatório por encerrado.
Neste momento, Flaviano tencionou recusar a proposta, mas o próprio Cássio argumentou que ele não tinha saída. Ou casava a filha ou ela estaria desonrada.
O homem, conhecedor apenas de parte da história, encolerizou-se com a filha e só não lhe bateu, devido a intervenção de Cristiano.
Aflito, Cristiano pedia a sobrinha a todo o momento, que lhe contasse a verdade. Insistia para que lhe dissesse o que havia ocorrido.
Clarissa por sua vez, não conseguia dizer nada. Apenas chorava.
Flaviano acreditava que houve consentimento por parte da moça.
E Clarissa por sua vez tinha vergonha de dizer o que havia acontecido.
Para a família, nunca ficou claro se realmente houve algo de mais íntimo entre eles, ou se fora apenas uma sucessão de eventos infelizes.
Quando Flaviano exigiu que se submetesse a um exame, a jovem implorou dizendo que não queria fazê-lo.
Cristiano mais uma vez, aconselhou o irmão a desistir da ideia.
Argumentou que se ocorrera algo, não houve o consentimento da moça.
Flaviano por sua vez, não queria acreditar.
Repugnava-lhe a ideia de que o moço abusara de sua filha, apenas para obrigá-la a casar-se com ele.
Perguntava ao irmão, que mente doentia era aquela que impunha tanto sofrimento assim a uma pessoa?
Cristiano ficou sem saber o que dizer.
Não possuía palavras para expressar tamanho asco.
Com isto, pressionado por Cássio, mesmo insatisfeito com a situação, Flaviano concordou em ceder a mão da filha ao moço.
Quando Clarissa soube do ajuste, ficou inconformada.
Flaviano, disse-lhe que deveria ter pensado antes de agir da forma como agira.
Ressaltou que ela não tinha escolha.
Clarissa tentou argumentar dizendo que não havia feito nada. Insistia em dizer que não havia acontecido nada.
Flaviano retrucou dizendo que tendo ou não acontecido alguma coisa, sua reputação estava manchada.
Desesperada a moça chorou, implorou para que seu pai não a obrigasse a casar-se com Cássio.
Irritado com a reação da jovem, Flaviano exigiu que a mesma permanecesse em seu quarto. Advertiu-a de que estava proibida de continuar trabalhando e que a faculdade seria interrompida.
Ao ouvir isto, Clarissa chorou mais ainda.
Insistiu para que Flaviano não a proibisse de continuar sua vida. Argumentou que sem poder ocupar sua mente, não havia motivos para continuar.
Foi o bastante para que o homem lhe dissesse para parar de falar besteiras. Acusou a filha de ser leviana, dizendo que tudo o que estava ocorrendo era fruto de sua irresponsabilidade.
Clarissa retrucou dizendo que não poderia ser responsabilizada pelo erro dos outros.
Nisto seu pai gritou exigindo que permanecesse em seu quarto.
Clarissa trancou-se.
Quando a empregada da casa dirigiu-se ao seu quarto, deparou-se com a recusa da moça em abrir a porta.
Quando Cristiano soube do ocorrido, censurou o irmão.
Ao notar a rigidez com que tratava Clarissa, acusou-o de conivência.
Disse-lhe que tudo o que ocorrera se deu em grande parte a sua omissão em cuidar de sua filha. Argumentou que onde já viu, deixar a moça sair sozinha com o rapaz? Onde se já viu, expor a moça aos comentários maldosos das pessoas?
Nisto, resolveu contar sobre o dia em que descobriu o moço circulando em sua casa. Contou que ao conversar com a sobrinha sobre o moço, a mesma ficou aterrada.
Flaviano por sua vez, procurou se defender das acusações do irmão, embora se sentisse culpado pelo ocorrido.
Quando a moça implorou para que ele não a obrigasse a casar-se com o moço, chegou a sentir pena da filha.
Contudo, procurando não demonstrar seus sentimentos, continuou a impor sua vontade para a moça.
Com efeito, ao saber agora por seu irmão, que Cássio invadira a casa, o homem por um momento, chegou a pensar se o rapaz não agira de caso pensado, com o firme propósito de prejudicar a moça.
Inácio e Flávio por sua vez, foram severos em suas críticas a moça, assim como Ilana e Irene.
Ao descobrirem os comentários sobre uma moça que teria sido violada, dizia respeito a sua irmã, ficaram chocados.
Abalados, acusaram Clarissa de enlamear o nome da família.
Ao ouvir as acusações dos irmãos, a jovem caiu em prantos.
Cristiano precisou consolá-la.
Para tanto, abraçou a sobrinha e exigiu que eles parassem de apontar o dedo para a moça.
Inácio e Flávio preferiram afastar-se da irmã.
Clarissa então, só podia contar com o tio, que pouco podia fazer para defendê-la.
Aflito, em uma de suas muitas conversas com o irmão, Cristiano propôs adiar o casamento por algum tempo.
Sugeriu levar a moça para algum lugar e esperar as coisas se acalmarem, para que depois ela pudesse voltar.
Flaviano, com lágrimas nos olhos, comentou que não poderia liberar a filha do compromisso. Argumentou que ela ficaria mal falada.
Cristiano por sua vez, insistia.
Dizia que muito provavelmente, nada de grave ocorrera.
Argumentou que a moça por ser jovem e inexperiente, assustou-se com alguma atitude mais ousada do rapaz, fato este que ocasionou toda aquela confusão.
Flaviano ficou a pensar nas palavras do irmão.
Com isto, movido por um lampejo de compaixão pela filha, em uma de suas poucas conversas com Cássio, Flaviano chegou a sugerir adiar por algumas semanas o casamento.
No que o rapaz, rispidamente se opôs.
Ameaçou inclusive fazer um escândalo caso o casamento fosse adiado.
Por mais de uma vez, Cássio fez questão de deixar bem claro que ele não estava em condições de pedir nada. Em dado momento, ameaçou desistir do matrimônio.
Flaviano, respondeu então rapidamente, se não seria o melhor a ser feito.
Cássio, surpreso com a reação do homem, ficou pálido.
Argumentou que não iria esperar prazo algum.
Neste momento, chegou a dizer que estava pensando seriamente em antecipar o casamento.
Flaviano se opôs, mas o rapaz, dizendo que a honra da moça estava manchada, argumentou que seria o melhor a ser feito.
Com isto, não restou outra alternativa ao homem, senão comunicar a filha, que o casamento seria antecipado.
Clarissa ao ouvir as palavras do pai, chorou como se recebesse uma sentença de condenação.
Há dias não se alimentava direito, não dormia bem.
Só fazia chorar.
Com efeito, depois de uma longa conversa com seu tio, Clarissa resolveu mudar de atitude.
Passou a alimentar-se melhor e ocupar-se de seus livros.
Nisto, o jovem exigiu visitar sua noiva.
Clarissa ao saber disto, objetou.
Argumentou que fora por sua culpa que agora se encontrava nesta situação, e não estava disposta a vê-lo em sua frente.
Flaviano concordou com a filha.
Comentou que de fato, diante do ocorrido, não ficaria bem encontrar-se com o noivo.
Cristiano agradeceu ao irmão pela atitude.
Cássio por sua vez, ao tomar conhecimento da proibição de Flaviano, ficou furioso.
Mas o homem, chamando-o a razão, disse que não seria bom impôr sua presença a Clarissa. Argumentou que diante de tanta confusão, não ficaria bem serem vistos junto, e já que todo o esforço era para salvar a reputação da moça, algumas regras deveriam ser seguidas.
A Cássio somente coube concordar.
Furioso, ao deitar-se em sua cama em seu quarto, esmurrou o travesseiro.
Relembrou-se do ocorrido a moça.
Na tarde fatídica, o moço ficou a procurá-la por todo o parque.
Nervoso, temia ser descoberto e preso.
Razão pela qual ameaçou a moça.
Por dias a fio, rondou sua casa, aflito por notícias.
Quando soube que a moça nada dissera sobre o ocorrido, encheu-se de coragem.
Resolveu fazer a famigerada proposta.
Ao ter ciência da concordância de Flaviano, o moço tranquilizou-se.
Mas a proibição em vê-la, o deixava impaciente.
Nisto, começaram os preparativos para o casamento, a confecção de um vestido de noiva, suas provas.
Tal fato exasperava a moça.
Irene e Ilana, bem como as criadas da casa, cuidavam dos comes e bebes.
Por conta do ocorrido, a preparação para o casamento, o curso de noivos, foi feito separadamente.
Enquanto isto, Clarissa fingia concordar com todas as imposições paternas.
Cristiano perguntou a moça o por quê da mudança.
Desconfiou de que ela pudesse estar planejando alguma coisa.
Clarissa porém, não dizia nada.
Contudo, estava com tudo planejado.
Dentro de alguns dias partiria da capital, rumo a outro estado da região.
Caminhos que precisava percorrer.
Necessário se fazia o constrangimento, mas também importante se fazia saber se impor, em que pese ser impossível fazê-lo, naquele momento de irracionalidade, impor sua vontade. Sobrepujar seu entendimento por sobre a ignorância prevalente de quase toda a maioria, inclusive de boa parte de sua família.
Quase todos lhe opuseram obstáculos.
Diziam-lhe que o melhor seria casar-se com seu ofensor, e esquecer de vez aquele incidente desagradável que maculava a todos da família.
O tempo passou, e somente após reencontrar o pai, anos depois, após passar novamente por dificuldades enormes, conseguiu entender a trajetória.
Conseguiu entender que sua vida devia seguir longe de seus parentes, longe de seus entes queridos.
Precisava formar uma nova família e assim o fez. Teve filhos, casou-se, e passou a morar em outro estado da região.
Longe do pai, dos irmãos, do tio adorado, companheiro em suas dificuldades.
De certa forma, precisou morrer para nascer novamente e poder continuar sua vida.
De em quando em vez, após anos de ausência, passou a receber visitas de parentes. Sempre raras.
Na família, sua história virou lenda.
Tanto que é lembrada, e até aumentada, por seus descendentes.
Muitos não acreditam dizendo se tratar de uma grande mentira.
Mas os familiares de Clarissa insistem em dizer que é tudo verdade..
… Clarissa se sentia oprimida e sufocada.
Não tinha escolhas.
Ou permanecia onde estava, e se casava contra sua vontade, apenas para acobertar uma infâmia, ou se arriscava a partir para longe.
Começar tudo do zero. Sofrer sozinha, não sofrer o jugo e a recriminação de todos.
Ou então, sofrer pelas consequências de algo que ocorrera sem que tivesse culpa, muito embora nestes casos, a culpa sempre caiba a vítima.
Assim, para fugir a um futuro ainda mais cruel do que era seu passado, Clarissa partiu.
Arrumou pegou uma mala emprestada, onde arrumou com todo o cuidado seus pertences.
Por ser uma região de intenso calor, não se fazia necessário muitas malas.
Razão pela qual conseguiu arrumar suas roupas, alguns sapatos e livros em apenas uma mala.
Precisava fugir.
Afinal, não conseguiria se casar com Cássio. Tinha verdadeiro horror a ideia de passar o restante de seus dias a seu lado.
Seu pai porém, estava irredutível.
Não aceitava o fato de sua filha não lhe revelar o que ocorrera naquela tarde, em que pese todos deduzirem o que se sucedera.
Clarissa também estava cansada dos olhares de reprovação.
Seu tio Cristiano, era o único que parecia se importar com a tristeza da sobrinha.
Razão pela qual tentou inúmeras vezes conversar com o irmão Flaviano, com vistas a tentar demovê-lo da ideia de forçar a moça a casar-se com Cássio.
Mas o homem não se convencia.
Dizia que o maior tesouro de uma mulher por aquelas paragens era sua honra, e que a mesma havia sido manchada.
… Com efeito, quando a moça regressou do encontro forçado com o moço, trancou-se em seu quarto, não queria conversar com ninguém.
Flaviano e seus irmãos não compreendiam o que estava acontecendo.
Cássio durante o encontro, advertiu a moça para que nada dissesse a respeito do ocorrido.
Clarissa chocada, tentava a todo o custo, se desvencilhar do carrasco.
Com isto, quando Cássio finalmente se distraiu, Clarissa investiu contra ele.
Empurrou-o com toda a força e saiu correndo do lugar.
Sua saia rodada, estava rasgada e suja de lama.
Tremendo, desesperada, a moça conseguiu se esconder em meio a plantas e árvores.
Cássio por sua vez, ao perceber que a moça fugia, partiu em seu encalço.
Clarissa então, conseguiu descobrir um lugar para se esconder.
Assustada, só saiu do lugar após ter a certeza de que Cássio não a espreitava.
Nervosa, apavorada, a moça percorreu ruas e avenidas sem dar por si.
Ao chegar nas proximidades de sua casa, se apercebeu que estava um pouco descomposta.
Cabelo desarrumado, saia suja e rasgada.
Foi então que percebeu que algumas pessoas a olhavam com espanto e perplexidade.
Aflita, não conseguia parar de chorar.
A todo o momento pensava em que desculpa daria para justificar os trajes, e os modos.
Diante disto, passou a mão no rosto, tentou enxugar as lágrimas.
Ao passar por um comércio pediu licença.
Disse que fora assaltada e que reagira.
A dona do comércio perguntou-lhe se o ladrão não estava por perto, Clarissa lhe disse que estava correndo do meliante a cerca de meia hora.
Aliviada, a mulher indicou-lhe o banheiro, disse que penteasse os cabelos, arrumasse suas roupas.
Clarissa agradeceu.
Ao trancar-se no banheiro, voltou a chorar.
E assim, entre lágrimas e tristeza, penteou os cabelos, lavou o rosto. Tentou lavar a saia para disfarçar a sujeira e o rasgo.
Por fim, tentando se acalmar, lavou novamente o rosto.
Ao sentir-se segura, saiu do banheiro.
Ao sair, a comerciante perguntou-lhe se estava bem.
Clarissa balançou a cabeça afirmativamente.
A mulher encheu-lhe de perguntas.
Indagou onde se sucedera o assalto, do por quê reagir. Argumentou ser isto muito perigoso, e se o moço estivesse armado? Pensou. Repreendeu a moça chamando-lhe de irresponsável. Por fim, perguntou-lhe se havia ido a delegacia dar parte.
Clarissa atordoada, respondeu que assim que pudesse, o faria.
Ainda perdida, agradeceu o auxílio.
Prestativa, a mulher perguntou-lhe se não gostaria que alguém a conduzisse até sua casa.
Clarissa disse que não precisava.
Afastou-se da loja.
Parecia um fantasma caminhando pelas ruas e avenidas.
Por fim, chegou em casa.
Esgueirando-se, adentrou a sala do imóvel, e sem que dessem por sua presença, entrou em seu quarto, onde se trancou.
Quando Flaviano percebeu que a moça já havia chegado a casa já era quase noite.
Aflito, ficava perguntando a todos se sua filha havia chegado.
Todos respondiam que não a tinham visto ainda.
Clarissa em seu quarto, encolhida em sua cama, tremia e chorava.
Flaviano por seu turno, ao percorrer os quartos do amplo imóvel assobradado, ao tentar abrir a porta do quarto da moça, percebeu que a porta estava trancada.
Ao notar isto, começou a bater na porta insistentemente.
Chamou a moça pelo nome. Perguntou-lhe o que estava fazendo trancada.
Clarissa estava muda.
Impaciente aguardou alguns minutos e tornou a bater insistentemente.
Clarissa permanecia inerte.
Não fosse a intervenção de Cristiano e o homem permaneceria junto a porta.
Tentando acalmar o irmão, o moço sugeriu que ambos descessem e fossem conversar a sós.
Flaviano comentou com Cristiano que aqueles não eram modos de uma moça de família. Argumentou que parecia mais uma garotinha mimada.
Cristiano perguntou-lhe então, onde a moça fora passear.
Flaviano mencionou que autorizou um passeio da moça com Cássio. Argumentou que não havia nada de mais, já que o jovem se mostrara interessado na moça, e estavam praticamente noivos.
Cristiano comentou que Clarissa não gostava dele.
O homem retrucou que aquilo era uma bobagem, e que com o tempo Clarissa veria as qualidades do moço.
Cristiano argumentou que não gostava do modo como o moço olhava para a jovem. Dizia que ele parecia hipnotizado quando a via. Mencionava que aqueles modos lhe despertavam atenção e inspiravam preocupação.
Flaviano retrucava dizendo que tudo aquilo não passava de uma grande bobagem. Pura implicância.
Mas o tempo lhe mostraria que o irmão mais novo estava certo.
Com o passar dos dias, Cássio passou a rondar a casa da moça.
Clarissa no dia seguinte, ao despertar, estava febril.
Flaviano aflito, ao notar que a filha não jantara com os irmãos e o tio, aborreceu-se.
Ao perceber o suposto descaso da moça, ameaçou ir até seu quarto para tomar satisfações.
Impaciente, disse que estava cansado de chamá-la sem obter retorno.
Cristiano disse que iria chamá-la em seu lugar.
Clarissa por sua vez, nada respondia.
Cristiano bateu mais uma vez na porta.
Aflito pensou que a moça estava aborrecida com o passeio.
Contudo, não insistiu.
Achou melhor deixar a moça sozinha.
Ao perceber que no dia seguinte, a moça não respondia aos apelos de seu pai, Cristiano preocupou-se.
Chegou a dizer que a moça não costumava agir daquela forma.
Flaviano impaciente, gritou dizendo que se ela não abrisse a porta, ele iria abri-la a pontapés.
Cristiano então chamou a sobrinha.
Nada de Clarissa responder.
Irritado, Flaviano avançou contra a porta.
Em questão de minutos, a porta do quarto estava aberta.
O homem arrebentou a fechadura.
Clarissa por seu turno, estava inerte em sua cama.
Cristiano adentrou o quarto com o irmão.
Ao ver a moça deitada na cama, acreditou que a mesma estava dormindo.
Contudo, ao se aproximar, Cristiano notou que a mesma ardia em febre.
Observando o leito, percebeu que a moça estava molhada de suor.
Mesmo inconsciente, a jovem tremia.
Aflito, Flaviano despertou-a.
Foi o suficiente para a moça cair em prantos.
Atônito, abraçou a filha.
Recomendou que se acalmasse.
Como a moça não melhorasse, trataram de chamar um médico.
O doutor recomendou repouso e alimentação leve.
Pensou tratar-se de gripe.
A moça permaneceu febril por dias.
Por fim, estimulada pelo tio, fez um pequeno passeio até uma praça.
Cássio observava a dupla à distância.
A certa altura, incomodada, a moça pediu para voltar para casa.
Este estado de coisas preocupava os irmãos, que tentavam a todo o custo, entender o que havia acontecido.
Em dado momento, passaram a pressionar Clarissa, para que explicasse o que havia ocorrido.
Flaviano por seu turno, estranhou a ausência de Cássio, bem como o fato do mesmo não haver trazido sua filha em casa.
Estranhava o nervosismo da moça, seu estado de nervos.
Razão pela qual Flaviano procurou o moço, nos dias que se seguiram ao convalescimento da filha.
Mas nada de achá-lo.
Em sua casa, o jovem nunca estava.
Fato este que deixou o homem um tanto quanto intrigado.
Clarissa por seu turno, dizia a todos que fora vítima de um assalto.
Flaviano porém, ao indagar de Cássio, só obtinha respostas vagas.
Clarissa dizia que o moço precisou deixá-la na frente do parque, e que ao voltar para casa, foi abordada por um ladrão.
Flaviano e Cristiano contudo, não estavam convencidos da história.
Com o tempo, passaram a surgir rumores de que a moça fora vista sendo arrastada de um parque, e sendo conduzida com violência para dentro do carro de um moço.
Clarissa aos poucos, retomou os estudos e o trabalho.
Contudo, a sensação de que estava sendo vigiada, voltou a incomodá-la.
Tanto que um dia chorando, pediu para que alguém a acompanhasse na ida e volta da escola e do trabalho.
Flaviano prometeu acompanhá-la.
Clarissa estava estranha.
Cada vez mais reclusa e triste.
O homem chegou a conjecturar que estava sentindo falta do namorado.
Foi o suficiente para a moça gritar dizendo que ele não era seu namorado. Nervosa, deixou escapar que não queria vê-lo nunca mais.
Cássio por seu turno, continuava a observar a rotina da família.
Dia desses, aproveitando a ausência de todos, o homem adentrou a residência de Flaviano.
Clarissa estava sozinha em casa.
Cristiano, que havia planejado fazer uma visita a sobrinha, se dirigiu ao sobrado, estragando os planos do moço.
Cássio foi surpreendido pelo homem, saindo sorrateiramente da casa.
Espantado com a audácia do rapaz, Cristiano perguntou a moça, porque estava encontrando-se às escondidas com Cássio.
Clarissa ficou lívida.
Disse que nunca mais o vira, e que não aguentava mais ouvir seu nome.
Nervosa, começou a tremer e a chorar, assustando Cristiano, que tratou logo de chamar um médico.
Com o tempo, a vizinhança começou a falar dos moços atrevidos do moço.
E assim, foi questão de semanas para que a cidade, ou parte dela, estivesse especulando a vida da moça.
A comerciante que a auxiliara no dia do ocorrido, chegou a apontá-la quando a viu na rua.
Em pouco tempo, já era mal vista e apontada por todos.
Ninguém queria se aproximar, ou conversar com ela.
Cássio por seu turno, ao perceber que a jovem não o delatara, resolveu fazer uma proposta para a família.
Casaria-se com a moça, dando o falatório por encerrado.
Neste momento, Flaviano tencionou recusar a proposta, mas o próprio Cássio argumentou que ele não tinha saída. Ou casava a filha ou ela estaria desonrada.
O homem, conhecedor apenas de parte da história, encolerizou-se com a filha e só não lhe bateu, devido a intervenção de Cristiano.
Aflito, Cristiano pedia a sobrinha a todo o momento, que lhe contasse a verdade. Insistia para que lhe dissesse o que havia ocorrido.
Clarissa por sua vez, não conseguia dizer nada. Apenas chorava.
Flaviano acreditava que houve consentimento por parte da moça.
E Clarissa por sua vez tinha vergonha de dizer o que havia acontecido.
Para a família, nunca ficou claro se realmente houve algo de mais íntimo entre eles, ou se fora apenas uma sucessão de eventos infelizes.
Quando Flaviano exigiu que se submetesse a um exame, a jovem implorou dizendo que não queria fazê-lo.
Cristiano mais uma vez, aconselhou o irmão a desistir da ideia.
Argumentou que se ocorrera algo, não houve o consentimento da moça.
Flaviano por sua vez, não queria acreditar.
Repugnava-lhe a ideia de que o moço abusara de sua filha, apenas para obrigá-la a casar-se com ele.
Perguntava ao irmão, que mente doentia era aquela que impunha tanto sofrimento assim a uma pessoa?
Cristiano ficou sem saber o que dizer.
Não possuía palavras para expressar tamanho asco.
Com isto, pressionado por Cássio, mesmo insatisfeito com a situação, Flaviano concordou em ceder a mão da filha ao moço.
Quando Clarissa soube do ajuste, ficou inconformada.
Flaviano, disse-lhe que deveria ter pensado antes de agir da forma como agira.
Ressaltou que ela não tinha escolha.
Clarissa tentou argumentar dizendo que não havia feito nada. Insistia em dizer que não havia acontecido nada.
Flaviano retrucou dizendo que tendo ou não acontecido alguma coisa, sua reputação estava manchada.
Desesperada a moça chorou, implorou para que seu pai não a obrigasse a casar-se com Cássio.
Irritado com a reação da jovem, Flaviano exigiu que a mesma permanecesse em seu quarto. Advertiu-a de que estava proibida de continuar trabalhando e que a faculdade seria interrompida.
Ao ouvir isto, Clarissa chorou mais ainda.
Insistiu para que Flaviano não a proibisse de continuar sua vida. Argumentou que sem poder ocupar sua mente, não havia motivos para continuar.
Foi o bastante para que o homem lhe dissesse para parar de falar besteiras. Acusou a filha de ser leviana, dizendo que tudo o que estava ocorrendo era fruto de sua irresponsabilidade.
Clarissa retrucou dizendo que não poderia ser responsabilizada pelo erro dos outros.
Nisto seu pai gritou exigindo que permanecesse em seu quarto.
Clarissa trancou-se.
Quando a empregada da casa dirigiu-se ao seu quarto, deparou-se com a recusa da moça em abrir a porta.
Quando Cristiano soube do ocorrido, censurou o irmão.
Ao notar a rigidez com que tratava Clarissa, acusou-o de conivência.
Disse-lhe que tudo o que ocorrera se deu em grande parte a sua omissão em cuidar de sua filha. Argumentou que onde já viu, deixar a moça sair sozinha com o rapaz? Onde se já viu, expor a moça aos comentários maldosos das pessoas?
Nisto, resolveu contar sobre o dia em que descobriu o moço circulando em sua casa. Contou que ao conversar com a sobrinha sobre o moço, a mesma ficou aterrada.
Flaviano por sua vez, procurou se defender das acusações do irmão, embora se sentisse culpado pelo ocorrido.
Quando a moça implorou para que ele não a obrigasse a casar-se com o moço, chegou a sentir pena da filha.
Contudo, procurando não demonstrar seus sentimentos, continuou a impor sua vontade para a moça.
Com efeito, ao saber agora por seu irmão, que Cássio invadira a casa, o homem por um momento, chegou a pensar se o rapaz não agira de caso pensado, com o firme propósito de prejudicar a moça.
Inácio e Flávio por sua vez, foram severos em suas críticas a moça, assim como Ilana e Irene.
Ao descobrirem os comentários sobre uma moça que teria sido violada, dizia respeito a sua irmã, ficaram chocados.
Abalados, acusaram Clarissa de enlamear o nome da família.
Ao ouvir as acusações dos irmãos, a jovem caiu em prantos.
Cristiano precisou consolá-la.
Para tanto, abraçou a sobrinha e exigiu que eles parassem de apontar o dedo para a moça.
Inácio e Flávio preferiram afastar-se da irmã.
Clarissa então, só podia contar com o tio, que pouco podia fazer para defendê-la.
Aflito, em uma de suas muitas conversas com o irmão, Cristiano propôs adiar o casamento por algum tempo.
Sugeriu levar a moça para algum lugar e esperar as coisas se acalmarem, para que depois ela pudesse voltar.
Flaviano, com lágrimas nos olhos, comentou que não poderia liberar a filha do compromisso. Argumentou que ela ficaria mal falada.
Cristiano por sua vez, insistia.
Dizia que muito provavelmente, nada de grave ocorrera.
Argumentou que a moça por ser jovem e inexperiente, assustou-se com alguma atitude mais ousada do rapaz, fato este que ocasionou toda aquela confusão.
Flaviano ficou a pensar nas palavras do irmão.
Com isto, movido por um lampejo de compaixão pela filha, em uma de suas poucas conversas com Cássio, Flaviano chegou a sugerir adiar por algumas semanas o casamento.
No que o rapaz, rispidamente se opôs.
Ameaçou inclusive fazer um escândalo caso o casamento fosse adiado.
Por mais de uma vez, Cássio fez questão de deixar bem claro que ele não estava em condições de pedir nada. Em dado momento, ameaçou desistir do matrimônio.
Flaviano, respondeu então rapidamente, se não seria o melhor a ser feito.
Cássio, surpreso com a reação do homem, ficou pálido.
Argumentou que não iria esperar prazo algum.
Neste momento, chegou a dizer que estava pensando seriamente em antecipar o casamento.
Flaviano se opôs, mas o rapaz, dizendo que a honra da moça estava manchada, argumentou que seria o melhor a ser feito.
Com isto, não restou outra alternativa ao homem, senão comunicar a filha, que o casamento seria antecipado.
Clarissa ao ouvir as palavras do pai, chorou como se recebesse uma sentença de condenação.
Há dias não se alimentava direito, não dormia bem.
Só fazia chorar.
Com efeito, depois de uma longa conversa com seu tio, Clarissa resolveu mudar de atitude.
Passou a alimentar-se melhor e ocupar-se de seus livros.
Nisto, o jovem exigiu visitar sua noiva.
Clarissa ao saber disto, objetou.
Argumentou que fora por sua culpa que agora se encontrava nesta situação, e não estava disposta a vê-lo em sua frente.
Flaviano concordou com a filha.
Comentou que de fato, diante do ocorrido, não ficaria bem encontrar-se com o noivo.
Cristiano agradeceu ao irmão pela atitude.
Cássio por sua vez, ao tomar conhecimento da proibição de Flaviano, ficou furioso.
Mas o homem, chamando-o a razão, disse que não seria bom impôr sua presença a Clarissa. Argumentou que diante de tanta confusão, não ficaria bem serem vistos junto, e já que todo o esforço era para salvar a reputação da moça, algumas regras deveriam ser seguidas.
A Cássio somente coube concordar.
Furioso, ao deitar-se em sua cama em seu quarto, esmurrou o travesseiro.
Relembrou-se do ocorrido a moça.
Na tarde fatídica, o moço ficou a procurá-la por todo o parque.
Nervoso, temia ser descoberto e preso.
Razão pela qual ameaçou a moça.
Por dias a fio, rondou sua casa, aflito por notícias.
Quando soube que a moça nada dissera sobre o ocorrido, encheu-se de coragem.
Resolveu fazer a famigerada proposta.
Ao ter ciência da concordância de Flaviano, o moço tranquilizou-se.
Mas a proibição em vê-la, o deixava impaciente.
Nisto, começaram os preparativos para o casamento, a confecção de um vestido de noiva, suas provas.
Tal fato exasperava a moça.
Irene e Ilana, bem como as criadas da casa, cuidavam dos comes e bebes.
Por conta do ocorrido, a preparação para o casamento, o curso de noivos, foi feito separadamente.
Enquanto isto, Clarissa fingia concordar com todas as imposições paternas.
Cristiano perguntou a moça o por quê da mudança.
Desconfiou de que ela pudesse estar planejando alguma coisa.
Clarissa porém, não dizia nada.
Contudo, estava com tudo planejado.
Dentro de alguns dias partiria da capital, rumo a outro estado da região.
E assim o fez.
De malas prontas, aproveitando-se da distração de pai, saiu de casa durante a madrugada, enquanto todos dormiam.
Caminhou algumas quadras e seguiu de carro até a rodoviária.
Dias antes, combinara com um amigo, por telefone.
De lá partiu para outra cidade.
Possuía as economias de seu tempo de trabalho no consultório de seu tio.
E assim rumou para outra vida.
Flaviano e Cássio, ao tomarem conhecimento do sumiço da moça, acionaram a polícia.
As buscas passaram a se realizar de forma intensa pelas cidades da região.
Quando descobriram quem a auxiliara oferecendo carona até a rodoviária, pressionaram o rapaz para que contasse para onde ela teria ido.
Como o rapaz não soubesse, Cássio ficou transtornado.
Chegou a dizer que ele teve alguma vantagem para concordar em transportá-la sem saber para onde ia.
O rapaz ofendido, alegou que não precisava receber vantagens para auxiliar alguém em apuros.
Flaviano por sua vez, insistiu com o rapaz, implorou para que ele dissesse a verdade. Argumentou que ela estava correndo perigo.
O moço argumentou que ela não lhe contara para onde iria.
Mencionou que se despediram na frente da rodoviária e não vira novamente a jovem.
Nisto, os homens perguntaram em todos os guichês se haviam visto uma jovem bonita, morena, de estatura mediana, usando trajes elegantes, a passar por ali.
Para auxiliar na identificação, apresentaram uma foto recente da moça.
Contudo, em razão do movimento no local, ninguém ousou afirmar tê-la visto por lá.
Alguns disseram que várias moças com aquelas características passavam por ali, de modo que seria quase impossível identificá-la.
Frustrados, a dupla continuou a espera de notícias de Clarissa.
Nervosos, chegaram a cogitar se seria possível bloquear todos os ônibus que saíram da rodoviária, no dia anterior.
O policial argumentou que muitos ônibus saíam da rodoviária, e que talvez ela se encontrasse perto dali, e provavelmente, já teria chegado ao seu destino.
Flaviano por sua vez, argumentou que queria a filha de volta e que faria todo o possível para consegui-lo.
E assim, prosseguiram as investigações.
O caso chegou a ter repercussão na região.
Flaviano porém, não estava preocupado com o falatório.
Cristiano procurava não criticar o irmão, por saber que o mesmo já estava sendo corroído pelo remorso.
Sentia pena de Flaviano, mas também sabia que ele fora de certa forma, o responsável pelos últimos acontecimentos.
Nos dias seguintes, o homem recebeu algumas ligações de pessoas dizendo terem visto sua filha.
Uma das pessoas afirmou que ela pegara um ônibus em direção ao interior da Bahia.
Com o auxílio da polícia, descobriu-se que o referido ônibus colidira com outro veículo e que alguns passageiros haviam morrido no acidente.
Ao saber disto, os corações de todos na família, encheram-se de aflição.
Preocupado, Flaviano procurou se deslocar para a cidade, o mais rápido que pode.
Cristiano seu irmão, ao ver seu nervosismo, prontificou-se a acompanhá-lo.
Flaviano não disse, mas seria grato pela atitude do irmão.
Mais uma vez em um momento de grande dificuldade, o mesmo se prontificava em ajudá-lo.
Fora assim, quando do falecimento de Carlota, em que Flaviano perdido e acuado, não sabia como proceder.
Transtornado, precisou de muito apoio do irmão, bem como dos filhos mais velhos, para se recuperar do baque.
Carlota falecera repentinamente de um mal súbito.
Flaviano, comovido com a atitude, abraçou o irmão, que entendeu o significado do gesto.
Com isto, dois dias após, lá se foram os irmãos, para o interior do estado.
Para a surpresa de ambos, entre os mortos, constava uma mulher jovem, a qual correspondia a descrição de sua filha.
A moça fora encontrada dias depois, após várias buscas pela região do acidente.
A colisão ocorrera em um local de pouco tráfego de veículos e de difícil acesso.
Para ajudar, o corpo da jovem fora arremessado para fora do veículo, vindo a cair em um córrego. Razão pela qual fora encontrada quilômetros distante da estrada onde ocorrera o acidente.
O corpo já estava em estado avançado de decomposição, o que dificultou demasiado a identificação.
A moça não trazia documentos juntos consigo e tampouco conseguiram localizar sua mala e seus objetos.
Flaviano, acompanhado do irmão, tentou fazer o reconhecimento do corpo, mas acabou por sentir-se mal.
Razão pela qual foi retirado da sala.
Cristiano mais tarde, compareceu ao IML para tentar identificar o corpo.
Triste, reconheceu que poderia sim, ser o corpo de Clarissa.
Com isto, foram realizadas novas buscas, mas nenhum sinal da moça.
Desta forma, ante a necessidade de se enterrar o cadáver, e tendo-se em vista não surgirem outros supostos parentes para reclamar o corpo, só restou a Flaviano aceitar o inevitável.
O cadáver era de sua filha Clarissa, e cabia a ele fazer o traslado do corpo e providenciar um sepultamento digno.
E assim o fez.
O enterro da moça, causou comoção na capital.
Muitos anônimos surgiram para prestar homenagens a jovem.
Flaviano ficou praticamente todo o tempo postado diante do caixão.
Surgiram notícias sobre o falecimento, nos jornais da região.
Cássio por sua vez, parecia não acreditar no que estava acontecendo.
Sua expressão era de desolação.
Cássio ao saber da morte da moça, não ficou inteiramente convencido de que a história ocorrera como Flaviano e Cristiano lhe disseram.
Por diversas vezes, desconfiou da veracidade das informações.
Considerou precipitado o enterro do corpo, sem se ter a certeza de que se tratava realmente do corpo da moça.
Razão pela qual continuou a investigar o possível paradeiro da jovem.
Pesquisou o itinerário de todos os ônibus que partiram da capital na manhã do sumiço da moça.
Em alguns lugares chegou a ir pessoalmente.
Contudo, nenhum sinal de Clarissa.
A moça parecia ter evaporado.
Ao perceber que encontrar uma pista da moça seria mais difícil que encontrar uma agulha no palheiro, acabou desistindo do intento.
Finalmente aceitou a possibilidade de que Clarissa provavelmente estava morta.
… Nisto em outro estado, uma moça estendia roupas coloridas em um imenso varal.
O vento forte, fazia as roupas balançarem ao vento.
A jovem de longos cabelos, deixara as madeixas soltas.
Estava feliz.
Nem de longe lembrava a moça triste de antanho.
Brincava e cantarolava com as moças do vilarejo.
Morava em uma casa simples, no meio da vila.
Cuidava de um senhor de idade, convalescente.
O trabalho lhe absorvia boa parte de seu tempo.
Mas quando precisava sair para comprar mantimentos, aproveitava para conversar com os moradores.
Conhecia todos os moradores da vila.
Chamava todos pelo nome.
A moça, de modos gentis e roupas elegantes, logo chamou a atenção de todos os que moravam no lugar.
Chegara no lugar de carroça.
Tempos atrás, trabalhara como crooner em uma boate.
Fizera o trabalho diante da dificuldade de encontrar emprego como professora, em razão da falta de vagas.
Prometeu para si mesma que assim que tivesse condições, voltaria a estudar.
O emprego de crooner, encontrou por acaso.
Ao descer do ônibus, na rodoviária da cidade, foi logo perguntando as pessoas onde poderia se hospedar.
Ao chegar no hotel, foi logo perguntando sobre vagas de trabalho.
Comentou se havia necessidade de professores no lugar.
Chegou a se apresentar em algumas escolas, mas não conseguia emprego. As vagas já estavam preenchidas.
Nisto, em suas andanças pela cidade, encontrou cartazes divulgando o interesse em contratar cantores para trabalhar em boate.
A moça, aflita para encontrar trabalho, acabou se candidatando, e dotada de uma bela voz, passou a cantar.
Ensaiava durante as manhãs e a noite se apresentava no local.
Sempre impecavelmente vestida, e dotada de modos elegantes, acabou por chamar a atenção dos frequentadores do lugar.
Por diversas vezes a moça se viu em situações complicadas, precisando usar de diplomacia para se desvencilhar de admiradores inconvenientes.
Certa vez, o próprio dono da boate precisou intervir.
A jovem ficava atenta.
Com efeito, após alguns meses de trabalho na boate, dotada de uma boa quantidade de dinheiro, a moça decidiu por bem se afastar.
Comunicou o interesse em não mais trabalhar no local.
Moacir, o dono do estabelecimento, insistia para que a moça permanecesse no lugar.
Clarissa por sua vez, estava decidida a ir embora.
Contudo diante dos apelos do homem, que argumentou que precisava de um tempo para encontrar alguém a altura de substituí-la, a moça recuou.
Concordou em continuar trabalhando na boate, até que se encontrasse alguém preparada para ficar em seu lugar.
Com isto, a moça trabalhou bem mais de um ano, no lugar.
A certa altura, retomou o assunto, argumentando que possuía parentes distantes e que precisava voltar para casa.
Clarissa comentou que não poderia permanecer mais tempo na cidade.
Moacir compreendeu que não poderia retê-la.
Semanas após o pedido, Clarissa arrumou suas malas e partiu.
Sua estada no estabelecimento proporcionou-lhe conhecer pessoas encantadoras, talentos extraordinários.
Mas também conheceu pessoas interesseiras e mesquinhas.
A despedida dos amigos, foi deveras tristes.
Lacrimosa, a moça respondeu que sentiria saudades de todos, mas que era chegado o momento da partida.
Todos os que a conheceram aprenderam que a moça tinha um passado a esperando, e que em algum momento, precisaria resgatar sua vida pregressa.
Muitos desconfiavam que a moça trazia consigo um segredo.
Alguns tentaram descobri-lo, outros respeitaram seu silêncio.
Clarissa então, teve contato com a vida boêmia.
Ao partir, deixou muitos saudosos.
Evandro, Ademar e tantos outros, comentaram que sentiriam saudades eternas.
Sabiam que se tratava de moça de fino trato, a qual, por contingências da vida, foi obrigada a encarar a vida boêmia.
Todos diziam admirados que ela não se deixara contaminar.
Comentavam que outras garotas certamente se encantariam pelo sucesso e seguiriam caminhos tortuosos.
Clarissa vivera os tempos na capital dedicando-se aos ensaios na boate, a sua mantença, e a procura por um emprego de professora, o qual não conseguiu.
Com isto, ao perceber que já havia ficado tempo demais na capital, decidiu procurar outros rumos.
Não havia um dia em que não sentisse saudades na família.
Nos primeiros dias, chegou até a chorar de saudade.
Sentia falta, principalmente de Cristiano.
Com isto, seguiu sem rumo para outra paragem.
E assim, de parada em parada, chegou ao vilarejo, onde cuidava do velhinho.
Em certa noite o homem morreu, e a moça ficou sem emprego.
Mas não demorou muito para finalmente conseguir lecionar na vila.
Enfim estava encontrando um objetivo na vida.
Clarissa estava decidida a se estabelecer no local.
Ensinava adultos e crianças a lerem e a escreverem.
Era atenta e dedicada, sempre orientando os alunos a melhorarem a caligrafia.
Os alunos gostavam bastante da professora dedicada.
Para chegar a escola, a moça seguia de carroça.
Pouco se sabia a respeito da moça, embora a curiosidade fosse muita.
Clarissa dizia ter estudado em uma cidade grande, e que estava ali por contingências da vida. Dizia estar cansada da correria dos grandes centros, e que procurava um pouso tranquilo.
Muitos se contentavam com a prosaica explicação, mas havia quem desconfiasse dos motivos que levaram moça tão jovem e tão bela, de modos tão delicados e refinados a aportar por ali como um barco sem rumo.
Muitos não compreendiam como alguém com tanto estudo, poderia gostar de um lugar tão pobre e tão simples, como aquela vida perdida nos confins do mundo, esquecida por Deus.
Mas Clarissa era feliz em seu trabalho de lecionar, corrigir cadernos e provas.
Em suas aulas, a jovem ensinava a história, lia livros para as crianças, e as estimulava a lerem também.
Todos gostavam da professora.
Muitos moradores da região, ficavam a observar a moça de longe.
Algumas pessoas a olhavam com admiração, outros não.
Certo dia um rapaz, aconselhou-a a não andar sozinha pelos caminhos que circundavam a vila.
Argumentava ser perigoso uma moça jovem e sozinha andar por aqueles lugares.
Clarissa respondia que nunca estava sozinha, mas prometeu que iria se cuidar.
A jovem pensava que um lugar tranquilo como aquele jamais serviria de abrigo para alguém mal intencionado.
Acreditou que homem só dissera aquilo para amedrontá-la.
Clarissa contudo, chegou a conclusão que não poderia ter receio.
Com o tempo, passou a oferecer carona para as crianças.
As mulheres admiravam os modos da moça.
Gostavam de seus trajes.
Clarissa no entanto, passou a fazer uso de roupas mais simples.
Tudo com vistas a não chamar a atenção demais para si.
Mas não tinha jeito.
Logo foi convidada para a festa da vila.
Dançou na quermesse, foi apresentada aos pais das crianças.
Em suas andanças de carroça, visitou a casa dos moradores da vila.
Era querida de quase todos os moradores da localidade.
Orientava as pessoas a cuidarem de suas posses, de seus bens.
Dizia-lhe para que plantassem frutas e o excedente partilhassem entre os vizinhos.
Alguns moradores, ao ouvirem isto, argumentaram que não estava certo doar o que havia sido plantado com tanto esforço.
Foi quando ela perguntou se teriam para quem vender os produtos.
Os moradores ficaram se olhando, sem resposta.
Clarissa argumentou que não conseguia compreender como um país tão vasto, poderia abrigar tanta fome. Criticou o comodismo, e argumentou que ao menos poderiam tentar. Disse que mesmo no sertão existiam plantas e árvores resistentes ao clima seco.
Com o tempo as coisas foram melhorando um pouco.
Ela própria adquirira uma casinha pequena, com um amplo quintal, onde plantara algumas frutas e verduras, orientada pelos moradores.
Com o seu exemplo, os demais moradores passaram a fazer o mesmo.
Aumentou o rebanho de bodes e cabras do lugarejo.
Passaram a produzir queijos, e dividirem frutas e produtos excedentes com os vizinhos.
O que podiam, comercializavam na venda.
Clarissa por sua vez, aprendeu a cozinhar.
Ria se lembrando do pobre velhinho sendo obrigado a comer sua gororoba.
Mas não cozinhava tão mal assim.
De vez em quando, alguns dos seus alunos, iam almoçar em sua casa.
As mães, ao tomarem conhecimento disto, deram uma sova nos garotos.
Diziam: Onde já se viu amolar a professora? Já não é o bastante ensinar-lhe as letras, agora é obrigada a nutri-los? O que Clarissa irá pensar? Que se tratam de um bando de esfarrapados famintos?
Com isto, as visitas no horário do almoço, passaram a escassear.
A moça ao saber disto, conversou com os pais, mas os mesmos continuaram a argumentar que isto não estava certo.
Clarissa compreendeu os motivos dos pais.
Sabia que para eles era motivo de vergonha saber que os filhos se utilizavam da boa vontade da professora.
Muitos pais chegaram a dizer que eram pobres sim, mas capazes de alimentar seus filhos.
Clarissa por seu turno, sempre que aparecia um andarilho pelas paragens, oferecia-lhes alimento. Quanto a moradia, não poderia fazê-lo por morar só.
Mas alguns vizinhos prestimosos, ofereciam guarida aos viajores.
Estes homens, estas famílias, contavam histórias de lugares distantes, traziam notícias de um mundo que a maioria daquelas pessoas desconhecia.
Um deles chegou a dizer ter visto uma moça muito parecida com ela, em uma capital.
Clarissa ao ouvir a história, ficou tensa.
O homem mencionou o nome da cidade onde a moça vivera por mais de um ano.
Mas as conversas não avançavam, pois Clarissa afirmava nunca haver passado pelo lugar.
Com efeito, nas festividades de fim de ano, a moça pode mostrar seus dons culinários, ao oferecer um bolo para a ceia de natal.
A famílias se reuniam, colocavam mesas e cadeiras para fora das casas.
Adornavam as mesas com suas melhores toalhas.
Colocavam na praça, um grande presépio, feito por um escultor do lugar.
Clarissa, ao tomar conhecimento disto, elogiou o trabalho do artista.
Os moradores, apesar da simplicidade, enfeitavam seus lares simples.
Animados trocaram pequenas lembranças. Quinquilharias adquiridas na venda da esquina.
As mulheres estabeleceram entre si, quem faria o que.
Prepararam frangos, vatapás, feijões de corda, entre outros pratos típicos.
Ensaiados pela professora, foi apresentado um auto de natal, o qual emocionou todos os moradores do vilarejo.
Espetáculo tão aplaudido, quanto a aparição da lua cheia para seus moradores.
Lindo espetáculo celeste.
A meia noite os moradores, vizinhos se cumprimentaram.
Todos elogiaram o bolo de Clarissa.
Diziam que já podia se casar.
Boa mestra, cozinheira, dona de casa exemplar.
Clarissa ria dos comentários.
Neste momento, alguns curiosos passaram a perguntar se possuía algum pretendente deixado para trás na cidade grande.
A jovem ficou bastante incomodada com a pergunta.
Visando desconversar, a moça ao observar as mesas agrupadas, com singelas toalhas com motivos natalinos, elogiou o capricho.
Animados os vizinhos lhe diziam que nem na cidade grande se vira uma festa tão bonita quanto aquela.
Ao final da festa, já de madrugada, só coube a moça concordar.
Prestativa, auxiliou os moradores a colocarem as cadeiras dentro das casas, a guardar os alimentos, dobrar as tolhas.
Linda festa.
Clarissa recordou-se das festas em casa.
Da família numerosa que possuía, das saudade de seu pai, seu tio, seus irmãos e irmãs.
Sentiu saudades até de sua mãe, que falecera quando ainda era muito pequena.
Ao entrar em sua casa na vila, percebeu o quanto estava sozinha.
Possuía amigos ao redor, pessoas queridas, mas fora obrigada a afastar-se da família.
Isto a penalizava profundamente.
Por diversas vezes a moça fora vista triste, pensativa.
Alguns cogitavam o por quê de tanta melancolia.
Clarissa por seu turno, sempre que perguntavam algo sobre sua vida pessoal, desconversava.
E assim se entretinha com seus livros, seus cadernos, suas provas para corrigir.
Cuidava da casa, do lar, das plantas.
Dividia o excedente do que conseguia colher.
Durante a tarde em que se sucedeu uma forte ventania, os moradores ficaram a pensar se seria conveniente comemorar a passagem do ano novo com mesas e cadeiras para fora das casas.
Como ao final da tarde as coisas se acalmassem, os moradores resolveram arriscar.
E lá se foram a retirar as mesas de dentro das casas, as cadeiras, a colocar a toalha de festa, a melhor que tinham.
Alguns enfeitaram a mesa com flores, metidas em vasos de barro.
Os comes e bebes deixaram tudo ainda mais bonito.
Clarissa elogiou a arrumação dizendo que tudo estava ainda mais bonito do que o fora no natal.
Durante a ceia os adultos brindaram com vinho, e as crianças beberam sucos da terra.
Brincavam ao redor da mesa.
Por diversas vezes, trombaram em Clarissa.
A mãe dos garotos ralhou com eles.
A moça usava um vestido branco muito bonito.
Os moradores elogiaram o traje. Diziam-lhe que estava ainda mais linda do que na noite de natal.
Clarissa agradeceu e sentou-se.
Enquanto se deliciavam com o frango bem preparado, comiam, bebiam e conversavam, um estranho se aproximava.
Trazia consigo uma mala pesada e equipamentos.
Qual foi a surpresa dos moradores, ao verem um estranho se aproximando da mesa singelamente preparada pelos moradores.
Quando o homem se aproximou, desculpou-se pelos modos e pela hora da chegada, mas ainda assim perguntou onde poderia se abrigar, pelo menos durante aquela noite, até que pudesse chegar na cidade mais próxima.
Os moradores se entreolharam e estranharam a visita.
Curiosos, perguntaram de onde ele vinha.
O que estava fazendo, vagando como se fora alma penada, em plena noite de virada de ano?
O homem então, colocou sua mala e seus equipamentos no chão.
Procurando tomar fôlego, começou a falar.
Argumentou que era fotografo e que fora chamado para registrar um casamento. Porém, ao chegar no lugar deparou-se com uma fazenda abandonada.
Sem conhecer quase nada pela região, o moço pegou uma carona em uma carroça até chegar próximo do vilarejo, onde o homem que o conduzira, o deixou.
Informou que o restante do caminho seguira a pé.
Os homens então, convidaram-no a sentar-se.
Disseram que a ceia era simples, mas que se quisesse, estava servido.
Frangos e outros pratos típicos da região, guarneciam a mesa.
O forasteiro agradeceu e sentou-se.
Foi servido de comida e bebida.
Antes, fora apresentado aos moradores.
Ao ser apresentado a Clarissa, perguntou-lhe se não a conhecia de algum lugar.
Chegou a afirmar que seu rosto não lhe era estranho.
Constrangida, a moça afirmou que não, que ele estava enganado, e que possuía traços muito comuns.
Procurando ser galante, o homem respondeu que jamais uma beleza como aquela, poderia ser comum.
Foi o bastante para Clarissa ficar sem jeito.
Roberto, o forasteiro, encantou a todos com sua conversa.
Os moradores por sua vez, ao tomarem conhecimento de que sua profissão era de fotografo, pediram a ele que registrasse em uma só fotografia, os moradores da região.
Roberto argumentou que não seria possível, o que desapontou-os bastante.
Contudo, visando retribuir a hospitalidade, propôs tirar fotos dos moradores.
Com isto, todos se posicionaram.
As famílias todas se reuniram para registrarem um raro momento em um retrato em preto e branco.
Clarissa, que não possuía família, tentou se esquivar da foto, mas Roberto fez questão de que ela tirasse retrato.
Com isto, a moça tirou uma foto ao lado do presépio na pequena praça do vilarejo.
Em seguida, tirou uma foto ao lado de algumas crianças.
Roberto prometeu que assim que chegasse na cidade, providenciaria a revelação das fotos.
Curiosos, os moradores perguntaram-lhe se não trazia consigo alguns pozinhos.
Roberto ficou intrigado com a pergunta.
Afinal de contas, por que traria pozinhos?
Foi então que Clarissa tentou explicar.
Acreditando que o aludido pó, nada mais era do que os produtos químicos necessários para a revelação das fotos, Clarissa perguntou-lhe se não trazia os produtos necessários para a revelação dos filmes fotográficos.
Roberto respondeu-lhe que sim, mas que era preciso um ambiente adequado para a realização do procedimento.
Clarissa perguntou-lhe como precisava ser o ambiente.
Roberto explicou-lhe que precisava ser escuro, limpo e espaçoso.
Clarissa respondeu-lhe para pousar, poderia utilizar a casa de um dos moradores do lugar.
Vários deles se ofereceram para abrigá-lo.
Quanto ao estúdio para a revelação das fotos, poderia utilizar um dos cômodos de sua casa.
Uma das moradores, Dona Enir, argumentou que não ficava bem uma moça receber sozinha, um rapaz.
Clarissa respondeu-lhe que ele poderia vir acompanhado de um pequeno ajudante.
Roberto logo perguntou quem poderia ser este ajudante.
Mencionou que não poderia ser alguém inquieto que mexesse em tudo, ou os filmes seriam danificados. Argumentou que teria que ser uma pessoa muito obediente.
Nisto um menininho levantou a mão se oferecendo para ser seu assistente.
Roberto olhou para Clarissa, como que a pedir aprovação.
Clarissa assentiu com a cabeça de forma a concordar com a escolha.
Com isto, no dia seguinte, no período da tarde, depois de um café da manhã com leite de cabra e um almoço frugal, dirigiu-se a casa da moça.
Começou o trabalho de revelação das fotos.
Tarefa meticulosa que levou alguns dias.
Roberto enquanto trabalhava, perguntava da moça, o que fazia.
Descobriu que assim como ele, viera de longe.
Era professora numa escola próxima dali, e que pouco ou nada se sabia sobre de onde viera, quem era sua família.
O fotografo começou a ficar intrigado.
Conversando com a moça, descobriu que a mesma era bastante instruída para ter saído daquela região para estudar.
Curioso, comentou que ela parecia uma dama.
Clarissa retrucou dizendo que todas as mulheres que viviam com dignidade, mesmo em meio a mais absoluta pobreza, eram damas.
Roberto então, argumentou que de fato ela não deixava de ter razão, mas que seus modos eram um tanto refinados para a dureza daquelas paragens.
Relatou que a natureza do lugar era bruta, em contraste com seus modos educados.
Brincando, chegou a dizer que ela não parecia pertencer ao lugar
Incomodada, Clarissa respondeu-lhe que não era da região, mas que se sentia a fazer parte do lugar, já que fora aquele, o lugar que escolhera para viver.
Roberto ficou intrigado.
Chegou a perguntar-lhe o por quê de tal decisão. Mencionou que na capital poderia se destacar, lecionar para filhos de gente importante, arrumar um bom casamento.
Clarissa, aborrecida com a conversa, mencionou que não era uma interesseira, e que ir para a capital não era sinônimo de arrumar casamento.
Roberto riu.
Comentou que esta era a primeira vez que ouvia uma mulher dizer que não estava interessada em arrumar casamento.
Clarissa argumentou que ainda era muito cedo para pensar nisto...
Flaviano por seu turno, ainda não se acostumara a ideia de não ter a filha ao seu lado.
Por isto, comentava a todo o momento com a família, que era muito estranho não poder contar mais com a presença de Clarissa.
Comentou que até no modo de morrer se parecia com a mãe, ao partir inesperadamente, sem dar tempo das pessoas se prepararem para seu passamento.
Inácio e Flávio por várias vezes, perguntaram a ele, se Cristiano tinha certeza de que o corpo encontrado era realmente de Clarissa.
Flaviano respondeu que Cristiano e Clarissa eram muito unidos, mais até do que gostaria, e que o tio jamais se enganaria ao identificar o corpo da sobrinha.
Inácio insistiu na pergunta.
Relatou que se o corpo estava se decompondo, havia sim a possibilidade de ter ocorrido um erro. Esperançoso, por diversas vezes perguntou se não poderia ter sido tudo um grande engano.
Flaviano resignado, refutava estas possibilidades.
Argumentava que se ela estivesse realmente viva, já teria se manifestado da alguma forma.
Certa vez, ao ouvir a justificativa do pai, Flávio contestou.
Dizendo que Clarissa saíra fugida, não fazia sentido fugir e depois dizer onde estava. Argumentou que se a irmã saíra de casa a sorrelfa, era por que estava com medo de algo. Em assim o sendo, jamais entraria em contato com a família para informar onde estava.
Flaviano pela primeira vez, concordou com o filho.
Contudo, passou a se perguntar, se ela estava viva, o que estaria fazendo da vida?
Por um momento, ficou aterrado com a possibilidade da filha ter caído na vida.
Clarissa se prostituindo para sobreviver.
Porém, ao pensar melhor no assunto, chegou a conclusão de que Clarissa não enfrentaria a tudo e a todos, fugindo de um possível casamento infeliz, para cair na vida.
Não, isto não combinava com Clarissa.
A moça era estudiosa, dedicada, inteligente; desde de cedo trabalhava, sabendo ganhar e cuidar do próprio dinheiro.
Pensou que a filha quase não tinha despesas em casa. Que roupa, sapato e alimentação ficavam a seu cargo, de forma que quase tudo o que ganhava, mesmo sendo pouco, era gasto em livros, algum bibelô, sendo o restante guardado.
Recordou-se de que a filha lhe dissera que guardava parte do que ganhava.
Nisto, ao recordar-se do dia em fora reconhecer o corpo, não identificou nele, qualquer semelhança com sua filha. Todavia, estava abalado.
Ademais, Cristiano lhe dissera que muito provavelmente, era Clarissa.
Ao recordar-se deste momento, os olhos de Flaviano, encheram-se de lágrimas.
Mas afinal, o que teria acontecido?
De fato, como lhe advertira por diversas vezes Inácio, e por algumas vezes Flávio, o corpo poderia não ser de Clarissa.
Quanto a isto, nunca teve certeza de fato.
Mas para se poupar da dor da incerteza, preferiu acreditar.
Cássio por seu turno, inconformado com a morte da moça, moveu céus e terras para se certificar de que ela estava mesmo morta.
Contudo, nunca conseguiu encontrar uma pista da jovem.
Flaviano, ao tomar conhecimento de que o rapaz estava investigando por conta própria o paradeiro da jovem, chegou a ficar preocupado.
Foi então que percebeu que o sentimento do rapaz por sua filha não era amor.
Cássio era simplesmente obcecado pela jovem.
Tão obcecado pela moça, que mesmo após perceber que não descobriria pistas sobre seu paradeiro, continuou a desconfiar de sua morte.
Com efeito, por diversas vezes, chegou a dizer que ele e Cristiano estavam combinados numa trama, para acobertar o sumiço da moça e diminuir o escândalo de seu desaparecimento.
Flaviano, a certa altura, ameaçou processar o rapaz por difamação e injúria.
Cássio então, ao tomar conhecimento da intenção de Flaviano, cessou as acusações.
A esta altura, ao receber uma herança, começou a medir forças com o homem.
Dizia ter sido ele o responsável pela fuga da moça ao faltar ao dever de vigilância.
Nervoso, certa vez, Flaviano chegou a dizer que Clarissa fizera bem ao fugir dele.
Cássio visando revidar a ofensa, argumentou que ela não estava fugindo dele e sim do jugo de sua família.
Flaviano ao ouvir as duras palavras, mandou o jovem se retirar.
Cássio respondeu que não tornaria a procurá-lo mais.
Ameaçou retomar as investigações. Mencionou que publicaria a foto da moça em jornais de grande circulação, solicitando informações sobre o seu paradeiro, bem como oferecendo recompensa.
Ao ouvir isto, Flaviano ficou furioso.
Disse que ele estava louco, exigiu que ele respeitasse a memória da moça, já que não a havia respeitado em vida.
Cássio pediu ao homem que confessasse que ela estava viva.
Flaviano respondeu-lhe que Clarissa estava morta.
Argumentou que mesmo com toda sua influência, jamais teria o poder para forjar o óbito de uma pessoa que não morrera.
Cássio, em tom desafiador, argumentou que com dinheiro, se comprava inclusive as consciências alheias.
Flaviano novamente mandou-o retirar-se.
Cássio por fim, disse-lhe que:
- Já reparaste no quanto as coisas se modificaram após a notícia do falecimento de sua filha? De amoral, se tornou quase uma santa. Logo a flor que fora colhida.
Nisto saiu da casa.
Dirigindo seu carro, chegou a dizer que se tratava de uma donzela desvirginada.
Ao recordar-se da tarde fatídica, chegou a sorrir.
Consolava-o saber que pudera ter ao menos uma nesga de contato físico com a moça.
A noite em seu quarto, prometeu a si mesmo, que a encontraria caso estivesse viva.
Seu padrinho, ao tomar conhecimento da intenção do moço, argumentou que sua reputação fora manchada após o evento envolvendo a jovem.
Mencionou que já era tempo de se mudarem da cidade, e que precisava casar-se para parar de pensar tanto nela.
Lupicínio reprovava o comportamento do sobrinho, que passa as noites em boates, a cada noite sendo visto com uma mulher diferente.
A certa altura perguntou-lhe se não estava satisfeito em dar vazão a seus instintos com toda a sorte de mulheres.
Cássio respondeu-lhe que Clarissa era diferente.
Ela sim, sendo uma moça para casar.
Linda, encantadora.
Insistia em dizer que não se casasse com ela, não se casaria com mais ninguém.
Prometeu ao tio, que se ela estivesse viva, casaria-se com ela, e não a trairia com mais ninguém.
Lupicínio contestou o afilhado.
Disse-lhe que ela poderia estar se prostituindo. Com isto, perguntou-lhe se mesmo assim, casaria-se com ela.
Cássio lançou um olhar furioso ao padrinho.
Disse que a moça jamais procederia desta forma.
Lupicínio insistiu.
O rapaz, pensando um pouco, respondeu lhe daria uma grande surra, mas que depois de corrigi-la, casaria-se com ela, e e lhe ensinaria o que era um casamento.
Argumentou que a acorrentaria se preciso fosse, e ela nunca mais fugiria dele.
Lupicínio ao perceber isto, se apavorou.
Ao perceber que o afilhado estava obcecado pela moça, resolveu consultar Flaviano.
O homem, sabedor de que Cássio afrontara Flaviano, argumentou que precisava tomar alguma medida contra as loucuras do afilhado.
Flaviano, respondeu-lhe que por uma questão de ética, não poderia assumir qualquer causa contra ou a favor de Cássio, mas indicou-lhe um bom advogado.
Com efeito, o referido profissional orientou-lhe sobre a possibilidade de promover uma ação de interdição.
Contudo para isto, seria necessário comprovar a insanidade de Cássio.
Lupicínio, argumentando que não possuía alternativa, relatou que esta medida se fazia necessária.
Nisto, nos dias que se seguiram, Cássio por meio de interposta pessoa, publicou uma foto de Clarissa em um jornal de grande circulação.
Os amigos da moça, seus colegas do tempo em que trabalhou como crooner, estranharam ao ver sua foto na capa de vários jornais.
Ao lerem a matéria, descobriram que a moça era filha de um homem ilustre de outra capital de estado, e que ele a procurava aflito.
Intrigados, chegavam a se perguntar o que teria ocorrido para que Clarissa precisasse fugir.
Isto por que, a notícia no jornal, não deixava claro o que havia ocorrido.
Flaviano, ao abrir seu jornal, deparou-se com a foto da filha e uma notícia mentirosa relatando que ele a procurava aflito.
Por conta disto, o homem dirigiu-se a casa de Cássio, exigindo explicações.
Cássio irônico, disse-lhe que não precisava se preocupar, pois não iria expôr Clarissa mais do que necessário.
Ao perceber que o moço não desistiria de seu intento, ao notar sua loucura, percebeu que sua filha, estando realmente viva, corria sério perigo.
Com isto, ao constatar a loucura do jovem, compreendeu a visita de Lupicínio.
Aflito, regressou a sua casa.
Nervoso, ligou para Cristiano solicitando que viesse a sua casa.
Cristiano surpreendeu-se com o chamado, mas prometeu visitar o irmão.
Mais tarde, ao conversarem, Flaviano revelou a desconfiança que tinha de que Clarissa não estava morta.
Cristiano relatou que ao reconhecer o corpo, notou semelhanças com a sobrinha, mas não estava totalmente certo quanto a isto.
Flaviano comentou recordar-se de suas palavras na época.
Neste momento, Cristiano relatou se não seria melhor deixar as coisas se acalmarem um pouco mais, para depois procurarem o paradeiro da jovem.
Temia que qualquer movimento por parte deles, pudesse despertar a atenção de Cássio.
Flaviano então, contou-lhe sobre os últimos acontecimentos, das conversas com os filhos, as visitas de Cássio, suas provocações, e da publicação de notícias e fotos sobre Clarissa nos jornais.
Nisto, o homem apontou um jornal para Cristiano, que ficou perplexo ao ver a foto da sobrinha no caderno.
O homem não podia acreditar no que estava vendo e ouvindo.
Nisto, confabulando, os homens chegaram a conclusão de que precisavam encontrar uma maneira de localizar a moça antes de Cássio.
Flaviano pensou na hipótese de contratar um detetive particular para investigar todos os itinerários que partiam da rodoviária para outras localidades.
Cristiano argumentou que Cássio, quase dois anos antes, já adotara o procedimento.
Flaviano argumentou que se fosse preciso, contrataria mais um detetive, mas que não poderia colocar a vida da filha em risco, colocando sua fotografia nos jornais.
Cristiano concordou, prometeu que rezaria todos os dias para que a sobrinha desse um sinal.
Rindo, Flaviano comentou que não sabia que ele era tão religioso.
Cristiano disse então, que para ter a alegria de ver a sobrinha novamente, se tornaria até um católico fervoroso se preciso fosse.
… Com o tempo Clarissa e Roberto se tornaram amigos.
O moço partiu rumo a cidade mais próxima, mas regressou na primeira oportunidade.
Antes de partir porém, deixou as fotos tiradas, com seus respectivos donos.
Quanto as fotos de Clarissa, respondeu-lhe que somente entregaria uma delas, a que estava ao lado de alguns alunos.
A outra, só lhe daria, ao retornar de sua viagem.
Clarissa não gostou nem um pouco da combinação.
Argumentou que não o conhecia bem, e que não estava certo que ele ficasse com uma foto sua.
Rindo, o moço estranhou seu nervosismo.
Relatou que não pretendia publicá-la sem sua autorização.
Tentando justificar-se, mencionou que precisava apenas de algo que lhe recordasse o lugar.
Jurou que voltaria para devolvê-la.
Ao partir, mencionou que a devolveria e que tiraria mais retratos.
E partiu seguindo viagem em uma carroça.
Na cidade, realizou alguns trabalhos como retratista, onde amealhou alguns trocados.
Cerca de dois meses depois, retornou ao vilarejo.
Conforme prometera, devolveu o retrato a moça.
Durante a estada na cidade próxima, certo dia, ao deixar cair a carteira no chão, deixou revelar a foto da moça.
Um de seus colegas de quarto de pensão, ao ver o retrato da jovem, encantou-se.
Perguntou-lhe se a linda moça era sua namorada.
Sem jeito, o homem pediu para que não ficasse bisbilhotando suas coisas.
Disse que prometera a jovem que não mostraria seu retrato para ninguém.
Debochando, o colega chegou a dizer que era ele quem não queria revelar a beleza da moça. Comentou que uma preciosidade daquelas não poderia ficar escondida.
Roberto não gostou do comentário e recomendou ao colega que se apressasse ou perderia o ônibus.
A noite, ao observar o retrato da moça, Roberto prometeu que logo logo estaria de volta no povoado.
Com isto, dias depois, ao regressar no vilarejo, vendo a jovem passar por ele de carroça, teve que interromper seu trajeto.
Roberto interpôs sua carroça a frente do transporte da moça.
Clarissa se desequilibrou na carroça.
Roberto ao ver isto, correu para ampará-la.
Preocupado, perguntou-lhe se não havia se machucado.
Um tanto assustada, Clarissa respondeu-lhe que não.
Conversaram um pouco, e em que pese a insistência do moço, a professora respondeu-lhe que precisava ir a escola, pois seus alunos a esperavam.
Assim, somente mais tarde o moço devolveu o retrato a jovem.
Dissera que cuidou do mesmo, com todo o desvelo...
E assim, o moço permaneceu na vila por mais algum tempo.
Nas festividades carnavalescas, o moço convidou a moça para o baile.
Clarissa e Roberto dançaram animados.
A moça usava uma máscara, e um vestido vaporoso, a lembrar trajes de colombina.
Mais tarde, Roberto tirou algumas fotografias da moça.
Sempre que podia a fotografava.
Possuía fotos da moça mascarada, dirigindo-se a escola.
Para conseguir manter-se na localidade, passou a vender as geléias e conservas produzidas por Clarissa, na pequena venda do lugar.
Com o tempo, Roberto passou a vender nas cidades ao redor.
Também aproveitava para oferecer seus serviços de fotografo.
E assim seguia vivendo.
Ao reunir uma pequena soma, resolveu investir em um anel.
Pediu a moça em casamento.
Como a jovem titubeasse, resolveu participar o fato a todos os moradores da vila.
Animados, propuseram uma comemoração.
Clarissa relutou em aceitar o pedido de noivado.
Concordou, mas argumentou que precisava conversar com o moço.
Roberto relatou que mais tarde, conversariam.
Para selar o compromisso, um beijo nos lábios.
Mais tarde, a moça convidou o rapaz para conversar.
Dona Enir acompanhou o casal à distância.
Clarissa estava nervosa e aflita.
Enir por seu turno, percebera sua inquietação, mas sempre que pedia para lhe contar o que estava acontecendo, a jovem professora se fechava em copas.
Em dado momento, sem aguentar esconder sua angustia, Clarissa respondeu que algo de muito grave acontecera com ela, o que a impedia de assumir compromisso com quem quer que fosse.
Enir não podia acreditar que alguém capaz de ajudar um desconhecido, seria capaz de algo tão maléfico.
Chorando, a moça respondeu que não fora sua intenção, que fora vítima, mas o que sucedera a ela maculara para sempre sua reputação.
A mulher abraçou a moça.
Percebeu que se tratava de algo grave.
Clarissa revelou sem entrar em detalhes, o tormento passado nas mãos de Cássio, a fuga, a pressão para se casar.
Enir, ao ouvir a história da moça, perguntou-lhe por que não se casou com o rapaz, já que estava desonrada e ele parecia disposto a limpar sua honra.
Clarissa respondeu que se tratavam de uma pessoa agressiva e pouco confiável. Argumentou que lhe tinha repulsa, e que se casasse com ele, morreria.
Dona Enir não concordou com a postura da moça de empreender fuga.
Perguntou-lhe se chegou a se aventurar na profissão mais antiga do mundo.
Clarissa disse-lhe que não.
Afirmou que precisou trabalhar em boate, mas nunca se prostituiu. Argumentou que só queria ser feliz.
Nisto a mulher recomendou-lhe que contasse a verdade ao moço.
Clarissa respondeu-lhe que o faria. Argumentou que só não fez, por que não esperava que ele a pedisse em casamento.
E assim, enchendo-se de coragem, a moça foi ao encontro com o moço.
Chorando, contou-lhe a verdade.
Roberto parecia não acreditar.
Furioso esmurrou uma árvore, onde machucou a mão direita.
Clarissa assustou-se com o rompante.
Nisto, o moço comentou que não podia compreender como um homem poderia ser tão covarde. Argumentou que não conhecia forma pior, para humilhar um ser humano.
Segurando a moça, perguntou-lhe quem era o autor da desonra, argumentando que a lavaria com sangue.
Clarissa assustada, respondeu que o moço fora morto.
Roberto então se acalmou.
Procurando por as ideias no lugar, andava de um lado para o outro.
Clarissa só fazia chorar.
Enir, que acompanhava tudo de longe, foi amparar a moça.
Percebendo que o rapaz estava transtornado, recomendou-lhe que voltasse para casa, que descansasse.
Disse que tentaria conversar com o rapaz.
Clarissa subiu então na carroça e partiu.
Pela estrada, conduziu os animais e seguiu para casa.
Ao lá chegar, abriu o portão, adentrou o imóvel.
Acomodou os animais e depois entrou em casa.
Deitou-se em sua cama, onde chorou profundamente.
A certa altura exausta, adormeceu.
Nisto, Enir conversava com o moço.
Procurava convencê-lo de que ela não tivera culpa pelo sucedido. Argumentou que a moça sempre se portou de forma digna.
Roberto argumentou digna ela era, mas que este fato, pesava muito.
Mencionou que uma pessoa tão obcecada assim, era muito perigosa.
Ademais, como saber se ela não estava mentindo para acobertar a vergonha?
Enir relatou que não acreditava nisto.
Mencionou que diante da reprovação social, de fato não havia possibilidade dela continuar onde estava. Mesmo que se casasse, provavelmente teria que se mudar de lá. Ademais, o homem a ameaçou, como ela poderia se casar com alguém tão perigoso?
A mulher percebeu que a jovem tinha muito medo do homem.
Roberto, ao dar-se conta do estado em que a moça ficara ao lhe contar o sucedido, chegou a conclusão de que ela entendera tudo errado. Disse que precisavam conversar com mais calma, que a assumiria mesmo depois do ocorrido, mas que ela teria que mencionar o paradeiro do moço.
Ao ouvir estas palavras, Enir pediu para que ele não insistisse.
Argumentou que se ela não entrava em detalhes quanto a isto, é por que este homem de fato, representava um grande perigo.
Nisto, o homem se dirigiu a casa da moça, devidamente acompanhado de Enir.
Como a moça não atendeu aos chamados de ambos, a dupla afligiu-se.
Nervoso, Roberto ameaçou invadir a casa.
Enir sugeriu-lhe que pulasse o muro e arrombasse a porta.
Roberto perguntou-lhe se não possuía grampo de cabelo.
Enir não entendeu a pergunta mas respondeu que sim.
Nisto retirou um dos grampos que prendiam seu cabelo e ofereceu-o ao moço.
Roberto então pulou o muro.
Ao chegar em frente a casa, colocou o grampo na fechadura e abriu a porta da casa.
Procurando na sala, descobriu onde estava localizada a chave do portão.
Aflito correu até lá abrindo-o para Enir, que aguardava ansiosa.
Nisto, a mulher entrou no imóvel, acompanhado do moço.
Ao adentrar o imóvel, a mulher tratou logo de trancar o portão.
Não queria curiosos bisbilhotando a casa.
Com isto, entraram na casa.
Roberto foi logo procurando o quarto da moça.
Ao vê-la deitada, tentou despertá-la.
Por um momento pensou no pior, mas ao perceber que a moça estava respirando, acalmou-se.
Enir procurou possíveis remédios, mas não havia nada próximo da cama.
Vasculhou a sala, o banheiro, a cozinha, e nada.
Clarissa dormia profundamente.
O moço, aproximou-se e segurando-a no colo, percebeu que o travesseiro estava molhado.
Enir disse que isto era sinal de que havia chorado muito.
Aflito Roberto começou a dizer baixinho que entendia seu sofrimento, e que não iria rejeitá-la por isto.
Disse em seu ouvido, que iria casar-se com ela.
A certa altura, Roberto notou que a moça estava quente.
Enir ao tocá-la, notou que estava com febre.
Nisto prontificou-se a cuidar da moça.
Roberto insistiu em permanecer na casa para cuidar dela.
Enir advertiu-o de que isto não era aconselhável.
O moço insistiu.
Disse que não haveria possibilidade de falatórios, já que Enir permanecia no imóvel.
E assim a dupla permaneceu ao lado da moça.
Foi questão de tempo para que toda a vila viesse a porta da jovem para verificar o que estava acontecendo.
Roberto explicou a todos, que Clarissa não estava bem, apresentando quadro de febre.
Razão pela qual ingressara no imóvel, pulando o muro.
O moço explicou a circunstância em razão de algumas crianças o terem visto pulando o muro da casa.
Como a febre não cedesse, o homem perguntou se não seria o caso de chamar um médico.
Enir respondeu-lhe que não havia nenhum por perto.
Mencionou que ela iria melhorar.
Roberto então, começou a insistir para que a moça despertasse.
Dizia que precisavam conversar.
No entanto a jovem só foi acordar no dia seguinte.
Surpreendeu-se ao ver Roberto e Enir diante de si.
Triste, dizia que não queria conversar com ninguém.
Roberto disse que precisavam conversar.
Mencionou que não estava bravo com ela. Relatou que sabia ser ela vítima, e que estava disposto a manter a proposta de noivado.
Clarissa que havia lhe dado as costas, sentou-se na cama, ao ouvir as palavras.
Roberto disse-lhe então, que não estava disposto a desistir de se casar com ela.
A professora estava perplexa.
Nisto o jovem insistiu para que ela descansasse.
Ao tocar em seu rosto, comentou que ainda estava com febre.
Clarissa ao verificar o quarto, percebeu que dormira de roupa.
Roberto chamou Enir.
A jovem então, chamou o Roberto para perto de si.
Nisto abraçou o moço.
Tornou a chorar.
Roberto procurou então, consolá-la.
Clarissa percebeu o ferimento na mão do moço, mas Roberto amenizou dizendo que já havia feito um curativo.
A moça então, continuou abraçada a ele.
Enir ao vê-los abraçados, procurou afastar-se.
Somente aproximou-se, quando percebeu que a moça estava mais calma e disposta a receber seus cuidados.
Clarissa então tomou um banho, vestiu uma camisola e deitou-se em sua cama.
Roberto ansioso, aguardava na sala.
Somente depois que a moça se recolheu em seu quarto, pode conversar um pouco com ela.
Disse que ela precisava melhorar, pois precisavam comemorar o noivado.
Clarissa abraçou novamente o noivo.
Curiosos a todo o momento se aproximavam da propriedade para perguntar como estava a moça.
Houve até quem dissesse que a moça estava com os dias contados, portadora de uma doença rara e incurável.
Enir, ao ouvir os comentários, argumentou que Clarissa só estava gripada e que em questão de dias, estaria bem
E assim foi.
Clarissa guardou leito por alguns dias.
Mas com a atenção da amiga e vizinha, e do namorado, recuperou-se.
Voltou a ministrar suas aulas.
Lecionar era sua paixão.
As crianças viviam a rondar sua casa, bisbilhotando e procurando uma deixa para visitá-la.
Era o centro das atenções.
Das crianças e dos homens.
Algumas mulheres não gostavam das gentilezas que eram dispensadas a moça.
Diziam que não precisava ser tratada com tanto cuidado.
Com efeito, enquanto esteve acamada, recebeu diversas visitas dos vizinhos.
Muitas pessoas disseram que a casa da moça não era diferente das demais moradas da vila.
As crianças levavam flores para ela.
Clarissa agradecia.
Enir procurou ajeitar todas as flores recebidas em um vaso.
Roberto brincava dizendo que a moça tinha muitos admiradores.
Brincava com ela perguntando se precisaria entrar na fila.
Clarissa achava graça.
Com o noivado confirmado, os moradores se reuniram para organizar uma festa para a moça.
Prepararam um jantar para o casal.
Clarissa e Roberto vestiram suas melhores roupas.
Ao aparecerem diante dos convidados, arrancaram elogios.
Roberto, continuava a dormir em casa de moradores, mas devido a frequência dos retornos, passou a ajudar nas despesas. Dizia ter dois domicílios, já que suas atividades comerciais eram realizadas em uma localidade próxima dali.
Com relação a isto, o moço chegou a propor a moça, que se mudassem dali. Que fossem para uma localidade maior, onde pudesse trabalhar sem ficar tanto tempo distante.
Clarissa ao ouvir as palavras do moço, estremeceu.
Tentando disfarçar o nervosismo, argumentou que ali tinha emprego, que estava com sua vida estabelecida, e gostando de morar em um lugar mais tranquilo.
Roberto disse que entendia sua resistência em ficar. Contudo para ele, não havia trabalho na localidade, fato este que dificultava um bocado as coisas. Argumentou que passara a vida inteira procurando uma moça como ela, e que não admitia a hipótese de ficar um minuto sem estar perto dela.
Mas Clarissa estava reticente a mudança.
Relutava em partir.
Mas agora não era o momento para preocupações.
Durante a ceia de noivado, a jovem era sorrisos.
Brindaram com um pouco de vinho, que os lavradores guardaram de outras ocasiões.
Dançaram juntos.
Um morador cantava e outro desafiava.
Clarissa usava um vestido florido.
Juntos dançaram vários forrós embalados por canções de Luís Gonzaga.
Por fim, o moço ofereceu um arranjo de flores, e segurando sua mão, exibiu o anel de noivado.
Toda a comunidade brindou o noivado.
Todos dançaram animadamente.
O casamento foi celebrado na praça da vila.
A moça seguiu até o lugar do casamento de carroça.
A mesma estava toda forrada e com flores em suas laterais.
Clarissa usava um vestido branco, embora tivesse dito para o noivo que não se sentia confortável usando vestido branco.
Roberto lhe disse que sua pureza transcendia qualquer circunstância.
Mais pura que muitas moças que se viam por aí.
Enir concordou e comentou que conhecia pelo menos duas histórias de moças que não se casaram virgens.
Clarissa argumentou que poderia usar uma cor próxima do branco.
Roberto por seu turno, exigiu a cor branca.
E a noiva vestiu-se de branco.
O buque foi feito com flores do lugar. Arranjo alegre e colorido.
Quem a acompanhou até o altar for o marido de Enir.
Roberto a aguardava no centro da praça.
A cerimônia fora realizada pelo padre que vinha da cidade.
Visitava as vilas.
De vez em quando os moradores iam até a cidade. Participavam das missas.
Mas isto era raro.
Fato este que entristecia o padre, que ficava sempre a cobrar dos moradores, que frequentassem mais a igreja.
A distância contudo, não ajudava.
Clarissa por exemplo, o padre nunca vira em sua igreja.
Ao conhecê-la, tratou logo de adverti-la que andava em falta com suas obrigações religiosas.
A moça ficou calada.
Com efeito, após muita resistência, o padre concordou em celebrar o casamento na vila.
Diante dos apelos dos moradores que queriam acompanhar a cerimônia, o padre acabou concordando.
Muito embora dissesse que na igreja, a cerimônia seria ainda mais bela.
Enir retrucou dizendo que na vila, havia o bonito cenário do lugar a emoldurar a cerimônia.
Todos aplaudiram os dizeres poéticos da mulher.
E assim, a cerimônia realizou-se na praça.
Todos os moradores a usar suas melhores roupas.
Vestidos floridos, sapatos, penteados novos. Os homens de terno.
Na praça, no coreto, os noivos se casaram.
Dagoberto, amigo de Roberto, fotografou o casamento.
Ao saber do casório do colega de quarto de pensão, foi logo se oferecendo como padrinho.
Roberto dizia já ter padrinho.
Foi então que o moço se ofereceu para fotografar a cerimônia.
Para comemorar o enlace, foram assadas caças da região.
Enir comentou que fazia tempos que não via comemorações tão alegres, tão animadas.
As crianças também estava alinhadas. E advertidas por seus pais, estavam proibidas de sujarem suas roupas.
Ao término dos festejos, o casal seguiu de carroça até a morada de Clarissa.
No dia seguinte partiriam para um curto passeio em uma cidade próxima.
Clarissa insistia em dizer que não poderia ficar muito tempo afastada da vila, pois estava em época de aulas.
Com isto, o passeio duraria apenas alguns dias.
Em casa, o moço ajudou a moça a descer da carroça.
Dizia que ela não poderia desmanchar o vestido.
Enir o havia costurado.
O vestido que usaria em seu casamento com Cássio, fora deixado para trás.
Ao ver a noiva tão elegante a usar sua criação, Enir ficou toda orgulhosa.
Dagoberto tirou fotos do casal.
Os convidados fizeram poses.
A foto do casal, mais tarde se tornaria um quadro redondo, a enfeitar a parede da sala da casa.
Foto colorida com tinta.
O moço levou a moça até a porta da casa.
Abriu-a, e segurou-a no colo. Sentou-a no sofá e trancou a porta.
A seguir, segurando-a novamente nos braços, levou-a até o quarto.
Ao lá chegar, colocou-a na cama e encostou a porta.
Clarissa estava tensa.
Roberto percebendo isto, argumentou que não faria nada que ela não quisesse...
No dia seguinte, ao se despedir dos moradores da vila, Clarissa foi abraçada por Enir.
Quando conseguiu ficar a sós com a moça, a mulher perguntou-lhe se estava tudo bem.
Clarissa sorrindo, disse que sim.
Enir percebeu que tudo estava bem.
E assim o casal seguiu de carroça pelos caminhos de terra, de pedra, de cactos, mandacarus.
O sol abrasador do sertão.
Clarissa lembrou-se da expressão: 'O sertanejo, é antes de tudo um forte'.
Concordou com Euclides da Cunha.
Em sua chegada a vila, sentira a aspereza dos caminhos, mas a vontade de se sentir livre era maior.
Chegou a vila depois de muitas paradas por fazendas e outros vilarejos.
Só parou ao descobrir uma forma de sobreviver em um lugar tão calmo.
Por indicação de pessoas amigas, que lhe disseram onde encontrar trabalho.
Lecionar, foi apenas questão de tempo.
Conversou com um funcionário da prefeitura da cidade e depois de algum tempo, a escola foi reativada. Com isto, ganhou casa, e passou a receber um pequeno ordenado.
Pensando em como chegara a vila, Clarissa seguiu viagem.
Hospedaram-se em um hotel, mas Roberto apresentou a esposa aos amigos.
Dagoberto cumprimentou o casal.
Clarissa e Roberto caminharam pela cidade.
Assistiram fitas no único cinema do lugar.
Roberto desculpou-se pelo fato da localidade não possuir grandes atrativos.
Clarissa por seu turno, argumentou que estava achando tudo lindo, e que ao lado dele, qualquer lugar por mais tranquilo que fosse, era bom.
Roberto sorriu e beijou a esposa.
Clarissa tensa, argumentou que estavam em público, e que alguém poderia vê-los.
Roberto concordou, não sem rir um pouco.
Compreendia a preocupação da moça.
Afinal, eram tempos puritanos e as pessoas podiam comentar.
Mais tarde, regressaram ao povoado, onde foram recepcionados com festa pelos moradores, que aplaudiram quando a carroça do casal foi se aproximando.
Todos queriam cumprimentar os recém-casados.
Clarissa no dia seguinte, convidou os moradores do lugarejo para visitarem sua casa.
Para os amigos, preparou um bom almoço, com pratos típicos da região.
Alguns lamentaram não poder ir, mas quase todos os moradores foram.
Nisto seguiu-se a retomada da rotina com a moça ministrando suas aulas para as crianças durante o dia e para os adultos ao cair da tarde.
Roberto continuava a viajar, oferecendo seus préstimos como fotografo.
Depois de um certo tempo, o homem voltou a comentar a necessidade de se mudarem da localidade. Argumentou que não lhe agradava a ideia de deixá-la sozinha.
Dizia que reunia condições de sustentar uma casa, e que ela não precisava continuar trabalhando. Sorrindo, dizia-lhe que queria lhe oferecer uma vida de rainha.
Clarissa dizia não querer vida de rainha. Apenas almejava continuar a viver de seu trabalho.
Por conta disto, o casal chegou a se desentender.
Mas com o tempo o moço acabou por convencer a moça.
Roberto certa vez, retirou-se da casa, pegou suas coisas e partiu.
Clarissa pensou que o homem não mais voltaria.
Mas o homem voltou.
Pediu-lhe desculpas.
Nisto, aconselhado por Enir, o moço acabou convencendo a moça a partir.
Em conversas com Enir, Clarissa confidenciou que não queria partir.
Dizia ser mais feliz ali, do que o fora em qualquer outro lugar.
Enir perguntou-lhe então, por que tinha tanto medo de sair do vilarejo.
Clarissa respondeu-lhe que não gostaria de voltar a viver em uma grande cidade.
Ao ouvir isto, Enir disse-lhe que o ocorrido se sucedera na capital.
Clarissa passou a olhar o chão.
Enir completou falando que ela não precisava lhe dizer nada.
Tentando ajudar a amiga, tentou convencer o homem a mudar de ideia.
Roberto contudo, estava disposto a levar a moça para longe.
Enir argumentou que as crianças ficariam sem escola.
O homem argumentou que poderiam chamar outra professora.
Enir respondeu que quase ninguém se aventurava a lecionar no local.
Dizia ser um povoado esquecido de Deus. Mencionou que dificilmente encontrariam outra professora, outra mulher que quisesse permanecer naquele fim de mundo.
Roberto lamentou.
Argumentou porém, que não estava feliz vivendo daquela forma, e que sentia falta da esposa. Insistia em dizer que queria vê-la perto de si.
Com isto, foi questão de tempo para que a moça partisse.
Triste, Clarissa despediu-se chorando dos amigos.
Argumentou que tentou convencer Roberto a ficar, mas que não conseguiu.
Com isto partiu.
Despediu-se de todos, sentada na mesma carroça que usava para ir a escola.
A carroça deixada de herança pelo velhinho que cuidara.
Parecida com a que aportara por ali.
Todas as crianças da vila choraram.
Roberto se comprometeu a escrever uma carta solicitando a ida de outra professora para o lugar.
Ao se despedir de Enir, a mulher comentou que sabia que a moça não mais voltaria ao lugar.
Chorou profundamente por saber disto.
Abraçaram-se.
Enir desejou-lhe que sinceramente fosse feliz, que esquecesse o passado.
Clarissa prometeu que o faria.
Enir alegou que não se satisfaria com menos que isto.
E lá se foi Clarissa e Roberto, a sumirem na poeira da estrada.
Já fazia quase dois anos que a moça chegara ao povoado.
Levava consigo as lembranças de um tempo feliz, as rendas, e o enxoval preparado, pelos moradores da vila, quando do casório.
Levava também, muitas saudades...
Enquanto isto, Flaviano continuava sua busca pelo paradeiro da moça.
O homem, desolado, já estava quase desistindo de procurá-la.
Triste, estava convencido que o corpo a jazer no abrigo da família, era de fato de sua filha.
Irene e Ilana, com seus filhos quase moços, diziam a pai, que era inútil procurar por Clarissa. Acreditavam que ela realmente estava morta.
Tristes, choravam copiosamente no velório e enterro da irmã.
Mas também se consolavam com o fato de que a vergonha a que foram submetidas, havia se apagado.
Era como se com a morte de Clarissa a desonra desaparecesse e a macula tivesse desaparecido.
Com filhos moços, quase em idade para se casarem, não seria conveniente revirar a história. Argumentavam.
Flaviano porém, não se importava com isto.
Inácio e Flávio, insistam para que o pai não desistisse de procurá-la.
Sentiam culpa por haverem condenado a irmã.
Cristiano também voltou a encher-se de esperanças...
Com isto, com o passar dos anos, finalmente o homem recebeu um telefonema.
Era o detetive informando que identificara uma moça muito parecida com a filha do ilustre causídico.
Flaviano ao ouvir as palavras do homem, mal podia acreditar em suas palavras.
Ansioso, disse que só acreditaria nele se pudesse comprovar com seus próprios olhos.
O detetive descreveu com todos os detalhes que eram possíveis, a moça.
Com isto, combinaram de encontrar-se no local onde ela fora localizada.
Nisto Flaviano combinou o local do encontro.
E aflito pediu a uma de suas empregadas que preparasse rapidamente sua mala, pois estava prestes a partir.
Disse que iria para longe e que talvez demorasse para voltar.
Nisto, reuniu os filhos e o irmão, informando que iria viajar.
Argumentou que lhe fora apresentada uma nova causa, e que precisava conhecer os detalhes da ação. Mencionou que se desse certo, seria uma grande causa para seu escritório.
A esta altura Flávio e Inácio já trabalhavam em seu escritório.
Ambos estavam formados.
Flávio já tinha uma noiva.
Tal fato encheu Flaviano de contentamento.
O homem estava orgulhoso do comportamento dos filhos.
Cristiano por seu turno, estranhou o fato de Flaviano haver convocado a família para lhe informar assuntos de trabalho.
Por um momento, chegou a pensar que se tratava de alguma pista relacionada a Clarissa.
Flaviano contudo, insistia no tema de que estava viajando a trabalho.
E assim viajou.
De avião, rumo para a localidade.
Lá, conversou com o detetive, que lhe deu detalhes sobre o paradeiro da moça.
O detetive contou-lhe que a moça casara-se, e que vivia em uma bonita casa em um bairro próximo da região central da cidade.
O homem indicou a Flaviano onde poderia ver a moça, e o pai saudoso e aflito, não pode conter as lágrimas ao ver a filha segurando uma sacola de pano, com víveres. Seguia para casa.
Ao vê-la, teve que conter o ímpeto de correr ao seu encontro.
Precisava pensar em como iria abordá-la.
Sentia porém, que precisava conter o ímpeto de correr para abraçá-la, beijá-la.
Prometeu para si mesmo, que não colocaria a vida da moça em risco, e que não a prejudicaria mais do que já havia prejudicado.
E assim, nos dias que se seguiram, continuou a ver a moça de longe.
A certa altura, depois de conversas com o detetive, Flaviano decidiu apresentar-se a moça.
Assim no dia da apresentação de um espetáculo de balé na cidade, o homem comprou ingressos para o evento.
Sabia que a moça estaria presente no evento, assim como o marido.
Tenso, preparou-se para a ocasião.
Clarissa estava lindamente vestida, acompanhada de Roberto.
O moço, empregado em uma revista, não precisava mais correr o sertão em busca de trabalho.
Assim pode finalmente oferecer a moça, a vida de rainha que tanto sonhara em ofertar.
Clarissa estava apreciando o espetáculo.
Ao término do evento, ao dirigir-se a saída do evento, foi interceptada por um homem de trajes e maneiras elegantes.
Dizia-lhe que alguém muito querido, queria lhe falar...
Ao ouvir isto, a moça empalideceu.
Nervosa começou a tremer.
Roberto somente teve tempo para segurá-la, impedindo que caísse no chão.
O estranho, ao perceber o efeito que causara na moça, tomado de precaução, recomendou ao moço que a conduzisse a uma sala.
Desconfiado, Roberto resistiu a ideia.
Perguntou se ele vinha da parte de Cássio.
Surpreso, o homem contestou a suposição.
Percebendo a necessidade de dizer do que se tratava, mencionou que um ente querido a procurava, apenas um parente, não um algoz.
Nisto Roberto, sem saber direito o que fazer, concordou em seguir o homem.
Gilberto abriu-lhe uma porta escancarando-a, a fim de mostrar que estava desocupada.
O moço então, deitou a esposa no sofá e cobriu-a com seu casaco.
Preocupado pediu para que o homem chamasse um médico.
Gilberto respondeu-lhe que não seria necessário.
Nisto, retirou um recipiente, molhou um lenço e aproximou das narinas da moça.
Roberto protestou dizendo que ele não poderia fazer aquilo.
Tentou segurar o homem, mas Gilberto o conteve.
Clarissa, ao inalar a substância, foi aos poucos despertando.
Atônito, Roberto perguntou-lhe o havia feito.
Gilberto respondeu que havia usado uma substância de odor desagradável, para fazê-la despertar.
Nisto, pediu para que ele ficasse ao lado da moça que chamaria o parente.
Perplexo, Roberto perguntou-lhe o nome.
O homem disse chamar-se Gilberto.
Nisto afastou-se.
Minutos depois, Flaviano adentrou a sala.
Clarissa ainda atordoada, demorou a reconhecê-lo.
Flaviano aflito, começou a chamar-lhe de filha.
Ao saber pelo detetive que a moça desmaiara, pediu-lhe desculpas pelo jeito como as coisas foram conduzidas.
Nisto abraçou-a perguntando-lhe se estava tudo bem.
Clarissa assentiu com a cabeça.
Em seguida, a moça abaixou a fronte.
Flaviano chorando, pediu-lhe desculpas por toda a dor que causara.
Dizia saber ser responsável por tudo o que lhe sucedera. Afirmou que se fosse um homem menos duro e mais compreensivo, não teria empurrado a filha para um relacionamento sem amor, para um sujeito doente que só queria saber de se aproveitar da situação.
Ao ouvir isto, a moça começou a chorar.
Roberto ao perceber que a moça tremia, insistiu para que o homem não a deixasse nervosa.
Flaviano então perguntou se ele era o marido de Clarissa.
Roberto apresentou-se respondendo afirmativamente.
Em seguida, perguntou quem ele era.
Flaviano disse-lhe o nome, bem como declinou o grau de parentesco com Clarissa.
Nisto, ao observá-la, comentou que ela estava muito pálida.
Aflito, perguntou-lhe se estava bem.
Clarissa respondeu-lhe que sentia um certo mal estar.
Flaviano preocupado, disse-lhe que Clarissa deveria ser encaminhada para um médico.
Disse que Gilberto lhe indicara um.
Mencionou que se eles quisessem, poderia levá-los de táxi até o lugar.
Roberto respondeu-lhe que poderia providenciar um táxi.
Como o homem insistisse, o moço acabou concordando.
Nisto a moça foi examinada e medicada.
Como o homem insistisse em acompanhá-los, só restou a Roberto lhe dizer onde moravam.
Flaviano insistiu em acompanhar o casal
Roberto ajudou a moça a subir as escadas e se dirigir ao quarto.
Ao vê-la de camisola deitada na cama, recomendou-lhe que descansasse.
Clarissa insistiu em dizer que precisava conversar com o pai.
Roberto argumentou que estava tarde, que ela não estava bem, e que a conversa poderia acontecer no dia seguinte.
Nisto, ao retornar a sala, conversou longamente com o homem.
Flaviano contou-lhe que há quase dois anos investigava seu paradeiro.
Roberto ao perceber que o homem procurava omitir detalhes do ocorrido, argumentou que já tinha conhecimento da história da moça, que Clarissa lhe contara tudo, e que sabia da existência de Cássio.
Flaviano ficou surpreso.
Roberto então, comentou que Clarissa lhe contara sobre o ocorrido quando noivara pela primeira vez, e que ele sempre insistiu em saber onde se encontrava o homem que a desgraçara. Mencionou que isto não impediu de casar-se com a moça, e que entendia seu desespero em fugir.
Comentou das peripécias da moça, de quando a reencontrou em uma vila perdida nos rincões da região.
Que depois de casado recordou-se de onde a vira pela primeira vez.
Mencionou que ela fora crooner de boate, e que fora lá que vira pela primeira vez.
Contou que a perdera de vista, vindo a reencontrá-la na referida vila.
Contou de como a moça vivia, lecionando; de seu namoro, noivado, casamento. De como se mudaram do vilarejo. Como a vida de ambos mudara, o emprego que arrumara.
Flaviano admirava-se cada vez mais da coragem da filha.
E assim, investido de coragem, contou que após o sumiço de Clarissa, passou a procurá-la.
Mencionou o evento em que acreditou haver localizado a moça, e que chegou a acreditar que ela estava morta. Contou sobre seu enterro.
Relatou que tempos depois, voltou a investigar o paradeiro da filha, pois acreditava que ela não estava morta. Comentou sobre as conversas com os filhos lhe estimulando a investigar melhor a história.
Roberto ouvia a tudo, e ficava mais e mais perplexo.
Por fim, o homem mencionou a obsessão de Cássio, e comentou que o mesmo permanecia a espreita, a procura de informações.
Relatou que a cerca de um ano atrás o homem publicou uma matéria sobre a moça, nos principais jornais das capitais do nordeste.
Nervoso, o homem recomendou-lhes que tivessem cuidado, pois tinha notícias de que o rapaz também contratara os serviços de um detetive particular, e que estava em seu encalço.
Roberto, depois de ouvir todo o relato do homem, recomendou-lhe que voltasse no dia seguinte.
Argumentou que Clarissa não estava bem.
Afinal, tivera um grande susto.
Flaviano pediu apenas para se despedir da filha.
Insistiu em dizer que não despertaria. Precisava apenas vê-la.
Roberto, um tanto contrariado, acabou por concordar.
Flaviano então adentrou o quarto.
Caminhando pé ante pé, aproximou-se da filha.
Beijou-lhe a fronte.
A moça, que dormia pesadamente, ameaçou despertar, mas Flaviano dizia-lhe baixinho para que continuasse a dormir.
Roberto então, sinalizou para que ele se afastasse.
Antes de partir, o homem despediu-se do moço, agradeceu o fato dele tê-lo recebido.
Prometeu que retornaria logo cedo, no dia vindouro.
Afirmou que não sabia se conseguiria dormir. Completou dizendo que a noite seria longa.
Dito e feito, na cama do quarto de hotel, Flaviano virava de um lado para o outro na cama.
Na manhã seguinte dirigiu-se de pronto a casa do genro.
Antes de recolher-se, conversou com o detetive.
Pagou-lhe e agradeceu-lhe os préstimos.
Gilberto afirmou que só cumprira com sua obrigação.
Nisto Flaviano comentou que ainda precisaria de seus préstimos, pois precisava saber em que pé estavam as investigações de Cássio.
Gilberto argumentou que não seria fácil, mas prometeu empenhar-se na tarefa.
Flaviano afirmou confiar em sua competência.
No dia seguinte, o homem comprou flores para levar a filha.
Nervoso, aceitou a sugestão da moça da floricultura.
Emocionado, disse que sua filha tinha uma idade aproximada a dela.
Com isto, ao chegar em frente ao sobrado, apertou a campainha.
O homem foi recebido por Roberto.
Clarissa estava um pouco abatida, mas um pouco mais disposta.
E assim, conversaram.
Flaviano perguntou-lhe se havia tomado o desjejum.
Roberto afirmou que ela comera muito pouco, ansiosa com a visita.
Flaviano repreendeu-a, dizendo que precisava se alimentar.
Clarissa perguntou-lhe o que fazia ali.
Flaviano explicou-lhe que a procurava desde que fugira.
Mencionou até sua suposta morte.
Ao ouvir isto, a moça ficou chocada.
Chegou a chorar.
Roberto, incomodado, chegou a perguntar se era realmente necessário entrar em detalhes.
Sabia que a moça ficava transtornada quando tocavam no assunto.
Flaviano então explicou-lhe que tudo levava a esta conclusão.
Clarissa ouviu todo o relato do pai.
Flaviano omitiu os detalhes mais pesados, mas contou tudo o que se sucedera.
Cauteloso, evitou mencionar a perseguição de Cássio, mas recomendou-lhe que tivesse cuidado.
Clarissa então, voltou a chorar.
Roberto por sua vez, abraçou-a tentando consolá-la.
Dizia a todo o momento que estava tudo bem e que aquilo não iria mais se repetir.
Ressaltou que ela estava protegida.
Clarissa aos poucos, foi se acalmando.
Quando Roberto se afastou da moça, Flaviano aproximou-se.
Pediu-lhe novamente desculpas. Pediu um abraço.
Clarissa abraçou-o.
Flaviano caiu em prantos.
Mais tarde, o homem despediu-se do casal.
Mencionou que ambos tinham muito o que conversar, precisando ficar a sós.
Roberto e Clarissa ficaram a pensar em tudo o que tinham visto e ouvido.
Nos dias que se seguiram, a moça perguntou da família.
Estava curiosa em saber como todos estavam.
Flaviano contou-lhe sobre os irmãos, o tio.
Quando tencionou contar sobre o que sucedera em sua vida, Clarissa descobriu que o marido lhe contara parte da história.
Flaviano argumentou que podia imaginá-la perambulando por vilas e cidades em busca de um pouso, de um sossego, de uma nova vida.
Triste, comentou que podia imaginar seu desassossego.
Clarissa lançou-lhe um olhar triste em resposta.
Mais tarde, enchendo-se de coragem, a moça perguntou de Cássio.
O homem tenso, mentiu dizendo que o moço parecia interessado em outras mulheres, tendo a esquecido completamente.
Clarissa, ao ouvir isto perguntou ao pai se era mesmo verdade.
Flaviano esforçou-se para parecer convincente.
Convencida, a moça o abraçou.
Em outras conversas, o homem recomendou-lhe que não voltasse a casa.
Disse que precisava regularizar sua situação, já que oficialmente, estava morta.
Clarissa respondeu-lhe apreensiva, que jamais voltaria para casa.
Surpreso Flaviano indagou-lhe por que.
A moça respondeu então, que não se sentia segura por lá.
Flaviano compreendeu a filha.
Constatou com tristeza, que a vida de ambos nunca mais voltaria a ser a mesma.
Ao passar alguns dias na convivência com a filha, percebeu que a mesma crescera, se modificara. Não era mais sua garotinha.
Que suas experiências de vida a tornaram madura, em que pese o pouco tempo de vida.
Contudo, algo o incomodava.
Achava que a moça estava muito abatida.
Roberto também andava estranhando o comportamento da moça.
Clarissa tinha pouco apetite e pouca disposição.
Razão pela qual a moça foi ao médico.
Descobriu-se que a moça estava grávida.
Flaviano parabenizou o casal.
Mais tarde, conversando a sós com o moço, comentou que ele ficasse atento, e que nunca deixasse a moça sozinha.
Pelo menos enquanto estava debilitada, e até que soubesse que tudo estava realmente tranquilo.
Roberto comentou que ficaria de sobreaviso, e que se necessário fosse, sairia da cidade.
Flaviano, ao ouvir isto, pediu para que o moço lhe avisasse, caso precisasse sair às pressas.
Com isto, combinou uma senha com o genro.
Recomendou-lhe para que não dissesse a ninguém sobre o que se tratava.
Mais tarde, pesaroso, depois de semanas na casa da filha e do genro, despediu-se do casal.
Disse que precisava voltar para casa, ou acabaria chamando a atenção.
E assim despediu-se.
O casal levou-o até o aeroporto.
Em casa o homem comportou-se como se nada houvesse acontecido.
Para contar a boa nova a Cristiano, dirigiu-se a seu consultório odontológico, como sempre fazia quando tinha algum problema nos dentes, ou se tratava de um exame de rotina.
Lá, contou o moço a novidade, mas insistiu para que o mesmo não contasse nada a ninguém.
Nem mesmo a seus sobrinhos.
Temia que Cássio ainda estivesse investigando o paradeiro da moça.
Por isto inventou a história de que estava viajando a trabalho.
Cristiano compreendeu as razões do irmão.
Flaviano tinha razões em se preocupar.
Dias após o regresso ao lar, Cássio recebeu uma ligação de um detetive informando que alguém teria visto a moça circulando pela cidade.
Curioso, o homem pediu mais detalhes.
Tratava-se de um colega de quarto de um tal Roberto, que na época era namorado da moça.
Cássio, ao ouvir a palavra namorado, ficou aborrecido.
Insistiu para que o homem fosse direto ao assunto.
O detetive contou a história do retrato da moça, visto quando caíra ao chão, e que o rapaz a reconhecera ao ver um recorte de jornal de um ano atrás, pendurado em um mural de um escritório.
Repetindo as palavras do moço, o detetive contou que ele jamais se esqueceria de um rosto tão belo.
O homem mencionou que o delator chamava-se Everaldo, e que sabia onde a moça estava.
Cássio quase caiu da cadeira em que estava sentado, ao ouvir a informação.
Foi questão de dias para o moço seguir em direção ao local dos fatos.
Ao chegar na cidade, insistiu para conversar com o rapaz.
O sujeito, ávido por receber a recompensa, tratou de contar tudo o que sabia a respeito da jovem.
Cássio mal podia acreditar que sua busca finalmente estava chegando ao fim.
Pensando nas informações que recebera, resolveu espreitar a moça.
Cássio a viu seguindo em direção ao ponto de táxi.
Para seu espanto, estava acompanhada por um rapaz, que pela descrição de sua fonte, só poderia ser o namorado da moça.
O delator por sua vez, ao perceber o nervosismo de Cássio, omitiu a informação de que a jovem estava casada com seu ex colega de quarto.
Cássio agarrou-o pelos colarinhos quando mencionou a palavra namorado.
Amedrontado, o homem contou parte da história, dizendo que a moça morava na cidade, e que a reconhecera pela foto que o amigo mostrara, e depois, ao ser apresentado a ela.
Cássio pressionou-o para que dissesse onde Clarissa estava morando.
O sujeitinho declinou o referido endereço.
Por fim recebeu o dinheiro da recompensa.
Com isto, ao encontrar a moça, Cássio tratou logo de pegar um táxi e segui-la.
Ao notar que o casal desceu do táxi em frente a um consultório médico, espantou-se.
Ficou a se perguntar o que estaria acontecendo.
Nisto, pagou a corrida e desceu no lugar.
Com isto, cerca de uma hora depois, o casal saiu do consultório.
Curioso, o moço entrou no local, e fingindo ser um conhecido da moça, relatou que havia combinado com ela, de levá-la para casa.
Intrigada, a atendente evitou lhe passar informações.
Cássio então, tentando saber detalhes da consulta, começou a elogiar a funcionária.
Dizia-lhe que era muito bonita e que certamente não ficaria muito tempo trabalhando atrás de uma bancada.
Lisonjeada, a moça sorriu.
Cássio alegou ser primo da moça. Informou que estava preocupado com sua saúde, achando-a um pouco abatida.
A atendente sorrindo, comentou que ao contrário do que supunha, ela estava muito bem.
Em seguida, sorriu, dizendo ser tudo o que poderia informar.
Cássio saiu do lugar desapontado.
Nos dias que se seguiram, o moço ficou a rondar a casa da moça.
De vez em quando, observava a jovem a cuidar do jardim da casa.
Ao ver a moça ser segurada nos braços por Roberto, encolerizou-se.
Percebendo que fora enganado, o homem tencionou procurar sua fonte, mas o homem, espertamente, já havia sumido.
Furioso, exigiu que o detetive lhe desse detalhes sobre o rapaz, posto que tudo indicava ser o marido da jovem.
Com efeito, ao término de dois dias, o detetive descobriu que o casal estava junto há alguns meses, tendo se casado há quase um ano.
Cássio ficou furioso.
Dizia a todo o momento que precisava tirar o sujeito de seu caminho.
Nervoso, argumentou que não poderia perder tempo.
Dizia que Clarissa iria se arrepender por havê-lo traído.
Nisto, começou a arquitetar um plano.
Em andanças pela região, contratou os serviços de um matador com vistas a eliminar Roberto, o qual considerava um empecilho a sua felicidade.
Também planejou como faria para sequestrar a moça e forçá-la a casar-se com ele.
Com dinheiro e ajuda do detetive, o homem arrumou gente que aceitasse fazer qualquer coisa por dinheiro.
Desta forma arrumou uma casa na periferia da cidade, onde providenciou roupas, alguns móveis e alimentos para a moça.
A forma como o sequestro se daria, já estava toda planejada.
Cássio já conhecia a rotina da moça.
Contudo, uma coisa o deixava intrigado.
Por que em questão de duas semanas, a moça precisou ir três vezes ao médico?
Tentou descobrir o que estava havendo, mas não obteve êxito.
Neste período Flaviano, com a ajuda de Gilberto, investigava os passos de Cássio.
O pai de Clarissa continuava aflito.
A certa altura, chegou a ligar de seu escritório para a casa da moça.
Roberto atendeu o telefonema, conversou com o sogro, mas o homem só se acalmou quando ouviu a voz da filha lhe dizendo que sentia muitas saudades.
Ao término da conversa e da ligação, o homem desligou o telefone chorando.
Cristiano ao vê-lo tão emocionado, comentou que alguém estava derretendo seu coração de gelo.
Flaviano disse-lhe que não se arrependia de quase nada do que fizera em sua vida. Mas que se havia algo de que pudesse se arrepender, era do fato de haver tentado forçar sua filha a casar-se com Cássio.
Cristiano abraçou o irmão.
Dias depois, Roberto, dizendo que não poderia acompanhá-la em sua consulta, orientou-a a ir ao médico com uma vizinha.
Clarissa atendeu ao pedido do marido.
O casamento estava bem, mas o fato de não poder trabalhar, a incomodava um pouco.
Tanto que em algumas ocasiões, o moço chegou a aborrecer-se com sua insistência.
Clarissa porém dizia sentir saudades de ter o seu próprio dinheiro.
Era o bastante para que o homem perguntasse a ela se estava faltando alguma coisa.
A moça tristonha, dizia que não, apenas um pouco de distração.
Roberto chegou a ficar penalizado com a tristeza da moça em uma das discussões, mas não cedeu nem um pouco.
Clarissa embora contrariada, procurava seguir suas recomendações.
Tanto que no dia da consulta, seguiu acompanhada de uma vizinha.
Cássio, acompanhado de seus comparsas, seguiu o carro em que estava a moça.
Ao entrar no consultório, um de seus cúmplices a seguiu.
Nisto a moça entrou na sala do médico.
Foi examinada.
O doutor explicou-lhe tratar apenas de um exame de rotina, e que estava tudo indo bem.
Em seguida lhe passou diversas recomendações.
Por fim, a moça retirou-se da sala.
Ela e a vizinha, seguiram de volta a casa.
Durante o trajeto de volta ao bairro em que moravam, o carro das mulheres foi abalroado do lado do motorista.
Cássio recomendou-lhes que fizessem a abordagem com cuidado, de modo a não assustar muito a moça.
Com efeito, na batida na lateral do carro, Clarissa, assustou-se.
Não se feriu, porém.
A vizinha, também surpresa com a batida, sugeriu a ela que não ficasse nervosa.
Nisto o motorista saiu do carro.
A batida fora leve.
Com efeito, ao olhar a lataria do carro, o homem ficou a lamentar o prejuízo.
Chegou a chamar o motorista do outro carro de louco e irresponsável.
Foi a deixa para os homens saírem do carro mandando o homem se afastar.
Como ele resistisse a ordem, apontaram uma arma em sua direção.
O taxista saiu correndo apavorado.
Com isto, os homens se aproximaram do carro e segurando a mulher que a acompanhava, exigiram que a mesma não reagisse.
Assustada, a mulher perguntou-lhes o que queriam.
Cássio respondeu então que ela não precisava ter medo, que ela não era o alvo da ação.
Nisto, gritou para que se afastasse.
O que a mulher atendeu prontamente.
A vizinha chegou a olhar para trás algumas vezes, sendo repelida por Cássio.
Ao se aproximar do carro, Clarissa o reconheceu.
Apavorada, a moça tentou sair do carro, mas foi impedida por seus cúmplices.
Cássio então, adentrou o carro.
Perguntou-lhe se havia sentido sua falta.
A moça começou então a se debater. Tentou agredi-lo.
Cássio por sua vez, arrancou-a de dentro do carro.
Clarissa esperneava. Gritava por socorro.
A certa altura, nervoso, o homem ameaçou amordaçá-la.
A jovem cuspiu em seu rosto.
Furioso, ao sentir a saliva escorrendo por seu rosto, levantou a mão para a moça, que em um gesto defensivo, se encolheu.
Cássio então, limpou o rosto.
Nisto, segurando a moça pelo braço o homem disse para ela entrar em seu carro.
Como Clarissa resistisse, Cássio a segurou.
Resistiu o quanto pode, mas a certa altura cansada de brigar, acabou vencida.
Ao desmaiar, foi amparada por seu algoz que a conduziu ao carro.
Ao ser colocada deitada no banco traseiro do veículo, o moço pareceu apreensivo.
Nisto todos entraram no carro e seguiram viagem.
A certa altura do caminho, trocaram de carro.
Clarissa continuava desacordada.
Um dos homens chegou a perguntar se não seria necessário utilizar clorofórmio.
Cássio observando a moça, segurou seu pulso.
Percebeu que o mesmo estava fraco.
Ao voltar-se para os cúmplices disse que não se fazia necessário.
Disse que a moça estava desmaiada.
Com efeito, ao chegarem no esconderijo, a moça continuava desacordada.
Cássio deitou-a na cama preparada para ela.
Clarissa continuava a dormir.
Conversando com os homens, disse que se ela não despertasse nas próximas horas, precisaria acionar o tal contato.
Mas não foi preciso.
Clarissa despertou depois de algum tempo.
Assustada, percebeu que estava amarrada, presa por correntes.
Nervosa, tentou soltar-se, mas conseguiu apenas, ferir os pulsos.
Diante do quadro, começou a chorar.
Cássio, ao perceber que a moça despertara, desejou-lhe boas vindas.
Clarissa pediu para que ele a soltasse.
O homem ignorou o pedido.
Disse que precisavam retomar uma história interrompida.
Nisto começou a aproximar-se da moça.
Clarissa pediu para que ele se afastasse.
Como o homem insistisse em aproximar-se, a moça começou a gritar.
Cássio disse que se continuasse a gritar, muita gente boa poderia sofrer as consequências de seu gesto impensado.
Ao ouvir isto, os olhos da mulher encheram-se de lágrimas.
Clarissa então, calou-se.
Cássio disse-lhe que sabia de seu casamento.
Assustada, a jovem começou a tremer.
Ao perceber isto, moço pediu para que não tivesse medo. Afirmou que embora tivesse agido bruscamente, prometeu que se ela não resistisse, não seria tão agressivo em suas próximas abordagens.
Nisto beijou o rosto da moça.
Cássio então, ofereceu-lhe comida.
A qual foi recusada pela moça.
A certa altura porém, pensando em seu filho, resolveu alimentar-se.
Cássio ficou satisfeito ao ver a jovem se alimentando.
Clarissa alegando dor de cabeça, pedia a todo o momento para ficar sozinha.
O moço argumentou certa vez, que ela não ficaria eternamente com dor de cabeça.
Quando informou que levaria um médico até o local para examiná-la, Clarissa respondeu-lhe que não se fazia necessário.
O rapaz contudo, insistiu.
Clarissa ficou pálida.
Temia pelo filho, pois sabia que um exame mais apurado, comprovaria a gravidez.
Seus mal estares também estavam cada vez mais difíceis de disfarçar.
Clarissa sentia-se mal, indisposta.
Roberto chegando em casa, ao perceber que a mulher não havia voltado do médico, resolveu procurá-la na casa da vizinha.
Mulher assustada, só dizia que um bando de homens a levaram.
Roberto tentou descobrir mais detalhes do ocorrido com a mulher, mas a mesma não sabia informar.
Apenas descreveu os modos de Cássio, o que ele lhe dissera.
Roberto ficou perplexo.
Aflito, desesperado, chamou a polícia e logo que pode, contatou o pai da moça.
Flaviano, ao tomar conhecimento do ocorrido, empalideceu.
Por um instante Roberto acreditou que o mesmo desligara o telefone.
Atônito, perguntou-lhe que estava acontecendo.
Ao tomar conhecimento de alguns detalhes, esbravejou com o genro.
Dizia que o mesmo não cuidara de sua filha.
Roberto argumentou que entendia seu nervosismo, mas que ele não tinha o direito de criticar.
Flaviano, ao ouvir as palavras do genro, percebeu que o mesmo estava tenso.
Com isto, tentando se acalmar, pediu-lhe desculpas.
Disse que estaria se dirigindo para o lugar, dentro de algumas horas.
Com isto, os dias que se seguiram foram tensos.
Flaviano rumou para a localidade, acompanhado pelo irmão Cristiano, e pelos filhos.
A esta altura, toda a família já sabia da história de Clarissa, que a mesma fora localizada, e que agora estava em poder de Cássio que também a encontrara.
Flaviano resistiu a ideia de ser acompanhado de Cristiano, Inácio e Flávio. Mas os três insistiram.
Ao chegarem a casa de Roberto, foram apresentados ao moço.
Todos ficaram satisfeitos em saberem que a moça havia se casado.
Contudo, a demora se obter notícias, os deixavam apreensivos.
Gilberto, ao ser contatado por Flaviano, relatou-lhe que um informante lhe dissera o paradeiro da jovem.
Mencionou haver localizado o detetive que Cássio contratara.
Esta informação auxiliou o trabalho da polícia, em questão de tempo, conseguiu localizar a jovem.
Enquanto isto, a jovem sofreu nas mãos de Cássio.
Quando o homem descobriu a gravidez da moça, ficou furioso. Chamou-a de traidora, ordinária. Gritou dizendo que só poderia ter filhos com ele.
Clarissa começou a chorar.
Cássio por sua vez, passou a esmurrar os móveis, quebrou objetos.
O que a deixou apavorada.
Para se alimentar, o moço precisava soltá-la das correntes.
Para se banhar, Clarissa não podia trancar a porta.
Razão pela qual tomava banhos rápidos, e se arrumava sempre observando a porta.
Temia qualquer movimento inesperado.
Dormia mal.
Sempre temerosa de que alguém poderia entrar no quarto enquanto dormia.
Certa vez, percebeu Cássio deitado a seu lado.
Fato este que a deixou apavorada.
Quase sempre acorrentada, pedia a todo o momento para que ele a soltasse.
Prometia não contar nada do sucedera a ninguém.
Diria que tivera doente e somente agora pudera voltar.
Cássio disse que não estava mais disposto a perder tempo.
Dizia que se casaria com ele, assim que ele se livrasse de um pequeno incomodo.
Ao ouvir isto, a moça começou a passar mal.
Cássio pediu aos comparsas, para que chamassem o médico.
Contudo, a moça somente acalmou-se quando o rapaz prometeu que não faria nada contra com Roberto.
Cássio tentou desconversar dizendo que não estava se referindo ao rapaz.
Clarissa não se convencia.
Com isto, passou a usar o afeto da jovem por Roberto para ameaçá-la.
Dizia que ela poderia salvá-lo, se obedecesse a suas determinações.
Falava que ela iria dizer a Roberto, assim que o visse, que não estava mais interessada nele, e que iria ficar com Cássio.
Também deixaria um bilhete para sua família, dizendo que preferiu ficar com Cássio.
Clarissa concordou.
Agora porém, com a atitude destemperada do moço, a jovem não sabia o que lhe aconteceria.
Cássio então, investiu contra a moça, que sem as correntes, tentou sair do quarto, sendo retida por ele, que a empurrou na cama.
O moço então, deitou-se sobre ela, que começou a reagir.
A jovem recordou-se da tarde no parque.
Suava frio, tremia.
Cássio ao perceber isto, desistiu de seu intento.
Novamente chamou o médico.
Em conversas a sós com Cássio, o profissional disse que a moça não conseguiria levar a gravidez adiante, com tantas intercorrências.
O moço ao ouvir isto, chegou a dizer baixinho que havia males que vinham para o bem.
Por conta do mal estar, Clarissa dormiu por longas horas.
Cássio por sua vez, ficou a observá-la dormindo.
Quando um dos comparsas adentrou o quarto, o homem pediu-lhe para que não fizesse barulho.
O homem então, disse ter notado pessoas rondando a casa.
Cássio pediu para que os homens vigiassem os arredores.
Neste dia, após denúncias dos moradores, a polícia havia chegado ao local do cativeiro.
Só estavam aguardando a oportunidade para agir.
Roberto, Flávio, Flaviano, Inácio, Cristiano e Gilberto foram até o local, em que pesem os protestos do delegado que cuidava do caso.
Em dado momento, Roberto se afastou do grupo.
Tencionava surpreender Cássio.
Cristiano, percebendo isto, resolveu seguir o moço.
Um terceiro homem, acompanhava a dupla.
Os policiais foram então se aproximando da casa.
Anunciaram aos bandidos, que eles estavam cercados.
Cássio ao perceber isto, aproximou-se de Clarissa e segurou-a nos braços.
Caminhou com cuidado, circulando pela casa.
Passou para os fundos do imóvel seguindo por uma mata que havia nos fundos do imóvel.
Quando a polícia resolveu invadir a casa, Cássio e Clarissa não estavam mais ali.
Roberto, ao perceber que a mata que fazia divisa com o imóvel, resolveu adentrá-lo, acompanhado de Flaviano e Cristiano.
Nisto, o delegado pediu para reforço pois teriam que adentrar a mata.
Roberto e Cristiano, mais ágeis, conseguiram chegar até uma construção que havia no lugar.
O esposo de Clarissa, ao chegar no local, encontrou a mulher desacordada, deitada em um leito improvisado.
Roberto ao ver Cássio observando a mulher, tentou surpreendê-lo.
Contudo, quem foi surpreendido foi ele.
Cássio ao vê-lo, comentou que Clarissa decidira ficar com ele, e que quanto a isto, não havia retorno.
Mencionou que ela dormia por que estava cansada.
Acrescentou ainda, que estavam vivendo um idílio, e que ele não tinha o direito de prejudicar a felicidade de ambos.
Roberto notou que o homem estava transtornado.
Tentou conversar, mas foi rechaçado pelo rapaz.
A certa altura, a polícia aproximou-se dizendo que ele estava cercado.
Cristiano também estava no galpão assim como o estranho que os seguira.
A esta altura, Clarissa despertou.
Ao notar que Cássio discutia com Roberto, tentou dizer algo.
Foi neste momento que o atirador apontou sua arma para Roberto.
Clarissa notou a presença do homem ao olhar para o telhado, lugar onde o homem se escondera.
Nisto gritou para que Roberto se acautelasse.
Cássio, ao perceber isto, aproximou-se da moça.
Clarissa tremendo e chorando, insistiu para que ele fizesse algo para impedir o atentado. Prometeu que fugiria com ele, mas que não deixasse ninguém ser morto.
Cássio ficou satisfeito.
Nesta oportunidade, tentou gesticular como se estivesse sinalizando que não precisava atirar. Chegou até a gritar para o homem não atirar.
Neste momento, a policia anunciou novamente que ele estava cercado.
Seus cúmplices foram todos apanhados e levados para a delegacia.
O atirador assustado, mirou e atirou.
Cássio percebendo que Roberto ou Cristiano, poderiam ser atingidos, se interpôs entre a dupla, vindo a receber o tiro disparado pelo homem.
Ao receber o tiro, caiu de joelhos no chão.
O atirador por sua vez, tentou fugir pelo teto da construção.
Debalde, por que logo foi rendido pelos policiais.
Em depoimento na delegacia, afirmou que seguira Roberto até o local, por que Cássio havia lhe contratado para executar o serviço.
Disse que não costumava deixar nada pela metade.
Neste momento explicou que atirou no mandante dos crimes, por ter se assustado ao ver-se encurralado. Mas mencionou irônico que se eles não tivessem atrapalhado, teria executado brilhantemente sua tarefa.
Roberto correu então, em direção a esposa.
Cássio então, pediu para que ela chegasse perto dele.
Prometeu que não lhe faria mal.
Cristiano disse-lhe que ela não era obrigada a atendê-lo.
Cássio então, usando do fôlego que ainda tinha, gritou dizendo que sentia muito por não poderem ficar juntos.
Neste momento, lágrimas começaram a correr de seus olhos.
Pediu desculpas a moça.
Disse que as coisas poderiam ser mais fáceis se ela não fosse tão teimosa. Argumentou que sempre gostara dela, que sua beleza sempre o comovera, desde que a vira pela primeira vez em um evento de sua família.
Aparentando sentir dor, o moço respondeu que estava redimindo sua culpa.
Mencionando que ficaria bem, ressaltou que estaria esperando por ela.
Clarissa ao ouvir isto, assustou-se.
Cristiano disse-lhe para que não levasse em conta as bobagens ditas pelo moço.
Nervosa, a moça abraçou Roberto.
Nisto Cássio perdeu os sentidos e caiu no chão.
Minutos depois a policia invadiu o galpão.
Cássio estava morto.
Nisto Clarissa foi retirada do lugar, juntamente com o marido e o tio.
Flaviano e os irmãos, aguardavam do lado de fora.
Ao verem a moça, todos a abraçaram emocionados.
Flávio e Inácio choraram ao vê-la.
Clarissa foi levada para casa.
Lá tomou um banho, e dormiu.
Por dias, permaneceu tensa por conta do ocorrido.
Roberto decidiu encaminhá-la a um médico.
Só tranquilizou-se quando o mesmo disse que estava tudo bem.
Recomendou apenas repouso e que se alimentasse bem.
Por conta do ocorrido, acompanhou a moça diariamente.
Flaviano por seu turno, se empenhou para que o caso não ocupasse as páginas dos jornais.
Por fim, contou com Cristiano, que se tivesse respeitado a vontade da filha desde o começo, não precisaria despender tanto esforço para não expô-la.
Em conversas posteriores com Roberto, recomendou a ele, que se mudasse do local.
O que o homem comprometeu-se a fazer.
Disse que sempre fora sozinho no mundo, mas que agora precisava pensar na família que estava formando.
Clarissa ficou abalada com o ocorrido, assustada, tinha dificuldade para dormir.
Somente com o tempo, as coisas foram se acalmando.
Com o tempo a moça conseguiu conversar com os irmãos, contar sua história.
Os anos que vivera longe da família.
Semanas mais tarde, recebeu a visita das irmãs, que choraram a vê-la casada.
A moça durante os dias que se seguiram, conversou muito com o tio, contou-lhe das angústias que sentia, bem como da falta de sua voz e seu ombro amigos.
Flaviano chegou a dizer que estava com ciúmes dos dois.
Clarissa ria.
Por fim, Flaviano, em um passeio com a filha em um jardim da cidade, chegou a lhe propor voltarem para casa.
Clarissa, mais calma, respondeu-lhe que não mais voltaria para casa.
Comentou que não tinha ambiente para frequentar os mesmos lugares que frequentava, além de ter que suportar os olhares de reprovação. Argumentou que ainda era considerada morta.
Flaviano tentou argumentar dizendo que ela estava casada, e que poderia reverter a situação comprovando que estava viva.
Clarissa argumentou que isto acarretaria mais escândalo.
Disse que eles já vivenciaram muitos problemas, e que a família já estava cansada de escândalos. Comentou que seus sobrinhos estavam em idade de casar e não ficaria bem serem apontados nas ruas. Argumentou que sabia como todos se sentiriam.
Resignada, argumentou que tudo deveria ficar como estava. Até por que o que não tinha remédio, remediado estava.
Dizia que para ela, só restava o mundo.
Flaviano tinha os olhos cheios d'água.
Com isto, ajustados com Flaviano, o casal partiria de viagem em um vapor rumo ao Rio São Francisco.
Animado, o homem contou em detalhes, a viagem que fizera com a esposa no vapor.
Comprou roupas novas para a filha e para o genro.
Durante o planejamento da viagem, o homem orientou o casal a seguir rumo ao novo local em que iriam morar.
Roberto então, devolveu o imóvel onde residia com a esposa ao seu proprietário, e vendeu seus móveis.
Amealhou dinheiro.
Em uma conversa antes de viajar com o marido, a moça abraçou o pai.
Aflito, o homem perguntou se ela sentia mágoa dele.
Clarissa respondeu-lhe sorrindo que não.
E nisto o casal seguiu em viagem.
Todos acompanharam Clarissa e Roberto até o vapor.
Flaviano despediu-se da filha.
Desejou-lhe boa viagem.
A moça abraçou a todos se despedindo.
Inácio, Fávio, Flaviano, Cristiano, Irene e Ilana, acenava para a moça.
Chorando, Flaviano comentou que estava perdendo sua filha pela segunda vez.
Cristiano, tentando consolar o irmão, dizia que a separação era transitória, e que ela, ao estabelecer domicílio, entraria em contato com ele.
Semanas mais tarde, Flaviano recebeu uma correspondência da filha informando que estava bem. A viagem era linda, o rio imenso, os arredores, as cidades, os diversos estados por onde passara, era tudo muito lindo. Comentou que estava feliz, que estava bem.
Alguns meses depois, recebeu a notícia de que a neta nascera. Chamava-se Marieli.
Antes disto, a moça, ainda em viagem, comentou com o marido, ao apreciar um bonito por do sol, que pensava em como seria a criança.
Dizia que se fosse mulher, chamaria-se Marieli.
Roberto indagou-lhe o por quê da escolha do nome.
Clarissa argumentou que gostava de sua sonoridade apenas.
Roberto achou curioso, mas não se opôs ao nome.
Contemplaram muitos pores de sol. Dançaram e riram juntos.
Apreciaram a beleza de diversos estados, assim como do rio.
Por fim, Clarissa comentou em carta, que agora conseguia compreender por tivera que passar por tudo o que passara.
Em tudo sendo travessia de uma grande jornada.
Mencionava que agora, arrumando as gavetas do guarda-roupas de seu novo quarto, ajeitando os pertences da filha, compreendia o que era felicidade.
Agora sentindo uma alegria plena, sem amarras, sabia o que de fato era felicidade.
Uma sensação que nunca experimentara plenamente, em que pese a saudade e a sensação de que faltava algo.
Dizia que sempre se sentira dividida, e que tentava administrar esta sensação.
Flaviano sentia-se feliz ao ler as correspondências da filha, embora lamentasse a demora em saber onde se estabeleceriam.
Cristiano rindo, dizia que agora era ele quem tinha que se dobrar as vontades da filha.
O homem pediu ao irmão para que não risse dele.
Dizia sentir saudades de Clarissa, e que a distância lhe era penosa.
Cristiano também dizia sentir saudades da moça.
Tal história, fora palco de muitas das conversas da família.
Seus descendentes a conheciam conforme aqui foi contada.
Orgulhavam-se de sua coragem naqueles tempos, e sempre que tentavam imaginá-la, a tinham como uma mulher altiva, bela e determinada.
Admirados, tentavam imaginá-la em sua viagem no vapor, a conhecer os detalhes do velho Chico.
As pequenas embarcações dos pescadores, os vilarejos, as cidades que deviam existir nas proximidades do rio naqueles tempos.
O casal juntos, a passearem no convés da embarcação, admirando-se com lindos cenários.
A conversar com pessoas bem vestidas e bem arrumadas.
A dançarem um forró da terra.
A serem felizes.
Luciana Celestino dos Santos
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