Poesias

sábado, 11 de abril de 2020

Santo André, Antiga Vila

São duas cidades, portanto, duas histórias.
Esta humilde vila, se iniciou quando o português João Ramalho, que já vivia no Brasil, fundou-a.
Tal criação se deu, por obra da chegada de seus compatriotas, em 1500.
Época do descobrimento da Ilha de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz, Brasil.
No tocante a isso, o povoado teve vida curta.
Surgida em 1550, a vila foi oficializada em 8 de Abril de 1553 e chegou ao fim em 1560.
No dia 8 de abril, do ido e longínquo ano de 1553, João Ramalho recebeu um documento referente a vila recém-fundada.
Tal documento, garantia as terras pertencentes ao município do Grande ABC.
Foi assim que se criou a Vila de Santo André da Borda do Campo.
Vila dos personagens: João Ramalho, Cacique Tibiriçá e sua filha Bartira.
Um vilarejo que teve pelourinho, poder constituído, atas e que ficava num ponto do atual ABC paulista, cuja população foi transferida para São Paulo de Piratininga – dos jesuítas do Pátio do Colégio –, juntamente com toda sua documentação, representada por vários livros de atas hoje arquivados em São Paulo.
Foi João Ramalho, que batizou a Vila de Santo André da Borda do Campo.
Era uma linda vila.
Com isso, o poderoso português João Ramalho, dominou-as até 1560, quando toda a população, tanto os moradores, quantos as autoridades foram transferidos para São Paulo de Piratininga – fundada pelos jesuítas, ou São Paulo de Piratinin, “peixe-seco” –, com toda a documentação.
Desta forma, Santo André, passou então, a ser Freguesia do município.
Uma espécie de bairro ou distrito.
Contudo, quanto a origem da vila de Santo André, existem várias versões controversas.
A mais usual, é a defendida pelo historiador José de Souza Martins.
Segundo ele, a antiga Santo André, situava-se no atual município de São Bernardo do Campo, na embocadura do Córrego da Borda do Campo com o Ribeirão dos Meninos, próxima à Avenida Senador Vergueiro, onde esteve instalada a Villares e hoje está o Carrefour.
Foi neste cenário, que no século XVIII, fixou-se a sede da fazenda dos Beneditinos.
Segundo documentos da época, houve reiteradas manifestações, solicitando a transformação da Vila de Santo André em município.
Isso, depois de séculos de abandono, quando da transferência para São Paulo.
Mas somente em 12 de março de 1889, um ato do Presidente da Província de São Paulo, sua Excelência, o senhor Pedro Vicente de Azevedo, formalizou a criação do município de São Bernardo – correspondente à área do município de São Bernardo, referente à área de toda a vila – hoje ABC.
Anos antes, fora criada a Freguesia de São Bernardo, por aprovação régia do Bispo Diocesano e por alvará de 12 de outubro de 1812.
A Freguesia, espécie de Distrito de Santo André, abrangia uma área que não tinha limites exatos, mas não equivalia ao território atual da região do Grande ABC, pois dela não fazia parte, o bairro rural de São Caetano.
Contudo, somente no ano de 1890, foi instalado o município de São Bernardo, abrangendo toda a área do Grande ABC, com sede em São Bernardo do Campo.
A instalação oficial deu-se em 11 de maio de 1890, por força de um requerimento de outrora, do Coronel Oliveira Lima, do futuro Senador Fláquer, do Padre Lustosa e de vários outros moradores.
O Conselho de Intendência, nomeado para exercer provisoriamente a administração municipal era composto pelo: Coronel Oliveira Lima, Francisco José da Silva e José Dal Zotto – este último –, nomeado como Primeiro Intendente municipal, cargo similar ao de Prefeito.
A Câmara Municipal foi instalada em 29 de setembro de 1892, quando tomaram posse os Vereadores.
A denominação Santo André, em alusão a desaparecida Vila de Santo André da Borda do Campo, foi retomada apenas em 1910.
O atual município de Santo André recebeu nome oficial em 1938, e a comemoração de seu aniversário é em 8 de abril, que foi a data da instalação oficial da antiga vila.
Nos idos de 1896, foi criado o Distrito de Paz, de Ribeirão Pires – incluindo os atuais municípios de Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra, parte de Mauá e o atual Distrito de Paranapiacaba.
Em 1907, foi criado o Distrito de Paranapiacaba.
Três anos após, o município de Santo André foi criado, – em 1910 – incluindo a atual cidade de Santo André, São Caetano e parte de Mauá.
No ano de 1916, foi criado o município de São Caetano.
A antiga região do Tijucuçu – “lamaçal” –, recebia muitas enchentes, as quais deixavam o lugar cheio de barro.
Esse local, se tornou o atual município de São Caetano.
Nessa cidade, a famosa região da Estrada das Lágrimas, ficou conhecida por este nome, porque foi neste local, que mães chorosas se despediram de seus filhos que foram lutar na Guerra do Paraguai.
Em 1934, foi criado o município de Mauá.
Nos idos de 1938, o município de São Bernardo, passou a denominar-se Santo André.
O distrito sede do lugar, passou a ser o Distrito de São Bernardo, englobando o Distrito de São Caetano, e mantendo as divisas distritais.
Em 1944, o Distrito de São Bernardo, foi elevado à categoria de município, com a denominação de São Bernardo do Campo.
A instalação da nova cidade, ocorreu no dia 1º de janeiro de 1945.
Nos idos de 1948, o Subdistrito de São Caetano foi elevado também, à condição de município, com a denominação de São Caetano do Sul.
No dia 16 de fevereiro de 1950, foi elaborado o Hino de Santo André, oficializado pela Lei Municipal nº 541, com os seguintes versos:

“Santo André livre terra querida
Forja ardente de amor e trabalho
Em teu solo semeias a vida,
Em teus lares há pão e agasalho

Salve, salve torrão andreense
Gigantesco viveiro industrial!
Teu formoso destino pertence
Aos que lutam por um ideal

Três figuras de heróis bandeirantes
Isabel, o Cacique e o Reinol
Constituíram os troncos gigantes
Das famílias paulistas de escol

Salve, salve torrão andreense ...

Se tu foste, no início, um castigo
Hoje és benção dos céus sobre nós,
Santo André, o teu nome bendigo,
Berço e tumba de nossos avós

Salve, salve torrão andreense...

Eia, pois, a caminho da glória,
Santo André do herói quinhentista!
Tu será para sempre na história
Marco zero da História Paulista!

Salve, salve torrão andreense...”

Santo André, nosso orgulho constante!
Quanto ao hino, importante destacar que seu autor foi José Dal Zotto.
Muito embora ele seja pouco conhecido, sabe-se que ele era um imigrante italiano e chegou em São Bernardo em 1878.
Era filho legítimo de Ângelo Dal Zotto e Maria Dal Zotto.
Foi casado com Giusseppina Dal Zotto.
Era negociante – antiga forma de se designar os comerciantes.
Exerceu a Intendência aos 38 anos, e permaneceu no cargo até 27 de março de 1892.
Faleceu em 10 de janeiro de 1897 e foi sepultado na Quadra 7, Sepultura Perpétua 23, do Cemitério Municipal – hoje pertencente a Vila Euclides – em São Bernardo do Campo.
A sepultura, foi cedida graciosamente pela Câmara Municipal.
Este grande homem, é também considerado, o Primeiro Prefeito da região.
Em 1953, o município de Santo André, inicialmente termo da Comarca de São Paulo, obteve pela Lei nº 2420, aos 18 de dezembro, sua autonomia jurídica, criando-se a Comarca de Santo André.
No ano de 1954, os distritos de Mauá e Ribeirão Pires – incluindo o atual município de Rio Grande da Serra – foram elevados à condição de município, também.
Em 1958, foi criado o município de Diadema.
Nos idos de 1985, em parte do 2º Subdistrito de Santo André, foi criado o Distrito de Capuava.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Texto extraído de matéria jornalísticas publicadas no Jornal Diário do Grande ABC, coluna do memorialista Ademir Médici, site da Prefeitura de Santo André e internet. 

domingo, 5 de abril de 2020

Dos jornais

No dia 13 de março de 1964, o presidente João Goulart fez um comício na Central do Brasil, Rio de Janeiro, no qual ele defendia as chamadas "Reformas de Base": Reforma agrária, administrativa do governo, universitária, bancária, eleitoral, fiscal e tributária e constitucional.
Os Beatles eram sucesso absoluto no mundo inteiro.
No dia 15, na abertura dos trabalhos no Congresso, foi lida uma mensagem do
Presidente a favor das "Reformas de Base".
Em cartaz no Cinema Paissandu, Rio de Janeiro, o filme "Jules et Jim-Uma Mulher para Dois", de François Truffaut.
No dia 17, manifestação da Federação das Indústrias, da Federação das Associações Comerciais e do Sindicato dos Bancos contra "o clima de agitação".
No dia 19, em São Paulo, centenas de milhares de pessoas participam da "Marcha da Família com Deus pela Liberdade", em oposição ao presidente João Goulart.
Brigitte Bardot, veio para o Brasil e foi morar em Búzios, com seu namorado Bob Zaguri. Sendo ela atriz de cinema Europeu, ganhou grande destaque no filme: "E Deus criou a Mulher."
No dia 20, o general Castello Branco, Chefe do Estado-Maior do Exército, expediu circular aos Generais, conclamando-os a agirem "contra a subversão."
No dia 26, no Rio de Janeiro, foi deflagrada a "Rebelião dos Marinheiros".
No dia 31 de março de 1964, em Minas Gerais, sob o comando do General Mourão Filho, eclodiu o levante militar contra o Presidente João Goulart. Tropas do Exército, marcharam em direção ao Rio de Janeiro.
Dia 2 de abril de 1964. A versão carioca da "Marcha da Família", em preparativos desde de 31 de março, acabou transformada na comemoração de quase um milhão de pessoas da vitória do levante.
Grupos mais exaltados incendiaram o prédio da UNE.
O jornal Correio da Manhã se posicionou contra o golpe.
A Universidade de Brasília foi invadida pela PM; prisão de professores e estudantes.
Dia 10, saiu a primeira lista de cassações.
Entre os cassados, João Goulart, Jânio Quadros e Luís Carlos Prestes.
Dia 15 de abril de 1964, posse do General Humberto de Alencar Castello Branco, como presidente do Brasil.
Dia 13 de janeiro de 1965. O Fundo Monetário Internacional, concedeu ao Brasil um empréstimo de 125 milhões de dólares.
Maria Bethânia fez sucesso cantando Carcará, de João do Vale: "Carcará,pega,mata e come!"


Dia 11 de março. Manifestação estudantil contra o presidente Castello Branco, na Ilha do Fundão, Rio de Janeiro.
Abril de 65. Lançada a Revista Civilização Brasileira, sob a direção de Enio Silveira.
Dia 13 de abril. O BID (Banco Internacional de Desenvolvimento), a Cepal e a
Organização Internacional para a Alimentação concederam ao Brasil um empréstimo de 300 milhões de dólares.
Dia 22 de abril. Explodiu uma bomba nas oficinas do jornal O Estado de S. Paulo.
Dia 29 de abril. Intervenção armada dos Estados Unidos na República Dominicana, posteriormente apoiada pela OEA (Organização dos Estados Americanos). No dia 17 de maio, o Brasil aceitou enviar tropas à República Dominicana para deter o processo revolucionário naquele país.
O livro: Festival de Besteiras que Assola o País, de Sérgio Porto, tornou-se um best-seller.
Início da novela Redenção, de Raimundo Lopes, estrelada por Regina Duarte, na TV Excelsior. A novela viria a ter 594 capítulos.
Foi inaugurada a TV Globo, no Rio de Janeiro.
Carlos Lacerda rompeu com o presidente Castello Branco.
Foi lançado o filme São Paulo S/A, de Luís Sérgio Person, com Walmor Chagas. E Os Fuzis de Ruy Guerra, recebeu o Urso de Prata no Festival de Berlim.
Censura proibiu a peça O Berço do Herói, de Dias Gomes.
Dois dos poucos espetáculos de cunho político que escapam à Censura são: Liberdade, Liberdade, de Flávio Rangel, e Arena Contra Zumbi, de Boal e Guarnieri.
Passeatas estudantis em todo o país contra o acordo MEC/Usaid.
Na Inglaterra, Mary Quant lançou a minissaia. Tinha 34 anos quando realizou este feito.
Dia 3 de outubro. Realizaram-se eleições diretas para governador em 12 estados. A oposição saiu vitoriosa em cinco, dois deles de grande peso político: Minas e Guanabara/Rio de Janeiro.
Dia 8 de outubro. Carlos Lacerda retirou sua candidatura á Presidência.
O cinema nacional produziu “Opinião Pública”, de Arnaldo Jabor, e “A Falecida”,
de Leon Hirsman, entre outros.
No mundo, foi sucesso “Julieta dos Espíritos”, de Fellini, “Pierrot,Le Fou e Alphavile”, de Godard, “A Noviça Rebelde”, “Doutor Jivago”, “A Nau dos Insensatos”.
Dia 27 de outubro. Foi assinado o Ato Institucional nº 2, que extinguiu os partidos políticos, instituiu o sistema Bipartdário –o Arena, governista, e o MDB, de oposição – e foram cancelas as eleições Presidenciais.
Dia 4 de janeiro de 1966. Foi lançada oficialmente a candidatura do General Arthur da Costa e Silva à Presidência da República.
Março de 1966. Belo Horizonte. A polícia reprimiu com violência uma passeata, e invadiu uma igreja atrás dos estudantes. Passeatas também em são Paulo, Curitiba, Vitória e Rio de Janeiro.
Em cartaz o filme “Un Homme, une Femme”, de Claude Lelouch, no Cinema Veneza, Rio de Janeiro.
Em cartaz noutros cinemas, “O Homem que Não Vendeu sua Alma”, com Paul Scofield, “Quem Tem Medo de Virginia Woolf”, com Elizabeth Taylor e Richard Burton, “A Guerra Acabou”, de Alain Resnais.
Abril de 1966. Foi lançada a revista Realidade.
Dia 10 de abril. Foi ao ar pela TV Record o programa dominical de Hebe Camargo, que viria a ser líder de audiência por muitos anos.
Dia 1o de junho. MDB lançou a candidatura de Cordeiro de Farias à Presidência da República. Dia 3 de junho, Cordeiro de Farias renunciou á candidatura.
Dia 28 de junho. Na Argentina, um golpe chefiado pelo General Juan Carlos
Ongania, derrubou Arturo Illia da Presidência.
Brasil foi á Copa do Mundo da Inglaterra. Protestos contra a convocação de Servílio. Copa do Mundo: Brasil perdeu para a Hungria. Última chance de classificação era derrotar Portugal.
Dias 19 e 24 de março. Passeatas tomaram o centro do Rio de Janeiro. Pessoas
aplaudiram, e jogaram papel picado do alto dos edifícios.
Realizado o II Festival de Música Popular Brasileira, desta vez pela TV Record.
Chico Buarque e Nara Leão foram consagrados pela música “A Banda”.
Foram inauguradas exposições de arte de Rubens Gerhsman, Antonio Dias e Roberto Magalhães.
A moda do costureiro Courréges ganhou o mundo.
Dia 25 de julho. Uma bomba explodiu no aeroporto dos Guararapes, em Recife, onde desembarcaria o General Costa e Silva, candidato à sucessão do Presidente Castello Branco. Morreu o Almirante Nélson Dias Fernandes e o jornalista Edson Régis; catorze pessoas ficaram feridas.
O serviço de Censura do Departamento Federal de Segurança Pública baixou novas normas de censura para a televisão.
Dia 28 de julho. O 28º Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes) foi
realizado clandestinamente no porão da Igreja de São Francisco de Assis, em Belo Horizonte. Apenas 300 dos 500 delegados esperados conseguiram chegar ao local.
Recrudesceu a repressão ao movimento estudantil.
Publicação da UNE anunciou o dia 22 de setembro de 1966 como o”Dia de Luta
contra a Ditadura”.
Em cartaz no cine Paissandu o filme “Todas as Mulheres do Mundo”, estrelado por Leila Diniz e dirigido por Domingos de Oliveira.
Dia 3 de outubro de 1966. Arthur da Costa e Silva, já promovido a Marechal, foi
ratificado pelo Congresso para a Presidência da República.
Dia 12 de Outubro. O presidente do Congresso, Adauto Lúcio Cardoso, da Arena, ex-UDN, se negou a reconhecer cassações de mandatos de deputados. Dia 19 de outubro, Castello Branco decretou recesso do Congresso.
Janeiro de 67. Foi promulgada a Constituição que estabeleceu eleição indireta para Presidente e Governador, Estado de Sítio, julgamento de civis por tribunais militares, e o direito de estrangeiros explorarem riquezas minerais. O MDB chamou a Constituição de Carta Liberticida.
Dia 15 de março de 1967. Posse do Marechal Arthur da Costa e Silva na Presidência da República.
Passeatas de estudantes contra acordo MEC/Usaid.
No III Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record. O 1º lugar foi de
“Ponteio”, de Edu Lobo e Capinan, o 2º de “Domingo no Parque”, com Gilberto Gil e Os Mutantes, 3º “Roda Viva”, de Chico Buarque, e, em 4º, Caetano Veloso, com “Alegria, Alegria”. Estava lançado o “Movimento Tropicalista” na música.
Dia 4 de setembro. No Rio de Janeiro, constituiu-se a “Frente Ampla” contra o
governo, reunindo Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda e outros.
Dia 11 de setembro, Juscelino foi convocado a depor na Polícia Federal sobre a”Frente Ampla”. Dia 12 de setembro, Juscelino se negou a depor e viajou para os EUA.
Julho-agosto de 1967. Foi proibido o Congresso da UNE.
Escalada norte-americana na Guerra do Vietnã, resistência ferrenha do Vietcong.
O movimento hippie ganhou força nos Estados Unidos e no mundo.
Dia 5 de outubro. Estourou a ”Guerra dos Seis Dias”, Israel contra os países árabes.
Dia 8 de outubro. Ernesto “Che” Guevara foi morto na Bolívia.
1968. “Soy Loco por Ti, América”, música de Gilberto Gil e Capinan, foi cantada em todo o país:

“Soy loco por ti, América,
Soy loco por ti de amores

El nombre del hombre muerto
Ya no se puede decirlo
Quien sabe

Antes que o dia arrebente
Antes que o dia arrebente

El nombre del hombre muerto
Antes que a definitiva noite se espalhe em Latinoamérica
El nombre del hombre es pueblo
El nombre del hombre es pueblo! ...”

Janeiro de 1968. A peça “Roda Viva”, de Chico Buarque e José Celso Martinez
Corrêa, inaugurou o “teatro de agressão”.
Dia 30 de janeiro de 1968. Os vietcongs e os norte-vietnamitas se lançaram contra o Vietnã do Sul e os norte-americanos.
Dia 28 de março. O estudante Édson Luiz Lima Souto foi morto no Calabouço, Rio de Janeiro.
Dia 4 de abril. Assassinado Martin Luther King, prêmio Nobel da Paz de 64 e líder do movimento pela igualdade civil nos EUA.
Era lançada a revista Veja.
Dia 5 de abril. O Presidente Costa e Silva e o Ministro da Justiça Gama e Silva
extinguiram a “Frente Ampla”.
Dia 17 de abril. 68 municípios foram considerados área de segurança nacional,
extinguindo-se, portanto, as eleições para Prefeito nestas cidades.
Dia 1º de maio. O Governador de São Paulo, Abreu Sodré, foi apedrejado e ferido em protesto na Praça da Sé, São Paulo.
Dia 3 de maio. EUA e Vietnã do Norte concordaram em abrir a Conferência de Paz, em Paris.
Nos cinemas, “O Bandido da Luz Vermelha”, de Rogério Sganzerla, “2001-Uma
Odisséia no Espaço”, de Stanley Kubrick, “Edu,Coração de Ouro”, de Domingos Oliveira, “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro”, de Gláuber Rocha, “O Bebê de Rosemary”, de Roman Polanski, “Roberto Carlos em Ritmo de Aventura”, de Roberto  Farias.
Dia 10 de maio. Eclodiu na França uma rebelião estudantil contra a estrutura do ensino e a política do governo. Estudantes ocuparam universidades, promoveram manifestações, levantaram barricadas nas ruas. Pouco depois, 6 milhões de trabalhadores entraram em greve de apoio aos estudantes. O Presidente De Gaulle declarou Estado de Sítio.
Em maio, rebeliões estudantis também na Alemanha, Bélgica, Espanha, Itália, Estados Unidos, Argentina, Bolívia, Chile, Senegal.
O tema do terrorismo e da guerrilha entrou na publicidade: moças armadas de
metralhadoras anunciavam roupas com o tecido “Tergal”.
Dia 26 de maio. O dr. Euríclides Zerbini realizou o primeiro transplante de coração no Brasil, no Hospital das Clínicas de São Paulo.
Dia 6 de junho. Foi assassinado a tiros, na Califórnia, o Senador Robert Kennedy, candidato à Presidência dos EUA.
Dia 22 de junho de 1968. Roubo de armas do Hospital Militar do Cambuci, São
Paulo.
Dia 26 de junho. Realizou-se no Rio de Janeiro, com a permissão do Governo
Estadual, a Passeata dos 100 mil. Em seguida, a comissão eleita na Passeata dos Cem Mil, se avistou com o presidente Costa e Silva, em Brasília. Atritos entre o presidente e a comissão encerrou a reunião sem resultado.
Dia 26 de junho. Carro-bomba foi lançado contra quartel-general do II Exército, São Paulo.
Reabilitado o autor teatral Qorpo Santo, desaparecido cem anos antes. Foi
considerado precursor do Teatro do Absurdo.
Julho. Estreou em São Paulo a peça “Roda Viva”, de Chico Buarque e José Celso
Martinez Corrêa.O CCC (Comando de Caça aos Comunistas) atacou o teatro Ruth Escobar, os cenários foram destruídos e os atores, espancados. O CCC metralhou a Faculdade de Direito da USP.
Dia 4 de julho. Passeata com cerca de 30 mil pessoas foi violentamente reprimidas no Rio de Janeiro.
Dia 5 de julho. O Ministro Gama e Silva proibia qualquer manifestação pública.
Dia 22 de julho. Atentado a bomba contra a sede da Associação Brasileira de
Imprenssa/ABI, Rio de Janeiro.
Dia 21 de agosto. Tanques soviéticos invadiram a Tchecoslováquia. Indignação em todo o mundo, à direita e à esquerda.
Dia 29 de agosto. A polícia invadiu a Universidade de Brasília. Um estudante foi
baleado na cabeça.
Foi lançado o disco “Manifesto Tropicália”, de Caetano, Gil, Gal e Os Mutantes,
com arranjos de Rogério Duprat, um marco da música popular brasileira.
Outubro. Inúmeras cartas de telespectadores recebidas pela TV Globo rejeitavam as cenas de amor entre um negro (Jorge Coutinho) e uma branca (Djenane Machado), na novela de época Passos dos Ventos, de Janete Clair. O roteiro foi alterado e Djenane, substituída por Aizita Nascimento, uma negra.
Dia 4 de setembro de 1969, Rio de Janeiro. Militantes do Movimento Revolucionário 8 de outubro/MR-8 e da Aliança Libertadora Nacional/ALN sequestraram o Embaixador norte-americano Charles Elbrick. Exigiam em troca de sua devolução a libertação de quinze presos políticos e a leitura, em cadeia nacional, de um manifesto contra a ditadura. O manifesto foi lido em cadeia de rádio e televisão, os quinze presos políticos foram soltos e saíram do país e, no dia 7 de setembro de 1969, o Embaixador Elbrick foi libertado.
Em seguida, a repressão saiu prendendo quem tivesse a mais remota possibilidade de fornecer alguma informação.
Dia 31 de agosto de 1969. Vítima de trombose, Costa e Silva deixou a Presidência da República. Em lugar do Vice-Presidente Pedro Aleixo, assumiu o poder uma junta composta pelos três ministros militares: General Lyra Tavares, Almirante Augusto Rademaker e o Marechal-do-Ar Márcio de Souza Melo.
Dia 5 de setembro. A junta militar decretou o Ato Institucional no 13, que permitia o banimento dos brasileiros considerados perigosos à segurança nacional. O Governo baniu então, os quinze presos políticos libertados, em troca do Embaixador norte-americano.
Dia 9 de setembro. A junta militar decretou o Ato Institucional nº 14, que previa a pena de morte e a prisão perpétua em casos de “guerra revolucionária ou subversiva”.
Dia 29 de setembro. Morto nas dependências da Oban, o operário Virgílio Gomes da Silva, o “Jonas”, membro da ALN e chefe dos sequestradores do embaixador Charles Elbrick.
Dia 22 de outubro. O Congresso foi reaberto, sem os 93 membros cassados desde o AI-5.
Dia 25 de outubro. O Congresso elegeu Médici e Rademaker, Presidente e Vice,
respectivamente, por 239 votos da Arena contra 76 abstenções do MDB.
Dia 4 de novembro. Foi morto pela polícia, em São Paulo, Carlos Marighella, ex-
dirigente do PCB e principal líder da ALN.
Dia 19 de novembro. Pelé foi o terceiro jogador na história do futebol a marcar mil gols.
No final de 1969, o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) foi de 9%, da
indústria de 11% e da indústria automobilística, 20%. Foi criado o Consórcio de Automóveis e os novos modelos eram o Opala e Corcel. O fusca seguia como o mais vendido. A Petrobrás era a maior empresa da América Latina.
Dia 13 de janeiro de 1970. A Câmara Federal ratificou o decreto-lei presidencial
que estabelecia censura prévia a livros e periódicos.
A seca no Nordeste fez 2 milhões de flagelados ameaçarem saquear as cidades. O Presidente Médici declarou que,” a economia vai bem, mas o povo vai mal”.
Dia 11 de março. Foi sequestrado pela Vanguarda Popular Revolucionária, o Cônsul japonês Nobuo Okuchi, em São Paulo. No dia 15, foram libertados 5 presos políticos, em troca do Cônsul.
Abril. Tropas do Exército, Marinha e Aeronáutica localizaram e cercaram o campo de treinamento de guerrilheiros comandados por Carlos Lamarca, no vale da Ribeira, São Paulo. Lamarca escapou.
Dia 9 de maio. Nota do governo negou a existência de presos políticos e de tortura no Brasil.
Dia 15 de maio. A África do Sul foi excluída do Comitê Olímpico Internacional, por adotar o apartheid racial.
Os Beatles lançaram o “Let it Be”, que encerrou a discografia do grupo. Em abril, Paul MacCartney anunciou que estava saindo do grupo, e que iria gravar sozinho.
Dia 8 de junho. O Presidente da Argentina, Juan Carlos Onganía, que ascendera ao poder através do golpe, foi deposto por golpe de uma junta militar.
Em São Paulo, Ruth Escobar produz e Victor Garcia dirigiram a magnífica
montagem da peça “O Balcão”, de Jean Genet.
Nos cinemas “Azzilo Muito Louco”, de Nélson Pereira dos Santos, “M.A.S.H.”, de Robert Altman, “Love Story”, de Arthur Hiller, “Investigação sobre um cidadão acima de Qualquer Suspeita”, de Elio Petri.
Copa do mundo de Futebol, no México. O país cantou a marchinha “Pra Frente”,  Brasil, de Miguel Gustavo:

“Noventa milhões em ação
Pra Frente Brasil
Salve a Seleção...”

Em 1971, a economia cresceu 11,3%. O setor automobilístico liderou o crescimento, as Bolsas do Rio de Janeiro e de São Paulo seguiram batendo recordes, as ações do Banco do Brasil atingiram a mais alta cotação dos últimos anos.
No início de 1972, o Presidente Médici anunciou sua grande meta: conter a inflação.
Na TV Globo, o programa “A Grande Família” fazia sucesso e no dia 8 de fevereiro de 1972, foi vendido o primeiro aparelho de TV em cores no Brasil. Também foi ao ar O Bem Amado, da TV Globo, a primeira novela em cores.
67Em agosto de 1972, o MDB lançou um projeto antiimpacto, e contestou os resultados econômicos e criticou a distribuição de renda.
O presidente Médici inaugurou a rodovia Transamazônica.
No dia 16 de novembro de 72, a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro teve o menor movimento do período do “Milagre” e fechou o ano com recuo de 49,9%. Foi o princípio do fim do “Milagre”.
Em 1972, a Polícia Federal vetou qualquer referência em jornais à: Anistia
Internacional, abertura política ou democratização, anistia para cassados, críticas a política econômica, assim como a publicação do decreto de Dom Pedro I abolindo a censura no Brasil, no século passado.
Em setembro de 1973, o Presidente do Chile, Salvador Allende, foi deposto e morto, dentro do Palácio Presidencial. O General Augusto Pinochet passou a chefiar a ditadura no Chile. Milhares de presos políticos concentrados no Estádio Nacional, foram mortos ou desapareceram.
No dia 15 de janeiro de 74, o Colégio Eleitoral elegeu o General Ernesto Geisel
presidente da República. Foi o começo da abertura lenta e gradual. Em seguida, o Presidente Geisel reconheceu o fim do “Milagre Brasileiro”.
No dia 30 de abril de 75, o governo pró-americano do Vietnã do Sul entregou o poder ao Vietcong. Os últimos norte-americanos se retiraram de Saigon. Foi o fim da guerra.
Em 1975, no dia da estréia, a novela “Roque Santeiro”, de Dias Gomes, foi proibida, pela Censura.
No dia 19 de janeiro de 76, o Presidente Geisel demitiu o Comandante do II Exército, o General Ednardo D’Àvila Mello.
Em 1978, um manifesto de empresários em São Paulo – entre outros, Bardella,
Severo Gomes, Mindlin, Antônio Ermínio e Vilares – defendia liberdade e direitos aos cidadãos.
No dia 1º de janeiro de 79, o Presidente Geisel revogou o AI-5.
No dia 15 de março de 1979, o General João Baptista Figueiredo tomou posse na Presidência da República.
No dia 22 de agosto de 79, o Congresso aprovou a Lei da Anistia e os exilados
começaram a retornar ao Brasil.

O regime ditatorial também era uma forma de regime totalitário, como foi o nazi-facismo na Europa, que restringiu a liberdade dos cidadãos e ceifou milhares de vidas.
Estas formas de governo, foram péssimas para os países do qual fizeram parte, um verdadeiro atraso de vida.
Só que, recentemente entramos no processo democrático, e temos uma coisa
a acrescentar.
A ditadura foi instaurada de fato em 1964, só que antes disso os militares já
interferiam no governo desde o início de década de sessenta. Já estavam preparando o golpe que desencadeariam anos depois.
Jango estava sendo observado, suas escutas grampeadas, e sem nenhum apoio
político acabou sendo deposto e traído por seus amigos.
Seu cunhado Leonel Brizola, articulava um golpe para alcançar a Presidência, mas, por ser cunhado do então Presidente em exercício, não poderia se eleger por vias legais.
Antes disso, quando da renúncia de Jânio Quadros, houve uma tentativa de afastá-lo do poder, como o que ocorreu para impedir a posse de Juscelino que não ocorreu, graça à intervenção do militar Lott.
Jango chegou a Presidência com a ajuda do cunhado Brizola, que articulou uma resistência quando era governador do Rio Grande do Sul.
Falou numa rádio clandestina com o intuito de conseguir mais adeptos para uma resistência.
A rádio fora improvisada dentro do próprio Palácio do Governo.
As autoridades pensaram em bombardear o Palácio do Governo do Rio Grande do Sul.
Mas felizmente, a resistência dera certo e João Goulart pode assumir o poder.
Durante um certo período teve seus poderes e sua autonomia política castrados.
Realizou um Comício Público advertindo a todos para a realização das Reformas de Base, foi aclamado mas nem por isso conseguiu realizar o seu projeto.
Isso por que o golpe militar, se deu em 1º de abril de 64.
Nele grandes contingentes militares foram levados até as principais cidades do país com o forte intuito de impedir a reação popular.
Sindicatos perderam sua autonomia, e ninguém se manifestou contra o
processo.
Nem mesmo os estudantes com a sua organização, a UNE (União Nacional dos
Estudantes).
Os estudantes durante as greves lideradas por sindicatos, quiseram fazer parte
das mesmas e entronizá-las ao movimento estudantil.
Mas não lograram êxito em seu intento.
O golpe foi planejado pelos militares, mas a população e até os políticos foram pegos de surpresa.
Jango tentou uma reação, mas desistiu por que viu que não daria certo.
Por isso, fugiu do país.
Brizola se refugiou no Uruguai e mantendo contato com Cuba, Fidel e Che Guevara, e tentou realizar o intento de uma revolução no Brasil.
O projeto era treinar os militantes militarmente pelo Exército cubano.
Leonel Brizola nunca escondeu sua admiração pelo líder revolucionário Fidel Castro.
Sempre se colocou no papel de seguidor de Fidel, queria ser o
Fidel do Brasil.
A idéia revolucionária de que o Brasil tinha um grande contingente de
adeptos, era falsa utopia.
O número de comunistas no Brasil era insuficiente para organizar a revolução num país de grandes extensões territoriais, ainda mais, contando com os que
eram contra a luta armada.
A revolução por caminho pacífico, era no que Luís Carlos Prestes acreditava. Por isso foi acusado de tentativa de insurreição antes do golpe de 64 fracassar. Por sua intolerância em relação a luta armada, com o qual era contrário, foi muito criticado.
Nessa época, ocupava cargo de honra no Partido Comunista Brasileiro (PCB) e mantinha contato com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Era contra as idéias de Fidel, e em um encontro político, passaram a se tratar asperamente.
O movimento estudantil realizado contra a ditadura e com intento de realizar uma revolução comunista no Brasil fracassou, tudo foi mal articulado e mal realizado.
O contingente de militantes era insuficiente para realizar uma revolução no país.
No final dos anos sessentas e início dos anos setentas foram realizadas no país as conhecidas guerrilhas urbanas, pequenas guerras realizadas no campo e na cidade, atos terroristas.
Os militantes participantes das guerrilhas eram treinados, pois fazer guerrilhas
exigia esforço e treinamento, o que não foi fácil.
Alguns militantes foram presos por indisciplina.
Além disso o treinamento não incluía um grande número de pessoas, ou seja, a
quantidade de guerrilheiros eram ínfimas, sem contar que muitas manifestações desse tipo a guerrilha não deu certo, e quase que o líder Lamarca, fora preso em uma delas.
O plano de revolução deveria ser minucioso, bem detalhado e explicado.
Marighella tentava conseguir adesões ao seu intento, só que as adesões eram
insuficientes, mesmo entre os dissidentes e isso atrapalhava os planos revolucionários.
Precisavam de grandes somas de dinheiro para treinar um exército revolucionário.
Fidel, juntamente com Che e Brizola, quando este estava exilado no Uruguai, país que faz fronteira com o Brasil, tentou realizar uma revolução no continente, no qual o centro polarizador seria o Brasil.
Nem isso deu certo.
Brizola desistiu do movimento depois de alguns percalços, onde o contingente guerrilheiro já reduzido se desmantelou.
Desistiu da revolução.
Quando Che e seus comandados penetraram em território Boliviano, foi o passo final em sua carreira guerrilheira, pois ali ele fora encurralado e assassinado por forças imperialistas norte-americanas, juntamente com a ajuda do governo Boliviano.
O processo revolucionário contou com assaltos a bancos, movimentos mal
articulados, sem muito planejamento e feitos de maneira amadora, quase que de improviso.
A trajetória revolucionária foi completada por uma série de equívocos, pois não
conseguiram muitas adesões, não se uniram num único partido forte, polarizador de todas as tendências de esquerda, onde todos lutariam por um ideal comum.
Outra coisa em que também falharam: não conseguiram o apoio mais fundamental, que era o apoio do povo, da classe proletária, o operariado.
Estes, sempre estiveram em poucos números nas organizações partidárias (os trabalhadores).
Muitos dizem também que a guerrilha rural era mais importante que a guerrilha urbana, sendo esta era só um apoio logístico para o movimento rural. Só que o que aconteceu foi o extremo oposto, valorizaram a cidade em detrimento do campo.
Deveriam ter aprendido com táticas de guerrilha armada.
Deveriam elaborarem melhor seus planos de ação, terem mais profissionalismo. Em muitos assaltos, alguns deles fugiam de ônibus sem segurança
alguma, e andavam com explosivos dentro de transportes coletivos.
Além do amadorismo, primaram pela falta de segurança, arriscando as suas vidas e as de cidadãos comuns.
Muitos acontecimentos denotam a seguinte realidade: a de que nem os militantes eram tão ingênuos assim, conforme já lhes foi dito antes.
Estes executaram algumas pessoas influentes, inclusive Embaixadores e militantes do próprio grupo em que estavam lutando, se matando entre si. Eram contra o aparelho repressor, odiavam o extermínio de militantes
e aplicavam o justiçamento entre os próprios companheiros de militância.

Houve disputas na ALN (Aliança Libertadora Nacional), entre alguns dos principais militantes quando o líder Carlos Marighella, foi fuzilado numa rua de São Paulo.
Pelo comando, brigavam para ver quem seria o novo líder.
Lutavam mesquinhamente por uma organização quase falida.
Realizaram seqüestros em troca de presos políticos; um dos primeiros seqüestros a ser realizado foi o do Embaixador americano.
No decorrer do seqüestro, quando foram encurralados pela polícia estando todo o exército na porta da casa onde estava escondido um dos sequestradores, com armas e dinheiro. Um deles fugiu sem calças. A fuga patética fora a tal ponto primária que para escapar da polícia o militante teve que pular de uma altura de quase dois metros, pegou um táxi e comprou uma calça, se encontrou com outro envolvido no sequestro e ambos fugiram de ônibus.
Os presos políticos a serem postos em liberdade em troca do Embaixador, foram listados às pressas sem nenhum critério, quase que aleatoriamente.
Não se preocuparam antes, em fazer um levantamento dos presos políticos no país.
Esse tipo de troca se tornou comum nos anos de repressão.
Seqüestros de embaixadores se tornou algo comum.
Outra coisa a se acrescentar é sobre os movimentos de reforma agrária no qual a luta dos trabalhadores era encerrada com várias mortes no campo.
Nos anos sessentas o líder dos trabalhadores rurais, criou uma organização para os trabalhadores denominada Master (Movimento dos Agricultores sem Terra).
Hoje o órgão de defesa dos camponeses se denomina MST (Movimento dos Sem Terra).
Nos tempos da ditadura os trabalhadores rurais deveriam ser treinados para
participarem de guerrilhas.
E o foco principal destas deveria ser o campo, o que acabou não ocorrendo.
O foco principal das guerrilhas era mesmo a cidade, várias ações terroristas
foram realizadas, assaltos de bancos, seqüestros de embaixadores.
Antes houve um período de discussões para partir para as ações, que mesmo depois destas discussões, ainda assim não foram bem articuladas.
Houve uma tentativa de ataque a um quartel no qual lançaram uma bomba dentro de um carro.
Um soldado se aproximou do carro-bomba, e este explodiu matando-o.
Essa morte foi lançada pelos militares como forma de incitar a população.
Esta reagiu sendo contra atitudes terrroristas, ou seja, o morto foi usado como massa de manobra.
O mesmo ocorreu com a passeata dos Cem Mil, onde o estudante Édson Luís,
morto no restaurante Calabouço, foi usado pelos manifestantes de esquerda, para manifestações contra a ditadura.
Na missa pelo corpo do jovem, autoridades invadiram as ruas que davam acesso a igreja para impedir as manifestações.
Mesmo assim houve uma passeata no qual muitos acreditam ter participado mais de cem mil pessoas.
Atos terroristas foram realizados.
No final dos anos sessentas surgiu um líder guerrilheiro Carlos Lamarca, simples Capitão do exército, que antes de desertar, roubou muitas armas do exército.
Como a ALN (Aliança Libertadora Nacional) não possuía lugar adequado para acondicionar armas, então, tiveram que colocá-las em casas de amigos.
Ficando lá por longo tempo, pois a organização nunca foi buscar.
Em uma das casas onde parte das armas ficaram escondidas, aconteceu algo imprevisível.
Ao abrir a porta da garagem, um homem assustou-se, e vendo as armas escondidas, tratou logo de se livrar delas, atirando-as num rio.
Por falar nisso, os assaltos a serem realizados, não eram bem planejados e muitas vezes, nem veículo de fuga tinham.
Não tinham lugar para fugir, e quando eram visados pela polícia, tinham que se refugiar na casa de amigos.
Não tinham aparelho seguro para se esconderem.
Em certa ocasião, mais de vinte pessoas ficaram na mesma casa, e não podiam
conversar, para não chamarem a atenção, dos que moravam próximos a casa onde estavam.
Durante o golpe de 64, o líder do movimento dos agricultores fugiu do país, só que antes disse ao Governador Brizola, que poderia contar com ele numa reação contra o regime militar.
Todavia, além de Brizola não poder contar com o apoio de que o líder tanto falava, descobriu o quanto este era covarde.
Durante o mesmo período de resistência, Carlos Lacerda, Luís Carlos Prestes e
Juscelino Kubstchek, criaram a Frente Ampla depois da dissidência do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que mais tarde virou Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR).
Juscelino que fora cassado por um dos Atos Institucionais, teve que abdicar de seu sonho de ser novamente Presidente da República, pois perdeu seus direitos políticos.
Carlos Lacerda retirou sua candidatura à Presidência.
Prestes e Lacerda, velhos inimigos políticos, agora se unindo em torno de um objetivo comum.
Mas, Lacerda também ajudou os militares a realizarem o golpe, a denominada
Revolução de 64.
Outra dissidência foi o MR-8 (Movimento Revolucionário).
Na Nigéria, continente Africano, remessas de dinheiro para a Revolução foram embolsados por políticos brasileiros, e o dinheiro nunca serviu para o seu verdadeiro fim.
O Brasil também manteve relações com Cuba, com seu modelo revolucionário. Além de outros países, como no caso países da América Latina.
Além desses, tiveram contato com militantes italianos e franceses, e chegaram a fazer um série de alianças entre esses países.
As torturas foram denunciadas por este órgão no exterior.
Che Guevara chegou a lutar no continente Africano, pela causa Nigeriana.
Cuba também chegou a manter relações diplomáticas com a Nigéria.
Tentaram ensinar o que sabiam sobre a revolução para outros povos, inclusive o Brasil.
Por várias vezes fracassaram no seu intento.
As estratégias revolucionárias, os atos de terrorismo que foram realizados, contando inclusive com atentados a bomba em oficinas de jornais, atentados dirigidos aos próprios militares, execuções, não ofereciam nenhum tipo de ameaça para o setor militar.
Por falar nisso, entre os próprios militares, havia aqueles que eram militantes da esquerda.
Muitos militares influentes, se posicionaram contra certas medidas ditatoriais e
foram exonerados do cargo.
Carlos Lamarca, que era militar, se posicionou frente as guerrilhas urbanas. Tudo estava indo bem até que um dos membros da ALN (trocadilho da
Aliança Nacional Libertadora) fora preso e delatara o esquema das guerrilhas. Lamarca encurralado se refugiou na casa de um amigo, e depois fugiu num carro, e não despertou a atenção dos policiais.
Os militantes, conseguiram realizar algumas ações no campo, sendo que o preparo das bombas era artesanal.
Cuba dispendeu remessas de dinheiro para a causa, contingentes guerrilheiros foram treinar lá.
Muitos desses guerrilheiros não foram aproveitados nas guerrilhas, ficando
presos em Cuba.
As táticas de guerilha com focos, inspirada no modelo cubano, não deram
certo no Brasil, país de grandes extenções territoriais.
Diante disso, tentaram copiar o modelo de Lampião, subdividindo grupos. Também pegaram idéias, como o exemplo da resistência de Canudos, em que só foram destroçados na quarta batalha com o exército.
Só que Marighella não pensou no seguinte ponto, ali estava um grande contingente populacional, mesmo estando armados só de paus e pedras.
Outro problema ainda durante a gestão do Partido Comunista criado em 1922, era Prestes.
Isso porque o líder do partido anotava nome de membros e minúcias em suas
cadernetas, durante o golpe militar.
Quando Prestes fugiu do país, escondeu precariamente as cadernetas.
Quando a polícia invadiu sua casa, estas estavam escondidas em latas de
feijão.
A polícia apreendeu todo o material, e chegou a todos os integrantes do partido, sendo por causa disto, que muitos adeptos do partido foram presos.
Com isso Prestes cometeu o mesmo erro da Intentona Comunista, deixando ao
alcance dos militares, os nomes de membros do movimento.
Por isso foi, atacado por seus inimigos por este erro primário.
Quando a ALN foi desmantelada pelos órgãos repressores, todos os pontos de
contato foram interceptados pela polícia, escutas grampeadas, códigos de contatos foram delatados por membros do partido, e Marighella logo foi localizado e juntamente com a ajuda de três religiosos, encaminhado para uma armadilha, onde foi covardemente fuzilado.
Amigos e militantes execraram os religiosos.
A policia invadiu o convento em busca de algo que denunciasse Marighella.
O convento foi utilizado para guardar dinheiro de ações terroristas, armas entre outras coisas.
Os estabelecimentos comerciais assaltados eram indenizados, e para lucrarem com isso hiperinflacionavam os produtos dos assaltos.
Por isso mesmo, depois de um certo tempo, os bancos passaram a utilizar forte esquema de segurança.
Daí os assaltos passaram a ser realizados, em outras fontes de comércio.
Depois da morte do líder Marighella, o órgão que ele fundou se fragmentou, e a partir daí, as conhecidas guerrilhas foram se enfraquecendo por falta de grandes líderes, sendo Carlos Lamarca, o último deles.
Quando o PCB quando ainda existia como força política e Luís Carlos Prestes era o líder, ocorreu um fato estranho.
Marighella estando em viagem a Cuba comunista, acabou sendo tirado do PCB, por seu líder.
Isso por que, Marighella almejava tirar Prestes do partido, que no final das contas acabou tendo que formar a ALN.
O PCB também foi desarticulado e seus líderes organizaram órgãos contra o regime militar.
Essa subdivisão do forte Partido Comunista, que possuía membros consideráveis, foi um golpe fatal para a Revolução Comunista que pretendiam realizar.
Antes da morte do líder que substituíu Marighella, tentaram realizar a semana do terror, que acabou não se concretizando.
O seqüestro do Embaixador americano contrariou Marighella e foi uma aliança
entre a ALN e o MR-8.
Conseguiram o que queriam mas pagaram um preço por isso.
Em Itapecerica da Serra, tentaram organizar um Congresso.
Por lá, roubaram um caminhão e o pintaram de verde-oliva, as cores do exército.
Depois, esconderam o caminhão sob uma lona, mas acabaram por serem descobertos, devido principalmente o tamanho reduzido da cidade, na qual todos se conheciam.
Ocorreu um tiroteio nas ruas de São Paulo e alguns dos militantes conseguiram fugir.
Um deles entrou num carro e fez uma mulher de refém.
Por isso ele combinou uma história que ela contaria a polícia e no jornal do dia seguinte, e ela confirmou a combinação.
Para concluir esse painel que aqui se traçou, para encerrar, o ideal da revolução não foi alcançado, os líderes se perderam no caminho a trilhar, percorreram vertentes erradas, ocorreram mortes desnecessárias, justiçamentos onde já havia tão poucos militantes.
O contingente que fora treinado em Cuba e não fora aproveitado aqui no Brasil
gerou descontentamentos entre os militantes exilados que queriam lutar pelo movimento revolucionário, e não chegaram a sair de Cuba.
Os presos políticos libertados em questão do seqüestro do Embaixador foram
banidos e levados para Cuba.
Duas pessoas se ofereceram para mandar mensagens para o
Brasil.
E muitos mandaram mensagens.
As mais importantes e comprometedoras foram escondidas dentro de um absorvente.
Ao passarem pela alfandega as mulheres que levavam as mensagens foram detidas, e levadas ao banheiro, os militares ao revistá-las, foram direto
na calcinha de uma delas.
Claramente, elas foram delatadas por um agente infiltrado entre
eles.
O fracasso da revolução idealizada se deveu a uma série de fatores.
Ainda assim valeu por um sonho.
Só que a luta não valeu a pena.
Nada valeu.
Não valeu a pena nada.
A luta já era perdida antes de começar.
Como já foi dito antes, o sonho acabou.
O sonho dourado dos anos de ouro, de luta, de loucas e tresloucadas transformações, acabou.
Entramos na realidade já partir dos duros anos setentas.
Os grandes líderes como Câmara Ferreira, Carlos Lamarca, Marighella, foram
todos mortos no inicio dos anos setenta. 
As guerrilhas foram se enfraquecendo, muitos militantes foram fuzilados por resistirem a prisão, ou então de tanto sofrerem torturas, acabaram morrendo em consequência destas.
As guerrilhas foram se enfraquecendo, muitos militantes foram fuzilados por resistirem a prisão, ou então de tanto sofrerem torturas, acabaram morrendo em consequência destas.
Ou mesmo fizeram como aquele que se atirou contra a parede, deixando-a toda ensanguentada.
Tudo para não sofrer as torturas.
Muitos corpos foram lançados ao mar, e muitos outros desapareceram e não mais serão encontrados, mesmo depois de quase trinta anos.
Os muitos participantes dessa lutam ainda são militantes de partidos políticos, outros desistiram da vida política.
Nos anos 60, quando Geraldo Vandré compôs a música que o consagrou ”Pra não dizer que não falei das flores”, teve sua prisão decretada e foi realmente preso.

Quanto a isso devo acrescentar que foi ele também que compôs Disparada, entoada por Jair Rodrigues:

“Prepare o seu coração
Pras coisas que eu vou contar
Eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão

E posso não lhe agradar
Aprendi a dizer não
Ver a morte sem chorar
E a morte, o destino tudo

A morte, o destino tudo
Estava fora de lugar
Eu vivo pra consertar
Na boiada já fui boi
Boiadeiro já fui rei...”

Este belo clássico da MPB agraciado num Festival da Canção, é como nós
pretendemos encerrar este trabalho, um toque de saudade e nostalgia, para rememorar os anos 60, daqueles que viveram esse momento em suas vidas.

Até um dia.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Informações extraídas do livro: A Revolução Impossível, de Luis Mir, o livro Anos Rebeldes, baseado na minissérie exibida na rede Globo, e matérias publicadas no Jornal O Estado de São Paulo, ano de 1997. 

Bat-poética

Caetano Veloso desafiava o Brasil com "Alegria, Alegria" e defendia que o mundo era de Batman.

Bat-poética
Reportagem de Marcos Augusto Gonçalves

Era um rapaz muito diferente.
Quando subiu ao palco do 3º Festival de MPB, de cabelos encaracolados e gola rolê, trazendo à retarguarda as guitarras elétricas de um grupo pop argentino, chamado Beat Boys, alguma coisa começou a acontecer nos corações futuristas do nosso querido Brasil.
Aos primeiros acordes, surpresa.
O que seria aquilo? Música brasileira de verdade?
Música brasileira americanizada? Seria iê-iê-iê ou puro deboche?
Ao fim, uma sinfonia de certezas e incertezas: sem dúvida tratava-se de uma marcha, mas usava roupa dos Beatles e da Jovem Guarda; os acordes e a harmonia eram simples, mas pareciam muito complexos; a letra era pop, mas de uma ousadia poética inusual.
E o rapaz? O rapaz que resolveu, ao fim da apresentação, atirar-se ao chão, numa atitude cênica incomum naquela época, em que o padrão era a sobriedade do banquinho e do violão – quem era, afinal, esse rapaz?
--"Eu sou o 'Rei da Vela', de Oswald de Andrade, montado pelo grupo oficina. Sou brasileiro, sou casado e sou solteiro, sou baiano e sou estrangeiro. Adoro meu pai, minha mãe e meus irmãos, mas não tenho família. Eu sou Caetano Veloso. Meu coração é do tamanho de um trem."-- respondeu, depois do Festival.
Caetano não era exatamente um desconhecido antes de "Alegria, Alegria".
Seu talento já havia sido notado em canções como "De manhã" ou "Boa Palavra", e sua participação no debate sobre a "crise da MPB" já revelava uma consciência rara no meio musical.
Em 66, na "Revista de Civilização Brasileira", ele anunciava claramente o que
deveria ser – e foi – feito nos anos seguintes: "Só a retomada da linha evolutiva pode nos dar uma organicidade para selecionar e ter um julgamento de criação. Dizer que samba só se faz com frigideira, tamborim e um violão sem sétimas e nonas não resolve o problema".
No mesmo depoimento, apontava João Gilberto como a ponta do novelo da modernidade a ser retomada: "João Gilberto para mim é exatamente o momento em que isto aconteceu: a informação da modernidade musical utilizada na recriação, na renovação, no dar–um–passo–á–frente da música popular brasileira".
Mas o Caetano de "Alegria, Alegria", mesmo para aqueles que defendiam a bossa nova dos ataques nacionalistóides, parecia um tanto extravagante. Demasiadamente próximo da cultura pop e do palco da Jovem Guarda-contra
os quais movia-se uma "guerra santa".
O que aconteceu com Caetano Veloso?, perguntava Carlos Acuio, na introdução de uma entrevista, em dezembro de 67.
Caetano respondia: "Nego-me a folclorizar meu subdesenvolvimento para compensar dificuldades técnicas. Ora, sou baiano, mas a Bahia não é só folclore. E Salvador é uma cidade grande. Lá não tem apenas acarajé, mas também lanchonetes e hot dogs".
"Venho–me interessando mais pela poesia iê-iê-iê, pela vitalidade natural da música vulgar e comercial, do que pelo intelectualismo em que haviam caído todos os que se acreditavam continuadores de Caymmi, Noel e outros."
"Estou-me esforçando para respeitar meu público, que é jovem como eu, e está também interessado em que sejamos gente do mundo de agora."
"Ser gente do mundo de agora, ser um país do mundo de agora, uma cultura do mundo de agora. E de quem era o mundo de agora? "O mundo é realmente de Batman", provocava Caetano, causando urticárias na esquerda nacionalista, nos arautos das "raízes", nos violeiros do protesto antimperialista." "Alegria,Alegria", ao lado da primorosa "Domingo no Parque", de Gilberto Gil, foi um marco da canção moderna brasileira.
Um exercício antropofágico que cumpre o dever de casa da lição Pau– Brasil: "Contra a argúcia naturalista: a síntese.
Contra a cópia: a invenção e a surpresa".
Sem perder o fio da tradição, Caetano constrói sua estranha marcha, usando
elementos "mundo de agora".
Absorve os ecos de Liverpool, introduz instrumentos da área pop e atitudes e conteúdos que se aproximavam da contestação hippie.
Não por acaso, muitos viram nas iniciais de: "sem lenço e sem documento" uma menção cifrada ao LSD.
E logo depois do festival, o rapaz, que "nunca mais foi á escola", seguiu para a Bahia, onde casou-se Dedé Gadelha numa cerimônia "flower power".
"Alegria, Alegria" é também, uma injeção de criatividade na poética da palavra cantada brasileira.
Num momento em que a bossa nova aguava-se no sorriso e na flor e que a MPB de raízes enveredava pela "protest song", Caetano surge com uma letra "nouvelle vague", feita de estilhaços de imagens, adotando procedimentos da poesia e do cinema de vanguarda para falar de um Brasil fragmentado, moderno e mais jovem.
Sem esquecer a visão crítica da própria música popular, no conhecido verso "uma canção me consola".
Um mundo de espaçonaves e guerrilhas, Coca-Cola e Brigitte Bardot. Augusto de Campos, em 67, resumia, a quente:
"Furando a maré redundante de violas e marias, a letra de 'Alegria, Alegria' traz o imprevisto da realidade urbana, múltipla e fragmentária, captada isomorficamente através de uma linguagem nova, também fragmentária, onde predominam substantivos-estilhaços da 'implosão informativa' moderna (...) É o mundo das 'bancas de revista', o mundo da comunicação rápida, do 'mosaico informativo' de que fala Marshall McLuhan".
Claro que "Alegria, Alegria" não foi–muito menos naquele ano tão fértil–um fato
isolado.
Nem mesmo na área da música popular, em que se erigiu como marco, ao lado de "Domingo no Parque" e, logo a seguir, "Tropicália".
Mas, sem ela, a tradução e o "aggiornamento" de um momento cultural muito importante da história brasileira não seriam tão completos.
A canção, ao lado de "O Rei da Vela", de Zé Celso,"Terra em Transe", de Glauber Rocha, e o ambiente "Tropicália", de Hélio Oiticica, formou o abre– alas do tropicalismo, que se consolidaria, em 68, como o último grande movimento cultural do país.
E viva Chico Science!

"Passeatas, reclamações, discussões sem resultado–tudo na parte da frente da
cabeça, onde se estão juntando os ossos do mundo."
Aníbal Machado,Cadernos de João Machado.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Informações extraídas do livro: A Revolução Impossível, de Luis Mir, o livro Anos Rebeldes, baseado na minissérie exibida na rede Globo, e matérias publicadas no Jornal O Estado de São Paulo, ano de 1997. 

Cronologia 1967:

24 de janeiro – promulgada pelo Congresso, a nova constituição brasileira, que
substituiu a anterior de 1946. Foi elaborada pelo então Ministro da Justiça, Carlos Medeiros Silva, durante o governo do Marechal Castelo Branco.
9 de fevereiro – sancionada a nova Lei de Imprensa pelo presidente Castelo Branco.
O presidente vetou dois artigos, o primeiro porque admitia como verdadeira uma alegação, e o segundo concedia privilégio a jornalistas.
26 de fevereiro – mais de 25 mil homens participaram da maior ofensiva norte–
americana na Guerra do Vietnã.
O objetivo principal era localizar e destruir o quartel-general do Comando Central Vietcongue no Vietnã do Sul.
15 de março – Tomou posse na Presidência do Brasil o Marechal Arthur da Costa e Silva.
Eleito por voto indireto, Costa e Silva foi Ministro da Guerra de seu antecessor, Castelo Branco, que não o apoiava.
5 de maio – lançamento de "Terra em Transe", com direção de Glauber Rocha. Com Jardel Filho, Paulo Autran e José Lewgoy no elenco, o filme recebeu dois prêmios no Festival de Cannes, o da Crítica Internacional e o Buñuel.
30 de maio – O governador militar do leste da Nigéria, Odumegwu Ojukwu,
proclamou a independência desta parte do país, e criou a República da Biafra.
A Nigéria impôs um bloqueio à Nova República.
A fome e a miséria tomaram conta do país.
1º de junho – Os Beatles lançaram o LP"Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", considerada a melhor e mais ousada obra da banda.
Os críticos a consideram, ainda hoje, uma revolução no mundo do rock.
5 de junho – Começou a Guerra dos Seis Dias.
O exército de Israel destruiu a Força Aérea do Egito, tomou Jerusalém, a Faixa de Gaza, a Península do Sinai e as Colinas de Golã.
A ONU mediou um cessar-fogo em 11 de junho.
18 de julho – Morreu, em um acidente aéreo no Ceará, o ex-Presidente e Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco.
O avião em que viajava (pertencente ao governo do Estado do Ceará) se chocou em pleno vôo com um jato da FAB.
24 de agosto – O então Presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser, expulsou das
Forças Armadas, mais de mil oficiais.
O motivo foi a derrota militar, frente a Israel na Guerra dos Seis Dias.
19 de setembro – A peça "O Rei da Vela" de Oswald de Andrade, escrita em 1933, foi encenada pelo Grupo Oficina.
Dirigida Por José Celso Martinez Corrêa, o texto era ainda inédito no teatro.
8 de outubro – O líder revolucionário latino-americano Ernesto "Che" Guevara, foi assassinado.
O governo da Bolívia confirmou que Guevara foi morto pelo Exército, junto com um grupo de guerrilheiros
14 de outubro – Explodiu o tropicalismo no Brasil.
Gilberto Gil, com a canção "Domingo no Parque", e Caetano Veloso, com "Alegria, Alegria", se apresentam nos festivais da Record.
19 de novembro – Morreu vítima de um infarto, o escritor João Guimarães Rosa, de 59 anos.
Autor de "Sagarana" e "Grande Sertão: Veredas", morreu três dias depois de assumir uma cadeira na Academia Brasileira de Letras.
3 de dezembro – Foi realizado o primeiro transplante de coração no mundo, na
Cidade do Cabo (África do Sul).
O cirurgião Christiaan Barnard transplantou o coração de uma jovem de 25 anos, para um homem de 55 anos.

Continuando a comentar sobre a década de 60, "Os Mutantes" compuseram uma música chamada"Panizes Circenses":

"Eu vim cantar
Minha canção iluminada de sol...

Mandei fazer de puro aço
Luminoso punhal
Para matar o meu amor e matei
As cinco horas na Avenida Central

Mas as pessoas da sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer..."

Aqui neste trecho da música, eles falaram do comodismo da sociedade que preferia o conforto da sala de jantar, a lutarem por seus direitos.
Enquanto pessoas morriam nas ruas, as pessoas em sua maioria, não se preocupavam com a realidade do país.
Isso dizia respeito a elite brasileira, que não queria que as coisas mudassem. Mais para a frente, durante os anos oitentas um grupo da MPB chamado 14-Bis fez uma música chamada "Planeta Sonho", que contava uma aventura ecológica, falava da natureza.
Foram muito criticados por fazerem uma música segundo a esquerda brasileira, tão pouco politizada.
Enquanto pessoas desapareciam nos porões da ditadura, lá estavam eles falando de um planeta de sonho.
Mas foram eles os precursores da onda ecológica, que hoje virou moda.
Nesse período de repressão militar, os jovens acreditavam que tomariam o poder, somente com idéias.
Não foi o que realmente aconteceu.
Ninguém pode tomar o poder sem armas.
Carlos Lamarca, ex-capitão do exército que se tornou partidário, e um dos principais líderes da guerrilha urbana, foi morto no início da década de setenta, sendo ele o último líder de destaque no panorama nacional.
Em 1969, houve o seqüestro do embaixador americano no Brasil, pelos estudantes, que exigiam a soltura de todos os presos políticos que estavam listados.
Durante o final da década de sessenta, o presidente Costa e Silva adoeceu
gravemente, sendo substituído por uma junta militar que não queria que o Vice-Presidente Pedro Aleixo, um civil, assumisse o governo.
Depois veio Emilio Garrastazu Médici.
Durante o período mais intenso da ditadura, ocorreu o que chamamos de linha-dura, que foram os militares conservadores que se posicionaram contra a chamada abertura política.
Geisel mostrou-se interessado em uma distensão, mas de certa forma, foi o Presidente mais autoritário do regime militar.
Deu certas concessões aos militares linha-dura, mas isso não os satisfizeram.
Nessa época surgiu a Lei Falcão, que proibia a liberdade de imprensa.
Depois de série de abusos, destituiu o General Ednardo.
Com o AI-3, determinou-se o fim do pluripartidarismo sendo criado dois partidos: o ARENA (Aliança Renovadora Nacional) e MDB (Movimento Democrático Brasileiro).
Os estudantes dos anos sessentas, também executaram políticos, fazendo justiça com as próprias mãos, cometendo crimes, sendo assim, não foram tão vítimas como parecem.
Durante a época do milagre econômico, os militares queriam o desenvolvimento
econômico a qualquer custo.
Por isso, facilitaram a vinda de empresas estrangeiras, permitindo a remessa de lucros para o exterior.
Isso trouxe um certo desenvolvimento ao país, que se tornou muito industrializado, só que grande parcela da população vivia na mais absoluta pobreza.
O padrão de vida, o custo desta aumentou, e o milagre econômico, só trouxe benefícios para a elite.

Este foi o momento de grandes manifestações artísticas, um grande exemplo disso é o filme "O pagador de promessas", único filme brasileiro a receber a palma de Cannes e o título em francês de "La parole donne", retrata a religiosidade, a exploração religiosa, um homem comum mitificado, sendo que este só estava procurando pagar uma promessa.
Devido a intransigência de um padre, não conseguiu pagar a mesma, só a realizando depois de morto, quando alguns homens o colocam numa cruz e invadiram a igreja.
A história consistia na peregrinação de Zé do Burro que necessitava pagar uma promessa, pois seu burro foi atingido por um raio.
Desesperado apela para rezas, terreiro de candomblé, lá fazendo uma promessa para Iansã, sendo equivalente á Santa Bárbara no catolicismo.
Vendo o burro curado, prometeu levar uma cruz de madeira tão pesada como a de Cristo, para a igreja no dia de Santa Bárbara, além de repartir sua terra com os lavradores mais pobres.
Devido sua persistência e a intransigência do padre, Zé do Burro se tornou aos olhos das autoridades, um agitador social.
Para outros, a ameaça de um falso ídolo, além disso a imprensa deturpou a história, prometendo lançá-lo como Deputado.
Todos então de uma forma ou de outra, resolveram se aproveitar da história, lucrar com ela.
Em razão disso o pobre homem, foi morto numa cilada armada por um gigolô, conhecido como Bonitão, que levou até ele uma autoridade policial.
Ele, devido sua revolta pessoal e sua ingenuidade, chegou a dizer que tinha vontade de jogar uma bomba na igreja.
Revoltado, tentou arrombar a porta da igreja, sendo que isso tudo complicou muito, a sua situação.
Sob ameaça de ser detido, esboçou reação e para se defender, se armou de uma faca.
De repente, armou-se uma confusão, e Zé do Burro apareceu morto.
Daí até a realização póstuma de sua promessa, termina-se a narrativa.

Outro aspecto importante a ser mostrado dos anos sessentas, é aspecto musical do fim da década, que retratou os problemas sociais, como no caso desta música de Tom Zé chamada "Parque Industrial":

"Retocai o céu de anil
Bandeirolas no cordão
Grande festa em toda nação.

Despertai com orações,
O avanço industrial
Vem trazer nossa redenção..."

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Informações extraídas do livro: A Revolução Impossível, de Luis Mir, o livro Anos Rebeldes, baseado na minissérie exibida na rede Globo, e matérias publicadas no Jornal O Estado de São Paulo, ano de 1997. 

Alegoria do Caos


Trinta anos depois, "Terra em Transe" mantém todo o impacto da obra de arte
poderosa.
A avaliação feita a seco não tem o menor propósito de fugir à discussão sobre as fragilidades do filme.
Continua lá, a colcha de retalhos que se estende de Resnais a
Antonioni, passando pelo primeiro Godard e outros mais: o trêmulo existêncialista ainda mela a angústia do personagem Paulo Martins, cuja versalhada vai a reboque de rompantes líricos de qualidade do poeta Mário Faustino: a temática agrária via CPC (Centros Populares de Cultura), historicamente inovadora, soa desenxabida diante da atualidade
muito mais consistente do Movimento dos Sem Terra.
A questão, porém é que em Glauber Rocha as coisas dão a impressão de andar a contrapelo, e o resultado as vezes, costuma ser – e neste caso é mesmo – um encontro estonteante de paroxismo e senso da verdade.
Paulo Emilio, que cortava no lugar certo, afirmou que em Glauber “as evidências de insensatez acabavam testemunhando um ‘cintilante equilíbrio’”. É claro que ele se referia ao cineasta, e não ao teórico e estrategista político que acabou dizendo "bom-dia" a cavalo.
Seja como for, vale lembrar o que Gilda de Mello e Souza explicou num ensaio breve e exemplar dedicado a "Terra em Transe": "A força de Glauber não consiste em exprimir um pensamento discursivo, e sim na maestria com que usa imagens para criar um universo plástico de equivalências, um sistema de metáforas e alegorias".

Os anos sessentas foram ricos em manifestações artísticas, um exemplo disso foi: "Deus e o Diabo na Terra do Sol", em que se é retratado o sertão nordestino, a seca, a miséria, a fome, os pagadores de promessa, como no caso de um homem que caminha vários quilômetros com uma pedra na cabeça.
Esta é a simbologia do auto flagelamento.
A exploração da fé, do desespero, o pagamento das promessas.
O filme retrata essa realidade, a seca que castiga o sertão.
Segundo o beato do filme: "O sertão vai virar mar e o mar vai
virar sertão".
As personagens do filme são induzidas a carregarem a pedra na cabeça para
pagarem uma promessa, o beato lhes estimula a fazerem isso.
Este filme retrata essa realidade.
É um painel da dura realidade do Nordeste.
Muitas peças foram realizadas nesse período.
Chico Buarque compôs uma música que deu origem a uma delas, sendo esta extremamente combatida.
Muitas peças realizadas pelo país, foram rotuladas como de esquerda e os artistas que participaram destas peças, foram perseguidos pelos policiais que representavam o governo de direita.
Políticos, jornalistas, estudantes, artistas entre outros, foram presos, torturados e até mortos.
Além de filmes e peças de teatro, surgiram nessa época muitos cantores, através dos festivais.
Um desses exemplos são: "Os Mutantes" – conjunto de rock dos loucos anos 60, fazia um rock mais pesado à lá Rolling Stones, além de ser muito mais questionador do que a Jovem Guarda.
Junto com Caetano Veloso e Gilberto Gil, "Os Mutantes" criaram um movimento
musical conhecido como "Tropicália".
Além deles, outros cantores participaram deste movimento como Tom Zé por exemplo.
Esse movimento homenageou a Jovem Guarda, que nesse período já começava a perder prestígio, e a Bossa Nova.
Começando pelas guitarras, algumas colagens de músicas de Roberto Carlos e
algumas citações sociais, transformaram a "Tropicália" num movimento musical
contundente.
Na época foram rotulados de alienados, e muitas vezes foram vaiados em
público.
Na década seguinte Rita Lee, formou outro grupo de rock intitulado "Tuti-fruti". Cumpre salientar que foi, e é uma das grandes figuras do nosso rock, questionou de certa forma os padrões da sociedade vigente, sempre fez o gênero rebelde, e foi presa nos anos 70 por porte de maconha.
Nessa época, fez algumas canções que são conhecidas até hoje, como por exemplo: "Ovelha Negra", "Mamãe Natureza", "Menino bonito" entre outras.
Agora, temos que falar do "cinema novo", uma câmera na mão e uma idéia na
cabeça.
Com essa temática realizou-se o filme "Os Cafajestes", de Ruy Guerra e "Terra em Transe", de Glaúber Rocha.
Nesta época foi montada a peça "O rei da vela" que contava a história de um
industrial que fabricava velas, baseada em escritos de Oswald de Andrade. Nessa época surgiu o ‘cinema novo’, movimento que revolucionou o cinema nacional.
Rogério Sganzerla realizou vários filmes, cuja temática era a pobreza, a miséria, e a escória da sociedade.
Um exemplo disso foi o filme "O bandido da Luz Vermelha", que conta a vida do bandido João Acácio, que estuprava, matava e roubava suas vítimas.
Foi também diretor de outros filmes, mas seu estilo era mesmo underground ou udigrudi, cineasta da realidade, falava da pobreza, da chamada boca do lixo.
"Os pequenos burgueses", peça que foi montada durante o regime militar, também era politizada.
Nesse período conturbado da história política do país, os jovens liam autores
russos, sobre as teorias socialistas, sendo que o período mais intenso dessa vontade de igualdade social se deu na década de setenta com as guerrilhas urbanas.
Nesse momento, a Tropicália surgiu para revolucionar a nossa música resgatando outros estilos.
Caetano dizia:
"Só a retomada da linha evolutiva pode nos dar uma organicidade para selecionar e ter um julgamento de criação. Dizer que samba só se faz com frigideira, tamborim e um violão, sem sétimas e nonas não resolve o problema."
Alegria, Alegria com seus fragmentos da realidade, bombas, Brigitte Bardot. Um mundo de espaçonaves e guerrilhas, Coca-cola, o mundo das bancas de revista, da informação rápida, do mosaico informativo de que fala Marshall McLuhan.
Com seu inicio tocado com uma guitarra, nos remete aos primeiros acordes do rock and roll, mais precisamente a Jovem Guarda, além de algumas citações jovem-guardistas, Brigitte Bardot, e:

"O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia..."

Outro trecho da música:

"Eu vou,
Sem lenço sem documento.
Nada no bolso ou nas mãos.
Eu quero seguir vivendo..."

Esse trecho da música se refere a uma viagem de ácido mais conhecido como LSD ou ácido lisérgico.
Essa música também mostra um lado hippie quando fala nessa despreocupação em viver, que assim como os garotos da Jovem Guarda eles também tinham
essa tranquilidade.
Uma poética simples sem grandes preocupações com grandes idéias filosóficas. Caetano era adepto da cultura de massa.
Numa cerimônia flower power casou-se Dedé Gadelha.
Adotou na Tropicália uma mistura de estilos, Jovem Guarda com Bossa-Nova, com Beatles, com a filosofia dos hippies, transformando tudo numa geléia geral.
Criticado na época por ser alienado, recebeu os mais sinceros agradecimentos de alguns cantores da Jovem Guarda que diziam:
"A Tropicália foi uma Jovem Guarda com consistência política."

Nara Leão nessa época começara a fazer samba social, no qual falava das vantagens de se viver no morro, apesar de fazer parte da elite carioca.
Período em que abandonou a
Bossa-Nova onde era musa, para investir em outras vertentes.
Foi criticada por seus amigos bossa-novistas, de estar abandonando o movimento que lhe deu fama.
Durante a Tropicália fez parte do movimento.
Nessa época tinha também rivalidade com Elis Regina.
Mas o que interessa aqui é o seu lado musical.
Outra figura de destaque nesse panorama é Leila Diniz, atriz de novelas e filmes, além de peças de teatro.
Considerada pela esquerda de alienada, e pela direita como sendo de esquerda, não tinha posição política estabelecida, lutava por seus direitos, foi feminista
antes da palavra virar moda.
Como se pode observar, ela estava a frente do seu tempo.
Tanto é assim que a lei do divórcio levou o seu nome.
Acreditava no amor livre sem compromisso.
Foi perseguida pela censura, pelos militares.
Teve sua prisão decretada, por causa de uma entrevista na qual dizia uma série de palavrões, que foram trocados por asteriscos, e fugiu, tendo que se esconder na casa de amigos.
O filme que realmente retratou sua personalidade contundente e marcante foi: "Todas as mulheres do mundo", no qual um homem acreditava que ela era a representação de todas as mulheres do mundo.
Para ela nada era pecado, nem mesmo amar dois homens ao mesmo tempo. Assim como Nara Leão foi musa, sendo que Nara era musa da Bossa-Nova.
Rita Lee compôs uma música falando de Leila Diniz, eis aqui um trecho:

"Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher é meio Leila Diniz..."

"Domingo no Parque" de Gilberto Gil teve a base musical tocada por guitarra. Quem fez a parte tocada na canção, foi o conjunto "Os Mutantes". A música fala de um crime que ocorre num parque de diversões:

"O rei da brincadeira-é José.
O rei da confusão-é João.
Um trabalhava na feira-é José.
Outro na construção-é João.

Na semana passada, no fim da semana,
João resolveu não brigar.
No domingo de tarde saiu apressado.
E não foi pra ribeira jogar.

Capoeira.
Não foi pra lá, pra ribeira,
Foi namorar.

O José como sempre, no fim da semana.
Guardou a barraca e sumiu.
Foi fazer, no domingo, um passeio no parque,
Lá perto da boca do rio.

Foi no parque que ele avistou.
Juliana,
Foi que ele viu.

Juliana na roda com João.
Uma rosa e um sorvete na mão.
Juliana seu sonho, uma ilusão.
Juliana e o amigo João.

O espinho da rosa feriu Zé.
E o sorvete gelou seu coração.
O sorvete e a rosa-é José.
A rosa e o sorvete-é José.

Oi dançando no peito-é José.
Do José brincalhão-é José.
O sorvete e a rosa-é José.
A rosa e o sorvete-é José.

Oi girando na mente-é José.
Do José brincalhão-é José.
Juliana girando-oi girando.

Oi na roda-gigante-oi girando.}2vezes
O amigo João-oi João.

O sorvete é morango-é vermelho.
Oi girando e a rosa-é vermelha.
Oi girando, girando-é vermelha.
Oi girando, girando-olha a faca.

Olha o sangue na mão-é José.
Juliana no chão-é José.
Outro corpo caído-é José.
Seu amigo João -é José.

Amanhã não tem feira-é José.
Não tem mais construção-é João.
Não tem mais brincadeira-é José.
Não tem mais confusão-é João.”
(Gilberto Gil)

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Informações extraídas do livro: A Revolução Impossível, de Luis Mir, o livro Anos Rebeldes, baseado na minissérie exibida na rede Globo, e matérias publicadas no Jornal O Estado de São Paulo, ano de 1997. 

Processos Históricos


Quando da proclamação da República, teve início a República da Espada, sendo que os dois primeiros presidentes eram militares.
Depois veio a República das Oligarquias, a qual se denomina "Republica do Café com Leite", política adotada pelos cafeicultores.
O Governo Provisório foi dirigido pelo Marechal Deodoro da Fonseca, que instaurou o regime republicano federalista, transformando províncias em Estados da Federação, e o país passou a se chamar Estados Unidos do Brasil. Este governo era uma composição entre militares, que ficaram com a presidência, e civis, a maioria nos Ministérios.
As crises entre os centralistas e federalistas, se expressaram dentro do próprio governo, pelo enfrentamento entre o Presidente e seu Ministério.
Autoritário e centralista, Deodoro despertou nos civis, o temor de uma ditadura militar.
Centralizar é controlar todo o país de forma central, ou seja, monopolizar o poder.
Federalizar é distribuir o poder entre os estados, descentralizando o poder.
O governo provisório terminou em 25 de fevereiro de 1891, com a promulgação de uma Constituição, sendo esta a Primeira da República.
Depois o governo passou para Floriano Peixoto, que anulou o decreto de dissolução do Congresso, assinado por Deodoro, e derrubou governos estaduais que apoiaram a tentativa do golpe.
Em razão disso, Floriano tomou decisões de forte apelo popular, para garantir sua sustentação política, ao mesmo tempo que apoiou os cafeicultores paulistas.
Enfrentou oposição no Congresso, que queria convocar novas eleições. Conseguiu terminar seu mandato, mas enfrentou motins e revoltas militares em todo o país.
Tratou seus opositores com violência, e ficou conhecido, como o Marechal de Ferro.
Quanto a Prudente de Morais, ele foi o primeiro Presidente civil, e também o primeiro eleito pelo voto direto.
Em 5 de novembro de 1897, o Presidente sofreu um atentado no cais do Porto do Rio de Janeiro.
Um soldado florianista, (opositor de seu governo, partidário do ex-presidente Floriano Peixoto), Marcelino Bispo, tentou atingi-lo, e acabou matando o ministro da Guerra, Marechal Carlos Bittencourt.
O incidente deu pretexto para o Congresso decretar Estado de Sítio.
Com poderes excepcionais, Prudente de Morais prendeu seus opositores, fechou jornais, e acabou com qualquer manifestação política.
Consolidou assim a presença de civis no poder federal.
Governo Campos Sales, representante da Oligarquia Cafeeira, governou até o fim do mandato.
Sucedeu no governo Rodrigues Alves, que derrotou Quintino Bocaíuva, nas eleições de 1902.
Depois governou o país Afonso Pena, que morreu antes de concluir o mandato.
Nilo Peçanha o Vice-Presidente assumiu o governo.
Hermes da Fonseca sucedeu Nilo Peçanha no poder.
Se afastou da "Política do Café com Leite", e deu importância a política de recuperação dos militares no poder, e apoiou intervenções militares nos governos estaduais.
Só que os militares só se aliaram ao poder local.
Foi um período marcado por revoltas, como a da Chibata, em que os marinheiros contestaram as chibatadas e os maus tratos, a que eram submetidos, e João Cândido foi o líder do movimento.
As exigências foram atendidas, só que os organizadores da Revolta da Chibata foram presos.
João Cândido só foi solto, porque acreditavam que ele estava louco.
Há alguns anos foi composto um samba em sua homenagem. Começa assim:

"Há muito tempo,
Nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu

Conhecido como navegante negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala,
E ao acenar pelo mar
Na alegria das regatas

Foi saudado no porto
Pelas mocinhas francesas
Jovens polacas
E por batalhões de mulatas
Rubras cascatas

Jorravam das costas dos Santos
Entre cantos e chibatas,
Inundando o coração
Do pessoal do porão
Que a exemplo do feiticeiro

Gritava,então:
Glória aos piratas,ás mulatas
As sereias!
Glória á farofa,á cachaça,
Às baleias!

Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história
Não esquecemos jamais!

Salve o navegante negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais..."
(João Bosco e Aldir Blanc)

Herme da Fonseca, foi sucedido por Venceslau Brás, que governou até o fim do mandato.
Durante o seu governo, eclodiu a Primeira Guerra Mundial na Europa.
A guerra provocou quedas das exportações e o presidente mandou queimar sacas de café, para aumentar o preço deste.
O movimento operário surgiu com força, e ocorreu uma greve geral em 1917, devido a morte de um trabalhador, o que causou comoção em toda a cidade de São Paulo.
Manifestantes saquearam lojas, depredaram construções e um contingente policial foi mandado, a fim de reprimir manifestações, no enterro do operário.
Foi nessa época que surgiu o anarquismo, movimento que tinha idéias trazidas de imigrantes estrangeiros.
Foi a forma encontrada pelos trabalhadores lutarem por seus direitos.
Epitácio Pessoa assumiu o poder, enfrentou conflitos e um amplo movimento
operário.
Por conta disso, fechou o jornal operário A Plebe, e expulsou do país os redatores e os principais militantes.
Nomeou um civil para ocupar o Ministério da Guerra, o que fez os militares se rebelarem.
Depois fechou o Clube Militar do Rio de Janeiro, sob protesto dos jovens oficiais.
Após, assumiu Arthur Bernardes, que governou, sob Estado de Sítio.
Nesse período em 1924, surgiu a Coluna Prestes, movimento de andarilhos que atravessou o país.
Seu governo passou por sérios conflitos.
Governo Washington Luís. Assumiu em 1926 e foi deposto na Revolução de 1930.
Considerava manifestações trabalhistas ‘caso de polícia’.
Promoveu a Lei Celerada, que permitia a repressão a atividades políticas e sindicais.
Revolução de 1930, movimento no qual Getúlio Vargas assumiu o poder, tirando o governo de João Pessoa, sendo que este foi assassinado.
Getúlio governou durante quinze anos.
Em 1932 ocorreu a Revolução Constitucionalista, movimento que visava uma nova Constituição.
Em 1937 planejou um golpe de estado que constituiu uma ditadura.
Em 1945 foi deposto.
E de 1946 a 1950, assumiu o governo o Ministro do Exército Eurico Gaspar Dutra.
Em 1950, Getúlio, voltou ao poder pelos braços do povo.
Suicidou-se em 24 de agosto de 1954, devido à pressões militares.
Nas eleições seguintes, assume Juscelino Kubitschek, que propôs uma política desenvolvimentista, não nacionalista.
Isso tudo para dizer, que a ameaça militar sempre esteve presente.
Alguns militares sempre quiseram assumir o poder.
Sempre interferiram na política do Brasil, seja entrando no governo, ou agindo de forma indireta.
Além do que um poder centralizado é sempre uma forma de perigo, pois isso indica poderes ilimitados a quem governa, constituindo um risco de poder totalitário, com atrocidades e abusos no governo.
Como o que ocorreu na ditadura, no Nazismo e em todos os regimes totalitários.
Pois a ditadura é um regime totalitário também de certa forma.
O Imperialismo é uma forma de governo no qual quem governa tem poderes ilimitados,absolutos.
Foram colocados estes governos todos para mostrar também que os militares
mantiveram pressão sobre os governantes, pois sempre almejaram o poder.
E o perigo de ser implantada uma ditadura no país sempre esteve presente.

Outro dia, assisti um Globo Repórter, que tratava das guerrilhas urbanas e contava a história de vários participantes desse momento na história do país, e que morreram nas mãos da polícia, inclusive a história do pai de Marcelo Rubens Paiva que foi militante durante o governo militar.
Para ver seu filho, tinha que observá-lo à distância, e não podia se identificar.
Geralmente os militantes eram jovens estudantes brasileiros, sendo que muitos nem sabiam porque estavam lutando, (entraram de gaiatos no movimento).
Durante o regime militar foram instituídos vários atos institucionais, que deixaram de assegurar os direitos constitucionais.
No período militar a Assembléia Constituinte foi dissolvida.
Um dos atos institucionais o AI-1, de 9 de abril de 1964, transferiu o poder político aos militares.
Serviu como para legalizar ações políticas não previstas, e contrárias à Constituição.
Determinou-lhes a linha dura, que defendia a pureza de princípios revolucionários, e excluía qualquer vestígio do regime deposto.
Pressionaram o Congresso para aprovar medidas repressivas, como por exemplo, a emenda das inegibilidades que tornava inelegíveis, alguns candidatos que desagradam os militares.
Em 27 de outubro de 1965, Castello Branco edita o Ato Institucional nº 2 (AI-2), que: dissolveu os partidos políticos e conferiu ao Executivo, poderes para cassar mandatos, e decretar o Estado de Sítio, sem prévia autorização do Congresso.
Estabeleceu eleição indireta para a Presidência da República, transformando o Congresso, em Colégio Eleitoral.
Com o AI-3 as eleições para governador passaram a ser indiretas.
Em novembro de 1966, Castello Branco fechou o Congresso, e iniciou uma nova onda de cassações de parlamentares.
O AI-4 atribuiu poderes ao Congresso para que aprovasse o projeto constitucional, elaborado pelo Ministro da Justiça, Carlos Medeiros Silva.
O AI-5, institucionalizou a ditadura.
Incorporou as decisões contidas nos Atos Institucionais na Constituição.
Aumentou o poder do executivo, reduziu poderes e prerrogativas do Congresso.
A Nova Constituição, entrou em vigor em janeiro de 1967.
Em 1968, ocorreu uma greve dos metalúrgicos de Osasco, São Paulo,e de Contagem, Minas Gerais, ambas em 1968, sendo as últimas mobillizações operárias dos anos 60.

Durante os anos sessentas, ocorreram os Festivais da Canção na Record, e num desses festivais Beth Carvalho cantou, acompanhada do conjunto vocal Golden Boys, "Andança" que não foi a primeira colocada. Começa assim:

"Vim tanta areia andei
Da lua cheia eu sei
Uma saudade imensa

Vagando em festa andei
Meu namorado é rei
Nas lendas do caminho
Onde andei

Olha a lua mansa ao se derramar
A lua descansa
Meu caminhar
Seu olhar em festa
Me fez feliz

Lembrando a seresta
Que um dia eu fiz
Por onde for
Quero ser seu par

Já me fiz na guerra
Por não saber
Que esta terra encerra
Meu bem querer

E jamais termina o meu caminhar
Só o amor me ensina onde
Vou chegar
Por onde for
Quero ser seu par

...Vagando em verso sei
Meu namorado é rei
Nas lendas do caminho
Onde andei

Olha a lua mansa ao se derramar
A lua descansa o meu caminhar

Vim milhões de léguas
Vivendo assim
Lembrando a seresta
Que um dia eu fiz

Por onde for
Quero ser seu par..."

Os festivais dos anos sessentas e setentas foram importantes para divulgar a nossa música para todo o país. Chico Buarque foi revelado com a "Banda":

"Estava a toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar..."

Nara Leão, a musa da Bossa Nova também chegou a cantar essa música.
Chico Buarque era o garoto bem comportado, o bom rapaz.
Por não fazer música política, foi criticado por setores radicais da MPB a dita "Música Popular Brasileira".
Foi rotulado de alienado, antipatizado por Gilberto Gil e Caetano Veloso.
Chico Buarque não compunha músicas ácidas, como os compositores acima falados.
Sua música "Sabiá" feita em parceria com Tom Jobim, foi vaiada no Festival da Canção.
Compôs "Carolina" em 1966.
Durante os anos setentas, um grupo da Jovem Guarda chamado Os Incríveis, foi cooptado pelo governo e fez músicas nacionalistas onde exaltaram o amor a pátria como na música "Eu te amo meu Brasil".
Uma dupla da Jovem Guarda chamada Dom e Ravel também fizeram essas músicas ufanistas.
Esse foi o tempo do lema "Brasil ame-o ou deixe-o", período de exageros nacionalistas.
Tempo de manifestações sindicais, que ajudaram a trazer alguns benefícios para o trabalhador.
Alguns deles foram despedidos mas ainda assim, essas greves trouxeram benefícios.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Informações extraídas do livro: A Revolução Impossível, de Luis Mir, o livro Anos Rebeldes, baseado na minissérie exibida na rede Globo, e matérias publicadas no Jornal O Estado de São Paulo, ano de 1997.   

Algumas Considerações


Uma característica do regime militar, é o fato de que cessam os direitos do cidadão, como o que ocorreu durante o regime militar pelo qual passamos recentemente, e durante o golpe de 1937 intitulado Estado Novo, (período de 1937 a 1945), onde foi decretado Estado de Sítio.
Em conseqüência disso, os sindicatos perderam sua autonomia e suas principais lideranças.
Foi em 1935, que tentaram realizar uma manifestação conhecida como Intentona Comunista que fracassou, e os principais líderes foram presos, e só foram libertados com o fim do Estado Novo, que também foi o ano em Getúlio foi deposto, e que ocorreu a manifestação chamada como Queremismo (queremos Getúlio Vargas de volta).
Sendo que isso não ajudou a superar seu desprestígio, e ele teve que sair do governo.
No período do Estado Novo, nem manifestações trabalhistas podiam acontecer. Realmente, na ditadura não se pode exercer a cidadania.
No início dos anos 60, o governo de Jânio Quadros já era fortemente influenciado pelos militares, que faziam pressão sobre os governantes antes mesmo da ditadura.
A ditadura propriamente dita só foi instalada em 1964, mas só a partir de 68 é que começaram a ocorrer as manifestações estudantis.
O governo tentou reprimir as manifestações, só que estas, de certa forma contavam com o apoio da população.
Nos anos 70 ocorreram as chamadas guerrilhas urbanas, movimento armado, com tendências de esquerda, que tinha carecterísticas do socialismo, (os chamados guerrilheiros urbanos).
Muitos foram torturados, mortos e enterrados clandestinamente.
Hoje os familiares dos mortos nas guerrilhas, estão recebendo
indenizações do governo.
Já faz algum tempo, num jornal foi mostrada a ossada de um
guerrilheiro urbano.
Pelo crânio, notava-se um afundamento da parte da frente do rosto, em
consequência do tiro que este levou.
Agora estão localizando os corpos dos guerrilheiros e, as famílias estão sendo
indenizadas.
Os corpos localizados são mandados para os seus familiares, que os enterram.
Para eles, é como se seus familiar tivessem morrido agora.
Muitos dos mortos do regime militar não foram descobertos, muitos corpos foram ocultados, e muitas pessoas desapareceram.
De certa forma, estão mortas, pois não foram localizadas até hoje.
Muitas atrocidades foram cometidas durante esse período, até mesmo pelos
manifestantes de esquerda.
Houve, durante um confronto com os estudantes de direita, a
morte de um estudante, sem contar outras formas incorretas de manifestar repúdio ao governo militar, com, inclusive outras mortes.
Estes, agrediram policiais em certas manifestações.
Alguns estudantes foram mortos enquanto almoçavam no Calabouço,
restaurante onde os estudantes de esquerda se reuniam.
Esse restaurante foi fechado depois do incidente.
Durante esse período, as manifestações de arte que ameaçassem os interesses
do governo, eram censuradas.
Nos anos 70 o cantor e compositor Taiguara, teve mais de quarenta músicas censuradas.
O período realmente foi de chumbo com muitas mortes, tiroteios, violência, não só em manifestações na cidade, como no campo também.
Em ambos os ambientes, foram cometidas muitas atrocidades.
O momento era cinzento, negro.
Foi um período difícil, de insegurança, instabilidade.
Período de grandes torturas, para quem caísse nas mãos da polícia.
Até panfletagem era proibido.
Quem fosse pego fazendo isso, era preso e torturado.
Esse é um momento que não deveria se repetir nunca mais.
Depois de um certo período, houve a chamada abertura política, mas só muitos anos depois deste regime ter feito tantas misérias.
Mas mesmo essa medida não trouxe de volta os mortos que se foram, nem apagaram as injustiças que foram cometidas.
Contudo a população passou ter uma certa tranquilidade.
Relativa é claro, tornando-se um pouco mais leve a ditadura.
Mas a ditadura de fato só acabou no final dos anos 80, depois de um longo
período de dominação.
Isso se equipara ao período do Nazismo na Europa, no qual as artes, manifestações artísticas promovidas e realizadas pelos judeus, foram destruídas e ocultadas.
Até grandes clássicos da música erudita foram destruídos, e muitas obras jamais serão recuperadas.
No regime militar, muitas músicas foram censuradas, peças de teatro também, inclusive novelas como a 1o versão de "Roque Santeiro" que se originou da peça "O Berço do Herói".
José Celso Martinez Correia organizou em 1967, uma peça teatral anarquista. No fim dos anos sessentas, foi instituído o palavrão no teatro.
Foi em 1968 que Chico Buarque criou a canção "Roda-viva", e montou uma peça teatral com o mesmo nome.
A polícia invadiu o teatro e espancou os artistas.
Em muitas dessas torturas, estudantes, artistas e intelectuais, eram
expostos as mais diversas humilhações.
Os policiais obrigavam o estudante a enterrar a cara na grama, e a ficar de quatro.
A população ficou chocada com essa violência toda.
Uma atriz de teatro foi obrigada a repetir a cena de sexo da peça com seu parceiro na frente dos torturadores.
Marília Pera teve que tirar a roupa, ser ofendida e ainda ser espancada por
policiais juntamente, com outras atrizes da peça, em participava.
E a violência não para por aí.
Não estamos querendo dizer com isso, que só na ditadura e em regimes autoritários acontecem atrocidades.
Mesmo em governos livres, a violência não se encerra em si mesma,
as agressões continuam, só que aí não vem só do governo, mas também da população.
A ditadura ocorreu em muitos países da América Latina, ocorreu na Espanha, enfim, não foi um fato exclusivamente brasileiro, e em nenhum dos países do qual ela fez parte, funcionou, e só foi usada como forma de manipulação. Ainda bem!
Deve se acrescentar que durante o golpe de 1964, as manifestações estudantis foram proibidas, colocadas na ilegalidade.
Afinal de contas a democracia relativa em que vivemos, foi a melhor forma de governo encontrada para se administrar um país.
Pode não ser uma democracia verdadeira, mas ainda assim nós temos liberdade de expressão.
Podemos criticar o presidente e não sermos punidos por isso.
Temos agora liberdade de expressão.
Ou seja, melhoraram um pouco as coisas no país.
A respeito da juventude politizada das décadas anteriores, e a nossa atual juventude que não liga para política, realmente o interesse por política diminuiu, não só entre os jovens.
As pessoas mais velhas também perderam seu interesse.
Naquela época muitas informações foram omitidas da população, hoje ainda não temos acesso a todas as informações, notícias são manipuladas ou omitidas pelos meios de comunicação.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Informações extraídas do livro: A Revolução Impossível, de Luis Mir, o livro Anos Rebeldes, baseado na minissérie exibida na rede Globo, e matérias publicadas no Jornal O Estado de São Paulo, ano de 1997.