Com efeito, durante o jantar, o moço, dizendo que já havia presenteado a moça com um anel de
noivado, comentou que havia um presente ainda mais especial para ela.
Curiosa, Tânia perguntou-lhe do que se tratava.
Venâncio disse então, que era uma joia muito especial, pelo significado que trazia.
Argumentou que se tratava de uma joia da família.
Nisto o moço sacou o objeto do bolso e o colocou nas mãos da moça.
Tânia ao tocar o objeto, pensou tratar-se de um broche, mas ao analisá-lo melhor, percebeu se
tratar de um camafeu.
Admirada, exclamou que conhecia a joia, dos romances que lera de Joaquim Manoel de Macedo,
mas que nunca tinha visto um assim tão de perto.
Encantada, abriu o presente, vindo a notar que em seu interior haviam fios de cabelo.
Venâncio comentou que eram fios de cabelo da primeira Carolina.
A mãe de todos os descendentes da família.
Tânia olhou-o com admiração.
Venâncio então, contou-lhe detalhes sobre a história da família.
Tânia ouvia a tudo com muito interesse.
Em dado momento, Dona Carolina pediu a palavra ao neto.
Disse que precisa contar mais detalhes da história a moça.
Nisto a matriarca mostrou o diário de Carolina para a jovem.
Leu trechos do relato para Tânia, que interessada, perguntava mais detalhes sobre a história.
A certa altura, Carolina – a filha, pediu para que todos se dirigissem a sala de jantar, pois a refeição
seria servida.
Nisto, Tânia comentou que estava encantada de receber uma joia com tanta história.
Olhando para Dona Carolina, segurou suas mãos, e agradeceu o presente.
Disse-lhe que nunca havia ganho nada tão lindo.
A matriarca ficou comovida com o gesto.
Agradeceu a gentileza da moça, e auxiliada por Vandré e Venâncio, foi conduzida a sala de jantar.
Enquanto ceavam, conversavam animadamente.
Dona Carolina observava tudo com atenção, olhando para todos com extrema ternura.
Foi servido vinho e champagne.
No dia seguinte, a mulher chamou Tânia em seu quarto.
Apoiada em uma bengala, Dona Carolina caminhou pelo recinto, mostrou os móveis que
guarneciam o quarto, a penteadeira e outros objetos que a avó Carolina, e Rosália sua mãe, usaram.
Comentou que alguns móveis da fazenda, vieram de outro casarão, lá em terras do Sul do Brasil.
A mulher mostrou fotos e pinturas das mulheres da família.
Mostrou ainda, um baú, com uma série de cadernos.
Novamente leu trechos do que estava escrito para a moça.
A certa altura a jovem percebeu que as ancestrais de Dona Carolina, acreditavam que havia sido
lançada uma espécie de maldição sobre a família.
Tânia ficou intrigada.
Mais tarde, em conversas com Vandré e Venâncio, descobriu a história das maldições.
Os moços comentaram que por muito tempo, acreditaram que tudo não passava de uma grande
bobagem, mas que agora, acreditavam que poderia não ser.
Rindo, Tânia acreditou que eles pudessem estar brincando.
A moça chegou a criticar os moços por acreditar naquela história.
Dizia entender que os mais antigos acreditassem, mas eles não.
Nisto afastou-se, indo se recolher em seu quarto.
Venâncio fez menção de ir ao seu quarto, mas Vandré aconselhou-o a esperar um pouco.
Disse que a moça devia estar confusa e que precisava por suas ideias no lugar.
Dias depois, a moça arrumou suas malas.
Estava disposta a ir embora, em que pesem os argumentos de Venâncio para que ficasse.
Por conta disto, Vandré conversou com a moça.
Carolina também.
E Tânia teria partido, não fosse o sumiço das crianças: Helena, Tereza e André.
Em razão da necessidade de se procurar por elas, a moça acabou desistindo de partir.
Prometeu auxiliar nas buscas.
E assim, no final da tarde, as crianças foram encontradas.
Tânia e Venâncio foram procurá-las nas ruínas do Valongo.
Vandré e Carolina foram procurá-las no celeiro, e demais instalações da fazenda.
De fato, as crianças brincaram perto das ruínas.
Tereza, Helena e André, estavam brincando de se esconder no lugar.
Subiam nas meia paredes existentes e pulavam.
Depois, correram para uma árvore, e tentaram escalá-la.
Gritavam e faziam barulho.
Tânia e Venâncio, ao verem as três crianças brincando em volta de uma árvore que havia ali perto,
chamaram-nas.
Tânia e Venâncio se aproximaram das crianças, que sorriram para eles.
Nisto, o casal levou as crianças de volta para a fazenda.
Disseram que suas mães estavam preocupadas.
Lara e Antonia ao verem os filhos a sua frente, correram para abraçá-los.
Disseram-lhe para que nunca mais fizessem isto.
Como as crianças estavam com fome, foram alimentadas.
Tomaram banho.
No dia seguinte, foram proibidas de sair da sede.
Estavam de castigo.
Os três tentaram argumentar, em vão.
Estavam proibidos de sair da casa.
Foi difícil controlar os pequenos travessos.
Tereza e Helena foram brincar de boneca e André, ficou rabiscando uns papéis.
Dias depois, Dona Carolina teve uma piora em seu estado de saúde.
A família ficou toda alvoroçada.
Todos se afligiram.
Dois dias depois, a mulher veio a falecer.
Antes de falecer, porém, falou com todos os descendentes da família.
Para Lara e Antonia, pediu que encontrassem um pai para seus filhos.
À filha Carolina, pediu para que reconstruísse sua vida, e que não ficasse sozinha, isolada naquela
fazenda.
Aos netos Vandré e Venâncio, pediu para que se casassem e livrassem a família da triste sina.
Comentou com Venâncio que Tânia era uma boa moça, e que Vandré também iria encontrar uma
boa mulher para casar.
Por fim, chamou o mais novo dos irmãos para um canto.
Cochichando em seu ouvido, disse que Tarcisio não tivera vida longa, mas que fora muito feliz
enquanto vivera.
A mulher então, apontou para seu guarda-roupa de madeira nobre.
Vandré abriu o móvel.
Carolina apontou na direção dos cabideiros.
O moço vasculhou o móvel, até encontrar um fundo oco.
Ao achar o fundo falso, o moço retirou a madeira, vindo a encontrar pastas e livros.
Quase sussurrando, a mulher respondeu que tudo aquilo era seu.
Vandré ficou estático.
Foi preciso que Carolina insistisse para que ele pegasse os livros.
A velha senhora, dizia que a história não poderia morrer com ela, e que todos os integrantes da
família, deveriam saber o que havia ocorrido com seus ancestrais.
Vandré pegou os papéis com todo o cuidado.
Retirou tudo do guarda-roupa.
Por fim, a mulher apontou para um baú.
Com um fio de voz, respondeu que ali estava guardado o tesouro das existências.
Carolina, a filha, disse que ali, estava guardada toda a memória da família.
Vandré deixou toda a documentação próxima.
Por fim, a senhora pediu para que todos se aproximassem.
Disse baixinho que não tinha do que se arrepender.
Nisto, mexeu a cabeça para um lado.
Faleceu.
Com efeito, Dona Carolina foi enterrada junto as outras mulheres da família.
No cemitério da cidade.
Nos dias que se seguiram, Antonia, Lara, e as crianças, partiram.
Por fim, Vandré, Tânia e Venâncio, também partiram.
Vandré retomou sua rotina acadêmica.
Ministrava aulas, estudava, e nas horas vagas ficava entretido na leitura, dos diários das mulheres
da família.
Concluiu o doutorado.
Venâncio participou da solenidade com Tânia.
Carolina, a mãe dos moços, também compareceu.
A mulher estava muito orgulhosa dos filhos.
Mais tarde, retornou ao Valongo.
Mas Vandré continuava com as leituras dos diários.
Teve um trabalho imenso para encaminhar os documentos recebidos da avó, para sua casa na
capital.
Para auxiliá-lo na tarefa, Carolina se incumbiu de providenciar o transporte do material para São
Paulo.
Tratou-se de uma pequena mudança.
Venâncio, em visitas ao irmão, foi informado que parte dos livros precisava ser restaurado, e que
isto envolvia muito trabalho e dinheiro.
Venâncio então, tratou de entrar em contato com a mãe.
Solicitou informações a respeito do andamento do inventário.
Com o tempo, trouxe dinheiro para o irmão restaurar os papéis.
De posse do dinheiro, o moço, contratou restauradores, para a realização do trabalho.
O processo de restauração levou meses.
Enquanto isto moço lia as histórias, e fazia anotações em seu caderno.
Descobriu que o filho de Carolina, Abaeté, casou-se com uma branca, e com ela veio a ter duas
filhas.
O moço fora intendente da cidade onde morava, trazendo melhorias para o lugar, construindo
escolas, e até um hospital.
Vandré descobriu que o homem era respeitado no lugar.
Habilidoso, conseguiu acrescer novas terras a antiga propriedade dos pais.
Por conta de seu dinheiro, conseguiu casar-se com uma branca do lugar.
Helena, admirou-se do jeito corajoso do moço.
Embora se vestisse como um branco, era evidente sua ascendência indígena.
Nesta época, Abaeté já havia feito melhorias na escola do povoado, angariando o respeito dos
fazendeiros e moradores da região.
Passou a participar das festas, e foi numa dessas comemorações que convidou a moça para dançar.
Helena constrangida olhou para o pai, que prontamente a autorizou a dançar com o moço.
Ao fim da festa, o moço ofereceu-se para acompanhar a moça e sua família no regresso a fazenda.
Otacílio porém, respondeu que não havia necessidade.
Agradeceu a oferta, mas informou não ser preciso.
Abaeté então, retirou-se.
Porém, sempre que se encontra com a moça e sua dama de companhia, cumprimentava-as.
A certa altura, aproveitando uma ida de Otacílio a vila, disse ter interesse em lhe falar.
No que o homem perguntou:
- E qual é o assunto?
Abaeté então, sem pestanejar, respondeu que tinha interesse em Helena.
O fazendeiro olhou-o desconfiado.
O índio continuou.
Disse que pretendia se casar com a moça.
Argumentou que tinha casa, terras e que poderia proporcionar uma boa vida a moça, com
conforto, além de seu afeto.
O fazendeiro curioso, perguntou-lhe por que acreditava que ele autorizaria o enlace.
Abaeté, surpreso com a indagação, argumentou que era um homem de bem, e que estando a moça
sob seus cuidados, poderia ele ficar descansado que ela nunca seria maltratada.
Otacílio, respondeu-lhe que tinha certeza disto.
Contudo, argumentou que precisava conversar com Helena.
Nisto, convidou o moço para visitá-lo na fazenda.
Abaeté concordou.
E assim, ficou ajustado que se encontrariam pela manhã.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Poesias
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020
VALONGO - CAPÍTULO 23 - VERSÃO OFICIAL
No dia seguinte, o rapaz mostrou a mulher as ruínas do antigo mercado de escravos.
Denominado Valongo, o qual dera origem a fazenda.
Do antigo mercado, só restaram pedras e parte de uma parede.
Venâncio comentou que uma vez, ele e seu irmão brincaram por ali.
Disse que foi uma festa.
Enquanto todos os procuravam pela fazenda, lá estavam os dois brincando de esconde-esconde em meio às ruínas.
Venâncio falou que até a cozinheira, Djanira, procurou pelos meninos.
Venâncio e Vandré por sua vez, só retornaram ao casarão tarde da noite.
Carolina já os esperava de cinta na mão.
Rindo, Venâncio comentou que levaram uma surra daquelas.
Tânia ficou admirada do relato.
Afirmou que aquelas ruínas ficavam longe da sede da fazenda, e que eles se arriscaram em ir sozinhos para aquele lugar tão ermo.
Comentou rindo, que Carolina tinha toda a razão em lhes dar uma surra.
Venâncio rindo, concordou.
Comentou que na época não entendia direito a preocupação de todos, apenas achava tudo muito divertido.
Agora porém, entendia por que os pais ficavam atentos, por conta das reinações das crianças.
Tânia concordou dizendo que com seus sobrinhos era a mesma coisa.
Um minuto de distração e lá estavam eles aprontando.
Os anjinhos, como costumava dizer.
Venâncio curioso, comentou que ela pouco falava da família.
Tânia argumentou dizendo que não havia nada demais, que a sua família, era igual a tantas outras que haviam por aí.
Com efeito, antes de viajarem, a moça agendou um encontro de Vandré com seus amigos pesquisadores.
Nisto, Venâncio, Tânia e Vandré seguiram para um sítio, onde foram muito bem recebidos.
Capinam e seus auxiliares, mostraram aos visitantes amuletos, cocares, arcos e flechas.
Contaram sobre lendas indígenas.
Vandré demonstrou interesse nos rituais religiosos, na figura do pajé, e nas histórias de feitiçaria.
Rindo, Capinam disse-lhe que contaria tudo o que sabia sobre o tema.
Em conversas com o homem, o rapaz descobriu a história de uma maldição lançada sobre uma família.
Vandré curioso, perguntou detalhes da história.
Capinam comentou que conforme a lenda, vários descendentes morreram, não vindo a chegar a idade adulta.
Curioso, Vandré perguntou se o feitiço não poderia ser desfeito com algum ritual.
Rindo, o homem comentou que conforme a lenda, o pajé, usando ervas especiais, e praticando um ritual com toda a tribo, conseguiu anular os efeitos da maldição.
Vandré fazendo troça, perguntou que ervas teriam sido essas, e qual teria sido o ritual realizado.
Capinam argumentou que haviam diversas teorias, mas nenhuma resposta certeira.
Argumentou inclusive, que tal história era tratada como lenda, em que pesem personagens reais retratadas na mesma.
Vandré ao ouvir isto, perguntou-lhe se podia dar mais detalhes da história.
Capinam respondeu-lhe que se tratava de uma família influente da região.
Contudo, disse que não poderia declinar seu nome, em respeito aos parentes vivos, os quais não autorizaram, a liberação da informação.
Acreditavam que se o fizessem, seriam vítimas de preconceito.
O moço ao ouvir isto, demonstrou um certo desapontamento.
Capinam ao perceber que aquelas informações eram importantes para ele, indagou do motivo de tanto interesse.
Nisto o moço conversou que em sua família, haviam rumores de histórias parecidas.
Disse que seu interesse era histórico, pois estava interessado em escrever um livro sobre o assunto.
Rindo, Capinam comentou que ele teria um vasto trabalho para pesquisar o tema.
Prestativo, ofereceu-lhe livros.
Comentou que não sabia se tratar de um pesquisador.
Mencionou que Tânia não lhe mencionara o fato.
Vandré retrucou dizendo que estava fazendo segredo.
Comentou que não queria que ninguém soubesse, pois estava fazendo uma surpresa.
Capinam estranhou, mas entendeu as razões do moço.
Nisto, o homem convidou o trio para almoçar.
Ao chegarem, Tânia, Venâncio e Vandré, tomaram um café na propriedade do homem.
Mais tarde o trio caminhou pela propriedade, sendo apresentado os artefatos.
Durante o almoço, Capinam, sugeriu ao trio que o acompanhasse em uma caminhada pelo litoral.
Comentou que haviam descoberto sambaquis.
Vandré, ao ouvir isto, ficou interessado.
Nisto, a visita durou o dia.
O moço, sempre que descobria algo interessante, fazia anotações em um bloco.
Pernoitaram na propriedade do homem.
No dia seguinte tomaram um lauto café da manhã e seguiram viagem.
Capinam despediu-se do trio, desejando-lhes uma boa viagem, e convidando-os a voltar sempre que pudessem.
Ao regressarem a capital, Vandré agradeceu Tânia.
Disse-lhe que a visita fora muito útil.
Com efeito, nas últimas semanas, ao conviver mais com Tânia, Vandré percebeu que o irmão havia feito uma boa escolha, ao eleger a moça como sua namorada.
Vandré conhecia Ester de vista, mas em conversas com o irmão, sempre que o nome da moça era trazido pelas conversas, invariavelmente Venâncio comentava que ela era mimada.
Dizia que gostava de oferecer-lhe presentes, e que a moça sempre que recebia algum agrado, se mostrava mais gentil.
Vandré ao começar a tomar conhecimento do comportamento displicente da moça, passou a considerá-la uma péssima opção para o irmão.
Isto por que, todas as vezes em que Venâncio agendou encontros deles com o irmão, a moça inventava desculpas para se fazer ausente.
Vivia adoentada.
Tal fato não passou despercebido de Vandré.
Mas o moço evitava fazer qualquer juízo de valor sobre a moça.
Ao contrário da mãe, que não gostava do jeito desinteressado de Ester.
Mas Tânia era o oposto de Ester.
Mais presente, ofereceu-se por diversas para auxiliar nos afazeres domésticos.
Carolina é que sempre a dispensava das lidas domésticas.
Dizia que uma moça urbana como ela, que vivia comendo fora de casa, devia nem saber cozinhar.
Rindo, Tânia respondeu-lhe que seu trabalho lhe propiciava desfrutar de uma boa condição de vida, e que em razão da vida corrida que levava, pouco tempo lhe sobrava para fazer comida.
Contudo, em que pese este fato, relata que nos tempos de vacas magras, cozinhou muito macarrão, muito arroz, feijão, ovo e frango.
Dizia que não era tão boa dona de casa quanto as mulheres da família Abaré Chagas, mas que sabia se virar na cozinha.
Carolina agradeceu, mas respondeu que não seria necessário.
Com o tempo, e conquistando a confiança da mulher, Tânia começou a brincar, dizendo que ela estava com medo de comer uma comidinha ligeiramente queimada.
Carolina olhou-a com espanto e perguntou-lhe se costuma queimar a comida.
Rindo, Tânia respondeu que não.
Disse estar apenas brincando.
A mulher com o tempo, percebendo o jeito brincalhão da moça, deixou de levar a sério seus comentários.
Certo dia, encontrando-se à sós com o filho, Carolina elogiou sua escolha.
Disse Tânia era uma moça prestativa e que ele ao se casar com ela, estaria fazendo um grande acerto.
Comentou que não conhecera Ester, mas disse saber que ela não servia para ele.
Venâncio comentou que Ester fora um erro, mas que Tânia era a mulher de sua vida.
Carolina ao ouvir isto, sorriu para o filho.
Quando soube que o noivado fora apenas um pedido a moça, seguido da posterior compra de um anel e oferecimento a ela, Carolina argumentou que o noivado precisava ser comemorado em grande estilo.
Vandré concordou, argumentando que aquele noivado estava muito mixuruca.
Nisto, prepararam um belo jantar, onde o moço repetiu o pedido.
Carolina sugeriu que o moço presenteasse a jovem com uma joia da família.
Dona Carolina, já havia sido apresentada a moça.
A matriarca se encheu de encantos pela moça, dizendo-lhe que era uma mulher forte, digna de entrar para a família.
Dona Carolina entregou a filha, um broche, que pertencera a mãe de sua pentavó Thereza.
Era uma joia pertencente a Carolina.
A filha, ao perceber que se tratava de um joia com a história da família, perguntou-lhe se não preferia oferecer um presente menos pessoal.
A velha senhora, ao ouvir isto, argumentou dizendo que ela era a pessoa certa.
Disse que ela se casaria com Venâncio, e faria parte da família.
Carolina sentiu tanta certeza nas palavras da mãe, e deixou de lado suas prevenções.
E assim, no dia do jantar, a moça exibiu o anel de noivado ganho pelo moço.
Lara e Antonia ficaram admirando a joia, encantadas.
As crianças ficaram em volta, observando a moça.
Tânia era só risos.
Carolina dias antes, conversou como o filho e lhe mostrou o camafeu, que havia sido da primeira Carolina, usado por suas filhas Laura e Thereza.
Venâncio pegou a joia e percebeu que dentro dela, havia um objeto.
Abriu o broche e descobriu dentro dele fios de cabelo.
A mulher ao perceber isto, recomendou-lhe que guardasse aqueles fios com cuidado.
Curioso, Venâncio perguntou-lhe se sabia a quem pertenciam.
Carolina respondeu-lhe que eram de Carolina.
Comentou que após a morte da esposa, o índio Abaré, passou a guardar a joia como uma lembrança da memória da esposa.
A mulher comentou que no diário da moça, constava a informação de que durante a fuga da fazenda, a moça trazia pendurado no pescoço uma corrente e um camafeu, o qual foi perdido.
Anos mais tarde, ao se instalarem novamente na propriedade, o índio ofereceu-lhe um novo camafeu de presente.
Joia que a moça usava em ocasiões especiais.
Adorno guardado como herança de família, pensou Venâncio.
Com isto, argumentou que precisava contar a história do presente para a moça.
Carolina concordou.
Venâncio ao percebeu o significado do gesto, abraçou a mãe.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Denominado Valongo, o qual dera origem a fazenda.
Do antigo mercado, só restaram pedras e parte de uma parede.
Venâncio comentou que uma vez, ele e seu irmão brincaram por ali.
Disse que foi uma festa.
Enquanto todos os procuravam pela fazenda, lá estavam os dois brincando de esconde-esconde em meio às ruínas.
Venâncio falou que até a cozinheira, Djanira, procurou pelos meninos.
Venâncio e Vandré por sua vez, só retornaram ao casarão tarde da noite.
Carolina já os esperava de cinta na mão.
Rindo, Venâncio comentou que levaram uma surra daquelas.
Tânia ficou admirada do relato.
Afirmou que aquelas ruínas ficavam longe da sede da fazenda, e que eles se arriscaram em ir sozinhos para aquele lugar tão ermo.
Comentou rindo, que Carolina tinha toda a razão em lhes dar uma surra.
Venâncio rindo, concordou.
Comentou que na época não entendia direito a preocupação de todos, apenas achava tudo muito divertido.
Agora porém, entendia por que os pais ficavam atentos, por conta das reinações das crianças.
Tânia concordou dizendo que com seus sobrinhos era a mesma coisa.
Um minuto de distração e lá estavam eles aprontando.
Os anjinhos, como costumava dizer.
Venâncio curioso, comentou que ela pouco falava da família.
Tânia argumentou dizendo que não havia nada demais, que a sua família, era igual a tantas outras que haviam por aí.
Com efeito, antes de viajarem, a moça agendou um encontro de Vandré com seus amigos pesquisadores.
Nisto, Venâncio, Tânia e Vandré seguiram para um sítio, onde foram muito bem recebidos.
Capinam e seus auxiliares, mostraram aos visitantes amuletos, cocares, arcos e flechas.
Contaram sobre lendas indígenas.
Vandré demonstrou interesse nos rituais religiosos, na figura do pajé, e nas histórias de feitiçaria.
Rindo, Capinam disse-lhe que contaria tudo o que sabia sobre o tema.
Em conversas com o homem, o rapaz descobriu a história de uma maldição lançada sobre uma família.
Vandré curioso, perguntou detalhes da história.
Capinam comentou que conforme a lenda, vários descendentes morreram, não vindo a chegar a idade adulta.
Curioso, Vandré perguntou se o feitiço não poderia ser desfeito com algum ritual.
Rindo, o homem comentou que conforme a lenda, o pajé, usando ervas especiais, e praticando um ritual com toda a tribo, conseguiu anular os efeitos da maldição.
Vandré fazendo troça, perguntou que ervas teriam sido essas, e qual teria sido o ritual realizado.
Capinam argumentou que haviam diversas teorias, mas nenhuma resposta certeira.
Argumentou inclusive, que tal história era tratada como lenda, em que pesem personagens reais retratadas na mesma.
Vandré ao ouvir isto, perguntou-lhe se podia dar mais detalhes da história.
Capinam respondeu-lhe que se tratava de uma família influente da região.
Contudo, disse que não poderia declinar seu nome, em respeito aos parentes vivos, os quais não autorizaram, a liberação da informação.
Acreditavam que se o fizessem, seriam vítimas de preconceito.
O moço ao ouvir isto, demonstrou um certo desapontamento.
Capinam ao perceber que aquelas informações eram importantes para ele, indagou do motivo de tanto interesse.
Nisto o moço conversou que em sua família, haviam rumores de histórias parecidas.
Disse que seu interesse era histórico, pois estava interessado em escrever um livro sobre o assunto.
Rindo, Capinam comentou que ele teria um vasto trabalho para pesquisar o tema.
Prestativo, ofereceu-lhe livros.
Comentou que não sabia se tratar de um pesquisador.
Mencionou que Tânia não lhe mencionara o fato.
Vandré retrucou dizendo que estava fazendo segredo.
Comentou que não queria que ninguém soubesse, pois estava fazendo uma surpresa.
Capinam estranhou, mas entendeu as razões do moço.
Nisto, o homem convidou o trio para almoçar.
Ao chegarem, Tânia, Venâncio e Vandré, tomaram um café na propriedade do homem.
Mais tarde o trio caminhou pela propriedade, sendo apresentado os artefatos.
Durante o almoço, Capinam, sugeriu ao trio que o acompanhasse em uma caminhada pelo litoral.
Comentou que haviam descoberto sambaquis.
Vandré, ao ouvir isto, ficou interessado.
Nisto, a visita durou o dia.
O moço, sempre que descobria algo interessante, fazia anotações em um bloco.
Pernoitaram na propriedade do homem.
No dia seguinte tomaram um lauto café da manhã e seguiram viagem.
Capinam despediu-se do trio, desejando-lhes uma boa viagem, e convidando-os a voltar sempre que pudessem.
Ao regressarem a capital, Vandré agradeceu Tânia.
Disse-lhe que a visita fora muito útil.
Com efeito, nas últimas semanas, ao conviver mais com Tânia, Vandré percebeu que o irmão havia feito uma boa escolha, ao eleger a moça como sua namorada.
Vandré conhecia Ester de vista, mas em conversas com o irmão, sempre que o nome da moça era trazido pelas conversas, invariavelmente Venâncio comentava que ela era mimada.
Dizia que gostava de oferecer-lhe presentes, e que a moça sempre que recebia algum agrado, se mostrava mais gentil.
Vandré ao começar a tomar conhecimento do comportamento displicente da moça, passou a considerá-la uma péssima opção para o irmão.
Isto por que, todas as vezes em que Venâncio agendou encontros deles com o irmão, a moça inventava desculpas para se fazer ausente.
Vivia adoentada.
Tal fato não passou despercebido de Vandré.
Mas o moço evitava fazer qualquer juízo de valor sobre a moça.
Ao contrário da mãe, que não gostava do jeito desinteressado de Ester.
Mas Tânia era o oposto de Ester.
Mais presente, ofereceu-se por diversas para auxiliar nos afazeres domésticos.
Carolina é que sempre a dispensava das lidas domésticas.
Dizia que uma moça urbana como ela, que vivia comendo fora de casa, devia nem saber cozinhar.
Rindo, Tânia respondeu-lhe que seu trabalho lhe propiciava desfrutar de uma boa condição de vida, e que em razão da vida corrida que levava, pouco tempo lhe sobrava para fazer comida.
Contudo, em que pese este fato, relata que nos tempos de vacas magras, cozinhou muito macarrão, muito arroz, feijão, ovo e frango.
Dizia que não era tão boa dona de casa quanto as mulheres da família Abaré Chagas, mas que sabia se virar na cozinha.
Carolina agradeceu, mas respondeu que não seria necessário.
Com o tempo, e conquistando a confiança da mulher, Tânia começou a brincar, dizendo que ela estava com medo de comer uma comidinha ligeiramente queimada.
Carolina olhou-a com espanto e perguntou-lhe se costuma queimar a comida.
Rindo, Tânia respondeu que não.
Disse estar apenas brincando.
A mulher com o tempo, percebendo o jeito brincalhão da moça, deixou de levar a sério seus comentários.
Certo dia, encontrando-se à sós com o filho, Carolina elogiou sua escolha.
Disse Tânia era uma moça prestativa e que ele ao se casar com ela, estaria fazendo um grande acerto.
Comentou que não conhecera Ester, mas disse saber que ela não servia para ele.
Venâncio comentou que Ester fora um erro, mas que Tânia era a mulher de sua vida.
Carolina ao ouvir isto, sorriu para o filho.
Quando soube que o noivado fora apenas um pedido a moça, seguido da posterior compra de um anel e oferecimento a ela, Carolina argumentou que o noivado precisava ser comemorado em grande estilo.
Vandré concordou, argumentando que aquele noivado estava muito mixuruca.
Nisto, prepararam um belo jantar, onde o moço repetiu o pedido.
Carolina sugeriu que o moço presenteasse a jovem com uma joia da família.
Dona Carolina, já havia sido apresentada a moça.
A matriarca se encheu de encantos pela moça, dizendo-lhe que era uma mulher forte, digna de entrar para a família.
Dona Carolina entregou a filha, um broche, que pertencera a mãe de sua pentavó Thereza.
Era uma joia pertencente a Carolina.
A filha, ao perceber que se tratava de um joia com a história da família, perguntou-lhe se não preferia oferecer um presente menos pessoal.
A velha senhora, ao ouvir isto, argumentou dizendo que ela era a pessoa certa.
Disse que ela se casaria com Venâncio, e faria parte da família.
Carolina sentiu tanta certeza nas palavras da mãe, e deixou de lado suas prevenções.
E assim, no dia do jantar, a moça exibiu o anel de noivado ganho pelo moço.
Lara e Antonia ficaram admirando a joia, encantadas.
As crianças ficaram em volta, observando a moça.
Tânia era só risos.
Carolina dias antes, conversou como o filho e lhe mostrou o camafeu, que havia sido da primeira Carolina, usado por suas filhas Laura e Thereza.
Venâncio pegou a joia e percebeu que dentro dela, havia um objeto.
Abriu o broche e descobriu dentro dele fios de cabelo.
A mulher ao perceber isto, recomendou-lhe que guardasse aqueles fios com cuidado.
Curioso, Venâncio perguntou-lhe se sabia a quem pertenciam.
Carolina respondeu-lhe que eram de Carolina.
Comentou que após a morte da esposa, o índio Abaré, passou a guardar a joia como uma lembrança da memória da esposa.
A mulher comentou que no diário da moça, constava a informação de que durante a fuga da fazenda, a moça trazia pendurado no pescoço uma corrente e um camafeu, o qual foi perdido.
Anos mais tarde, ao se instalarem novamente na propriedade, o índio ofereceu-lhe um novo camafeu de presente.
Joia que a moça usava em ocasiões especiais.
Adorno guardado como herança de família, pensou Venâncio.
Com isto, argumentou que precisava contar a história do presente para a moça.
Carolina concordou.
Venâncio ao percebeu o significado do gesto, abraçou a mãe.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
VALONGO - CAPÍTULO 22 - VERSÃO OFICIAL
Porém, ao retornar ao escritório, e em conversas com conhecidos, Venâncio descobriu que a
jovem fora vista, por diversas vezes, conversando com rapazes em bares e casas noturnas.
Foi o bastante para o rapaz exigir satisfação da moça, que tentou a todo custo dizer que não havia saído de casa, e que devia ter sido confundida com outra pessoa.
Venâncio porém, não queria saber de desculpas.
Ríspido, perguntou-lhe se era para isto que havia ficado em São Paulo.
Argumentou que se ela não estava interessada em ter um relacionamento sério com alguém, não deveria ficar enganando-o e mentindo para ele.
Ester tentou argumentar, disse que estava sendo radical, mas Venâncio estava irredutível.
Não queria saber de desculpas.
Razão pela qual terminou seu relacionamento com a moça.
Quando Carolina soube da novidade, lamentou o ocorrido, mas asseverou que havia males que vinham para o bem.
Venâncio contudo, ficou muito desapontado com a moça.
Para consolá-lo, Vandré conversou com ele.
Disse que logo logo ele iria encontrar uma boa moça, e esquecer a decepção que tivera com Ester.
O moço porém, não queria falar na moça.
Assim, sempre que ameaçavam tocar no assunto, Venâncio tratava logo de desconversar, encaminhando a conversa para outros temas.
Perguntava do trabalho de Vandré.
Nestas conversas, Venâncio perguntava ao irmão se estava progredindo, em suas pesquisas.
Vandré respondeu-lhe que sim.
Participou-o das novidades.
Falou-lhe do interesse em pesquisar amuletos.
Venâncio perguntou-lhe se acreditava realmente no poder de amuleto.
Vandré disse-lhe que por enquanto estava apenas pesquisando.
Argumentou que precisava entender por que a família acreditava tanto em maldição.
Venâncio respondeu que ao conhecer um pouco mais da história da família, passou a entender o por quê de tantas pessoas acreditarem em maldição.
Dizia que de fato eram pessoas sofridas, e compreensível sua apreensão.
Vandré concordou.
Argumentou porém, que acreditar em maldição, no entanto, era um pouco prematuro.
Venâncio ofereceu ajuda, mas Vandré respondeu-lhe que esta busca cabia a ele.
Completou dizendo porém, que caso precisasse, o chamaria para acompanhá-lo em suas pesquisas.
Venâncio respondeu que estaria sempre a postos.
Nos dias que se seguiram, Ester ficou a ligar para Venâncio, que se recusava a atendê-la.
Assim, sempre que via o número do telefone da moça em seu aparelho celular, o rapaz tratava de desligar o aparelho.
Certa vez, a moça apareceu no escritório do homem.
Dizia estar arrependida do seu jeito desinteressado e do jeito displicente, pelo qual conduzira o namoro.
Tentando argumentar, Ester dizia que desta vez tudo seria diferente.
Insistia em ter uma nova chance com o rapaz.
Mas Venâncio estava irredutível.
Com isto, sempre que a moça ligava para o escritório, Venâncio, instruía a colega Tânia a despachá-la.
E Tânia inventava diversas desculpas.
Dizia que Venâncio estava em uma reunião, que havia saído, que não se encontrava no setor.
Aborrecida, Ester chegou a cercar a moça na saída do escritório.
Queria tomar satisfações.
Disse-lhe que sabia que estava sendo instruída por Venâncio, mas que não se daria por vencida e trataria de reconquistá-lo.
Por fim foi embora.
Tânia ficou perplexa e a se perguntar do por quê da atitude da moça.
Contou o ocorrido a Venâncio.
O moço, ao tomar conhecimento do fato, ficou envergonhado.
Tentando se desculpar, argumentou que não tinha o direito de envolvê-la em toda aquela confusão.
Prometeu que iria conversar com a moça e dar um ponto final na história.
Tânia ao ouvir isto, argumentou que ele não tinha que dar satisfações para ela.
Mas o moço insistiu.
Argumentou que ela sempre fora muito gentil com ele e com todos os colegas do escritório.
Merecia ser respeitada.
Por fim, recomendou a mulher, que caso Ester lhe causasse mais problemas, deveria comunicá-lo, para que fossem tomadas as medidas cabíveis.
Tânia ao ouvir isto, comentou que não pretendia causar transtornos para ninguém.
Venâncio respondeu-lhe que quem havia criado problemas era Ester.
Nisto, dias depois, o moço apareceu de surpresa na casa da moça.
Ester ao vê-lo ficou radiante.
Por alguns instantes, acreditou que o moço estava disposto a reatar o namoro.
Contudo, quando o moço começou a dizer que ela havia passado dos limites, e que se continuasse a importuná-lo ou a qualquer de seus colegas, seria compelido a tomar medidas legais contra ela, Ester se assustou.
Nisto Venâncio argumentou que ameaça era crime, e que ela poderia ser presa por isto.
Ester ficou surpresa com a agressividade.
Argumentou que nunca havia visto ele tão nervoso.
Venâncio por seu turno, mencionou que tampouco conhecia o lado inconveniente da moça.
Afirmou-lhe que estava avisada, e que caso voltasse a ligar para o escritório, ou ficasse cercando seus funcionários, ela iria se entender com ele.
Ester tentou argumentar com o moço, mas Venâncio rebateu dizendo que ela estava avisada.
E assim, a moça teve que se calar.
Nisto o moço se retirou.
Ester fechou a porta.
Ficou chorando.
Estava arrependida da burrada que havia feito, mas já era tarde, não havia mais como consertar o estrago.
Com o tempo, o moço começou a sair com Tânia.
A moça atenciosa, era o oposto de Ester.
Certa vez, o moço ofereceu uma bonita bijuteria para a moça.
Tratava-se de um broche.
Dizia ter sido de sua avó.
Tânia ao observar o objeto, comentou que era lindo.
Contudo, argumentou que não precisava mentir, dizendo se tratar de um objeto de valor.
Venâncio ficou completamente sem graça.
Tânia então, tratou de completar dizendo que trabalhou numa joalheria, e conhecia um pouco de joias.
Rindo, disse que não seria fácil de enganá-la.
Ressaltou que sabia que não se tratava de uma peça de família.
Jantaram.
Venâncio pediu-lhe desculpas.
Disse que fora um tolo por mentir.
No que Tânia concordou.
Argumentou que entendia o fato dele estar ressabiado com as mulheres, mas que isto não justificava uma atitude tão boba.
O rapaz concordou.
Argumentou que fora infantil.
Que tentou testá-la, e o tiro saiu pela culatra.
Tânia riu.
Disse que não estava mais em idade de passar por avaliações.
Venâncio então, perguntou como a moça havia descoberto a mentira.
Demonstrou curiosidade.
Tânia então, após ao jantar, enquanto estava sendo conduzida ao carro pelo moço, resolveu contar o segredo.
Disse que ao observar a bijuteria, verificou os materiais.
Argumentou que por se tratar de uma suposta joia que pertencera a sua avó, era um objeto antigo, que certamente sofrera algum desgaste do tempo, pois, por mais cuidado que houvesse em seu manuseio, haveria desgaste.
Ressaltou que a peça não tinha marcas do tempo, parecendo ter acabado de sair da fábrica.
Novinha em folha, com um brilho imenso.
Mais tarde ao segurar a peça, comentou que era um trabalho muito bem feito, e que uma pessoa menos atenta, certamente seria enganada pelo truque.
Venâncio riu.
Estava admirado.
Disse-lhe que nunca havia conhecido alguém tão interessante e inteligente quanto ela.
Seus colegas advogados, ao tomarem conhecimento da novidade, parabenizaram-no.
Diziam:
- Até que enfim você se tocou!
- Já não era sem tempo!
- Até que enfim.
Todos que o conheciam, parabenizaram-no quando souberam que ele estava saindo com Tânia.
Nenhum deles gostava de Ester.
Consideravam a moça fútil e interesseira.
Nisto, quando o rapaz finalmente comentou do término do namoro com os amigos, todos lhe disseram que foi a melhor coisa feita por ele.
Que deixasse Ester encontrar alguém na justa medida para ela, era o que diziam.
E assim, quando Venâncio e Tânia passaram a namorar, todos os seus amigos comemoraram.
Elogiaram seu bom gosto, dizendo que Tânia era uma mulher bonita e inteligente.
Venâncio concordava.
Dizia ter tirado a sorte grande.
Considerava-se um homem de sorte.
Vandré, quando soube do namoro, também parabenizou o irmão.
Venâncio brincou com o irmão, que agora era hora dele desencalhar.
Vandré retrucava rindo, dizendo que estava satisfeito com sua solteirice.
Logo foi apresentado a namorada do irmão.
Tânia era uma moça educada, elegante, discreta.
Quando Venâncio contou ao irmão que falara um pouco sobre sua pesquisa à moça, mencionou que ela conhecia pessoas que possuíam coleções de objetos indígenas, entre eles amuletos.
Vandré perguntou ao irmão de onde ela conhecia estas pessoas.
Venâncio respondeu-lhe que a moça tinha amigos antropólogos e arqueólogos, e estes objetos seriam doados a um museu.
Curioso, o moço pediu para falar com Tânia, que lhe contou com mais detalhes a história.
Tânia comentou então, que já havia visto algumas peças e que estava todas muito bem conservadas.
Mencionou que o objeto que mais lhe impressionou foi um muiraquitã.
Vandré ficou interessado, e pediu a moça para agendar um encontro com os tais amigos.
Disse que tinha muito o que conversar com eles.
Tânia sorridente, respondeu-lhe que agendaria um encontro.
Venâncio agradeceu a gentileza da moça.
Por alto, Venâncio já havia lhe dito que o irmão estava empreendendo uma pesquisa sobre cultura indígena.
No que Tânia mencionou os amigos.
Relatou também que muita gente possuía ancestrais indígenas na família.
Venâncio concordou.
Certa vez, a moça comentou possuir curiosidade em conhecer a história de seus antepassados.
Seus ancestrais.
Comentou pouco conhecer da história dos avós, e menos ainda dos bisavós, e de quem os antecedeu.
E no entanto, lá estava ela, descendente de todas estas pessoas que não conhecia.
Contudo, mesmo não as conhecendo, faziam parte de sua história.
Rindo, Tânia comentou aquilo era meio louco.
Venâncio ficou a pensar nas palavras da moça.
Perdido em pensamentos, ficou pensando em como deveria ser reconfortante saber sua origem.
Curiosamente sabia das histórias de seus ancestrais, mas pouco sabia a respeito de seus pais, em especial, quem teria sido seu pai.
Tânia, percebendo a distração do moço, perguntou-lhe:
- Oi? Moço? Onde você está?
Venâncio então, ao perceber que a moça lhe chamava, pediu-lhe desculpas.
Disse que estava distraído.
Tânia perguntou-lhe então:
- Posso saber em que tanto pensas? Espero que não seja nenhuma mulher. - completou rindo.
Venâncio olhou a moça com deboche.
Rindo, comentou que estava pensando em muitas mulheres.
E nisto, começou a citar nomes de atrizes da tevê.
Tânia, ao perceber a provocação, jogou uma almofada no moço.
O jovem segurou o objeto.
Venâncio argumentou então, que a vida era muito engraçada.
Disse que enquanto alguns querem conhecer a história dos avós, bisavós, trisavós, outros só gostariam de saber quem foram seus pais.
Como se encontraram, como se conheceram, se houve amor entre eles.
Tânia ouvia com atenção.
Disse que aquilo tudo aquilo era familiar.
Foi então, que como todo o cuidado, perguntou se Carolina não havia lhe contado nada sobre seu pai.
Venâncio respondeu-lhe que não sabia nem se ele e Vandré eram filhos do mesmo pai.
Tânia ao ouvir isto, pediu-lhe desculpas.
Disse que havia se metido onde não fora chamada.
Venâncio então respondeu-lhe que não havia falado nada demais, e que ela como parte da família, tinha todo o direito de se inteirar de seus assuntos.
Tânia fez menção de argumentar, mas Venâncio, ao perceber isto, comentou que iria apresentá-la ao restante de sua família, quando voltasse a fazenda do Valongo.
Disse-lhe que iria apresentá-la como sua noiva.
Tânia tentou argumentar, mas Venâncio disse-lhe que eram favas contadas.
A mulher ficou intrigada.
Como assim, favas contadas?
E Venâncio respondeu-lhe que ela estava condenada a ficar a seu lado, por todos os séculos, dos séculos, dos séculos.
Ao ouvir isto, a mulher caiu na risada.
- Que conversa mais louca!
Nisto o homem segurou sua mão, beijou seu rosto, e perguntou-lhe se aceitava se casar com ele.
Tânia ria.
Venâncio impaciente, indagou-lhe, exigiu uma resposta.
Tânia risonha, respondeu que sim.
O moço, achando graça, comentou que já estava pensando que ela iria desistir dele.
Falou rindo para ela nunca mais repetir isto.
Tânia argumentou que ele era muito engraçadinho.
Mais tarde, quando recebeu um telefonema de Carolina, informando que a matriarca havia piorado, Venâncio convidou a moça para acompanhá-lo em viagem.
A jovem tentou desconversar, mas Venâncio foi mais rápido.
Disse que ela estava intimada a comparecer na Fazenda Valongo em sua presença, sob pena de condução coercitiva.
Risonha, Tânia perguntou-lhe como faria para conduzi-la coercitivamente, caso não fosse espontaneamente.
Venâncio respondeu-lhe que requisitaria força policial.
Debochada, Tânia perguntou do que se tratava a tal força policial.
Venâncio respondeu que chamaria toda a Guarda Nacional, na pessoa de seu irmão, seus amigos, e sua mãe.
Argumentou que caso precisasse tomar esta medida drástica, estaria perdida.
Tânia ria.
Disse-lhe que não tinha jeito, e que diante das circunstâncias, iria acompanhá-lo na viagem.
Por fim, argumentou se não iria incomodar se o acompanhasse.
Venâncio respondeu-lhe que não.
Tânia porém, insistiu para que o moço informasse a mãe de sua ida.
E Venâncio então, telefonou para a mãe.
Informou-lhe que estava noivo de Tânia e se poderia levá-la para lá.
Carolina, ao ouvir a história de noivado, ficou apreensiva.
Pensou que se tratava de Ester.
Venâncio teve que lhe contar que terminara o noivado com Ester.
Comentou que conheceu uma moça, que na verdade já era sua colega de trabalho, e estavam namorando.
Venâncio comentou que resolveu ficar noivo de Tânia.
Carolina ao ouvir o relato do moço, ficou desconfiada.
Chegou a perguntar ao moço, se não estava se precipitando.
Afinal, mal terminou um noivado e praticamente começou outro.
Carolina recomendou-lhe juízo e mencionou que esperava que ele soubesse o que estava fazendo.
Venâncio, um pouco decepcionado com a reação da mãe, e comentou que apesar do balde de água fria, estava feliz.
Argumentou que quando ela conhecesse Tânia, suas reservas iriam desaparecer.
Por fim, Carolina mencionou que não era momento de se levar visitas a fazenda.
No que Venâncio comentou que ela fazia parte da família, e que precisava apresentá-la a avó.
Carolina, percebendo o entusiasmo do moço, acabou concordando.
Contudo, recomendou-lhe que dissesse a moça que não se tratava de um evento festivo.
Venâncio concordou com as recomendações.
Carolina então, acabou aceitando receber a moça.
Com isto, dias depois, o trio seguiu viagem.
Venâncio contou do estado de saúde da avó.
Tânia chegou a lhe perguntar se aquela era a melhor hora para conhecer sua família.
Venâncio retrucou dizendo, que todos estavam esperando por ela.
Tânia concordou então, em acompanhá-lo.
Preparou sua mala.
Viajaram de avião.
E do aeroporto, seguiram de carro para a propriedade.
Um funcionário da fazenda, os aguardava no aeroporto.
Ao chegarem na fazenda, Venâncio lhe mostrou a porteira.
Disse-lhe que aquele lugar era o Valongo.
Tânia curiosa, perguntou o por quê do nome.
Vandré respondeu-lhe que se tratava de um antigo mercado de escravos.
A moça respondeu que havia uma cidade em Portugal, com o mesmo nome.
Venâncio argumentou que talvez por isto, o mercado tivesse este nome.
Nisto, chegaram a sede da fazenda, onde foram recepcionados por Carolina.
Venâncio apresentou as mulheres.
À mãe, Carolina, disse que a moça era bacharela em direito, sendo seu braço direito e esquerdo no escritório.
Venâncio apresentou a mãe, como a pessoa que cuidou dos filhos, e agora estava cuidando da própria mãe.
Tânia estendeu a mão.
As mulheres se cumprimentaram.
Nisto a mulher levou a moça para seu quarto.
Venâncio e seu irmão dormiriam em outro.
Séria, a mulher olhou para o filho dizendo para que tivesse juízo.
Tânia achou graça.
Mais tarde, ao passear pela propriedade, a moça comentou que Carolina era muito zelosa.
Venâncio rindo, comentou que ela não sabia o quanto.
O moço ensinou a moça a andar a cavalo.
Tânia retrucou disse que estava bem com os pés no chão, e não tinha interesse em ficar montada em um animal que não sabia controlar.
Mas Venâncio prometeu escolher um cavalo manso para que ela pudesse aprender.
E assim, depois de muito insistir, acabou convencendo a moça.
Tânia relutante, aceitou subir em um animal.
Venâncio auxiliou-a.
Segurou as rédeas do animal, e caminhou ao lado do cavalo.
A moça surpreendeu-se com os modos gentis ou cavalheirescos de Venâncio.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Foi o bastante para o rapaz exigir satisfação da moça, que tentou a todo custo dizer que não havia saído de casa, e que devia ter sido confundida com outra pessoa.
Venâncio porém, não queria saber de desculpas.
Ríspido, perguntou-lhe se era para isto que havia ficado em São Paulo.
Argumentou que se ela não estava interessada em ter um relacionamento sério com alguém, não deveria ficar enganando-o e mentindo para ele.
Ester tentou argumentar, disse que estava sendo radical, mas Venâncio estava irredutível.
Não queria saber de desculpas.
Razão pela qual terminou seu relacionamento com a moça.
Quando Carolina soube da novidade, lamentou o ocorrido, mas asseverou que havia males que vinham para o bem.
Venâncio contudo, ficou muito desapontado com a moça.
Para consolá-lo, Vandré conversou com ele.
Disse que logo logo ele iria encontrar uma boa moça, e esquecer a decepção que tivera com Ester.
O moço porém, não queria falar na moça.
Assim, sempre que ameaçavam tocar no assunto, Venâncio tratava logo de desconversar, encaminhando a conversa para outros temas.
Perguntava do trabalho de Vandré.
Nestas conversas, Venâncio perguntava ao irmão se estava progredindo, em suas pesquisas.
Vandré respondeu-lhe que sim.
Participou-o das novidades.
Falou-lhe do interesse em pesquisar amuletos.
Venâncio perguntou-lhe se acreditava realmente no poder de amuleto.
Vandré disse-lhe que por enquanto estava apenas pesquisando.
Argumentou que precisava entender por que a família acreditava tanto em maldição.
Venâncio respondeu que ao conhecer um pouco mais da história da família, passou a entender o por quê de tantas pessoas acreditarem em maldição.
Dizia que de fato eram pessoas sofridas, e compreensível sua apreensão.
Vandré concordou.
Argumentou porém, que acreditar em maldição, no entanto, era um pouco prematuro.
Venâncio ofereceu ajuda, mas Vandré respondeu-lhe que esta busca cabia a ele.
Completou dizendo porém, que caso precisasse, o chamaria para acompanhá-lo em suas pesquisas.
Venâncio respondeu que estaria sempre a postos.
Nos dias que se seguiram, Ester ficou a ligar para Venâncio, que se recusava a atendê-la.
Assim, sempre que via o número do telefone da moça em seu aparelho celular, o rapaz tratava de desligar o aparelho.
Certa vez, a moça apareceu no escritório do homem.
Dizia estar arrependida do seu jeito desinteressado e do jeito displicente, pelo qual conduzira o namoro.
Tentando argumentar, Ester dizia que desta vez tudo seria diferente.
Insistia em ter uma nova chance com o rapaz.
Mas Venâncio estava irredutível.
Com isto, sempre que a moça ligava para o escritório, Venâncio, instruía a colega Tânia a despachá-la.
E Tânia inventava diversas desculpas.
Dizia que Venâncio estava em uma reunião, que havia saído, que não se encontrava no setor.
Aborrecida, Ester chegou a cercar a moça na saída do escritório.
Queria tomar satisfações.
Disse-lhe que sabia que estava sendo instruída por Venâncio, mas que não se daria por vencida e trataria de reconquistá-lo.
Por fim foi embora.
Tânia ficou perplexa e a se perguntar do por quê da atitude da moça.
Contou o ocorrido a Venâncio.
O moço, ao tomar conhecimento do fato, ficou envergonhado.
Tentando se desculpar, argumentou que não tinha o direito de envolvê-la em toda aquela confusão.
Prometeu que iria conversar com a moça e dar um ponto final na história.
Tânia ao ouvir isto, argumentou que ele não tinha que dar satisfações para ela.
Mas o moço insistiu.
Argumentou que ela sempre fora muito gentil com ele e com todos os colegas do escritório.
Merecia ser respeitada.
Por fim, recomendou a mulher, que caso Ester lhe causasse mais problemas, deveria comunicá-lo, para que fossem tomadas as medidas cabíveis.
Tânia ao ouvir isto, comentou que não pretendia causar transtornos para ninguém.
Venâncio respondeu-lhe que quem havia criado problemas era Ester.
Nisto, dias depois, o moço apareceu de surpresa na casa da moça.
Ester ao vê-lo ficou radiante.
Por alguns instantes, acreditou que o moço estava disposto a reatar o namoro.
Contudo, quando o moço começou a dizer que ela havia passado dos limites, e que se continuasse a importuná-lo ou a qualquer de seus colegas, seria compelido a tomar medidas legais contra ela, Ester se assustou.
Nisto Venâncio argumentou que ameaça era crime, e que ela poderia ser presa por isto.
Ester ficou surpresa com a agressividade.
Argumentou que nunca havia visto ele tão nervoso.
Venâncio por seu turno, mencionou que tampouco conhecia o lado inconveniente da moça.
Afirmou-lhe que estava avisada, e que caso voltasse a ligar para o escritório, ou ficasse cercando seus funcionários, ela iria se entender com ele.
Ester tentou argumentar com o moço, mas Venâncio rebateu dizendo que ela estava avisada.
E assim, a moça teve que se calar.
Nisto o moço se retirou.
Ester fechou a porta.
Ficou chorando.
Estava arrependida da burrada que havia feito, mas já era tarde, não havia mais como consertar o estrago.
Com o tempo, o moço começou a sair com Tânia.
A moça atenciosa, era o oposto de Ester.
Certa vez, o moço ofereceu uma bonita bijuteria para a moça.
Tratava-se de um broche.
Dizia ter sido de sua avó.
Tânia ao observar o objeto, comentou que era lindo.
Contudo, argumentou que não precisava mentir, dizendo se tratar de um objeto de valor.
Venâncio ficou completamente sem graça.
Tânia então, tratou de completar dizendo que trabalhou numa joalheria, e conhecia um pouco de joias.
Rindo, disse que não seria fácil de enganá-la.
Ressaltou que sabia que não se tratava de uma peça de família.
Jantaram.
Venâncio pediu-lhe desculpas.
Disse que fora um tolo por mentir.
No que Tânia concordou.
Argumentou que entendia o fato dele estar ressabiado com as mulheres, mas que isto não justificava uma atitude tão boba.
O rapaz concordou.
Argumentou que fora infantil.
Que tentou testá-la, e o tiro saiu pela culatra.
Tânia riu.
Disse que não estava mais em idade de passar por avaliações.
Venâncio então, perguntou como a moça havia descoberto a mentira.
Demonstrou curiosidade.
Tânia então, após ao jantar, enquanto estava sendo conduzida ao carro pelo moço, resolveu contar o segredo.
Disse que ao observar a bijuteria, verificou os materiais.
Argumentou que por se tratar de uma suposta joia que pertencera a sua avó, era um objeto antigo, que certamente sofrera algum desgaste do tempo, pois, por mais cuidado que houvesse em seu manuseio, haveria desgaste.
Ressaltou que a peça não tinha marcas do tempo, parecendo ter acabado de sair da fábrica.
Novinha em folha, com um brilho imenso.
Mais tarde ao segurar a peça, comentou que era um trabalho muito bem feito, e que uma pessoa menos atenta, certamente seria enganada pelo truque.
Venâncio riu.
Estava admirado.
Disse-lhe que nunca havia conhecido alguém tão interessante e inteligente quanto ela.
Seus colegas advogados, ao tomarem conhecimento da novidade, parabenizaram-no.
Diziam:
- Até que enfim você se tocou!
- Já não era sem tempo!
- Até que enfim.
Todos que o conheciam, parabenizaram-no quando souberam que ele estava saindo com Tânia.
Nenhum deles gostava de Ester.
Consideravam a moça fútil e interesseira.
Nisto, quando o rapaz finalmente comentou do término do namoro com os amigos, todos lhe disseram que foi a melhor coisa feita por ele.
Que deixasse Ester encontrar alguém na justa medida para ela, era o que diziam.
E assim, quando Venâncio e Tânia passaram a namorar, todos os seus amigos comemoraram.
Elogiaram seu bom gosto, dizendo que Tânia era uma mulher bonita e inteligente.
Venâncio concordava.
Dizia ter tirado a sorte grande.
Considerava-se um homem de sorte.
Vandré, quando soube do namoro, também parabenizou o irmão.
Venâncio brincou com o irmão, que agora era hora dele desencalhar.
Vandré retrucava rindo, dizendo que estava satisfeito com sua solteirice.
Logo foi apresentado a namorada do irmão.
Tânia era uma moça educada, elegante, discreta.
Quando Venâncio contou ao irmão que falara um pouco sobre sua pesquisa à moça, mencionou que ela conhecia pessoas que possuíam coleções de objetos indígenas, entre eles amuletos.
Vandré perguntou ao irmão de onde ela conhecia estas pessoas.
Venâncio respondeu-lhe que a moça tinha amigos antropólogos e arqueólogos, e estes objetos seriam doados a um museu.
Curioso, o moço pediu para falar com Tânia, que lhe contou com mais detalhes a história.
Tânia comentou então, que já havia visto algumas peças e que estava todas muito bem conservadas.
Mencionou que o objeto que mais lhe impressionou foi um muiraquitã.
Vandré ficou interessado, e pediu a moça para agendar um encontro com os tais amigos.
Disse que tinha muito o que conversar com eles.
Tânia sorridente, respondeu-lhe que agendaria um encontro.
Venâncio agradeceu a gentileza da moça.
Por alto, Venâncio já havia lhe dito que o irmão estava empreendendo uma pesquisa sobre cultura indígena.
No que Tânia mencionou os amigos.
Relatou também que muita gente possuía ancestrais indígenas na família.
Venâncio concordou.
Certa vez, a moça comentou possuir curiosidade em conhecer a história de seus antepassados.
Seus ancestrais.
Comentou pouco conhecer da história dos avós, e menos ainda dos bisavós, e de quem os antecedeu.
E no entanto, lá estava ela, descendente de todas estas pessoas que não conhecia.
Contudo, mesmo não as conhecendo, faziam parte de sua história.
Rindo, Tânia comentou aquilo era meio louco.
Venâncio ficou a pensar nas palavras da moça.
Perdido em pensamentos, ficou pensando em como deveria ser reconfortante saber sua origem.
Curiosamente sabia das histórias de seus ancestrais, mas pouco sabia a respeito de seus pais, em especial, quem teria sido seu pai.
Tânia, percebendo a distração do moço, perguntou-lhe:
- Oi? Moço? Onde você está?
Venâncio então, ao perceber que a moça lhe chamava, pediu-lhe desculpas.
Disse que estava distraído.
Tânia perguntou-lhe então:
- Posso saber em que tanto pensas? Espero que não seja nenhuma mulher. - completou rindo.
Venâncio olhou a moça com deboche.
Rindo, comentou que estava pensando em muitas mulheres.
E nisto, começou a citar nomes de atrizes da tevê.
Tânia, ao perceber a provocação, jogou uma almofada no moço.
O jovem segurou o objeto.
Venâncio argumentou então, que a vida era muito engraçada.
Disse que enquanto alguns querem conhecer a história dos avós, bisavós, trisavós, outros só gostariam de saber quem foram seus pais.
Como se encontraram, como se conheceram, se houve amor entre eles.
Tânia ouvia com atenção.
Disse que aquilo tudo aquilo era familiar.
Foi então, que como todo o cuidado, perguntou se Carolina não havia lhe contado nada sobre seu pai.
Venâncio respondeu-lhe que não sabia nem se ele e Vandré eram filhos do mesmo pai.
Tânia ao ouvir isto, pediu-lhe desculpas.
Disse que havia se metido onde não fora chamada.
Venâncio então respondeu-lhe que não havia falado nada demais, e que ela como parte da família, tinha todo o direito de se inteirar de seus assuntos.
Tânia fez menção de argumentar, mas Venâncio, ao perceber isto, comentou que iria apresentá-la ao restante de sua família, quando voltasse a fazenda do Valongo.
Disse-lhe que iria apresentá-la como sua noiva.
Tânia tentou argumentar, mas Venâncio disse-lhe que eram favas contadas.
A mulher ficou intrigada.
Como assim, favas contadas?
E Venâncio respondeu-lhe que ela estava condenada a ficar a seu lado, por todos os séculos, dos séculos, dos séculos.
Ao ouvir isto, a mulher caiu na risada.
- Que conversa mais louca!
Nisto o homem segurou sua mão, beijou seu rosto, e perguntou-lhe se aceitava se casar com ele.
Tânia ria.
Venâncio impaciente, indagou-lhe, exigiu uma resposta.
Tânia risonha, respondeu que sim.
O moço, achando graça, comentou que já estava pensando que ela iria desistir dele.
Falou rindo para ela nunca mais repetir isto.
Tânia argumentou que ele era muito engraçadinho.
Mais tarde, quando recebeu um telefonema de Carolina, informando que a matriarca havia piorado, Venâncio convidou a moça para acompanhá-lo em viagem.
A jovem tentou desconversar, mas Venâncio foi mais rápido.
Disse que ela estava intimada a comparecer na Fazenda Valongo em sua presença, sob pena de condução coercitiva.
Risonha, Tânia perguntou-lhe como faria para conduzi-la coercitivamente, caso não fosse espontaneamente.
Venâncio respondeu-lhe que requisitaria força policial.
Debochada, Tânia perguntou do que se tratava a tal força policial.
Venâncio respondeu que chamaria toda a Guarda Nacional, na pessoa de seu irmão, seus amigos, e sua mãe.
Argumentou que caso precisasse tomar esta medida drástica, estaria perdida.
Tânia ria.
Disse-lhe que não tinha jeito, e que diante das circunstâncias, iria acompanhá-lo na viagem.
Por fim, argumentou se não iria incomodar se o acompanhasse.
Venâncio respondeu-lhe que não.
Tânia porém, insistiu para que o moço informasse a mãe de sua ida.
E Venâncio então, telefonou para a mãe.
Informou-lhe que estava noivo de Tânia e se poderia levá-la para lá.
Carolina, ao ouvir a história de noivado, ficou apreensiva.
Pensou que se tratava de Ester.
Venâncio teve que lhe contar que terminara o noivado com Ester.
Comentou que conheceu uma moça, que na verdade já era sua colega de trabalho, e estavam namorando.
Venâncio comentou que resolveu ficar noivo de Tânia.
Carolina ao ouvir o relato do moço, ficou desconfiada.
Chegou a perguntar ao moço, se não estava se precipitando.
Afinal, mal terminou um noivado e praticamente começou outro.
Carolina recomendou-lhe juízo e mencionou que esperava que ele soubesse o que estava fazendo.
Venâncio, um pouco decepcionado com a reação da mãe, e comentou que apesar do balde de água fria, estava feliz.
Argumentou que quando ela conhecesse Tânia, suas reservas iriam desaparecer.
Por fim, Carolina mencionou que não era momento de se levar visitas a fazenda.
No que Venâncio comentou que ela fazia parte da família, e que precisava apresentá-la a avó.
Carolina, percebendo o entusiasmo do moço, acabou concordando.
Contudo, recomendou-lhe que dissesse a moça que não se tratava de um evento festivo.
Venâncio concordou com as recomendações.
Carolina então, acabou aceitando receber a moça.
Com isto, dias depois, o trio seguiu viagem.
Venâncio contou do estado de saúde da avó.
Tânia chegou a lhe perguntar se aquela era a melhor hora para conhecer sua família.
Venâncio retrucou dizendo, que todos estavam esperando por ela.
Tânia concordou então, em acompanhá-lo.
Preparou sua mala.
Viajaram de avião.
E do aeroporto, seguiram de carro para a propriedade.
Um funcionário da fazenda, os aguardava no aeroporto.
Ao chegarem na fazenda, Venâncio lhe mostrou a porteira.
Disse-lhe que aquele lugar era o Valongo.
Tânia curiosa, perguntou o por quê do nome.
Vandré respondeu-lhe que se tratava de um antigo mercado de escravos.
A moça respondeu que havia uma cidade em Portugal, com o mesmo nome.
Venâncio argumentou que talvez por isto, o mercado tivesse este nome.
Nisto, chegaram a sede da fazenda, onde foram recepcionados por Carolina.
Venâncio apresentou as mulheres.
À mãe, Carolina, disse que a moça era bacharela em direito, sendo seu braço direito e esquerdo no escritório.
Venâncio apresentou a mãe, como a pessoa que cuidou dos filhos, e agora estava cuidando da própria mãe.
Tânia estendeu a mão.
As mulheres se cumprimentaram.
Nisto a mulher levou a moça para seu quarto.
Venâncio e seu irmão dormiriam em outro.
Séria, a mulher olhou para o filho dizendo para que tivesse juízo.
Tânia achou graça.
Mais tarde, ao passear pela propriedade, a moça comentou que Carolina era muito zelosa.
Venâncio rindo, comentou que ela não sabia o quanto.
O moço ensinou a moça a andar a cavalo.
Tânia retrucou disse que estava bem com os pés no chão, e não tinha interesse em ficar montada em um animal que não sabia controlar.
Mas Venâncio prometeu escolher um cavalo manso para que ela pudesse aprender.
E assim, depois de muito insistir, acabou convencendo a moça.
Tânia relutante, aceitou subir em um animal.
Venâncio auxiliou-a.
Segurou as rédeas do animal, e caminhou ao lado do cavalo.
A moça surpreendeu-se com os modos gentis ou cavalheirescos de Venâncio.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
VALONGO - CAPÍTULO 21 - VERSÃO OFICIAL
Ajustados entre si, Vandré e Venâncio percorreram os cartórios da região, em busca de registros
da família.
Foi uma busca demorada e trabalhosa.
Com efeito, a criança de nome Tarcísio, fora registrada em outra cidade, pois na época em que Dona Carolina era moça, o cartório não abrangia a circunscrição onde ficava a propriedade do Valongo.
Para chegarem neste ponto, os moços realizaram três idas em cartórios da região, inclusive da cidade onde estava localizada a fazenda.
Desanimados, sempre que se dirigiam aos cartórios e não encontravam informações, ficavam desapontados.
Um dia, conversando na venda que havia na vila próxima a fazenda, os moços comentaram entre si, como fariam, para descobrir o registro de uma pessoa nascida por volta do final dos anos quarenta e início dos anos cinqüentas.
Nisto, um frequentador da venda informou que naqueles tempos, os registros de nascimentos, quando eram feitos, eram realizados num cartório localizado em outro município.
Disse aquelas terras e toda a região fizera parte do município, sendo posteriormente desmembrado.
Desta forma, os rapazes agradeceram a informação, e no dia seguinte rumaram em direção ao cartório.
Lá, depois de uma certa peregrinação, finalmente descobriram onde estava localizado o registro de Tarcísio, filho de Carolina e Adroaldo.
Vandré, ao consultar o registro, ficou exultante.
Finalmente estava a encontrar vestígios da origem da família.
O moço solicitou ao funcionário, uma cópia do documento.
Dias depois, o moço regressou ao cartório, onde retirou a cópia solicitada do documento.
Em casa, na sede da fazenda, o moço guardou o documento com todo o cuidado.
Afinal, ninguém poderia desconfiar que estava investigando o paradeiro e a origem do homem.
Como já soubessem que o homem não havia sido criado na região do Valongo, Venâncio e Vandré, começaram a divagar sobre em que lugar o tal Tarcísio vivera, e onde estava sepultado.
Com isto, nos dias em que estiveram na fazenda, aproveitaram para conversar com as primas Lara e Antonia.
Falavam sobre as crianças, sobre a importância de se ter uma família.
Elogiaram os filhos das moças.
Lara e Antonia disseram que estavam vivendo em São Paulo, circunstância que motivou Vandré a convidá-las a visitar sua casa.
Argumentou que eram uma família, mas que conviviam muito pouco.
Venâncio respondeu que a correria do dia a dia afasta e priva as pessoas da convivência diária.
Lara e Antonia concordaram.
Eram moças e um pouco mais jovens que Venâncio, regulando a idade de Vandré.
Conversando com as jovens, os mesmos descobriram que as moças haviam se casado, mas os relacionamentos pouco duraram.
Ao ouvir isto, os moços curiosos, perguntaram da maldição imposta sobre a família.
Rindo, as moças comentaram que casamento era forma de falar, já que viveram em união estável, circunstância que se equipara a um casamento.
Curioso, Venâncio perguntou-lhes se não tiveram nenhum interesse em se casar.
Lara respondeu-lhe que não.
Argumentou que o que fazia a união de um casal não era um pedaço de papel, e sim a confiança, e o amor existente entre eles.
Vandré concordou.
Venâncio brincando, respondeu que agora entendia por que o irmão não havia se casado.
Vandré então rindo, pediu ao irmão para que se calasse.
Em dado momento da conversa, Venâncio falou às moças, em tom de brincadeira, que já sabia por que não haviam se casado no civil.
Curiosas, as moças perguntaram por que.
E Venâncio respondeu:
- Por que estavam com medo da maldição!
As mulheres se entreolharam e começaram a rir.
Descontraídas, as mulheres chegaram a dizer que estavam fartas da história da maldição.
Da praga que uma velha maluca lançara sobre a família.
Antonia disse que isto só atingia quem realmente acreditava nestas besteiras.
Venâncio concordou.
Argumentou que por conta de uma bobagem, as mulheres de sua família, deixaram de lado a possibilidade de serem felizes.
Para ele, as histórias de insucessos amorosos e filhos varões que não vingaram, eram fruto de um tempo de grandes dificuldades, sem acesso a informação, e sem o mínimo acesso à condições básicas de saúde.
E que tal desinformação deu origem a lendas e a crendices.
Nisto Lara argumentou que as Carolinas acreditavam seriamente nisto.
Venâncio retrucou dizendo que adorava a mãe e a avó, mas que se tratavam de pessoas simples, e muito impressionáveis.
O jovem por seu turno, mudaria o seu modo de pensar.
Isto por que ainda quando estava no velho casarão, o jovem e parte da família, se depararam com um estranho, que surgira na cozinha da residência.
Era um homem idoso, cujo nome não foi declinado.
Estava agitado, andando de um lado para o outro.
Dizia querer falar com Josué.
Foi quando todos os que estavam na sala, se entreolharam, já bastante assustados com a visita inesperada.
Ninguém conseguia compreender o que estava acontecendo.
Nisto, o homem desapareceu.
Sumiu da mesma forma que entrou.
Sem deixar vestígios.
Vandré e Venâncio, que estavam na sala ao lado da mãe, e das primas, ficaram perplexos.
Nenhum dos empregados viu o homem entrando na casa e tampouco saindo.
Quando a velha senhora, Carolina, tomou conhecimento do ocorrido, ao ouvir nome Josué, lembrou ser este um dos nomes de um dos filhos da primeira Carolina.
O garoto morreu ainda em criança.
Intrigada, a mulher procurou se lembrar de alguém que vivia ou que vivera na região e que possuía o mesmo nome.
Por mais que se esforçasse, a mulher não conseguia se lembrar.
Dizia que sua memória já não era mais a mesma.
Sua filha por sua vez, dizia para a mãe descansar.
Visando tranquilizá-la, disse que fariam orações em memória a todos os antepassados, e também para que este homem encontrasse seu rumo, e que não viesse mais importuná-los. Nisto, recomendou para que os funcionários trancassem a porta da residência, mesmo durante o dia, observando que entrasse e quem saísse do casarão.
Os visitantes por seu turno, avisariam quando saíssem da casa, se iriam para algum lugar e quando voltariam.
Todos concordaram com a recomendação.
E precavidos, trataram de fazer as orações.
Chegaram a organizar um terço, onde toda a família se reuniu para rezar.
A mãe de Vandré e Venâncio, também mandou celebrar missas, na igreja que havia na vila.
Com isto, sempre que os convidados saíam da sede, avisavam.
Também informavam a hora aproximada em que voltariam.
Vandré e Venâncio continuaram com suas andanças pelos arrabaldes.
Continuaram as conversas com Lara e Antonia, na esperança de descobrir algo sobre a história de Tarcísio.
Mas as moças não comentavam sobre o assunto.
Parecia que não gostavam de falar sobre o pai.
Circunstância que os deixou bastante intrigados.
Afinal de contas, por que tanto segredo?
Conversando com a mãe, Vandré tentou trazer a baila a memória de Tarcísio.
Carolina rapidamente desconversou.
Em nova conversa com as moças, Lara e Antonia, comentaram que o pai era bastante ausente, e que não tinham muito a dizer a seu respeito.
Venâncio, percebendo que não lhes agradou o tema, resolveu mudar o rumo da conversa.
Gentil, perguntou das crianças, já que tudo parecia tão silencioso.
Lara e Antonia concordaram.
Preocupadas, foram atrás dos filhos, para verificar o que estava acontecendo.
Para variar, as crianças estavam na cozinha, a mexer nas panelas, nos tachos de cobre, e demais utensílios domésticos.
Sempre que viam algo que não conheciam, perguntavam o que era.
Djanira, já acostumada com o jeito das crianças, respondia com toda a paciência do mundo.
Quando Lara e Antonia apareceram na cozinha para ralhar com as crianças, a cozinheira respondeu-lhes que se todas as perguntas e todos os problemas do mundo fossem saber o que era um tacho de cobre, uma panela, uma escumadeira, tudo seria muito mais fácil.
Djanira, comentou que eles estavam apenas curiosos.
Mas recomendou que não era bom que permanecessem na cozinha, por não ser lugar de crianças curiosas.
Lara e Antonia concordaram com a cozinheira.
Razão pela qual retiraram as crianças de lá.
Levaram as crianças para o alpendre e disseram-lhe que tinham um imenso campo a frente para brincar, com a recomendação de que não poderia sair de suas vistas.
E assim,as crianças ganharam o mundo.
Brincaram de se esconder atrás das árvores.
Subiram em seu tronco, sentaram em suas raízes.
Olharam o céu e as nuvens, para dizer com o que se pareciam.
Lara e Antonia olhavam envaidecidas para os filhos.
Venâncio e Vandré observaram as crianças brincando.
Lembraram de seus tempos de criança.
Rindo, comentaram que se tivessem tanto espaço livre para brincar quando eram crianças, suas vidas provavelmente seriam bem diferentes.
Venâncio, argumentou que gostava da vida na cidade.
Dizia que seu escritório estava indo de vento em popa e que não tinha interesse de voltar ao campo.
Vandré, respondeu que sua vida acadêmica não lhe permitia viver no campo.
Com efeito, os rapazes e parte da família participou da festa organizada para Dona Carolina.
Forma como era tratada por todos.
Com o passar dos dias, conforme o estado de saúde da matriarca se agravava, os rapazes recomendaram a mãe que levassem a avó, para a capital, pois ali teria um melhor tratamento, recebendo acompanhamento médico.
Mas a matriarca se recusava a sair de sua fazenda.
A mulher falou com detalhes sobre a história de suas ancestrais.
Dizia possuir anotações, diários e relatos da vida de quase todas elas as mulheres da família. Venâncio e Vandré por sua vez, ouviram os relatos da velha senhora com toda a atenção.
Conforme a história era contada, os moços começaram a entender as motivações da mulher.
O por quê de levar a criança para longe de si.
De todas elas, percebeu o empenho em preservar a família, lutando pela sobrevivência de todos.
Por um momento, chegaram a acreditar que poderia ser uma sina.
Ficaram penalizados com as histórias de perda, com o sofrimento.
Diziam que era muita tristeza para uma mesma família.
Curiosos, chegaram a se perguntar se de fato havia uma maldição, e o que poderiam fazer para livrar o restante da família, da triste sina.
Ao voltarem para São Paulo, retomando suas atividades diárias, Vandré comprometeu-se em conversar com especialistas em cultura indígena.
Isto por que, gostaria de saber o que se pode fazer, quando uma suposta maldição é lançada sobre uma descendência.
Venâncio não mais debochava da ideia.
E assim Vandré, conversou com alguns especialistas.
De vários deles ouviu que segundo lendas indígenas, poderia se fazer rituais, ou utilizar amuletos, que segundo a crença dos nativos, protegiam contra os maus espíritos.
Vandré curioso, pedia detalhes, mais informações.
Chegou ao muiraquitã, mas descobriu inúmeros outros amuletos.
Cada qual com uma finalidade.
Venâncio, voltou a encontrar a noiva, que parecia aborrecida com a demora do moço em regressar para São Paulo.
Ester, dizia que havia demorado muito por lá.
O moço perguntou-lhe então, se havia melhorado da indisposição.
Ester respondeu-lhe que sim.
Quando o moço perguntou-lhe se havia ficado em casa, a moça respondeu que sim.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Foi uma busca demorada e trabalhosa.
Com efeito, a criança de nome Tarcísio, fora registrada em outra cidade, pois na época em que Dona Carolina era moça, o cartório não abrangia a circunscrição onde ficava a propriedade do Valongo.
Para chegarem neste ponto, os moços realizaram três idas em cartórios da região, inclusive da cidade onde estava localizada a fazenda.
Desanimados, sempre que se dirigiam aos cartórios e não encontravam informações, ficavam desapontados.
Um dia, conversando na venda que havia na vila próxima a fazenda, os moços comentaram entre si, como fariam, para descobrir o registro de uma pessoa nascida por volta do final dos anos quarenta e início dos anos cinqüentas.
Nisto, um frequentador da venda informou que naqueles tempos, os registros de nascimentos, quando eram feitos, eram realizados num cartório localizado em outro município.
Disse aquelas terras e toda a região fizera parte do município, sendo posteriormente desmembrado.
Desta forma, os rapazes agradeceram a informação, e no dia seguinte rumaram em direção ao cartório.
Lá, depois de uma certa peregrinação, finalmente descobriram onde estava localizado o registro de Tarcísio, filho de Carolina e Adroaldo.
Vandré, ao consultar o registro, ficou exultante.
Finalmente estava a encontrar vestígios da origem da família.
O moço solicitou ao funcionário, uma cópia do documento.
Dias depois, o moço regressou ao cartório, onde retirou a cópia solicitada do documento.
Em casa, na sede da fazenda, o moço guardou o documento com todo o cuidado.
Afinal, ninguém poderia desconfiar que estava investigando o paradeiro e a origem do homem.
Como já soubessem que o homem não havia sido criado na região do Valongo, Venâncio e Vandré, começaram a divagar sobre em que lugar o tal Tarcísio vivera, e onde estava sepultado.
Com isto, nos dias em que estiveram na fazenda, aproveitaram para conversar com as primas Lara e Antonia.
Falavam sobre as crianças, sobre a importância de se ter uma família.
Elogiaram os filhos das moças.
Lara e Antonia disseram que estavam vivendo em São Paulo, circunstância que motivou Vandré a convidá-las a visitar sua casa.
Argumentou que eram uma família, mas que conviviam muito pouco.
Venâncio respondeu que a correria do dia a dia afasta e priva as pessoas da convivência diária.
Lara e Antonia concordaram.
Eram moças e um pouco mais jovens que Venâncio, regulando a idade de Vandré.
Conversando com as jovens, os mesmos descobriram que as moças haviam se casado, mas os relacionamentos pouco duraram.
Ao ouvir isto, os moços curiosos, perguntaram da maldição imposta sobre a família.
Rindo, as moças comentaram que casamento era forma de falar, já que viveram em união estável, circunstância que se equipara a um casamento.
Curioso, Venâncio perguntou-lhes se não tiveram nenhum interesse em se casar.
Lara respondeu-lhe que não.
Argumentou que o que fazia a união de um casal não era um pedaço de papel, e sim a confiança, e o amor existente entre eles.
Vandré concordou.
Venâncio brincando, respondeu que agora entendia por que o irmão não havia se casado.
Vandré então rindo, pediu ao irmão para que se calasse.
Em dado momento da conversa, Venâncio falou às moças, em tom de brincadeira, que já sabia por que não haviam se casado no civil.
Curiosas, as moças perguntaram por que.
E Venâncio respondeu:
- Por que estavam com medo da maldição!
As mulheres se entreolharam e começaram a rir.
Descontraídas, as mulheres chegaram a dizer que estavam fartas da história da maldição.
Da praga que uma velha maluca lançara sobre a família.
Antonia disse que isto só atingia quem realmente acreditava nestas besteiras.
Venâncio concordou.
Argumentou que por conta de uma bobagem, as mulheres de sua família, deixaram de lado a possibilidade de serem felizes.
Para ele, as histórias de insucessos amorosos e filhos varões que não vingaram, eram fruto de um tempo de grandes dificuldades, sem acesso a informação, e sem o mínimo acesso à condições básicas de saúde.
E que tal desinformação deu origem a lendas e a crendices.
Nisto Lara argumentou que as Carolinas acreditavam seriamente nisto.
Venâncio retrucou dizendo que adorava a mãe e a avó, mas que se tratavam de pessoas simples, e muito impressionáveis.
O jovem por seu turno, mudaria o seu modo de pensar.
Isto por que ainda quando estava no velho casarão, o jovem e parte da família, se depararam com um estranho, que surgira na cozinha da residência.
Era um homem idoso, cujo nome não foi declinado.
Estava agitado, andando de um lado para o outro.
Dizia querer falar com Josué.
Foi quando todos os que estavam na sala, se entreolharam, já bastante assustados com a visita inesperada.
Ninguém conseguia compreender o que estava acontecendo.
Nisto, o homem desapareceu.
Sumiu da mesma forma que entrou.
Sem deixar vestígios.
Vandré e Venâncio, que estavam na sala ao lado da mãe, e das primas, ficaram perplexos.
Nenhum dos empregados viu o homem entrando na casa e tampouco saindo.
Quando a velha senhora, Carolina, tomou conhecimento do ocorrido, ao ouvir nome Josué, lembrou ser este um dos nomes de um dos filhos da primeira Carolina.
O garoto morreu ainda em criança.
Intrigada, a mulher procurou se lembrar de alguém que vivia ou que vivera na região e que possuía o mesmo nome.
Por mais que se esforçasse, a mulher não conseguia se lembrar.
Dizia que sua memória já não era mais a mesma.
Sua filha por sua vez, dizia para a mãe descansar.
Visando tranquilizá-la, disse que fariam orações em memória a todos os antepassados, e também para que este homem encontrasse seu rumo, e que não viesse mais importuná-los. Nisto, recomendou para que os funcionários trancassem a porta da residência, mesmo durante o dia, observando que entrasse e quem saísse do casarão.
Os visitantes por seu turno, avisariam quando saíssem da casa, se iriam para algum lugar e quando voltariam.
Todos concordaram com a recomendação.
E precavidos, trataram de fazer as orações.
Chegaram a organizar um terço, onde toda a família se reuniu para rezar.
A mãe de Vandré e Venâncio, também mandou celebrar missas, na igreja que havia na vila.
Com isto, sempre que os convidados saíam da sede, avisavam.
Também informavam a hora aproximada em que voltariam.
Vandré e Venâncio continuaram com suas andanças pelos arrabaldes.
Continuaram as conversas com Lara e Antonia, na esperança de descobrir algo sobre a história de Tarcísio.
Mas as moças não comentavam sobre o assunto.
Parecia que não gostavam de falar sobre o pai.
Circunstância que os deixou bastante intrigados.
Afinal de contas, por que tanto segredo?
Conversando com a mãe, Vandré tentou trazer a baila a memória de Tarcísio.
Carolina rapidamente desconversou.
Em nova conversa com as moças, Lara e Antonia, comentaram que o pai era bastante ausente, e que não tinham muito a dizer a seu respeito.
Venâncio, percebendo que não lhes agradou o tema, resolveu mudar o rumo da conversa.
Gentil, perguntou das crianças, já que tudo parecia tão silencioso.
Lara e Antonia concordaram.
Preocupadas, foram atrás dos filhos, para verificar o que estava acontecendo.
Para variar, as crianças estavam na cozinha, a mexer nas panelas, nos tachos de cobre, e demais utensílios domésticos.
Sempre que viam algo que não conheciam, perguntavam o que era.
Djanira, já acostumada com o jeito das crianças, respondia com toda a paciência do mundo.
Quando Lara e Antonia apareceram na cozinha para ralhar com as crianças, a cozinheira respondeu-lhes que se todas as perguntas e todos os problemas do mundo fossem saber o que era um tacho de cobre, uma panela, uma escumadeira, tudo seria muito mais fácil.
Djanira, comentou que eles estavam apenas curiosos.
Mas recomendou que não era bom que permanecessem na cozinha, por não ser lugar de crianças curiosas.
Lara e Antonia concordaram com a cozinheira.
Razão pela qual retiraram as crianças de lá.
Levaram as crianças para o alpendre e disseram-lhe que tinham um imenso campo a frente para brincar, com a recomendação de que não poderia sair de suas vistas.
E assim,as crianças ganharam o mundo.
Brincaram de se esconder atrás das árvores.
Subiram em seu tronco, sentaram em suas raízes.
Olharam o céu e as nuvens, para dizer com o que se pareciam.
Lara e Antonia olhavam envaidecidas para os filhos.
Venâncio e Vandré observaram as crianças brincando.
Lembraram de seus tempos de criança.
Rindo, comentaram que se tivessem tanto espaço livre para brincar quando eram crianças, suas vidas provavelmente seriam bem diferentes.
Venâncio, argumentou que gostava da vida na cidade.
Dizia que seu escritório estava indo de vento em popa e que não tinha interesse de voltar ao campo.
Vandré, respondeu que sua vida acadêmica não lhe permitia viver no campo.
Com efeito, os rapazes e parte da família participou da festa organizada para Dona Carolina.
Forma como era tratada por todos.
Com o passar dos dias, conforme o estado de saúde da matriarca se agravava, os rapazes recomendaram a mãe que levassem a avó, para a capital, pois ali teria um melhor tratamento, recebendo acompanhamento médico.
Mas a matriarca se recusava a sair de sua fazenda.
A mulher falou com detalhes sobre a história de suas ancestrais.
Dizia possuir anotações, diários e relatos da vida de quase todas elas as mulheres da família. Venâncio e Vandré por sua vez, ouviram os relatos da velha senhora com toda a atenção.
Conforme a história era contada, os moços começaram a entender as motivações da mulher.
O por quê de levar a criança para longe de si.
De todas elas, percebeu o empenho em preservar a família, lutando pela sobrevivência de todos.
Por um momento, chegaram a acreditar que poderia ser uma sina.
Ficaram penalizados com as histórias de perda, com o sofrimento.
Diziam que era muita tristeza para uma mesma família.
Curiosos, chegaram a se perguntar se de fato havia uma maldição, e o que poderiam fazer para livrar o restante da família, da triste sina.
Ao voltarem para São Paulo, retomando suas atividades diárias, Vandré comprometeu-se em conversar com especialistas em cultura indígena.
Isto por que, gostaria de saber o que se pode fazer, quando uma suposta maldição é lançada sobre uma descendência.
Venâncio não mais debochava da ideia.
E assim Vandré, conversou com alguns especialistas.
De vários deles ouviu que segundo lendas indígenas, poderia se fazer rituais, ou utilizar amuletos, que segundo a crença dos nativos, protegiam contra os maus espíritos.
Vandré curioso, pedia detalhes, mais informações.
Chegou ao muiraquitã, mas descobriu inúmeros outros amuletos.
Cada qual com uma finalidade.
Venâncio, voltou a encontrar a noiva, que parecia aborrecida com a demora do moço em regressar para São Paulo.
Ester, dizia que havia demorado muito por lá.
O moço perguntou-lhe então, se havia melhorado da indisposição.
Ester respondeu-lhe que sim.
Quando o moço perguntou-lhe se havia ficado em casa, a moça respondeu que sim.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
VALONGO - CAPÍTULO 20 - VERSÃO OFICIAL
E a jovem Carolina, ali sentada a sombra da árvore, a ouvir as histórias de Adroaldo.
Pensava em quantas vezes sua avó Carolina, ficara a esperar por Olavo.
Quem sabe ali, próxima da árvore.
A árvore não ficava muito longe da sede da fazenda.
Mais tarde, o moço convidou a moça para dançar.
Ainda sob os olhares vigilantes de Rosália.
Adroaldo, com seus modos refinados, faziam Rosália recordar-se de Abelardo.
Com ele, Carolina teria uma filha de nome Carolina, e um menino de nome, Tarcísio.
Também ela não viera a se casar.
Permanecendo solteira.
Adroaldo, morrera cedo, após uma convivência de cerca de oito anos com a mulher.
Tarcísio, o filho mais velho, ainda apresentou problemas de saúde.
Os médicos diziam que o menino não sobreviveria.
Contudo, o menino resistiu.
Como não apresentasse melhoras, Carolina achou por bem levar o filho para longe dali.
Adroaldo então levou o menino para a casa dos pais.
E Carolina, ficou a cuidar da propriedade.
Adroaldo passou meses no lugar.
Voltou mais disposto.
Quando chegou nas terras paternas, aparentava cansaço e tristeza.
Carolina ao vê-lo tão bem disposto, perguntou se o filho havia melhorado.
Adroaldo respondeu-lhe que sim.
Com o tempo porém, de volta ao lugar, o menino voltou novamente a piorar, precisando ser novamente encaminhado para outras plagas.
Carolina então, percebendo que o menino ficava melhor longe dali, concordou que ele fosse criado em outro lugar.
A última vez em que o menino passou mais tempo na fazenda, teve seus problemas respiratórios agravados, e quase morreu afogado em um dos rios do lugar.
Ao perceber a vida de seu filho se esvaindo, sem que nada pudesse fazer, Carolina fez uma promessa de que, em Tarcísio sobrevivendo, mandaria o menino para longe, onde estudaria, e se formaria.
Carolina cumpriu a promessa.
Conforme o menino se recuperou do acidente, foi levado para a casa dos avós, sendo criado por eles.
Mais tarde a criança foi matriculada em um colégio interno, onde passou a receber visitas dos pais.
Tarcísio porém, nunca aceitou bem a separação, e a falta de convívio com os pais.
Mais tarde, Carolina deu luz a Carolina.
Com isto, cerca de dois anos mais tarde, Adroaldo faleceu dormindo.
Era jovem ainda, fato este que causou perplexidade em todos os moradores da região.
Carolina não veio a se casar com o moço, em razão do mesmo já ser casado em primeiras núpcias com uma jovem.
Segundo Adroaldo, o casamento se desfizera em virtude de erro de pessoa.
Dizia ter sido enganado, pois ao casar-se com a moça, não sabia que a mesma possuía sérios problemas de saúde.
Esmeralda padecia de problemas mentais.
Embora aparentasse sanidade mental, com intervalos de lucidez, possuía sérios distúrbios de comportamento.
Com o tempo se tornou agressiva, ameaçando inclusive a integridade física do marido.
Que, sem condições de continuar a conviver com a esposa, precisou interná-la em uma casa de saúde.
Desde então vinha tentando anular o casamento, em que pese a reprovação da família da moça, que entendia o gesto como falta de caridade e humanidade.
Adroaldo dizia que jamais desampararia a moça, em que pese ter sido enganado, mas argumentava ter o direito de retomar sua vida.
Nisto mostrou a Carolina, uma marca de faca, a qual disse ter sido feita por Esmeralda.
Quando Carolina soube disto, ficou furiosa.
Dizia que havia sido enganada.
Exigiu explicações.
Perguntou-lhe por que não lhe dissera nada sobre o impedimento.
Adroaldo disse-lhe que havia gostado dela, e que se contasse a verdade, provavelmente seria rechaçado por todos os membros de sua família.
Carolina argumentou que sua mãe Rosália jamais aceitaria seu envolvimento com um homem separado, cujo desenlace conjugal não havia sido desfeito pelas leis da igreja, encontrando-se impossibilitado de se casar.
De fato, Rosália resistiu a ideia.
Dizia que a filha estava louca.
Carolina dizia que nenhuma das mulheres da família casara.
Argumentou que quem chegou perto da possibilidade de casamento, não conseguiu realizar o intento.
Dizia que poderiam realizar uma cerimônia e que ninguém precisava saber que não era de fato, casada com Adroaldo.
Com isto, para provar que estava sendo sincero, o homem levou a jovem para a casa de repouso onde Esmeralda estava internada.
Pelos documentos mostrados, a moça, quando da internação, ainda era casada com Adroaldo.
Como era de se esperar, a moça, que não reconhecia mais ninguém, foi agressiva com o casal.
Carolina ficou penalizada ao ver Esmeralda sendo amarrada e sedada pelos enfermeiros.
Adroaldo então, retirou-se com Carolina, da sala.
Rosália então, ao perceber que não teria como impedir a união, pressentindo que a filha poderia fugir com o moço, acabou por aceitar o relacionamento.
Preparou uma cerimônia religiosa.
Conversando com o padre, prometeu auxiliá-lo com doações, em troca do sigilo da cerimônia.
O homem concordou com a proposta.
Carolina vestia um bonito vestido branco.
Adroaldo usava um fraque.
Carolina guardava fotos do evento.
As poucas fotografias tiradas com um fotografo.
Lembrar fazia amenizar a saudade.
Pois como sua mãe e sua avó fizeram, bem como todas as outras mulheres que as antecederam, todas ficaram sozinhas no mundo a cuidar de seus filhos.
Carolina sua filha, também se envolveu com um forasteiro.
Grávida, a jovem se mudou para São Paulo.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Pensava em quantas vezes sua avó Carolina, ficara a esperar por Olavo.
Quem sabe ali, próxima da árvore.
A árvore não ficava muito longe da sede da fazenda.
Mais tarde, o moço convidou a moça para dançar.
Ainda sob os olhares vigilantes de Rosália.
Adroaldo, com seus modos refinados, faziam Rosália recordar-se de Abelardo.
Com ele, Carolina teria uma filha de nome Carolina, e um menino de nome, Tarcísio.
Também ela não viera a se casar.
Permanecendo solteira.
Adroaldo, morrera cedo, após uma convivência de cerca de oito anos com a mulher.
Tarcísio, o filho mais velho, ainda apresentou problemas de saúde.
Os médicos diziam que o menino não sobreviveria.
Contudo, o menino resistiu.
Como não apresentasse melhoras, Carolina achou por bem levar o filho para longe dali.
Adroaldo então levou o menino para a casa dos pais.
E Carolina, ficou a cuidar da propriedade.
Adroaldo passou meses no lugar.
Voltou mais disposto.
Quando chegou nas terras paternas, aparentava cansaço e tristeza.
Carolina ao vê-lo tão bem disposto, perguntou se o filho havia melhorado.
Adroaldo respondeu-lhe que sim.
Com o tempo porém, de volta ao lugar, o menino voltou novamente a piorar, precisando ser novamente encaminhado para outras plagas.
Carolina então, percebendo que o menino ficava melhor longe dali, concordou que ele fosse criado em outro lugar.
A última vez em que o menino passou mais tempo na fazenda, teve seus problemas respiratórios agravados, e quase morreu afogado em um dos rios do lugar.
Ao perceber a vida de seu filho se esvaindo, sem que nada pudesse fazer, Carolina fez uma promessa de que, em Tarcísio sobrevivendo, mandaria o menino para longe, onde estudaria, e se formaria.
Carolina cumpriu a promessa.
Conforme o menino se recuperou do acidente, foi levado para a casa dos avós, sendo criado por eles.
Mais tarde a criança foi matriculada em um colégio interno, onde passou a receber visitas dos pais.
Tarcísio porém, nunca aceitou bem a separação, e a falta de convívio com os pais.
Mais tarde, Carolina deu luz a Carolina.
Com isto, cerca de dois anos mais tarde, Adroaldo faleceu dormindo.
Era jovem ainda, fato este que causou perplexidade em todos os moradores da região.
Carolina não veio a se casar com o moço, em razão do mesmo já ser casado em primeiras núpcias com uma jovem.
Segundo Adroaldo, o casamento se desfizera em virtude de erro de pessoa.
Dizia ter sido enganado, pois ao casar-se com a moça, não sabia que a mesma possuía sérios problemas de saúde.
Esmeralda padecia de problemas mentais.
Embora aparentasse sanidade mental, com intervalos de lucidez, possuía sérios distúrbios de comportamento.
Com o tempo se tornou agressiva, ameaçando inclusive a integridade física do marido.
Que, sem condições de continuar a conviver com a esposa, precisou interná-la em uma casa de saúde.
Desde então vinha tentando anular o casamento, em que pese a reprovação da família da moça, que entendia o gesto como falta de caridade e humanidade.
Adroaldo dizia que jamais desampararia a moça, em que pese ter sido enganado, mas argumentava ter o direito de retomar sua vida.
Nisto mostrou a Carolina, uma marca de faca, a qual disse ter sido feita por Esmeralda.
Quando Carolina soube disto, ficou furiosa.
Dizia que havia sido enganada.
Exigiu explicações.
Perguntou-lhe por que não lhe dissera nada sobre o impedimento.
Adroaldo disse-lhe que havia gostado dela, e que se contasse a verdade, provavelmente seria rechaçado por todos os membros de sua família.
Carolina argumentou que sua mãe Rosália jamais aceitaria seu envolvimento com um homem separado, cujo desenlace conjugal não havia sido desfeito pelas leis da igreja, encontrando-se impossibilitado de se casar.
De fato, Rosália resistiu a ideia.
Dizia que a filha estava louca.
Carolina dizia que nenhuma das mulheres da família casara.
Argumentou que quem chegou perto da possibilidade de casamento, não conseguiu realizar o intento.
Dizia que poderiam realizar uma cerimônia e que ninguém precisava saber que não era de fato, casada com Adroaldo.
Com isto, para provar que estava sendo sincero, o homem levou a jovem para a casa de repouso onde Esmeralda estava internada.
Pelos documentos mostrados, a moça, quando da internação, ainda era casada com Adroaldo.
Como era de se esperar, a moça, que não reconhecia mais ninguém, foi agressiva com o casal.
Carolina ficou penalizada ao ver Esmeralda sendo amarrada e sedada pelos enfermeiros.
Adroaldo então, retirou-se com Carolina, da sala.
Rosália então, ao perceber que não teria como impedir a união, pressentindo que a filha poderia fugir com o moço, acabou por aceitar o relacionamento.
Preparou uma cerimônia religiosa.
Conversando com o padre, prometeu auxiliá-lo com doações, em troca do sigilo da cerimônia.
O homem concordou com a proposta.
Carolina vestia um bonito vestido branco.
Adroaldo usava um fraque.
Carolina guardava fotos do evento.
As poucas fotografias tiradas com um fotografo.
Lembrar fazia amenizar a saudade.
Pois como sua mãe e sua avó fizeram, bem como todas as outras mulheres que as antecederam, todas ficaram sozinhas no mundo a cuidar de seus filhos.
Carolina sua filha, também se envolveu com um forasteiro.
Grávida, a jovem se mudou para São Paulo.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
terça-feira, 25 de fevereiro de 2020
VALONGO - CAPÍTULO 19 - VERSÃO OFICIAL
E assim, Rosália tornou-se mãe de Carolina.
E Carolina, a matriarca da família conheceu seu Adroaldo, em uma festa organizada na fazenda. Criança nascida na década de trinta.
Ao tornar-se adulta, conheceu Adroaldo.
Era um rapaz elegante de modos refinados.
Ele foi apresentado a moça, por parentes.
Conversaram sobre amenidades, sob os olhares atentos e vigilantes de Rosália, que a todo momento observava o casal.
Carolina ria das palavras do rapaz.
Adroaldo, apoiado em um dos galhos da árvore em que a moça estava sentada, contava peripécias sobre os tempos em que passou em São Paulo estudando, e de sua falta de habilidade para a vida no campo.
Comentou rindo que não tinha jeito com os animais, e que ao tentar montar um cavalo, quase caiu de cara no chão.
Rosália gostou do entrosamento dos dois, mas recomendou ao rapaz, quando o mesmo convidou a filha para se sentar a sombra de uma árvore, que se comportasse.
O moço cavalheiresco assentiu, com a cabeça concordando.
Carolina gostava do céu azul daqueles dias, as nuvens brancas e o sol claro.
Gostava das árvores e das flores.
E como tinha flores naquele lugar.
Com relação a isto, sua avó Carolina, costumava dizer que nas terras de sua família, não haviam tantas flores.
Lá o clima era frio, e o vento cortante.
Sua avó, costumava dizer que as hortênsias e as camélias enfeitavam os caminhos da fazenda.
Além de algumas árvores.
Também havia rosas, mas só floriam em tempos ensolarados.
Boa parte do tempo só tinham a companhia das araucárias que faziam parte do cenário.
E as árvores.
Uma delas morta e cheia de buracos, provavelmente de balas.
Dizia que caixões foram feitos com aquelas madeiras, onde foram sepultados seus ancestrais.
Sua avó Carolina, ainda costumava dizer que o grande Abaeté fora sepultado em um desses caixões e enterrado nas terras da fazenda.
Também costumava dizer que em criança, gostava de brincar perto das árvores.
E gostava de se relembrar de Olavo, dos tempos difíceis para formar a fazenda.
Sozinhos e com tudo por fazer, e dos tempos em que o homem foi convocado pelo exército.
Mais tarde, a neta saberia que o avô participou de um dos movimentos mais importantes da história do país.
Carolina dizia a avó, que era uma história triste e muito bonita.
A avó da jovem por sua vez, dizia que Olavo morrera, lutando por algo que nem ele conseguia entender direito o que era.
Por diversas vezes a mulher mostrava as cartas que o moço lhe escrevera.
Carolina – a avó, dizia – que com o tempo, passou a ter criadas, e que a exemplo da primeira Carolina, que não possuía escravos, e procurou cercar-se de pessoas de confiança.
Dizia que vendeu as terras que possuía no sul, juntamente com suas primas.
Nunca mais regressou a terra onde nascera.
Sua avó, gostava de falar da primeira Carolina, a matriarca.
De vez em quando, Carolina, gostava de mostrar uma canastra cheia de fotos e recordações dos familiares.
Documentos que vieram para suas mãos após se estabelecer no Valongo.
Vieram em carroças, assim como a mobília, que guarnecia a propriedade onde vivera a mãe e todos os seus ancestrais.
Foi assim, que mobiliou a sede da fazenda, e animada, resolveu ampliar a construção.
Após a morte de Olavo, descobriu um único objetivo na vida.
A filha Rosália, e para ela, investiu em melhorias na propriedade.
Planejava um bom casamento para a filha.
Mas um acidente interrompeu seus planos.
Abelardo foi atropelado pelo automóvel de um forasteiro.
Naquelas terras tranquilas, como imaginar que alguém viria a toda velocidade possível com um veículo?
Abelardo seguia a pé, e foi surpreendido por um automóvel.
Quando Rosália tomou conhecimento do fato, estava sentava no alpendre do casarão, bordando.
Ao avistar o capataz da fazenda, percebendo seu olhar de pesar, perguntou-lhe o que havia acontecido.
O homem então, com muita dificuldade, finalmente conseguiu revelar que seu noivo estava morto a beira da estrada.
Por um momento, a moça custou a acreditar no que ouvia.
Parecia que estava a fazer chistes com ela.
Mas ao olhar novamente para o funcionário, empalideceu.
Caiu no sofá.
O homem, aflito, ao ver a moça desfalecida, entrou no casarão, buscando alguém para amparar a moça.
Gritava que Dona Rosália estava passando mal.
Pedia ajuda.
Quando Carolina – sua mãe – tomou conhecimento da história, ficou perplexa.
Chegou a gritar com o homem, que não se podia brincar com algo tão sério.
Como Rosendo insistisse em dizer que o corpo se encontrava inerte na estrada, Carolina finalmente deu-se conta da gravidade dos fatos.
Ao perceber que sua filha estava sofrendo, Carolina tratou de partir ao seu encontro.
Mas para o pasmo de ambos, Rosália havia sumido.
Nervosa, Carolina comentou que a filha não poderia estar longe.
Temendo que a moça tivesse se dirigido a estrada, Carolina pediu ao homem que preparasse um cavalo.
Foi quando Rosendo percebeu, que haviam pego seu cavalo.
Carolina concluiu que fora a filha, e exigiu que se apressasse, pois tentaria impedir a filha de ver o corpo do moço.
Nisto, a mulher montou no cavalo e seguiu atrás da filha.
Leal, Rosendo a acompanhou.
Seguiram a cavalo até a estrada.
Nem sinal de Rosália.
Somente conseguiram encontrar a moça, quando a mesma apeara do animal que a conduzira.
Estava próxima de um pequeno grupo, que observava o corpo exposto.
Rosália então foi se aproximando e pediu licença a todos.
Os olhos estavam banhados em lágrimas.
Quando finalmente se aproximou, viu o rosto de Abelardo virado para o chão de terra.
Havia muita poeira no lugar.
Com as mãos trêmulas, tocou no terno alinhado e sujo de terra, e virou o corpo.
Ao ver o rosto do noivo, soltou o corpo inerte.
Gritou horrorizada e foi se afastando.
Quando finalmente Carolina avistou a filha, já era tarde.
Pois, a moça já havia visto o corpo.
Rosália ao ver o capataz, se aproximou e apoiando-se no homem, foi erguida.
Estava no chão.
Enquanto era erguia do solo, a moça começou a chorar.
Soluçava.
Carolina então, segurou a filha.
Rosália se desesperou.
Gritava que Abelardo havia morrido.
Nisto, percebendo que todos os observavam, recomendou que o capataz levasse a filha de volta para a fazenda.
Rosendo a amparou, fazendo com que subisse no cavalo.
Em seguida o homem também montou em seu cavalo.
Partiram.
Antes de partir, porém, a mulher perguntou se os parentes do moço foram avisados.
Rosendo disse que havia pedido a um funcionário da fazenda, para avisar os pais do moço.
Carolina recomendou ao homem, para que levasse a filha para a fazenda.
Exigiu que a moça não saísse de lá.
Com isto, ficou a esperar por alguém.
Afinal de contas, precisava levar o corpo para a fazenda.
E assim, foi questão de minutos para que alguém chegasse.
Carolina acompanhou o transporte do corpo até a fazenda vizinha.
Ajudou a confortar a mãe do jovem.
Dona Lisete estava inconsolável.
Carolina acompanhou o velório até tarde.
Ao chegar em sua fazenda, tratou logo de verificar com a filha estava.
Rosália dormia profundamente.
As criadas disseram que ao chegar na fazenda, a moça resistiu a ideia de ficar recolhida.
Queria muito se dirigir a fazenda e velar o corpo.
Disseram que não fosse a intervenção de Rosendo, e a moça teria ido mesmo sem autorização, para a fazenda vizinha.
O homem porém, se interpôs entre ela e a porta, e dizendo que sem a autorização de Dona Carolina, ninguém sairia dali, enfrentou a moça, que a todo o momento lhe dizia que ele era apenas um empregado da fazenda e não tinha o direito de lhe dar ordens.
Rosendo porém, não se deixou intimidar.
E Rosália vencida, fez menção de subir as escadas.
Como o homem não saísse de perto da porta, Rosália acabou desistindo.
Revoltada dizia que eles não tinham o direito de fazer isto com ela.
Aflita, chegou a dizer que estava perdida.
Nisto, subiu correndo as escadas.
Trancou-se em seu quarto.
Rosendo, ao ser chamado para verificar a tranca, avisou que se a moça não abrisse a porta, a colocaria abaixo.
Rosália, ao perceber que o homem não estava brincando, abriu-a.
As criadas então, deixaram um prato com comida em cima de um móvel.
Como a moça dissesse não ter fome, insistiram para que tomasse um chá.
Rosália tomou a bebida, e pouco tempo depois, adormeceu.
A mulher então agradeceu as informações e se dirigiu ao quarto da filha.
Carolina ao ver Rosália deitada, ficou penalizada.
Desalentada, pensou nos planos de casamento.
A vida a dois.
Tudo acabado.
A certa altura, precisou sentar-se para não cair.
Lembrou-se da história da praga lançada sobre a família.
Aturdida, pensou se nunca iriam se livrar da maldição.
Pensava no por quê de tanta maldade.
Tanta desdita, tanta desgraça.
Desolada, Carolina chegou a se lamentar.
Afinal tanto esforço para bem criar sua filha.
Ensinou-lhe a ler, escrever, bem como as prendas domésticas.
Criou-a como se fora uma princesa, apenas para que pudesse ter uma vida normal como as moças do lugar.
Para se casar e ter uma família.
Triste chegou a balbuciar:
- Porque conosco? Somos tão ruins assim?
Este pensamento a fez ter vontade de chorar, mas ao olhar a filha adormecida, percebeu que não podia fraquejar.
Sua filha precisava de sua força.
Mais tarde, mãe e filha seguiram para o fim do velório e enterro do moço.
Ao ver o corpo sendo velado em cima de uma mesa, com um terno alinhado, os olhos de Rosália encheram-se de lágrimas.
Ao aproximar-se do corpo, chorou sentida, e a mãe percebendo que todos olhavam penalizados, resolveu retirar a filha da sala.
Lisete providenciou água.
Também tinha os olhos inchados de tanto chorar.
Abraçou a moça e a consolou.
Por fim, o jovem foi enterrado na fazenda.
Rosália em prantos, deixou flores no túmulo do moço.
Voltaram para casa.
Nos dias que se seguiram, a moça passava boa parte do tempo dormindo.
Dormia para esquecer os problemas, a dor, o sofrimento.
A certa altura porém, precisou retomar sua rotina.
Mas Rosália já não era mais a mesma.
Sempre que podia, ia visitar o túmulo de Abelardo na fazenda.
Estava quase sempre alheia a tudo.
Às vezes também, ficava tão entretida em suas tarefas, que não percebia nada do que acontecia a sua volta.
Sentia-se muito só.
Não tinha vontade de conversar com as pessoas.
Somente as cumprimentava e se isolava.
Tal comportamento fez com que Carolina sua mãe, ralhasse com ela.
Dizia que nenhum sofrimento justificava a descortesia e a falta de consideração.
Rosália porém, não queria saber de nada.
Não prestava atenção no que sua mãe dizia.
Rosália contudo, ao notar que suas regras estavam atrasadas, desesperou-se.
Aflita pensou que se estivesse grávida, não teria como esconder o fato por muito tempo.
Carolina por seu turno, passou também a desconfiar.
Em dado momento, sem poder mais esconder o fato, Rosália contou a Carolina, o que estava acontecendo.
A mulher ficou furiosa.
Rosália, temerosa, pensou em arrumar uma trouxa e sair de casa.
Quando Carolina soube do intento da moça, passou-lhe uma admoestação.
Argumentou que aquela era uma ideia tola.
Perguntou-lhe onde ficaria até a criança nascer, e como faria para sobreviver sozinha e com um filho no ventre.
Mencionou que ela estaria perdida se resolvesse sair pelo mundo.
Falou-lhe que não agira de modo diferente de todas as que a antecederam, e todas encontraram uma forma digna de sobreviver ao fato, levando uma vida honrada.
Argumentou que se fugisse, aí sim estaria perdida para sempre, pois desonraria o nome de toda a família.
Ao ouvir as palavras da mãe, a moça se aquietou.
Com efeito, a criança foi registrada como se fora filha legítima.
Dona Lisete e o marido, ampararam a moça, auxiliando-a na criação de Carolina.
Chegaram a oferecer dinheiro, mas a avó da criança recusou.
Dizia que se quisessem ajudar, que se fizessem sempre presentes, legitimando a origem da criança.
Prestativos, o casal ofereceu a fazenda como moradia da moça.
Carolina por seu turno, interveio dizendo que filha sua, ficaria em sua casa, e que sua neta, também.
Circunstância que gerou um certo mal estar, não fosse a intervenção de Agnaldo dizendo que a moça estava vivendo uma situação complicada, e que precisava do amparo da mãe.
Contrariada, a mulher acabou acatando as palavras do marido.
Mas sempre que podia, convidava a moça para viver em sua fazenda.
Carolina a matriarca da família, costumava dizer que as portas de sua casa estavam sempre abertas aos amigos, e que eles na qualidade de avós, poderiam visitar a criança, sempre que pudessem e que quisessem.
Mas para Lisete, isto não era o bastante.
Queria por que queria, levar a moça e a criança para junto de si.
Mas a avó da criança não permitia.
Com o tempo a mulher ficou tristonha.
Carolina então, recomendou a filha que passasse alguns dias na fazenda de Dona Lisete.
Contudo, assim que a mulher melhorasse, Rosália e a criança deveriam regressar.
E assim, foram meses morando em casa de Lisete.
Conforme a mulher foi melhorando, foi tentando impôr seus costumes a mãe da criança.
Dizia a Rosália que não poderia pegar a criança de qualquer jeito, que precisava continuar amamentando a criança.
A criança a esta época já tinha quase dois anos, não precisava mais ser amamentada, e Lisete palpitando em tudo.
Rosália não sabia mais o que fazer.
A certa altura arrumou seus pertences e os da filha e comunicou a Lisete e Agnaldo que voltaria para casa.
A mulher tentou argumentar que precisava da companhia da neta, mas Rosália, com toda a brandura, disse-lhe que já estava incomodando, e que não era certo ficar tanto tempo em uma casa que não era sua.
Como Lisete insistisse para que a moça se sentisse em casa, Rosália argumentou que sentia falta de casa, e que se não voltasse logo para sua residência, seria ela quem acabaria adoecendo.
Abelardo, percebendo que não teria como reter a moça por mais tempo, desejou-lhe um bom regresso.
Disse-lhe que dali há alguns dias, iria visitá-la.
Rosália então, foi acompanhada por Agnaldo.
Ao chegarem no casarão, mãe e filha, foram recebidas com festa.
Dona Carolina gostava de mimar a neta.
Dizia que a criança trouxera alegria para a casa.
Certa vez, chegou a dizer que fora a melhor coisa que aconteceu na vida de Rosália.
Rosendo certo dia, enquanto a criança brincava no descampado, observando atenta o movimento dos animais, aproximou-se de Rosália, e tímido começou a dizer que Carolina era uma criança muito bonita e esperta.
Rosália ficou surpresa e agradecida com os elogios.
Rosendo então, enchendo-se de coragem, mencionou que admirava sua coragem em prosseguir a vida, em cuidar da filha.
Comentou que admirava Dona Carolina, por ter construído aquilo tudo praticamente sozinha.
Rosália a certa altura, perguntou ao homem, o que ele estava tentando dizer com tantos elogios.
Sem graça, o homem, chegou a dizer que a admirava, e que águas passadas não moviam moinhos.
Em dado momento, enchendo-se de coragem, o homem comentou a achava muito sozinha.
Disse-lhe que merecia ser feliz.
Em seguida, perguntou-lhe se não tinha interesse em se casar.
Rosália ficou surpresa com a pergunta.
Pensando nas palavras do moço, perguntou-lhe se não tinha medo da maldição.
Rosendo perguntou-lhe de que maldição estava falando.
A moça contou-lhe então, que nenhum relacionamento com as mulheres da família perdurava. Mencionou o curto casamento da mãe, e a interrupção de seu noivado.
Rosendo argumentou dizendo que tudo não passava de uma grande bobagem.
Rosália contudo, não estava interessada em casar-se.
Quando Carolina foi informada pela moça, do pedido de Rosendo, a mulher perguntou-lhe se estava disposta a se casar com o capataz.
Rosália respondeu-lhe que não tinha interesse em ninguém.
A mulher argumentou que sendo ainda jovem, tinha todo o direito de se casar.
Mencionou que Rosendo era jovem ainda, forte, e que seria um bom companheiro para sua filha.
Rosália comentou sobre a maldição.
Mencionou que dissera algo para ele.
Foi o bastante para Carolina passar-lhe um sermão.
Disse-lhe que ninguém na região sabia da história, e que tudo deveria continuar como estava, ou haveria o risco de terem de abandonar tudo novamente, por conta da maledicência das pessoas.
Rosália ao ouvir isto, comentou que só contara o fato de haver enviuvado cedo, e de ter ficado por casar.
Ao ouvir isto, Carolina comentou:
- Menos mal! Mas seria melhor que não se mencionasse a maldição.
Rosália concordou.
Carolina então, passou a fazer recomendações a moça.
Dizia que Rosendo era de confiança, um ótimo partido.
Entre outras coisas.
Mas Rosália dizia não estar interessada.
Mesmo como o passar dos anos, continuava a visitar o túmulo de Abelardo.
Fato este que fez com que Carolina se enervasse com a filha.
Dizia-lhe que o homem estava morto.
Insistia para que o deixasse descansar, e que retomasse sua vida.
Rosália tentava argumentar, mas Carolina insistia em dizer que estava errada.
Argumentava que se tivesse encontrado um outro companheiro, certamente tentaria retomar sua vida.
Rosália, contudo, dizia que ninguém mais apareceu.
Carolina argumentou dizendo que a filha estava tendo uma boa oportunidade, e a estava desperdiçando.
Rosália a certa altura, prometeu que iria pensar no assunto.
Chegou a se pensar em noivado.
Até jantar foi preparado.
O moço vestia um bonito terno.
O casal conversou sobre amenidades ao lado de Dona Carolina.
Quando Lisete soube disto, temeu que com um provável casamento, a criança seria afastada de seu convívio.
Agnaldo tentou convencer a mulher de que estava errada, em vão.
Com isto, a mulher passou a visitar a jovem em horas inapropriadas.
Circunstância que aborreceu Carolina e Agnaldo.
Dessarte, sempre que se encontrava com Rosendo, dizia que Rosália era uma boa moça, e que seria sempre fiel a seu filho, nunca colocando outra pessoa em seu lugar.
Isto aborreceu demasiadamente o homem.
Dona Lisete não perdia a oportunidade de dizer que a moça continuava a visitar o túmulo do filho.
Chegou até a dizer-lhe que verificasse isto com os próprios olhos.
Rosendo, ao ver a moça levando flores para o túmulo, questionou o comportamento da moça.
Dizia-lhe que precisava esquecer o jovem.
Rosália retrucava dizendo que era o pai de sua filha, e sentia necessidade de levar flores a seu túmulo. E Rosendo procurou entender.
Com o passar do tempo, porém, esta circunstância passou a incomodar-lhe, fato este que gerou desentendimentos com a moça.
Rosália não admitia que o homem lhe dissesse o que fazer.
Mais tarde, o homem se envolveu em uma confusão, que resultou na morte de um peão de uma das fazendas da região.
Rosendo apontado como suspeito do crime, arrumou seus pertences.
Precisava fugir.
Como último gesto, foi até o casarão, onde atirou uma pedra na janela da moça.
Quando Rosália abriu a janela, perguntou-lhe o que fazia àquelas horas em frente a sua casa.
Rosendo explicou-lhe que precisava fugir, ou seria preso.
Rosália que já havia tomado conhecimento do fato, perguntou-lhe se havia matado o homem.
Rosendo respondeu-lhe que não.
Nisto a moça insistiu para que ficasse e provasse sua inocência.
Rosendo argumentou que não teria como provar que não cometera o crime, por estar passando no local, próximo do horário em que o crime ocorreu.
Disse que o lugar era deserto, e que não haviam testemunhas.
Nervoso, disse que se desentendeu com o peão, e que o ameaçou.
Afirmou porém, que não o matou.
Argumentou que jamais tiraria a vida de um cristão.
Rosália compreendeu sua aflição.
O capataz então, sugeriu que a moça seguisse com ele.
Pediu para que fizesse uma pequena trouxa com seus pertences, e o acompanhasse.
Rosália olhou-o com espanto.
Rosendo insistiu.
Argumentou que não podia se demorar.
A moça então, suspirando, respondeu-lhe que não poderia acompanhá-lo.
O homem então desceu do cavalo.
Rosália prosseguiu.
Disse que tinha uma filha para criar, e que não poderia abandoná-la.
Argumentou que a criança já não tinha um pai, e que não poderia ficar sem a mãe.
Rosendo, percebendo que a mulher não poderia fugir com ele, levando uma criança pequena, concordou.
Lamentou sua sorte, dizendo que estava deixando tudo para trás, por um destino incerto, e que não poderia condená-la a padecer junto com ele.
Triste, comentou que não sabia ao certo se conseguiria fugir, ou se não morreria no meio do caminho.
Ao constatar que poderia estar condenando a moça, a uma vida incerta ou mesmo a morte, compreendeu-a.
Triste, insistiu para que descesse, e o encontrasse na porta.
Dizia que precisava se despedir.
Apreensiva, a moça disse que não poderia fazê-lo, que não ficaria bem.
Rosendo disse que sabia do falatório das pessoas, mas se descesse sem fazer barulho, ninguém tomaria conhecimento do fato.
Nisto acrescentou que não sairia dali se ela não conversasse com ela.
Rosália então vestiu-se e desceu cautelosa, as escadas do casarão.
Ao chegar na sala, fez um pequeno esforço para abrir a porta, com a pesada chave que estava na maçaneta.
Rosendo a esperava de chapéu na mão.
Nisto o homem se aproximou e abraçou-a.
Disse-lhe que provavelmente nunca mais iriam se encontrar.
Lamentou a despedida.
Disse que gostava muito dela e que sentiria muito pesar por não poder levá-la junto de si.
Beijou-lhe o rosto e partiu.
Estava com os olhos banhados em lágrimas.
Rosália acompanhou o homem em seu cavalo, quando ainda fez um último gesto de despedida, até o homem sumir na escuridão da estrada.
Era noite.
Rosália ainda ficou por algum tempo apoiada nos balaustres do alpendre.
Embora não o amasse, sentiu sua partida.
E assim, a jovem ficou por casar.
Ocupou seu tempo em cuidar da filha e auxiliar na lida da fazenda.
A senhora Carolina, lembrava-se destes fatos, que faziam parte da história da família.
Contava a Vandré, Venâncio, Lara, Antonia, e aos demais convidados, a história de sua família. Prosseguiu o relato...
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
E Carolina, a matriarca da família conheceu seu Adroaldo, em uma festa organizada na fazenda. Criança nascida na década de trinta.
Ao tornar-se adulta, conheceu Adroaldo.
Era um rapaz elegante de modos refinados.
Ele foi apresentado a moça, por parentes.
Conversaram sobre amenidades, sob os olhares atentos e vigilantes de Rosália, que a todo momento observava o casal.
Carolina ria das palavras do rapaz.
Adroaldo, apoiado em um dos galhos da árvore em que a moça estava sentada, contava peripécias sobre os tempos em que passou em São Paulo estudando, e de sua falta de habilidade para a vida no campo.
Comentou rindo que não tinha jeito com os animais, e que ao tentar montar um cavalo, quase caiu de cara no chão.
Rosália gostou do entrosamento dos dois, mas recomendou ao rapaz, quando o mesmo convidou a filha para se sentar a sombra de uma árvore, que se comportasse.
O moço cavalheiresco assentiu, com a cabeça concordando.
Carolina gostava do céu azul daqueles dias, as nuvens brancas e o sol claro.
Gostava das árvores e das flores.
E como tinha flores naquele lugar.
Com relação a isto, sua avó Carolina, costumava dizer que nas terras de sua família, não haviam tantas flores.
Lá o clima era frio, e o vento cortante.
Sua avó, costumava dizer que as hortênsias e as camélias enfeitavam os caminhos da fazenda.
Além de algumas árvores.
Também havia rosas, mas só floriam em tempos ensolarados.
Boa parte do tempo só tinham a companhia das araucárias que faziam parte do cenário.
E as árvores.
Uma delas morta e cheia de buracos, provavelmente de balas.
Dizia que caixões foram feitos com aquelas madeiras, onde foram sepultados seus ancestrais.
Sua avó Carolina, ainda costumava dizer que o grande Abaeté fora sepultado em um desses caixões e enterrado nas terras da fazenda.
Também costumava dizer que em criança, gostava de brincar perto das árvores.
E gostava de se relembrar de Olavo, dos tempos difíceis para formar a fazenda.
Sozinhos e com tudo por fazer, e dos tempos em que o homem foi convocado pelo exército.
Mais tarde, a neta saberia que o avô participou de um dos movimentos mais importantes da história do país.
Carolina dizia a avó, que era uma história triste e muito bonita.
A avó da jovem por sua vez, dizia que Olavo morrera, lutando por algo que nem ele conseguia entender direito o que era.
Por diversas vezes a mulher mostrava as cartas que o moço lhe escrevera.
Carolina – a avó, dizia – que com o tempo, passou a ter criadas, e que a exemplo da primeira Carolina, que não possuía escravos, e procurou cercar-se de pessoas de confiança.
Dizia que vendeu as terras que possuía no sul, juntamente com suas primas.
Nunca mais regressou a terra onde nascera.
Sua avó, gostava de falar da primeira Carolina, a matriarca.
De vez em quando, Carolina, gostava de mostrar uma canastra cheia de fotos e recordações dos familiares.
Documentos que vieram para suas mãos após se estabelecer no Valongo.
Vieram em carroças, assim como a mobília, que guarnecia a propriedade onde vivera a mãe e todos os seus ancestrais.
Foi assim, que mobiliou a sede da fazenda, e animada, resolveu ampliar a construção.
Após a morte de Olavo, descobriu um único objetivo na vida.
A filha Rosália, e para ela, investiu em melhorias na propriedade.
Planejava um bom casamento para a filha.
Mas um acidente interrompeu seus planos.
Abelardo foi atropelado pelo automóvel de um forasteiro.
Naquelas terras tranquilas, como imaginar que alguém viria a toda velocidade possível com um veículo?
Abelardo seguia a pé, e foi surpreendido por um automóvel.
Quando Rosália tomou conhecimento do fato, estava sentava no alpendre do casarão, bordando.
Ao avistar o capataz da fazenda, percebendo seu olhar de pesar, perguntou-lhe o que havia acontecido.
O homem então, com muita dificuldade, finalmente conseguiu revelar que seu noivo estava morto a beira da estrada.
Por um momento, a moça custou a acreditar no que ouvia.
Parecia que estava a fazer chistes com ela.
Mas ao olhar novamente para o funcionário, empalideceu.
Caiu no sofá.
O homem, aflito, ao ver a moça desfalecida, entrou no casarão, buscando alguém para amparar a moça.
Gritava que Dona Rosália estava passando mal.
Pedia ajuda.
Quando Carolina – sua mãe – tomou conhecimento da história, ficou perplexa.
Chegou a gritar com o homem, que não se podia brincar com algo tão sério.
Como Rosendo insistisse em dizer que o corpo se encontrava inerte na estrada, Carolina finalmente deu-se conta da gravidade dos fatos.
Ao perceber que sua filha estava sofrendo, Carolina tratou de partir ao seu encontro.
Mas para o pasmo de ambos, Rosália havia sumido.
Nervosa, Carolina comentou que a filha não poderia estar longe.
Temendo que a moça tivesse se dirigido a estrada, Carolina pediu ao homem que preparasse um cavalo.
Foi quando Rosendo percebeu, que haviam pego seu cavalo.
Carolina concluiu que fora a filha, e exigiu que se apressasse, pois tentaria impedir a filha de ver o corpo do moço.
Nisto, a mulher montou no cavalo e seguiu atrás da filha.
Leal, Rosendo a acompanhou.
Seguiram a cavalo até a estrada.
Nem sinal de Rosália.
Somente conseguiram encontrar a moça, quando a mesma apeara do animal que a conduzira.
Estava próxima de um pequeno grupo, que observava o corpo exposto.
Rosália então foi se aproximando e pediu licença a todos.
Os olhos estavam banhados em lágrimas.
Quando finalmente se aproximou, viu o rosto de Abelardo virado para o chão de terra.
Havia muita poeira no lugar.
Com as mãos trêmulas, tocou no terno alinhado e sujo de terra, e virou o corpo.
Ao ver o rosto do noivo, soltou o corpo inerte.
Gritou horrorizada e foi se afastando.
Quando finalmente Carolina avistou a filha, já era tarde.
Pois, a moça já havia visto o corpo.
Rosália ao ver o capataz, se aproximou e apoiando-se no homem, foi erguida.
Estava no chão.
Enquanto era erguia do solo, a moça começou a chorar.
Soluçava.
Carolina então, segurou a filha.
Rosália se desesperou.
Gritava que Abelardo havia morrido.
Nisto, percebendo que todos os observavam, recomendou que o capataz levasse a filha de volta para a fazenda.
Rosendo a amparou, fazendo com que subisse no cavalo.
Em seguida o homem também montou em seu cavalo.
Partiram.
Antes de partir, porém, a mulher perguntou se os parentes do moço foram avisados.
Rosendo disse que havia pedido a um funcionário da fazenda, para avisar os pais do moço.
Carolina recomendou ao homem, para que levasse a filha para a fazenda.
Exigiu que a moça não saísse de lá.
Com isto, ficou a esperar por alguém.
Afinal de contas, precisava levar o corpo para a fazenda.
E assim, foi questão de minutos para que alguém chegasse.
Carolina acompanhou o transporte do corpo até a fazenda vizinha.
Ajudou a confortar a mãe do jovem.
Dona Lisete estava inconsolável.
Carolina acompanhou o velório até tarde.
Ao chegar em sua fazenda, tratou logo de verificar com a filha estava.
Rosália dormia profundamente.
As criadas disseram que ao chegar na fazenda, a moça resistiu a ideia de ficar recolhida.
Queria muito se dirigir a fazenda e velar o corpo.
Disseram que não fosse a intervenção de Rosendo, e a moça teria ido mesmo sem autorização, para a fazenda vizinha.
O homem porém, se interpôs entre ela e a porta, e dizendo que sem a autorização de Dona Carolina, ninguém sairia dali, enfrentou a moça, que a todo o momento lhe dizia que ele era apenas um empregado da fazenda e não tinha o direito de lhe dar ordens.
Rosendo porém, não se deixou intimidar.
E Rosália vencida, fez menção de subir as escadas.
Como o homem não saísse de perto da porta, Rosália acabou desistindo.
Revoltada dizia que eles não tinham o direito de fazer isto com ela.
Aflita, chegou a dizer que estava perdida.
Nisto, subiu correndo as escadas.
Trancou-se em seu quarto.
Rosendo, ao ser chamado para verificar a tranca, avisou que se a moça não abrisse a porta, a colocaria abaixo.
Rosália, ao perceber que o homem não estava brincando, abriu-a.
As criadas então, deixaram um prato com comida em cima de um móvel.
Como a moça dissesse não ter fome, insistiram para que tomasse um chá.
Rosália tomou a bebida, e pouco tempo depois, adormeceu.
A mulher então agradeceu as informações e se dirigiu ao quarto da filha.
Carolina ao ver Rosália deitada, ficou penalizada.
Desalentada, pensou nos planos de casamento.
A vida a dois.
Tudo acabado.
A certa altura, precisou sentar-se para não cair.
Lembrou-se da história da praga lançada sobre a família.
Aturdida, pensou se nunca iriam se livrar da maldição.
Pensava no por quê de tanta maldade.
Tanta desdita, tanta desgraça.
Desolada, Carolina chegou a se lamentar.
Afinal tanto esforço para bem criar sua filha.
Ensinou-lhe a ler, escrever, bem como as prendas domésticas.
Criou-a como se fora uma princesa, apenas para que pudesse ter uma vida normal como as moças do lugar.
Para se casar e ter uma família.
Triste chegou a balbuciar:
- Porque conosco? Somos tão ruins assim?
Este pensamento a fez ter vontade de chorar, mas ao olhar a filha adormecida, percebeu que não podia fraquejar.
Sua filha precisava de sua força.
Mais tarde, mãe e filha seguiram para o fim do velório e enterro do moço.
Ao ver o corpo sendo velado em cima de uma mesa, com um terno alinhado, os olhos de Rosália encheram-se de lágrimas.
Ao aproximar-se do corpo, chorou sentida, e a mãe percebendo que todos olhavam penalizados, resolveu retirar a filha da sala.
Lisete providenciou água.
Também tinha os olhos inchados de tanto chorar.
Abraçou a moça e a consolou.
Por fim, o jovem foi enterrado na fazenda.
Rosália em prantos, deixou flores no túmulo do moço.
Voltaram para casa.
Nos dias que se seguiram, a moça passava boa parte do tempo dormindo.
Dormia para esquecer os problemas, a dor, o sofrimento.
A certa altura porém, precisou retomar sua rotina.
Mas Rosália já não era mais a mesma.
Sempre que podia, ia visitar o túmulo de Abelardo na fazenda.
Estava quase sempre alheia a tudo.
Às vezes também, ficava tão entretida em suas tarefas, que não percebia nada do que acontecia a sua volta.
Sentia-se muito só.
Não tinha vontade de conversar com as pessoas.
Somente as cumprimentava e se isolava.
Tal comportamento fez com que Carolina sua mãe, ralhasse com ela.
Dizia que nenhum sofrimento justificava a descortesia e a falta de consideração.
Rosália porém, não queria saber de nada.
Não prestava atenção no que sua mãe dizia.
Rosália contudo, ao notar que suas regras estavam atrasadas, desesperou-se.
Aflita pensou que se estivesse grávida, não teria como esconder o fato por muito tempo.
Carolina por seu turno, passou também a desconfiar.
Em dado momento, sem poder mais esconder o fato, Rosália contou a Carolina, o que estava acontecendo.
A mulher ficou furiosa.
Rosália, temerosa, pensou em arrumar uma trouxa e sair de casa.
Quando Carolina soube do intento da moça, passou-lhe uma admoestação.
Argumentou que aquela era uma ideia tola.
Perguntou-lhe onde ficaria até a criança nascer, e como faria para sobreviver sozinha e com um filho no ventre.
Mencionou que ela estaria perdida se resolvesse sair pelo mundo.
Falou-lhe que não agira de modo diferente de todas as que a antecederam, e todas encontraram uma forma digna de sobreviver ao fato, levando uma vida honrada.
Argumentou que se fugisse, aí sim estaria perdida para sempre, pois desonraria o nome de toda a família.
Ao ouvir as palavras da mãe, a moça se aquietou.
Com efeito, a criança foi registrada como se fora filha legítima.
Dona Lisete e o marido, ampararam a moça, auxiliando-a na criação de Carolina.
Chegaram a oferecer dinheiro, mas a avó da criança recusou.
Dizia que se quisessem ajudar, que se fizessem sempre presentes, legitimando a origem da criança.
Prestativos, o casal ofereceu a fazenda como moradia da moça.
Carolina por seu turno, interveio dizendo que filha sua, ficaria em sua casa, e que sua neta, também.
Circunstância que gerou um certo mal estar, não fosse a intervenção de Agnaldo dizendo que a moça estava vivendo uma situação complicada, e que precisava do amparo da mãe.
Contrariada, a mulher acabou acatando as palavras do marido.
Mas sempre que podia, convidava a moça para viver em sua fazenda.
Carolina a matriarca da família, costumava dizer que as portas de sua casa estavam sempre abertas aos amigos, e que eles na qualidade de avós, poderiam visitar a criança, sempre que pudessem e que quisessem.
Mas para Lisete, isto não era o bastante.
Queria por que queria, levar a moça e a criança para junto de si.
Mas a avó da criança não permitia.
Com o tempo a mulher ficou tristonha.
Carolina então, recomendou a filha que passasse alguns dias na fazenda de Dona Lisete.
Contudo, assim que a mulher melhorasse, Rosália e a criança deveriam regressar.
E assim, foram meses morando em casa de Lisete.
Conforme a mulher foi melhorando, foi tentando impôr seus costumes a mãe da criança.
Dizia a Rosália que não poderia pegar a criança de qualquer jeito, que precisava continuar amamentando a criança.
A criança a esta época já tinha quase dois anos, não precisava mais ser amamentada, e Lisete palpitando em tudo.
Rosália não sabia mais o que fazer.
A certa altura arrumou seus pertences e os da filha e comunicou a Lisete e Agnaldo que voltaria para casa.
A mulher tentou argumentar que precisava da companhia da neta, mas Rosália, com toda a brandura, disse-lhe que já estava incomodando, e que não era certo ficar tanto tempo em uma casa que não era sua.
Como Lisete insistisse para que a moça se sentisse em casa, Rosália argumentou que sentia falta de casa, e que se não voltasse logo para sua residência, seria ela quem acabaria adoecendo.
Abelardo, percebendo que não teria como reter a moça por mais tempo, desejou-lhe um bom regresso.
Disse-lhe que dali há alguns dias, iria visitá-la.
Rosália então, foi acompanhada por Agnaldo.
Ao chegarem no casarão, mãe e filha, foram recebidas com festa.
Dona Carolina gostava de mimar a neta.
Dizia que a criança trouxera alegria para a casa.
Certa vez, chegou a dizer que fora a melhor coisa que aconteceu na vida de Rosália.
Rosendo certo dia, enquanto a criança brincava no descampado, observando atenta o movimento dos animais, aproximou-se de Rosália, e tímido começou a dizer que Carolina era uma criança muito bonita e esperta.
Rosália ficou surpresa e agradecida com os elogios.
Rosendo então, enchendo-se de coragem, mencionou que admirava sua coragem em prosseguir a vida, em cuidar da filha.
Comentou que admirava Dona Carolina, por ter construído aquilo tudo praticamente sozinha.
Rosália a certa altura, perguntou ao homem, o que ele estava tentando dizer com tantos elogios.
Sem graça, o homem, chegou a dizer que a admirava, e que águas passadas não moviam moinhos.
Em dado momento, enchendo-se de coragem, o homem comentou a achava muito sozinha.
Disse-lhe que merecia ser feliz.
Em seguida, perguntou-lhe se não tinha interesse em se casar.
Rosália ficou surpresa com a pergunta.
Pensando nas palavras do moço, perguntou-lhe se não tinha medo da maldição.
Rosendo perguntou-lhe de que maldição estava falando.
A moça contou-lhe então, que nenhum relacionamento com as mulheres da família perdurava. Mencionou o curto casamento da mãe, e a interrupção de seu noivado.
Rosendo argumentou dizendo que tudo não passava de uma grande bobagem.
Rosália contudo, não estava interessada em casar-se.
Quando Carolina foi informada pela moça, do pedido de Rosendo, a mulher perguntou-lhe se estava disposta a se casar com o capataz.
Rosália respondeu-lhe que não tinha interesse em ninguém.
A mulher argumentou que sendo ainda jovem, tinha todo o direito de se casar.
Mencionou que Rosendo era jovem ainda, forte, e que seria um bom companheiro para sua filha.
Rosália comentou sobre a maldição.
Mencionou que dissera algo para ele.
Foi o bastante para Carolina passar-lhe um sermão.
Disse-lhe que ninguém na região sabia da história, e que tudo deveria continuar como estava, ou haveria o risco de terem de abandonar tudo novamente, por conta da maledicência das pessoas.
Rosália ao ouvir isto, comentou que só contara o fato de haver enviuvado cedo, e de ter ficado por casar.
Ao ouvir isto, Carolina comentou:
- Menos mal! Mas seria melhor que não se mencionasse a maldição.
Rosália concordou.
Carolina então, passou a fazer recomendações a moça.
Dizia que Rosendo era de confiança, um ótimo partido.
Entre outras coisas.
Mas Rosália dizia não estar interessada.
Mesmo como o passar dos anos, continuava a visitar o túmulo de Abelardo.
Fato este que fez com que Carolina se enervasse com a filha.
Dizia-lhe que o homem estava morto.
Insistia para que o deixasse descansar, e que retomasse sua vida.
Rosália tentava argumentar, mas Carolina insistia em dizer que estava errada.
Argumentava que se tivesse encontrado um outro companheiro, certamente tentaria retomar sua vida.
Rosália, contudo, dizia que ninguém mais apareceu.
Carolina argumentou dizendo que a filha estava tendo uma boa oportunidade, e a estava desperdiçando.
Rosália a certa altura, prometeu que iria pensar no assunto.
Chegou a se pensar em noivado.
Até jantar foi preparado.
O moço vestia um bonito terno.
O casal conversou sobre amenidades ao lado de Dona Carolina.
Quando Lisete soube disto, temeu que com um provável casamento, a criança seria afastada de seu convívio.
Agnaldo tentou convencer a mulher de que estava errada, em vão.
Com isto, a mulher passou a visitar a jovem em horas inapropriadas.
Circunstância que aborreceu Carolina e Agnaldo.
Dessarte, sempre que se encontrava com Rosendo, dizia que Rosália era uma boa moça, e que seria sempre fiel a seu filho, nunca colocando outra pessoa em seu lugar.
Isto aborreceu demasiadamente o homem.
Dona Lisete não perdia a oportunidade de dizer que a moça continuava a visitar o túmulo do filho.
Chegou até a dizer-lhe que verificasse isto com os próprios olhos.
Rosendo, ao ver a moça levando flores para o túmulo, questionou o comportamento da moça.
Dizia-lhe que precisava esquecer o jovem.
Rosália retrucava dizendo que era o pai de sua filha, e sentia necessidade de levar flores a seu túmulo. E Rosendo procurou entender.
Com o passar do tempo, porém, esta circunstância passou a incomodar-lhe, fato este que gerou desentendimentos com a moça.
Rosália não admitia que o homem lhe dissesse o que fazer.
Mais tarde, o homem se envolveu em uma confusão, que resultou na morte de um peão de uma das fazendas da região.
Rosendo apontado como suspeito do crime, arrumou seus pertences.
Precisava fugir.
Como último gesto, foi até o casarão, onde atirou uma pedra na janela da moça.
Quando Rosália abriu a janela, perguntou-lhe o que fazia àquelas horas em frente a sua casa.
Rosendo explicou-lhe que precisava fugir, ou seria preso.
Rosália que já havia tomado conhecimento do fato, perguntou-lhe se havia matado o homem.
Rosendo respondeu-lhe que não.
Nisto a moça insistiu para que ficasse e provasse sua inocência.
Rosendo argumentou que não teria como provar que não cometera o crime, por estar passando no local, próximo do horário em que o crime ocorreu.
Disse que o lugar era deserto, e que não haviam testemunhas.
Nervoso, disse que se desentendeu com o peão, e que o ameaçou.
Afirmou porém, que não o matou.
Argumentou que jamais tiraria a vida de um cristão.
Rosália compreendeu sua aflição.
O capataz então, sugeriu que a moça seguisse com ele.
Pediu para que fizesse uma pequena trouxa com seus pertences, e o acompanhasse.
Rosália olhou-o com espanto.
Rosendo insistiu.
Argumentou que não podia se demorar.
A moça então, suspirando, respondeu-lhe que não poderia acompanhá-lo.
O homem então desceu do cavalo.
Rosália prosseguiu.
Disse que tinha uma filha para criar, e que não poderia abandoná-la.
Argumentou que a criança já não tinha um pai, e que não poderia ficar sem a mãe.
Rosendo, percebendo que a mulher não poderia fugir com ele, levando uma criança pequena, concordou.
Lamentou sua sorte, dizendo que estava deixando tudo para trás, por um destino incerto, e que não poderia condená-la a padecer junto com ele.
Triste, comentou que não sabia ao certo se conseguiria fugir, ou se não morreria no meio do caminho.
Ao constatar que poderia estar condenando a moça, a uma vida incerta ou mesmo a morte, compreendeu-a.
Triste, insistiu para que descesse, e o encontrasse na porta.
Dizia que precisava se despedir.
Apreensiva, a moça disse que não poderia fazê-lo, que não ficaria bem.
Rosendo disse que sabia do falatório das pessoas, mas se descesse sem fazer barulho, ninguém tomaria conhecimento do fato.
Nisto acrescentou que não sairia dali se ela não conversasse com ela.
Rosália então vestiu-se e desceu cautelosa, as escadas do casarão.
Ao chegar na sala, fez um pequeno esforço para abrir a porta, com a pesada chave que estava na maçaneta.
Rosendo a esperava de chapéu na mão.
Nisto o homem se aproximou e abraçou-a.
Disse-lhe que provavelmente nunca mais iriam se encontrar.
Lamentou a despedida.
Disse que gostava muito dela e que sentiria muito pesar por não poder levá-la junto de si.
Beijou-lhe o rosto e partiu.
Estava com os olhos banhados em lágrimas.
Rosália acompanhou o homem em seu cavalo, quando ainda fez um último gesto de despedida, até o homem sumir na escuridão da estrada.
Era noite.
Rosália ainda ficou por algum tempo apoiada nos balaustres do alpendre.
Embora não o amasse, sentiu sua partida.
E assim, a jovem ficou por casar.
Ocupou seu tempo em cuidar da filha e auxiliar na lida da fazenda.
A senhora Carolina, lembrava-se destes fatos, que faziam parte da história da família.
Contava a Vandré, Venâncio, Lara, Antonia, e aos demais convidados, a história de sua família. Prosseguiu o relato...
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
VALONGO - CAPÍTULO 18 - VERSÃO OFICIAL
Para todos os efeitos a criança de Adélia, foi registrada como filha legitima.
Carolina era seu nome.
Foi esta jovem, que resolveu vender as terras de seus antigos ancestrais, e seguindo ao lado daquele, que acreditou ser seu companheiro de vida, seguindo rumo a outro Estado.
Nascida na última década do século dezenove, a moça, ao lado do amante aventureiro, estabeleceu moradia em velhas terras do Valongo.
O local tem este nome, por ali se encontrar um antigo mercado de escravos.
E as terras do Valongo deram origem a uma vistosa fazenda.
O moço, militar, foi convocado para conter algumas das revoltas ocorridas naqueles tempos, não mais regressando ao lugar.
Rosália nasceu por volta de 1912.
Filha de Carolina e Olavo, a criança nasceu longe do pai, que partira para longínquas plagas, convocado para conter uma revolta em terras do sul.
Conflito armado em terras limítrofes de dois estados, em razão de disputa por terras.
Convém, explicar: Os camponeses estabelecidos nas propriedades não possuíam documentos regulares que comprovassem a posse como escrituras.
Estes homens diziam que ocorreram fraudes nos registros e que por este motivo não tinham como comprovar a posse, ou melhor, a propriedade das terras.
Diziam que estavam ali há décadas, que ali nasceram seus filhos.
Alguns, possuíam até netos nascidos naquelas terras.
E nenhum deles estava disposto a abandonar o local.
Na região também havia líderes religiosos, que viviam vida simples e praticavam curas.
Os moradores do local, chegavam a fazer menção de milagres ocorridos.
Como a historia de uma moça que fora encontrada morta pelo monge José Maria, e que foi ressuscitada por ele.
Os caboclos eram muito gratos ao religiosos.
Muitos contavam histórias de curas, e de como eram administradas ervas curativas.
Com isto, quando Olavo chegou àquelas paragens, a revolta estava armada.
O conflito se agravara com o progressão da construção de uma estrada de ferro na região.
Em conversas com os funcionários da Ferrovia, Olavo descobriu que o governo havia declarado que se tratavam de terras devolutas.
Os funcionários atônitos não sabiam mais o que fazer.
Circunstância que culminou com a convocação de soldados para a região dos conflitos.
Olavo era um deles.
Conversando com os funcionários da ferrovia, descobriu que muitos foram demitidos e debandaram para os lados dos camponeses, seguindo a seita criada pelo monge, de que o jovem já havia ouvido falar.
Olavo estava impressionado com o poder de convencimento do monge.
Em conversas, descobriu que o mesmo levava vida simples, tendo recusado a oferta de terras e de dinheiro, pela cura da esposa de um fazendeiro.
Por se tratar de um militar, o moço no entanto, não era bem visto pelos camponeses da região.
Vieram as batalhas.
As primeiras lutas foram sangrentas, com diversas mortes para ambos os lados, que sofreram com as baixas.
Na Batalha do Banhado Grande, por exemplo: morreu o Coronel João Gualberto que liderava as tropas.
Era uma tentativa de fazer os insurretos regressarem a Santa Catarina.
E o monge teve sua primeira vitória.
Olavo e outros militares, auxiliaram no resgate dos feridos, e tratam de traçar estratégias de batalha, junto as lideranças que restaram.
Com efeito, a morte do coronel é comunicada através de telegrama para o Marechal Hermes da Fonseca.
Este acontecimento acirrou ainda mais os ânimos.
A esta altura, fazendeiros que estavam perdendo suas terras para construção da ferrovia, passaram a se unir aos camponeses.
Com o tempo, este exército informal passou a ser denominado Exército de São Sebastião.
E os camponeses, considerados insurretos, criaram uma nova ordem social.
Foram anos difíceis.
No ano do Senhor de 1914, o governo federal organizou uma grande expedição, com cerca de 700 soldados para Taquaruçu, sob pretexto de contenção de um sublevação.
Operação realizada com êxito, com a destruição do acompanhamento formado, mas sem grandes perdas, pois os camponeses, percebendo o perigo, trataram logo de fugir se instalando em novas paragens.
Com o tempo, passaram a saquear propriedades rurais, e destruíram uma serraria.
Quando souberam da morte do líder religioso do grupo, muitas lideranças militares acreditavam que os revoltosos se desentenderiam, e a revolta se esvaziaria.
Contudo, não foi o que o ocorreu.
Uma jovem de cerca de quinze anos de idade, de nome Maria Rosa, assumiu o dom do profeta.
Com sua morte, dizia ouvir sua voz, e que faria cumprir suas determinações.
Foi o bastante para se tornar a líder espiritual do grupo.
Os campônios costumavam dizer que a jovem combatia montada em um cavalo branco, com arreios forrados de veludo, vestida de branco, e com flores nos cabelos e no fuzil.
Tornando-se uma figura mítica e admirada até por quem não a conheceu.
Segundo diziam, tratava-se de uma linda jovem, destemida e corajosa.
Com efeito, depois da derrota em Taquaruçu, os revoltosos se instalam em Caraguatá.
Foram muitas lutas e batalhas perdidas para o exército, operações mal sucedidas, até que as coisas mudassem para os militares.
O General Carlos Frederico de Mesquita, após algumas batalhas ganhos, bem como a dispersão dos revoltosos, chegou a considerar o conflito encerrado.
Errou por precipitação, pois os revoltosos dispersos se reagruparam, organizando-se em Santa Maria, atacando Curitibanos e ameaçando outras localidades, fazendo com que a população fugisse em desespero.
Com o tempo, novas lideranças passaram a elaborar novas estratégias de guerra.
Neste tempo, o general Fernando Setembrino de Carvalho, passou a evitar o confronto direto, cercando os insurretos e deixando-os sem comida.
Foi o suficiente para que alguns jagunços se rendessem.
Adeodato porém era implacável, e aplicava pena de morte a todos os que ameaçassem se render.
Com o tempo, os jagunços passaram a lutar entre si.
Novos ataques aconteceram, com muitos mortos e feridos entre os militares.
O capitão Tertuliano Potyguara, encaminhando-se com seus homens para Santa Maria, acabou por sofrer uma emboscada onde houve a perda de vinte e quatro vidas.
Neste conflito, faleceu Olavo, deixando Carolina com uma filha para criar.
Tomar conhecimento do fato, deixou a mulher sem chão.
Estava a limpar um vaso quando recebeu a visita de um militar e uma carta, relatando todo o ocorrido.
Ao ler o conteúdo da missiva, a mulher derrubou o vaso, quase caindo no chão.
Foi amparada por uma das empregadas do casarão.
Sentou-se.
Bebeu água.
Mas nada a acalmava.
Olavo estava morto.
Na correspondência, havia menção de que o homem participara de inúmeras batalhas, vindo a travar amizades com inúmeros militares.
E o corpo do homem foi levado ao Valongo.
Lá, foi sepultado no cemitério da cidade, e com honras militares.
A saudade ficou, só lhe restando as recordações.
Com efeito, a mulher, ao tomar conhecimento da convocação, pediu, insistiu para que o mesmo não fosse.
Olavo argumentava dizendo que não poderia deixar de ir, ou estaria desertando.
Mencionou que já havia abandonado sua família, e pedido uma licença, para reorganizar sua vida.
Contudo, argumentou que não poderia ficar mais tempo afastado do exército.
Argumentou que vinha de uma família de militares.
Carolina respondeu-lhe que havia vendido suas terras no Sul, deixando tudo para trás.
Argumentou que o caminho que escolhera não tinha volta e que não gostaria de ficar sozinha nas terras que tanto lutaram para adquirir.
Carolina vendera suas terras, e Olavo, possuía uma soma em dinheiro que usaram para adquirir as terras do Valongo.
Juntos cuidaram das terras.
O dinheiro foi utilizado para comprar as terras e construir uma moradia.
As sobras, ficaram bem guardadas.
Com o tempo, se tornou um casarão.
Moradia não que serviu de pouso para o jovem militar que faleceu em campo de batalha.
Com efeito, o corpo foi trasladado para a propriedade para que fosse sepultado nas terras do Valongo.
Conheceram-se no Sul, nos tempos em que Adélia ainda era viva.
A mulher se opôs tenazmente a união de ambos.
Olavo era filho de um administrador de fazenda e de uma empregada.
Adélia dizia aspirar algo melhor para a filha.
Ou melhor dizendo, um pretendente endinheirado.
Carolina porém a enfrentou, dizendo que iria escolher com quem iria se casar, como Abaeté e todas as mulheres da família o fizeram.
Adélia a esbofeteou.
Furiosa, a moça se recolheu em seu quarto.
Naqueles tempos, sua mãe já estava bastante doente e debilitada.
Mas ainda tinha forças para se impôr.
Carolina mal teve tempo de sentir raiva, ou mágoa.
Adélia faleceu pouco tempo depois.
Helena havia falecido tempos depois.
As mulheres foram sepultadas no túmulo da fazenda.
Rosália não conheceu o pai, mas Carolina não se cansava de enaltecer a memória do jovem militar morto, para a filha.
Trazia a foto do moço, em um porta retrato pesado, que mostrava constantemente para a filha.
Rosália tinha em suas memórias a figura de um jovem em trajes militares, galhardamente fardado, montado em um cavalo imponente.
Com efeito, alguns meses transcorreram entre a morte dos homens e o desfecho da revolta.
Em seguida houve um novo assalto a Santa Maria, onde tudo fora destruído, até mesmo as habitações, com muitos revoltosos se evadindo para outras paragens.
E assim, em 1916, o líder Adeodato, foi encurralado, e com isto foi dado fim a Guerra do Contestado.
Rosália neste tempo já tinha quase quatro anos.
Fora a única filha de Carolina, que tratou de cuidar da fazenda.
Com tempo, a casinha simplória deu lugar a um casarão.
Rosália foi crescendo enquanto as condições de vida na fazenda foram melhorando.
Transformou-se em um bela moça.
Motivo de orgulho de sua mãe Carolina, por ser tão prendada e dedicada as lidas do lar.
Rosália conseguiu ficar noiva do filho de um fazendeiro da região.
Isto por que, Carolina, temerosa do destino da filha, fez de tudo para que a moça arrumasse um bom casamento e não fosse mãe solteira com as demais mulheres da família.
Dizia que esta era uma mácula que precisava ser sanada.
Por vezes chegou a mencionar a maldição, para depois dizer que tudo não passaria de uma bobagem, encerrando-se os malefícios, assim que se casasse.
Mas o infortúnio se fez presente mais uma vez na vida da família.
Abelardo foi atropelado ao atravessar uma estrada.
Rosália, então tornou-se mãe solteira.
Ao nascer, a criança foi registrada como filha legítima.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Carolina era seu nome.
Foi esta jovem, que resolveu vender as terras de seus antigos ancestrais, e seguindo ao lado daquele, que acreditou ser seu companheiro de vida, seguindo rumo a outro Estado.
Nascida na última década do século dezenove, a moça, ao lado do amante aventureiro, estabeleceu moradia em velhas terras do Valongo.
O local tem este nome, por ali se encontrar um antigo mercado de escravos.
E as terras do Valongo deram origem a uma vistosa fazenda.
O moço, militar, foi convocado para conter algumas das revoltas ocorridas naqueles tempos, não mais regressando ao lugar.
Rosália nasceu por volta de 1912.
Filha de Carolina e Olavo, a criança nasceu longe do pai, que partira para longínquas plagas, convocado para conter uma revolta em terras do sul.
Conflito armado em terras limítrofes de dois estados, em razão de disputa por terras.
Convém, explicar: Os camponeses estabelecidos nas propriedades não possuíam documentos regulares que comprovassem a posse como escrituras.
Estes homens diziam que ocorreram fraudes nos registros e que por este motivo não tinham como comprovar a posse, ou melhor, a propriedade das terras.
Diziam que estavam ali há décadas, que ali nasceram seus filhos.
Alguns, possuíam até netos nascidos naquelas terras.
E nenhum deles estava disposto a abandonar o local.
Na região também havia líderes religiosos, que viviam vida simples e praticavam curas.
Os moradores do local, chegavam a fazer menção de milagres ocorridos.
Como a historia de uma moça que fora encontrada morta pelo monge José Maria, e que foi ressuscitada por ele.
Os caboclos eram muito gratos ao religiosos.
Muitos contavam histórias de curas, e de como eram administradas ervas curativas.
Com isto, quando Olavo chegou àquelas paragens, a revolta estava armada.
O conflito se agravara com o progressão da construção de uma estrada de ferro na região.
Em conversas com os funcionários da Ferrovia, Olavo descobriu que o governo havia declarado que se tratavam de terras devolutas.
Os funcionários atônitos não sabiam mais o que fazer.
Circunstância que culminou com a convocação de soldados para a região dos conflitos.
Olavo era um deles.
Conversando com os funcionários da ferrovia, descobriu que muitos foram demitidos e debandaram para os lados dos camponeses, seguindo a seita criada pelo monge, de que o jovem já havia ouvido falar.
Olavo estava impressionado com o poder de convencimento do monge.
Em conversas, descobriu que o mesmo levava vida simples, tendo recusado a oferta de terras e de dinheiro, pela cura da esposa de um fazendeiro.
Por se tratar de um militar, o moço no entanto, não era bem visto pelos camponeses da região.
Vieram as batalhas.
As primeiras lutas foram sangrentas, com diversas mortes para ambos os lados, que sofreram com as baixas.
Na Batalha do Banhado Grande, por exemplo: morreu o Coronel João Gualberto que liderava as tropas.
Era uma tentativa de fazer os insurretos regressarem a Santa Catarina.
E o monge teve sua primeira vitória.
Olavo e outros militares, auxiliaram no resgate dos feridos, e tratam de traçar estratégias de batalha, junto as lideranças que restaram.
Com efeito, a morte do coronel é comunicada através de telegrama para o Marechal Hermes da Fonseca.
Este acontecimento acirrou ainda mais os ânimos.
A esta altura, fazendeiros que estavam perdendo suas terras para construção da ferrovia, passaram a se unir aos camponeses.
Com o tempo, este exército informal passou a ser denominado Exército de São Sebastião.
E os camponeses, considerados insurretos, criaram uma nova ordem social.
Foram anos difíceis.
No ano do Senhor de 1914, o governo federal organizou uma grande expedição, com cerca de 700 soldados para Taquaruçu, sob pretexto de contenção de um sublevação.
Operação realizada com êxito, com a destruição do acompanhamento formado, mas sem grandes perdas, pois os camponeses, percebendo o perigo, trataram logo de fugir se instalando em novas paragens.
Com o tempo, passaram a saquear propriedades rurais, e destruíram uma serraria.
Quando souberam da morte do líder religioso do grupo, muitas lideranças militares acreditavam que os revoltosos se desentenderiam, e a revolta se esvaziaria.
Contudo, não foi o que o ocorreu.
Uma jovem de cerca de quinze anos de idade, de nome Maria Rosa, assumiu o dom do profeta.
Com sua morte, dizia ouvir sua voz, e que faria cumprir suas determinações.
Foi o bastante para se tornar a líder espiritual do grupo.
Os campônios costumavam dizer que a jovem combatia montada em um cavalo branco, com arreios forrados de veludo, vestida de branco, e com flores nos cabelos e no fuzil.
Tornando-se uma figura mítica e admirada até por quem não a conheceu.
Segundo diziam, tratava-se de uma linda jovem, destemida e corajosa.
Com efeito, depois da derrota em Taquaruçu, os revoltosos se instalam em Caraguatá.
Foram muitas lutas e batalhas perdidas para o exército, operações mal sucedidas, até que as coisas mudassem para os militares.
O General Carlos Frederico de Mesquita, após algumas batalhas ganhos, bem como a dispersão dos revoltosos, chegou a considerar o conflito encerrado.
Errou por precipitação, pois os revoltosos dispersos se reagruparam, organizando-se em Santa Maria, atacando Curitibanos e ameaçando outras localidades, fazendo com que a população fugisse em desespero.
Com o tempo, novas lideranças passaram a elaborar novas estratégias de guerra.
Neste tempo, o general Fernando Setembrino de Carvalho, passou a evitar o confronto direto, cercando os insurretos e deixando-os sem comida.
Foi o suficiente para que alguns jagunços se rendessem.
Adeodato porém era implacável, e aplicava pena de morte a todos os que ameaçassem se render.
Com o tempo, os jagunços passaram a lutar entre si.
Novos ataques aconteceram, com muitos mortos e feridos entre os militares.
O capitão Tertuliano Potyguara, encaminhando-se com seus homens para Santa Maria, acabou por sofrer uma emboscada onde houve a perda de vinte e quatro vidas.
Neste conflito, faleceu Olavo, deixando Carolina com uma filha para criar.
Tomar conhecimento do fato, deixou a mulher sem chão.
Estava a limpar um vaso quando recebeu a visita de um militar e uma carta, relatando todo o ocorrido.
Ao ler o conteúdo da missiva, a mulher derrubou o vaso, quase caindo no chão.
Foi amparada por uma das empregadas do casarão.
Sentou-se.
Bebeu água.
Mas nada a acalmava.
Olavo estava morto.
Na correspondência, havia menção de que o homem participara de inúmeras batalhas, vindo a travar amizades com inúmeros militares.
E o corpo do homem foi levado ao Valongo.
Lá, foi sepultado no cemitério da cidade, e com honras militares.
A saudade ficou, só lhe restando as recordações.
Com efeito, a mulher, ao tomar conhecimento da convocação, pediu, insistiu para que o mesmo não fosse.
Olavo argumentava dizendo que não poderia deixar de ir, ou estaria desertando.
Mencionou que já havia abandonado sua família, e pedido uma licença, para reorganizar sua vida.
Contudo, argumentou que não poderia ficar mais tempo afastado do exército.
Argumentou que vinha de uma família de militares.
Carolina respondeu-lhe que havia vendido suas terras no Sul, deixando tudo para trás.
Argumentou que o caminho que escolhera não tinha volta e que não gostaria de ficar sozinha nas terras que tanto lutaram para adquirir.
Carolina vendera suas terras, e Olavo, possuía uma soma em dinheiro que usaram para adquirir as terras do Valongo.
Juntos cuidaram das terras.
O dinheiro foi utilizado para comprar as terras e construir uma moradia.
As sobras, ficaram bem guardadas.
Com o tempo, se tornou um casarão.
Moradia não que serviu de pouso para o jovem militar que faleceu em campo de batalha.
Com efeito, o corpo foi trasladado para a propriedade para que fosse sepultado nas terras do Valongo.
Conheceram-se no Sul, nos tempos em que Adélia ainda era viva.
A mulher se opôs tenazmente a união de ambos.
Olavo era filho de um administrador de fazenda e de uma empregada.
Adélia dizia aspirar algo melhor para a filha.
Ou melhor dizendo, um pretendente endinheirado.
Carolina porém a enfrentou, dizendo que iria escolher com quem iria se casar, como Abaeté e todas as mulheres da família o fizeram.
Adélia a esbofeteou.
Furiosa, a moça se recolheu em seu quarto.
Naqueles tempos, sua mãe já estava bastante doente e debilitada.
Mas ainda tinha forças para se impôr.
Carolina mal teve tempo de sentir raiva, ou mágoa.
Adélia faleceu pouco tempo depois.
Helena havia falecido tempos depois.
As mulheres foram sepultadas no túmulo da fazenda.
Rosália não conheceu o pai, mas Carolina não se cansava de enaltecer a memória do jovem militar morto, para a filha.
Trazia a foto do moço, em um porta retrato pesado, que mostrava constantemente para a filha.
Rosália tinha em suas memórias a figura de um jovem em trajes militares, galhardamente fardado, montado em um cavalo imponente.
Com efeito, alguns meses transcorreram entre a morte dos homens e o desfecho da revolta.
Em seguida houve um novo assalto a Santa Maria, onde tudo fora destruído, até mesmo as habitações, com muitos revoltosos se evadindo para outras paragens.
E assim, em 1916, o líder Adeodato, foi encurralado, e com isto foi dado fim a Guerra do Contestado.
Rosália neste tempo já tinha quase quatro anos.
Fora a única filha de Carolina, que tratou de cuidar da fazenda.
Com tempo, a casinha simplória deu lugar a um casarão.
Rosália foi crescendo enquanto as condições de vida na fazenda foram melhorando.
Transformou-se em um bela moça.
Motivo de orgulho de sua mãe Carolina, por ser tão prendada e dedicada as lidas do lar.
Rosália conseguiu ficar noiva do filho de um fazendeiro da região.
Isto por que, Carolina, temerosa do destino da filha, fez de tudo para que a moça arrumasse um bom casamento e não fosse mãe solteira com as demais mulheres da família.
Dizia que esta era uma mácula que precisava ser sanada.
Por vezes chegou a mencionar a maldição, para depois dizer que tudo não passaria de uma bobagem, encerrando-se os malefícios, assim que se casasse.
Mas o infortúnio se fez presente mais uma vez na vida da família.
Abelardo foi atropelado ao atravessar uma estrada.
Rosália, então tornou-se mãe solteira.
Ao nascer, a criança foi registrada como filha legítima.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
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