Poesias

terça-feira, 3 de novembro de 2020

IPÊS

Ipês floridos, roxo e floridos, no caminhos das pedras e dos passos apressados.
Uma elevação em concreto, a desnudar janelas para uma paisagem que acena de verdes e ipê florido.
Em sua visão oposta, os trilhos de uma estação de trem.
Trilhos envelhecidos pelo devassar dos tempos.

Caminhos de mata, musgo, ferrugem.
No balanço dos tempos, os trens passam.
Em seu deslizar tímido sobre os trilhos.

Contemplo a visão do alto do prédio.
Velho e feio, que abrigou os maiores dias do meu trabalho.
Rezo na esperança dos mais belos, lindos dias.
Onde me abrigo no pouso do alento.

Se acaso encontro tanto desalento, é por se fazer pensar em melhores tempos.
Por vezes maciços de beri amarelo me brindam de encantos.
Por ora frutas no chão.
Árvores de lindas flores amarelas.
Que nome terás?

Acácias amarelas encontrei em caminhos da Sé.
Em minha casa, saudades das violetas na janela.
Na volta ao lar, ipês floridos se fazem acenar à distância, no limiar dos tempos.

Tempo de parar e de pensar.
Repensar e se desfazer em esquecimento.
Com isto, um nome, dia a se começar.

Novo deslize em superfícies ásperas, duras.
A melhor lugar ocupar.
E ocupando, assumir um lugar no mundo.
Afinal, em que lugar você que estar?

I
Que lugar no mundo ocupar?
Ser alguém?
Acumular-se de riquezas materiais.
Desfrutar o instante do viver.
Quanta contradição!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

FLOR DE PIMENTA

E no princípio, nada havia
Surgindo aos poucos as primeiras criações disformes
E o mundo foi surgindo
Amorfo, gasoso
Numa explosão, dizem

Mas ninguém sabe ao certo,
Pois ninguém estava lá para ver,
Creio eu

Mas dizem que assim, o mundo fora criado
E até que se prove em contrário
Tudo fica assim mesmo

A atmosfera de gases
O mundo surgindo como uma bola de fogo
A Terra a passar por um processo de esfriamento

E a surgir as primeiras formas de vida
Seres unicelulares
A água a surgir

E a vida a surgir das águas
Águas que regem o mundo de todos nós
Antes mesmo de nascermos

Seres que o tempo, e as melhores condições da atmosfera
Tornaram-se mais complexos,
Subdividindo-se em pequenas células

E de pequenos, passaram a grandiosos ser
E a Terra a se formar,
E Deus a ver que tudo era muito bom

Alegoria de milhões de anos,
Que na Bíblia correspondem a dias
Meteoros a cair na Terra
Dizimando numerosos e grandiosos seres

Com isto, resultado da criação
Surgiram, os primeiros hominídeos
Em terra tão longínqua, e tão esquecida por todos

África
Terra mãe de todos os povos, de todas as nações
Não sou que estou a afirmar
É a ciência que não pode a verdade calar

E que tudo isto comprovou
A confirmar a inexistência das raças
Proclamando fazermos todos parte de uma família
De humanos seres

Ó divina Raça Humana
Nenhuma outra, nem melhor nem pior existindo
Civilizações a surgirem em tão nobre lugar

A se dispersar pelo mundo
Formando tribos, cidades, impérios
Senhores da guerra e das desigualdades
Quanto vitupério
Os homens são capazes de propagar

E o tempo passa,
As injustiças proliferam
A vida segue ...

História de muitos tempos passados
Escravos tão tristes, coitados
A lembrarem de passos mal dados
Numa terra de muitos sertões

Senhores cruéis a impor
Castigo, senzala e chibata
Para os negros vindos de outras Áfricas

Plagas distantes
Em terras de esquecidas pirâmides
Ou de muitas florestas
Guerras tribais
Onde seres desiguais
Em desigualdade lutavam

Escravizados foram
Por brancos escravistas
Autoritários, egoístas
Que faziam humanos, de suas peças

Afastados de sua terra, de seus parentes
A viverem como serventes
Na lida das lavouras
Afazeres domésticos
A cuidar de senhores e sinhás
Seus filhos, sua prole

Desdouro de uma nação
A contemplar na inércia e na indiferença,
Maus tratos,
Castigos corporais

Atados a pelourinhos, sendo açoitados
Presos aos troncos, peças de madeira
De pés e mãos atados

Em tão lúgubre cenário
Alguns negros se insurgiram
A enfrentar arrogantes aturdidos,
Gigantes senhores de seus destinos

Depois de tantas lutas, tantos apoios, tanto empenho
Chegou o dia da esperança
Com liberdade para todos

Leis criadas para inibir o tráfico negreiro
Tráficos vários
Ainda a perecerem nossos dias, nossas vidas
A destruírem almas, futuros
A dissolver vidas

Será que algum dia
Vergonha teremos
Do que feito fora contra irmãos?

Será que algum dia
A luz do sol resplenderá
Aclarando o entendimento de todos,
E nos libertando da prisão?

Enfim chegará a compreensão
Do que é feito contra um,
Atinge todos os demais?
Já não sei mais

Navios negreiros
Gentes de outras terras, outras tribos
A lavrarem, plantarem, semearem
Engenhos de cana, plantações de café

Nas minas gerais, a extraírem ouro e diamantes
Meninos, jovens, homens
Grandes e pequenos
Franzinos ou não, corpulentos

Alguns ilustrados nas letras
Muitos e muitas não,
Nas senzalas úmidas
A comerem os rejeitos dos brancos
A cantarem as cantigas de sua terra,
Logo proibidas

E desta prática escondida
A disfarçarem suas crenças
Sob o disfarce,
A face oculta dos santos católicos
Assim obscuros,
Prosseguiam com seus cultos
E seu amor pela África

Nas procissões de reis, nas Congadas
Com suas vestes de gala, trajes finos, delicados
Reis do Congo
Com suas danças, seus esplendores
A prosseguirem pelas ruas calçadas de pedras,
Das cidades antigas

Sincretismo religioso
Trabalho, trabalho, trabalho
Dura vida
Sofrendo mandos e desmandos de seus senhores

Quantas agruras, dissabores
Pancadas
Alguns a cuidarem da casa de seus senhores
Outros a lidarem na roça, nos trabalhos braçais
A calçarem as ruas e logradouros

Negras a esculpirem telhas de barros nas coxas
Negros a trabalharem nos moinhos de engenhos
Primeiros tempos da colonização
A produzirem açúcar em fôrmas especiais
A produzirem pães de açúcar

As casas dos ricos com seus beirais
E os pobrezinhos sem eira nem beira
Descalços, em suas roupas de algodão
As quais eram trocadas após um ano
Pano, pão e pau
Seus únicos pertences

Pois não eram donos de si
Sua família dispersa pelo mundo
E eles, sozinhos sofridos
Unidos na dor

Curioso como as gentes se unem nos momentos difíceis
E nos alegres dispersos
Muitos decepcionados com a ventura alheia
Tristeza sádica,
Que une nos tristes momentos,
E na alegria separa

A dor e a luta a facearem as faces
E o tempo a passar...

E uma Áurea Lei, a hipocritamente libertar
Escravos a pegarem seus poucos pertences
E rumarem sem destino
Pobres peregrinos

Lua riscando os céus
De poucas estrelas brilhantes
Cintilam fagueiras
Lindas, altaneiras

E os negros a dormirem em chão de estrelas
Pobres, a improvisarem moradas
Cortiços, e após, favelas

Em improvisadas moradas, a contemplar o abismo
Expulsos do Rio de Pereira Passos
Libertos aprisionados,
Sem terem para onde ir,
À margem de um mundo
Construído com a força de seu trabalho

Sem mais valia,
Sem mais recursos, a não ser
Sobreviver
A criarem o samba,
Serem marginalizados
Geografia injusta que deu origem a marginais
Até se chegar aos tempos atuais

DICIONÁRIO:
vitupério substantivo masculino 1. ato ou efeito de vituperar, vituperação.
2. palavra, atitude ou gesto que tem o poder de ofender a dignidade ou a honra de alguém; afronta, insulto.

Segundo alguns historiadores, a história das telhas feitas nas coxas dos negros, não passa de lenda. Pois seria humanamente impossível escalar uma multidão de negros, por que seria esta a quantidade de pessoas necessárias para confeccionarem as telhas, e permanecerem com as mesmas em suas coxas secando, talvez por horas.
E assim, muito provavelmente, tratavam-se de formas rudimentares em que as telhas eram feitas, para que a confecção das mesmas não fosse algo tão demorado.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.   

IDEIAS

I
Entre deliberações
A livre escolha
Do azo livre
Liberdade, alvedrio
Arraso

II
Pensamentos por vezes me distraem
Conclusões que se esvaem
Pelos desvãos do pensamento

Decisões inconclusas que em perdem
Na contagem rara do momento
Idéias pouco claras
A navegar em mar de ideias

Lento e sequioso de alento
Por que a resposta não nos chega?
Desalento em cada vão momento
Arremedo de pensamento

Saudade de um tempo das mais belas conclusões
A enfeixar um pensamento
Quanto desidério

Perguntas sem respostas
Angustias sem consolos
E a dúvida a abismar:
Por que assim é o mundo?

Em triste cenário absurdo
Tento me confortar
E pairar por entre abismos

A me admirar dos paroxismos
A lua bela,
Sempre branca e redonda lua,
A me encantar

Em cenários de claridade
Pouca escuridão
Nas madrugadas a ausência de luz
A nos trazer confusão

A de pé esperar pela condução
Que quase sempre chega,
Ou sempre nunca chega

Caos, problemas, confusão
Pessoas em profusão
E a gente a tentar sobreviver em meio ao caos

Triste a solidão das multidões sempre vazias
E eu a ler meus surrados papéis e apostilas
Quem sabe na vã esperança
De fazer de meu tempo,
Algo melhor do que uma desconsolação
E um tédio mortal

A observar sempre as mesmas coisas
Olhares vazios, cenários vazios
Vida vazia de significado
Cenário triste e desolado
Habitáculo de seres de passagem
Em uma triste e penosa viagem

Há! Quantos caminhos por devassar
Cordões e correntes a se arrebentar
Pois a vida não há de ser um oceano,
De emaranhados pensamentos aprisionados
E das ideias puras
Pensamentos puros, acrisolados

Mas e essa tal liberdade
Por onde andará?
E a vida será que algum dia,
Enfim, diferente será?

A podermos deliberarmos livremente
E vivermos conforme o que queremos
Ou seremos sempre autômatos seres?

III
Borboletas rareiam a vagar
Em pleno jardim de maravilhas
E eu a caminhar
Divagando em diletante

Doce e sonora amante das canções
Beletrismo a nos compor os dias
Nas mais belas poesias

IV
Nas setas, nas retas
E nas curvas
Nos intrincados caminhos

Nas confluências e entroncamentos,
Com os mais variegados movimentos gesticulares
Deslindes sem deslizes,
Ou acidentes de percurso

V
Estudantados dias
Em cujos ditosos anos
Conhecimentos formoseiam

A lapidarem mais,
E novos conhecimentos
Em mundo em ebulição,
Convulsionado em revoluções,
Resoluções, faltas e soluções,
Sem nada resolver

Mas estudantes,
Sempre aplicados a aprender
Em seus passeios da ditosa escola da vida
A novos conhecimentos adquirirem

A acompanhar a transformação das coisas,
Da história e da própria vida,
A conhecerem novos lugares
A visualizarem vivos seres pulsáteis,
Seguindo o sentido das marés,
Ou a deitarem-se nas areias a se deixar levar,
Em suas gelatinosas e coloridas formas

Vibrantes descobertas
De um tempo sem igual
Na escola da vida,
A aplicar os conhecimentos adquiridos em aula

VI
Altares ricamente decorados
A ilustrar santas vidas em seu retábulos
Painéis ricamente adornados,
A enfeitarem os altares das igrejas
Com colunas, imagens e ornamentos

Dedicados artistas a esculpirem obras de vulto
Em altíssimo nível e inestimado valor
Raro esplendor

VII
Frases de efeito
A seguir os passos e os pensamentos
Odores, licores e sabores
Albores de novos tempos

Idas e vindas de ideias insuladas
Isoladas em si mesmas
Sonhos nababescos
Jardins suspensos
Modesta morada

DICIONÁRIO: paroxismo /cs/ substantivo masculino MEDICINA 1. espasmo agudo ou convulsão. 2. momento de maior intensidade de uma dor ou de um acesso.
acrisolado adjetivo 1. METALURGIA purificado no crisol, no cadinho. 2. POR EXTENSÃO que se depurou; purificado.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Das Dualidades da Vida e da Morte

I
As ondas indo e vindo
Dias claros,
Com suas tardes claras,
A revelarem uma lua cheia diáfana

Pessoas estouvadas,
A andarem de bicicleta entre os transeuntes,
Entes mal educados a tentarem estragar a beleza
De tão singelos momentos!

Caminhar de biquíni
A proteger as costas com camisas
E a dourar o corpo com a luz solar

Águas Vivas,
A moverem seus longos tentáculos em dourada areia
A balouçar sua carcaça colorida,
De marrom com bolinhas brancas
Outras inertes na areia, imensas,
A parecerem mortas

Caminhar por bonito cenário de coqueiros, quiosques
Lindas casas a ornarem a beira da praia

A morte a andar de braços dados com a vida
Em corpo protegido por um cobertor térmico
E os circunstantes a contemplar a cena

Pudera eu não tê-la visto
Morta a mulher,
A ser contemplada por tantos curiosos
Pessoas indiferentes a sua sorte
Quando provavelmente em vida, a se debater,
Sozinha, até ser resgatada

Quando viva, a precisar de presença e ajuda
E morta, tendo a companhia de tantos
Agora tão desnecessários

Como a morte e a vida podem ser irônicas
Em poucos minutos, as coisas a demudarem
Tão inopinadamente

II
Em minutos anteriores
A contemplar a vitalidade das águas,
A fazerem brotar vida, onde não havia possibilidade,
De tal fato ocorrer

Água oriunda de geleiras,
A se derreterem,
Desprendendo-se das geleiras dos Andes
Famosa Cordilheiras, de lindas geleiras

A água a correr por trilhas e caminhos
Construídas por antigo povo pré-colombiano

Civilização Inca
E seus canais,
A fazerem parte da cidade de Mendoza,
Circundadas por avenidas,
A comporem o cenário da cidade

Outrora obstáculos,
Agora fonte de irrigação para as árvores
Límpidas águas,
E seus caminhos históricos

Caminho a edificar um sistema de armazenamento,
Para que as águas sejam distribuídas de igual forma,
Por entre as propriedades,
Que por sua vez,
Também possuem sistemas de armazenagem,
E a espalharem vida
A irrigar as propriedades por inundação,
Dos canais feitos entre as plantações

Terras outrora inférteis, a produzirem frutos,
Uvas e vinhos

III
E a vida a seguir, com a caminhada de volta a casa
Linda casa de praia, cada dia mais bela
O vento forte e tépido a correr as águas, as areias,
Os corpos e o tempo

Mar azul, límpido, com ondas brancas
A cuidar da vida, da cuca
Confraternizar com boa refeição e vinho

Tratar a pele, colorir as unhas
Pensar na vida,
Tirar fotos do lindo jardim,
E suas azaléias de folhas repolhudas,
A lembrem pequenas rosas
Vida rica!

IV
Dias frios, manhãs frias
E o mar ao fundo, recuado
Lufadas de ar fresco
O descanso mental em meio a tão belo cenário

Em contraponto a atmosfera cinzenta de São Paulo
Contemplar o mar,
A revolver as areias
Caminhar, passear ...

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

A FOME

Voragem das horas que não cessam
O tempo caminha descompassado
Abrupto
Com suas longas barbas hirsutas
Tenho pressa

As horas não cessam, lentas
Ainda tenho o que fazer
Por onde começo?

Divagações
Pensamentos dispersos
Idéias esparsas no cipoal da imaginação
A colacionar concreções

Sinto o corpo cansado
Que poderei fazer?
Que belo começo terei?

Desesperação do balanço das horas
Do tremular de um vento fresco
Idéias volatizadas a se materializarem

O mundo que internalizamos
A se corporificar em realidades
A vida é o que dela fazemos

Quantas leituras
Sonhos entrevistos
Nas páginas de um belo livro
Quanta delicadeza em suas páginas
Quantos bons conselhos em suas linhas

Histórias eternizadas
Amigo nas horas ociosas
Admiro-te!

Amor beletrista
Musas das mais belas artes
Musas e faunos, a inspirar artistas
Na mais bela, das árduas tarefas
A embelezar o mundo
Exalçar de alegrias inspiradoras

Mistério a sondar
Reveladoras palavras
A dessedentarem as almas

Refrigério do mundo nas angústias
O entendimento da vida
Ó insondável mistério!
Quanta magia a ser revelada

Voragem do mundo a nos rondar
A fome do conhecimento se faz notar
Quantas palavras benditas
Quantas cenas ricas, descritas
Belos cenários mencionados

A beleza de um mundo imaterial
Materializado em nossa mente
Virtudes e mal-querenças a desfilarem
Diante de nossos olhos maravilhados

Divina Comédia Humana
Em que muitas vezes, nos vemos representados
As dores, as cores e os amores
Exemplificados

Vividos em cada página de um romance
Histórias a se evadirem das páginas de um livro
A perfilarem em nossas lembranças
Maravilhas de um mundo mentalizado!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Ser ... Tão, Veredas!

Em meio a tantos caminhos
De pedras, descidas, ladeiras
Tempo e espaço de pedras,
Pedrarias e pedriscos

Tempo assaz distante
Na poeira dos passos de um viajante
Dos tempos do contratador,
Chica da Silva e seus diamantes
Tijuco e seu império de pedras
Heroína de uma suposta raça esquecida

Ouro de muito valor
Sempre de fato a humana raça
Não limitada a apenas uma cor
Passeio por entre caminhos,
Lugares de redenção

Pelas veredas do caminho
Deste vasto e infinito sertão
Ser ... tão é tua essência
Tão simples que beira a inocência

Ser tão simples
Com seus modos e dizeres
Ser, tão ... veredas!

Grutas valei-me as entranhas,
Passeios de pedras e ladeiras
Verdes e espaços alterosos
De um vasto trem iluminado
Areias de um mar escondido
De uma capital tão pouco conhecida

Vitórias de uma vida vivida
Veredas do caminhar
Nas velhas vilas a encontrar
Mares de Minas, Cordisburgo
Universo roseano a nos rondar
E as veredas do sertão,
A desvendar

E a parte de nós fazerem
O sertão de muitos Brasis
Veredas de minhas viagens
Passeios, passagens, paisagens

Seres viventes, a conhecer tantas gentes
Tão simples, tão ricas
Tão viajadas
Com o sertão pulsando em seu peito

Distante campo a avistar
Maravilhas tantas
Que nem terão tempo
Para adeus dizer
Livros para serem lidos
Tão distantes, quanto fugidios

E que de sua fuga …
Mal consigo me conter,
Na incontinência das incompletas leituras
Aventuras a querer se findar
E eu a querer buscar
Entendimentos, conhecimentos
Para vestir-me de outros paramentos e enfim

A leitura buscar
E ao nesse universo mergulhar
Sinto a alma navegar
E num mar onírico de palavras
Nunca naufragar

Veredas do caminho
Descortinam as veredas do tempo
E eu a descobrir novos mundos
Como um navegador a desvendar
Novas plagas, rotas por seguir
Adentrando o universo da leitura

E as veredas
A entrar na alma dos viventes
Para de lá não mais sair
Mal pude suster minha incontida alegria
Ao término da leitura
Após um período de agruras

Dedicação de quase toda uma vida
Para este nobre mister
E o coração a bater nestes rincões
Neste ser … tão brasileiro!
Destas veredas do meu sertão
Deste Ser … Tão, Veredas!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Baronesa

Parques de grandes matas
Verdejantes, fechadas, repletas de trilhas e moradas
Vivenda de uma antiga baronesa

Terra outrora de opulência e esplendor
Quero reconhecer outro valor
Nestas plagas tão distantes

De um tempo assaz importante
Que aqui quase se faz lembrar
Vivenda de uma antiga baronesa
Como terá siso a vida da ilustre dama?

Repleta do fausto e da riqueza das cortes,
Ou singela existência em sua sede
Como terá sido a morada,
Da referida dama?

Herdeira de tempos imperiais, imemoriais
Lugar com criação de animais
Com cocheiras para os cavalos
Recentes marcas de seus cascos pelas trilhas de terra
Em meio a mata
De um tempo que nunca cessa de passar

Tempos novos
Novas moradas, novas casas
Construções antigas a desmoronar
E a natureza a tudo invadir
Espraiando-se pelos ausentes tetos

Telhados desfeitos
Com muitas telhas faltantes
A natureza exuberante
Outrora propriedade dos Barões Von Leitter

A render homenagens a esposa,
Dona Maria Branca Von Leitter
Antigo Haras São Bernardo
Hoje a abrigar um parque

Com quadra de esporte, quiosques e trilhas
Academias de ginástica ao ar livre
Outrora o que terá sido?

Terra de abundância,
Repleta de animais
Com cavalos a habitar o haras
Terá sido lugar de amplas e belas plantações?
Talvez!

Tempos de opulência que não voltam mais
Há pouco tempo
Tempo, morada do descaso, abandono
Esperamos que não mais o seja!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.