Poesias

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

OS SONS QUE A GENTE OUVE – A CANÇÃO NO TEMPO ANOS QUARENTAS – NAS ONDAS DO RÁDIO

Capítulo 2

Como sempre, naquela noite, Francisco, vestiu um bom terno, perfumou-se e saiu. 
Disse que fora convocado pelo comando da marinha.
Natália fingindo acreditar, despedindo-se do marido.
Mais tarde, ela e Clarisse trataram de se arrumar para irem a tão comentada boate.
Com isto, até o último minuto, Clarisse tentou fazer Natália a desistir da idéia.
Dizendo que aquela conduta poderia manchar sua reputação, a moça só conseguir deixar Natália
aborrecida.
Natália argumentou, que se fosse preciso, iria sozinha.
E assim, foram as duas moças, impecavelmente vestidas, a boate.
Durante o trajeto até o local, as moças foram assediadas por homens que elogiavam a beleza de
ambas chamando-as de bonecas, princesas.
Ao chegarem no local, Natália pediu bebida para ambas.
Clarisse estava nervosa.
Durante algum tempo, Natália e Clarisse ficaram bebericando e ouvindo as músicas que foram
apresentadas pelo cantor. Entre esta:

“O peixe é pro fundo das redes,
Segredo é pra quatro paredes,
Não deixe de que males pequeninos,
Venham transtornar os nossos destinos.

O peixe é pro fundo das redes,
Segredo é pra quatro paredes,
Não deixe de que males pequeninos,
Venham transtornar os nossos destinos,
Primeiro é preciso julgar,
Pra depois condenar.

Seu mal é comentar o passado,
Ninguem precisa saber,
O que houve entre nos dois.
O peixe é pro fundo das redes,
Segredo é pra quatro paredes,
Não deixe de que males pequeninos,
Venham transtornar os nossos destinos.

O peixe é pro fundo das redes,
Segredo é pra quatro paredes,
Não deixe de que males pequeninos,
Venham transtornar os nossos destinos,
Primeiro é preciso julgar,
Pra depois condenar.

Quando o infortúnio nos bate a porta,
E o amor nos foge pela janela,
A felicidade para nos está morta,
E não se pode viver sem ela,
Para o nosso mal não há remédio coração,
Ninguém tem culpa da nossa desunião.
Segredo – Dalva de Oliveira”

Nisto, Francisco surgiu na boate, acompanhado de uma bela loura, que chamou a atenção de todos
os homens que estava por perto.
Caminharam pelo ambiente, sentaram-se a mesa.
Francisco pediu bebidas ao garçon.
O casal conversava, sorria escandalosamente e bebia.
Mais tarde, começaram a dançar.
Francisco sussurou algo no ouvido da mulher. 
Beijou o rosto da loura.
Natália, ao presenciar a cena, ficou furiosa.
Tanto que mesmo sendo segurada por Clarisse, acabou se desvencilhar, indo ao encontro do casal.
Ao se aproximar de ambos, pegou um dos copos com bebida da mesa, em que estava o casal, e
jogou no rosto de Francisco.
O homem ficou perplexo ao se deparar com Natália na boate.
Sem saber como reagir, deixou a moça partir, seguida por Clarisse, a qual o observou, com olhar
de reprovação.
Francisco, ao dar-se por si, abriu sua carteira, deixou o dinheiro necessário para pagar a conta, e
saiu da boate, sem se dar maiores explicações a sua acompanhante.
Aflito, o homem correu para sua casa, encontrando a porta fechada.
Gritando, chamou por Natália, implorando-lhe que o perdoasse.
Natália porém, não atendeu aos reclamos do moço.
Francisco, deitou-se na porta.
No dia seguinte, ao sair para comprar pão, Natália deparou-se com o homem dormindo na porta
da casa.
Furiosa, entrou novamente em casa.
Francisco, que ainda dormia, só se deu conta do ocorrido, quando a mulher novamente fechou a
porta.
Aflito, levantou-se e passou a bater na porta, desesperado.
Natália porém, não estava disposta a perdoá-lo.
Com isto, o homem teve que encontrar um lugar para ficar.
Cassiano ofereceu sua casa.
Celina por sua vez, aconselhou a filha a voltar para o marido.
Dizendo que não ficava bem aquela situação, comentou que se aquilo virasse um escândalo, não
poderia fazer nada para ajudá-la.
Todavia, em que pese este fato, Natália afirmou que jamais perdoaria o marido.
E assim, continuou a desprezá-lo.
Francisco a seguia, na feira, no armazém.
Natália porém, fingia ignorá-lo.
Desesperado, a certa altura, o homem, convidou seus amigos para acompanharem-no em uma
seresta.
Tentando obter o perdão da esposa, Francisco chamou Cassiano, André e Severo para
acompanharem-no na serenata.
Feliz e cheio de esperança, Francisco vestiu seu melhor terno, perfumou-se, e lá se foi com seus
amigos postar-se em frente a sua casa, com vistas a reconquistar sua esposa.
Animado, començou a cantar:

“Adeus, adeus, adeus
Cinco letras que choram
Num soluço de dor
Adeus, adeus, adeus

É como o fim de uma estrada
Cortando a encruzilhada
Ponto final de um romance de amor
Quem parte, tem os olhos rasos d’água
Ao sentir a grande mágoa
Por se despedir de alguém
Quem fica, também fica chorando
Com o lenço acenando
Querendo partir também
Adeus (Cinco Letras Que Choram) - Composição: Silvino Neto”

Silêncio absoluto.
Francisco porém, era insistente.
Percebendo que a canção não agradara, pediu aos amigos para cantarem outra música.
Cantaram:

“A deusa da minha rua
Tem os olhos onde a lua costuma se embriagar
Nos seus olhos, eu suponho
Que o sol, num dourado sonho, vai claridade buscar

Minha rua é sem graça
Mas quando por ela passa
Seu vulto que me seduz

A ruazinha modesta é uma paisagem de festa
É uma cascata de luz
Na rua uma poça d'água, espelho da minha mágoa
Transporta o céu para o chão

Tal qual o chão da minha vida
A minh'alma comovida
E o meu pobre coração
Espelho da minha mágoa
Meus olhos são poças d'água
Sonhando com seu olhar

Ela é tão rica e eu tão pobre
Eu sou plebeu, ela é nobre
Não vale à pena sonhar
Deusa da Minha Rua - Composição: Nexton Teixeira/Jorge Faraj”

Nisto finalmente, Natália abriu a janela de seu quarto.
Usando uma capa sobre a camisola, parecia estar encantanda com a serenata.
Francisco então, resolveu se aproximar da janela, pulando um muro.
Ao aproximar-se, Natália abaixou-se rapidamente, e Francisco, tomou um banho, com a água que
a moça jogou do balde que trazia consigo.
Ao se ver todo molhado, o homem ficou furioso.
Natália então disse:
- Suma daqui! E não volte nunca mais!
Humilhado, só coube a Francisco encerrar a cantoria, e junto com seus amigos, partirem dali.
Nesta época, Glauco já havia se casado com Clarisse, e apaixonado que era pela esposa, deixou
de acompanhar Francisco em suas noitadas.
Todavia, os amigos solteiros de Francisco, ainda o acompanhavam.
Ao tomar conhecimento do ocorrido, Celina censurou Natália.
Preocupada, Celina comentou que a filha não poderia permanecer naquela situação, ou então,
ficaria mal falada.
A moça contudo, parecia não se importar com isto. 
Estava furiosa.
Chorando, chegou a comentar que não merecia sofrer o que estava sofrendo.
Celina tratou de consolá-la.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

OS SONS QUE A GENTE OUVE

A CANÇÃO NO TEMPO ANOS QUARENTAS – NAS ONDAS DO RÁDIO

Capítulo 1

Natália, que estava entretida em ouvir as canções do rádio, mal se deu conta da aproximação de Francisco que voltava de uma missão militar.
Enquanto se ocupava dos afazeres domésticos, Natália adorava ouvir música.
Nesta ocasião, estava a varrer a sala.
Enquanto varria a sala, limpava os móveis, ajeitava as almofadas, ficava a pensar em Francisco. Nas constantes despedidas.
Na tristeza em que ficava ao vê-lo partir.
Lembrou-se de seu casamento.
Da festa promovida no quintal da casa de sua mãe, Celina.
No bolo confeitado, com dois bonecos que representavam os noivos.
Depois da cerimônia na igreja, o casal cortou um pedaço do bolo, com a sua mão direita.
Para a festa, Celina preparou uma lauta refeição.
Havia arroz, uma carne, bebida, e a cantoria de Cassiano, Glauco, Severo e André.
Animados, eles cantaram:
“Tu és, divina e graciosa, estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada, e formada com ardor
Da alma da mais linda flor, de mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor

Se Deus me fora tão clemente aqui nesse ambiente, de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
O teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado
Sobre a rósea cruz do arfante peito teu

Tu és a forma ideal, estátua magistral
Oh! alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação que em todo coração sepultas o amor
O riso, a fé e a dor, em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor

És láctea estrela, és mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza

Perdão, se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh, flor meu peito não resiste
Oh, meu Deus quanto é triste, a incerteza de um amor
Que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia aos pés do altar

Jurar, aos pés do onipotente em preces comoventes, de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos em nuvens, de beijos
Hei de te envolver até meu padecer, de todo fenecer
Rosa - Composição: Pixinguinha e Otávio de Souza”

Celina insistiu para que o casal dançasse.
Natália, com seu vestido de noiva, foi conduzida por Francisco.
Clarisse aplaudiu o evento.
Por fim, uma foto registrou o casamento.
Os noivos e os convidados, se posicionaram em frente ao fotografo.
Lindo retrato de um tempo feliz.
Natália recordou-se ainda de quando viu o moço pela primeira vez, sempre com sua indefectível farda.
Achou-o bonito, garboso.
Estava acompanhado de seus inseparáveis amigos: Cassiano, Glauco, André e Severo.
Francisco, ao observar aquela moça bonita caminhando pelas ruas de São Paulo, logo se encantou por ela.
Audacioso, chegou bem perto dela e comentou: - Bela morena!
Clarisse, que a acompanhava, o achou atrevido demais.
Isto não a impediu porém, de reparar em Glauco, um dos rapazes fardados que seguiram com Francisco.
O moço também não lhe foi indiferente.
Neste caso porém, tudo ficou apenas, em uma troca de olhares.
Com tempo, o casal Clarisse e Glauco passaram a trocar correspondências.
Cartinhas onde diziam sentir saudades um do outro.
Natália chegou a ler alguma delas.
“Minha gentil senhorita.
Sinto a tua falta que cada vez que tenho que despedir-me de sua voz.
Amo a tua beleza, venero a tua alegria, entristeço-me com tua tristeza.
Adoro-te como a nenhuma outra.
De teu súdito, Um aflito Glauco, que espera uma resposta a esta missiva.”

Natália achava linda a relação do casal.
Com efeito, a moça encontrou-se novamente com Francisco, no baile promovido pela marinha em Santos.
Natália era filha de militar.
Rômulo, seu falecido pai, também pertencera a marinha, fato este que garantira uma boa aposentadoria a sua mãe, Celina.
A mulher fora muito apaixonada do marido.
Celina, por diversas vezes chegou a dizer que Rômulo fazia muita falta.
Viúva a cerca de dois anos, ainda não se acostumara com a ausência do marido.
Ciosa porém, de seus cuidados com Natália, sua única filha, raramente a deixava só.
E assim, lá estava ela no baile, cuidando de Natália e também de Clarisse, amiga de sua filha.
 Ainda assim, Francisco aproximou-se de Natália, e Glauco, estimulado pelo amigo, aproveitou o ensejo para convidar Clarisse para dançar.
Sem alternativa, Celina acabou concordando em deixar as moças dançarem.
Francisco, ao aproximar-se da moça, comentou que desde que ela adentrara o salão, não tirara os olhos dela.
Natália ficou constrangida.
Francisco, ao notar isto, comentou que as mulheres bonitas não deveriam ficar nunca constrangidas, já que os elogios a sua beleza era lugar comum em suas vidas.
Natália sorriu.
Nisto, Francisco continuou a dançar com a moça.
Quanto a Glauco, o moço disse a Clarisse, ter acreditado que nunca mais a encontraria.
Ansioso que estava, acabou se atrapalhando um pouco com a dança, mas nada que diminuisse o encantamento de Clarisse.
Foi assim, que o casal começou a se corresponder.
Ao término da dança, Francisco levou a moça de volta para a mesa onde se encontrava Celina. Tentando ser gentil, o moço disse a mulher, que Natália estava entregue e de volta as suas boas e zelosas mãos.
Celina contudo, não gostou do rapaz.
Por diversas vezes, chegou a comentar com a filha, que o achava muito convencido e vaidoso. Natália por sua vez, não deu atenção aos comentários da mãe.
E assim, foi questão de tempo Francisco pedir a mão de Natália em casamento.
Com isto, mesmo a contra-gosto, Celina acabou aceitando o enlace.
Dizendo que não poderia opor obstáculos a felicidade da filha, comentou que seu casamento com Rômulo fora uma imposição paterna.
Argumentou também, que seu casamento tinha tudo para ser infeliz, mas ela, ao descobrir a pessoa maravilhosa que era Rômulo, acabou por viver uma grande felicidade ao seu lado.
Desta forma, Celina concordou em preparar um almoço em sua casa.
Nesta ocasião, Francisco pediu a mão de Natália, na presença dos já noivos Clarisse e Glauco, e dos amigos Cassiano, André e Severo.
Empolgado, disse que aquele era um grande momento em sua vida.
Talvez um dos mais importantes.
Comentou que ao vê-la pela primeira vez, encantou-se.
Tanto, que a partir de um certo momento, não conseguia imaginar sua vida, senão ao lado dela. Razão pela qual ficou dias, semanas se preparando para dizer palavras bonitas.
Palavras que encantassem a todos.
Com efeito, dizendo que não iria se estender mais, mostrou o bonito anel que havia comprado para Natália.
Era uma jóia simples, mas uma jóia.
Clarisse e Celina ficaram admiradas com o presente.
Quando o moço colocou o anel no dedo de Natália, todos bateram palmas.
No tocante ao casamento, houve uma certa polêmica, quanto ao lugar onde ele e Natália residiriam.
Francisco, chegou a sugerir Santos, pela facilidade de se locomover até o seu local de trabalho. Celina ao tomar conhecimento desta intenção, se opôs.
Dizendo que sua filha ficaria muito sozinha em Santos, comentou que durante boa parte de sua vida, a moça vivera em São Paulo.
Que toda sua história afetiva, suas memórias, sua família e seus amigos estavam lá.
Ademais, como ele era militar, ficaria boa parte do tempo ausente do lar, e com isto, Natália ficaria em um lugar estranho, longe dos amigos, da família, e solitária.
Celina comentou que já bastava ela ficar longo tempo longe do marido.
Não precisava também ficar em completa solidão.
Francisco, percebendo a preocupação de Celina, e não querendo se indispor com sua sogra, acabou concordando em permanecer em São Paulo.
Afinal de contas a sua vida também se desenrolara praticamente toda, em São Paulo.
Francisco somente começou a se deslocar para Santos, quando começou a integrar os quadros a da marinha.
O moço era Guarda-Marinha.
Natália se recordava de suas despedidas de Francisco, e do quanto isto era triste.
Toda vez que o marido partia em uma missão militar, a moça se debulhava em lágrimas.
Celina, que sempre via a filha se lamentando, comentou diversas vezes que a vida da mulher de um militar era uma vida de constantes despedidas, mas também de chegadas, e que o momento do reencontro, geralmente era muito especial.
Natália concordou com estas palavras.
Geralmente os retornos de Francisco, eram deveras felizes.
O homem chegava de mansinho, quase sempre a surpreendendo.
As despedidas nem por isto contudo, deixavam de serem tristes, argumentava.
Nisto, Natália voltou a seus afazeres.
As cadeiras da cozinha estavam todas viradas para cima.
A casa cheirava a limpeza, mas faltavam alguns detalhes para ficar completamente arrumada. 
Como já foi dito anteriormente, Natália ouvia canções no rádio.
A esta altura, tocava:
“A estrela d'alva
No céu desponta
E a lua anda tonta
Com tamanho esplendor

E as pastorinhas
Pra consolo da lua
Vão cantando na rua
Lindos versos de amor

Linda pastora
Morena da cor de Madalena
Tu não tens pena
De mim, que vivo tonto com o teu olhar

Linda criança
Tu não me sais da lembrança
Meu coração não se cansa
De sempre e sempre te amar
Pastorinhas - (Noel Rosa e João de Barro)”

Ao término da música, o homem se aproximou de mansinho, e disse baixinho:
- Cheguei!
Natália, surpresa, tratou logo de abraçá-lo.
Estava cheia de saudade.
Nervosa, comentou que a casa estava toda bagunçada, que não estava arrumada, e que deveria tê-la avisado que estava de volta.
Francisco comentou que preferia que fosse assim.
Nisto o casal ficou juntinho, abraçados.
Natália estava feliz com o casamento.
Acreditava ser a única mulher na vida do marido.
Nisto, o homem dançou com a mulher, ao som das canções do rádio.
Francisco cantou junto com o cantor do rádio, a canção:
“Meu coração
Não sei porque
Bate feliz 
Quando te vê

E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo
Mas mesmo assim
Foges de mim

Ah, se tu soubesses como eu sou tão carinhoso
E muito muito que te quero
E como é sincero o meu amor
Eu sei que tu não fugirias mais de mim

Vem, vem, vem, vem
Vem sentir o calor dos lábios meus
A procura dos teus

Vem matar esta paixão
Que me devora o coração
E só assim então
Serei feliz, bem feliz
Carinhoso - Orlando Silva
Composição: Pixinguinha/João de Barro”

Por fim, o homem segurou a mulher no colo, e rodopiou com Natália em seus braços.
Assustada, Natália pediu para Francisco a colocar no chão.
Nisto, o homem retomou sua rotina caseira.
Passou a ler seu jornal.
Enquanto isto, Natália cuidava dos afazeres domésticos.
Arrumava a casa, preparava as refeições.
Namorava o marido.
E se deslumbrava com as rádio novelas.
Natália era fascinada pelas rádio novelas como “A Flor do Deserto”, anunciada por belas vozes do rádio.
A rádio novela contava a história do sheik Ali, que sequioso de encontrar um sentido para sua vida, chegou a consultar o Grão Vizir, auxiliar do rei.
Ansiava por uma resposta a suas angústias.
O Grão Vizir chegou-lhe a dizer que o que ele procurava estava bem perto, e ao mesmo tempo muito longe dele.
Ali contudo, não compreendeu o enigma.
Antes disto, pensou em organizar uma festa e convidar as mais belas moças da localidade. 
Intencionava encontrar uma boa moça para se casar, e provavelmente a eleita seria escolhida no baile organizado pelo moço.
O sheik Ali era um rico mercador da região, acostumado a percorrer a vastidão dos desertos, e a acompanhar os beduínos.
Vivendo uma vida cheia de aventuras, era capaz de impressionar muitas mulheres.
Contudo, não era isto o que desejava.
Pensativo, achava sua vida vazia e sem sentido.
Razão pela qual resolvera se entregar a realização de uma festa sem igual.
Acreditava que assim, encontraria uma resposta para suas dúvidas.
Cuidadoso, mandou seus criados organizarem o evento em seus mínimos detalhes.
Louças, almofadas, vasos, plantas, flores, músicos, apresentações de danças.
Tudo deveria ficar perfeito para a grande festa. Ao ouvir a narração da história, Natália ficava a imaginar o longínquo Oriente Médio, e o exotismo de sua cultura.
O sheik de turbante, andando de camelo.
Celina sua mãe comentava, que em seu tempo, o objeto de adoração de todas as moças, era um ator chamado Rodolfo Valentino, o qual viveu uma história, na qual interpretava um sheik.
A mulher comentava que também muitas vezes sonhou com o famigerado sheik.
Mocinha, ficava a se imaginar andando em seu cavalo, percorrendo o deserto a seu lado.
Natália achou graça.
Afinal de contas, aquela mulher tão séria também tinha sonhos românticos?
Celina, que não achou graça do comentário, respondeu que também fora jovem, e assim como sua filha, bastante sonhadora.
Comentou que antes de conhecer Rômulo, sonhou muito com seus ídolos do cinema.
Com efeito, de vez em quando, Natália e Francisco saíam juntos para dançar e ouvir boa música. Frequentavam algumas boates.
A moça vestia seus longos mais bonitos para acompanhar o marido.
Nestas ocasiões, o homem deixava de lado sua farda.
Usava um bom terno.
Gostava de dançar.
Tanto que era um exímio dançarino.
Nisto, ao chegarem no local, depois de ouvirem algumas canções, Francisco convidou Natália para dançar.
E o casal dançou, embalado, pela canção:
“Não sei por quanto tempo
Ainda esperarei
Por ti pelos carinhos teus
Por tudo que me vem bailando
Tecendo os sonhos meus
Talvez só por viver
A sombra da ilusão

Envolto no silencio frio
Irei por quanto tempo ainda
Esperarei teu amor em vão
Nunca animais se confessam
Aos que sofrem de mal do amor
Lá no teu corpo gelado
A perfídia do teu encanto
Nunca terás a teus pés a ventura
Da minha dor

Os meus joelhos dobrados um dia
E em pranto há de implorar o amor
Talvez só por viver a sombra da ilusão
Envolto no silencio frio
Irei por quanto tempo ainda
Esperarei teu amor em vão
Por Quanto Tempo Ainda - Orlando Silva”

Dançaram de rosto colado.
Foram tempos felizes.
Com o tempo porém, Francisco passou a se ausentar do lar.
Primeiro começou a sair de tarde.
Com o passar das semanas, o homem começou a inventar desculpas para sair a noite.
Natália começou a ficar cismada.
Clarisse, tentando amenizar a situação, dizia que Francisco estava atarefado com assuntos da marinha.
Natália contudo, questionava:
- E por que a noite? Por que não de dia?
Clarisse se calava.
Afinal de contas, como poderia contra-argumentar?
Contra fatos, não há argumentos.
Certa vez, a moça recebeu uma carta de uma desconhecida, relatando que ela deveria ficar atenta com seu marido.
Isto por que, pessoas já o haviam visto frequentando uma determinada boate, sempre com uma mesma moça.
Natália, a ler o conteúdo da carta, ficou furiosa.
Revoltada, pediu para Clarisse acompanhá-la na incursão que faria na aludida boate para verificar o que estava acontecendo.
Sua amiga, tentou em vão, demovê-la da idéia.
Sem sucesso.
Isto por que, Natália estava firme em seu propósito.
Quando a história chegou ao conhecimento de Celina, a mesma tentou fazer a filha, desistir daquele intento, o qual considerava louco, tresloucado.
Mas nada de Natália desistir da idéia.
A certa altura, dizendo que iria até a boate, mesmo que fosse sozinha, acabou por convencer Clarisse a acompanhá-la.
Nisto, a moça, inventou uma desculpa ao marido Glauco.
Disse que iria cuidar de uma amiga doente.
Com isto, levou um vestido de festa, e sapatos, dentro de uma sacola.
Celina então, dirigiu-se a casa de Natália.
Antes de sair, Glauco disse que se cuidasse, para não ficar doente também.
Nisto, ao se encontrar com Natália, Celina comentou que elas deveriam tratar de se organizarem para colocar o plano em prática.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

São Paulo: Conheça a História da Barra Funda

Região é famosa por ser o endereço do Memorial da América Latina, projetado por Oscar Niemeyer
      
O Bairro da Barra Funda, nasceu do loteamento da Fazenda Iguape. 
Logo após a divisão da área, os italianos começaram a povoar a área. 
Uma das razões para a imigração, era a construção de uma ferrovia no local. 
O nome do distrito surgiu porque no passado, a Barra do Rio Tietê na região, era muito funda.
O progresso da Barra Funda, está estreitamente ligado à construção de estradas de ferro, para o escoamento da produção do café na cidade. 
Por conta disso, tornou-se um Bairro operário, que abrigava trabalhadores ao longo dos trilhos da ferrovia, que ensacavam as mercadorias produzidas pelas fábricas.
Outro fator que colaborou para o desenvolvimento do Bairro, foi a construção do Parque Industrial das Fábricas Reunidas Francisco Matarazzo, instalado no bairro vizinho da Água Branca, em 1920.
A região sofreu um forte abalo com a crise de 1929, que resultou no fechamento de empresas, e na saída de famílias endinheiradas para outros locais. 
Após há alguns anos, muitas casas deram lugar a estabelecimentos comerciais, e prédios de negócios se instalaram nas redondezas.
INFRAESTRUTURA: 
O bairro conta com o Terminal Intermodal Barra Funda, que reúne todas as modalidades do transporte coletivo (metrô, trens, transporte rodoviário, ônibus municipais e intermunicipais). 
Também abriga o Estádio do Parque Antarctica, e o Centro de Treinamento (CT), do time de futebol Palmeiras e São Paulo. 
O Shopping West Plaza e Bourbon Shopping, são os dois principais centros de lazer e compras da região. 
Além disso, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e a Uninove, têm grandes unidades no Bairro.
TURISMO: 
Na divisa do Bairro Barra Funda com Perdizes, está o Parque da Água Branca. 
Além da área de lazer, o local tem espaços infantis e para a terceira idade, museu de arqueologia e, nos finais de semana, mantém uma programação permanente, incluindo festas folclóricas, exposições de animais, leilões e rodeios.
A Barra Funda, é famosa também por ser o Bairro das Escolas de Samba Camisa Verde e Branco, e Mancha Verde, e pelo Memorial da América Latina, projetado por Oscar Niemeyer. 
O complexo é constituído por um acervo permanente de obras de arte, biblioteca e eventos itinerantes.
Galpões desocupados estão sendo ocupados por grandes empreendimentos.
MERCADO: 
Pesquisas apontam que a valorização de terrenos na região estourou. 
De acordo com a Associação de Moradores da Barra Funda, um terreno que, há dez anos, custava R$ 50 mil, hoje está em R$ 200 mil.
Como o Distrito possui enormes galpões desocupados, e a Prefeitura ainda autoriza grandes empreendimentos na região, o mercado definitivamente aposta na Barra Funda, como o Bairro paulistano da vez.

Barra Funda é um Distrito situado na região oeste do município de São Paulo, com 5,6 km² de superfície. 
Apesar da pequena superfície, o Distrito possui em seu território, o Terminal Barra Funda, a Quadra da Camisa Verde e Branco, o Memorial da América Latina, o Estádio Allianz Parque, pertencente ao clube de futebol Palmeiras, os Centros de Treinamento (CT) do mesmo Palmeiras, e do São Paulo F.C., prédios empresariais como os da PricewaterhouseCoopers, e os estúdios da RecordTV.
Situado em uma área de várzea ao sul do rio Tietê, cortada desde o século XIX por duas ferrovias (Santos-Jundiaí e Sorocabana), foi durante muitos anos uma região de vocação industrial. 
Atualmente se tornou uma zona de classe média, e pequenos escritórios. 
Em seu limite se encontram o Parque Fernando Costa (Parque da Água Branca), e o Terminal Rodoviário da Barra Funda, que funciona junto com a estação terminal da Linha 3 (vermelha) do Metrô de São Paulo.
Foi retratada na obra de Alcântara Machado "Brás, Bexiga e Barra Funda", que aborda o cotidiano das classes proletárias da cidade de São Paulo na primeira metade do século XX.

História
Por volta de 1850, a região que corresponde atualmente à Barra Funda, fazia parte da antiga Fazenda Iguape, propriedade de Antônio da Silva Prado, o Barão de Iguape. 
Essa fazenda, após loteada, deu origem a várias chácaras, entre elas a Chácara do Carvalho, pertencente ao Conselheiro Antônio Prado, neto do Barão de Iguape, e que mais tarde se tornaria 
Prefeito do município de São Paulo. 
A importância da família, e a grandiosidade dessas terras, pode ser expressa pelo fato do Conselheiro Prado ter contratado Luigi Puci, responsável pelo projeto do Museu do Ipiranga, para projetar a casa sede da chácara. 
Anos depois, a chácara também foi loteada, e sua Casa Sede foi adquirida pelo Instituto de Educação Bonni Consilii (que ainda situa-se no local). 
As outras áreas loteadas deram origem ao distrito da Barra Funda, e a parte dos atuais Distritos da Casa Verde e Freguesia do Ó.

Logo após o loteamento da área, os primeiros a povoarem a região foram os italianos. 
Trabalhavam em serrarias e oficinas mecânicas, principalmente para atenderem, a população do elitizado Bairro vizinho, dos Campos Elísios. 
Muitos também trabalharam na ferrovia que seria inaugurada no final deste século.
O desenvolvimento maior da região, ocorreu após a inauguração da Estação Barra Funda, da Estrada de Ferro Sorocabana, em 1875, funcionando como escoamento da produção de café paulista, e também como armazém dos produtos que eram transportados do Porto de Santos para o interior. 
Isso incentivou o aumento populacional e a ocupação da região e de seus arredores, que se intensificou com a criação, em 1892, da São Paulo Railway, inaugurada próxima à Estrada Sorocabana, justamente onde se encontra atualmente o Viaduto da Avenida Pacaembu. 
O crescimento demográfico na região proporcionado pela ferrovia, fez com que essa passasse a trasportar, a partir de 1920, não apenas cargas mas também passageiros. 
A partir do século XX, a população negra começou a povoar a região, alterando a característica essencialmente italiana da Barra Funda.
O primeiro bonde elétrico de São Paulo, foi lançado em 7 de maio de 1902, ligando a Barra Funda ao Largo São Bento. 
Neste trajeto, passava através das ruas Barra Funda, Brigadeiro Galvão, até seu ponto final, na rua Anhangüera.
Esse desenvolvimento comercial do Bairro, aliado à grande facilidade no transporte e à proximidade dos elitizados Bairros de Higienópolis e Campos Elísios, fez com que parte da elite paulista da indústria e do café, se instalasse nessa região ao sul do bairro, entre a linha férrea, e as margens do Rio Tietê. Outro fator que colaborou para o desenvolvimento da Barra Funda, foi a proximidade com o Parque Industrial das "Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo", instalado no Bairro vizinho da Água Branca, em 1920. 
As Indústrias Matarazzo empregavam boa parte da população da região, assim como em grande parte da cidade, e foram a base do conhecido "Império Matarazzo", que foi se enfraquecendo até se extinguir na década de 1980.
O desenvolvimento da região, sofreu um forte abalo com a crise de 1929, que resultou no fechamento de indústrias e deslocamento da elite dessa região, abandonando seus casarões (alguns se tornaram cortiços mais adiante). 
Restou basicamente a indústria artesanal com oficinas, marcenarias, serraria, ou indústrias alimentícias, e têxteis de pequeno porte.
Apesar das aparentes dificuldades, foi nesta época que a Barra Funda viveu uma época de grande manifestação cultural. 
O Bairro expôs para o país grandes paulistanos, como Mário de Andrade, que nasceu e viveu no Bairro, que conserva até hoje sua antiga residência. 
Em 1917 foi inaugurado o Teatro São Pedro. 
Três anos depois, o Palestra Itália de São Paulo, comprou um terreno, em que foi construído o Estádio Palestra Itália, pertencente ao clube que em 1942, mudaria seu nome para Sociedade Esportiva Palmeiras.
A Barra Funda também foi palco da criação do mais antigo cordão de carnaval da cidade: o Grupo Carnavalesco Barra Funda. 
O Grupo foi perseguido por pressão do presidente Getúlio Vargas, que confundiu a associação, já que os mesmos utilizavam camisas verdes e calças brancas, mesmas cores da ação Integralista de Plínio Salgado. 
Finalmente, mudou o nome em 1953, para o cordão Camisa Verde e Branco, mais tarde tornando-se Escola de Samba em 1972, ganhando o carnaval paulistano por 9 vezes, e mantém sua sede no Distrito.
A partir da década de 1970 começou a migração nordestina para a região, e a atividade industrial, anteriormente um dos grandes pontos fortes da Barra Funda, diminuiu sensivelmente. 
Essa situação começou a mudar, apenas no final da década seguinte, com a construção do Terminal Intermodal Barra Funda, um dos maiores do país, e com importância semelhante ao Terminal Tietê, pois reunia todas os tipos de transporte coletivo existentes na capital paulista: metrô (com a inauguração da estação terminal da linha 3 - Barra Funda), trens das antigas linhas Sorocabana e Santos-Jundiaí, além de ônibus para viagens municipais, intermunicipais e internacionais. 
Neste mesmo ano (1989), foi concluída a construção do Memorial da América Latina, um grande reduto cultural inaugurado sobre o antigo Largo da Banana, e projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer.
Tais obras trouxeram novo desenvolvimento a área, com a revitalização de imóveis antigos, novos estabelecimentos comerciais, e inclusive a instalação dos estúdios da Rede Record de Televisão, a mais antiga do país em atividade, em 1995. 
O distrito possui também desde 1973 o Playcenter, maior parque de diversões da cidade. 
Neste Bairro, também se encontram os Fóruns Trabalhista Rui Barbosa e Criminal Mário Guimarães, além de abrigar a nova sede da Federação Paulista de Futebol. 
A FPF, antigamente, era situada na Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, centro da Capital.
No ano de 2006, o então governador Cláudio Lembo autorizou a mudança do nome da estação de metrô "Barra Funda" para Palmeiras-Barra Funda, após vários pedidos dos torcedores, seguindo a linha da antiga estação Corinthians-Itaquera, da estação Portuguesa-Tietê, e da futura estação da Linha 4 do Metrô, São Paulo-Morumbi.


Texto extraído da internet.
Luciana Celestino dos Santos 

Hospedaria dos Imigrantes

Ao longo da segunda metade do século XIX, o comércio internacional do café, experimentava um enorme crescimento. 
À medida que se avolumavam os movimentos abolicionistas, cresciam as preocupações com a expansão da lavoura. 
As discussões sobre o incentivo à vinda de imigrantes, permeavam toda a sociedade brasileira.
A partir da década de 1870 a introdução do trabalho assalariado, até então uma alternativa à mão–de–obra escrava, passa a ser uma necessidade. 
O processo de abolição era irreversível. 
Começam a chegar sistematicamente grandes levas de imigrantes.
Para recebê–los, em 1882, foi instalada uma hospedaria no Bairro do Bom Retiro. 
Pequena e com constantes problemas de epidemias, o local mostrou–se inadequado para os fins a que fora designado. 
Decidiu–se, então, pela construção de instalações que atendessem às necessidades de recepção do grande número de estrangeiros, que para cá afluía.
A respeito do local ideal para a construção da Hospedaria de Imigrantes, consta do relatório apresentado pelo Governo da Província à Assembléia Legislativa Provincial no dia 15 de fevereiro de 1886:
"...Autorizando (o antecessor) a construção do novo edifício para a Hospedaria, determinou que esta ficasse situada nas proximidades das linhas férreas do Norte e Ingleza. 
O terreno da Luz (já então adquirido), fica próximo só da segunda, destas linhas.
Attendendo a conveniência, parece que, desde que não prevalecem razões inherentes ás vantagens do serviço, não é logar proprio para um alojamento de immigrantes o bairro que mais se presta a ser aformoseado, e que vae merecendo a preferencia da população abastada para ahi construir predios vastos e elegantes. 
É possivel consultar todas as exigencias do serviço mediante a collocação do edificio em terrenos do Braz, a qual permittirá, o que é vantagem consideravel, que os immigrantes, vindos quér por uma quér por poutra estrada, desembarquem com suas bagagens dentro do estabelecimento, e tomem na estação que alli tem a estrada Ingleza os trens que demandam o oeste da provincia, para onde em geral se encaminham."
Dando conta da sua administração no ano que se encerrara, o Barão de Parnahyba, Presidente da Província, remete um relatório à Assembléia Legislativa Provincial. Datado de 17 de janeiro de 1887, o relatório dizia:
"(...) Para dar cumprimento á Lei Provincial n. 56 de 21 de Março de 1885, e de inteiro acôrdo com as idéias emittidas pelo meu illustrado antecessor em seu relatório, resolvi fazer a aquisição do terreno escolhido pelos Drs. Rafael Aguiar Paes de Barros e Nicolau de Souza Queiroz, na freguesia do Braz, para nelle se edificar a nova hospedaria de immigrantes.
(...) Mandei dar vigoroso impulso ás obras de construcção, porquanto não convém que por muito tempo continúe a servir de hospedaria o actual edificio (no Bom Retiro), que não reúne um só dos requisitos exigidos para um estabelecimento desta natureza
(...) O edificio já vai adiantado. Póde funccionar em optimas condições e receber maior numero de immigrantes do que a hospedaria do Bom Retiro, mas entendo, apezar disso, que se não deve deixar incompleto e proseguir na inteira executação do plano. 
É uma obra que interessa a toda a Provincia e que se prende á questão mais momentosa e que maior somma de cuidados deve merecer do legislador Provincial."
Em relatório da Repartição de Obras Públicas, apresentado em 15 de novembro de 1887, lia–se:
“...foram iniciados no correr de Julho do mesmo anno (1886) os trabalhos de construcção do alojamento de immigrantes e a 7 de Junho proximo passado, isto é no intervallo de 10 ½ mezes, já se achavam concluidas as seguintes obras:
1º Ala longitudinal do edificio principal medindo a extensão de 75 metros;
2º Refeitorio e dependencias;
3º Estação–armazem com latrinas para homens;
4º Lavanderia com tanques e latrinas para mulheres.
Entregue a 19 de Junho ao serviço da Inspectoria da Immigração a parte edificada poude já prestar–se a accommodar cerca de 1200 immigrantes." 

Começava a funcionar a Hospedaria de Imigrantes. 
Quase três milhões de pessoas passariam por estas dependências nos seus 91 anos de existência.

Texto extraído da internet.
Luciana Celestino dos Santos 

Bexiga ou Bixiga?

Nem um nem outro. 
O nome oficial do Bairro, nascido em 26 de dezembro de 1910, é Bela Vista. 
Muito antes de seu desmembramento do também famoso Bairro da Consolação, o Bixiga era habitado por um povo com uma história de muita luta. 
Italianos da Baixa Itália, que vinham para o Brasil na ilusão de encontrar terras que poderiam ser suas, acabavam como escravos, junto aos negros, em fazendas paulistas, tendo seu sonho destruído, assim que aportavam no país. 
Destas fazendas, alguns italianos conseguiam fugir e, por algum motivo, acaram indo parar na região que, hoje, chamamos de Bixiga. 
O Bixiga, era uma renovação na esperança daquelas pessoas. 
Eles estavam próximos do centro da cidade, avistando ruas e avenidas como a Consolação, a Paulista, de onde se podia sentir o movimento econômico que aflorava entre os barões do café. 
Em campos novos, agora com novas perspectivas, o povo do Bixiga cresceu, se desenvolveu, e com o passar do tempo, tornou-se símbolo da tradição italiana no Brasil. 

A Vai-Vai nasceu no Bixiga 
Na Rua Rocha, havia um time chamado Cai-Cai. 
Depois de uma briga no time, a moçada saiu correndo, e a turma começou a gritar “Vai, vai, vai!”. 
Daí nasceu o time Vai-Vai. 
E como a moçada ia para os treinos do Vai-Vai munidos de instrumentos musicais, tocando sambas e alegrando a galera, logo surgiu o bloco da Vai-Vai. 
Não era escola de samba, nem tinha samba-enredo. 
Era um bloco carnavalesco, que tinha seu hino. 
E o bloco foi crescendo, crescendo, até o que conhecemos hoje: uma grande e vitoriosa escola de samba. 

A festa de Nossa Senhora da Achiropita 
É, com certeza, a mais tradicional do Bairro. 
Realizada há mais de 90 anos, quando a Igreja de N.Sa. da Achiropita, na Rua Treze de maio, era ainda só uma capela. 
Preferida pelos calabreses, Nossa Senhora da Achiropita, tornou-se a padroeira do Bairro, e as comemorações, desde longa data, são realizadas com entusiasmo pelo povo. 
Há muitos anos, até bandas italianas vinham para tocar e cantar, na pequena Itália brasileira. 
Um aspecto interessante da festa, é que ela não deixou de ser realizada nem durante a Segunda Guerra. Com todos os motivos para rejeitarem qualquer manifestação italiana no país, os paulistas não encaravam a festa, como sendo italiana. 
Na verdade, esse aspecto é mais marcante hoje em dia, graças a uma das tradições que só apareceram com maior ênfase no pós-guerra: a venda de comidas. 
Na época da grande guerra, vendiam-se apenas prendas e faziam-se brincadeiras e, portanto, não havia esse aspecto marcante da tradição italiana. 
Hoje, ao contrário, as saborosas massas são a principal atração da festa, e a imersão nesse clima italiano é a maior alegria dos freqüentadores.

Estou com a idéia de fazer um bolo!!!
O bolo mais famoso de São Paulo, que já rendeu reportagens até em jornais e televisões da Europa, foi idealizado em 1985, por Armando Puglisi, mais conhecido como Armandinho do Bixiga. 
Com a idéia em prática, em sua primeira edição o bolo atingiu 1800 metros. 
Desde então, vem sendo realizado todo ano, e já entrou para o Guiness Book, como maior bolo de aniversário do mundo. 
Mas de onde surgiu essa idéia tão diferente? 
Armandinho explicou, em seu livro de memórias: 
"É uma vergonha São Paulo, a quarta maior cidade do mundo, cidade que tanta gente diz que ama, fazer aniversário, e só ter aquela festa de abaixa bandeira, sobe bandeira, no Pátio do Colégio. 
Foi por isso que achei que devia fazer o bolo". 
Hoje, Armandinho já não está mais conosco, mas a tradição iniciada, ganhou tanta força que, se antes o bolo era montado apenas pela comunidade, hoje já conta até com um centro tecnológico especializado no setor alimentício, para a confecção do bolo. 

Um pouco mais sobre o Armandinho 
Armandinho do Bixiga, criou também o Museu Memória do Bixiga, que reúne a história do Bairro. 
Foi ainda presidente da Escola de Samba Vai-Vai, um dos fundadores do também tradicional Bloco Carnavalesco Esfarrapado, ajudou a dar nova dinâmica à festa de Nossa Senhora Achiropita e – ufa! – conduziu inúmeras outras iniciativas comunitárias, que promoveram o Bairro do Bixiga, inclusive no exterior. 

E o bolo não pára de crescer 
O bolo tomou forma, e vem sendo realizado todo ano, no dia 25 de janeiro (aniversário da cidade), com uma única interrupção, em 1997, quando por dificuldades financeiras, o Bairro não pôde realizar o gostoso parabéns. 
Mas graças à iniciativa de outro importante amigo do Bairro, o querido Walter Taverna, a festa foi retomada e a tradição, hoje, recebe apoio de grandes patrocinadores. 
A idéia de Armandinho era a de fazer o bolo com 1 metro, para cada ano de idade de São Paulo. 
Neste ano, por exemplo, a comemoração dos 450 anos da cidade, proporcionará a confecção de 450 metros de bolo, com três novos sabores, e um novo recorde mundial de presente. 
A montagem do bolo começa sempre por volta das 5 horas da manhã, terminando em torno das 11 horas, instantes antes do canto do “Parabéns a você”. 
Após a celebração, o bolo é cortado e distribuído à população. 
Um processo, que tradicionalmente, não leva mais do que 20 segundos. 

Os 450 anos de São Paulo
Um ano redondo como este, merecia um preparo especial.
Para comemorar os 450 anos de São Paulo, a Dona Benta Alimentos, em parceria com o Senai-SP, a Garoto, e a Dreamaker Branding&Design, está realizando mais um bolo recheado de novidades. 
A primeira delas está nos sabores: a tradicional essência de baunilha, dará lugar às versões coco, fubá, e ao sofisticado chocolate com pimenta. 
Três sabores intercalados, produzidos com ingredientes selecionados pela Dona Benta, e Chocolates Garoto. 
Ainda, a empresa Rio Grandense, proverá um suporte diferenciado para os 450 metros do bolo que, este ano, entrou para o calendário oficial de comemorações do aniversário da cidade, merecendo este cuidado extra. 
Por fim, todo o megaprocesso de preparo, está nas habilidosas mãos da Dona Benta, que botou a mão na massa - literalmente - utilizando toda a infra-estrutura do Senai-SP para a confecção desta grande delícia.". 

Cronologia do bolo 
1980 – Armando Puglisi, o Armandinho do Bixiga, destacado líder comunitário do Bairro, responsável pela conservação do bolo e, logicamente, os custos de tudo. (...) 
Essas questões foram superadas com a ajuda de um Hipermercado do Bairro, que se encarregava sozinho da confecção do bolo, sem nenhum custo para os organizadores do evento, que se responsabilizavam então pela logística de transporte, montagem das mesas e do palanque, fechamento da Rua Rui Barbosa, policiamento etc.“ 

[Maria Paula Puglisi, O Estado de São Paulo, 18/01/1997, “Cancelado o bolo do aniversário de São Paulo”, no site www.bixiga.com.br/telas/cancel/.htm, consultado em 10/11/2003] 

1995 – “Meu pai morreu em dezembro de 94, e em janeiro disse: 
“Não vou fazer o bolo”. 
Daí falaram: 
“Não, você tem que fazer, porque vai quebrar a tradição”. 
Com medo de fazer sem meu pai, fui no 11º Batalhão da Polícia Militar, e conversei com o comandante: “Paula, não se preocupe, vou mandar o Batalhão inteiro”. 
Respondi: 
“Não pode perder essa cara de comunitário, quero só que resguardem de uma baderna, se virar...” 
“Foi engraçado, a população começou a empurrar os guardas que abriram os braços, e foram para cima do bolo também.” 

[Maria Paula Puglisi Yoshihara, em depoimento ao Projeto Memória SENAI-SP, 24/11/2003] 

1996 – Dez pessoas trabalharam uma semana inteira, todos os dias das 8 às 22 horas, para preparar 450 formas que, juntas, formaram o bolo, consumido por cerca de 8 mil pessoas, em menos de 20 segundos. A batedeira industrial do Hipermercado foi ligada, e desligada umas 3 mil vezes só para o bolo. 
Para se manterem conservados, os tabletes exigiram câmara frigorífica apropriada. 
A montagem começou por volta das 5 horas da madrugada, e só terminou por volta do meio-dia, pouco antes do “Parabéns à você”, seguido do corte e distribuição para a população. 
Nesse ano, o evento teve o apoio de 150 homens do 11º Batalhão da Polícia Militar, mais integrantes da Administração Regional da Sé, da CET, além do pessoal da Escola de Samba Vai-Vai, amigos e diretores do Museu Memória do Bixiga. 
1997 – único ano em que o bolo não foi feito. 
O Hipermercado Extra, que apoiava a iniciativa, desistiu na última hora, e nada pôde ser feito. 
“Este ano, contudo, o Hipermercado não pode colaborar conosco, devido a problemas de última hora com seu forno, que não daria conta de fazer um bolo, com a exata metragem do número de anos da cidade, como é tradicional. 
Até quinta-feira passada, eles tentaram outras alternativas, mas elas se mostraram inviáveis. 
Diante disso, e como o tempo já era escasso, inclusive para as demais providências, julgamos melhor cancelar o evento deste ano, com a esperança de que em 1998, ele possa ser retomado com o mesmo impacto que sempre causou.” 

[Maria Paula Puglisi, O Estado de São Paulo, 18/01/1997, “Cancelado o bolo do aniversário de São Paulo”, no site www.bixiga.com.br/telas/cancel.htm , consultado em 10/11/2003] 

1998 – Bolo com 444 metros, metragem igual ao número de anos da cidade. 
Iniciativa do Museu Memória do Bixiga, com patrocínio da SODEPRO – Sociedade de Defesa das Tradições e Progresso da Bela Vista —, e comerciantes da região (escola CNA, Padarias Basilicata e A Italianinha, Casa de Espetáculos Studium). 
1999 – A festa é iniciativa do Museu Memória do Bixiga, com patrocínio do Jornal da Tarde, e das Faculdades Integradas Cantareira. 
A Doceria Maggiore fez o bolo. 
Lela Puglisi (presidente do Museu e viúva de Armandinho), junto com sua filha, Maria Paula, lideram os voluntários do Bairro que ajudam a montar o bolo, em um processo de cerca de 4 horas. 
O primeiro corte, foi feito por Dona Maria Thereza Goulart Franciscato, a Bisa, que completa 90 anos dois dias depois. 
2001 – Walter Taverna, presidente da SODEPRO, assume a liderança da festa. 
2002 – O Grupo J. Macêdo Alimentos, fabricante da Farinha de Trigo Dona Benta, e a Chocolates Garoto começam a patrocinar o bolo. 
2003 – O bolo começa a ser elaborado no SENAI da Barra Funda, por confeiteiros e técnicos em alimentos da Escola SENAI “Horácio Augusto da Silveira”, além daqueles da Chocolate Garoto, e da Farinha Dona Benta. 

Comerciante do ramo alimentício, nascido em 29 de novembro de 1933, na Rua 13 de Maio, 703, na casa de cômodos onde moravam seus avós, tios e pais, Walter Taverna desde cedo aprendeu que o trabalho era a melhor forma de superar a infância difícil, e os percalços da existência. 
Herdou do pai, cozinheiro da pioneira cantina de Francisco Capuano, o encanto pela comida italiana, e o homenageou quando inaugurou seu primeiro estabelecimento, a cantina Dom Carmelo, em 1975. 
Amigo de infância de Armandinho, juntou-se a ele para defender a tradição e o patrimônio histórico do próprio Bairro, ações consolidadas por meio da SODEPRO (Sociedade de Defesa das Tradições e Progresso da Bela Vista), da qual é presidente. 
Em depoimento ao Projeto Memória SENAI-SP, ele conta: 
“A idéia da SODEPRO é de um grupo de pessoas que queriam fazer uma sociedade para defender o Bairro. 
Isso foi em 1977 para 1978, quando assumi a presidência. 
Então, fiz um projeto social para poder defender algumas pessoas da própria comunidade, e a história do Bairro. 
Quando o Armandinho morreu, fiz um juramento que o bolo ia ser feito de todas as formas, nem que eu tivesse que vender a minha casa, ou pedir dinheiro emprestado.” 

Fonte: Memórias do Bolo do Bixiga SP, SENAI-SP 2003 
Autor: Alceu Luiz Pazzinato

Texto extraído da internet.
Luciana Celestino dos Santos 

Os Bandeirantes

As Bandeiras, foram um movimento basicamente paulista, iniciado em no século XVII. 
Os retratos costumam mostrar os bandeirantes, como senhores nobres, bem vestidos, com ar elegante. Não se engane. 
Em sua maioria, eles eram mestiços, pobres, e quase maltrapilhos. 
O movimento dos bandeirantes pode ser dividido em três etapas: 

1ª etapa: 
No começo, os bandeirantes capturaram índios para serem escravizados e vendidos aos fazendeiros de cana-de-açúcar. 
Invadiam tribos e levavam os indígenas, acorrentados, até os locais de leilão. 

2ª etapa: 
Quando o aprisionamento dos índios foi proibido, os bandeirantes mudaram de ramo. 
Passaram a procurar metais, desbravando o interior do país. 
O primeiro lugar em que o ouro pintou com força, foi em Cuiabá. 
Entre 1693 e 1705, os paulistas descobriram as principais jazidas de Minas Gerais. 

3ª etapa: 
Os bandeirantes eram contratados para sufocar rebeliões de negros ou de índios. 
Perseguiam também escravos fugitivos. 
O Quilombo dos Palmares, por exemplo, foi destruído por um grupo de bandeirantes. 

No percurso pelo interior, quando os mantimentos começavam a diminuir, os bandeirantes paravam e montavam um acampamento. 
Ali faziam plantações para repor as provisões. 
Esses acampamentos, davam origem a pequenos arraiais, que depois se tornavam municípios. 
Foi assim que os bandeirantes ajudaram a desbravar o país.

Fernão Dias Pais (1608-1681) 
Em uma de suas primeiras incursões pelo país, aprisionou 5 mil índios na região Sul para trabalhar nas lavouras de São Paulo. 
Em 1672, o bandeirante ganhou do governador-geral do Brasil, Afonso Furtado de Mendonça, uma carta, que lhe dava o direito de chefiar uma expedição, para descobrir esmeraldas e minas de ouro em Minas Gerais. 
A bandeira saiu dois anos depois. 
Fernão Dias ficou conhecido como: "O caçador de esmeraldas", embora não tenha achado nenhuma. Durante o percurso, ele sufocou uma revolta liderada por seu próprio filho, José Dias Pais
Fernão enforcou o filho. 
Depois de sete anos de viagem, ele contraiu uma doença, e morreu longe de casa. 
Hoje, seus restos mortais, estão guardados no Mosteiro São Bento, em São Paulo.
Fernão Dias foi casado com Maria Garcia Betim, que era descendente de Tibiriça pelo lado materno, e de um irmão de Pedro Álvares Cabral, pelo lado paterno.

Amador Bueno (1610-1683) 
Prendeu índios e encontrou ouro. 
Em 1638, Amador Bueno da Ribeira, era considerado um dos homens mais ricos de São Paulo. Exerceu os cargos de ouvidor da capitania, provedor, contador da Fazenda Real, e juiz de órfãos.

Antônio Raposo Tavares (1598-1658) 
Nasceu em Portugal, e chegou ao Brasil em 1618. 
Aprisionou 10 mil índios para trabalhar em sua fazenda, ou vendê-los como escravos, aos fazendeiros de açúcar do Nordeste. 
Suas expedições cobriram grande parte da América do Sul. 
Percorreu 12 mil quilômetros, enfrentando chuvas, pântanos e doenças. 
Partindo de São Paulo, chegou até onde hoje ficam: Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Pará. 
Atravessou pela primeira vez, a Floresta Amazônica.

Antônio Rodrigues Arzão (? - 1694) 
Bandeirante paulista, que foi apontado como responsável pela descoberta de ouro em Minas Gerais. 
Em 1693, ele liderou uma Bandeira, que seguia a trilha de Fernão Dias. 
Encontrou ouro em um ribeirão de Minas Gerais, mas foi atacado por índios e fugiu. 
De volta a São Paulo, contou a notícia a Bartolomeu Bueno da Silva, que seguiu para o local.

Bartolomeu Bueno da Silva (século XVII)
Em 1682, ele foi o pioneiro na exploração dos sertões de Goiás. 
Estava acompanhado de seu filho, Bartolomeu Bueno, de apenas 12 anos. 
Voltaram carregados de ouro e de índios, para as lavouras paulistas. 
Iniciou também a primeira fase de exploração de ouro em Minas Gerais, a chamada "mineração aluvial".
Por que ele ganhou o apelido de "Anhangüera"?
Bartolomeu percebeu que um grupo de índias goiases, usava enfeites de ouro em seus colares. 
Apanhou uma garrafa de aguardente, despejou-o numa vasilha, e colocou fogo. 
Disse aos índios que aquilo era água, e que ele tinha o poder de incendiar os rios, caso não fosse levado às minas de ouro. 
Apavorados, os índios o apelidaram de "Anhangüera", ou diabo velho.

Bartolomeu Bueno da Silva, "O Moço" (1672-1740) 
Filho de "Anhangüera". 
Estabeleceu-se em Sabará, Minas Gerais (1701), onde foi considerado um dos líderes da Guerra dos Emboabas. 
Em 1722, se propôs a colonizar a região, que havia feito a fama de seu pai. 
Com sua Bandeira reduzida de 152 para 70 homens, encontrou ouro no Rio Vermelho e no Ribeirão das Cabrinhas. 
Voltou a São Paulo para buscar ajuda. 
No ano de 1726, estabeleceu ali uma povoação, que seria durante muitos anos, a capital do Estado de Goiás. 
Pelo descobrimento das Minas, ganhou sesmarias, que depois lhe foram retiradas. 
Morreu quase na miséria.

Domingos Jorge Velho (1614-1703)
Bandeirante paulista que partiu de Taubaté, e chegou ao interior do Piauí. 
Na sua caçada aos índios do Nordeste, perseguiu e destruiu, uma série de aldeias. 
No Rio Grande do Norte, lutou na Guerra dos Bárbaros (1687).
Seu principal feito, no entanto, foi a destruição do Quilombo dos Palmares, em 1694. 
A morte do líder Zumbi foi atribuída, a André Furtado de Mendonça, da tropa de Velho. 
Era considerado por todos um homem muito rude, que falava mal o português. 
Comunicava-se sempre em tupi-guarani.

Manuel de Borba Gato (1628-1718) 
Genro de Fernão Dias, Borba Gato fez parte de sua bandeira entre 1674 e 1681. 
Depois de ter sido acusado de um assassinato, ele fugiu para a região do Rio Doce, em Sabará (MG). Ali descobriu ouro em Sabarabuçu e no rio das Velhas. 
Participou da Guerra dos Emboabas.
As descobertas de ouro e pedras preciosas no Brasil, tornaram-se as mais importantes do Novo Mundo colonial. 
Calcula-se que, ao longo de 100 anos, se garimparam 2 milhões de quilos de ouro no país, e cerca de 2,4 milhões de quilates de diamante, foram extraídos das rochas. 
Faltava gente para plantar e colher nas fazendas. 
Pelo menos 615 toneladas de ouro chegaram a Portugal até 1822. 
Toda essa fortuna, não foi reinvestida no Brasil ou em Portugal: passou para a Inglaterra, que vinha colhendo os frutos de sua Revolução Industrial.

* Guerra dos Bárbaros
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Guerra dos Bárbaros foram os conflitos, rebeliões e confrontos envolvendo os colonizadores portugueses e várias etnias indígenas tapuias que aconteceram nas capitanias do Nordeste do Brasil, a partir de 1683.
Com a expulsão dos holandeses do território no ano de 1654, os portugueses puderam retomar o avanço em direção ao interior nordestino, expandindo as fazendas de gado, e perseguindo as etnias indígenas. Porém a resistência de diversas etnias indígenas, que tinham sido aliadas dos holandeses, foi um elemento-surpresa para os lusos.
Os portugueses fortificaram o efetivo militar, inclusive com a vinda de Bandeirantes Paulistas como Domingos Jorge Velho. 
Já as etnias indígenas tapuias do interior nordestino, como os janduís, paiacus, caripus, icós, caratiús e cariris, uniram-se em aliança e confrontaram os portugueses, nas tentativas de dominar as terras dos nativos. 
A aliança das tribos tapuias, denominada pelos portugueses como Confederação dos Cariris ou Confederação dos Bárbaros, foi derrotada somente em 1713.

Texto extraído da internet.
Luciana Celestino dos Santos 

Vila Romana

Também considerado como um dos Bairros mais antigos da cidade, e conhecido até a década de 1920 como Bairro Popular, a Vila Romana teve sua urbanização iniciada em 1888, ao mesmo tempo do Grão Burgo da Lapa, que mais tarde veio a se tornar conhecido, como Lapa de Baixo.
Contudo, o progresso da Vila Romana só foi consolidado em 1927, quando a Cia. City, ao concluir as obras do Alto da Lapa e Bela Aliança, sentiu o crescente interesse da classe média pela região, e criou na região vizinha, um Bairro dentro dos padrões City de infra-estrutura. vromana.htmvromana.htm
Numa estratégia de "trading down", (que consiste em capitalizar o prestígio de sua marca, criando um produto de preço mais acessível), a Cia City decidiu colocar no mercado, um loteamento com as mesmas características dos bairros nobres: ruas arborizadas, passeios ladeados por faixas gramadas, e grandes praças.
Atualmente, a Vila Romana é um Bairro atraente, e de constante valorização imobiliária. 

A cidade de São Paulo é o centro das oportunidades econômicas, da riqueza e da diversidade cultural, onde se concentra o poder econômico e financeiro do país. 
São Paulo, é pólo dinamizador dos 39 municípios, que compõem a Região Metropolitana, cada um dos quais com a sua autonomia administrativa garantida. 
Essa região apresenta ambientes e paisagens muito diferenciados, incluindo desde a alta densidade de centros industriais poderosos, como Guarulhos, Osasco e ABCD (Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano e Diadema), a municípios com grandes áreas de características rurais, como Guararema, Salesópolis e Juquitiba. 
Dela faz parte, ainda, um faixa urbanizada única e contínua, com aproximadamente 90 km de extensão, que se estende ao longo do Tietê, Rio que nasce na metrópole, e a atravessa rumo ao oeste do Estado. 
Os municípios que compõem a Região Metropolitana de São Paulo, formam um território submetido a questões de escala regional - como a localização de pólos geradores de emprego, a oferta de infra-estrutura de energia, de abastecimento de água, de tratamento de esgotos e de comunicações, a preservação e controle do meio ambiente, a interligação viária e o transporte público, entre outros - para as quais as divisas municipais não fazem sentido, gerando a grave situação dos transportes: milhões de pessoas deslocam-se diariamente, através do transporte coletivo ou individual, gerando ineficiência na movimentação geral de cargas e pessoas.
A cidade que veio a se construir no maior parque industrial do país, atingiu seu primeiro milhão de habitantes em meados da década de 30. 
Em 1940, concentra em torno de 1,3 milhão de habitantes, e passa por um processo acelerado de crescimento, espalhando seus negócios pelo território, ligando bolsões isolados, e preenchendo os vazios internos, através de uma ocupação descontrolada e especulativa. 
Nos anos 50, com quase 3 milhões de pessoas, a formação de um parque industrial de base automobilística, nos municípios de Santo André, São Bernardo e São Caetano, o ABC Paulista, brilha como um chamariz no horizonte, atraindo novas levas de força de trabalho, a maioria migrantes, e iniciando um processo de forte desequilíbrio urbano, com o surgimento de um cinturão periférico miserável, e sem controle.
A presença marcante do automóvel, e a caotização do trânsito, marcam o período desenvolvimentista dos anos 60, quando praticamente chega ao limite, a capacidade da malha viária do centro histórico, quase inalterada desde o início do século. 
Em 1967, com 7 milhões de habitantes, rodam pela metrópole cerca de 493 mil automóveis. 
Dez anos depois já seria 1,4 milhão. 
Atualmente são cerca de 4,5 milhões de veículos, rodando na cidade de São Paulo.
O crescimento desordenado da metrópole, tem nos anos 70 a sua primeira tentativa de controle, através do PMDI - Plano Metropolitano de Desenvolvimento Integrado, ao qual vão se suceder outras iniciativas de peso, entre elas a implantação do Metrô de São Paulo, como sistema de integração do transporte coletivo na capital. 
Em 1973, por lei federal, é criada a Região Metropolitana de São Paulo, formada por 37 municípios, posteriormente 39, com o desmembramento por emancipação, de dois dos municípios iniciais. 
A população da região, de 8,1 milhão em 1970, atinge 12,6 milhões em 1980, dos quais aproximadamente 2,8 milhões são migrantes. 
Os anos 80, refletindo um momento de recessão econômica no país, dão início à passagem da metrópole paulista de pólo industrial, para um centro de serviços e negócios, com um processo simultâneo, de desaceleração de seu fluxo migratório. 
A partir de 1990, essa tendência consolida-se, permitindo imaginar certa estabilização espacial, e demográfica, para um futuro próximo.
Mais tarde, em decorrência principalmente da grande migração nordestina, que ocorrera a partir dos anos 50, São Paulo incorporou definitivamente à sua paisagem a presença marcante e miserável das sub-habitações, características de metrópoles subdesenvolvidas, acentuando o desequilíbrio entre o crescimento das áreas centrais, mais organizadas urbanisticamente, e a bem mais rápida ocupação desordenada das periferias.
O crescimento da Região Metropolitana de São Paulo é vertiginoso. 
Sua área de 130 km2, em 1930, passa a 420 km2, em 1950, e a 900 km2, em 1980. 
Apesar da forte queda na taxa de crescimento da população, de 4,5% para 1,8% ao ano, o espaço urbanizado, continua em expansão, chegando a 1.520 km2 em 1987. 
Dez anos depois, em 1997, é de 1.771 km2, a dimensão dessa área.
A formação dessa megacidade, resultou numa ocupação territorial de escala surpreendente, levantando questões cruciais sobre seus limites, controle e funcionalidade. 
Seu modelo atual de crescimento já é outro, refletindo a desmobilização industrial que ocorreu nos anos 80, e a conseqüente perda do poder de atração anterior, resultando na reversão do movimento migratório. 
Assim, a Região Metropolitana de São Paulo continua crescendo, mas num ritmo bem menor, o que permite imaginar a possibilidade de uma participação mais efetiva do planejamento, na reorganização de sua estrutura urbana e, em conseqüência, na melhoria da qualidade de vida oferecida aos habitantes, principalmente nas áreas periféricas.
Dentro de sua mancha urbana, espalhada em um raio médio de 25 quilômetros, algumas zonas contrastam com o conjunto, formando áreas quase segregadas - ilhas sofisticadas em arquitetura, produtos e cultura internacional - e um anel periférico de espaços tensos, com excesso de pobreza e violência. 
A Região Metropolitana de São Paulo, atualmente conta com cerca de 18 milhões de habitantes, dos quais 2 milhões moram em favelas, e 600 mil pessoas em cortiços, somente na cidade de São Paulo.
A ocupação do espaço metropolitano, é resultado de uma legislação de uso de solo, que nunca foi articulada, na prática, com o sistema viário e de transportes. 
Sem diretrizes ou formas efetivas de controle, a cidade foi construída num processo caracterizado como especulativo, levando à implantação descontínua de loteamentos, em que as áreas deixadas vazias, eram valorizadas pela urbanização, que atingia as áreas ocupadas. 
Levantamentos realizados nos anos 80, mostram que 43% da área do município de São Paulo, estava então disponível para edificação, 80% da qual, ocupando regiões periféricas.
O desenvolvimento de algumas áreas, se deu, obrigando-se a superar rupturas e segregações físicas, como a presença de rios e de passagens ferroviárias, como também o fenômeno de alagamentos. Centros tradicionais, onde funcionavam algumas industrias e serviços, passam hoje por uma fase de transição. 
Como conseqüência, tornou-se imperativo um processo de transferência, principalmente da atividade industrial, que vem ocorrendo gradualmente, com o decorrer do tempo.
O cotidiano estressante de São Paulo, esconde de seus habitantes, o complexo mecanismo que garante a vida, e o relativo conforto metropolitano, de que se desfruta. 
No dia-a-dia, redes de infra-estrutura, sistemas e serviços interagem em incessante sincronia, estabelecendo o próprio ritmo da metrópole. 
A cidade dos contrastes incorpora, em seu funcionamento, desde meios tradicionais, como a retirada de água de poços por baldes, e carroças puxadas por animais, às tecnologias mais contemporâneas, como o uso de feixes de raios laser, fibras óticas e sistemas on-line, moldando uma dinâmica própria, decorrente das disparidades sócio-econômicas. 

Alcino Izzo Júnior.
(Texto extraído do livro "Tempos Metropolitanos",editado pelo Metrô e Editora Terceiro Nome).

Texto extraído da internet.
Luciana Celestino dos Santos