Poesias

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

HABITUAL

Os sons a ecoarem pelos ambientes
Em imagens luzentes em tela de computador
Sons e imagens
Ou sons apenas
Sempre a nos fazer companhia nos momentos diversos da vida
A imaginar histórias
Os dramas contados nas canções

Quem sabe melhor ventura terão os poetas?
As notícias várias, correndo o mundo
Tanta tristeza, tanta desdita
Dos tumultos da vida, às vezes as voltas ...
Prefiro não acompanhar

Tentativas de leituras, em meio ao cansaço
Noites recostadas em seu leito
Ouvindo as canções,
Acompanhadas de suas apresentações,
Que me trazem tanto alento

Com a cabeça recostada em travesseiros
Acompanhando os movimentos da tela de cristal
Onde mil mundos se mostram para mim

Arrumar-se para dormir
Olhos pesados a acompanhar
No restinho de dia, um pouco de fantasia
A despeito do dia de belezas e maravilhas concretas

Em contraste a um mundo de imagens na tela de um computador
A natureza lá fora a nos convidar a contemplá-la
Lantanas floridas e cada vez mais coloridas,
Mostrando sua discrição em tons brancos

Plantas trepadeiras com muitas folhagens e poucas flores
Roxas
Sete léguas

O sol a amanhecer seus raios sobre a areia e as águas do mar
Clareando o dia e aquecendo as horas
Ora encoberto de nuvens
De formato arredondado
Lindo luzeiro

Longo caminhar, de suaves passadas
A contemplar leito de pedras a margear duas praias
E o leito de pedras a fazer ondas
Como que a formar uma pequena praia
Lagunas de águas claras,
A compor um lindo azul a fazer par com a areia
Em dias de movimento, os barcos a saírem pelo canal

Gaivotas a voarem sobre o mar
Aves brancas voando em bando
Diferentes penugens, plumagens brancas,
Ou mescladas de negro e branco

Gaivotas a brincarem nas águas
Permanecendo em pequenos bandos
Aves a voarem por sobre a faixa de areia
Ao lado da nativa mata preservada

Banhos de mar
Ondas fortes
Nas águas bravias do mar

As cidades iluminadas do alto das serras
Desvendadas entre um abrir de olhos e outro
Os brilhos eternos da cidade
Eternos por que nunca mudam
Embora mudem as cidades

A noite, em meio ao breu e a escuridade,
Tudo é indiviso
Quantos mistérios a nos espreitar

Em meio a um cotidiano
Quase sempre sem atrativos
Não fosse nos focar, nos belos momentos da vida
Nas coisas importantes,
Ao menos para nós

E tudo seria sem razão
Sem sentido,
Mas não!

Nosso modo de ver a vida, a tudo muda
E assim nos focando, vivemos melhor
Desta forma, o habitual, pode se tornar excepcional

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

Fim de Ano

Mais um ano que se passa, tantos bailes desfilaram pela memória de uma gente tão humilde, vivendo em simples casa, voltando do trabalho de trem. O trem das onze, que carrega mágoas, dores de saudade onde um apito de fábrica fere os ouvidos de quem lá trabalha e tortura na labuta diária. Não se leva em consideração o seu esforço constante, e ainda tens que agüentar um patrão intolerante que vem lhe importunar. Um natal a mais se faz presente e vem lhe ocupar ainda mais. Uma noite de solidão. Mais um natal que a ceia vai esfriar e você não vai poder tocar no prato da satisfação.

Ano Novo – Luz que resplandece

Véspera, dia 31 de dezembro, marca-se pelo prenúncio de um grande momento, quando um novo ano se anuncia e com ele novas esperanças surgem. O novo ano será maravilhoso. A festa de sua passagem, o rito, as ondas do mar onde repousa Yemanjá, pessoas de branco a pular sete ondas com uma rosa nas mãos. Mãos que logo farão por se despedir, jogando a rosa que cairá no profundo mar e partirá para um profundo recanto, até voltar rasteira, ferindo os pés dos passantes.

As Flores

Flores enfeitam a vida, encantam o mundo cobrindo-o de adornos sutis. A primavera começa por desabrochar no jardim das minhas lembranças.

Pensamentos

Enquanto escrevo palavras jogadas numa folha de papel, sinto um pássaro batendo asas dentro de mim. Este colibri quer navegar por mares nunca dantes navegados. Quer conhecer o mundo. Oh! Minha terra querida que os merecidos tempos e a vida não trazem mais.
Se tudo depende de nós, porque as coisas que lutamos para mudar, não mudam?
Talvez seja por falta de ânimo, por não sabermos esperar pelas mudanças, que são lentas, vagarosas, quase invisíveis. Sem percepção...
Aurora de saborosa manhã, um sol forte começa a se apresentar, só sinto sua brisa quente a me acompanhar. Por companhia só falta uma frágil e suave ventania. Adeus triste sombra gelada. Agora só pretendo a companhia do lar. Solar...
Músicas soluçam e ecoam por todos os ares que agora trazem sons que evaporam por todos os sentidos. Soam lirismo puro. Lirismo arrasador, que perturbador arrasta a todos à uma dança voluptuosa e frenética.
Sons lindos que fazem jorrar...
À sombra destas linhas horizontais que agora escrevo, sinto escorrerem por entre os dedos... agora jaz em paz...A tecla salutar soluça entre vertiginosos ais e já se desfaz, mas não se traz tão longa esperança. Adeus.
A patativa quando canta ao longe sobrevoa por entre folhagens. A nívea paisagem, juntamente com o canto do uirapuru, o grande pássaro amazonense de belas cores e penugens esplendorosas, enche a floresta de sons e cores. Oh! Voz maravilhosa1!
Ando a procura da vida, um passo distante, a lua brilhante se faz cada vez mais distante. Ah! Falso pesar, caminhar, desalento. Um sentir de passos pesados. A rua cintilava de estrelas brilhantes, carros passando apressados pela avenida. Ah! Distância quão ingrata tu és...
Cores do som das flores que exalam odores que pelo jardim se espalham. Crianças correndo pelo quintal, velha bica abandonada. A água jorra por dentre musgos, que de limosos só se deleitam durante à tarde refrescante. Calor ardente, o sol que despeja seus raios solares...
Agora vou aproveitar para lhe dar uma utilidade. Será que guardarás as páginas de um livro velho abandonado na estante? Ou será um luminar de folhas novas, num livro contemporâneo, aberto às novas gerações? Seu destino só depende de um gesto...
Livro – conjunto de folhas rabiscadas. Fechadas no conjunto de uma obra. Momento de deleite e esplendor diante da visão maravilhosa de um momento inspirado do autor. Instante de leveza...
Aurora querida, traga minha vida que o vento deixou para trás, por trás dos montes que se espalham pela colina azul. Quero correr por minha terra distante, por fado inconstante, ouvir o som do desejo. Fim.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Festa da Ressurreição

Consoante o que está exposto nas Escrituras Sagradas, a Paixão e Morte de Cristo coincidiu com a festa em que os judeus comemoravam a libertação do cativeiro egípcio, e com isso, vários costumes e símbolos daquela festa passaram a fazer parte dessa festa cristã. A origem do nome Páscoa, vem do equivalente hebreu Pesah. Entre os saxões, o nome indica uma associação com o Eostur-monath, mês de abril, data em que se comemorava a morte do inverno e a recuperação da vida, portanto culto intimamente ligado a Ressurreição. 

Com relação a alguns rituais, os teutônicos são provavelmente responsáveis por certos costumes populares pascais como o Ovo de Páscoa. Antigamente os ovos eram considerados símbolos da vida e da fertilidade. No entanto, o costume de oferecer ovos como presentes nessa época remonta aos antigos égípcios. 

Na Rússia, no catolicismo ortodoxo, os ortodoxos se saúdam nesse dia com as palavras “Cristo Ressuscitou” e a resposta “Ressuscitou realmente”.

Entretanto, vários costumes da liturgia pascoal, como o acender o primeiro fogo nesse dia, desapareceram com a perda do sentido simbólico deste ritual por parte da civilização ocidental. 

No início da civilização cristã, um Concílio, denominado Cesaréia, realizado nos idos do 197 da Era Cristã, definiu que a aludida data seria comemorada no domingo seguinte ao décimo quarto dia da lua de março. E ainda, nas primitivas igrejas onde se professava o catolicismo, era o Domingo, o dia de batismo e comunhão dos catecúmenos, e que mais tarde evoluiu e se transformou na celebração por nós conhecida, como O Dia da Páscoa. 

No Sábado Santo, o tema “Luz”, e “Trevas” é expresso na extraordinária melodia gregoriana do Exultet. Evoca-se nessa ocasião a luz da criação, o combate da luz (Israel), a luz da palavra de Deus e a luz da Ressurreição.

Ademais, esta aludida efeméride que conforme a evolução dos tempos, passou a ser definida como Páscoa, é considerada a celebração de uma dos maiores acontecimentos da liturgia cristã, qual seja, a Ressurreição de Cristo. Cristo este que morrera crucificado numa cruz, segundo as práticas da época, e que ressuscitou ao terceiro dia e subiu aos céus. No Catolicismo ele é cultuado como o messias, enviado por Deus, para ensinar aos homens o mister do amor ao próximo. Período este que se inicia com uma remota preparação, até se chegar a um luminoso momento. Por isso é precedido remotamente pela Quaresma, que se caracteriza por um período de quarenta dias de penitência, e mais proximamente pela Semana Santa. A preparação imediata inicia-se no Domingo de Ramos, quando é celebrada então a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, ovacionado pela mesma multidão que posteriormente o verá crucificado no final desta semana. Nesse Domingo anterior a Páscoa, nas cerimonias religiosas dos templos, são entregues aos fiéis, um ramo que é benzido pelo padre, autoridade incumbida de realizar a missa, e que fica guardado durante um certo tempo nas casas dos cristãos. 

Com isso, a Igreja Católica, empenha-se cada dia mais, a restituir o esplendor desse dia, conforme se pode ver com as representações da Crucificação de Cristo nos rincões do país. A missa que se celebrava no Sábado de Aleluia, (onde ainda persiste o costume ibérico de malhar os Judas confeccionados especialmente para a ocasião, ou mesmo criar os “Judas de Ocasião”, pessoas odiadas no momento), passou a celebrar-se à meia-noite, na passagem para o domingo. 

Por fim, trata-se de um momento de renovação espiritual, o qual deverá ser sempre lembrado. Isso porque, após a Última Ceia, tão celebrizada em pintura artísticas, Jesus deixou como derradeira mensagem que sua pregação não fosse abandonada e que a grande lição que O Pai deixou nunca fosse esquecida que é : “Amai-vos uns aos outros assim como a vós amo”.

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Entre Miríades de Estrelas

“O sol ainda não esparzia a sua luz pelo universo
A lua não estava sujeita às vicissitudes
A terra não se achava suspensa no meio do ar
Em que se sustenta pelo seu próprio peso
O mar não tinha margens
A água e o ar mesclavam-se à terra que não tinha solidez
A água não era fluída, o ar não tinha luz
Tudo era confusão
Nenhum corpo tinha a forma que deveria ter

E todos juntos se obstaculavam uns aos outros ...”

(Ovídio)

CANTO I

Desde as mais priscas eras
Onde tudo era absolutamente obscuro
Onde a confusão ocupava todos os espaços
Deu-se o Caos
Personificação do vazio primordial
Indefinível, indecifrável, indescritível

Fecundo, gerou Érebo e a Noite
Em seguida, gerou o Dia e o Éter
Entidades primordiais para a criação
Érebo, senhor das Trevas Infernais
Em muitas lendas, tido como pai do Éter e do Dia
Contrapondo-se a beleza do céu superior
Onde o deus Éter, resplandece

Unindo-se ao Dia
Gerou a própria Terra
Em seguida, vieram o Céu, o Mar

Dentre as abstrações, surgiram
A Tristeza, a Cólera, a Mentira
Dentre tantas outras deidades

Em razão da Noite
Nasceram o Destino
A Morte, o Sono, a legião dos Sonhos
As Hespérides, as Meras, ou Parcas
Nêmesis, e assim por diante
Filhos estes, derivados

De sua união com o irmão, Érebo
E dessas divindades
Muitas outras nasceram

Contudo, alguns deuses não surgiram deles
E ao que parecem
Sempre existiram

Assim como o Caos
Segundo tradições
Depois de Caos criar a primeira divindade, Érebo
Eros e Gaia, eram os deuses

Entretanto, segundo outras lendas
Eros nasceu dentro de um ovo feito pela déia Noite
E esse Ovo Primordial, partiu-se em dois
Dessa divisão surgiu
Urano, ou o Céu, e Gaia

Dessarte, Gaia, sozinha concebeu Atlas
Personificação das montanhas
E Ponto, a personificação masculina do mar
Mais tarde, Gaia se uniu a Ouranos

E desse matrimônio, todos os Titãs surgiram
Ao todo, era doze

E assim, pertencentes a Geração Divina Primitiva
Tendo por mais jovem Cronos
É dele que sairá a geração dos Olímpicos
Os mais populares deuses da mitologia grega

CANTO II

Os helenos
Deviam seu nome a Hélen
Filho de Deucalião e Pirra
Dentre as mais antigas lendas
Hélen foi um antigo rei da Tessália
Cuja descendência emigrou para o Peloponeso
Foi sucedido por Eólo
Criador da raça dos Eólios

Eólos teve sete filhos e cinco filhas
Dos quais se destacam
Creteu, fundador da cidade de Iolco
Sísifo, fundador da cidade de Corínto
Átamas, que reinou na Beócia,

Desposando Ino filha de Cadmo
Em segundas núpcias

Creteu, desposando Tiro
Filha de seu irmão Salmoneu
Teve com ela três filhos

Éson, pai de Jasão
Famoso com a viagem dos Argonautas
E por ter associado-se a feiticeira Medéia
Feres, pai de Admeto
Reinou em Feras, Tessália
Amitáon, pai de Melampo
Grande advinho e médico notável

Diz a lenda
Que Tiro foi seduzida por Possidon
Com o qual teve dois filhos
Neleu, que migrou para a Messênia
E Pélias, que reinou em Iolco

Contudo,
Dentre os descendentes de Sísifo
O mais famoso, foi o herói Belerofonte
Átamas, por sua vez, teve três filhos
Frixo e Hele e Melicetes,
O último posteriormente, deificado

CANTO III

Sísifo, mítico fundador de Corinto
Dentre todos os mortais
Foi o mais astuto

Quando viu acidentalmente
O rapto de Egina por Zeus
Filha do Rio Asopo
Mais do que depressa
O delatou em troca de uma nascente
Que Asopo fez brotar na cidadela de Corinto

Encolerizado, Zeus
Mandou por morte, Tânato
Mas, inobstante isso
Sísifo conseguiu enganar e prender
Em uma armadilha, Tânato

Com isso, como ninguém mais morria
Hades estrilou, enfurecido
Diante disso, só restou a Zeus, providenciar
A libertação de Tânato

Diante de disso, Tânato
Mais que depressa
Capturou Sísifo e o enviou a Hades

Contudo, o precavido Sísifo
Avisou a consorte, Mérope
Para que não lhe prestasse
As usuais honras fúnebres
De modo que Hades, indignado
Ficou impossibilitado de recebê-lo
No mundo subterrâneo

Sísifo então, desculpou-se com o deus
E garantiu que, se pudesse voltar
Puniria a sacrílega esposa
Nisso o deus concordou e libertou-o
O que fez com Sísifo vivesse por mais alguns anos

CANTO IV
....

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

DESIDÉRIO

E o mar salpicado de barcos
Rico contraste com a água azul do mar
Não me deixes entregue a este eterno desterro
Labéu do esquecimento
Desdita em nossas memórias
Ancoradouro de nossas melhores esperanças
Das eternas viagens de nossas lembranças

Memórias afetivas
Num mar singelo de outras plagas
Um barquinho solitário a enfrentar o mar
Sai do rio em meio a pedras
Que ladeiam o acesso a caminho do mar

Do lado oposto, casas poucas
E algumas gentes a ocuparem as areias da pequena praia
O barco balança e sobe, desce
Ondeando os caminhos do mar

Os caminhos, a chuva
A saudade da maravilhosa cidade
O Corcovado, aproximado de um Velho Cosme
Com seu Cristo Redentor, de braços abertos
Jardim Botânico, com suas palmeiras colossais, imperiais
O Pão de Açúcar e seu bondinho, a nos mostrar os melhores cenários
De uma cidade cinematográfica!

Lindo mar, belas praias,
Construções magníficas a rivalizarem as montanhas
A natureza pródiga em suas belezas
Construções antigas, Centro Histórico

Petrópolis, com seus casarões
Museu Imperial, com sua imponente sala de jantar
Louça, prataria, castiçais
Móveis, sofisticados, elaborados
Carruagens, e objetos de toucador, berços
Chuva e plantas, flores

E do alto do Pão de Açúcar
As praias, o mar salpicado de barcos
Passeios nas praias de Peruíbe,
Muitas águas a caírem dos céus
As chuvas a obstacularem os passeios

Na tevê, esportivas competições
E as moças bonitas, com seus laços de fitas
Jogam o carretel de fitas, coloridas
A enfeitarem o ar de efeitos, formas e cores
Com as meninas a agitarem seus carretéis de fitas
A envolverem seus corpos
E a desenharem o ambiente de nítidas formas
Dançam e embalam as fitas
Das moças com suas lindas roupas brilhantes
Apresentando-se lindamente para a platéia
Ondeando o laço de fitas no ar

E a bela menina com laço de fita
A emoldurar o tablado de formas
Curvilíneas formas
A dançar, saltear pelo tablado
Fazem par com as salteadoras jovens
A desenharem os ares com seus pulos acrobáticos

E o tempo frio e a chuva
A atrapalhar as caminhadas a beira mar
O passeio litorâneo adiado para melhores tempos
E o tempo dos trabalhos a se aproximar
Correria para melhor se acomodar,
Nos assentos e bancos, do trem da vida
Repletos das gentes,
Assaz ocupadas com seus pensamentos

Quero a companhia de uma brisa fresca
O sol a aquecer nossos corpos
A água azul e límpida das frias águas,
Envolvidas em fria ventania
Os chapéus de praia, a circundarem o gramado,
Ladeados por quiosques
Imagens em movimento,
A nos contarem histórias de outros tempos
Belas histórias de outras épocas

Além de muita música a ouvir no som
Rede a balançar, tendo a frente um lindo jardim
Com novas plantas,
A fazerem companhia a velhas companheiras
Pés de morango a oferecerem seus frutos,
Calanchoes, mini crisântemos, gerânios, rosas

E as dálias a resistirem
O pé de ipê a nos mostrar suas flores primeiras
E o manacá verdejante
Na entrada da casa dos sonhos,
Uma árvore com sua copa arredondada,
Ladeada por uma bonita primavera,
Repleta de flores vermelhas,
Que quando caem,
Formam um bonito tapete de cor, na pequena calçada
E a rosa pérola, a resistir em sua exuberância,
De flores, desabrochada
E o vento e a chuva, a repelirem os passantes
E assim a vida segue

Até o regresso a diária carreira
Lépido fim, das tardes fagueiras
Desidério, vontade de novas férias
E o ano no fim, a acabar
E outro plano de viagens realizar!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Fastio

Vi certa vez, no final de uma entrevista, as palavras de um ilustre cidadão deste tempo, comentando a respeito do tédio.
Dizia ele em suas poéticas palavras, que o tédio era um mal necessário, já que não é possível estar o tempo todo envolto em grandes acontecimentos, em grandes experiências.
Que a vida também é composta por momentos de tédio, muitos aliás, e que por ser parte integrante de nossa existência, devemos nos acostumar com ele.
Não nos tornamos menores por vivenciarmos momentos de vazio absoluto, sem nada de interessante para contar. Isto também faz parte da vida.

Às vezes é necessário atravessarmos um longo deserto em nossas vidas, para que em dado momento irrompa algo novo, para que possamos produzir algo de importância, de belo.
Como se a terra estivesse adormecida, procurando se recompor para que após um longo período de repouso, possa fazer brotar lindas flores, frutificar, disseminar o verde. Enfim renascer em vida e viço.
Como se despertasse de um longo período de sono, de um longo período sem atividade e sem interesses.

Segundo o sábio homem, precisamos destes tempos de árido deserto em nossa existência, para que possamos adormecer para o que não interessa e nos voltarmos para nós mesmos, a fim de descobrirmos o que temos de melhor em nós.
Quem sabe até para que descubramos a nossa essência, e descobrindo-a, possamos mostrar aos outros, o que temos de melhor em nós mesmos.

Tédio quem sabe é um tempo de descobertas.
Tempo de nos introvertermos.
Voltarmos para nós e talvez descobrirmos quem somos de verdade.
Tempo de ruptura com idéias antigas. De trabalharmos nossos pensamentos, nossas idéias.
E assim, com o passar do tempo, fazermos germinar novas idéias, florescer lindas flores de um novo tempo, um novo jardim em nossa existência.

Desta forma, de acordo com o pensamento do entrevistado, não devemos nos queixar dos momentos de tédio, e sim nos deixarmos levar por ele, aproveitando o que ele tem de bom para nos oferecer.
Afinal de contas, não dizem que os gregos cultivavam o ócio, o qual pode ser um tédio para alguns?
Não era um valor para eles?
Com efeito, os gregos não viam com bons olhos os negociantes, negadores do ócio.
Por sua vez, o trabalho antigamente, possuía a conotação de torturar, fazer sofrer.
Mais tarde passou a ter a conotação de que enobrece o homem.
Muitas vezes cheguei a conclusão de que empobrece.
Isto por que, poucas pessoas conseguem enriquecer trabalhando.
Ademais, para muitas pessoas este é o tédio.
Mas enfim, como disse o entrevistado, um mal necessário.
Afinal de contas a maioria das pessoas precisa trabalhar para sobreviver.

Mas voltando ao ócio...
Não dizem que existe o ócio criativo?
Em algumas profissões, principalmente para os poetas, o tal ócio é uma necessidade premente, imperiosa. 
Um ócio o qual precisam usufruir para que possam produzir boas idéias, escrever belas e boas poesias. Enfim, criar.
O ócio portanto, não é algo inútil, muito embora possa parecer.
É o outro lado de uma moeda chamada atividade.
Palavra tão usada e tão mal empregada.

Nos tornamos escravos do tempo.
Raramente temos tempo para cultivar o ócio.
Por esta razão também, sofremos mais com o tédio.
Fatigados, pensamos mais nos problemas da vida, e no quanto ela é dura.
Já dizia Guimarães Rosa: “Viver é difícil”.
Desanimados, temos menos tempo para contemplar a beleza da vida.
Nos atemos em contemplar a pobreza, a miséria, a deselegância, a falta de educação, de modos, o péssimo estado de conservação dos prédios.
O quanto muitas cidades estão descuidadas, maltratadas e abandonadas, como os habitantes que moram nela, como as pessoas que circulam nela.
A vida se tornou algo burocrático e rígido. Temos que cumprir metas, prazos, regras, etc.
Ficamos enfastiados.
E aí, ao invés do tédio ser algo produtivo, se torna realmente um vazio, um deserto de esperanças, e, ao invés de renascermos de nosso estado letárgico, mergulhamos mais fundo em nossa tristeza, em nossa indiferença... num círculo vicioso que nunca acaba e do qual é difícil escapar.
O que fazer para fugirmos disso?
É o que estou tentando descobrir.
Ultimamente venho tentando ocupar os momentos em que posso cultivar meu ócio, com coisas prazerosas para mim, pelo menos.
Estou ouvindo mais música, cantando mais, assistindo bons filmes na televisão, passeando mais. Mas não é o bastante!
Preciso voltar a ler mais obras literárias, poemas, romances, escrever mais, sonhar mais, construir mais mundos imaginários, mergulhar mais fundo dentro de mim.
Lembro-me do tempo em que criava mundos de histórias e do quanto isto me fazia feliz.
Preciso recuperar um pouco deste tempo.
Um pouco, por que como um filósofo grego já dizia: As águas de rio, não passam duas vezes pelo mesmo lugar.
O tempo não volta, mas ainda podemos ser felizes.

Muito embora, não seja possível ser feliz o tempo inteiro.
Sim, descobri a duras penas, que a felicidade constante e eterna é uma quimera.
Mas podemos ter belos momentos de felicidade.
Muito embora seja impossível ser feliz o tempo inteiro, temos que lutar pela felicidade.
Também descobri que a felicidade não é algo impossível de ser alcançado. Todavia, não é fácil ser feliz. É uma luta constante.
De fato é mais fácil ser infeliz do que feliz. Basta que nos entreguemos aos pensamentos derrotistas, que nos deixem abalar, que derrubem a nossa alto estima.
Não, não podemos deixar que destruam nossos sonhos, que nos digam que nunca iremos conseguir o que desejamos, e pior, aceitarmos isto.
Se o tédio é inevitável como nos disse o pensador, devemos aproveitar o que ele pode nos oferecer e utilizar esta ferramenta para que após algum tempo de inação, possamos, assim como a árvore, frutificar, semeando boas idéias, as quais deverão germinar produzindo bons frutos.
Como a terra adormecida, que irrompe em plantas, flores e frutos. Fazendo medrar a vegetação, a qual explodirá em verde.
Os bons pensamentos devem irromper a barreira da mente, e transformar o mundo em que vivemos.
Acredito o sentimento de tédio é uma constante na história da humanidade, e que este sentimento é cíclico na vida dos homens.
Saber lidar como ele é um desafio para toda a nossa existência.
Quem sabe possamos dominar o tédio. Ou então possamos bem conviver com ele.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

As Palavras

Atualmente um pensamento me acompanha.
Das imagens das coisas que já vi.
Imagens dos filmes que assisti, as novelas que já acompanhei.
As memórias das imagens que ficaram registradas em minhas retinas.

Das coisas lindas que pude apreciar com meus olhos.
As imagens mentais das coisas que ouvi e li.
Das lindas músicas que enchem meus olhos e ouvidos de cor e beleza indescritíveis.
Beleza de um mundo de idéias.

Assim são as palavras.
São lembranças, registros de tempos alegres.
As idéias, as lembranças, os registros mentais de coisas que já vimos.

As histórias, os personagens.
Os enredos, que nos marcam e que nos fazem ficar horas, dias, semanas, pensando naquela histórias, naquelas personagens.
Passagens, mensagens, as quais, se forem traduzidas...

Traduzem um universo de idéias em uma só palavra.

Lirismo.
Poesia.
Encanto.
Delicadeza.
Coragem.
Desventura.
Ou simplesmente...
Vida.
Entre outras tantas palavras...

Cada história com sua palavra, que a define em sua inteireza.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.