Poesias

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 63

Um dia desses, em mais uma tentativa de fuga, Andressa aproveitou-se novamente da distração dos empregados. 
Pretendendo fugir, correu pelo quintal. 
Ao notar que o portão estava semi-aberto, Andressa tentou abri-lo com cuidado. 
Desta forma, vagarosamente, empurrou-o. 
Não queria que os empregados, pelo barulho, dessem por sua falta. 
Contudo, o portão era pesado, e para abri-lo, Andressa precisava fazer força.
Por conta disso, demorou para conseguir abrir o portão.
Nesse momento, Cristóvão – o motorista – preparando o carro para sair, percebeu que havia alguém tentando empurrar o portão. 
Discretamente, aproximou-se.  
Quando viu que era Andressa quem estava tentando abri-lo, começou a gritar para que ela parasse.
Andressa assustada, continuou a tentar abrir o portão.
Entretanto, já era tarde.
Quando o empregado notou sua presença, já não dava mais tempo de ganhar a rua.
Com isso, Andressa teve que se conformar e voltar para casa.
Quando Paulina soube da nova tentativa de fuga de Andressa, passou-lhe um tremendo sermão. 
Dizendo que ela tinha uma vida boa, que não precisava se preocupar com mais nada, Paulina censurou a atitude de Andressa. 
Decepcionada, não conseguia entender como uma pessoa poderia querer viver uma vida de miséria, sem nenhuma perspectiva.
Andressa, que não tinha outra escolha, ouvia a tudo calada. 
Com a cabeça baixa, a garota parecia não se importar com suas palavras.
Nesse momento, Paulina perguntou-lhe o que estava faltando.
Andressa continuava indiferente.
Aflita, Paulina falou:
-- Eu sei que não fui uma boa mãe para você! Mas eu estou tentando. O que eu posso fazer para ao menor minorar as conseqüências do meu erro? ... Vamos me diga. Me diga o
que você... Eu prometo que dentro do possível eu vou te atender ... Vamos... Por favor, peça alguma coisa!
Andressa continuava de cabeça baixa.
Paulina, percebendo que não seria fácil penetrar naquele mundo, respondeu:
-- Tudo bem! Eu não vou te prender mais. Pode voltar para seu quarto.
Andressa não precisou ouvir duas vezes. 
Assim que pôde, subiu para o quarto.
Paulina então, pensando nos últimos dias, começou a analisar sua convivência com Andressa. 
Disposta a se aproximar de uma vez por todas da garota, Paulina começou a pensar em aprender a linguagem dos sinais.
Com isso, passou a procurar lugares onde pudesse aprender a linguagem e até ajudar a filha a se comunicar melhor.
Quando finalmente conseguiu entrar em contato com uma instituição, Paulina resolveu conversar com Andressa. 
Dizendo-lhe que ela precisava melhorar sua comunicação, sugeriu-lhe freqüentar as aulas.
Inicialmente, Andressa não demonstrou o menor interesse.
Paulina, porém, era paciente. 
Tanto que conversando com a garota, depois de muito insistir, acabou convencendo-a de que era a melhor solução.
Andressa visando se ver livre de Paulina, acabou concordando.
Com isso, passou a freqüentar as aulas.
Paulina, que desejava ajudar a filha, a acompanha nas aulas.
Para Andressa era um suplício ter aquela mulher o tempo inteiro do seu lado.
Contudo, não tinha outra alternativa. 
Teve que aceitar a convivência forçada.
Vigilante, Paulina evitava deixá-la sozinha. 
Com isso, uma das barreiras fora derrubada.
Para ela, só faltava agora, encontrar um jeito de fazer Andressa voltar a falar. 
Ciente de que a garota sofrera um trauma, Paulina sabia que a garota podia perfeitamente falar.
Ademais, preocupada com o futuro da filha, Paulina começou a se mobilizar para que ela voltasse a estudar. 
Como fazia anos que Andressa não freqüentava uma sala de aula, e que a garota nunca tivera uma vida normal de estudante, Paulina pensou em contratar
professores particulares para ensinarem a garota.
Isso por que, muito embora Andressa não falasse, ouvia perfeitamente, bem como sabia ler e escrever. 
Assim, mesmo não sendo tão simples a comunicação, não era impossível.
Assim, imbuída no firme propósito de ajudar Andressa, Paulina contratou o melhor professor que conhecia para ensinar a garota.  

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 62

Com o tempo, porém, as coisas foram se revelando mais difíceis.
Andressa desacostumada a viver em meio a tanto luxo e tantas facilidades, não conseguia compreender por que alguém estaria disposto a abrir a porta de sua casa para uma
estranha. 
Mesmo com toda aquela história de que ela era a filha da dona da casa, Andressa não conseguia acreditar: 
‘Como ela poderia ser filha daquela mulher? O que Andréia pensava disso?’
Angustiada, só passava uma idéia na cabeça de Andressa. 
Fugir. 
Sim, por que Paulina só poderia estar mentindo. 
Insegura só pensava em como fazer para fugir dali.
Obcecada com essa idéia, por diversas vezes, Andressa tentou sair da mansão. 
Atenta, sempre que percebia uma pequena distração dos empregados, lá se ia ela tentar ganhar a rua.
Contudo, toda vez que sumia das vistas de algum deles, um outro percebia sua ausência e lá se iam todos procurá-la.
Muitas vezes, quando já estava quase conseguindo alcançar a rua, era apanhada.
Paulina, sempre que tomava conhecimento dessas tentativas de fuga, ficava decepcionada.
Andressa, porém, por não ter nenhum afeto por ela, não se importava com sua tristeza.
Como nunca ninguém se importara com ela, Andressa se achava no direito de fazer o que bem entendesse. 
Por essa razão se comportava com extrema rebeldia.
Mesmo muda, Andressa fazia questão de deixar bem claro que não estava gostando nada de viver naquele lugar. 
Numa tentativa desesperada de se livrar daquela mulher, Andressa, relutava em aceitar tudo o que Paulina lhe oferecia. 
Rebelde, não gostava das roupas que Paulina lhe oferecia. 
Tanto que certa vez, chegou a rasgar algumas peças.
Irritada, Paulina pela primeira vez, quase perdeu as estribeiras. 
Por muito pouco não bateu em Andressa. 
Contudo, pensando melhor, conseguiu evitar a agressão.
Assustada com seu gesto extremo, Paulina pediu desculpas para Andressa.
Todavia, nem por isso as coisas ficaram mais calmas.
Embora a garota gostasse de ler e ficasse boa parte do tempo fazendo isso, Paulina estava preocupada com ela.
Sim por que Andressa evitava qualquer aproximação.
Muito embora, Paulina trocasse breves palavras com a moça, para ela não era suficiente. 
Atenciosa com a garota, Paulina queria tentar estabelecer uma forma de contato entre as duas.
Certo dia, ao passar por uma papelaria, pensou em comprar uma agenda para Andressa. 
Foi o que fez.
Ao voltar para casa, presenteou a garota com o objeto.
Andressa por sua vez, não ficou nem um pouco entusiasmada com o presente. 
Tanto que o deixou de lado.
Paulina ficou desapontadíssima.
Por conta de sua dificuldade de relacionamento com Andressa, por diversas vezes, Paulina chorou. 
Preocupada, perguntava-se a todo o momento sobre o que deveria fazer. 
Para piorar, por mais que tentasse, não conseguia encontrar uma resposta. 
Muito pelo contrário, quanto mais tentava entender, mais as coisas pareciam confusas.  

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 61

No dia seguinte, ao acordar em meio a lençóis de seda, em uma cama macia, Andressa assustou-se.
Contudo, dessa vez não precisou gritar. 
Assim que acordou eis que surge Paulina trazendo uma bandeja com seu café-da-manhã.
Para sua tranqüilidade, seus filhos Jorge e Cristina estão curtindo suas férias, longe dali em casa de amigos. 
De formas que, os dois ainda não tiveram conhecimento das últimas novidades.
Paulina por sua vez, sentia-se livre para tentar conquistar Andressa.
As coisas, porém, não se tornariam mais fáceis por conta deste detalhe.
Mesmo assim, num primeiro momento, parecia que tudo estava indo muito bem.
Aceitando o café-da-manhã, Andressa comeu regaladamente. 
Mas, lembrando-se do que acontecera quando fora aprisionada por Cléber, a moça evitou comer demais. 
Cautelosa, não queria sentir-se mal.
Paulina ao vê-la com tanto apetite, ficou satisfeita.
Contudo, ao término do café, quando tentou puxar assunto com a garota, Paulina só conseguiu o silêncio. 
Muito embora Andressa estivesse muda por conta do acidente que sofrera, Paulina esperava ao menos que a garota mostrasse disposta a aceitar sua ajuda.
Andressa, contudo, parecia distante. 
Preferindo ficar sozinha a ter sua companhia, ao ver que na residência havia livros, começou a bisbilhotá-los.
Certa vez, surpreendida por Paulina, Andressa fez menção de se retirar da biblioteca.
Foi quando Paulina disse:
-- Gostou dos livros? Se quiser pode pegá-los. Você pode fazer o que quiser dentro desta casa. Pode ler quantos livros quiser. – emocionada, lembrou-se do marido. – Quem
adorava passar boa parte do dia aqui dentro, era Antenor. Como ele gostava de ler. Quem dera seus filhos tivessem o mesmo gosto. Mas Jorge e Cristina passam longe dos livros.
Andressa, observando os livros, parecia não ouvir o que Paulina falava.
A mulher, percebendo o desdém da garota, começou a tentar chamar sua atenção.
Aproximando-se da estante, pegou um livro, e comentando que era um dos maiores clássicos da literatura mundial, sugeriu a Andressa que o lesse.
Andressa, alheia a conversa de Paulina, continuava a observar os livros.
Foi quando Paulina, segurou seu braço e colocou o livro em suas mãos.
-- Leia. Tenho certeza de você vai gostar! – comentou.
Tratava da obra ‘Dom Casmurro’, de Machado de Assis.
Andressa, ao ver a belíssima capa, abriu o livro. Curiosa, começou a ler algumas páginas. 
Por fim, entretida, acabou em dois dias, lendo o livro inteiro. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 60

Por conta das abordagens quase diárias, Andressa conversando por meio de gestos com Clau, Robson e Mateus, resolveu com eles, dormir em outra praça.
Desta forma, quando Paulina voltou ao local onde encontrara Andressa e não a viu, ficou profundamente decepcionada. 
Nervosa, contatou novamente o detetive Arthur.
O homem, com toda a sua experiência, não demorou muito para encontrar a garota.
À distância, sem que a garota e seus amigos percebessem, lá estava ele, observando-a.
Nisso, conversando com Clau, Robson e Mateus, Andressa gesticulava irritada, que não agüentava mais aquela mulher querendo buzinar bobagens no seu ouvido.
Clau, Robson e Mateus, que já tinham visto a mulher, só conseguiam se perguntar:
‘O que uma mulher elegante como aquela queria como Andressa?’ 
‘Suspeito, muito suspeito.’ 
Era o que conseguiam pensar.
Andressa também estava encucada com esta história. 
Temendo que ela fosse uma policial, resolveu sumir. 
Por isso todos estavam dormindo em outro lugar.
Paulina por sua vez, cansada de tentar fazer Andressa ouvi-la, resolve impor sua vontade. 
Ao tomar conhecimento de onde a garota estava, decide tomar uma medida drástica.
Utilizando-se da justiça, contrata um advogado e através de uma ação, acaba por obter uma ordem judicial obrigando Andressa a viver em sua casa. 
Isso por que, alegando ser a mãe biológica da garota, Paulina consegue convencer a todos de suas boas intenções.
Contudo a decisão era provisória.
Mesmo assim, Paulina se deu por satisfeita.
Com isso, graças à ajuda de um oficial de justiça e de dos policiais Alexandre e João; Andressa – surpreendida que fora – foi jogada em um carro e levada até a casa de Paulina.
Irritada, a garota urrou o tempo inteiro. 
Tentando dizer que não fizera nada demais, só conseguia pronunciar sons incompreensíveis.
O escândalo demorou o percurso todo.
Paulina que a aguardava em sua luxuosa residência, mal podia esperar para o tal sonhado encontro. 
Esmerada, preparou um quarto todo arrumado só para a garota. 
Também comprou roupas, sapatos, livros e cadernos.
Tudo para que Andressa tivesse e uma vida normal, e assim que pudesse começar a estudar. 
Feliz, Paulina já havia planejado tudo. 
Sim, segundo seus planos, a partir de agora, Andressa seria muito feliz.
Enlevada nesse sonho bom, Paulina foi despertada quando viu um carro se aproximando de sua residência.
Um carro comum, conforme havia pedido. 
Dentro dele, o senhor Francisco – delegado – e dois policiais.
Quando todos saíram do carro, foi que Paulina finalmente viu a garota.
Andressa, por sua vez, lutou o quanto pôde para não ser levada. 
Ao sair do carro, esperneou o quanto pôde. 
Mas estava em desvantagem. 
Assim, não teve como evitar ser levada.
Quando por um instante, parou de brigar, percebeu que estava no jardim de uma mansão. 
E mais, diante dela estava Paulina. 
A mulher que vivia tentando falar com ela.
Andressa não acreditou no que via. 
Pensando se tratar de uma brincadeira de mau gosto, a garota começou novamente a gesticular.
Paulina, dizendo que gostou dela, pediu para os policiais levarem Andressa para dentro da casa.
Irritada, Andressa resistiu a ordem.
Paulina dizendo que tinha uma ordem judicial autorizando-a a assim proceder, comentou com Andressa que não adiantava brigar. 
Segura, afirmou que ela tinha mais a ganhar, do que a perder ficando naquela casa.
Andressa, todavia, não estava interessada em luxos. 
Acostumada a viver na rua, lutou contra tudo e contra todos para que não a levassem para dentro da residência. 
Em vão.
Os dois homens a levaram arrastada. 
Ao entrarem na casa, deixaram-na sala. 
A seguir despediram-se.
Francisco, comentou então que ela devia ter cuidado com Andressa. 
Dizendo que a garota não era fácil, recomendou que ela nunca ficasse sozinha. 
Insinuando que já a vira freqüentando ambientes menos nobres, chegou a perguntar a Paulina se ela estava certa do que estava fazendo.
Paulina aborrecida com o modo arrogante do delegado, comentou que estava absolutamente segura do que estava fazendo. 
Alegando que já conhecia a história da garota, afirmou que não havia com o que se preocupar.
Francisco, percebendo que irritara a mulher, desculpou-se e pedindo licença, entrou no carro.
Em seguida, os três homens partiram.
Finalmente vendo-se a sós com a garota, Paulina resolveu levá-la até seu novo quarto.
Andressa então se deparou com um ambiente ricamente adornado. 
Impressionada com o luxo do ambiente, a garota parou para olhar.
Paulina, ao perceber um pequeno interesse de Andressa pelo ambiente, ficou a observá-la. 
Após alguns minutos, comentou que ela precisava tomar um banho.
Andressa ao ouvir a palavra banho, ficou incomodada.
Paulina, no entanto, insistindo em dizer que ela precisava tomar um banho, chamou duas empregadas da casa, para ajudá-la.
Jurema e Juraci, atenderam prontamente a ordem.
Com isso, Andressa, mesmo contra a vontade, acabou por tomar o banho. 
Em uma banheira, Jurema e Juraci esfregam suas costas, lavaram seus cabelos, limpam seu rosto, lavaram seus braços e pernas. 
Por fim, entregam-lhe um sabonete, para que esfregasse o restante do corpo.
Paulina observava tudo de longe.
Desta forma, após quase meia-hora de banho, finalmente o que se via era uma água imunda, e uma garota limpa.
Foi quando Paulina estendeu uma toalha limpa e Andressa se enrolou nela.
Logo em seguida, Paulina tencionou ajudá-la a se vestir.
Andressa, desconfiada, gesticulou.
Com muito custo, Paulina compreendeu que Andressa estava tentando dizer que conseguia se vestir sozinha.
Nesse momento, ao finalmente ver o rosto de Andressa, a mulher comentou:
-- Finalmente posso ver seu rosto como ele realmente é! Que bonita que você é minha filha!
Andressa ao ouvir isso, ficou perplexa. 
Chocada com estas palavras, demonstrou espanto.
Paulina então, percebendo o efeito que causara suas palavras, resolveu lhe explicar tudo.
Andressa, porém, não parecia disposta a ouvir. 
A mulher, percebendo que a garota precisava se trocar, pediu para que ela se vestisse.
Dizendo que elas poderiam conversar mais tarde, prometeu esclarecer tudo. 
A seguir saiu e encostou a porta.
Andressa ao ver uma roupa estendida na cama, enxugou-se na toalha e começou a se vestir. 
Tratava-se de uma calça escura e uma blusa branca.
Ao terminar de vestir a roupa, resolveu se olhar num espelho que estava instalado do outro lado do quarto. 
Admirada com sua imagem, passou a se observar por um longo tempo.
Perplexa com a situação, começou a se perguntar: 
‘O que levou aquela estranha mulher a deixá-la entrar em sua casa?’ 
Sim por que, poderia ser tudo, menos que ela fosse filha da tal mulher. 
Andressa não acreditava nisso.
Foi quando Paulina, percebendo que a moça se demorava demais, resolveu voltar ao quarto. 
Cuidadosamente abriu a porta. 
Ao ver por um instante o quarto vazio, assustou-se.
Temendo que a garota tivesse fugido, passou a procurá-la.
Quando a viu se admirando no espelho, percebeu que Andressa assustou-se. 
Sem graça, pediu desculpas. Dizendo que não queria assustá-la, Paulina comentou que só queria saber se ela estava precisando de alguma coisa.
Andressa nada respondeu. 
Desde que sofrera o malfadado acidente não conseguira mais pronunciar nenhuma palavra.
Nisso Paulina começou a contar sua história.
Impaciente, por diversas vezes, Andressa fez menção de se levantar e deixá-la falando sozinha.
A mulher, porém foi enérgica, e dizendo que aquele assunto também se referia a sua vida, exigiu que Andressa ouvisse tudo o que ela tinha a dizer.
Sem outra alternativa Andressa sentou-se e ouviu tudo o que Paulina tinha a dizer.
Ouviu a história de que ela tivera um relacionamento antes de se casar. 
Que ao se envolver com Clóvis, tivera uma filha. 
Que fora expulsa de casa e que por isso, abandonara a filha em um orfanato. 
Em seguida casou-se, constituiu família. 
Tempos depois o marido morreu, e ela voltou a pensar na sua filhinha.
Andressa irritada com tanta conversa fiada, demonstrava impaciência. 
Incomodada com tanta lenga-lenga, perguntava a si mesma: 
‘E o que eu tenho a ver com isso?’
Paulina percebendo a impaciência de Andressa, comentou que contratou um detetive, e descobriu para seu espanto que sua filha vivia nas ruas.
Andressa ficou surpresa.
Paulina então, revelou que sua filha era ela e que conhecia toda sua história.
A garota, ao ouvir tais palavras, parecia não acreditar. 
Nem um pouco convencida, Andressa começou a gesticular violentamente. 
Revoltada com a situação, parecia tentar dizer que queria sair dali.
Paulina, assustada com a reação de Andressa, pediu por diversas vezes que ela se acalmasse.
Contudo, nada parecia acalmar a garota.
Foi quando a mulher, sacando um calmante da bolsa, chamou uma das empregadas e auxiliada por ela, fez com que a garota engolisse o comprimido.
Depois de alguns minutos Andressa apagou. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 59

Mesmo assim, Paulina conseguiu manter, durante todo o tempo em que esteve casada, uma postura correta. 
Sempre preocupada em fazer Antenor feliz, Paulina aprendeu a respeitar o casamento. 
Tanto que nunca o traiu.
Se nunca contou a verdade sobre seu passado, Paulina também nunca o enganou no presente.
Contudo, após sua morte, precisando acertar contas com seu passado, Paulina resolveu procurar sua filha.
E mesmo ansiosa, soube pacientemente esperar.
E assim, após dois anos de buscas, finalmente encontrou sua filha.
Andressa, nessa época, depois do acidente que sofrera, tornou a viver nas ruas.
Muito embora tivesse passado longos meses se recuperando em um hospital, após receber alta, Andressa, passou uma temporada na casa de Andréia, e mais tarde voltou as
ruas.
Isso por que, Cléber, insistiu para que Andréia deixasse a garota voltar para o cortiço.
Andréia, que fazia tudo o que o enteado pedia, e mesmo contrariada, concordou.
E assim, mesmo contra a vontade, Andressa se viu obrigada a voltar para o lugar onde tivera um grande trabalho para sair. 
Levada para o cortiço, Andressa passou a ser cuidada por Andréia.
Entrementes, apesar dos cuidados de Andréia, Andressa sofria em suas mãos. 
Isso por que, a mulher somente a auxiliava quando era forçada a tanto. 
Sempre de má vontade, era penoso para a garota, ser cuidada por ela.
Podendo apenas gesticular, já que não conseguia articular os sons a ponto de formar uma palavra, Andressa estava completamente à mercê de sua mãe. Em razão disso, por várias
vezes foi esquecida por Andréia.
Esta, por achar conveniente, nunca se lembrava de lhe dar os remédios receitados pelo médico, e conseguidos de graça em um posto de saúde.
Com isso, Andressa tinha que sair mancando do quartinho, para ir até a cozinha tomar os remédios. 
Para quem ainda sentia um pouco de dor em decorrência do tombo que levara, era penosa esta tarefa. 
Mas se ela mesma não fosse até a cozinha, ficaria sem tomar os remédios.
Não bastasse isso, sempre que podia, Andréia jogava-lhe na cara que era sustentada por ela. 
Constantemente, Andréia lhe dizia que estava fazendo um favor. 
Certa vez, por maldade, Andréia, cansada de ver Andressa deitada no quartinho, resolveu pegar o que sobrara dos remédios e escondê-los. 
Dizendo que havia jogado tudo fora, deixou a garota se sentindo mal por longas horas.
Não fosse a intervenção de Genival, e Andressa teria que interromper o tratamento, podendo ficar até com seqüelas do acidente que sofrera.
Genival, porém, agiu rápido. 
Ao perceber a maldade de Andréia, Genival passou a procurar os remédios pela casa inteira. 
Só descansou quando finalmente os encontrou no fundo de um armário. 
Rapidamente, levou a medicação até o quarto onde Andressa estava e ministrou-lhe os mesmos.
Andressa, depois de tomá-los, ao se sentir um pouco melhor, agradeceu.
Foi quando ele advertiu-a de que deveria guardar os remédios bem guardados, para que Andréia não os jogasse fora.
A garota quando ouviu isso, ficou espantada. 
Decepcionada, meneou a cabeça indicando que entendera o recado e que iria tomar cuidado. 
Assim o fez.
Quem não ficou nada feliz com isso foi Andréia, que brigou com Genival.
Ele, porém, nem ligou.
No que tange o senhorio, Genival, Clodoaldo, Lucrécia e Cléber, acabaram por arrumar dinheiro para pagar o aluguel atrasado. 
Assim, as ameaças cessaram.
Conforme voltaram a pagar o aluguel em dia, nunca mais Gervásio apareceu para incomodá-los. 
Enfim todos respiravam aliviados.
Nesse ínterim, a convivência entre Andréia e Andressa, continuava difícil. 
Tanto que a certa altura, a garota voltou a viver na rua.
Depois de tudo o que ocorrera, ficou impossível ficar morando no cortiço com Sérgio e sua mãe. 
Isso por que, além do fato dele bater em Andréia, a moça já não agüentava mais o assédio de Cléber, que depois de saber que ela emudecera, ficou ainda mais ousado.
Contudo, mesmo com dificuldades, Andressa conseguia se safar. 
Mas, por quanto tempo ainda?
Pensando nisso, assim que se sentiu um pouco melhor, Andressa voltou a viver na rua.
Quando Clau, Mateus e Robson descobriram que ela ficara muda, ficaram perplexos.
Sim, por que sem poder falar, como faria para se comunicar? 
Assustados, não sabiam o que dizer a Andressa.
No entanto, o que parecia um grande pesadelo, com o passar do tempo ficou menor.
Sim por que, aprendendo a conviver com a nova limitação da amiga, os três pouco a pouco foram a aprendendo uma forma de se comunicarem com ela.
Andressa também se esforçava ao máximo para se fazer entender.
Com isso os quatro amigos, acabaram por superar esta barreira.
Contudo, para Andressa não foi fácil. 
Para pedir esmolas, por exemplo, tinha que escrever numa grande folha de papel, que era muda. 
Com isso, o agradecimento era sempre em letras garrafais em um pedaço de cartolina.
Por várias vezes seus amigos a auxiliaram. 
Sim por que sem ter como falar, por uma vez quase se perdeu na cidade.
Mateus então, nunca mais a deixou ficar sozinha. 
Pensando em uma forma melhor de pedir dinheiro Robson aconselhou-a a explorar sua deficiência para conseguir esmolas. 
Ardiloso, foi logo sugerindo a ela que fosse pedir esmolas perto de estações de ônibus.
Mateus a acompanhava sempre.
E lá ia Andressa com suas plaquinhas. 
Uma contando sua história e outra para agradecer o dinheiro que havia ganho.
Foi lá que Paulina a encontrou.
Andressa, estava suja, maltrapilha e fedendo.
Embora tenha sentindo repulsa num primeiro momento, ao perceber o mal que fizera a ela, Paulina se comoveu. 
Perplexa, percebeu que sua filha tivera uma vida muito complicada.
Ao ouvir do detetive, toda a história de vida da garota, Paulina ficou penalizada. 
Por conta disso, sua primeira reação foi a de querer se aproximar da filha.
Relutante, o detetive concordou somente depois de muita insistência, em levá-la até o local onde Andressa dormia.
Nisso, quando Paulina viu em detalhes, o estado de miséria em que vivia a filha, ficou chocada. 
Atordoada, ao chegar em casa, pensou logo em uma estratégia para se aproximar da garota.
Andressa, porém, não queria saber de conversa.
Na primeira vez em que tentou conversar com Andressa, Paulina foi logo rechaçada por ela.
Contudo, insistente, Paulina tornou a tentar abordá-la.
Andressa, desconfiada, gesticulava a todo instante, como se perguntasse: 
‘O que você quer?’
Quando Paulina tentava responder, era logo interrompida pelo gestual da garota que insistia em espernear, pois não queria saber de ouvir nenhuma história.
Paulina insistia, porém. 
Ansiava por tirar Andressa daquela vida, tudo o que conseguia, no entanto, era fazer com que a moça se afastasse cada vez mais dela.
Clau certa vez, irritado com tanta insistência, resolveu tomar as dores da amiga.
Dizendo a mulher que Andressa não queria saber de conversa, pediu para que ela fosse embora.
Paulina ao ouvir as palavras do garoto, relutou, mas o detetive que a acompanhava a aconselhou a sair dali.
E a mulher mesmo não querendo, foi embora.
Andressa agradeceu gesticulando. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.  

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 58

Foi nessa época que Paulina, pesarosa com a morte do marido Antenor, passou a fazer um balanço de sua vida. 
Corroída pelo remorso, por ter abandonado sua primeira filha, a mulher passou a empreender uma verdadeira peregrinação para encontrá-la. 
Para tanto, contratou um detetive.
Nessa busca, aguardou por meses a descoberta do paradeiro da própria filha. 
Paciente, esperou. 
Não tinha outra alternativa. 
Afinal de contas, se não pôde ver a filha por tantos anos, não seria difícil esperar mais um pouco.
Foi quando, enchendo-se de coragem, revelou aos filhos que tivera um relacionamento amoroso antes de se casar com o pai deles.
Jorge e Cristina – seus filhos –, ao tomarem conhecimento deste fato, ficaram inconformados.
Contudo, o pior seria saber mais tarde, que não bastasse este detalhe, Paulina tivera uma filha, fruto dessa relação.
Jorge ao ouvir a tal história, ficou revoltadíssimo.
Cristina por sua vez, informou que jamais consideraria uma bastarda com sua irmã.
Furiosa, deixou a mãe falando sozinha.
Paulina, no entanto, mesmo diante da resistência dos filhos, insistia na idéia de trazer
a menina para sua casa.
Jorge ao ouvir isso ficou inconformado. Dizendo que a casa também era dele e de Cristina, comentou que ela não tinha o direito de levar uma estranha para morar com eles.
Paulina, porém, insiste na idéia. 
Dizendo que a filha não tinha culpa por toda aquela confusão, tentou de todas as maneiras possíveis, convencer os filhos aceitarem a irmã.
Por isso, sempre que podia, por meio dos meios mais variados expedientes, Paulina tocava no assunto. 
Seja no café da manhã, durante à tarde ou mesmo a noite, Paulina sempre que podia, comentava sobre a filha que só tivera por um instante nos braços.
Jorge e Cristina já não agüentavam mais ouvir sempre a mesma história.
Paulina, porém, não desistia.
Esperava ansiosamente por esse reencontro. 
Nervosa, sempre que pensava nisso, Paulina fantasiava de mil formas este momento. 
Todavia, somente vivendo essa experiência que ela saberia realmente como as coisas se dariam.
Nessa época tinha por companheira somente as dúvidas, as incertezas e a angústia:
‘Como devia estar esta menina? Como devia ser sua vida? Será que era feliz? Será que era bem tratada por sua família adotiva? Como poderei falar com ela?’ 
Eram as perguntas que se fazia.
Sem contar as dificuldades que ela tinha em lidar com Jorge e Cristina, que não aceitavam a idéia da mãe ter uma filha ilegítima.
Com isso, Jorge e Cristina ao notarem que a tal garota nunca aparecia, chegaram a duvidar que Paulina conseguiria encontrar esta tal filha.
Paulina, porém, nunca deixou de acreditar.
Desde que tivera Jorge e Cristina; Paulina, ao poder finalmente, exercitar seu lado materno, finalmente se deu conta do quão era importante esta experiência. 
Experiência que ela abandonara ao não cuidar de sua filha mais velha, em razão das dificuldades financeiras por que vinha passando. 
Contudo, ao analisar a história a fundo, teve que admitir: Foi covarde!
Nisso ao se ver casada com Antenor, feliz com seus dois filhos, pela primeira vez na vida, sentiu-se culpada.
Vendo Jorge e Cristina com suas bóias, brincando na piscina, Paulina deu-se conta pela primeira vez, que sua filha poderia não ter tido a mesma sorte.
Ao ter esse pensamento, uma grande angustia invadiu o seu peito. 
Mas agora era tarde, o que ela poderia fazer? 
Casada, Paulina não poderia contar ao marido que tivera uma filha fora do casamento. 
Se fizesse isso, certamente ele a abandonaria.
Temerosa, era o que Paulina pensava.
Por isso, nunca contou ao esposo o que se passava.
E assim, Antenor viveu na ignorância de que Paulina tivera uma outra filha. 
Feliz com a família que criara, Antenor morreu acreditando que se casara com uma mulher impecável.
Ledo engano. 

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

QUANDO O DIA AMANHECER - CAPÍTULO 57

Todavia, novamente depois de algum tempo, Cléber, voltando para casa, tornou a persegui-la.
Certa vez, Cléber quase conseguiu ficar com Andressa a sós no quartinho dos fundos.
Nessa época, Genival, cansado de receber quase nada pelo papelão que coletava durante o dia nas ruas de São Paulo, desistiu de seu mais recente bico. 
Isso por que, trabalhando como um escravo, só conseguiria migalhas. 
Com seus golpes, chegou a conclusão de que conseguia mais dinheiro.
Desta forma, Andressa voltou a dormir no quartinho.
Foi assim que Cléber quase conseguiu ficar a sós com Andressa.
Não fosse a intervenção de Lucrécia, que sem querer o viu empurrando a garota para dentro do quarto, e Cléber teria conseguido o que tanto almejava.
Porém ao perceber que era visto por Lucrécia, Cléber saiu rapidamente dali.
Em seguida, Lucrécia sem saber o que fazer, dirigiu-se ao seu quarto.
Cléber seguiu-a.
Quando notou que ela estava sozinha, Cléber tratou logo de adverti-la de que não deveria contar o que viu a ninguém.
Assustada, Lucrécia prometeu que jamais contaria a quem quer que fosse, o que tinha acontecido. 
Dizendo que não vira nada, comentou que não poderia falar do que não viu:
-- Ótimo! – comentou Cléber.
Andressa então, assustada, tratou logo de planejar sua fuga. 
Isso por que, ao perceber que o rapaz voltara ao cortiço, constatou que não seria mais possível, continuar vivendo naquele lugar. 
Ciente, porém de que não seria fácil sumir dali – já que desde que Cléber descobrira que ela vivia no lugar, Andréia vivia controlando seus passos – Andressa começou
a arquitetar um plano.
Sim, viver naquele lugar estava se tornando impossível. 
Isso por que, até esconder suas roupas Andréia escondia, só para que Andressa não pudesse sair de casa. 
E mesmo quando saía, era acompanhada de Lucrécia ou de alguma conhecida que não desgrudava o olho dela. – Assim, desta feita, era praticamente impossível sair dali.
Mas Andressa não se deu por vencida. 
Ao perceber que não seria pela força que conseguiria sumir daquela casa, a garota começou a fingir que aceitava viver naquela situação. 
Aos poucos, mesmo diante da desconfiança de Andréia, Andressa passou lentamente a derrubar suas defesas.
Certa vez, ao perder Lucrécia de vista, Andressa voltou para casa.
Para espanto de Andréia que até brigara com a mulher.
Assim, foi questão de tempo, para que Andressa ganhasse a confiança de quase todos.
Enquanto isso, sempre que podia, Andressa ficava na companhia de Gervásio e Clodoaldo. 
Este simples ato, evitava qualquer aproximação de Cléber. 
Quando não podia contar com a companhia dos amigos, Andressa se trancava no quartinho dos fundos. 
Não abria a porta para ninguém.
Cléber ficava revoltado com isso, mas nada podia fazer.
Certo dia, porém, aproveitando um descuido da moça, Cléber voltou a abordá-la.
Surpreendida novamente pelo rapaz, Andressa se viu numa difícil situação.
Cléber que a essa altura, não se importava que os demais moradores percebessem o assédio, e ao vê-la sozinha à noite, andando pelos corredores do cortiço, passou a segui-la.
Aguardando Andressa voltar ao quarto, Cléber esperou por um longo tempo.
Quando percebeu que Andressa procurava algo, Cléber resolveu aparecer.
Andressa ao vê-lo à sua frente, levou um tremendo susto. 
Contudo, disposta a enfrentá-lo, comentou que ele estava sendo muito inconveniente. 
Dizendo que não tinha medo dele, tentou enfrentá-lo.
Cléber, contudo, não se intimidou com a assertividade inédita de Andressa. 
Pelo contrário, disposto a tudo, disse que ela poderia gritar, espernear, enfim, fazer o que quisesse.
Mas que daquela noite não passava.
Andressa ficou perplexa.
Nesse instante, Cléber segurando a moça pelos braços, começou a arrastá-la.
Desesperada, Andressa começou a pedir para que ele a soltasse.
Cléber, porém, parecia não ouvi-la.
Todavia, como os demais moradores do cortiço ouviram os apelos, foram logo ver o que estava acontecendo.
Qual não foi a surpresa de Clodoaldo, Genival, Andréia e Sérgio, com o comportamento de Cléber?
Quem não se surpreendeu foi Lucrécia, que já o tinha visto assediando a garota.
Andréia, ao ver Cléber arrastando a filha adotiva, ficou perplexa.
Sérgio por sua vez, bêbado que estava, xingou a todos pelo barulho. 
Dizendo que precisava dormir, voltou para sua cama.
Contudo, mesmo sendo pego no pulo, Cléber continuava arrastando Andressa.
Andressa, por sua vez, continuava lutando contra Cléber. 
Ao chegar na cozinha, percebendo um objeto sobre a mesa, aproveitando-se de um momento de distração do sujeito,
pegou a travessa e a acertou em sua cabeça.
Andréia ao ver Cléber desmaiado, censurou Andressa. 
Dizendo que não podia ter feito aquilo, tratou logo de colocá-la para fora de casa.
Genival e Clodoaldo, ao verem a mulher arrastando a filha para fora de casa, tentaram impedi-la.
Mas Andréia era inflexível.
Desta forma, nada puderam fazer por Andressa.
E assim, sem alternativas, Andressa saiu da casa de Andréia, voltando a viver na rua.
Cléber, por sua vez, não desistiu. 
Mesmo depois de ter sido ferido por ela, o rapaz continuou procurando-a. 
Após ser medicado, Cléber prometeu a si mesmo que a atitude de
Andressa teria volta. 
Desta forma, certo dia, ao encontrá-la na rua, pedindo esmolas, Cléber resolveu segui-la. 
Obcecado, acompanhou seus passos durante um longo tempo.
A certa altura, Andressa então, se deu conta de que estava sendo seguida. 
Foi quando, percebendo que Cléber acompanhava seus passos, começou a correr desesperada.
Em pânico, atravessou ruas e avenidas sem sequer olhar os carros. 
Sendo que, por várias vezes, quase foi atropelada.
Cléber por sua vez, mesmo percebendo o desespero da moça, não desistiu. 
Continuou a segui-la.
Até que num momento, Andressa, entrando em uma rua estreita, onde ficou sem ter para onde fugir.
Cléber então se aproximou, e, apontando uma arma branca para ela, a ameaçou.
-- Pensou que ia conseguir escapar? Ninguém escapa de mim não, garota. Agora você vai fazer tudo o que eu mandar, não vai?
Andressa, acuada, sem ter o que dizer, ficou muda.
Cléber, ao perceber a reação da garota, começou a se aproximar. 
Segurando seus cabelos, colocou a faca junto a seu pescoço. 
Dizendo que não queria feri-la, aconselhou-a a fazer tudo o que ele pedisse.
Andressa, fria como uma estátua, só pensava em como fazer para se livrar daquela faca. 
Silenciosa, observou atenta todos os gestos de Cléber.
Quando percebeu que o rapaz se distraíra, Andressa então chutou-lhe e saiu em disparada. 
Estava decidida a se livrar dele de qualquer forma.
Cléber, enfurecido, assim que se recuperou, continuou a correr atrás dela.
Foi quando, desesperada, Andressa, pulou um muro.
Cléber, que viu a cena de longe, partiu no encalço da moça.
Novamente acuada, Andressa tentou fugir. 
Contudo, não havia mais para onde correr.
Foi quando num momento de distração, sem ver onde pisava, caiu.
Cléber ao ver Andressa estirada no chão, ficou desesperado. 
Temendo o pior, tratou de sair dali. 
Todavia, mesmo fugindo do local, teve o cuidado de chamar o socorro médico, que atendeu rapidamente Andressa.
E assim, muito embora não tivesse tido nenhuma complicação de ordem física, Andressa, devido o trauma sofrido, perdeu a fala.
Muito embora os médicos dissessem se tratar de um trauma psicológico, Andressa não conseguia mais falar.
Cléber, ao saber por seus informantes que Andressa não conseguia falar, ficou aliviado.
Sim, para tranqüilidade de Cléber, Andressa não teria como denunciá-lo. 
Sem contar que agora as coisas se tornavam mais fáceis para ele, já que Andressa não poderia mais, gritar por socorro. 
Estando muda, as coisas se complicavam para ela. 

Luciana Celestino dos Santos 
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