Poesias

terça-feira, 23 de junho de 2020

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 40

CAPÍTULO 40

Em seguida o pajé falou sobre a Mulher de Duas Cores:
É uma assombração, visagem, fantasma, que aparece de dia, na luz do sol, nas estradas de Minas Gerais, fronteira com São Paulo, ou dentro das pequenas matas.
Veste roupa de duas cores, branco-preto, azul-encarnado, azul-amarelo, etc., e não fala, não canta, não resmunga.
Limita-se a atravessar caminho, com passo surdo e leve, pisando sem usar o calcanhar, silenciosa, sem olhar para os lados nem para ninguém.
Corresponde ao medo, miêdo português, nas raias de Espanha, espalhando pavor pela simples presença.
“Quando senão quando, passou rente comigo uma mulher estrambótica, muito magra, vestido de duas cor; pro lado direito era azul inteirinha, inté o rumo do nariz; pro lado esquerdo, amarela só; se o azul fosse mais tapado um quêzinho, a mulher tava do jeito de uma águia imperial.
Carregava trouxinha de roupa debaixo do braço direito, e caminhava depressa, quaji de carreira, mas porém só inté no meio dos pés, sem botá os carcanhar no chão”.44

44 Valdomiro Silveira, Mixuangos, 207, Rio de Janeiro, 1937.

DICIONÁRIO:
Estrambótica é o feminino de estrambótico. O mesmo que: excêntrica, estrambólica, extraordinária, ridícula.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 39


CAPÍTULO 39 

Quanto a Mula-Sem-Cabeça, esta é a forma que toma a concubina do sacerdote. 
Na noite de quinta para a sexta-feira, transforma-se num forte animal, de identificação controvertida na tradição oral, e galopa, assombrando quem encontra. 
Lança chispas de fogo pelas narinas e pela boca. 
Suas patas são como que calçadas de ferro. 
A violência do galope e a estridência do relincho, são ouvidas longamente. 
Vezes soluça como uma criatura humana. 
O encanto desaparecerá, quando alguém tiver a coragem de arrancar-lhe da cabeça, o freio de ferro que leva. 
Dizem-na sem cabeça, mas os relinchos são inevitáveis. 
Quando o freio for retirado, reaparecerá despida, chorando arrependida, e não retomará a forma encantada, enquanto o descobridor residir na mesma freguesia. 
A tradição comum é que este castigo acompanha a manceba do padre, durante o trato amoroso ou punição depois de morta. 
A mula corre sete freguesias em cada noite, e o processo para seu encantamento é idêntico ao do lobisomem, assim como, em certos Estados do Brasil, para quebrar-lhe o encanto, bastará fazer-lhe sangue, mesmo que seja com a ponta de um alfinete.
Para evitar o bruxedo, deverá o amásio amaldiçoar a companheira, sete vezes, antes de celebrar a missa.43
Chamam-na também “Burrinha-de-Padre” ou simplesmente “Burrinha”.
A frase comum é anda correndo uma burrinha.
E todos os sertanejos sabem do que se trata.

43 Manuel Ambrósio cita o número de vezes indispensável, muitíssimo maior (Brasil Interior, 53).

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 38

CAPÍTULO 38 

Foi então que o pajé contou a ‘Lenda do Mão de Cabelo’:
Entidade fantástica, de forma humana e esguia, tendo as mãos constituídas de fachos de cabelos.
Anda envolto em roupagem branca.
É o espantalho das crianças no sul da Província de Minas Gerais.
(Da época em que Minas Gerais era uma Província).
Aos meninos que costumam mijar na cama era muito empregada esta frase caipira:
“Óia, si neném mijá na cama, Mão-de-Cabelo vem te pegá e cortá minhoquinha de neném.”40
Já o Mãozinha-Preta, é uma assombração em São Paulo e que alcança a fronteira de Minas Gerais e o Estado do Rio de Janeiro.
É uma pequenina mão negra, solta no ar, fazendo todos os trabalhos de casa, com uma rapidez, resistência e força miraculosa.
Também, conforme ordens, castiga, bate, surra e termina a tarefa, quando lhe dizem:
Chega, Mãozinha de Justiça!
Como a mão é negra, não castigava nem atormentava os escravos.
Daí sua popularidade entre eles.41
Mãos errantes que castigam e acariciam, ajudam o serviço caseiro, e são conhecidas pela Europa e América.42

40 (Vale Cabral, in Antologia de Folclore Brasileiro, 274).
41 (Cornélio Pires, Conversas ao Pé do Fogo, 146-148, 3.ª Ed., São Paulo, 1927; Folclore Nacional, Centro de Pesquisas Mário de Andrade, sep. da Revista do Arquivo Municipal, CXVII, 22, São Paulo, 1948).
42 (J. Leite de Vasconcelos, Tradições Populares de Portugal, 290-292, Porto, 1882).

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

sexta-feira, 19 de junho de 2020

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 37

CAPÍTULO 37

Cresce-Míngua.
É o fantasma mais popular, porque existe em todos os países conhecidos, e não há relação ou pesquisa folclórica que deixe de registrar sua amável presença assombradora.
Em Caracas havia uma variante, o Enano de la Torre, que aparecia pequenino e sereno, e bruscamente ficava da altura da torre da catedral, fazendo perder os sentidos às raras testemunhas dessa elástica e sobre-humana personalidade.
Entre os africanos que vivam no Brasil do séc. XIX e princípios do XX falava-se em Gunucô, que tinha a mania de aparecer num bamburral, estirando-se como um coqueiro e minguando como um pé de coentro.
Na capital de São Paulo o Cresce-Míngua é duplo.
“São dois homens pequeninos que ficam nas estradas junto às porteiras.
Quando alguém deles se aproxima, eles aumentam de tamanho, chegando a atingir oito metros de altura, e desaparecendo nas curvas.
Consta que as pessoas que o vêem terão má sorte.”39

39 Em Teresina (Piauí), na Praça Conselheiro Saraiva (antiga “das Dores”), há ou havia um Cresce-Míngua, chamado Não se pode.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 36

CAPÍTULO 36 

Cramondongue.
É uma assombração de Minas Gerais.
“... e o Cramondongue, que é um carro de bois que roda à disparada, sem precisar de boi nenhum para puxar.”38

38 (J. Guimarães Rosa, Sagarana, 174, Rio de Janeiro, 1946).

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 35

CAPÍTULO 35

 Ao falar sobre o ‘Cavalo do Rio’, o pajé disse:
É um cavalo encantado que domina o rio São Francisco.
Tem um poder quase igual ao Caboclo do Rio, perseguindo embarcações, virando-as, alagando a carga, empobrecendo aqueles a quem dedica sua antipatia.
Ouvem-lhe os relinchos atordoadores e a bulha rítmica das patadas nas margens.
O melhor amuleto afugentador do Cavalo do Rio, é sua própria representação na proa da embarcação.
Falando nisso, na “embarcação, pesadíssima muitas vezes, com a guarnição, o toldo, a cordoalha, a carga e a cabeça de cavalo, recurva e grotesca, a desafiar, guiadora, os maus-olhados da viagem.”37

DICIONÁRIO:
cordoalha - substantivo feminino
1. reunião de cordas de vários tipos; cordame, cordoada.
2. comércio de cordas; cordoaria.

37 Noraldino Lima alude a essa crendice (No Vale das Maravilhas, 127, Belo Horizonte, 1925).

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL PARTE 2 – REGIÕES NORTE E CENTRO OESTE - CAPÍTULO 34

CAPÍTULO 34

 Ao falar do Cavalo Fantasma, comentou:
-- Ninguém o vê, mas o sente pelas passadas firmes. Uma luz clara, que dele emana, desenha na rua o seu vulto... As pisadas tornam-se mais fortes, assim como também a luz, à proporção que o cavalo se aproxima do observador (ou vidente). Diminui o clarão e o ruído dos passos, à medida que dele se afasta o animal. Passeia em certas, sempre a horas caladas de certas noites.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil.

Luciana Celestino dos Santos
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