Poesias

sexta-feira, 5 de junho de 2020

COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 52

CAPÍTULO 52 

Ao contar sobre a Baíra ou Bairi, o barqueiro explicou que se trata de uma entidade civilizadora dos indígenas parintintins ou cauaiuas, de raça tupi.52
Ensinou aos parintintins a caça com visgo, a pesca com sangab (outro peixe fingido e posto n'água para atrair o bando), furtou o fogo ao urubu e mandou-o aos seus indígenas, por intermédio do sapo, que se tornou um pajé poderoso, com o flechar de jirau ou de escada, e os adornos com dentes de onça, etc.53

52 Lenda do rio Madeira, no Amazonas.
53 (Nunes Pereira, Bahira e suas Experiências, Manaus, Amazonas, 1945, segunda edição).

DICIONÁRIO: 
substantivo masculino
  1. 1.
    m.q. VISCOSIDADE.
    "ter v."
  2. 2.
    m.q. VISCO ('qualquer seiva').

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 51

CAPÍTULO 51 

Depois, empolgado com o interesse que os turistas demonstraram por suas histórias, o barqueiro contou sobre a ‘Lenda de Aru’:
Casta de pequeno sapo, que vive de preferência nas clareiras do mato e acode, numeroso, logo que se abre um roçado.
Onde aru aparece a roça não medra.
Aru transforma-se oportunamente em moço bonito, empunha o remo e vai buscar a mãe da mandioca, que mora nas cabeceiras do rio, para que venha visitar as roças e as faça prosperar com o seu benéfico olhar.
Somente as roças bem plantadas e que agradam à mãe da mandioca, prosperam e tem chuva oportunamente.
Aru foge das que não são conservadas bem limpas, e que são invadidas das ervas daninhas, e quando desce com a mãe da mandioca, lhes passa a frente sem parar.
Aru é um chefe indígena, novo, forte, insaciável de prazer sexual.
Certo dia, Aru encontrou, pescando na ilha da Palha, uma moça maravilhosamente bonita e estuprou-a.
A moça que era Seusi, filha da lua e mãe das plantas, abortou imediatamente um pequenino sapo, chato e feio, que matou, e com o sangue pintou o tuxaua e lhe presenteou com uma membi (flauta), feita com fios do seu cabelo.
Aru voltou para a aldeia, tocando a membi encantada, e seus companheiros, apavorados de ouvir o canto da lontra (irara, mustélidas, Tayra barbara) tão perto do povoado, fugiram, precipitando-se no rio Negro.
O tuxaua acompanhou-os, pulando também.
Quando voltaram à tona d’água, “todos eles eram já cururu, para ficarem sendo neste mundo arus-cururus.”51

51 Brandão de Amorim (Lendas, 293) colheu em São Gabriel, Rio Negro, creio que entre os indígenas aruacos, embora narrada no idioma nheengatu, a lenda de Aru.

DICIONÁRIO:
Mustelídeos
s.m.pl. de mustelídeo
fam. de mamíferos da ordem dos carnívoros, com cerca de 70 spp., distribuídas por todo o mundo, exceto Madagascar e Austrália; de pequeno porte, ger. menores que 1 m, corpo longo e esguio e patas curtas [Inclui, entre outros, as doninhas, os furões, as lontras e a ariranha.].

Irara
substantivo feminino
BRASILEIRISMO•BRASIL
mamífero carnívoro, florestal, da fam. dos mustelídeos ( Eira barbara ), encontrado do México à Argentina, de corpo esguio, com pelagem curta e áspera, negra ou marrom-escura no corpo e ger. mais clara na cabeça, pernas curtas e cauda comprida; jaguapé, papa-mel, taira.

Cururu
substantivo masculino  1. HERPETOLOGIA m.q. SAPO-CURURU.
2. ANGIOSPERMAS trepadeira ( Paullinia cururu ) da fam. das sapindáceas, nativa da Amazônia, de flores brancas ou esverdeadas, cujo suco é venenoso e os ramos são us. para tinguijar; cipó-curapé.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 50

CAPÍTULO 50 


Ao contar a ‘Lenda da Andorinha’, o barqueiro, começou a dizer:
Entre os indígenas caxinauás, de raça pano, há uma lenda da txunô, andorinha, conhecida literalmente em todo o Brasil.49
Um menino, ba-kö, divertia-se na roça, perseguindo uma andorinha e conseguiu agarrá-la.
A txunô disse que não a matasse, que ela o levaria para o céu, onde viviam todos os antepassados do menino.
O ba-kö aceitou, e a andorinha mandou-o segurar-se às suas penas e subiu.
Entrou para o céu, encontrando o irmão de seu pai, sobrinhos, amigos.
Contou sua história a um tio e este lhe mostrou legumes, casas bonitas e o chão coberto de areia branca e fina.
Lá de cima vêem tudo.
O tio do menino fez comida e o ba-kö comeu e satisfez-se.
E ficou vivendo no céu.50

49 Lenda originária do Acre.
50 (Resumo, 4801-4850, J. Capistrano de Abreu, Rã-Txa hu-ni-ku-î, Rio de Janeiro, 1941).

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 49

CAPÍTULO 49

Em seguida o barqueiro contou a ‘Lenda de Amao’:
Personagem divina que ensinou aos indígenas camanaos,47 o processo de fazer beiju, farinha de mandioca, farinha de tapioca e várias outras coisas.
Depois desapareceu para sempre.
“No princípio do mundo, contam, apareceu entre outras criaturas, uma moça bonita.
Não sabia de homem, seu nome era Amao.
Uma tarde Amao foi para a beira do rio, aí sentou-se.
No mesmo momento, passou por junto dela porção de peixe, e a pele deles, contam, brilhava de verdade.
Ela então, meteu a mão no rio, pegou um peixe.
O peixe fez-se forte na mão dela, pulou direto na sua concha, furou-a, depois tornou a saltar para o rio.
Desde aí sua barriga foi crescendo, quando chegou madureza de sua lua, ela teve um menino.
A criança já tinha duas luas, quando a mãe dele foi pescar de puçá, peixinho na cabeça da correnteza. O menino ela deixou deitado em cima da pedra.
Já era meio-dia.
Amao saiu, foi ver o menino, encontrou-o já morto.
Carregou seu corpo que foi, chorou durante a noite.
Quando o sol apareceu, o menino falou deste modo:
-- Minha mãe, repara como os animais e pássaros estão rindo de nós. Eles mesmos me espantaram para eu morrer. Agora, para eles não escarnecerem de ti, defuma-os com resina para virarem pedra.
Assim somente ele falou.
Já com a tarde, Amao enterrou seu filho, e à meia-noite viraram pedra todos os animais.
De manhã, contam, cururu, cujubim, pássaro-pajé, lontra, estavam já de pedra.
Cobragrande, raia, taiaçu, tapir somente não viraram de pedra, porque foram comer para a cabeceira.
Amao voou logo para a cabeceira, passou em cima duma pedra grande, aí encontrou taiaçu e tapir dormindo.
Amao surrou primeiro no tapir, depois surrou no taiaçu, morreram ambos.
Depois retalhou o tapir, o taiaçu, jogou a carne deles no rio,  e deixou somente uma coxa de tapir, e outra do taiaçu em cima da pedra.
Aí as virou pedra.
Como cobra-grande e raia ainda estavam comendo no fundo d’água, ela fez um laço na beira do rio para agarrá-las.
Já era noite grande, ouviu uma coisa batendo no laço, foi ver, encontrou a cobra-grande com a raia. Jogou nelas com resina, viraram de pedra imediatamente.
Depois voltou para ensinar todos os trabalhos à gente da terra dela.
Sentou um forno, mostrou como a gente faz beiju, farinha, farinha de tapioca, porção de coisas. Depois de ensinar tudo, Amao sumiu-se desta terra, ninguém sabe para onde!”48

47 Lenda do rio Negro, Amazonas.
48 Brandão de Amorim (Lendas em Nheengatu e Português, 289) ouviu a lenda em Nheengatu.

DICIONÁRIO:

Puçá
Significado de Puçá
substantivo masculino
[Brasil] Fruto do puçazeiro.
Borlas de algodão com que se enfeitam as redes, no Ceará.
[Brasil: Norte] Peneira de malhas para apanhar peixes, camarões, siris etc.
[Brasil: São Paulo] Tipo de renda de guarnição para vestidos.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
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COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 48

CAPÍTULO 48

Quanto ao Anjo Corredor, no folclore do Estado das Alagoas, o “Anjo Corredor” é um homem com um cacete ou cajado, que caminha sem parar, a vida toda, batendo nas cancelas dos engenhos. 
As crianças, quando ouvem falar, trepam-se nas cumeeiras das casas, e as mães de família fecham as portas. 
É que o Anjo Corredor, como se deduz, age apenas percutindo nas porteiras e o rumor, anuncia sua aproximação fantástica.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos 
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COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 47

CAPÍTULO 47 

Contou ainda sobre Alamoa, duende feminino que aparece na ilha Fernando de Noronha.
É uma mulher branca, loura, nua, tentando os pescadores ou caminhantes retardatários.
Transforma-se num esqueleto, endoidecendo o namorado que a seguiu.
Aparece também como uma luz ofuscante, policolor, perseguindo quem foge dela.
Sua residência é o Pico, elevação rochosa, de mil pés de altura, absolutamente inacessível.
As sextas-feiras a pedra do Pico se fende e na chamada porta do Pico, aparece uma luz.
A Alamoa vaga pelas redondezas.
A luz atrai sempre as mariposas e os viandantes.
Quando um destes se aproxima da porta do Pico, vê uma mulher loura, nua como Eva antes do pecado.
Os habitantes de Fernando de Noronha, chamam-na alamoa, corruptela de alemã, porque para eles mulher loura só pode ser alemã...
O enamorado viandante entra na porta do Pico, crente de ter entrado num palácio de Venusberg, para fruir as delícias daquele corpo fascinante.
Ele, entretanto, é mais infeliz que o cavaleiro Tannhauser.
A ninfa dos montes transforma-se numa caveira baudelairiana.
Os seus lindos olhos que tinham o lume das estrelas, são dois buracos horripilantes.
E a pedra logo se fecha atrás do louco apaixonado.
Ele desaparece para sempre. 46

46 Olavo Dantas. Sob o Céu dos Trópicos, p. 28. Rio de Janeiro: Ediouro, 2000.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
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domingo, 31 de maio de 2020

COISAS DO BRASIL - PARTE 1 – A REGIÃO NORDESTE CAPÍTULO 46

CAPÍTULO 46

Nisso, o capitão da fragata, passou a comentar sobre a lenda do Senhor do Corpo Santo.
A Igreja de São Pedro Gonçalves ou do Corpo Santo, no Recife, foi demolida em outubro de 1913.
Era igreja velha, já no tempo dos holandeses.
Todas as relíquias, objetos do culto, alfaias, púlpitos, colunas, foram guardados na Igreja da Madre de Deus.
E veio também o Senhor do Corpo Santo, imagem impressionante do Senhor Bom Jesus dos Passos, alto, sombrio, macerado, com as manchas roxas de sangue coagulado, assombroso pela naturalidade e grandeza trágica.
Outrora o Senhor do Corpo Santo, na procissão soleníssima dos Sete Passos, saía da sua igreja, na antepenúltima quinta-feira da Quaresma, para o Convento do Carmo, e daí regressava, com acompanhamento, cumprindo um ato litúrgico, que não está nos rituais, mas vivia na praxe secular.
Era a imagem mais sugestiva e possuidora das admirações populares.
Ninguém sabe quem a esculpiu, nem a época em que apareceu.
Dizem que, numa noite de frio e chuva áspera, clareada de relâmpagos e sonora de trovões, em pleno fevereiro de inverno recifense, o frade leigo, que estava como porteiro no Convento do Carmo, ouviu bater repentinamente à porta.
Abriu-se e deparou um velhinho encharcado, humilde, trêmulo, com uma voz extremamente doce e triste, suplicando agasalho por uma noite.
O porteiro, zangado com o atrevimento, recusou hospedagem, e mandou-o dormir na rua ou debaixo das pontes.
E fechou o portão.
O velhinho lá se foi, cambaleando, arrimado a um bordão, até a igreja de São Pedro Gonçalves, onde bateu.
O porteiro-sacristão atendeu.
Novo pedido, com voz expirante.
O porteiro, compadecido, fez o velho entrar, deu-lhe o que comer e com que se enxugar, e indicou um recanto na sacristia onde poderia agasalhar-se e dormir, em cima de um colchão.
Pela madrugada, o sacristão foi acordar o velho, levando uma esmola de despedida.
Não o encontrou.
Enchia o colchão uma maravilhosa imagem do Senhor Bom Jesus dos Passos, vestida de seda lilás, com resplendor de prata, tão rica, imponente e poderosa de semelhança divina, que o sacristão dobrou os joelhos, contrito.
Quando se espalhou o sucesso, verificado pelo povo, que o velhinho fora o próprio Senhor do Corpo Santo, os frades do Carmo penitenciaram-se, sem culpa maior, pela falta de hospitalidade manifestada pelo irmão leigo da portaria.
E como o Senhor do Corpo Santo procurara primeiramente o Convento do Carmo, alegaram que tinham direito à posse da imagem.
Os padres da Igreja de São Pedro Gonçalves retrucaram, e o caso foi a juízo, com debatido, longo e verboso processo, tornados tão volumosos os tomos da demanda, que eram transportados num jumentinho.
Mas a Igreja de São Pedro Gonçalves ganhou o pleito, cedendo apenas ao Convento do Carmo a honra de hospedar o Senhor do Corpo Santo por uma noite, a noite que fora recusada ao velhinho misterioso e de fala triste.
A Igreja do Corpo Santo, outrora rutilante de luzes, desapareceu, arrasada pelos engenheiros que desejavam ampliar a cidade.
A Igreja da Madre de Deus maternalmente acolheu o Senhor do Corpo Santo numa de suas salas.
E lá continua, sem mais ter volvido a cumprir a tradicional visita ao Convento do Carmo.
Se notar o olhar, sombrio na majestade do seu sofrimento e de sua solidão litúrgica, reze três “ave-marias”, uma delas por mim.
Amém.45

45 Lendas Brasileiras/Câmara Cascudo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2000.

Texto retirado de artigos da internet sobre o folclore brasileiro, e de guias de viagens sobre o Brasil. 

Luciana Celestino dos Santos
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