Antigamente denominada de "Caguaçu" que significa Mata Grande, era um ponto de parada dos paulistanos, que se dirigiam a Mogi das Cruzes.
O Capitão - Mor da localidade, Antônio Correia de Lemos, acometido de uma
enfermidade, e após restabelecido, levantou uma capela em honra a Nossa Senhora do Pilar.
Esta capela recebeu a benção do Frei Guardião da Igreja de São Francisco em 25 de Março do ano 1714, data esta considerada como a fundação de Ribeirão Pires.
Dois anos depois, este lugarejo recebeu a família do Mestre de Campo Antônio Pires.
Este havia requerido terras devolutas da região à Dom Balthazar de Silveira, o
Governador e Capitão Geral da capitania de São Paulo, em 24 de Março do ano 1716, e sendo devidamente demarcado em 10 de Outubro de 1719.
O lugarejo foi crescendo devagarinho, até que com a chegada da ferrovia e a
inauguração de uma pequena estação, em 1º de Março de 1885, saltou de vez, seguro e ordenado.
O Decreto nº 6780 de 18 de Outubro de 1934, diminuiu consideravelmente o
território de Ribeirão Pires, a fim de realizar a construção de um novo Distrito de Paz, com sede na Estação do Pilar, e que passou a ter a denominação de Mauá.
Com a execução deste decreto, ficou Ribeirão Pires a partir de 1º de Janeiro de 1939, pertencendo a Santo André.
No dia 30 de Abril de 1935, Ribeirão Pires entregou sua representação a Assembléia Legislativa, reivindicando a elevação para Município.
Foi então realizado plebiscito, em 22 de Novembro do ano de 1953, saindo vitorioso.
Assim a lei nº 2456 de 30 de Dezembro de 1953 criou neste município dois distritos a saber: Icatuaçu, hoje Rio Grande da Serra, emancipado e desde 1963, e Iupeba Ouro Fino Paulista.
Origem do Nome
Denominada " Caguaçu" que significa Mata Grande, pelos primeiros habitantes,
depois Ribeirão Grande.
Com a chegada da família Pires, o local passou a ser conhecido, como Ribeirão Pires.
Extraído da internet.
Informações extraídas do site da Prefeitura de Ribeirão Pires, e do Jornal Diário do Grande ABC.
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Luciana Celestino dos Santos.
Poesias
sábado, 18 de abril de 2020
Ribeirão Pires
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O Brasão do Município de Mauá
O Brasão de Armas de Mauá foi instituído segundo a Lei Municipal 267, de 29 de agosto de 1959, na administração de Élio Bernardi.
Foi elaborado por Salvador Thaumaturgo e assim se explica sua simbologia:
O escudo redondo era tradicionalmente usado no Brasil.
O azul simboliza o céu e o clima ameno do Município, e por analogia a crença
religiosa dos seus habitantes.
No centro, a roda dourada de ouro com 24 dentes representa a indústria de Mauá, colocando-a no rol das cidades mais progressistas do Brasil.
A faixa ornada de prata lembra o rio Tamanduateí, que nascendo em Mauá, desliza por municípios vizinhos, como mensageiro da fé, tenacidade e o amor pelo trabalho e pela justiça.
A locomotiva a vapor, de ouro, simboliza o Barão de Mauá, que é o verdadeiro
Patrono do Município e o pioneiro da viação férrea no Brasil, construtor da paragem de trem que hoje tem o seu nome, no antigo povoado de Pilar, crescido em torno da Estação Ferroviária.
A cor do mural de ouro, encimando o escudo, é símbolo universal de emancipação política municipal.
Os pilares em mármore em cor natural cinzenta lembram a antiga Capela de Nossa Senhora do Pilar, início do povoado que, cedendo às vantagens da proximidade da EstaçãoFerroviária, se deslocou aos poucos, formando o antigo Distrito de Mauá, hoje Município.
No listel vermelho, as datas 1º de abril de 1883 e 1o de janeiro de 1954, lembram o dia, mês e ano em que foi inaugurada a Estação de Mauá, e o dia, mês e ano em que o Distrito recebeu os foros de Município.
A palavra Mauá é a denominação da cidade,
servindo também para identificar o escudo.
Quem nasce em Mauá é Mauaense.
O Brasão de Armas de Mauá foi instituído segundo a Lei Municipal 267, de 29 de agosto de 1959, na administração de Élio Bernardi. Foi elaborado por Salvador
Thaumaturgo e assim se explica sua simbologia:
O escudo redondo era tradicionalmente usado no Brasil.
O azul simboliza o céu e o clima ameno do Município, e por analogia a crença
religiosa dos seus habitantes.
No centro, a roda dourada de ouro com 24 dentes representa a indústria de Mauá, colocando-a no rol das cidades mais progressistas do Brasil.
A faixa ornada de prata lembra o rio Tamanduateí, que nascendo em Mauá desliza por municípios vizinhos, como mensageiro da fé, tenacidade e o amor pelo trabalho e pela justiça.
A locomotiva a vapor, de ouro, simboliza o Barão de Mauá, que é o verdadeiro
Patrono do Município e o pioneiro da viação férrea no Brasil, construtor da paragem de trem que hoje tem o seu nome, no antigo povoado de Pilar, crescido em torno da Estação Ferroviária.
A cor do mural de ouro, encimando o escudo, é símbolo universal de emancipação política municipal.
Os pilares em mármore em cor natural cinzenta lembram a antiga Capela de Nossa Senhora do Pilar, início do povoado que, cedendo às vantagens da proximidade da Estação Ferroviária, se deslocou aos poucos, formando o antigo Distrito de Mauá, hoje Município.
No listel vermelho, as datas 1º de abril de 1883 e 1o de janeiro de 1954, lembram o dia, mês e ano em que foi inaugurada a Estação de Mauá, e o dia, mês e ano em que o Distrito recebeu os foros de Município.
A palavra Mauá é a denominação da cidade, servindo também para identificar o escudo.
Quem nasce em Mauá é Mauaense.
Informações extraídas da interntet
Site da Prefeitura de Mauá, e do Jornal Diário do Grande ABC.
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Luciana Celestino dos Santos
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Barão de Mauá: Irineu Evangelista de Sousa
A partir de 1926, Pilar passou a ser chamada Mauá em homenagem a Irineu
Evangelista de Sousa, o Barão e Visconde de Mauá – caixeiro, comerciante, industrial, banqueiro e empreendedor agrícola.
Aos 28 de dezembro de 1813, nasceu Irineu Evangelista de Sousa, na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Arroio Grande, Distrito de Jaguarão, na Capitania d'El Rei São Pedro do Sul, atualmente Rio Grande do Sul – Brasil.
No ano de 1819, seu pai foi morto com um tiro, durante viagem para comprar gado.
Em 1822, sua mãe, por pressão da família, aceitou se casar de novo.
Mas o marido não queria seus dois filhos por perto.
Por conta disso, sua irmã Guilhermina, casou-se com 11 anos de idade.
No ano seguinte, em 1823, Irineu, aos 9 anos, seguiu para o Rio de Janeiro, na
época capital do Brasil, com o tio Comandante (de navio) José Batista de Carvalho.
Trabalhou como caixeiro, para o comerciante português João Rodrigues Pereira de Almeida.
Em 1828, foi promovido a Guarda-livros, e liquidou as dívidas do patrão.
No ano seguinte, em 1829, trabalhou com o comerciante inglês Robert Carruthers.
Nos idos de 1840, visitou a Inglaterra e admirou a ferrovia e as industrias.
No dia 11 de abril de 1841, casou-se com sua sobrinha, Maria Joaquina, a May.
Aos 11 de agosto de 1846, tornou-se industrial com a aquisição do Estabelecimento de Fundição e Estaleiros Ponta de Areia.
23Em 1850, propôs o fornecimento de água ao Rio de Janeiro, Capital do Império do Brasil.
No ano seguinte, fundou a Companhia de Iluminação a Gás do Rio de Janeiro.
Aos 25 de março de 1854, inaugurou a primeira ferrovia brasileira, no Rio de
Janeiro, a Estação Ferroviária Petrópolis.
Neste dia, recebeu de D. Pedro II o título de Barão de Mauá.
Mauá é o nome do antigo porto, que significa: “terras erguidas entre baixos alagadiços”.
No dia 31 de abril de 1855, 182 investidores se reuniram para formar a Mauá, Mac Gregor e Cia., Instituição Financeira.
Entre os anos de 1855/56, foi Deputado Suplente.
Foi nesse período, que se deu início às conversações para a construção da Ferrovia Santos – Jundiaí.
Em 1857, foi eleito Deputado.
No dia 6 de maio de 1861, adquiriu as Fazendas Caguassu e Capuava, do Capitão João José Barbosa Ortiz e de suas irmãs Escolástica Joaquina e Catharina Maria.
Pelo valor de $22.500 réis.
Essa fazenda tinha início em Santo André, e se estendia até Rio Grande da Serra.
A região chamava-se Pilar e pertencia à Frequesia de São Bernardo.
A sede da fazenda foi demolida em 1974, para a construção do Viaduto Juscelino Kubitschek de Oliveira.
No ano de 1863 Mauá vendeu suas ações da Santos – Jundiaí.
Aos 1º de janeiro de 1867, nasceu a Mauá & Cia., no lugar da Mauá, Mac Gregor e Cia.
No dia 4 de abril de 1867, ocorreu a inauguração da Ferrovia Santos – Jundiaí, que recebeu grande ajuda financeira do Barão de Mauá.
Iniciou-se o processo de falência.
No dia 22 de novembro de 1874, o Barão inaugurou, junto com D. Pedro II, as
transmissões telegráficas entre o Brasil e o mundo, e recebeu o título de Visconde.
Aos 26 de novembro de 1874, com 70 anos de idade, recebeu carta de reabilitação de comerciante.
Depois de ter pago suas dívidas, permaneceu ainda bastante rico.
No dia 21 de outubro de 1889, morreu em Petrópolis, Rio de Janeiro, pouco antes das Proclamação da República.
Informações extraídas da internet.
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Luciana Celestino dos Santos
Evangelista de Sousa, o Barão e Visconde de Mauá – caixeiro, comerciante, industrial, banqueiro e empreendedor agrícola.
Aos 28 de dezembro de 1813, nasceu Irineu Evangelista de Sousa, na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Arroio Grande, Distrito de Jaguarão, na Capitania d'El Rei São Pedro do Sul, atualmente Rio Grande do Sul – Brasil.
No ano de 1819, seu pai foi morto com um tiro, durante viagem para comprar gado.
Em 1822, sua mãe, por pressão da família, aceitou se casar de novo.
Mas o marido não queria seus dois filhos por perto.
Por conta disso, sua irmã Guilhermina, casou-se com 11 anos de idade.
No ano seguinte, em 1823, Irineu, aos 9 anos, seguiu para o Rio de Janeiro, na
época capital do Brasil, com o tio Comandante (de navio) José Batista de Carvalho.
Trabalhou como caixeiro, para o comerciante português João Rodrigues Pereira de Almeida.
Em 1828, foi promovido a Guarda-livros, e liquidou as dívidas do patrão.
No ano seguinte, em 1829, trabalhou com o comerciante inglês Robert Carruthers.
Nos idos de 1840, visitou a Inglaterra e admirou a ferrovia e as industrias.
No dia 11 de abril de 1841, casou-se com sua sobrinha, Maria Joaquina, a May.
Aos 11 de agosto de 1846, tornou-se industrial com a aquisição do Estabelecimento de Fundição e Estaleiros Ponta de Areia.
23Em 1850, propôs o fornecimento de água ao Rio de Janeiro, Capital do Império do Brasil.
No ano seguinte, fundou a Companhia de Iluminação a Gás do Rio de Janeiro.
Aos 25 de março de 1854, inaugurou a primeira ferrovia brasileira, no Rio de
Janeiro, a Estação Ferroviária Petrópolis.
Neste dia, recebeu de D. Pedro II o título de Barão de Mauá.
Mauá é o nome do antigo porto, que significa: “terras erguidas entre baixos alagadiços”.
No dia 31 de abril de 1855, 182 investidores se reuniram para formar a Mauá, Mac Gregor e Cia., Instituição Financeira.
Entre os anos de 1855/56, foi Deputado Suplente.
Foi nesse período, que se deu início às conversações para a construção da Ferrovia Santos – Jundiaí.
Em 1857, foi eleito Deputado.
No dia 6 de maio de 1861, adquiriu as Fazendas Caguassu e Capuava, do Capitão João José Barbosa Ortiz e de suas irmãs Escolástica Joaquina e Catharina Maria.
Pelo valor de $22.500 réis.
Essa fazenda tinha início em Santo André, e se estendia até Rio Grande da Serra.
A região chamava-se Pilar e pertencia à Frequesia de São Bernardo.
A sede da fazenda foi demolida em 1974, para a construção do Viaduto Juscelino Kubitschek de Oliveira.
No ano de 1863 Mauá vendeu suas ações da Santos – Jundiaí.
Aos 1º de janeiro de 1867, nasceu a Mauá & Cia., no lugar da Mauá, Mac Gregor e Cia.
No dia 4 de abril de 1867, ocorreu a inauguração da Ferrovia Santos – Jundiaí, que recebeu grande ajuda financeira do Barão de Mauá.
Iniciou-se o processo de falência.
No dia 22 de novembro de 1874, o Barão inaugurou, junto com D. Pedro II, as
transmissões telegráficas entre o Brasil e o mundo, e recebeu o título de Visconde.
Aos 26 de novembro de 1874, com 70 anos de idade, recebeu carta de reabilitação de comerciante.
Depois de ter pago suas dívidas, permaneceu ainda bastante rico.
No dia 21 de outubro de 1889, morreu em Petrópolis, Rio de Janeiro, pouco antes das Proclamação da República.
Informações extraídas da internet.
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História do Município de Mauá
A formação do Município de Mauá está intimamente ligada aos primeiros sesmeiros, e às grandes fazendas em torno da Capela Nossa Senhora do Pilar, nos séculos XVII e XVIII.
Daí o nome inicial do vilarejo: Pilar.
Formação do Município:
Entre os primeiros moradores, estavam Antonio Franco da Rocha e Capitão João José Barbosa Ortiz (Juiz de Paz de São Bernardo entre 1846 e 1865).
No dia 05/06/1861, o Barão de Mauá, através de procuração de José Ricardo Wright, comprou duas fazendas: a Caguassu e a Capoava, do Capitão João e de suas irmãs Escolástica Joaquina e Catharina Maria, passando a ser o grande proprietário local, embora morasse no Rio de Janeiro.
Depois da chegada da estrada de ferro São Paulo Railway (1867) – empreendimento possível graças à parceria com os ingleses – foi inaugurada a Estação do Pilar, em 1º de abril de 1883.
O nome da estação foi mudado, em 1926, para Mauá (quando a ferrovia já era
denominada Santos – Jundiaí), em homenagem ao Barão e Visconde de Mauá – Irineu Evangelista de Sousa.
Em 18 de outubro de 1934, Mauá foi elevada à categoria de Distrito de Paz do
Município de São Bernardo, Comarca da Capital - São Paulo.
Em 1953, foi emancipada, tornando-se, enfim, o Município de Mauá, em plebiscito realizado no dia 22 de novembro de 1953.
Mauá se tornou município autônomo a partir de 1o de janeiro de 1954. No entanto, o aniversário da cidade é comemorado a partir de 8 de dezembro de 1954 – dia da Padroeira da cidade, Imaculada Conceição.
A praça central da cidade recebeu o nome de "22 de novembro", em homenagem ao dia da emancipação.
O 1º Prefeito foi o escarpelino Ennio Brancalion – de 1o de janeiro de 1955 à 1958.
Os prefeitos que o sucederam foram 4:
01/01/1959 a 03/09/1962 Élio Bernardi
04/09/1962 a 31/12/1962 Amélio Zuliani
01/01/1963 a 17/09/1965 Élio Bernardi
01/01/1963 a 17/09/1965 Edgard Grecco
18/09/1965 a 31/12/1966 José Mauro Lacava
01/01/1967 a 31/01/1970 Élio Bernardi
01/02/1970 a 31/01/1973 Américo Perrella
01/02/1973 a 31/01/1977 Amaury Fioravanti
01/02/1977 a 31/01/1983 Dorival Rezende da Silva
01/02/1983 a 31/12/1988 Leonel Damo
01/01/1989 a 31/12/1992 Amaury Fioravanti
01/01/1993 a 31/12/1996 José Carlos Grecco
01/01/1997 a 31/12/2000 Oswaldo Dias
01/01/2001 Oswaldo Dias
Sequência dos Presidentes do Legislativo:
1955 a 1960 Jorge Paschoalick
1956 a 1957 José Mauro Lacava
1961 Arsídio Fernandes
1962 Vicente Orlando
1963 a 1966 Laurindo Callegari
1967 Anselmo Haraldt Walendy
1968 João Sasaki
1969 Luiz Gonzaga do Amaral Jr.
1970 a 1971 Arsídio Fernandes
1972 Francisco Moacir Garcia
1973 a 1974 Aparecido Sanvidotti
1975 a 1976 João Sérgio Rimazza
1977 a 1978 Alexandre Maciano Ratti
1979 a 1980 Orlando Francisco
1981 a 1982 Ademir Jacomussi
1983 a 1984 Alexandre Maciano Ratti
1985 a 1986 Edgard Grecco Filho
1987 a 1990 Ademir Jacomussi
1991 a 1992 Hélcio Antonio da Silva
1993 a 1994 Clovis Volpi
1995 a 1996 Alexandre Maciano Ratti
1997 a 1998 Hélcio Antonio da Silva
1999 a 2000 Francisco E. F. Carneiro
2001 a 2002 Hélcio Antonio da Silva
atual Diniz Lopes dos Santos
Fonte: SEPLAMA. Para saber mais, consulte o Perfil Municipal.
Informações extraídas do site da Prefeitura de Mauá, e do Jornal Diário do Grande ABC.
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Luciana Celestino dos Santos.
Daí o nome inicial do vilarejo: Pilar.
Formação do Município:
Entre os primeiros moradores, estavam Antonio Franco da Rocha e Capitão João José Barbosa Ortiz (Juiz de Paz de São Bernardo entre 1846 e 1865).
No dia 05/06/1861, o Barão de Mauá, através de procuração de José Ricardo Wright, comprou duas fazendas: a Caguassu e a Capoava, do Capitão João e de suas irmãs Escolástica Joaquina e Catharina Maria, passando a ser o grande proprietário local, embora morasse no Rio de Janeiro.
Depois da chegada da estrada de ferro São Paulo Railway (1867) – empreendimento possível graças à parceria com os ingleses – foi inaugurada a Estação do Pilar, em 1º de abril de 1883.
O nome da estação foi mudado, em 1926, para Mauá (quando a ferrovia já era
denominada Santos – Jundiaí), em homenagem ao Barão e Visconde de Mauá – Irineu Evangelista de Sousa.
Em 18 de outubro de 1934, Mauá foi elevada à categoria de Distrito de Paz do
Município de São Bernardo, Comarca da Capital - São Paulo.
Em 1953, foi emancipada, tornando-se, enfim, o Município de Mauá, em plebiscito realizado no dia 22 de novembro de 1953.
Mauá se tornou município autônomo a partir de 1o de janeiro de 1954. No entanto, o aniversário da cidade é comemorado a partir de 8 de dezembro de 1954 – dia da Padroeira da cidade, Imaculada Conceição.
A praça central da cidade recebeu o nome de "22 de novembro", em homenagem ao dia da emancipação.
O 1º Prefeito foi o escarpelino Ennio Brancalion – de 1o de janeiro de 1955 à 1958.
Os prefeitos que o sucederam foram 4:
01/01/1959 a 03/09/1962 Élio Bernardi
04/09/1962 a 31/12/1962 Amélio Zuliani
01/01/1963 a 17/09/1965 Élio Bernardi
01/01/1963 a 17/09/1965 Edgard Grecco
18/09/1965 a 31/12/1966 José Mauro Lacava
01/01/1967 a 31/01/1970 Élio Bernardi
01/02/1970 a 31/01/1973 Américo Perrella
01/02/1973 a 31/01/1977 Amaury Fioravanti
01/02/1977 a 31/01/1983 Dorival Rezende da Silva
01/02/1983 a 31/12/1988 Leonel Damo
01/01/1989 a 31/12/1992 Amaury Fioravanti
01/01/1993 a 31/12/1996 José Carlos Grecco
01/01/1997 a 31/12/2000 Oswaldo Dias
01/01/2001 Oswaldo Dias
Sequência dos Presidentes do Legislativo:
1955 a 1960 Jorge Paschoalick
1956 a 1957 José Mauro Lacava
1961 Arsídio Fernandes
1962 Vicente Orlando
1963 a 1966 Laurindo Callegari
1967 Anselmo Haraldt Walendy
1968 João Sasaki
1969 Luiz Gonzaga do Amaral Jr.
1970 a 1971 Arsídio Fernandes
1972 Francisco Moacir Garcia
1973 a 1974 Aparecido Sanvidotti
1975 a 1976 João Sérgio Rimazza
1977 a 1978 Alexandre Maciano Ratti
1979 a 1980 Orlando Francisco
1981 a 1982 Ademir Jacomussi
1983 a 1984 Alexandre Maciano Ratti
1985 a 1986 Edgard Grecco Filho
1987 a 1990 Ademir Jacomussi
1991 a 1992 Hélcio Antonio da Silva
1993 a 1994 Clovis Volpi
1995 a 1996 Alexandre Maciano Ratti
1997 a 1998 Hélcio Antonio da Silva
1999 a 2000 Francisco E. F. Carneiro
2001 a 2002 Hélcio Antonio da Silva
atual Diniz Lopes dos Santos
Fonte: SEPLAMA. Para saber mais, consulte o Perfil Municipal.
Informações extraídas do site da Prefeitura de Mauá, e do Jornal Diário do Grande ABC.
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Luciana Celestino dos Santos.
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sábado, 11 de abril de 2020
...E A CHUVA QUE CAÍ - CAPÍTULO 4- VERSÃO OFICIAL
Todavia, cumpre salientar, que essa mesma história, também narra a vida de uma outra
família que lutou para sobreviver, nas primeiras décadas do século passado, na aludida
região.
Eram igualmente pessoas simples que inicialmente trabalharam em terras alheias, até que decidiram rumar em direção ao interior do estado de São Paulo.
Essa outra família, também trabalhava duramente para sobreviver.
Seus filhos, igualmente pobres, tiveram ao menos a oportunidade de também freqüentarem a escola.
Caminhando por léguas, conseguiam chegar até o grupo escolar, e juntamente com crianças das mais diferentes idades, estudavam e aprendiam coisas novas.
Descalços, por não terem dinheiro para o sapato, caminhavam bastante para conseguirem estudar. Estudar ao menos um pouco, por que naquela época somente quem tinha dinheiro conseguia fazer com seus filhos prosseguissem os estudos, ao menos naquela lonjura.
Sim, por que a região em que esta família vivia, era a região do Vale do Paraíba.
Nesta região, viviam muitas famílias de trabalhadores rurais.
Esta família, também o era.
Inicialmente, quando se instalaram em uma das inúmeras cidades da região, Juvenal e sua família, trabalharam nas terras de fazendeiros e sitiantes do lugar.
Como meeiro, Juvenal, conseguiu plantar alguns víveres para a sua subsistência, e a de seus familiares.
Contudo, como retribuição, tinha que trabalhar muito, cultivando as terras dos donos das propriedades.
Era um duro trabalho, mas de alguma forma valia a pena.
Tanto que quando ía se deitar, depois de um dia extenuante de trabalho, sentia-se satisfeito e dormia pesadamente.
Além disso, dormia cedo, por que, apesar do rádio, não havia luz no lugar.
Ademais, como todos os trabalhadores do lugarejo, precisava se levantar cedo para recomeçar a jornada de trabalho.
Nesse trabalho, seus filhos também o auxiliavam.
Contudo, precisavam estudar, e por isso, não ficavam o dia inteiro na roça com seu pai.
Porém, quando retornavam do grupo escolar, era hora de ir trabalhar.
E o trabalho era pesado.
Enquanto isso, a mãe ficava em casa, arrumando a casa e preparando o jantar.
Isso por que, quando todos voltassem do trabalho, estariam realmente famintos.
Por isso, mesmo tendo pouco a oferecer, procurava preparar, com todo o cuidado, a comida que iria servir aos seus familiares.
E assim, as horas se passavam, tranqüilas e rotineiras, sempre lhes lembrando do trabalho que tinham que cumprir.
Contudo, apesar das dificuldades, eram pessoas relativamente felizes.
Tanto que quando chegavam em casa, procuravam logo se lavar, dada a sujeira que estavam em razão de um longo dia de trabalho.
E faziam isso depressa, por que queriam logo jantar.
Nisso, com passar do tempo, Juvenal passou a trabalhar como administrador em uma outra propriedade rural.
Como funcionário de confiança, possuía alguns privilégios que os colonos que viviam naquelas terras não possuíam.
Estes, coitados, viviam na mais absoluta miséria.
Já Juvenal como retribuição pelo bom trabalho que fazia, tinha sempre a mesa farta e algum conforto.
Sua família vivia em uma casa ampla e arejada, a vida era boa, e as crianças estudavam.
A certa altura porém, cansado de trabalhar para os outros, o homem decidiu juntar suas economias e comprar uma pequena porção de terra.
E assim a família passou a viver do que plantava.
Da dura rotina de trabalho.
Quando sobrava algum tempo livre, as crianças, aproveitando para curtir um pouco a infância perdida, ao tomarem banho de bacia, aproveitavam para jogar água uns nos outros.
Depois de dias sem tomarem banho, precisavam se limpar.
Isso por que, estavam todos imundos.
Uma vizinha ao ver as crianças em tão lastimável estado, chegou até a comentar com a mãe dos garotos.
Onde já se viu, crianças tão imundas? A senhora não manda eles tomarem banho não? Pois saiba que se fossem meus filhos, eles não estariam nessa imundice toda. Nossa! Credo! Como estão craquentos!
Mas Dona Rute dava de ombros.
Afinal de contas, vivendo naquele lugar, já estavam mais do que acostumados, a tomar banho uma vez por semana.
E para eles, era mais do que o suficiente.
Porém, voltemos ao banho das crianças, que desacostumadas do hábito diário, aproveitavam para se divertir, molhando o chão da casa.
A mãe sempre que via isso, ficava furiosa.
Afinal de contas, depois de passar o dia inteiro cuidando da casa, como podiam aquelas crianças, molhar todo o chão com água?
Assim, ao vê-los traquinando, ralhou com eles.
A bronca foi tão longa, que eles tiveram que parar de brincar.
Pararam também, por que sabiam que assim não o fizessem, fatalmente apanhariam da mãe, que estava furiosa.
E assim, a mulher chamou-lhes a atenção.
Porém, passado este pequeno incidente, as crianças terminaram o banho, vestiram-se e sentaram-se a mesa para jantar.
Estavam realmente muito limpos, tão limpos que agora finalmente podia se ver seus rostos, antes escondidos pela sujeira.
Agora não, de tão asseados, pareciam os filhos do patrão.
No entanto, apesar de limpos, mal podiam ver a hora, para a refeição.
O pai, ao ver que a mulher preparava o feijão, resolveu provar um pouco.
Para isso, pegou uma colher, levou-a até a panela, e tomou uma boa porção do caldo do feijão. Contudo, ao invés de colocar a colher na pia, devolveu-a novamente à panela.
Sua mulher, ao ver isso, ficou furiosa.
Por conta disso, ouviu poucas e boas.
-- Mas o que que é isso Juvenal? Eu fico por horas cozinhando, pro senhor fazer isso? Faça-me o favor.
Mas ele não ligava.
Quando então a mulher colocou as panelas de ferro sobre mesa, todos ficaram satisfeitos.
Finalmente poderiam jantar.
E comeram com gosto.
A comida, apesar de simples, estava ótima.
Diante disso, comeram regaladamente.
Em seguida, aproveitando que ainda era muito cedo para se recolherem, ficaram algum tempo conversando, e contando as novidades do dia.
Algumas vezes, quando era época de festejos, as famílias aproveitavam para além de conversarem, contarem causos curiosos, e cantarem um pouco de música.
Isso por que, alguns sertanejos tinham o dom da música.
Sabiam cantar lindamente.
Porém, nem todos era agraciados com uma voz sonorosa.
Muitos, desafinados só cantavam, pelo simples prazer de se lembrarem de suas músicas favoritas tantas vezes tocada no rádio.
Outros, sem coragem para cantarem com suas vozes terríveis, aproveitavam para arranhar um pouco das letras no violão.
Juvenal, era um desses rurícolas que sabia muito bem tocar um violão.
Mas era só.
Quando cantava, era uma tristeza.
Seus filhos e a esposa, percebendo que Juvenal não tinha pendores para o canto, pediam insistentemente, para que o mesmo só tocasse seu violão.
E assim, ficavam horas a fio, ouvindo boa música.
Ficar ali no alpendre, ouvindo as modas de viola da época, era algum muito bom.
Isso por que, por ser uma das poucas distrações daquela gente humilde, quando tinham a oportunidade de viver por alguns momentos aquelas músicas, era como se um mundo novo estivesse diante deles.
E era lindo ficar, pelo menos um pouco naquele mundo de sonhos.
Depois, iam dormir.
Em um quarto ficava o casal, e em outro as crianças.
Com isso, por serem muitas crianças, as mesmas dormiam muitas vezes, na mesma cama. Amontoadas, tinham que dividir com seus irmãos, as poucas camas que tinham.
Esse era o momento em que novamente se davam conta da realidade em que viviam.
Assim, antes de dormir, sempre aproveitavam para ir até o banheiro improvisado, que ficava fora da casa.
Isso por que, se tivessem vontade de ir até lá a noite, teriam um problema sério com a escuridão da paisagem, e o aspecto sombrio da mesma, o qual desde pequenos, sempre temeram.
E sim, andar a noite por aquele lugar, era realmente assustador.
Por isso, procuravam se prevenir.
Mesmo assim, algumas vezes, era inevitável que uma das camas amanhecesse molhada.
Rute, quando ía acordar os filhos e percebia o mal feito, ficava furiosa.
Porém, toda vez que perguntava quem havia molhado a cama, ninguém se atrevia a responder. Entrementes, não era difícil reconhecer o autor da façanha, já que a roupa do mijão, ficava impregnada de xixi.
Assim, por várias vezes, a mulher percebeu que geralmente, eram seus filhos menores quem faziam a porquice.
Por serem pequenos, não sabiam ainda se planejar e assim, amanheciam freqüentemente molhados. Todavia, esses episódios só aconteceram, enquanto os meninos ainda eram muito pequenos.
Depois, deixaram de fazer a lambança.
Mas enquanto algumas das crianças ainda fazia xixi na cama, isso foi um verdadeiro suplício de Rute. Afinal, com os lençóis molhados com urina fatalmente teria que lavar roupas.
E assim durante meses, todos os dias tinha lençol para lavar.
Dessa forma, qual não foi sua alegria quando as crianças cresceram.
Até por que, os pequenos, por terem esse péssimo hábito, passaram a ser alvo de chacota dos outros irmãos, que há muito tempo, já haviam passado desta fase.
Assim, quando Rute via as brincadeiras acontecendo, tratava logo de chamar a atenção dos garotos. No entanto, nem sempre isso resolvia a situação.
Isso por que, era só virar as costas, para que as gozações continuassem, e os pequenos ficassem chorando.
Mas enfim, um dia isso acabou.
E as noites que se seguiram, foram tranqüilas e secas.
Com isso, mais uma noite passou, e o céu, estrelado como sempre naqueles tempos, deu lugar ao dia, que começava a surgir.
A madrugada orvalhosa, umedecia as plantas, e tornava mais fria a madrugada.
Todavia, já era hora da família se levantar e se preparar para mais um dia de jornada.
Juvenal seguiria para a plantação e as crianças se preparariam para irem a escola.
E assim, mais um dia se foi.
Mais um dia de estudos, de trabalho, e de duros sacrifícios.
Mais um dia também de traquinagens e de confusões.
Isso por que, depois do trabalho, ao retornarem para casa, como sempre faziam, as crianças lavaram as mãos, os pés e o rosto.
Como não era o dia de tomarem banho, depois de realizarem essa limpeza rudimentar, sentaram-se à mesa e cearam.
Como era costume, a comida, feita em forno à lenha, era muito simples, arroz, feijão e um pouco de alface, que era cultivada nos fundos da casa.
Mas ainda assim, a comida era boa.
Dessa forma, depois de jantar, as crianças foram para o alpendre.
Mas Luzia, para ajudar a mãe, decidiu então, lavar os pratos, para depois se juntar aos seus irmãos. Rute até estranhou.
Ao ver o cuidado da filha ao lavar a louça, agradeceu a gentileza, mas disse que ela mesma guardaria os pratos e as panelas em seus devidos lugares.
Nisso, quando Luzia terminou sua tarefa, juntou-se aos irmãos.
Foi então que percebeu que uma briga, estava começando.
Por conta de uma divergência Adolfo, Lélio e Clementino, discutiam em razão de cada qual achar que estava certo, em relação a seu respectivo ponto de vista.
A ver a discussão, a reação natural de Luzia, foi perguntar o que estava acontecendo.
Porém, ao tentarem explicar seus motivos, um acabava impedindo o outro de concluir suas idéias e a briga recomeçava.
A certa altura, o volumes das vozes no alpendre já estava tão alto que até Rute, que estava na cozinha, ouviu tudo.
Ao chegar no alpendre, percebeu então, que os garotos estavam brigando, e Luzia inutilmente, estava tentando apartá-los.
Rute então, pegou um cabo de vassoura, e ameaçou lhes dar uma surra se a briga não se encerrasse. Adolfo e Lélio contudo, mesmo diante da ferocidade de Rute, insistiram em argumentar que a culpa da briga fora de Clementino.
Clementino então, revoltado com os irmãos, disse então, que não havia dado causa a nenhuma briga e que o motivo das desavenças dos dois era a rivalidade que eles tinham entre si.
E nisso a briga continuou.
Rute então, percebendo que não adiantava simplesmente falar, pegou o primeiro sapato que achou pela frente – já que sempre andava descalça –, e pegando os três no colo, surrou um por um.
Porém, não sem antes jogar longe, o cabo de madeira que trazia nas mãos.
Com isso, os três garotos foram dormir com o traseiro quente.
Pelo menos assim, a briga acabou.
Ademais, já era hora de todos se recolherem, e assim procederam.
Nestes tempos de confusões infantis, sempre que podiam, as crianças aproveitavam para aprontar. Apesar da severidade de Juvenal e de Rute, os meninos sempre que podiam, aproveitavam para escapar de seus olhares atentos, e iam se divertir longe da casa em que moravam.
Aproveitavam para escorregarem em folhas de bananeiras.
Em seus brinquedos improvisados, deslizavam em meio a barro e pedras.
Uma vez, ao realizarem a brincadeira, um dos meninos acabou se machucando.
Juvenal, ao ver Clementino todo machucado, ficou furioso.
Afinal de contas, quantas vezes já tinha avisado que brincar de escorregar era perigoso?
Por conta disso, todos tiveram que ouvir uma longa e severa bronca.
Chamados de irresponsáveis, inconseqüentes e destrambelhados, ouviram tudo calados.
Até por que, se dissessem alguma coisa, fazendo com que Juvenal interrompesse o discurso, fatalmente iriam apanhar.
Se o deixassem simplesmente praguejar, tudo ficaria na simples bronca.
E assim, permaneceram silentes.
Nisso, depois da bronca, Clementino finalmente teve seu ferimento cuidado por Rute.
No entanto, por conta da pancada sofrida, o mesmo ficou alguns dias afastado da lida, e da escola. Porém, quanto a escola não havia problema.
Isso por que, em razão de todos estudarem no mesmo grupo escolar, seus irmãos poderiam tranqüilamente lhe trazer, os assuntos que foram objeto de aula.
E assim, Clementino continuou estudando.
Nisso seus irmãos continuavam trabalhando na roça.
Nessa época, Luzia começava a ajudar sua mãe em casa, para desespero de Adalgisa, que ficava revoltada por ela ter de trabalhar na roça.
Isso por que, o trabalho na roça, era extremamente penoso.
Dia-após-dia tinham que trabalhar expostos ao sol.
Não bastasse isso, tinham que lidar com a enxada e com a terra, o que fazia com que o trabalho se tornasse ainda mais cansativo.
Arando e semeando, passavam horas, dias, cultivando a terra, para depois colherem o fruto de seu trabalho.
E para Adalgisa, que se sentia preterida por seu pai, esse trabalho lhe era ainda mais difícil.
Mesmo assim, Juvenal não a poupou dessa tarefa e assim, mais e mais ela passou a cuidar da roça. Enfurecida com a decisão de seu pai, passou a culpar Luzia por isso.
Freqüentemente, chegou a insinuar que Luzia era a queridinha da casa, por isso fazia o serviço mais leve.
Juvenal, ao ouvir isso, ficava furioso.
Por conta disso, inúmeras vezes deixou Adalgisa de castigo sem comer.
Todavia, sua atitude radical com relação a filha, não ajudava nem um pouco.
Pelo contrário, só fazia com que Adalgisa sentisse ainda mais raiva da irmã.
E mesmo Juvenal percebendo isso, nem por um momento parou de assim proceder.
No entanto, com o passar dos dias e com a melhora de Clementino, o mesmo voltou a trabalhar com a família.
Adalgisa, então, acreditando que agora passaria menos tempo na roça, ficou desapontada ao constatar que por ter trabalhado tão bem, passaria a ser o braço direito de Juvenal.
Com isso, passaria a ter menos tempo para estudar.
Isso a deixou irada.
Todavia, não ousou enfrentar o pai, já que era ele quem dava a última palavra.
Mas não deixou de guardar mágoa por sua atitude.
Por conta disso, nunca mais sua relação com a irmã, Luzia, seria a mesma.
O que não a impedia de acompanhar a irmã e os irmãos em suas incursões pela mata.
Certa vez, passeando em meio aquele ambiente, avistaram uma figura muito estranha, à uma certa distância.
Com ele vinha um cachorro, muito branco, que lhe devia fazer companhia.
Este homem estava cortando lenha em cima do que sobrara de uma árvore.
Estava absorto em seu trabalho.
Tanto que nem chegou a ouvir o barulho de passos.
Pois, qual não foi a surpresa das crianças, ao perceberem que, quanto mais se aproximavam do local onde o homem estava, com menos nitidez conseguiam observar o seu semblante.
Nisso, o homem, percebendo a aproximação, inesperadamente, sumiu.
Do nada desapareceu.
Desapareceu na frente de todos.
Parecia uma assombração.
As crianças, ao se darem conta disso, começaram a correr em desabalada carreira em direção a casa em que moravam.
Assustados, queriam chegar o quanto antes em casa.
E assim, correram. Correram, correram ...
Correram tanto, que chegaram extremamente cansados em casa.
Rute, então, ao ver nos olhos dos garotos, o quanto estavam assustados, resolveu perguntar-lhes o que havia acontecido.
Foi então que ouviu a resposta.
-- Foi uma assombração. – respondeu Adalgisa. – Uma assombração.
Mas Rute não se convenceu.
Para ela, era mais uma brincadeira dos meninos.
E assim, continuou seu trabalho.
Esta era a vida da família.
Quando as crianças não tinham que trabalhar na roça, aproveitavam para exercitar seu lado infantil e traquinavam um pouco.
Porém o faziam escondidos, já que se Juvenal os visse aprontando, fatalmente sofreriam uma admoestação.
Assim, todo cuidado era pouco.
Entrementes, nem tudo era traquinagem nesse reino infantil.
Algumas vezes, as crianças também aproveitavam para se divertirem nos festejos da cidade.
Isso por que, apesar de pobres, eram sempre convidados para as festas.
E lá se divertiam.
No entanto, quem mais se divertia, eram as famílias influentes do lugar.
Estas, aproveitando-se de suas posições na sociedade, sempre ficavam nos melhores lugares, saboreavam os melhores pratos, e ficavam com o melhor da festa.
Mas a família de Juvenal e Rute, assim como outras famílias humildes que haviam no lugar, também aproveitavam a festa.
Também dançavam se divertiam, e saboreavam alguns pratos.
Assim apesar das preferências, e de serem os últimos a serem servidos, ainda assim, conseguiam se divertir.
Nas festas juninas, fartavam-se de comer e apreciar os fogos em homenagem aos santos do mês.
Era realmente um espetáculo lindo de se ver, comentavam.
Dessa maneira, apesar de tudo, não tinham como não se divertirem e aproveitar.
Tanto que passavam semanas encantados, comentando os detalhes da festa.
Para eles, viverem alguns instantes em meio aquele idílio, era a materialização de um sonho.
Um lindo sonho que tinha dia e hora para acabar.
Mas que mesmo assim, era bom de ser sonhado.
Tão bom, que sempre que surgiam estas festas, a família fazia questão de aproveitar.
Na missa do galo – na época do Natal –, a meia-noite, todas as famílias compareciam à igreja para a celebração de um mistério da fé.
A cidade era enfeitada um lindo presépio em tamanho natural, onde todos os que desejavam, colocavam seus presentes e pedidos para um ano novo próspero e generoso para com todos.
Assim, enquanto a missa era celebrada – toda em latim –, os devotos católicos, davam mais uma vez, mostras de sua religiosidade.
Depois disso, a cidade confraternizava com todos, por mais uma bela data.
Novamente os fogos iluminavam a região e todos ficavam encantados com o espetáculo pirotécnico. Realmente, um espetáculo maravilhoso.
Algumas vezes, era feita uma procissão na cidade, para celebrar o nascimento do menino Jesus.
Essa procissão, sempre terminava na porta da igreja, quando então o padre, celebrava a missa.
Bons tempos aqueles, diriam alguns.
Mas ainda viriam outros, que mais tarde serão contados.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Eram igualmente pessoas simples que inicialmente trabalharam em terras alheias, até que decidiram rumar em direção ao interior do estado de São Paulo.
Essa outra família, também trabalhava duramente para sobreviver.
Seus filhos, igualmente pobres, tiveram ao menos a oportunidade de também freqüentarem a escola.
Caminhando por léguas, conseguiam chegar até o grupo escolar, e juntamente com crianças das mais diferentes idades, estudavam e aprendiam coisas novas.
Descalços, por não terem dinheiro para o sapato, caminhavam bastante para conseguirem estudar. Estudar ao menos um pouco, por que naquela época somente quem tinha dinheiro conseguia fazer com seus filhos prosseguissem os estudos, ao menos naquela lonjura.
Sim, por que a região em que esta família vivia, era a região do Vale do Paraíba.
Nesta região, viviam muitas famílias de trabalhadores rurais.
Esta família, também o era.
Inicialmente, quando se instalaram em uma das inúmeras cidades da região, Juvenal e sua família, trabalharam nas terras de fazendeiros e sitiantes do lugar.
Como meeiro, Juvenal, conseguiu plantar alguns víveres para a sua subsistência, e a de seus familiares.
Contudo, como retribuição, tinha que trabalhar muito, cultivando as terras dos donos das propriedades.
Era um duro trabalho, mas de alguma forma valia a pena.
Tanto que quando ía se deitar, depois de um dia extenuante de trabalho, sentia-se satisfeito e dormia pesadamente.
Além disso, dormia cedo, por que, apesar do rádio, não havia luz no lugar.
Ademais, como todos os trabalhadores do lugarejo, precisava se levantar cedo para recomeçar a jornada de trabalho.
Nesse trabalho, seus filhos também o auxiliavam.
Contudo, precisavam estudar, e por isso, não ficavam o dia inteiro na roça com seu pai.
Porém, quando retornavam do grupo escolar, era hora de ir trabalhar.
E o trabalho era pesado.
Enquanto isso, a mãe ficava em casa, arrumando a casa e preparando o jantar.
Isso por que, quando todos voltassem do trabalho, estariam realmente famintos.
Por isso, mesmo tendo pouco a oferecer, procurava preparar, com todo o cuidado, a comida que iria servir aos seus familiares.
E assim, as horas se passavam, tranqüilas e rotineiras, sempre lhes lembrando do trabalho que tinham que cumprir.
Contudo, apesar das dificuldades, eram pessoas relativamente felizes.
Tanto que quando chegavam em casa, procuravam logo se lavar, dada a sujeira que estavam em razão de um longo dia de trabalho.
E faziam isso depressa, por que queriam logo jantar.
Nisso, com passar do tempo, Juvenal passou a trabalhar como administrador em uma outra propriedade rural.
Como funcionário de confiança, possuía alguns privilégios que os colonos que viviam naquelas terras não possuíam.
Estes, coitados, viviam na mais absoluta miséria.
Já Juvenal como retribuição pelo bom trabalho que fazia, tinha sempre a mesa farta e algum conforto.
Sua família vivia em uma casa ampla e arejada, a vida era boa, e as crianças estudavam.
A certa altura porém, cansado de trabalhar para os outros, o homem decidiu juntar suas economias e comprar uma pequena porção de terra.
E assim a família passou a viver do que plantava.
Da dura rotina de trabalho.
Quando sobrava algum tempo livre, as crianças, aproveitando para curtir um pouco a infância perdida, ao tomarem banho de bacia, aproveitavam para jogar água uns nos outros.
Depois de dias sem tomarem banho, precisavam se limpar.
Isso por que, estavam todos imundos.
Uma vizinha ao ver as crianças em tão lastimável estado, chegou até a comentar com a mãe dos garotos.
Onde já se viu, crianças tão imundas? A senhora não manda eles tomarem banho não? Pois saiba que se fossem meus filhos, eles não estariam nessa imundice toda. Nossa! Credo! Como estão craquentos!
Mas Dona Rute dava de ombros.
Afinal de contas, vivendo naquele lugar, já estavam mais do que acostumados, a tomar banho uma vez por semana.
E para eles, era mais do que o suficiente.
Porém, voltemos ao banho das crianças, que desacostumadas do hábito diário, aproveitavam para se divertir, molhando o chão da casa.
A mãe sempre que via isso, ficava furiosa.
Afinal de contas, depois de passar o dia inteiro cuidando da casa, como podiam aquelas crianças, molhar todo o chão com água?
Assim, ao vê-los traquinando, ralhou com eles.
A bronca foi tão longa, que eles tiveram que parar de brincar.
Pararam também, por que sabiam que assim não o fizessem, fatalmente apanhariam da mãe, que estava furiosa.
E assim, a mulher chamou-lhes a atenção.
Porém, passado este pequeno incidente, as crianças terminaram o banho, vestiram-se e sentaram-se a mesa para jantar.
Estavam realmente muito limpos, tão limpos que agora finalmente podia se ver seus rostos, antes escondidos pela sujeira.
Agora não, de tão asseados, pareciam os filhos do patrão.
No entanto, apesar de limpos, mal podiam ver a hora, para a refeição.
O pai, ao ver que a mulher preparava o feijão, resolveu provar um pouco.
Para isso, pegou uma colher, levou-a até a panela, e tomou uma boa porção do caldo do feijão. Contudo, ao invés de colocar a colher na pia, devolveu-a novamente à panela.
Sua mulher, ao ver isso, ficou furiosa.
Por conta disso, ouviu poucas e boas.
-- Mas o que que é isso Juvenal? Eu fico por horas cozinhando, pro senhor fazer isso? Faça-me o favor.
Mas ele não ligava.
Quando então a mulher colocou as panelas de ferro sobre mesa, todos ficaram satisfeitos.
Finalmente poderiam jantar.
E comeram com gosto.
A comida, apesar de simples, estava ótima.
Diante disso, comeram regaladamente.
Em seguida, aproveitando que ainda era muito cedo para se recolherem, ficaram algum tempo conversando, e contando as novidades do dia.
Algumas vezes, quando era época de festejos, as famílias aproveitavam para além de conversarem, contarem causos curiosos, e cantarem um pouco de música.
Isso por que, alguns sertanejos tinham o dom da música.
Sabiam cantar lindamente.
Porém, nem todos era agraciados com uma voz sonorosa.
Muitos, desafinados só cantavam, pelo simples prazer de se lembrarem de suas músicas favoritas tantas vezes tocada no rádio.
Outros, sem coragem para cantarem com suas vozes terríveis, aproveitavam para arranhar um pouco das letras no violão.
Juvenal, era um desses rurícolas que sabia muito bem tocar um violão.
Mas era só.
Quando cantava, era uma tristeza.
Seus filhos e a esposa, percebendo que Juvenal não tinha pendores para o canto, pediam insistentemente, para que o mesmo só tocasse seu violão.
E assim, ficavam horas a fio, ouvindo boa música.
Ficar ali no alpendre, ouvindo as modas de viola da época, era algum muito bom.
Isso por que, por ser uma das poucas distrações daquela gente humilde, quando tinham a oportunidade de viver por alguns momentos aquelas músicas, era como se um mundo novo estivesse diante deles.
E era lindo ficar, pelo menos um pouco naquele mundo de sonhos.
Depois, iam dormir.
Em um quarto ficava o casal, e em outro as crianças.
Com isso, por serem muitas crianças, as mesmas dormiam muitas vezes, na mesma cama. Amontoadas, tinham que dividir com seus irmãos, as poucas camas que tinham.
Esse era o momento em que novamente se davam conta da realidade em que viviam.
Assim, antes de dormir, sempre aproveitavam para ir até o banheiro improvisado, que ficava fora da casa.
Isso por que, se tivessem vontade de ir até lá a noite, teriam um problema sério com a escuridão da paisagem, e o aspecto sombrio da mesma, o qual desde pequenos, sempre temeram.
E sim, andar a noite por aquele lugar, era realmente assustador.
Por isso, procuravam se prevenir.
Mesmo assim, algumas vezes, era inevitável que uma das camas amanhecesse molhada.
Rute, quando ía acordar os filhos e percebia o mal feito, ficava furiosa.
Porém, toda vez que perguntava quem havia molhado a cama, ninguém se atrevia a responder. Entrementes, não era difícil reconhecer o autor da façanha, já que a roupa do mijão, ficava impregnada de xixi.
Assim, por várias vezes, a mulher percebeu que geralmente, eram seus filhos menores quem faziam a porquice.
Por serem pequenos, não sabiam ainda se planejar e assim, amanheciam freqüentemente molhados. Todavia, esses episódios só aconteceram, enquanto os meninos ainda eram muito pequenos.
Depois, deixaram de fazer a lambança.
Mas enquanto algumas das crianças ainda fazia xixi na cama, isso foi um verdadeiro suplício de Rute. Afinal, com os lençóis molhados com urina fatalmente teria que lavar roupas.
E assim durante meses, todos os dias tinha lençol para lavar.
Dessa forma, qual não foi sua alegria quando as crianças cresceram.
Até por que, os pequenos, por terem esse péssimo hábito, passaram a ser alvo de chacota dos outros irmãos, que há muito tempo, já haviam passado desta fase.
Assim, quando Rute via as brincadeiras acontecendo, tratava logo de chamar a atenção dos garotos. No entanto, nem sempre isso resolvia a situação.
Isso por que, era só virar as costas, para que as gozações continuassem, e os pequenos ficassem chorando.
Mas enfim, um dia isso acabou.
E as noites que se seguiram, foram tranqüilas e secas.
Com isso, mais uma noite passou, e o céu, estrelado como sempre naqueles tempos, deu lugar ao dia, que começava a surgir.
A madrugada orvalhosa, umedecia as plantas, e tornava mais fria a madrugada.
Todavia, já era hora da família se levantar e se preparar para mais um dia de jornada.
Juvenal seguiria para a plantação e as crianças se preparariam para irem a escola.
E assim, mais um dia se foi.
Mais um dia de estudos, de trabalho, e de duros sacrifícios.
Mais um dia também de traquinagens e de confusões.
Isso por que, depois do trabalho, ao retornarem para casa, como sempre faziam, as crianças lavaram as mãos, os pés e o rosto.
Como não era o dia de tomarem banho, depois de realizarem essa limpeza rudimentar, sentaram-se à mesa e cearam.
Como era costume, a comida, feita em forno à lenha, era muito simples, arroz, feijão e um pouco de alface, que era cultivada nos fundos da casa.
Mas ainda assim, a comida era boa.
Dessa forma, depois de jantar, as crianças foram para o alpendre.
Mas Luzia, para ajudar a mãe, decidiu então, lavar os pratos, para depois se juntar aos seus irmãos. Rute até estranhou.
Ao ver o cuidado da filha ao lavar a louça, agradeceu a gentileza, mas disse que ela mesma guardaria os pratos e as panelas em seus devidos lugares.
Nisso, quando Luzia terminou sua tarefa, juntou-se aos irmãos.
Foi então que percebeu que uma briga, estava começando.
Por conta de uma divergência Adolfo, Lélio e Clementino, discutiam em razão de cada qual achar que estava certo, em relação a seu respectivo ponto de vista.
A ver a discussão, a reação natural de Luzia, foi perguntar o que estava acontecendo.
Porém, ao tentarem explicar seus motivos, um acabava impedindo o outro de concluir suas idéias e a briga recomeçava.
A certa altura, o volumes das vozes no alpendre já estava tão alto que até Rute, que estava na cozinha, ouviu tudo.
Ao chegar no alpendre, percebeu então, que os garotos estavam brigando, e Luzia inutilmente, estava tentando apartá-los.
Rute então, pegou um cabo de vassoura, e ameaçou lhes dar uma surra se a briga não se encerrasse. Adolfo e Lélio contudo, mesmo diante da ferocidade de Rute, insistiram em argumentar que a culpa da briga fora de Clementino.
Clementino então, revoltado com os irmãos, disse então, que não havia dado causa a nenhuma briga e que o motivo das desavenças dos dois era a rivalidade que eles tinham entre si.
E nisso a briga continuou.
Rute então, percebendo que não adiantava simplesmente falar, pegou o primeiro sapato que achou pela frente – já que sempre andava descalça –, e pegando os três no colo, surrou um por um.
Porém, não sem antes jogar longe, o cabo de madeira que trazia nas mãos.
Com isso, os três garotos foram dormir com o traseiro quente.
Pelo menos assim, a briga acabou.
Ademais, já era hora de todos se recolherem, e assim procederam.
Nestes tempos de confusões infantis, sempre que podiam, as crianças aproveitavam para aprontar. Apesar da severidade de Juvenal e de Rute, os meninos sempre que podiam, aproveitavam para escapar de seus olhares atentos, e iam se divertir longe da casa em que moravam.
Aproveitavam para escorregarem em folhas de bananeiras.
Em seus brinquedos improvisados, deslizavam em meio a barro e pedras.
Uma vez, ao realizarem a brincadeira, um dos meninos acabou se machucando.
Juvenal, ao ver Clementino todo machucado, ficou furioso.
Afinal de contas, quantas vezes já tinha avisado que brincar de escorregar era perigoso?
Por conta disso, todos tiveram que ouvir uma longa e severa bronca.
Chamados de irresponsáveis, inconseqüentes e destrambelhados, ouviram tudo calados.
Até por que, se dissessem alguma coisa, fazendo com que Juvenal interrompesse o discurso, fatalmente iriam apanhar.
Se o deixassem simplesmente praguejar, tudo ficaria na simples bronca.
E assim, permaneceram silentes.
Nisso, depois da bronca, Clementino finalmente teve seu ferimento cuidado por Rute.
No entanto, por conta da pancada sofrida, o mesmo ficou alguns dias afastado da lida, e da escola. Porém, quanto a escola não havia problema.
Isso por que, em razão de todos estudarem no mesmo grupo escolar, seus irmãos poderiam tranqüilamente lhe trazer, os assuntos que foram objeto de aula.
E assim, Clementino continuou estudando.
Nisso seus irmãos continuavam trabalhando na roça.
Nessa época, Luzia começava a ajudar sua mãe em casa, para desespero de Adalgisa, que ficava revoltada por ela ter de trabalhar na roça.
Isso por que, o trabalho na roça, era extremamente penoso.
Dia-após-dia tinham que trabalhar expostos ao sol.
Não bastasse isso, tinham que lidar com a enxada e com a terra, o que fazia com que o trabalho se tornasse ainda mais cansativo.
Arando e semeando, passavam horas, dias, cultivando a terra, para depois colherem o fruto de seu trabalho.
E para Adalgisa, que se sentia preterida por seu pai, esse trabalho lhe era ainda mais difícil.
Mesmo assim, Juvenal não a poupou dessa tarefa e assim, mais e mais ela passou a cuidar da roça. Enfurecida com a decisão de seu pai, passou a culpar Luzia por isso.
Freqüentemente, chegou a insinuar que Luzia era a queridinha da casa, por isso fazia o serviço mais leve.
Juvenal, ao ouvir isso, ficava furioso.
Por conta disso, inúmeras vezes deixou Adalgisa de castigo sem comer.
Todavia, sua atitude radical com relação a filha, não ajudava nem um pouco.
Pelo contrário, só fazia com que Adalgisa sentisse ainda mais raiva da irmã.
E mesmo Juvenal percebendo isso, nem por um momento parou de assim proceder.
No entanto, com o passar dos dias e com a melhora de Clementino, o mesmo voltou a trabalhar com a família.
Adalgisa, então, acreditando que agora passaria menos tempo na roça, ficou desapontada ao constatar que por ter trabalhado tão bem, passaria a ser o braço direito de Juvenal.
Com isso, passaria a ter menos tempo para estudar.
Isso a deixou irada.
Todavia, não ousou enfrentar o pai, já que era ele quem dava a última palavra.
Mas não deixou de guardar mágoa por sua atitude.
Por conta disso, nunca mais sua relação com a irmã, Luzia, seria a mesma.
O que não a impedia de acompanhar a irmã e os irmãos em suas incursões pela mata.
Certa vez, passeando em meio aquele ambiente, avistaram uma figura muito estranha, à uma certa distância.
Com ele vinha um cachorro, muito branco, que lhe devia fazer companhia.
Este homem estava cortando lenha em cima do que sobrara de uma árvore.
Estava absorto em seu trabalho.
Tanto que nem chegou a ouvir o barulho de passos.
Pois, qual não foi a surpresa das crianças, ao perceberem que, quanto mais se aproximavam do local onde o homem estava, com menos nitidez conseguiam observar o seu semblante.
Nisso, o homem, percebendo a aproximação, inesperadamente, sumiu.
Do nada desapareceu.
Desapareceu na frente de todos.
Parecia uma assombração.
As crianças, ao se darem conta disso, começaram a correr em desabalada carreira em direção a casa em que moravam.
Assustados, queriam chegar o quanto antes em casa.
E assim, correram. Correram, correram ...
Correram tanto, que chegaram extremamente cansados em casa.
Rute, então, ao ver nos olhos dos garotos, o quanto estavam assustados, resolveu perguntar-lhes o que havia acontecido.
Foi então que ouviu a resposta.
-- Foi uma assombração. – respondeu Adalgisa. – Uma assombração.
Mas Rute não se convenceu.
Para ela, era mais uma brincadeira dos meninos.
E assim, continuou seu trabalho.
Esta era a vida da família.
Quando as crianças não tinham que trabalhar na roça, aproveitavam para exercitar seu lado infantil e traquinavam um pouco.
Porém o faziam escondidos, já que se Juvenal os visse aprontando, fatalmente sofreriam uma admoestação.
Assim, todo cuidado era pouco.
Entrementes, nem tudo era traquinagem nesse reino infantil.
Algumas vezes, as crianças também aproveitavam para se divertirem nos festejos da cidade.
Isso por que, apesar de pobres, eram sempre convidados para as festas.
E lá se divertiam.
No entanto, quem mais se divertia, eram as famílias influentes do lugar.
Estas, aproveitando-se de suas posições na sociedade, sempre ficavam nos melhores lugares, saboreavam os melhores pratos, e ficavam com o melhor da festa.
Mas a família de Juvenal e Rute, assim como outras famílias humildes que haviam no lugar, também aproveitavam a festa.
Também dançavam se divertiam, e saboreavam alguns pratos.
Assim apesar das preferências, e de serem os últimos a serem servidos, ainda assim, conseguiam se divertir.
Nas festas juninas, fartavam-se de comer e apreciar os fogos em homenagem aos santos do mês.
Era realmente um espetáculo lindo de se ver, comentavam.
Dessa maneira, apesar de tudo, não tinham como não se divertirem e aproveitar.
Tanto que passavam semanas encantados, comentando os detalhes da festa.
Para eles, viverem alguns instantes em meio aquele idílio, era a materialização de um sonho.
Um lindo sonho que tinha dia e hora para acabar.
Mas que mesmo assim, era bom de ser sonhado.
Tão bom, que sempre que surgiam estas festas, a família fazia questão de aproveitar.
Na missa do galo – na época do Natal –, a meia-noite, todas as famílias compareciam à igreja para a celebração de um mistério da fé.
A cidade era enfeitada um lindo presépio em tamanho natural, onde todos os que desejavam, colocavam seus presentes e pedidos para um ano novo próspero e generoso para com todos.
Assim, enquanto a missa era celebrada – toda em latim –, os devotos católicos, davam mais uma vez, mostras de sua religiosidade.
Depois disso, a cidade confraternizava com todos, por mais uma bela data.
Novamente os fogos iluminavam a região e todos ficavam encantados com o espetáculo pirotécnico. Realmente, um espetáculo maravilhoso.
Algumas vezes, era feita uma procissão na cidade, para celebrar o nascimento do menino Jesus.
Essa procissão, sempre terminava na porta da igreja, quando então o padre, celebrava a missa.
Bons tempos aqueles, diriam alguns.
Mas ainda viriam outros, que mais tarde serão contados.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
...E A CHUVA QUE CAÍ - CAPÍTULO 3 - VERSÃO OFICIAL
Certa vez, em uma festa, Augusto, distraído com seus amigos, resolveu tomar um
pouco de ponche.
Como a bebida não continha álcool, não havia problema nenhum em o garoto tomar um pouco do ponche.
Porém, mal sabia ele, que momentos antes, haviam misturado álcool a bebida.
Com isso, inadvertidamente, Augusto acabou, ao tomar um pouco de ponche, se embebedando. Como não havia percebido, e dada sua tenra idade, o garoto acabou alcoolizado.
Em razão disso, o álcool lhe causou um entorpecimento dos sentidos, além de também, uma profunda sonolência.
Em razão disso, o garoto acabou dormindo.
Esse tipo de festa era bastante comum.
Nestes bailes, as famílias e os sitiantes do lugar, aproveitavam para se reunirem e conversarem um pouco mais sobre a vida.
E assim, muito embora os espaços fossem pequenos e apertados, todos aproveitavam para se divertirem e dançarem a noite inteira.
Durante essas noitadas, dançavam música sertaneja, grandes clássicos internacionais, grandes orquestras, além dos sucessos da época.
Pelo rádio conectavam-se com o mundo e conheciam suas músicas.
E nesse vai e vem, dois pra lá, dois pra cá, dançavam a noite inteira.
Augusto, adorava ver os casais dançando.
Por isso mesmo, se interessou em aprender a dançar.
Muito embora nunca tenha se tornado um pé de valsa, a música para ele, era algo tão importante quanto a literatura, e a leitura dos almanaques que tanto gostava.
Era algo mágico.
Tão mágico quanto a primeira sessão de cinema.
Tão mágico quanto o primeiro filme que viu, ainda na pequena cidadezinha onde nascera.
Porém, na sua futura ida a São Paulo, ele e Cláudio teriam a oportunidade de assistir a muitos outros filmes.
Tantos e tão bons, que jamais se esqueceriam deles.
Contudo, muita coisa aconteceu, antes que se decidissem definitivamente em sair de sua cidade natal.
Em uma das oportunidades em que comentaram com Orlando, sobre o interesse em se mudarem para São Paulo, o mesmo disse:
-- Vocês pensem bem antes de se mudar para São Paulo. Sim, pensem bem. Por que se vocês acham que a vida de vocês é difícil aqui, lá na Terra da Garoa não será mais fácil. Lá tudo o que vocês quiserem ter vão ter que pagar. Até uma fruta, que aqui vocês tem de graça, lá vocês terão que pagar. Uma banana que vocês quiserem comer, vocês vão ter que comprar.
E realmente, ele tinha razão.
Mas muito embora ele estivesse certo, os garotos tinham o direito de tentar uma vida melhor.
Esse era o sonho deles, e Orlando tinha mais é que respeitar a vontade dos filhos.
E assim, determinados a melhorar de vida, Cláudio e Augusto resolveram se aventurar na selva de pedra que era São Paulo.
Dessa forma, arrumaram seus parcos pertences e partiram de trem, em direção aos seus sonhos. Antes, se despediram da família, que da estação, ficou acenando para eles.
Essa despedida ficou marcada na lembrança de Augusto.
Porém, dali para a frente, havia muito chão a ser percorrido com pelo trem.
Assim, os dois viajantes aproveitaram para apreciar a paisagem que se oferecia generosa e opulenta. Era um verdadeiro deleite, ver aqueles imensos cafezais na beira da estrada de ferro.
Porém, conforme o tempo passava, os dois rapazes também se cansaram de ver verdes pastagens. Nestes lugares, animais mil permaneciam durante o dia.
Contudo, além de plantações, pela janela do trem durante o percurso da viagem, os dois também puderam ver rios, cachoeiras, campos verdejantes, árvores.
Enfim, muita natureza.
E a viagem foi longa.
Tão longa, que os dois cansados, a certa altura, resolveram dormir.
Isso por que, naqueles idos tempos, as viagens eram muito longas, e o trem lento, percorria longas distâncias a uma curta velocidade.
Apesar disso, andar de trem era extremamente agradável.
Os vagões eram bem cuidados, e havia a área reservada aos bem nascidos, que era realmente luxuosa. Porém, Cláudio e Augusto não estavam nestes vagões.
Ao contrário, por serem pobres, estavam razoavelmente acomodados em bancos de madeira, reservados aos mais pobres.
Contudo a despeito disso, a viagem foi boa.
Boa. Muito boa.
Mas, quando chegaram ao Grande ABC – região da Grande São Paulo –, ficaram encantados.
Sim por que as cidades que ainda hoje, compõe a região, são bons lugares para se morar.
Todavia, exaustos que estavam com a viagem, decidiram primeiramente arrumar um lugar para se hospedarem.
Nisso passaram um longo período do dia procurando um bom lugar para ficar.
Enquanto isso, numa das inúmeras lojas de discos que haviam no lugar, se ouvia a famosa música americana, o rock and roll.
Foi nessa primeira andança pela cidade, que Augusto conheceu o bonde – no qual nunca andou – e a música ‘La Bamba’.
Essa música, durante muito tempo, foi uma lembrança marcante em sua vida.
Foi nesse momento que começou o interesse de ambos irmãos por discos.
Ouvintes de boa música, adoravam os sucessos da Jovem Guarda, dos Beatles e as belas músicas italianas.
Tanto que, assim que começaram a trabalhar, compraram uma vitrola e muitos discos.
Discos que em empréstimos a amigos, acabaram se perdendo.
Preciosidades que não voltam mais.
Que pena!
Porém, voltando a procura por um lugar para ficar ...
Assim, procurando e procurando, ao passar de algumas horas, acabaram por encontrar uma pensão para morar.
Era um lugar simples, mas bem cuidado.
Além disso, era tudo o que podiam pagar, já que o dinheiro que possuíam era contado.
Sim, por que Orlando, apesar de ter sido sempre ajudado pelos filhos, nunca em toda a sua vida os pagou pelos serviços prestados.
Todavia, não o culpem por isso.
Nesses tempos idos, praticamente todas as famílias pobres faziam isso.
Ou seja, esse tipo de comportamento era praxe.
Coisas dos antigos.
Com isso, os dois rapazes, sabedores de que o dinheiro que traziam consigo não iria durar muito, trataram de no dia seguinte, procurar trabalho.
Naqueles tempos, ao contrário do que acontece hoje, arrumar um trabalho não era tão difícil.
Isso por que, sem a crise econômica que assola o nosso tão sofrido país, as ofertas eram fartas nos anos da década de sessenta.
Porém, não se iluda, as dificuldades, eram outras.
E assim, animados com a possibilidade de uma vida melhor, Cláudio e Augusto passaram dias e dias procurando trabalho.
Observando anúncios nos próprios estabelecimentos comerciais e também olhando os anúncios de empregos em jornais, os dois moços, incessantemente procuraram emprego na cidade.
Determinados, apesar de não terem conseguido imediatamente um emprego, não desanimaram.
Ao contrário, perseveraram e acabaram conseguindo uma colocação.
Primeiramente, trabalharam em uma olaria produzindo tijolos.
Animados com a obtenção do trabalho, os dois mais do que depressa, participaram aos pais a notícia. Seu Orlando e Dona Marisa, ao receberem a carta, pediram logo a um dos filhos que permaneceram com eles, para que lhes lessem o seu conteúdo.
Carlota então procedeu a leitura.
Lendo o teor da missiva, a moça relatou todo o acontecido com os irmãos.
Foi assim que os pais de Cláudio e Augusto souberam das novidades.
E dessa forma também, Cláudio e Augusto passaram a ajudar em casa.
Mandando um pouco de dinheiro juntamente às cartas, passaram a colaborar com a mantença da família.
Todavia, a despeito da notícia alvissareira, muito mais coisas boas iriam acontecer na vida dos dois rapazes.
E assim foi.
Depois de um certo tempo trabalhando na olaria, Cláudio, ao saber de uma oportunidade de emprego numa cerâmica, tratou logo de avisar o irmão.
Este ao saber disso, foi logo perguntando ao irmão, se a remuneração era maior ou não.
Foi então que Cláudio assentiu com a cabeça.
Com isso, ao final de mais alguns dias, os dois estavam começando um novo trabalho.
Isso por que, depois de muitos dissabores e nãos recebidos, os dois jovens estavam finalmente conseguindo agora, boas oportunidades de trabalho.
Dessa forma, durante a jornada de trabalho, contando com a ajuda dos funcionários mais antigos, os dois aprenderam mais um ofício, e dedicados, trabalharam muito.
Contudo, de vez em quando, em razão de problemas no fornecimento de energia elétrica, o serviço era parado.
Assim, aproveitavam para conversar.
Porém, quando a energia voltava horas depois, mais do que depressa, retornavam ao trabalho.
Quanto ao fornecimento de energia elétrica, cabe ressaltar, que eram freqüentes os blecautes.
Fato que demonstra cabalmente que este é um problema antigo.
Ademais, deve-se se salientar que o começo para os dois, em uma cidade nova, não foi nada fácil. Pelo contrário.
Desacostumados com o ‘modus vivendi’ dos moradores das grandes cidades, os dois foram logo rotulados por seus companheiros de pensão.
Como os moradores da pensão sabiam que os dois tinham vindo do interior do estado, não faltaram brincadeiras e gozações referentes a sua origem agrária.
Entrementes, após alguns meses de trabalho na cerâmica, e depois de muito procurar por uma residência na cidade, Cláudio e Augusto acabaram por se despedir da dona da pensão e arrumar seus pertences para finalmente morarem sozinhos.
Sim. Com o que ganhavam no trabalho, os dois, dividindo as despesas facilmente conseguiriam pagar o aluguel da casa, ajudar a família no interior, comprar alguns alfinetes e principalmente, conseguiriam estudar.
Então, nessa nova etapa da vida dos rapazes, os dois voltaram a estudar.
Foi então, que retomando os estudos, Augusto passou a estudar as matérias referentes ao primeiro grau, que desafortunadamente não pôde aprender.
Nessa fase de estudos, o rapaz se saiu muito bem.
Logrando êxito em seus estudos, o jovem, mais do que depressa, prosseguindo em seu objetivo, passou a estudar as matérias referentes ao segundo grau.
Além disso, estudioso, Augusto passou a freqüentar um curso de idiomas.
Lá, aprendeu inglês, ou pelos menos parte do idioma.
Isso por que, não conseguiu terminar o curso.
Apesar disso, aprendeu muito do idioma e isso se podia perceber quando ele falava algumas frases em inglês.
Todavia, com relação ao curso de segundo grau, mais uma vez foi bem sucedido.
Em ambos os cursos supletivos que fez, conseguiu aprovação.
Com isso, Augusto, conseguiu encerrar a primeira fase de seus planos.
Depois disso, o rapaz, determinado e disciplinado, após inúmeras provas, trabalhos e avaliações, continuou perseverando em seu sonho de cursar uma faculdade.
Foi assim que ele passou a fazer cursinho.
Um famoso cursinho preparatório para o vestibular, diga-se de passagem.
Nessa época, Augusto já era conhecido por seus dotes intelectuais.
Mas, como já era de se esperar, nem todo mundo gosta de quem sabe mais.
Aliás, a grande maioria sente inveja disso.
E foi assim, que um desses invejosos, incapaz de batalhar para também adquirir conhecimentos, ressentido do fato de Augusto saber mais do que ele, começou a debochar do rapaz, fazendo pouco de seu interesse pelos estudos.
Mas Augusto, ao ouvir as gozações, não se fez de rogado.
Cansado das provocações do sujeito, respondeu a altura.
Dizendo-lhe poucas e boas, destruiu qualquer possibilidade de contra-argumentação do rapaz.
Depois disso, diga-se de passagem, nunca mais Augusto ouviu provocações por parte do engraçadinho.
Também, aproveitando os dias livres, os dois irmãos saíam com os amigos e iam muito ao cinema.
E foi nas telonas, que Augusto aprendeu ainda mais sobre a vida e sobre a história.
Encantado com a sétima arte, assistiu a uma ampla gama de filmes.
Filmes os quais se lembraria a vida inteira.
Ademais, depois de um ano de estudos, no qual freqüentou assiduamente o cursinho, finalmente pôde realizar o exame vestibular.
Augusto logrou êxito.
Aprovado no curso de engenharia, ele pôde constatar que o esforço de quase dois anos de estudos valera a pena.
Com sua dedicação, ele agora fazia parte do corpo discente de uma das mais respeitadas instituições de ensino do país.
E o melhor, tudo isso de graça.
E assim, feliz com a aprovação, no primeiro dia de curso, Augusto teve um pequeno aborrecimento com um aluno prepotente, que julgando-se melhor do que os outros, começou a destratá-lo.
Augusto não deixou por menos.
Retrucando a provocação, o rapaz disse que ele não era melhor que ninguém para tratá-lo daquela maneira.
Nisso, um dos professores que passava pelo local no momento da discussão, tomando as dores de Augusto, respondeu:
-- Meu rapaz! Quem você pensa que é para tratar os outros dessa maneira? Acaso o senhor trata seus empregados dessa forma? Além disso, se ele está aqui, é por que ele provou que tem muito mais garra e disciplina que muitos de vocês, playboy’s. Aliás, eu já estou cansado de todos os anos ter que ministrar aulas para gente arrogante, da mesma laia que você. Enquanto existir no país, esse tipo de gente metida a besta, esse país nunca vai mudar. Ninguém aqui é melhor que ninguém e não vai ser um borra-botas que vai dizer o contrário. Veja bem, se eu fosse o senhor, me recolheria a minha insignificância, por que só gente medíocre pensa que o mundo é dividido em classes sociais. Só mesmo uma cabeça torta e suja igual a sua para pensar isso. Agora, se você quer um conselho, suma da minha frente e nunca mais, nunca mais mesmo, faça uma estupidez dessas.
O rapaz, humilhado não teve outra alternativa, senão sumir dali.
Augusto então, agradeceu.
O professor então respondeu:
-- Que isso. Eu não fiz nada demais. Esse garoto é um desses alunos imbecis que existem aos montes por aí. É só dizer uma meia dúzia de palavras duras que eles se comportam.
Foi a partir de então que aproveitando a confusão, chamou todos os alunos para entrar na classe e começou a aula.
Os pais de Augusto, ao saberem da novidade, ficaram muito contentes.
Isso por que, na simplicidade deles, Orlando e Marisa nunca imaginaram, nem em seus sonhos mais ambiciosos, que um de seus filhos freqüentaria os bancos de uma universidade.
Para eles, esse era um sonho muito distante.
E pior, era um sonho impossível.
Tudo em razão da situação de dificuldades em que estavam inseridos.
Se completar o ensino primário era impossível, que dirá fazer uma faculdade.
Realmente Augusto estava superando as expectativas.
Já Cláudio, apesar de ter concluído o primeiro e o segundo graus, temendo não conseguir passar no vestibular, decidiu por bem, não fazer cursinho nenhum.
Para ele ter conseguido chegar até o segundo grau, já fora uma grande conquista.
Para seus pais, também o era.
E apesar de não ter ido tão longe quanto o irmão, Cláudio conseguiu mostrar seu valor, ao conseguir completar os estudos.
Já era um vencedor!
E assim, a vida prosseguiu.
Augusto, trabalhava de dia e a noite freqüentava a universidade.
Era uma rotina puxada, mas para ele era um prazer estudar.
Um dia, o professor, ao passar um trabalho para o grupo, recomendou-lhes que pesquisassem sobre o assunto numa biblioteca que havia nas proximidades da faculdade.
Foi isso que Augusto fez.
Todavia, alguns alunos, aproveitaram para sair antes da aula e assim, pegar os livros que continham o material referente ao assunto da pesquisa.
Dessa forma, quando Augusto e seus colegas chegaram na biblioteca para fazer a pesquisa, não havia mais nenhum livro para ser pesquisado.
Os apressadinhos já haviam levado tudo.
Porém, havia uma solução para isso.
A solução foi pesquisar em outras bibliotecas.
Foi assim que o grupo de Augusto, conseguiu material para elaborar o trabalho pedido pelo professor. Outro dia, ao aceitar a carona de uma colega, Augusto quase se meteu em uma grande confusão.
Isso por que, a mesma, por qualquer motivo, trazia a placa de identificação do veículo, amarrada por arames.
Inadvertidamente, os dois foram parados por uma autoridade policial que suspeitava de atividade subversiva.
Por conta disso, os dois foram convidados a irem até a delegacia para esclarecer a situação.
Lá, qual não foi a dificuldade que tiveram para convencer a autoridade policial de que era um equívoco estarem ali.
Isso por que, nenhum deles era subversivo.
Contudo, os dois levaram horas para convencerem o delegado disso.
Mas, por sorte, ao final de algum tempo, foram liberados.
Nisso, a moça então, procurando se desculpar, ofereceu-se para levá-lo até em casa.
Augusto no entanto, ressabiado, decidiu recusar a carona e continuar o caminho a pé.
Revoltado, pensava consigo:
“Subversivo. Logo eu que nunca me meti nessas confusões, ser taxado de subversivo.”
Realmente, desde que passara a viver no ABC, nunca havia se envolvido com a militância de esquerda.
Apesar de diversas vezes tentarem o convencer de que a luta armada era a melhor solução para derrubar a ditadura, o rapaz nunca se convenceu disso.
Pelo contrário, o rapaz achava que toda essa história de luta era uma grande bobagem.
Em razão disso, foi duramente criticado.
Considerado alienado por esses jovens radicais, nem assim mudou de idéia.
E assim, Augusto prosseguiu sua vida.
De um lado, seu trabalho e seus estudos, e de outro o olhar distante sobre os movimentos de esquerda.
Porém, conforme o tempo foi passando, alguns revezes ocorreram na vida de Augusto.
Isso por que, inesperadamente, o mesmo foi demitido.
Sem fonte de renda e sem poder contar com a ajuda do irmão, que tinha os próprios gastos para manter, passou a ter de vender alguns de seus pertences para que pudesse arcar com suas despesas com o aluguel, entre outras coisas.
Esse foi tempo de dificuldades para Augusto.
Até conseguir arranjar um novo trabalho, o rapaz teve de se desfazer de algumas coisas que havia comprado.
Não bastasse isso, como não tinha como pagar a condução, acabou tendo que abandonar o curso. Todavia, como diz o velho ditado: “Não há mal que sempre dure.”
Assim, ao final de algum tempo, o rapaz acabou por encontrar um novo trabalho.
Numa oficina mecânica, passou a cuidar do motor de alguns carros.
Auxiliado pelos mecânicos da oficina, rapidamente aprendeu o ofício.
Aprendeu tão bem o ofício, que chegou a ser até elogiado pelo bom desempenho em seu trabalho. Diligente e cuidadoso, era extremamente prestativo no atendimento aos clientes.
E assim, permaneceu no emprego por algum tempo.
Um dia, ao circular pelas ruas da cidade, acabou sendo abordado por um policial, que utilizando-se de sua posição, tentou desrespeitá-lo.
No entanto a provocação produziu o efeito reverso.
Isso por que, Augusto, mais do que depressa, comentou com o policial, que este deveria ter mais cuidado no seu proceder, pois o mesmo era filho de juiz.
O policial, ao ouvir isso, mais do que depressa, mudou de atitude e desconversou a respeito de seus modos grosseiros.
Em outra oportunidade, ao observar algumas placas que haviam na cidade, encontrou uma, que segundo ele, continha os dizeres: “Sujeito gaúcho.”
Porém, depois de algum tempo, confiante de que era isso que estava escrito na placa, ao se aproximar da mesma e observá-la com cuidado, percebeu que o seu ‘sujeito gaúcho’, não era nada mais nada mais do que ‘sujeito a guincho’.
Augusto, ao perceber o engano, caiu na gargalhada.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Como a bebida não continha álcool, não havia problema nenhum em o garoto tomar um pouco do ponche.
Porém, mal sabia ele, que momentos antes, haviam misturado álcool a bebida.
Com isso, inadvertidamente, Augusto acabou, ao tomar um pouco de ponche, se embebedando. Como não havia percebido, e dada sua tenra idade, o garoto acabou alcoolizado.
Em razão disso, o álcool lhe causou um entorpecimento dos sentidos, além de também, uma profunda sonolência.
Em razão disso, o garoto acabou dormindo.
Esse tipo de festa era bastante comum.
Nestes bailes, as famílias e os sitiantes do lugar, aproveitavam para se reunirem e conversarem um pouco mais sobre a vida.
E assim, muito embora os espaços fossem pequenos e apertados, todos aproveitavam para se divertirem e dançarem a noite inteira.
Durante essas noitadas, dançavam música sertaneja, grandes clássicos internacionais, grandes orquestras, além dos sucessos da época.
Pelo rádio conectavam-se com o mundo e conheciam suas músicas.
E nesse vai e vem, dois pra lá, dois pra cá, dançavam a noite inteira.
Augusto, adorava ver os casais dançando.
Por isso mesmo, se interessou em aprender a dançar.
Muito embora nunca tenha se tornado um pé de valsa, a música para ele, era algo tão importante quanto a literatura, e a leitura dos almanaques que tanto gostava.
Era algo mágico.
Tão mágico quanto a primeira sessão de cinema.
Tão mágico quanto o primeiro filme que viu, ainda na pequena cidadezinha onde nascera.
Porém, na sua futura ida a São Paulo, ele e Cláudio teriam a oportunidade de assistir a muitos outros filmes.
Tantos e tão bons, que jamais se esqueceriam deles.
Contudo, muita coisa aconteceu, antes que se decidissem definitivamente em sair de sua cidade natal.
Em uma das oportunidades em que comentaram com Orlando, sobre o interesse em se mudarem para São Paulo, o mesmo disse:
-- Vocês pensem bem antes de se mudar para São Paulo. Sim, pensem bem. Por que se vocês acham que a vida de vocês é difícil aqui, lá na Terra da Garoa não será mais fácil. Lá tudo o que vocês quiserem ter vão ter que pagar. Até uma fruta, que aqui vocês tem de graça, lá vocês terão que pagar. Uma banana que vocês quiserem comer, vocês vão ter que comprar.
E realmente, ele tinha razão.
Mas muito embora ele estivesse certo, os garotos tinham o direito de tentar uma vida melhor.
Esse era o sonho deles, e Orlando tinha mais é que respeitar a vontade dos filhos.
E assim, determinados a melhorar de vida, Cláudio e Augusto resolveram se aventurar na selva de pedra que era São Paulo.
Dessa forma, arrumaram seus parcos pertences e partiram de trem, em direção aos seus sonhos. Antes, se despediram da família, que da estação, ficou acenando para eles.
Essa despedida ficou marcada na lembrança de Augusto.
Porém, dali para a frente, havia muito chão a ser percorrido com pelo trem.
Assim, os dois viajantes aproveitaram para apreciar a paisagem que se oferecia generosa e opulenta. Era um verdadeiro deleite, ver aqueles imensos cafezais na beira da estrada de ferro.
Porém, conforme o tempo passava, os dois rapazes também se cansaram de ver verdes pastagens. Nestes lugares, animais mil permaneciam durante o dia.
Contudo, além de plantações, pela janela do trem durante o percurso da viagem, os dois também puderam ver rios, cachoeiras, campos verdejantes, árvores.
Enfim, muita natureza.
E a viagem foi longa.
Tão longa, que os dois cansados, a certa altura, resolveram dormir.
Isso por que, naqueles idos tempos, as viagens eram muito longas, e o trem lento, percorria longas distâncias a uma curta velocidade.
Apesar disso, andar de trem era extremamente agradável.
Os vagões eram bem cuidados, e havia a área reservada aos bem nascidos, que era realmente luxuosa. Porém, Cláudio e Augusto não estavam nestes vagões.
Ao contrário, por serem pobres, estavam razoavelmente acomodados em bancos de madeira, reservados aos mais pobres.
Contudo a despeito disso, a viagem foi boa.
Boa. Muito boa.
Mas, quando chegaram ao Grande ABC – região da Grande São Paulo –, ficaram encantados.
Sim por que as cidades que ainda hoje, compõe a região, são bons lugares para se morar.
Todavia, exaustos que estavam com a viagem, decidiram primeiramente arrumar um lugar para se hospedarem.
Nisso passaram um longo período do dia procurando um bom lugar para ficar.
Enquanto isso, numa das inúmeras lojas de discos que haviam no lugar, se ouvia a famosa música americana, o rock and roll.
Foi nessa primeira andança pela cidade, que Augusto conheceu o bonde – no qual nunca andou – e a música ‘La Bamba’.
Essa música, durante muito tempo, foi uma lembrança marcante em sua vida.
Foi nesse momento que começou o interesse de ambos irmãos por discos.
Ouvintes de boa música, adoravam os sucessos da Jovem Guarda, dos Beatles e as belas músicas italianas.
Tanto que, assim que começaram a trabalhar, compraram uma vitrola e muitos discos.
Discos que em empréstimos a amigos, acabaram se perdendo.
Preciosidades que não voltam mais.
Que pena!
Porém, voltando a procura por um lugar para ficar ...
Assim, procurando e procurando, ao passar de algumas horas, acabaram por encontrar uma pensão para morar.
Era um lugar simples, mas bem cuidado.
Além disso, era tudo o que podiam pagar, já que o dinheiro que possuíam era contado.
Sim, por que Orlando, apesar de ter sido sempre ajudado pelos filhos, nunca em toda a sua vida os pagou pelos serviços prestados.
Todavia, não o culpem por isso.
Nesses tempos idos, praticamente todas as famílias pobres faziam isso.
Ou seja, esse tipo de comportamento era praxe.
Coisas dos antigos.
Com isso, os dois rapazes, sabedores de que o dinheiro que traziam consigo não iria durar muito, trataram de no dia seguinte, procurar trabalho.
Naqueles tempos, ao contrário do que acontece hoje, arrumar um trabalho não era tão difícil.
Isso por que, sem a crise econômica que assola o nosso tão sofrido país, as ofertas eram fartas nos anos da década de sessenta.
Porém, não se iluda, as dificuldades, eram outras.
E assim, animados com a possibilidade de uma vida melhor, Cláudio e Augusto passaram dias e dias procurando trabalho.
Observando anúncios nos próprios estabelecimentos comerciais e também olhando os anúncios de empregos em jornais, os dois moços, incessantemente procuraram emprego na cidade.
Determinados, apesar de não terem conseguido imediatamente um emprego, não desanimaram.
Ao contrário, perseveraram e acabaram conseguindo uma colocação.
Primeiramente, trabalharam em uma olaria produzindo tijolos.
Animados com a obtenção do trabalho, os dois mais do que depressa, participaram aos pais a notícia. Seu Orlando e Dona Marisa, ao receberem a carta, pediram logo a um dos filhos que permaneceram com eles, para que lhes lessem o seu conteúdo.
Carlota então procedeu a leitura.
Lendo o teor da missiva, a moça relatou todo o acontecido com os irmãos.
Foi assim que os pais de Cláudio e Augusto souberam das novidades.
E dessa forma também, Cláudio e Augusto passaram a ajudar em casa.
Mandando um pouco de dinheiro juntamente às cartas, passaram a colaborar com a mantença da família.
Todavia, a despeito da notícia alvissareira, muito mais coisas boas iriam acontecer na vida dos dois rapazes.
E assim foi.
Depois de um certo tempo trabalhando na olaria, Cláudio, ao saber de uma oportunidade de emprego numa cerâmica, tratou logo de avisar o irmão.
Este ao saber disso, foi logo perguntando ao irmão, se a remuneração era maior ou não.
Foi então que Cláudio assentiu com a cabeça.
Com isso, ao final de mais alguns dias, os dois estavam começando um novo trabalho.
Isso por que, depois de muitos dissabores e nãos recebidos, os dois jovens estavam finalmente conseguindo agora, boas oportunidades de trabalho.
Dessa forma, durante a jornada de trabalho, contando com a ajuda dos funcionários mais antigos, os dois aprenderam mais um ofício, e dedicados, trabalharam muito.
Contudo, de vez em quando, em razão de problemas no fornecimento de energia elétrica, o serviço era parado.
Assim, aproveitavam para conversar.
Porém, quando a energia voltava horas depois, mais do que depressa, retornavam ao trabalho.
Quanto ao fornecimento de energia elétrica, cabe ressaltar, que eram freqüentes os blecautes.
Fato que demonstra cabalmente que este é um problema antigo.
Ademais, deve-se se salientar que o começo para os dois, em uma cidade nova, não foi nada fácil. Pelo contrário.
Desacostumados com o ‘modus vivendi’ dos moradores das grandes cidades, os dois foram logo rotulados por seus companheiros de pensão.
Como os moradores da pensão sabiam que os dois tinham vindo do interior do estado, não faltaram brincadeiras e gozações referentes a sua origem agrária.
Entrementes, após alguns meses de trabalho na cerâmica, e depois de muito procurar por uma residência na cidade, Cláudio e Augusto acabaram por se despedir da dona da pensão e arrumar seus pertences para finalmente morarem sozinhos.
Sim. Com o que ganhavam no trabalho, os dois, dividindo as despesas facilmente conseguiriam pagar o aluguel da casa, ajudar a família no interior, comprar alguns alfinetes e principalmente, conseguiriam estudar.
Então, nessa nova etapa da vida dos rapazes, os dois voltaram a estudar.
Foi então, que retomando os estudos, Augusto passou a estudar as matérias referentes ao primeiro grau, que desafortunadamente não pôde aprender.
Nessa fase de estudos, o rapaz se saiu muito bem.
Logrando êxito em seus estudos, o jovem, mais do que depressa, prosseguindo em seu objetivo, passou a estudar as matérias referentes ao segundo grau.
Além disso, estudioso, Augusto passou a freqüentar um curso de idiomas.
Lá, aprendeu inglês, ou pelos menos parte do idioma.
Isso por que, não conseguiu terminar o curso.
Apesar disso, aprendeu muito do idioma e isso se podia perceber quando ele falava algumas frases em inglês.
Todavia, com relação ao curso de segundo grau, mais uma vez foi bem sucedido.
Em ambos os cursos supletivos que fez, conseguiu aprovação.
Com isso, Augusto, conseguiu encerrar a primeira fase de seus planos.
Depois disso, o rapaz, determinado e disciplinado, após inúmeras provas, trabalhos e avaliações, continuou perseverando em seu sonho de cursar uma faculdade.
Foi assim que ele passou a fazer cursinho.
Um famoso cursinho preparatório para o vestibular, diga-se de passagem.
Nessa época, Augusto já era conhecido por seus dotes intelectuais.
Mas, como já era de se esperar, nem todo mundo gosta de quem sabe mais.
Aliás, a grande maioria sente inveja disso.
E foi assim, que um desses invejosos, incapaz de batalhar para também adquirir conhecimentos, ressentido do fato de Augusto saber mais do que ele, começou a debochar do rapaz, fazendo pouco de seu interesse pelos estudos.
Mas Augusto, ao ouvir as gozações, não se fez de rogado.
Cansado das provocações do sujeito, respondeu a altura.
Dizendo-lhe poucas e boas, destruiu qualquer possibilidade de contra-argumentação do rapaz.
Depois disso, diga-se de passagem, nunca mais Augusto ouviu provocações por parte do engraçadinho.
Também, aproveitando os dias livres, os dois irmãos saíam com os amigos e iam muito ao cinema.
E foi nas telonas, que Augusto aprendeu ainda mais sobre a vida e sobre a história.
Encantado com a sétima arte, assistiu a uma ampla gama de filmes.
Filmes os quais se lembraria a vida inteira.
Ademais, depois de um ano de estudos, no qual freqüentou assiduamente o cursinho, finalmente pôde realizar o exame vestibular.
Augusto logrou êxito.
Aprovado no curso de engenharia, ele pôde constatar que o esforço de quase dois anos de estudos valera a pena.
Com sua dedicação, ele agora fazia parte do corpo discente de uma das mais respeitadas instituições de ensino do país.
E o melhor, tudo isso de graça.
E assim, feliz com a aprovação, no primeiro dia de curso, Augusto teve um pequeno aborrecimento com um aluno prepotente, que julgando-se melhor do que os outros, começou a destratá-lo.
Augusto não deixou por menos.
Retrucando a provocação, o rapaz disse que ele não era melhor que ninguém para tratá-lo daquela maneira.
Nisso, um dos professores que passava pelo local no momento da discussão, tomando as dores de Augusto, respondeu:
-- Meu rapaz! Quem você pensa que é para tratar os outros dessa maneira? Acaso o senhor trata seus empregados dessa forma? Além disso, se ele está aqui, é por que ele provou que tem muito mais garra e disciplina que muitos de vocês, playboy’s. Aliás, eu já estou cansado de todos os anos ter que ministrar aulas para gente arrogante, da mesma laia que você. Enquanto existir no país, esse tipo de gente metida a besta, esse país nunca vai mudar. Ninguém aqui é melhor que ninguém e não vai ser um borra-botas que vai dizer o contrário. Veja bem, se eu fosse o senhor, me recolheria a minha insignificância, por que só gente medíocre pensa que o mundo é dividido em classes sociais. Só mesmo uma cabeça torta e suja igual a sua para pensar isso. Agora, se você quer um conselho, suma da minha frente e nunca mais, nunca mais mesmo, faça uma estupidez dessas.
O rapaz, humilhado não teve outra alternativa, senão sumir dali.
Augusto então, agradeceu.
O professor então respondeu:
-- Que isso. Eu não fiz nada demais. Esse garoto é um desses alunos imbecis que existem aos montes por aí. É só dizer uma meia dúzia de palavras duras que eles se comportam.
Foi a partir de então que aproveitando a confusão, chamou todos os alunos para entrar na classe e começou a aula.
Os pais de Augusto, ao saberem da novidade, ficaram muito contentes.
Isso por que, na simplicidade deles, Orlando e Marisa nunca imaginaram, nem em seus sonhos mais ambiciosos, que um de seus filhos freqüentaria os bancos de uma universidade.
Para eles, esse era um sonho muito distante.
E pior, era um sonho impossível.
Tudo em razão da situação de dificuldades em que estavam inseridos.
Se completar o ensino primário era impossível, que dirá fazer uma faculdade.
Realmente Augusto estava superando as expectativas.
Já Cláudio, apesar de ter concluído o primeiro e o segundo graus, temendo não conseguir passar no vestibular, decidiu por bem, não fazer cursinho nenhum.
Para ele ter conseguido chegar até o segundo grau, já fora uma grande conquista.
Para seus pais, também o era.
E apesar de não ter ido tão longe quanto o irmão, Cláudio conseguiu mostrar seu valor, ao conseguir completar os estudos.
Já era um vencedor!
E assim, a vida prosseguiu.
Augusto, trabalhava de dia e a noite freqüentava a universidade.
Era uma rotina puxada, mas para ele era um prazer estudar.
Um dia, o professor, ao passar um trabalho para o grupo, recomendou-lhes que pesquisassem sobre o assunto numa biblioteca que havia nas proximidades da faculdade.
Foi isso que Augusto fez.
Todavia, alguns alunos, aproveitaram para sair antes da aula e assim, pegar os livros que continham o material referente ao assunto da pesquisa.
Dessa forma, quando Augusto e seus colegas chegaram na biblioteca para fazer a pesquisa, não havia mais nenhum livro para ser pesquisado.
Os apressadinhos já haviam levado tudo.
Porém, havia uma solução para isso.
A solução foi pesquisar em outras bibliotecas.
Foi assim que o grupo de Augusto, conseguiu material para elaborar o trabalho pedido pelo professor. Outro dia, ao aceitar a carona de uma colega, Augusto quase se meteu em uma grande confusão.
Isso por que, a mesma, por qualquer motivo, trazia a placa de identificação do veículo, amarrada por arames.
Inadvertidamente, os dois foram parados por uma autoridade policial que suspeitava de atividade subversiva.
Por conta disso, os dois foram convidados a irem até a delegacia para esclarecer a situação.
Lá, qual não foi a dificuldade que tiveram para convencer a autoridade policial de que era um equívoco estarem ali.
Isso por que, nenhum deles era subversivo.
Contudo, os dois levaram horas para convencerem o delegado disso.
Mas, por sorte, ao final de algum tempo, foram liberados.
Nisso, a moça então, procurando se desculpar, ofereceu-se para levá-lo até em casa.
Augusto no entanto, ressabiado, decidiu recusar a carona e continuar o caminho a pé.
Revoltado, pensava consigo:
“Subversivo. Logo eu que nunca me meti nessas confusões, ser taxado de subversivo.”
Realmente, desde que passara a viver no ABC, nunca havia se envolvido com a militância de esquerda.
Apesar de diversas vezes tentarem o convencer de que a luta armada era a melhor solução para derrubar a ditadura, o rapaz nunca se convenceu disso.
Pelo contrário, o rapaz achava que toda essa história de luta era uma grande bobagem.
Em razão disso, foi duramente criticado.
Considerado alienado por esses jovens radicais, nem assim mudou de idéia.
E assim, Augusto prosseguiu sua vida.
De um lado, seu trabalho e seus estudos, e de outro o olhar distante sobre os movimentos de esquerda.
Porém, conforme o tempo foi passando, alguns revezes ocorreram na vida de Augusto.
Isso por que, inesperadamente, o mesmo foi demitido.
Sem fonte de renda e sem poder contar com a ajuda do irmão, que tinha os próprios gastos para manter, passou a ter de vender alguns de seus pertences para que pudesse arcar com suas despesas com o aluguel, entre outras coisas.
Esse foi tempo de dificuldades para Augusto.
Até conseguir arranjar um novo trabalho, o rapaz teve de se desfazer de algumas coisas que havia comprado.
Não bastasse isso, como não tinha como pagar a condução, acabou tendo que abandonar o curso. Todavia, como diz o velho ditado: “Não há mal que sempre dure.”
Assim, ao final de algum tempo, o rapaz acabou por encontrar um novo trabalho.
Numa oficina mecânica, passou a cuidar do motor de alguns carros.
Auxiliado pelos mecânicos da oficina, rapidamente aprendeu o ofício.
Aprendeu tão bem o ofício, que chegou a ser até elogiado pelo bom desempenho em seu trabalho. Diligente e cuidadoso, era extremamente prestativo no atendimento aos clientes.
E assim, permaneceu no emprego por algum tempo.
Um dia, ao circular pelas ruas da cidade, acabou sendo abordado por um policial, que utilizando-se de sua posição, tentou desrespeitá-lo.
No entanto a provocação produziu o efeito reverso.
Isso por que, Augusto, mais do que depressa, comentou com o policial, que este deveria ter mais cuidado no seu proceder, pois o mesmo era filho de juiz.
O policial, ao ouvir isso, mais do que depressa, mudou de atitude e desconversou a respeito de seus modos grosseiros.
Em outra oportunidade, ao observar algumas placas que haviam na cidade, encontrou uma, que segundo ele, continha os dizeres: “Sujeito gaúcho.”
Porém, depois de algum tempo, confiante de que era isso que estava escrito na placa, ao se aproximar da mesma e observá-la com cuidado, percebeu que o seu ‘sujeito gaúcho’, não era nada mais nada mais do que ‘sujeito a guincho’.
Augusto, ao perceber o engano, caiu na gargalhada.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
O Hino de Diadema e sua História
Em 1979, o então Prefeito interino de Diadema, Romeu da Costa Pereira, encorajado
pela idéia dos Vereadores da cidade, abriu um concurso público para escolha do hino oficial
diademense.
O anúncio foi feito em duas fases: a primeira elegeria a letra e a segunda, a música.
Romeu substituía a ausência do Prefeito Lauro de Michels.
O vitorioso na composição da letra foi o Poeta Francis das Chagas Freitas, falecido antes da publicação do edital para a escolha da música.
Sua obra foi encaminhada a todos os interessados em musicá-la.
O vencedor da segunda fase do concurso, foi o maestro Gilberto Glagliardi, que levou 50 mil cruzeiros como prêmio.
Em 31 de outubro de 1979, o diretor da Copacabana Discos, entregou ao Prefeito Romeu da Costa Pereira, o disco com duas versões do Hino Oficial de Diadema, uma delas gravada pelo Coral de Silvio Bacarelli e acompanhada pela Lira Musical e Diadema, que gravou uma segunda versão instrumental do hino.
Hino de Diadema
"Da atalaia de fé e trabalho
Que os de Anchieta cobriram de glória
Numa "entrada" no chão de Ramalho,
Alvorece, Diadema, tua história.
De Martin a bravura e a nobreza
De Bernardo e André o valor
São legados de honra e grandeza,
De heroísmo, de arrojo e de amor.
Salve, flamante Diadema
Da Régia Terra Paulista!
Seja "Justiça" o teu lema,
Para a suprema conquista.
Caldeamento de raças gigantes:
De nativas, valentes cortes,
E de audazes, viris bandeirantes,
São teus filhos garbosos e fortes.
Aureolada de brio profundo,
De Direito empunhando o bastão,
Esgrimiste o teu verbo fecundo
Na batalha da emancipação.
De um natal sob a luz sobranceira
Que jamais da memória se extinga,
Despontaste, "Urbe Livre", e altaneira:
"Flor dos Campos de Piratininga"
"Que Floresça Diadema!"
Eis o grito que reboou, de recesso em recesso,
E que te há de impelir ao infinito abraçada
a Verdade e ao Progresso
Da "União" e da "Fé" traz as cores
Teu formoso e gentil Pavilhão
e, A exaltar os teus dons e primores,
Fulge, ao Sol, teu Sagrado Brasão.
Hás e sempre lutar, decidida,
Com denodo e soberbo perfil,
Por teu solo e tua gente querida,
Por São Paulo, e por nosso Brasil!
Secretaria de Comunicação de Diadema.
Baseado no material produzido pelo Centro de Memória de Diadema.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Texto extraído de matéria jornalísticas publicadas no Jornal Diário do Grande ABC, coluna do memorialista Ademir Médici, site da Prefeitura de Diadema e internet.
O anúncio foi feito em duas fases: a primeira elegeria a letra e a segunda, a música.
Romeu substituía a ausência do Prefeito Lauro de Michels.
O vitorioso na composição da letra foi o Poeta Francis das Chagas Freitas, falecido antes da publicação do edital para a escolha da música.
Sua obra foi encaminhada a todos os interessados em musicá-la.
O vencedor da segunda fase do concurso, foi o maestro Gilberto Glagliardi, que levou 50 mil cruzeiros como prêmio.
Em 31 de outubro de 1979, o diretor da Copacabana Discos, entregou ao Prefeito Romeu da Costa Pereira, o disco com duas versões do Hino Oficial de Diadema, uma delas gravada pelo Coral de Silvio Bacarelli e acompanhada pela Lira Musical e Diadema, que gravou uma segunda versão instrumental do hino.
Hino de Diadema
"Da atalaia de fé e trabalho
Que os de Anchieta cobriram de glória
Numa "entrada" no chão de Ramalho,
Alvorece, Diadema, tua história.
De Martin a bravura e a nobreza
De Bernardo e André o valor
São legados de honra e grandeza,
De heroísmo, de arrojo e de amor.
Salve, flamante Diadema
Da Régia Terra Paulista!
Seja "Justiça" o teu lema,
Para a suprema conquista.
Caldeamento de raças gigantes:
De nativas, valentes cortes,
E de audazes, viris bandeirantes,
São teus filhos garbosos e fortes.
Aureolada de brio profundo,
De Direito empunhando o bastão,
Esgrimiste o teu verbo fecundo
Na batalha da emancipação.
De um natal sob a luz sobranceira
Que jamais da memória se extinga,
Despontaste, "Urbe Livre", e altaneira:
"Flor dos Campos de Piratininga"
"Que Floresça Diadema!"
Eis o grito que reboou, de recesso em recesso,
E que te há de impelir ao infinito abraçada
a Verdade e ao Progresso
Da "União" e da "Fé" traz as cores
Teu formoso e gentil Pavilhão
e, A exaltar os teus dons e primores,
Fulge, ao Sol, teu Sagrado Brasão.
Hás e sempre lutar, decidida,
Com denodo e soberbo perfil,
Por teu solo e tua gente querida,
Por São Paulo, e por nosso Brasil!
Secretaria de Comunicação de Diadema.
Baseado no material produzido pelo Centro de Memória de Diadema.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Texto extraído de matéria jornalísticas publicadas no Jornal Diário do Grande ABC, coluna do memorialista Ademir Médici, site da Prefeitura de Diadema e internet.
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