Em 1645 após volta de Maurício de Nassau à Holanda, os proprietários de terras de
Pernambuco passaram a ter mais dificuldade de conseguir crédito na Companhia Holandesa
das Índias Ocidentais.
Em razão disso, os latifundiários deram início à propalada
insurreição, visavando expulsar os holandeses da região.
Assim iniciou-se a Insurreição Pernambucana.
No começo, Portugal não deu nenhum auxílio, interessado que estava em garantir o
apoio da Holanda para enfrentar a Espanha na luta pelo fim da União Ibérica.
Com isso, entre 1648 e 1649, forças militares do Maranhão e do governo geral da
Bahia derrotaram os holandeses, na Batalha dos Guararapes.
Mas a insurreição só acabou
quandos os holandeses enfraquecidos por uma guerra contra a Inglaterra (1652), se
retiraram da região em 1654.
Com isso, a soberania portuguesa sobre a Vila do Recife foi
reconhecida pela Holanda no Tratado de Paz de Haia, de 1661.
Para isso Portugal pagou aos holandeses uma grande indenização para que
desistissem das terras coloniais.
Em 1649, Portugal criou a Companhia Geral de Comércio do Brasil para auxiliar a
resistência pernambucana às invasões holandesas e facilitar a recuperação da agricultura
canavieira do Nordeste depois dos conflitos.
Sua principal atribuição era fornecer escravos
e garantir o transporte do açúcar para a Europa.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Poesias
sábado, 7 de março de 2020
...E A CHUVA QUE CAÍ - CAPÍTULO 2 - VERSÃO OFICIAL
E assim, apesar do pouco tempo que tiveram para estudar, puderam se aprimorar um
pouco, como pessoas.
Durante o tempo do ensino primário, caminharam por longas horas por um caminho de terra, até chegarem a escola.
Lá aprenderam os princípios básicos de muitos ramos do saber.
Augusto era o mais aplicado dos filhos de Orlando.
Disciplinado e estudioso, era o orgulho da professora, que sempre elogiava seu desempenho em classe, e suas boas notas.
E, apesar de dedicado, possuía a mania de decorar os textos da aula.
Por isso, sempre que a mestra lhe tomava a lição, Augusto sempre a conhecia nos mínimos detalhes.
Mas isso não era bom.
Não o era por que, embora soubesse os textos de cor e salteado, passados alguns dias, nem se lembrava mais do que aprendera.
E era aí que residia sua falha.
No mais, era muito inteligente e disciplinado.
Quando um assunto o interessava, era capaz de ficar horas a fio lendo sobre o mesmo.
Só não pesquisava mais, por que não tinha livros suficientes para tanto.
Mas o seu companheiro de horas livres, o Almanaque, estava sempre por perto.
Por essas e por outras que Augusto era considerado o mais inteligente da família.
No entanto, dadas as parcas condições financeiras da família, o garoto não pôde ir mais longe com os estudos.
Mas não foi somente ele, todos os seus irmãos, pararam de estudar na quarta série do primário.
Muito embora pudessem aprender muito mais, foi o que seus pais puderam lhes oferecer.
O que com toda certeza, mudou ao menos um pouco, a vida de cada um deles.
Isso por que, se quisessem prosseguir com os estudos, deveriam fazer como os filhos dos fazendeiros da região.
Deveriam estudar em um colégio interno.
Mas Orlando não tinha dinheiro para mandar os filhos estudarem na Capital.
Assim, só restou a eles, completarem os estudos primários e ajudarem o pai, no trabalho na lavoura.
Naquela época em que estudar era privilégio de poucos, e até que Augusto, Otávio, Carlota e seus irmãos conseguiram ir bastante longe.
Ao menos sabiam ler, escrever e fazer algumas contas.
Estavam muito melhores que seus pais, que mal sabiam assinar o próprio nome.
E Orlando ficava feliz por isso, pois ao menos seus filhos poderiam se virar.
Pelo menos, serviu como incentivo, para que pudessem avançar nos estudos futuramente.
Isso sem nem ao menos fazerem idéia, de que suas vidas mudariam tanto, em tão pouco tempo.
Porém, não é isso que realmente interessa no momento.
O que interessa é que depois de terminarem o primário, os meninos passaram a trabalhar o dia inteiro na lavoura.
Nisso Orlando que era um pouco folgazão, aproveitava para descansar um pouco.
Sob a desculpa de que estava supervisionando o trabalho dos filhos, freqüentemente aproveitava para cochilar e descansar um pouco.
Trabalhar que era bom, só trabalhava o necessário.
O serviço mais pesado, eram seus filhos que faziam.
Certa vez, tentando criar uma nova forma de plantar café, Augusto sugeriu que cada um fizesse uma parte do trabalho.
Orlando no entanto, achava que era muito melhor todo mundo fazer tudo.
Isso por que, assim agindo, todos conheceriam por completo, o processo de cultivo das mudas de café.
Augusto no entanto, argumentava que se alguém cavasse a terra, o outro plantasse as mudas, em seguida um outro viesse e fechasse o local onde a muda foi plantada, e outro viesse regá-las, o processo seria mais rápido.
Mas Orlando insistia em dizer que não.
Nada seria separado.
E assim, dada a última palavra, só restava aos filhos seguirem suas recomendações.
Mesmo aborrecido, Augusto fez exatamente o que Orlando mandou fazer.
E assim, ao final de alguns dias, finalmente estava encerrado o trabalho.
Foi nesta época que começaram os festejos em homenagem a São Pedro, Santo Antônio e São João – as festas juninas.
Nestas festas, as bandeirolas enfeitavam os campos, e mastros eram erguidos com bandeiras e imagens dos santos.
Além disso, uma profusão de fogos e de comida, coroavam a noite.
Nessa época, algumas famílias, aproveitando-se de suas criações de aves, aproveitavam para abater algumas e vender nas feiras da festa.
Marisa, aproveitando que havia algumas galinhas bem gordas no galinheiro, decidiu abater algumas e prepará-las para a festa.
Assim o fez.
Depois que ficaram prontas, pareciam muito apetitosas.
Tanto que seus filhos pediram insistentes vezes para que ela deixasse uma para que eles comessem.
Mas Marisa respondeu que aquelas aves eram para festa.
Ao ouvirem isso, todos ficaram desapontados.
Enfim, teriam que esperar pela festa.
Se alguma das aves não fosse vendida, aí sim, poderiam saborear a deliciosa iguaria preparada por sua mãe.
Dito e feito.
Durante a festa, apesar do sucesso das aves de Dona Marisa, a mesma fez questão de guardar uma das galinhas para os filhos.
Mas estes, não satisfeitos, depois que cearam junto com os demais convidados da festa e apreciaram uma belíssima queima de fogos, resolveram limpar as mesas, recolhendo as sobras de comida. Queriam levar tudo para casa e comer mais tarde.
Ao ver isso, Marisa ficou enfurecida.
Iria lhes dar uma surra.
Mas os garotos foram mais espertos e se esconderam.
Apesar de saberem que por isso mesmo, apanhariam muito mais, decidiram aproveitar melhor os comes e bebes.
Depois apareceriam, e até apanhariam com gosto, dado o tanto que já haviam se divertido.
E assim foi.
Os garotos levaram uma tremenda surra pelo mal feito.
Não bastasse isso, a bronca foi ainda pior.
Marisa chegou a falar:
-- Onde já se viu? Isso são modos? Nem parecem meus filhos. Parecem mais um bando de selvagens. Nunca passei tanta vergonha na vida.
Ao ouvirem os lamentos da mãe, os garotos se desculparam, mas mesmo assim, por um longo tempo, Marisa ficou brava com eles.
Mesmo assim, não se arrependeram nem um pouco do que fizeram.
E apesar da galinha que Marisa serviu estar ótima, os mesmos não se cansavam de se lembrar do porquinho assado de Adélia, e dos sucos de laranja de Seu Osíres.
A festa estava realmente muito boa.
Tão boa que sempre que vizinhança se encontrava, os mesmos não se cansavam de comentar sobre a comemoração.
E assim, a festa foi assunto por semanas na cidade.
Isso por que, os vizinhos, sempre que se encontravam, de alguma forma acabavam comentando sobre a festa, que realmente, fora magnífica.
Um verdadeiro espetáculo para os olhos.
Contudo, nem só de festas viviam os moradores da cidade.
Haviam também as estranhas figuras que de vez em quando apareciam no lugar, como o homem que dizia que palmilhava todos os recantos de nosso portentoso país.
A fala do homem impressionava.
Dizendo ter conhecido terras mágicas, por mais que lhe oferecessem emprego, nada o demovia da idéia de continuar peregrinando pelas terras do Brasil.
E assim como apareceu, o homem sumiu.
Sumiu, mas depois de alguns anos, voltou a aparecer.
E novamente sumiu.
Certa vez, Marisa, distraidamente, observando um copo com água, previu a morte de um menino.
Espantosamente, o menino morreu, dias depois.
O mesmo aconteceu com uma gestante, que chorando, dias antes do parto, disse que não queria morrer.
Contudo, infelizmente, foi o que acabou acontecendo.
Realmente, o local era cenário de acontecimentos impressionantes.
Todavia, tirando os estranhos acontecimentos do lugar, os sitiantes da região trabalhavam duro para manterem suas pequenas propriedades rurais.
Com isso se nota, que quase tudo o que precisavam, já cultivavam em suas lavouras.
A maioria dos sitiantes da região tinha de um tudo, em suas pequenas glebas.
Alguns plantavam uma variedade enorme de frutas, boa parte deles cultivavam verduras, além do café, tradicional no Brasil da época.
No entanto como se pode perceber, apesar do alvo principal dos fazendeiros e sitiantes ser a cultura do café, os mesmos procuravam não depender só disso.
Todavia, mesmo em plantando quase tudo que precisavam em matéria de alimentação, algumas vezes, precisavam ir até a cidade para comprar em seus armazéns e lojas de tecidos, alguns víveres necessários para suas vidas.
Nos armazéns, sempre que precisavam compravam sacas de farinha, de arroz e de feijão.
Nas lojas de tecidos, os que podiam, compravam tecidos ordinários para confeccionar algumas roupas.
Já os bem nascidos, compravam do bom e do melhor nas melhores vitrines da Capital, e algumas vezes, também da região.
Porém, as personagens desta história nem com isso podiam contar.
De tão pobres, o saco que protegia as compras da família, é que fatalmente viraria pano para que fizessem as roupas, as quais iriam usar durante todo o ano.
É minha gente.
Vida dura como se pode perceber.
Sem recursos para comprarem nem o mais ordinário dos tecidos, tinham menos condições ainda, de calçar as crianças, que descalças, mal sabiam o que era o conforto de um sapato.
Por isso, para eles, visitar a cidade de vez em quando, e apreciar as lojas e lanchonetes que haviam no lugar, já era uma visão do paraíso.
Isso por que, boa parte do tempo, só permaneciam adstritos ali ao sítio.
Quando saíam ou era para o grupo escolar, ou então para a igreja que existia no bairro.
Assim, mudar de ares era sempre bom.
Tão bom que visitar a cidade, mais parecia, conhecer o mundo.
O mundo que para eles, não fossem os livros de história, lhes seria tão pequeno.
Com isso, assim que chegaram em casa, Marisa com a ajuda de Orlando, organizou todas as compras que foram realizadas pela família, e depois tratou de pegar os sacos de estopa que já estavam guardados e começou a costurar.
Primeiro cortou as peças e depois, utilizando de uma pequena máquina de costura, passou a unir as peças e a confeccionar as roupas.
Nesse trabalho ficava por dias a fio debruçada sobre a máquina.
Além disso, preocupada com a possibilidade de seus filhos crescerem e a roupa não caber, tinha o cuidado de fazer roupas grandes, que pudessem ser usadas por muito tempo.
Além disso, como única distração, ouvia um rádio de pilha, que sintonizado na rádio da cidade, lhe possibilitava ouvir lindas canções sertanejas.
O rádio aliás, não era distração somente dela.
Todos não só da família como todos ali da região e também de outros lugares, costumavam ouvir rádio.
E assim de ouvido colado, descobriam o que havia de novo no mundo, na música e sonhavam com histórias lindamente contadas pelos rádio-atores e pelos sonoplastas.
Para quem não tinha acesso aos livros, poder conhecer a história da ‘Dama das Camélias’, ‘O Morro dos Ventos Uivantes’, bem como adaptações de rádio-novelas estrangeiras, era um sonho, além de um riquíssimo exercício de imaginação.
Apesar da existência da famigerada televisão, poucos eram os privilegiados que tinham acesso a ela.
Televisão nesta época, ‘era coisa de gente rica’.
Mas não era só a televisão, não.
Com relação a equipamentos eletrônicos como geladeira, enceradeira, nem mesmo a esses, a população tinha acesso.
Tudo era para a elite.
Assim, além das festas, das danças e dos folguedos, o rádio eram um verdadeiro companheiro dos sitiantes e de suas famílias.
Além disso, naquele tempo, as pessoas procurando se encontrar mais e se falar mais, eram muito amigas.
Dessa forma, sempre que alguém precisava de algo, um dos vizinhos sempre acorria em seu encontro para ajudar.
Com isso, sempre que Orlando tinha um excedente em sua cultura de frutas, tratava logo de dividir com os amigos, para que as frutas não se estragassem, perecendo.
Desperdício, naqueles tempos de dureza e dificuldade, era algo inaceitável.
Por isso, todos procuravam dividir o que tinham, quando o tinham em abundância.
Essa foi uma das lições que Augusto, Otávio e Carlota, guardaram no lugar mais profundo de seus corações.
Que a generosidade não precisa de riqueza para que se mostre aos necessitados.
Como na Bíblia, aprenderam que sempre se pode partilhar o pouco que tem, desde que de coração, e desde que também, não faça falta.
Mas deixemos um pouco de lado a aspereza da vida no campo, para mostrarmos um pouco dos sonhos dessas que um dia foram crianças.
Augusto, apesar de muito afeito aos livros e estudos, sempre se interessou, como aliás todos os garotos de sua idade, pelo futebol.
Nessa época o Brasil, que tinha Pelé entre seus jogadores, fez um bonito trabalho e ganhou a Copa do Mundo.
Isso lavou de verde-amarelo a alma dos brasileiros, que ainda se ressentiam da derrota de oito anos antes, em 1950.
Augusto, apesar de perna de pau, sonhava em um dia, integrar a seleção brasileira e defender a camisa da seleção em um jogo de futebol.
Coisa aliás, muito normal naquele tempo em que todos queriam comemorar a vitória do futebol brasileiro.
E assim, Augusto, Otávio e mais alguns vizinhos, aproveitavam para ficar tardes inteiras brincando em um campinho que havia na vila onde moravam.
Seus pais, sempre que podiam, também aproveitavam para apreciar as partidas.
Algumas vezes, ficavam reunidos por horas.
Nessas reuniões aproveitavam para também, almoçarem juntos e trocarem idéias.
A certa altura, um deles aproveitando-se de um violão, distraidamente levado por um dos sitiantes ou chacareiros do lugar, começavam a tocar e a cantar algumas modas de viola.
Um deles cantava lindamente.
Tanto que boa parte do tempo, era ele mesmo que cantava.
Carlota, de tão empolgada com a música, aproveitava sempre para dançar.
E dançava muito bem.
Parecia uma pluma deslizando na paisagem.
Dançava tanto que acabou por chamar a atenção de todos os presentes.
Tanto que um deles chegou até, a elogiar a beleza da moça.
Ao ouvir isso, Orlando ficou furioso.
Afinal de contas, não havia criado nenhuma de suas filhas, para envolver-se com vagabundos.
Mas Carlota não estava nem um pouco preocupada com isso, e assim, continuou dançando.
Nesse ínterim, todos os que estavam apenas a observar, passaram a igualmente dançar, e assim, quando menos se percebeu, o campo parecia ser somente música.
Foi nesse momento que um dos rapazes se aproximou e se apresentou a ela, que gentilmente, agradeceu o oferecimento para a dança e começou a dançar com ele.
Orlando então ficou mais furioso.
Marisa então, tentando acalmá-lo de alguma forma, conseguiu desviar, ao menos por alguns instantes, sua atenção.
No entanto, ainda assim, Orlando estava furioso com o comportamento da filha.
Tanto que, ao chegar em casa, repreendeu-a seriamente.
Contudo, Carlota, ao invés de ouvir e ficar calada como sempre fazia, dessa vez, resolveu retrucar.
Entrementes, ao contrário do que esperava, Orlando ficou ainda mais furioso.
Tão furioso que acabou lhe dando uma surra pelo episódio, mas não sem antes levá-la até o quarto.
Ali deu-lhe bateu-lhe como nunca havia feito antes.
Seus irmãos, do lado de fora, só ouviam os gritos, e o pedido insistente para que este parasse de lhe bater.
Orlando no entanto, não se comoveu nem um pouco com os pedidos da filha.
Continuou a bater, até que se cansou.
Carlota então, ficou profundamente irritada com o pai.
Magoada, só pensava em fugir.
E foi assim, que numa tarde qualquer, arrumou seus pertences e saiu sorrateiramente de casa, sem que ninguém percebesse.
E sem que dessem por sua falta, caminhou por léguas e léguas, na tentativa de chegar na cidade.
Em vão.
Quando finalmente se aproximava do município, alguns conhecidos de seu pai, a viram no caminho e a intimaram a subir na caminhonete deles.
Carlota, sem alternativa, acabou subindo.
Com isso, os mesmos trataram logo de voltar para a vila e levar a moça para casa.
Quando se aproximaram do sítio da família dela, Carlota pediu aos vizinhos, que não contassem ao seu pai, que havia tentado fugir de casa.
Os vizinhos, porém, estavam receosos.
Como não iriam contar que algo tão grave tinha acontecido?
Afinal, se Carlota havia tentado fugir de casa, é por que lá, as coisas não andavam muito bem.
Mas a moça insistiu.
Sabia que se eles contassem o acontecido, fatalmente, ela iria apanhar de novo.
E foi assim, ao verem o desespero no rosto de Carlota, que acabaram se convencendo.
Mas disseram que mesmo que eles não contassem, Seu Orlando acabaria descobrindo.
E nisso se despediram, deixando Carlota na entrada do sítio.
Depois, seguiram viagem em direção a cidade.
Carlota então, caminhou calmamente.
Não queria levantar suspeitas.
E assim o fez.
Caminhando pé ante pé, a moça conseguiu chegar em casa sem que ninguém a visse carregando uma trouxa de roupa.
Com isso, aproveitou que a janela do quarto estava aberta e jogou suas coisas por ela.
Depois então, saltou, entrando novamente no quarto.
Mais do que depressa, arrumou seus pertences no baú que havia no quarto, e depois, pulando novamente a janela do cômodo, caminhou sorrateiramente pelos arredores da casa.
Caminhando, finalmente deu de encontro com um de seus irmãos que então lhe perguntou onde ela havia estado, já que procurou ela por toda a parte e nada de encontrá-la. Como desculpa, ela disse que resolveu dar uma volta pelos arredores do sítio.
Orlando ao saber disso, ficou aborrecido com a filha, mas desta vez, resolveu deixar para lá.
Afinal, Carlota já havia sido castigada recentemente.
Então não havia razões para outro castigo.
E nisso, o assunto se encerrou por aí.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Durante o tempo do ensino primário, caminharam por longas horas por um caminho de terra, até chegarem a escola.
Lá aprenderam os princípios básicos de muitos ramos do saber.
Augusto era o mais aplicado dos filhos de Orlando.
Disciplinado e estudioso, era o orgulho da professora, que sempre elogiava seu desempenho em classe, e suas boas notas.
E, apesar de dedicado, possuía a mania de decorar os textos da aula.
Por isso, sempre que a mestra lhe tomava a lição, Augusto sempre a conhecia nos mínimos detalhes.
Mas isso não era bom.
Não o era por que, embora soubesse os textos de cor e salteado, passados alguns dias, nem se lembrava mais do que aprendera.
E era aí que residia sua falha.
No mais, era muito inteligente e disciplinado.
Quando um assunto o interessava, era capaz de ficar horas a fio lendo sobre o mesmo.
Só não pesquisava mais, por que não tinha livros suficientes para tanto.
Mas o seu companheiro de horas livres, o Almanaque, estava sempre por perto.
Por essas e por outras que Augusto era considerado o mais inteligente da família.
No entanto, dadas as parcas condições financeiras da família, o garoto não pôde ir mais longe com os estudos.
Mas não foi somente ele, todos os seus irmãos, pararam de estudar na quarta série do primário.
Muito embora pudessem aprender muito mais, foi o que seus pais puderam lhes oferecer.
O que com toda certeza, mudou ao menos um pouco, a vida de cada um deles.
Isso por que, se quisessem prosseguir com os estudos, deveriam fazer como os filhos dos fazendeiros da região.
Deveriam estudar em um colégio interno.
Mas Orlando não tinha dinheiro para mandar os filhos estudarem na Capital.
Assim, só restou a eles, completarem os estudos primários e ajudarem o pai, no trabalho na lavoura.
Naquela época em que estudar era privilégio de poucos, e até que Augusto, Otávio, Carlota e seus irmãos conseguiram ir bastante longe.
Ao menos sabiam ler, escrever e fazer algumas contas.
Estavam muito melhores que seus pais, que mal sabiam assinar o próprio nome.
E Orlando ficava feliz por isso, pois ao menos seus filhos poderiam se virar.
Pelo menos, serviu como incentivo, para que pudessem avançar nos estudos futuramente.
Isso sem nem ao menos fazerem idéia, de que suas vidas mudariam tanto, em tão pouco tempo.
Porém, não é isso que realmente interessa no momento.
O que interessa é que depois de terminarem o primário, os meninos passaram a trabalhar o dia inteiro na lavoura.
Nisso Orlando que era um pouco folgazão, aproveitava para descansar um pouco.
Sob a desculpa de que estava supervisionando o trabalho dos filhos, freqüentemente aproveitava para cochilar e descansar um pouco.
Trabalhar que era bom, só trabalhava o necessário.
O serviço mais pesado, eram seus filhos que faziam.
Certa vez, tentando criar uma nova forma de plantar café, Augusto sugeriu que cada um fizesse uma parte do trabalho.
Orlando no entanto, achava que era muito melhor todo mundo fazer tudo.
Isso por que, assim agindo, todos conheceriam por completo, o processo de cultivo das mudas de café.
Augusto no entanto, argumentava que se alguém cavasse a terra, o outro plantasse as mudas, em seguida um outro viesse e fechasse o local onde a muda foi plantada, e outro viesse regá-las, o processo seria mais rápido.
Mas Orlando insistia em dizer que não.
Nada seria separado.
E assim, dada a última palavra, só restava aos filhos seguirem suas recomendações.
Mesmo aborrecido, Augusto fez exatamente o que Orlando mandou fazer.
E assim, ao final de alguns dias, finalmente estava encerrado o trabalho.
Foi nesta época que começaram os festejos em homenagem a São Pedro, Santo Antônio e São João – as festas juninas.
Nestas festas, as bandeirolas enfeitavam os campos, e mastros eram erguidos com bandeiras e imagens dos santos.
Além disso, uma profusão de fogos e de comida, coroavam a noite.
Nessa época, algumas famílias, aproveitando-se de suas criações de aves, aproveitavam para abater algumas e vender nas feiras da festa.
Marisa, aproveitando que havia algumas galinhas bem gordas no galinheiro, decidiu abater algumas e prepará-las para a festa.
Assim o fez.
Depois que ficaram prontas, pareciam muito apetitosas.
Tanto que seus filhos pediram insistentes vezes para que ela deixasse uma para que eles comessem.
Mas Marisa respondeu que aquelas aves eram para festa.
Ao ouvirem isso, todos ficaram desapontados.
Enfim, teriam que esperar pela festa.
Se alguma das aves não fosse vendida, aí sim, poderiam saborear a deliciosa iguaria preparada por sua mãe.
Dito e feito.
Durante a festa, apesar do sucesso das aves de Dona Marisa, a mesma fez questão de guardar uma das galinhas para os filhos.
Mas estes, não satisfeitos, depois que cearam junto com os demais convidados da festa e apreciaram uma belíssima queima de fogos, resolveram limpar as mesas, recolhendo as sobras de comida. Queriam levar tudo para casa e comer mais tarde.
Ao ver isso, Marisa ficou enfurecida.
Iria lhes dar uma surra.
Mas os garotos foram mais espertos e se esconderam.
Apesar de saberem que por isso mesmo, apanhariam muito mais, decidiram aproveitar melhor os comes e bebes.
Depois apareceriam, e até apanhariam com gosto, dado o tanto que já haviam se divertido.
E assim foi.
Os garotos levaram uma tremenda surra pelo mal feito.
Não bastasse isso, a bronca foi ainda pior.
Marisa chegou a falar:
-- Onde já se viu? Isso são modos? Nem parecem meus filhos. Parecem mais um bando de selvagens. Nunca passei tanta vergonha na vida.
Ao ouvirem os lamentos da mãe, os garotos se desculparam, mas mesmo assim, por um longo tempo, Marisa ficou brava com eles.
Mesmo assim, não se arrependeram nem um pouco do que fizeram.
E apesar da galinha que Marisa serviu estar ótima, os mesmos não se cansavam de se lembrar do porquinho assado de Adélia, e dos sucos de laranja de Seu Osíres.
A festa estava realmente muito boa.
Tão boa que sempre que vizinhança se encontrava, os mesmos não se cansavam de comentar sobre a comemoração.
E assim, a festa foi assunto por semanas na cidade.
Isso por que, os vizinhos, sempre que se encontravam, de alguma forma acabavam comentando sobre a festa, que realmente, fora magnífica.
Um verdadeiro espetáculo para os olhos.
Contudo, nem só de festas viviam os moradores da cidade.
Haviam também as estranhas figuras que de vez em quando apareciam no lugar, como o homem que dizia que palmilhava todos os recantos de nosso portentoso país.
A fala do homem impressionava.
Dizendo ter conhecido terras mágicas, por mais que lhe oferecessem emprego, nada o demovia da idéia de continuar peregrinando pelas terras do Brasil.
E assim como apareceu, o homem sumiu.
Sumiu, mas depois de alguns anos, voltou a aparecer.
E novamente sumiu.
Certa vez, Marisa, distraidamente, observando um copo com água, previu a morte de um menino.
Espantosamente, o menino morreu, dias depois.
O mesmo aconteceu com uma gestante, que chorando, dias antes do parto, disse que não queria morrer.
Contudo, infelizmente, foi o que acabou acontecendo.
Realmente, o local era cenário de acontecimentos impressionantes.
Todavia, tirando os estranhos acontecimentos do lugar, os sitiantes da região trabalhavam duro para manterem suas pequenas propriedades rurais.
Com isso se nota, que quase tudo o que precisavam, já cultivavam em suas lavouras.
A maioria dos sitiantes da região tinha de um tudo, em suas pequenas glebas.
Alguns plantavam uma variedade enorme de frutas, boa parte deles cultivavam verduras, além do café, tradicional no Brasil da época.
No entanto como se pode perceber, apesar do alvo principal dos fazendeiros e sitiantes ser a cultura do café, os mesmos procuravam não depender só disso.
Todavia, mesmo em plantando quase tudo que precisavam em matéria de alimentação, algumas vezes, precisavam ir até a cidade para comprar em seus armazéns e lojas de tecidos, alguns víveres necessários para suas vidas.
Nos armazéns, sempre que precisavam compravam sacas de farinha, de arroz e de feijão.
Nas lojas de tecidos, os que podiam, compravam tecidos ordinários para confeccionar algumas roupas.
Já os bem nascidos, compravam do bom e do melhor nas melhores vitrines da Capital, e algumas vezes, também da região.
Porém, as personagens desta história nem com isso podiam contar.
De tão pobres, o saco que protegia as compras da família, é que fatalmente viraria pano para que fizessem as roupas, as quais iriam usar durante todo o ano.
É minha gente.
Vida dura como se pode perceber.
Sem recursos para comprarem nem o mais ordinário dos tecidos, tinham menos condições ainda, de calçar as crianças, que descalças, mal sabiam o que era o conforto de um sapato.
Por isso, para eles, visitar a cidade de vez em quando, e apreciar as lojas e lanchonetes que haviam no lugar, já era uma visão do paraíso.
Isso por que, boa parte do tempo, só permaneciam adstritos ali ao sítio.
Quando saíam ou era para o grupo escolar, ou então para a igreja que existia no bairro.
Assim, mudar de ares era sempre bom.
Tão bom que visitar a cidade, mais parecia, conhecer o mundo.
O mundo que para eles, não fossem os livros de história, lhes seria tão pequeno.
Com isso, assim que chegaram em casa, Marisa com a ajuda de Orlando, organizou todas as compras que foram realizadas pela família, e depois tratou de pegar os sacos de estopa que já estavam guardados e começou a costurar.
Primeiro cortou as peças e depois, utilizando de uma pequena máquina de costura, passou a unir as peças e a confeccionar as roupas.
Nesse trabalho ficava por dias a fio debruçada sobre a máquina.
Além disso, preocupada com a possibilidade de seus filhos crescerem e a roupa não caber, tinha o cuidado de fazer roupas grandes, que pudessem ser usadas por muito tempo.
Além disso, como única distração, ouvia um rádio de pilha, que sintonizado na rádio da cidade, lhe possibilitava ouvir lindas canções sertanejas.
O rádio aliás, não era distração somente dela.
Todos não só da família como todos ali da região e também de outros lugares, costumavam ouvir rádio.
E assim de ouvido colado, descobriam o que havia de novo no mundo, na música e sonhavam com histórias lindamente contadas pelos rádio-atores e pelos sonoplastas.
Para quem não tinha acesso aos livros, poder conhecer a história da ‘Dama das Camélias’, ‘O Morro dos Ventos Uivantes’, bem como adaptações de rádio-novelas estrangeiras, era um sonho, além de um riquíssimo exercício de imaginação.
Apesar da existência da famigerada televisão, poucos eram os privilegiados que tinham acesso a ela.
Televisão nesta época, ‘era coisa de gente rica’.
Mas não era só a televisão, não.
Com relação a equipamentos eletrônicos como geladeira, enceradeira, nem mesmo a esses, a população tinha acesso.
Tudo era para a elite.
Assim, além das festas, das danças e dos folguedos, o rádio eram um verdadeiro companheiro dos sitiantes e de suas famílias.
Além disso, naquele tempo, as pessoas procurando se encontrar mais e se falar mais, eram muito amigas.
Dessa forma, sempre que alguém precisava de algo, um dos vizinhos sempre acorria em seu encontro para ajudar.
Com isso, sempre que Orlando tinha um excedente em sua cultura de frutas, tratava logo de dividir com os amigos, para que as frutas não se estragassem, perecendo.
Desperdício, naqueles tempos de dureza e dificuldade, era algo inaceitável.
Por isso, todos procuravam dividir o que tinham, quando o tinham em abundância.
Essa foi uma das lições que Augusto, Otávio e Carlota, guardaram no lugar mais profundo de seus corações.
Que a generosidade não precisa de riqueza para que se mostre aos necessitados.
Como na Bíblia, aprenderam que sempre se pode partilhar o pouco que tem, desde que de coração, e desde que também, não faça falta.
Mas deixemos um pouco de lado a aspereza da vida no campo, para mostrarmos um pouco dos sonhos dessas que um dia foram crianças.
Augusto, apesar de muito afeito aos livros e estudos, sempre se interessou, como aliás todos os garotos de sua idade, pelo futebol.
Nessa época o Brasil, que tinha Pelé entre seus jogadores, fez um bonito trabalho e ganhou a Copa do Mundo.
Isso lavou de verde-amarelo a alma dos brasileiros, que ainda se ressentiam da derrota de oito anos antes, em 1950.
Augusto, apesar de perna de pau, sonhava em um dia, integrar a seleção brasileira e defender a camisa da seleção em um jogo de futebol.
Coisa aliás, muito normal naquele tempo em que todos queriam comemorar a vitória do futebol brasileiro.
E assim, Augusto, Otávio e mais alguns vizinhos, aproveitavam para ficar tardes inteiras brincando em um campinho que havia na vila onde moravam.
Seus pais, sempre que podiam, também aproveitavam para apreciar as partidas.
Algumas vezes, ficavam reunidos por horas.
Nessas reuniões aproveitavam para também, almoçarem juntos e trocarem idéias.
A certa altura, um deles aproveitando-se de um violão, distraidamente levado por um dos sitiantes ou chacareiros do lugar, começavam a tocar e a cantar algumas modas de viola.
Um deles cantava lindamente.
Tanto que boa parte do tempo, era ele mesmo que cantava.
Carlota, de tão empolgada com a música, aproveitava sempre para dançar.
E dançava muito bem.
Parecia uma pluma deslizando na paisagem.
Dançava tanto que acabou por chamar a atenção de todos os presentes.
Tanto que um deles chegou até, a elogiar a beleza da moça.
Ao ouvir isso, Orlando ficou furioso.
Afinal de contas, não havia criado nenhuma de suas filhas, para envolver-se com vagabundos.
Mas Carlota não estava nem um pouco preocupada com isso, e assim, continuou dançando.
Nesse ínterim, todos os que estavam apenas a observar, passaram a igualmente dançar, e assim, quando menos se percebeu, o campo parecia ser somente música.
Foi nesse momento que um dos rapazes se aproximou e se apresentou a ela, que gentilmente, agradeceu o oferecimento para a dança e começou a dançar com ele.
Orlando então ficou mais furioso.
Marisa então, tentando acalmá-lo de alguma forma, conseguiu desviar, ao menos por alguns instantes, sua atenção.
No entanto, ainda assim, Orlando estava furioso com o comportamento da filha.
Tanto que, ao chegar em casa, repreendeu-a seriamente.
Contudo, Carlota, ao invés de ouvir e ficar calada como sempre fazia, dessa vez, resolveu retrucar.
Entrementes, ao contrário do que esperava, Orlando ficou ainda mais furioso.
Tão furioso que acabou lhe dando uma surra pelo episódio, mas não sem antes levá-la até o quarto.
Ali deu-lhe bateu-lhe como nunca havia feito antes.
Seus irmãos, do lado de fora, só ouviam os gritos, e o pedido insistente para que este parasse de lhe bater.
Orlando no entanto, não se comoveu nem um pouco com os pedidos da filha.
Continuou a bater, até que se cansou.
Carlota então, ficou profundamente irritada com o pai.
Magoada, só pensava em fugir.
E foi assim, que numa tarde qualquer, arrumou seus pertences e saiu sorrateiramente de casa, sem que ninguém percebesse.
E sem que dessem por sua falta, caminhou por léguas e léguas, na tentativa de chegar na cidade.
Em vão.
Quando finalmente se aproximava do município, alguns conhecidos de seu pai, a viram no caminho e a intimaram a subir na caminhonete deles.
Carlota, sem alternativa, acabou subindo.
Com isso, os mesmos trataram logo de voltar para a vila e levar a moça para casa.
Quando se aproximaram do sítio da família dela, Carlota pediu aos vizinhos, que não contassem ao seu pai, que havia tentado fugir de casa.
Os vizinhos, porém, estavam receosos.
Como não iriam contar que algo tão grave tinha acontecido?
Afinal, se Carlota havia tentado fugir de casa, é por que lá, as coisas não andavam muito bem.
Mas a moça insistiu.
Sabia que se eles contassem o acontecido, fatalmente, ela iria apanhar de novo.
E foi assim, ao verem o desespero no rosto de Carlota, que acabaram se convencendo.
Mas disseram que mesmo que eles não contassem, Seu Orlando acabaria descobrindo.
E nisso se despediram, deixando Carlota na entrada do sítio.
Depois, seguiram viagem em direção a cidade.
Carlota então, caminhou calmamente.
Não queria levantar suspeitas.
E assim o fez.
Caminhando pé ante pé, a moça conseguiu chegar em casa sem que ninguém a visse carregando uma trouxa de roupa.
Com isso, aproveitou que a janela do quarto estava aberta e jogou suas coisas por ela.
Depois então, saltou, entrando novamente no quarto.
Mais do que depressa, arrumou seus pertences no baú que havia no quarto, e depois, pulando novamente a janela do cômodo, caminhou sorrateiramente pelos arredores da casa.
Caminhando, finalmente deu de encontro com um de seus irmãos que então lhe perguntou onde ela havia estado, já que procurou ela por toda a parte e nada de encontrá-la. Como desculpa, ela disse que resolveu dar uma volta pelos arredores do sítio.
Orlando ao saber disso, ficou aborrecido com a filha, mas desta vez, resolveu deixar para lá.
Afinal, Carlota já havia sido castigada recentemente.
Então não havia razões para outro castigo.
E nisso, o assunto se encerrou por aí.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
... E A CHUVA QUE CAI - CAPÍTULO 1 - VERSÃO OFICIAL
"Nesse mundo cheio de dinheiro e de ambição
Tenho andado procurando uma ilusão
Muita gente esquece a vida
Faz morrer a esperança
Sem querer acreditar que existe amor
O mundo está mudando
Sem querer se perdendo
E no céu milhões de nuvens
Já começam a chorar
E a chuva cairá neste mundo pequeno... ”
(Os Caçulas)
A chuva na janela prenuncia que o mal tempo vai continuar, deixando todos presos em casa olhando o mundo pela janela.
O mundo que parecia cada vez maior, visto pela vidraça da janela.
Pelos olhos das crianças corriam as paisagens verdejantes do lugar.
Vista tão longínqua e ampla.
Também havia o céu azul, que escurecido pela chuva, não se podia ver claro.
Nos campos, plantações verdejantes.
A colheita ao fundo da paisagem, agradecia ao suave presente do céu.
As gotas caíam suaves, molhando os grotões, encharcando a terra, gotejando sobre as folhas, e os pássaros procuravam se abrigar nos ninhos no alto das árvores.
O céu.
Ah! O céu, ... que permanecia escuro e sombrio, entristecia a tarde.
A tarde caía lá fora e o tempo ficava cada vez mais triste, enquanto a temperatura baixava e a chuva se transformava em pesadas pedras de gelo.
E o tempo.
O tempo transcorria cada vez mais lento, com as crianças a olharem para a janela.
Pela janela, se admiravam com o que viam.
Nunca viram chover pedra antes.
Tudo neste mundo infantil quando visto pela primeira vez, é lindo e mágico.
As pedras caíam pesadamente sobre o chão de terra, já molhado.
Machucavam as plantas que, passivas, nada mais podiam esperar.
E a chuva que caí ... A chuva que continua caindo ... e o tempo que passa, cada vez mais lento.
Nada para se fazer, talvez toda a esperança de trabalho perdida.
Talvez toda a plantação se perdesse em meio a fome arrasadora da chuva de pedras.
-- “Chuva de granizo” – corrigiu Augusto, o filho mais velho e mais sabido, de uma grande família. – É a chuva em seu estado natural, condensada. – continuou.
Quando Augusto falava, ninguém se atrevia a questioná-lo, pois todos o consideravam a pessoa mais inteligente da casa.
Muitas das dúvidas que seus outros irmãos tinham, eram logo resolvidas por ele.
Poucos questionamentos escapavam de seu crivo meticuloso.
-- Pudera, ele é também o filho mais velho. Não poderia ser diferente – comentou Otávio, o filho do meio desta família
-- Mas ele teve as mesmas chances que nós. – disse Carlota, a filha mais velha.
E o tempo passa.
Em meio a conversação dos irmãos, a chuva continuava cada vez mais forte.
A tempestade avançava, o tempo escurecia.
Nuvens riscavam os céus, brumas, neblinas.
Parecia que a chuva não ía parar tão cedo, e nesse período, nada se podia ver, além da imensidão do campo verde que se tinha em vista.
Além do verde, talvez se pudesse ver macieiras ao redor do alpendre.
A casa protegida do mal tempo.
Pequenina, vista ao longe na colina.
Parecia tranqüila, mas o vento lhe murmurava sons nítidos e assustadores.
As figueiras ao longe, balançavam ao sabor dos ventos.
As folhagens das árvores dançavam ao léu.
E a chuva ... a chuva cairá ... sobre este mundo que parecia tão pequeno, e que de perto, parecia estar tão longe, de tão extenso que era.
Templo perdido na distância do tempo, que passa e devora tudo, consome a vida e os sonhos.
A desilusão de quem vive, somente se lembrando do que passou, não se podendo reter o tempo. Entretanto, para alguns nostálgicos:
-- “Ah ..., que bom se eu pudesse.”
Portanto, assim começa esta história.
História de um passado nem tão recente, nem tão distante.
De uma família que vendeu tudo o que tinha em um rincão brasileiro, para se aventurar em uma nova terra.
Muito longe do seu lugar de origem.
Propriedades de médio porte foram vendidas, e esta família tratou de juntar o que ganhara com esta feita.
Juntaram o dinheiro, pegaram suas malas e partiram.
Isso por que, dado o ímpeto aventureiro Orlando, decidiu mudar-se para outro lugar.
Cansado de viver de uma terra tão árida, e de uma gente tão sofrida, achou por bem, mudar-se para outra localidade.
Por isso mesmo venderam tudo o que tinham.
E olha que a família tinha uma razoável porção de propriedades no local.
Vieram no primeiro trem que apareceu na estação.
Uma linda estação recém construída na segunda metade do século XX, época em que começa nossa história.
História essa, que retrata a vida de um homem, que veio com sua família, nesta época, apenas sua mulher Marisa, para o interior do Estado de São Paulo, no Vale do Paraíba.
Muito embora a família deste homem estivesse totalmente estabelecida no sertão, Orlando resolveu rumar para outras paragens.
E assim, despediu-se de seus parentes e da lembrança de seu pai, Theodósio, que a esta altura já habitava a mansão do altíssimo em companhia de incontáveis seres celestiais.
Seu pai, era um homem branco, alto, forte, mas que já havia passado por muitos dissabores na vida antes de morrer.
Casado com uma escrava alforriada, teve com ela muitos filhos.
Porém, por conta de tal gesto, teve que pagar um alto preço.
Isso por que, fruto da elite da região, era contado decerto que seria o herdeiro absoluto de seu pai, Ambrósio.
Porém, ao se enamorar de uma ex-escrava, optou por abrir mão de uma vida cheia de privilégios e de conforto.
Por amor, abriu mão de tudo.
Mas seu pai Ambrósio, aborrecido com a atitude intempestiva do filho, tentou de todas as formas prejudicá-lo.
Por isso quando uma feiticeira apareceu em sua fazenda, encontrou um campo fértil para suas maldades.
Isso por que, com a ajuda desta assistente, passou a utilizar-se da magia negra para prejudicar Theodósio.
Assim, com o passar dos anos acabou por adoecer seriamente, e desse mal, nunca mais se recuperou.
Não bastasse toda a cobrança da sociedade moralista da época, teve ainda que suportar intrigas e humilhações.
Sofria, mas seus problemas não eram somente de natureza física.
Theodósio também sofria com os males da alma.
Isso por que, meses antes de morrer, descobriu por meio de terceiro, que haviam lhe feito um mal tão grande, que o atingiu imediatamente.
Quando então perguntou quem era o autor da obra, o sujeito lhe respondeu que era seu pai, Ambrósio.
Ao ouvir isso, Theodósio, já abalado com a doença, ficou ainda mais amuado.
E pior que isso, passou a ficar cada vez mais triste.
Tão triste que dia-após-dia definhava mais e mais.
Tanto que à certa altura, depois de muito penar, acabou falecendo, triste por saber que seu próprio pai tentara lhe prejudicar.
Com isso, Coralina – a escrava –, viu-se pela primeira vez, totalmente só.
Desesperada, ela e seus filhos não sabiam o que fazer, nem para onde ir.
Isso por que sabiam que Ambrósio de alguma forma, os tentaria expulsar da cidade.
Não queria que os frutos de sua vergonha, caminhassem pela cidade o expondo assim de modo tão aviltante.
E assim o fez.
E da forma mais cruel que se pode imaginar.
Com a ajuda de seus empregados, colocou fogo na casa, durante a madrugada, julgando que assim, a mataria a todos.
Mas com o que ele não poderia contar, é que Coralina, imaginando que o fazendeiro faria alguma coisa contra sua família, tratasse logo de sair dali.
Foi o que ela fez.
Procurando abrigo em casa de amigos, tratou logo de reunir alguns objetos e se escondeu com sua família.
Todavia, Coralina sabia que precisava sair dali.
Para que ela e seus filhos não fossem mais perseguidos por Ambrósio.
Assim, antes mesmo que o dia amanhecesse, trataram logo de fugir da cidade, na vã tentativa de não encontrarem com o cruel fazendeiro.
Debalde.
Isso por que, logo que chegaram a praça principal da cidade, perceberam que o fazendeiro passara a noite inteira, esperando que eles aparecessem.
Dessa maneira, qual não foi a alegria de Ambrósio ao perceber que seu plano havia dado certo? Coralina e seus filhos, estavam bem diante dele, como que prontos para serem imolados como cordeiros em holocausto a uma nobre causa.
Ambrósio porém, pensando um pouco, decidiu apenas lhes pregar um susto.
Com isso, inicialmente furioso ao descobrir que fora enganado por aquela que ele mesmo denominara de ‘diabólica mulher’, agora, parecia até se divertir com o medo que via nos olhos daquela família.
Por esta razão, ordenou aos empregos que jogassem os cavalos em cima de todos os que ali estavam e que os fizessem correr o bastante para sumirem para sempre daquela cidade.
E os empregados fizeram o que o fazendeiro pedira.
Acossando-os sem dó, nem mesmo com um lampejo de piedade, fizeram com que os mesmos desaparecessem da cidade.
Entrementes, não há mal que sempre dure.
Quando Ambrósio faleceu, Orlando – um dos filhos de Coralina –, retornou a cidade.
Foi lá que conheceu Marisa e que se casaram.
Ao conhecer Marisa, Orlando então, deu-se conta de quanto suas histórias eram parecidas.
Vítimas de reveses na vida, sabiam desde ainda muito cedo, o que era sofrer.
Marisa, órfã desde os cincos anos, passou a vida inteira vivendo de cidade em cidade, na casa de parentes, que nem sempre estavam dispostos a lhe ajudar.
Por conta disso, passou por muitas humilhações.
Freqüentemente era destratada por seus parentes, e muitas vezes tinha que suportar, com lágrimas nos olhos as humilhações, para que simplesmente, não a pusessem para fora.
Fora isso, tinha que pagar, com o suor de seu trabalho, por tudo que consumia.
Assim, quando viu aquele jovem negro, simpático, divertido e folgazão se oferecendo para ajudá-la, logo passou a se interessar por ele.
Afinal, diferente de seus parentes, Orlando era gentil com ela.
Por isso mesmo, quando Orlando lhe propôs casamento, Marisa aceitou no mesmo instante.
Cansada de ser maltratada por seus parentes desde que ficara órfã, acreditava que viver ao lado de quem a respeitasse, faria toda a diferença.
Nessa época, Orlando já reunia um razoável patrimônio e não seria nem um pouco ruim, se unir a alguém estabelecido.
E assim Marisa o fez.
Casaram-se e durante algum tempo, permaneceram na região.
Depois, Orlando, sentindo-se entediado com a vida que levava, resolveu se desfazer de tudo e partir.
Mas não era só isso.
A seca voraz, também castigava a plantação e maltratava os animais.
Com isso, temeroso de perder o que tinha, Orlando resolveu vender todas as propriedades que possuía e partir.
Todavia, ao realizar as tratativas e negociar, perdeu boas oportunidades de fazer bom negócio.
Isso por que ingênuo, acabou vendendo boa parte do que tinha por um valor muito baixo.
Por isso, quando chegaram no interior do Estado de São Paulo, tiveram que durante algum tempo, trabalhar em terras alheias.
Precisavam reunir dinheiro para comprar sua própria propriedade.
Porém, estou me estendendo.
Continuemos de onde paramos.
Com isso, inicialmente, o casal se fixou numa pequena e próspera cidade do lugar, para, logo em seguida, comprarem uma pequena propriedade no local.
Porém, para que este passo fosse dado, tiveram que pelo menos no começo, trabalharem como empregados.
Com isso, durante alguns anos trabalharam em terras de outras famílias.
Com isso, com o dinheiro guardado, fruto de seu trabalho, este homem, ao final de algum tempo, finalmente conseguiu comprar uma pequena propriedade e se estabeleceu como sitiante.
Para ele, foi seu sonho mais caro, e mais doce.
Doce enquanto durou.
E por incrível que pareça, durou por anos.
Nessa propriedade, Orlando viveu alguns dos melhores momentos de sua vida.
Foi nessa localidade que conheceu o valor da amizade e do companheirismo.
Nessa localidade aprendeu a lutar por seus sonhos, muito embora, muito antes disso, já fosse teimoso o suficiente para realizá-los.
Nesse lugar, viu seus filhos crescerem e partirem em busca de seus sonhos.
Mas ainda é muito cedo para falar em partida.
Por isso nos concentremos, no primeiros anos da vida desta família na região do Vale do Paraíba.
Com isso, como era de se esperar, a família de Orlando ao adquirir um sítio, passou a plantar café, além de outros produtos para garantir a sua subsistência, agora já constituída do casal e seus oito filhos, que também ajudavam no trabalho, na lavoura.
Assim, além de ganhar dinheiro com o café, precisavam de alguma forma, garantir sua subsistência, enquanto trabalhavam na plantação do produto que o Brasil mais produzia na época.
E para isso, trabalhavam pesado, duro.
Levantavam ainda quando o sol estava por nascer e preparavam a comida que era feita pela mãe, que também ajudava no trabalho da roça.
E todos, sem exceção, ficavam na roça o dia inteiro até o sol estar por se pôr.
Desta forma, ficavam expostos a inclemência do astro-rei.
Porém, dada a brancura de sua pele, Marisa, preocupada com o mal que o sol podia fazer, precavida que era, resolveu adotar a seguinte estratégia: procurava sempre se cobrir com panos, para que o sol não castigasse sua alva pele.
Porém, como era difícil trabalhar naquele calor, com uma montanha de panos sobre o corpo!
Todavia, era necessário, e assim, não só ela, como inúmeras outras trabalhadoras, faziam uso do mesmo expediente.
E assim, passavam horas a fio, trabalhando na roça.
Ficavam até o momento em que sol começava a se despedir no horizonte.
E que lindo momento que era o cair da tarde.
O crepúsculo, num tempo em que ainda se dava para ver os raios dourados do astro-rei.
As cores do sol, que faziam uma bela composição com o céu azulado, e que se mostrava cada vez mais insinuante.
Esta era a hora de voltar para casa.
Tomar um banho de bacia, jantar, e em seguida dormir.
Dormir cedo, porque no mais, nada se tinha para fazer.
No entanto, de vez em quando, o pai cantava-lhes algumas músicas que ouvia no rádio, para que estes dormissem sonhando com cada letra de música que haviam ouvido.
Luz elétrica, não havia.
Somente um lampião, que mal iluminava a casa.
A luz clara que cintilava do lampião a gás, era somente para que todos pudessem encontrar suas camas e se recolherem.
Para poderem se recostarem nas mesmas e finalmente dormir.
Logo o sol estaria novamente, a raiar.
No dia seguinte, mais um longo dia de trabalho onde tudo se repetiria.
Novamente o céu estrelado por companhia, durante a caminhada até a plantação.
Nesse tempo, algumas crianças iam para a escola.
Oh! Infeliz força do dinheiro, que faz com que poucos tenham chances na vida.
Onde as coisas só valem para quem nasceu bem!
Na escola, as crianças aprendiam as primeiras letras, as primeiras contas e depois passavam a ter algumas noções de civismo e de como era o mundo que não conheciam.
E o tempo foi passando, passando, até chegar um dia ... Em que, crescidas, estas, que agora, não são mais crianças, tiveram filhos e esses filhos estudaram até onde foi possível.
-- “Estudem, se querem virar alguma coisa na vida.” – foi o que sempre ouviram.
Mas, mais uma vez estou me adiantando.
O que interessa aqui, ainda é a vida dessas crianças.
Crianças que tinham alguns sonhos para serem realizados.
Assim, voltemos a infância de todas essas crianças.
Essas crianças, que são os filhos do homem que se estabeleceu no interior do estado de São Paulo, passaram a ir para a escola e lá aprenderam um pouco sobre a ciência da vida.
Para não se tornarem tão ignorantes quanto seus pais, em suas próprias palavras, caminhavam longas léguas até chegar ao grupo escolar.
Onde todas estudavam juntas, crianças de várias séries.
Ao voltarem para casa, tinham por companhia as molecagens da infância e mais tarde, o sonho dos livros, com histórias de piratas, vilões e mocinhos.
Grandes textos literários e outros contos infantis de autores contemporâneos.
Neste mundo de fantasia, tudo era lindo e fantástico.
Afinal, tem que haver tempo para sonhar, e mais do que isso, alguém com quem se possa dividir os sonhos.
Isso por que, algumas vezes, em razão de datas comemorativas, a professora do grupo escolar decidia presentear seus melhores alunos com um livro.
E assim, as crianças, passavam a ter contato com este mundo fascinante, que é o mundo da literatura.
Essa professora tão generosa, de seu próprio bolso, retirava o dinheiro necessário para a aquisição de alguns livros.
Livros esses muito bons, e também, relativamente caros, mas livros que iriam enriquecer a vida de seus alunos.
Livros que fizeram Augusto e sua família, literalmente viajarem por suas páginas.
Livros que os fizeram sonhar e conhecer um mundo além dos horizontes da cidadezinha onde moravam.
Livros que os levaram a ambientes luxuosos e fantásticos.
Livros, fruto de uma lição de generosidade, que jamais seria esquecida.
Afinal, numa época tão difícil quanto aquela, uma professorinha ter a generosidade, e até mesmo a grandeza de presentear um aluno com um livro, era realmente algo muito bom.
E algo igualmente raro, principalmente em nossos dias tão cínicos.
E Augusto, em sua vida simples, jamais se esqueceria de tão nobre gesto.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução desde que citada a fonte.
Tenho andado procurando uma ilusão
Muita gente esquece a vida
Faz morrer a esperança
Sem querer acreditar que existe amor
O mundo está mudando
Sem querer se perdendo
E no céu milhões de nuvens
Já começam a chorar
E a chuva cairá neste mundo pequeno... ”
(Os Caçulas)
A chuva na janela prenuncia que o mal tempo vai continuar, deixando todos presos em casa olhando o mundo pela janela.
O mundo que parecia cada vez maior, visto pela vidraça da janela.
Pelos olhos das crianças corriam as paisagens verdejantes do lugar.
Vista tão longínqua e ampla.
Também havia o céu azul, que escurecido pela chuva, não se podia ver claro.
Nos campos, plantações verdejantes.
A colheita ao fundo da paisagem, agradecia ao suave presente do céu.
As gotas caíam suaves, molhando os grotões, encharcando a terra, gotejando sobre as folhas, e os pássaros procuravam se abrigar nos ninhos no alto das árvores.
O céu.
Ah! O céu, ... que permanecia escuro e sombrio, entristecia a tarde.
A tarde caía lá fora e o tempo ficava cada vez mais triste, enquanto a temperatura baixava e a chuva se transformava em pesadas pedras de gelo.
E o tempo.
O tempo transcorria cada vez mais lento, com as crianças a olharem para a janela.
Pela janela, se admiravam com o que viam.
Nunca viram chover pedra antes.
Tudo neste mundo infantil quando visto pela primeira vez, é lindo e mágico.
As pedras caíam pesadamente sobre o chão de terra, já molhado.
Machucavam as plantas que, passivas, nada mais podiam esperar.
E a chuva que caí ... A chuva que continua caindo ... e o tempo que passa, cada vez mais lento.
Nada para se fazer, talvez toda a esperança de trabalho perdida.
Talvez toda a plantação se perdesse em meio a fome arrasadora da chuva de pedras.
-- “Chuva de granizo” – corrigiu Augusto, o filho mais velho e mais sabido, de uma grande família. – É a chuva em seu estado natural, condensada. – continuou.
Quando Augusto falava, ninguém se atrevia a questioná-lo, pois todos o consideravam a pessoa mais inteligente da casa.
Muitas das dúvidas que seus outros irmãos tinham, eram logo resolvidas por ele.
Poucos questionamentos escapavam de seu crivo meticuloso.
-- Pudera, ele é também o filho mais velho. Não poderia ser diferente – comentou Otávio, o filho do meio desta família
-- Mas ele teve as mesmas chances que nós. – disse Carlota, a filha mais velha.
E o tempo passa.
Em meio a conversação dos irmãos, a chuva continuava cada vez mais forte.
A tempestade avançava, o tempo escurecia.
Nuvens riscavam os céus, brumas, neblinas.
Parecia que a chuva não ía parar tão cedo, e nesse período, nada se podia ver, além da imensidão do campo verde que se tinha em vista.
Além do verde, talvez se pudesse ver macieiras ao redor do alpendre.
A casa protegida do mal tempo.
Pequenina, vista ao longe na colina.
Parecia tranqüila, mas o vento lhe murmurava sons nítidos e assustadores.
As figueiras ao longe, balançavam ao sabor dos ventos.
As folhagens das árvores dançavam ao léu.
E a chuva ... a chuva cairá ... sobre este mundo que parecia tão pequeno, e que de perto, parecia estar tão longe, de tão extenso que era.
Templo perdido na distância do tempo, que passa e devora tudo, consome a vida e os sonhos.
A desilusão de quem vive, somente se lembrando do que passou, não se podendo reter o tempo. Entretanto, para alguns nostálgicos:
-- “Ah ..., que bom se eu pudesse.”
Portanto, assim começa esta história.
História de um passado nem tão recente, nem tão distante.
De uma família que vendeu tudo o que tinha em um rincão brasileiro, para se aventurar em uma nova terra.
Muito longe do seu lugar de origem.
Propriedades de médio porte foram vendidas, e esta família tratou de juntar o que ganhara com esta feita.
Juntaram o dinheiro, pegaram suas malas e partiram.
Isso por que, dado o ímpeto aventureiro Orlando, decidiu mudar-se para outro lugar.
Cansado de viver de uma terra tão árida, e de uma gente tão sofrida, achou por bem, mudar-se para outra localidade.
Por isso mesmo venderam tudo o que tinham.
E olha que a família tinha uma razoável porção de propriedades no local.
Vieram no primeiro trem que apareceu na estação.
Uma linda estação recém construída na segunda metade do século XX, época em que começa nossa história.
História essa, que retrata a vida de um homem, que veio com sua família, nesta época, apenas sua mulher Marisa, para o interior do Estado de São Paulo, no Vale do Paraíba.
Muito embora a família deste homem estivesse totalmente estabelecida no sertão, Orlando resolveu rumar para outras paragens.
E assim, despediu-se de seus parentes e da lembrança de seu pai, Theodósio, que a esta altura já habitava a mansão do altíssimo em companhia de incontáveis seres celestiais.
Seu pai, era um homem branco, alto, forte, mas que já havia passado por muitos dissabores na vida antes de morrer.
Casado com uma escrava alforriada, teve com ela muitos filhos.
Porém, por conta de tal gesto, teve que pagar um alto preço.
Isso por que, fruto da elite da região, era contado decerto que seria o herdeiro absoluto de seu pai, Ambrósio.
Porém, ao se enamorar de uma ex-escrava, optou por abrir mão de uma vida cheia de privilégios e de conforto.
Por amor, abriu mão de tudo.
Mas seu pai Ambrósio, aborrecido com a atitude intempestiva do filho, tentou de todas as formas prejudicá-lo.
Por isso quando uma feiticeira apareceu em sua fazenda, encontrou um campo fértil para suas maldades.
Isso por que, com a ajuda desta assistente, passou a utilizar-se da magia negra para prejudicar Theodósio.
Assim, com o passar dos anos acabou por adoecer seriamente, e desse mal, nunca mais se recuperou.
Não bastasse toda a cobrança da sociedade moralista da época, teve ainda que suportar intrigas e humilhações.
Sofria, mas seus problemas não eram somente de natureza física.
Theodósio também sofria com os males da alma.
Isso por que, meses antes de morrer, descobriu por meio de terceiro, que haviam lhe feito um mal tão grande, que o atingiu imediatamente.
Quando então perguntou quem era o autor da obra, o sujeito lhe respondeu que era seu pai, Ambrósio.
Ao ouvir isso, Theodósio, já abalado com a doença, ficou ainda mais amuado.
E pior que isso, passou a ficar cada vez mais triste.
Tão triste que dia-após-dia definhava mais e mais.
Tanto que à certa altura, depois de muito penar, acabou falecendo, triste por saber que seu próprio pai tentara lhe prejudicar.
Com isso, Coralina – a escrava –, viu-se pela primeira vez, totalmente só.
Desesperada, ela e seus filhos não sabiam o que fazer, nem para onde ir.
Isso por que sabiam que Ambrósio de alguma forma, os tentaria expulsar da cidade.
Não queria que os frutos de sua vergonha, caminhassem pela cidade o expondo assim de modo tão aviltante.
E assim o fez.
E da forma mais cruel que se pode imaginar.
Com a ajuda de seus empregados, colocou fogo na casa, durante a madrugada, julgando que assim, a mataria a todos.
Mas com o que ele não poderia contar, é que Coralina, imaginando que o fazendeiro faria alguma coisa contra sua família, tratasse logo de sair dali.
Foi o que ela fez.
Procurando abrigo em casa de amigos, tratou logo de reunir alguns objetos e se escondeu com sua família.
Todavia, Coralina sabia que precisava sair dali.
Para que ela e seus filhos não fossem mais perseguidos por Ambrósio.
Assim, antes mesmo que o dia amanhecesse, trataram logo de fugir da cidade, na vã tentativa de não encontrarem com o cruel fazendeiro.
Debalde.
Isso por que, logo que chegaram a praça principal da cidade, perceberam que o fazendeiro passara a noite inteira, esperando que eles aparecessem.
Dessa maneira, qual não foi a alegria de Ambrósio ao perceber que seu plano havia dado certo? Coralina e seus filhos, estavam bem diante dele, como que prontos para serem imolados como cordeiros em holocausto a uma nobre causa.
Ambrósio porém, pensando um pouco, decidiu apenas lhes pregar um susto.
Com isso, inicialmente furioso ao descobrir que fora enganado por aquela que ele mesmo denominara de ‘diabólica mulher’, agora, parecia até se divertir com o medo que via nos olhos daquela família.
Por esta razão, ordenou aos empregos que jogassem os cavalos em cima de todos os que ali estavam e que os fizessem correr o bastante para sumirem para sempre daquela cidade.
E os empregados fizeram o que o fazendeiro pedira.
Acossando-os sem dó, nem mesmo com um lampejo de piedade, fizeram com que os mesmos desaparecessem da cidade.
Entrementes, não há mal que sempre dure.
Quando Ambrósio faleceu, Orlando – um dos filhos de Coralina –, retornou a cidade.
Foi lá que conheceu Marisa e que se casaram.
Ao conhecer Marisa, Orlando então, deu-se conta de quanto suas histórias eram parecidas.
Vítimas de reveses na vida, sabiam desde ainda muito cedo, o que era sofrer.
Marisa, órfã desde os cincos anos, passou a vida inteira vivendo de cidade em cidade, na casa de parentes, que nem sempre estavam dispostos a lhe ajudar.
Por conta disso, passou por muitas humilhações.
Freqüentemente era destratada por seus parentes, e muitas vezes tinha que suportar, com lágrimas nos olhos as humilhações, para que simplesmente, não a pusessem para fora.
Fora isso, tinha que pagar, com o suor de seu trabalho, por tudo que consumia.
Assim, quando viu aquele jovem negro, simpático, divertido e folgazão se oferecendo para ajudá-la, logo passou a se interessar por ele.
Afinal, diferente de seus parentes, Orlando era gentil com ela.
Por isso mesmo, quando Orlando lhe propôs casamento, Marisa aceitou no mesmo instante.
Cansada de ser maltratada por seus parentes desde que ficara órfã, acreditava que viver ao lado de quem a respeitasse, faria toda a diferença.
Nessa época, Orlando já reunia um razoável patrimônio e não seria nem um pouco ruim, se unir a alguém estabelecido.
E assim Marisa o fez.
Casaram-se e durante algum tempo, permaneceram na região.
Depois, Orlando, sentindo-se entediado com a vida que levava, resolveu se desfazer de tudo e partir.
Mas não era só isso.
A seca voraz, também castigava a plantação e maltratava os animais.
Com isso, temeroso de perder o que tinha, Orlando resolveu vender todas as propriedades que possuía e partir.
Todavia, ao realizar as tratativas e negociar, perdeu boas oportunidades de fazer bom negócio.
Isso por que ingênuo, acabou vendendo boa parte do que tinha por um valor muito baixo.
Por isso, quando chegaram no interior do Estado de São Paulo, tiveram que durante algum tempo, trabalhar em terras alheias.
Precisavam reunir dinheiro para comprar sua própria propriedade.
Porém, estou me estendendo.
Continuemos de onde paramos.
Com isso, inicialmente, o casal se fixou numa pequena e próspera cidade do lugar, para, logo em seguida, comprarem uma pequena propriedade no local.
Porém, para que este passo fosse dado, tiveram que pelo menos no começo, trabalharem como empregados.
Com isso, durante alguns anos trabalharam em terras de outras famílias.
Com isso, com o dinheiro guardado, fruto de seu trabalho, este homem, ao final de algum tempo, finalmente conseguiu comprar uma pequena propriedade e se estabeleceu como sitiante.
Para ele, foi seu sonho mais caro, e mais doce.
Doce enquanto durou.
E por incrível que pareça, durou por anos.
Nessa propriedade, Orlando viveu alguns dos melhores momentos de sua vida.
Foi nessa localidade que conheceu o valor da amizade e do companheirismo.
Nessa localidade aprendeu a lutar por seus sonhos, muito embora, muito antes disso, já fosse teimoso o suficiente para realizá-los.
Nesse lugar, viu seus filhos crescerem e partirem em busca de seus sonhos.
Mas ainda é muito cedo para falar em partida.
Por isso nos concentremos, no primeiros anos da vida desta família na região do Vale do Paraíba.
Com isso, como era de se esperar, a família de Orlando ao adquirir um sítio, passou a plantar café, além de outros produtos para garantir a sua subsistência, agora já constituída do casal e seus oito filhos, que também ajudavam no trabalho, na lavoura.
Assim, além de ganhar dinheiro com o café, precisavam de alguma forma, garantir sua subsistência, enquanto trabalhavam na plantação do produto que o Brasil mais produzia na época.
E para isso, trabalhavam pesado, duro.
Levantavam ainda quando o sol estava por nascer e preparavam a comida que era feita pela mãe, que também ajudava no trabalho da roça.
E todos, sem exceção, ficavam na roça o dia inteiro até o sol estar por se pôr.
Desta forma, ficavam expostos a inclemência do astro-rei.
Porém, dada a brancura de sua pele, Marisa, preocupada com o mal que o sol podia fazer, precavida que era, resolveu adotar a seguinte estratégia: procurava sempre se cobrir com panos, para que o sol não castigasse sua alva pele.
Porém, como era difícil trabalhar naquele calor, com uma montanha de panos sobre o corpo!
Todavia, era necessário, e assim, não só ela, como inúmeras outras trabalhadoras, faziam uso do mesmo expediente.
E assim, passavam horas a fio, trabalhando na roça.
Ficavam até o momento em que sol começava a se despedir no horizonte.
E que lindo momento que era o cair da tarde.
O crepúsculo, num tempo em que ainda se dava para ver os raios dourados do astro-rei.
As cores do sol, que faziam uma bela composição com o céu azulado, e que se mostrava cada vez mais insinuante.
Esta era a hora de voltar para casa.
Tomar um banho de bacia, jantar, e em seguida dormir.
Dormir cedo, porque no mais, nada se tinha para fazer.
No entanto, de vez em quando, o pai cantava-lhes algumas músicas que ouvia no rádio, para que estes dormissem sonhando com cada letra de música que haviam ouvido.
Luz elétrica, não havia.
Somente um lampião, que mal iluminava a casa.
A luz clara que cintilava do lampião a gás, era somente para que todos pudessem encontrar suas camas e se recolherem.
Para poderem se recostarem nas mesmas e finalmente dormir.
Logo o sol estaria novamente, a raiar.
No dia seguinte, mais um longo dia de trabalho onde tudo se repetiria.
Novamente o céu estrelado por companhia, durante a caminhada até a plantação.
Nesse tempo, algumas crianças iam para a escola.
Oh! Infeliz força do dinheiro, que faz com que poucos tenham chances na vida.
Onde as coisas só valem para quem nasceu bem!
Na escola, as crianças aprendiam as primeiras letras, as primeiras contas e depois passavam a ter algumas noções de civismo e de como era o mundo que não conheciam.
E o tempo foi passando, passando, até chegar um dia ... Em que, crescidas, estas, que agora, não são mais crianças, tiveram filhos e esses filhos estudaram até onde foi possível.
-- “Estudem, se querem virar alguma coisa na vida.” – foi o que sempre ouviram.
Mas, mais uma vez estou me adiantando.
O que interessa aqui, ainda é a vida dessas crianças.
Crianças que tinham alguns sonhos para serem realizados.
Assim, voltemos a infância de todas essas crianças.
Essas crianças, que são os filhos do homem que se estabeleceu no interior do estado de São Paulo, passaram a ir para a escola e lá aprenderam um pouco sobre a ciência da vida.
Para não se tornarem tão ignorantes quanto seus pais, em suas próprias palavras, caminhavam longas léguas até chegar ao grupo escolar.
Onde todas estudavam juntas, crianças de várias séries.
Ao voltarem para casa, tinham por companhia as molecagens da infância e mais tarde, o sonho dos livros, com histórias de piratas, vilões e mocinhos.
Grandes textos literários e outros contos infantis de autores contemporâneos.
Neste mundo de fantasia, tudo era lindo e fantástico.
Afinal, tem que haver tempo para sonhar, e mais do que isso, alguém com quem se possa dividir os sonhos.
Isso por que, algumas vezes, em razão de datas comemorativas, a professora do grupo escolar decidia presentear seus melhores alunos com um livro.
E assim, as crianças, passavam a ter contato com este mundo fascinante, que é o mundo da literatura.
Essa professora tão generosa, de seu próprio bolso, retirava o dinheiro necessário para a aquisição de alguns livros.
Livros esses muito bons, e também, relativamente caros, mas livros que iriam enriquecer a vida de seus alunos.
Livros que fizeram Augusto e sua família, literalmente viajarem por suas páginas.
Livros que os fizeram sonhar e conhecer um mundo além dos horizontes da cidadezinha onde moravam.
Livros que os levaram a ambientes luxuosos e fantásticos.
Livros, fruto de uma lição de generosidade, que jamais seria esquecida.
Afinal, numa época tão difícil quanto aquela, uma professorinha ter a generosidade, e até mesmo a grandeza de presentear um aluno com um livro, era realmente algo muito bom.
E algo igualmente raro, principalmente em nossos dias tão cínicos.
E Augusto, em sua vida simples, jamais se esqueceria de tão nobre gesto.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução desde que citada a fonte.
sábado, 29 de fevereiro de 2020
Tu Te Tornas Eternamente Responsável Por Aquilo Que Cativas
Dizem
que muitas coisas pelas quais passamos durante a vida nos servem de ensinamento
ou de preparação para as dificuldades futuras.
A todo momento na vida fazemos escolhas.
Muitas
coisas na vida acontecem sem que possamos compreender o significado.
Mas como
dizem, tudo na vida passa, e que na vida as agruras e os sofrimentos são
inevitáveis.
Não é possível viver sem que haja algum obstáculo a ser
transposto, alguma dificuldade a ser superada.
Muitas vezes precisamos passar
por algumas barreiras para que possamos aprender a viver.
Mas acima de tudo,
nossa vida é o resultado de nossas escolhas, dos caminhos que traçamos
percorrer.
Dizem
os mais velhos que se não podemos compreender
o hoje, amanhã a vida nos dará respostas.
Nos dará respostas se tivermos
a maturidade e a paciência para buscarmos entender as coisas no momento certo.
Momento este que nem sempre temos a paciência para esperar ou a ilusão de
entender.
Um
dia o grande poeta Mário Quintana resolveu escrever sobre a maturidade num
poema que tem o mesmo nome do início desta frase, “um dia”.
Nesse poema ele
disse que um dia, muitas coisas incompreensíveis para nós na juventude, passam a
fazer sentido e a ter um significado quando encontramos a maturidade.
E também,que muitas vezes,
independentemente da idade, só entendemos ou aceitamos algo quando já é tarde
demais.
O
poema é todo sobre o significado de certas coisas e situações que demoramos
para entender, e uma das partes mais lindas da poesia, é quando o ilustre poeta
afirma que um dia saberemos a importância da frase: ”Tu te tornas eternamente
responsável por aquilo que cativas.”
Essa
frase, de tão grandioso significado, nos remete para as escolhas que fazemos na
vida. Para mim possuindo até um sentido além do humano, metafísico.
“Cativar,
tornar cativo, capturar, ganhar a simpatia, a estima, seduzir, atrair,
granjear, prender, ligar, sujeitar, ficar sujeito, penhorar-se, render-se,
apaixonar-se, enamorar-se.”
Ou
seja, a tão bela frase dita no poema tem dois sentidos.
Aquilo que a nós
cativa, podemos tanto apreender e conquistar, como por ela sermos conquistados.
É portanto uma troca, que no poema pode ser tanto humana como pode ser também
uma idéia, um ideal, um sonho que cativamos e que nos cativa, um carinho e até
mesmo um caminho como o qual devemos sempre ser fiéis, mesmo quando nada parece
dar certo.
Algo
que transcende esta simples existência humana, esta simples condição na qual
vivemos.
Em poucas palavras, aquilo que cativas pode ser o significado da
própria vida.
É sentido o qual, muitas pessoas buscam em sua vida e tantas
outras o perdem, e o perdendo perdem também o sentido da vida.
Podemos
escolher o que cativamos, mas que esta escolha seja responsável posto que se assim não o for, e perderes o
que cativavas, não cativavas o que era seu.
Não sabias o que é cativar.
O que
queremos, o que amamos, o que gostamos, enfim, o que nós cativamos, é um
compromisso além da vida,além do humano, além do tangível.
É um compromisso com
os outros, não somente com você.
É um compromisso com a sua realização como
pessoa, e algumas pessoas possuem esse sentido primordial em suas vidas escrito
de forma indelével na sua história de vida.
Haja vista os heróis, as grandes
mulheres, as pessoas de certa maneira predestinadas na nossa história.
As
pessoas que passam anos de suas vidas lutando e buscando por algo em que
acreditam.
Pode ser nas lutas por igualdade e justiça, na busca por realizar um
antigo sonho que engrandecerá a vida de outras pessoas, seja na realização
pessoal que mudará a sua vida e que também poderá mudar a vida de outras
pessoas.
Portanto,
numca se esqueças de uma coisa, “serás eternamente responsável por aquilo que
cativas”.
O bem que tu cativas será o acalento de tua existência, poderá ser
até mesmo, a tua existência.
Enamorar, enumerar
As brumas encobrem as estradas,
As ruas, outrora nítidas, ganham contornos indivisos
Árvores floridas de manacá ao longo dos caminhos,
Árvores frondosas de flores amarelas
E um longo caminho a percorrer
Para se chegar em lugar de calma e contentamento
Do alto da serra se avista, o contorno das cidades,
Os mangues, as matas, os ajuntamentos das gentes, civilização
Atravessando túneis e caminhos, se percebe as cidades se aproximando
Ao longo da rodovia, as edificações ganham forma,
Transformam-se em cidades
Que entre as construções, se faz por revelar entre uma e outra, uma nesga de mar
O mar, finalmente, para lá vou chegar
Festa de água, sal, céu, sol e ar
As gaivotas na areia a espreitar,
O próximo passo, o próximo voo,
E até o mergulho a realizar
Andando na areia, com suas asas recolhidas
Inopinadamente a alçarem voo
Mostrando suas asas imensas
A rasgar os céus de nuvens intensas, imensas
Casais a andar de mãos dadas pela praia
Moças esbeltas a desfilarem com suas roupas de praia,
Biquínis, saídas de praia
Cabelos longos, curtos, lisos, ondulados
A conversarem, ideias trocarem
Casais e pessoas, a brincarem nas águas rasas e revoltas do mar
Águas frias, a empurrar os banhistas para o lado oposto onde entraram
Pais e crianças pequenas a brincarem na água
Crianças a correrem a toda a velocidade em direção ao mar
Casais a ouvirem músicas nos quiosques
Interagindo com os cantores, nem sempre afinados
De longe a se apreciar um mar ora azulado
Ora verde esmeralda
E a lua minguante a refletir-se nas água do mar
O sol se despedindo de nós
A apresentar um espetáculo de tons e semi tons,
Que precisamos voltar os olhos para admirar
Caminhando pelas ruas de paralelepípedos,
Ruas asfaltadas, também se pode ver ciclistas, corredores
Os coqueiros e o mar ao fundo,
Com belas construções a enfeitar as quadras
E como tudo, que tem prazo e pressa
O retorno a vida pulsante das cidades,
Das multidões,
Dos enxames de abelhas, as colmeias das gentes
Do salve-se quem puder,
E se puder me salve também
Casais a se abraçarem em frente ao metrô
Cena que de tão rara, fica a lembrar roteiros de filme
A quebrarem a fria rotina da cidade apressada
Pinturas bonitas nas estações,
Instalações artísticas, esculturas
Painéis, a mostrar a frieza das coisas sólidas
A multidão apressada, inconstante,
Eu também impaciente
Tudo tarda,
Demora nesta terra de baldeações e integrações constantes
E o metrô, ao abrir suas portas,
A servir de abrigo, aos trabalhadores fatigados da viagem diária
Muitos a se escorarem nos espaços livres
Mas também, tem os cansados recostados as estruturas metálicas, as portas
Atrapalhando o fluxo das pessoas e da vida,
Como sempre acontece aos lugares onde circula muita gente
E o verde a disputar espaço em meio a floresta de concreto
A natureza a brigar com a dureza das humanas, ou desumanas criações
Com árvores e plantas florindo em meio ao concreto e a poluição
Nos caminhos e desvãos em que se avista a cidade
E embora haja gente mergulhada em seu cansaço, e em sua rotina
Ainda se pode ver, gente interessada em mudar
Com seus rostos entretidos em suas leituras
Além das expressões de tédio diárias
E como já dizia o poeta,
Acaso tudo se referindo ao amor,
Que o tédio, rime com prédio,
Em sua rotina de desinteresse diário
Sinto saudades de minha praia!
E o amor residindo nas coisas mais prosaicas,
E nas mais inesperadas, demonstrações de afeto!
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
As ruas, outrora nítidas, ganham contornos indivisos
Árvores floridas de manacá ao longo dos caminhos,
Árvores frondosas de flores amarelas
E um longo caminho a percorrer
Para se chegar em lugar de calma e contentamento
Do alto da serra se avista, o contorno das cidades,
Os mangues, as matas, os ajuntamentos das gentes, civilização
Atravessando túneis e caminhos, se percebe as cidades se aproximando
Ao longo da rodovia, as edificações ganham forma,
Transformam-se em cidades
Que entre as construções, se faz por revelar entre uma e outra, uma nesga de mar
O mar, finalmente, para lá vou chegar
Festa de água, sal, céu, sol e ar
As gaivotas na areia a espreitar,
O próximo passo, o próximo voo,
E até o mergulho a realizar
Andando na areia, com suas asas recolhidas
Inopinadamente a alçarem voo
Mostrando suas asas imensas
A rasgar os céus de nuvens intensas, imensas
Casais a andar de mãos dadas pela praia
Moças esbeltas a desfilarem com suas roupas de praia,
Biquínis, saídas de praia
Cabelos longos, curtos, lisos, ondulados
A conversarem, ideias trocarem
Casais e pessoas, a brincarem nas águas rasas e revoltas do mar
Águas frias, a empurrar os banhistas para o lado oposto onde entraram
Pais e crianças pequenas a brincarem na água
Crianças a correrem a toda a velocidade em direção ao mar
Casais a ouvirem músicas nos quiosques
Interagindo com os cantores, nem sempre afinados
De longe a se apreciar um mar ora azulado
Ora verde esmeralda
E a lua minguante a refletir-se nas água do mar
O sol se despedindo de nós
A apresentar um espetáculo de tons e semi tons,
Que precisamos voltar os olhos para admirar
Caminhando pelas ruas de paralelepípedos,
Ruas asfaltadas, também se pode ver ciclistas, corredores
Os coqueiros e o mar ao fundo,
Com belas construções a enfeitar as quadras
E como tudo, que tem prazo e pressa
O retorno a vida pulsante das cidades,
Das multidões,
Dos enxames de abelhas, as colmeias das gentes
Do salve-se quem puder,
E se puder me salve também
Casais a se abraçarem em frente ao metrô
Cena que de tão rara, fica a lembrar roteiros de filme
A quebrarem a fria rotina da cidade apressada
Pinturas bonitas nas estações,
Instalações artísticas, esculturas
Painéis, a mostrar a frieza das coisas sólidas
A multidão apressada, inconstante,
Eu também impaciente
Tudo tarda,
Demora nesta terra de baldeações e integrações constantes
E o metrô, ao abrir suas portas,
A servir de abrigo, aos trabalhadores fatigados da viagem diária
Muitos a se escorarem nos espaços livres
Mas também, tem os cansados recostados as estruturas metálicas, as portas
Atrapalhando o fluxo das pessoas e da vida,
Como sempre acontece aos lugares onde circula muita gente
E o verde a disputar espaço em meio a floresta de concreto
A natureza a brigar com a dureza das humanas, ou desumanas criações
Com árvores e plantas florindo em meio ao concreto e a poluição
Nos caminhos e desvãos em que se avista a cidade
E embora haja gente mergulhada em seu cansaço, e em sua rotina
Ainda se pode ver, gente interessada em mudar
Com seus rostos entretidos em suas leituras
Além das expressões de tédio diárias
E como já dizia o poeta,
Acaso tudo se referindo ao amor,
Que o tédio, rime com prédio,
Em sua rotina de desinteresse diário
Sinto saudades de minha praia!
E o amor residindo nas coisas mais prosaicas,
E nas mais inesperadas, demonstrações de afeto!
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Por que?
Por que tanta ignorância
Por que tanta gente Meu Deus?
Por que todos correm na contramão?
Por que a vida é assim?
Eterna busca pelo sucesso que nem todos terão?
Não pelo menos da forma como imaginam
Por que percorremos tão longas distâncias?
Nunca chegamos em lugar algum,
Apenas as mesma instâncias frias de sempre
Por que não podemos aproveitar,
Os finais de tarde para passear?
Por que não podemos trabalhar,
Sem nos demorar em sua ida e sua volta?
Por que a vida é tão insana?
Por que o mundo tão irracional?
Por que tudo funciona tão mal?
Por que nossas instituições são tão falhas?
Por que temos que aguentar tantos desaforos?
Por que temos que ser humilhados, desrespeitados, ofendidos?
Por que não podemos fazer da nossa vida o que queremos?
E assim, poder contemplá-la em sua inteireza
E não pela metade, quase sempre com pressa
Pressa de não poder chegar, de se atrasar, de a vida complicar
Por que a cada instante que passa,
Mais a vida grita:
Tem mais gente para chegar,
Apresse-se ou então, tudo vai tumultuar!
Sinto-me sendo expulsa do próprio lugar em que habito!
Ser humano, grande homem
Capaz de grandes prodígios,
Mas incapaz de pensar o bem estar do próprio humano
Ó grande falha humana!
Ou será o homem, grande falha da divina criação?
Sinceramente não sei,
E nisto fico a pensar então
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Por que tanta gente Meu Deus?
Por que todos correm na contramão?
Por que a vida é assim?
Eterna busca pelo sucesso que nem todos terão?
Não pelo menos da forma como imaginam
Por que percorremos tão longas distâncias?
Nunca chegamos em lugar algum,
Apenas as mesma instâncias frias de sempre
Por que não podemos aproveitar,
Os finais de tarde para passear?
Por que não podemos trabalhar,
Sem nos demorar em sua ida e sua volta?
Por que a vida é tão insana?
Por que o mundo tão irracional?
Por que tudo funciona tão mal?
Por que nossas instituições são tão falhas?
Por que temos que aguentar tantos desaforos?
Por que temos que ser humilhados, desrespeitados, ofendidos?
Por que não podemos fazer da nossa vida o que queremos?
E assim, poder contemplá-la em sua inteireza
E não pela metade, quase sempre com pressa
Pressa de não poder chegar, de se atrasar, de a vida complicar
Por que a cada instante que passa,
Mais a vida grita:
Tem mais gente para chegar,
Apresse-se ou então, tudo vai tumultuar!
Sinto-me sendo expulsa do próprio lugar em que habito!
Ser humano, grande homem
Capaz de grandes prodígios,
Mas incapaz de pensar o bem estar do próprio humano
Ó grande falha humana!
Ou será o homem, grande falha da divina criação?
Sinceramente não sei,
E nisto fico a pensar então
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Divagações
Aproveitando o dia em gostosas leituras
Contemplo o universo da literatura
Com seus grandes, pequenos poemas
Quantas experiências à disposição
De existências tão ávidas de vivências
Da vida morna, repetida e cotidiana
As horas passam, passam as horas
E finalmente o dia chega ao fim
Quem sabe um dia teremos a vida
Assim como a desejamos ter
Vivê-la, como merecemos viver
Por enquanto vamos saboreando,
Os pequenos movimentos alegres
Os instantes de saborosa diversão
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Contemplo o universo da literatura
Com seus grandes, pequenos poemas
Quantas experiências à disposição
De existências tão ávidas de vivências
Da vida morna, repetida e cotidiana
As horas passam, passam as horas
E finalmente o dia chega ao fim
Quem sabe um dia teremos a vida
Assim como a desejamos ter
Vivê-la, como merecemos viver
Por enquanto vamos saboreando,
Os pequenos movimentos alegres
Os instantes de saborosa diversão
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Assinar:
Postagens (Atom)